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que nos últimos tempos tem se repetido, diluindo ligeiramente as
formulações de Rubin em uma sopa eclética, por A. Voznesenskii (vide seu
artigo na revista Под знаменем марксизма [Sob a Bandeira do Marxismo],
n.o 12, 1925). Submeter à crítica a nova teoria é ainda mais necessário,
uma vez que "Ensaios sobre a Teoria do Valor de Marx" de I. Rubin goza
da merecida reputação de ser um dos melhores trabalhos sobre o
marxismo, e isto leva muitos à tentação de tomar como verdadeira a
interpretação que dá à categoria de trabalho abstrato e as conclusões
baseadas nela, embora estejam em claro desacordo com as formulações e
pontos de vista de Marx. Com a presente nota tenho em mente, ajudado
pelo mínimo necessário de referências bibliográficas, provar a
incompatibilidade da teoria de Rubin, não só com a letra, mas também com
o espírito da análise marxista da economia burguesa, reservando-me o
direito de voltar, se necessário, a este tema com armamento mais
completo.
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"Esboço da Crítica da Economia Política [Grundrisse]" de Marx,
tirando dele uma formulação que, à primeira vista, pareceria até
mesmo contradizer diretamente nosso ponto de vista. No final do
primeiro capítulo "Sobre a produção", Marx escreve: "Para resumir:
Há características (determinações) que todas as etapas da produção
têm em comum, e que são estabelecidas como gerais pela mente;
mas as chamadas pré-condições gerais de toda produção nada mais
são do que momentos abstratos com os quais nenhuma etapa
histórica real da produção pode ser compreendida" 4. Não muito
antes Marx explicava que "os elementos que não são gerais e comuns
devem ser separados das determinações válidas para a produção
como tal, de modo que em sua unidade – que já surge da identidade
do sujeito, da humanidade, e do objeto, da natureza – a sua diferença
essencial não seja esquecida".
As épocas históricas não são separadas umas das outras por uma
muralha chinesa de dissociação totalmente discriminatória. Elas têm uma
base em comum – a produção e a reprodução da vida material. Marx
ridicularizou a ignorância desta base comum, por exemplo, em uma de suas
cartas a Kugelmann:
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exigem quantidades diferentes e quantitativamente determinadas
do trabalho agregado da sociedade. É evidente que esta
necessidade de distribuição do trabalho social em proporções
específicas certamente não é abolida pela forma específica de
produção social; ela só pode mudar sua forma de manifestação.
As leis naturais não podem ser abolidas de forma alguma. A
única coisa que pode mudar, sob condições historicamente
diferentes, é a forma pela qual essas leis se afirmam. E a forma
na qual esta distribuição proporcional do trabalho se afirma em
um estado da sociedade no qual a interconexão do trabalho social
se expressa como a troca privada dos produtos individuais do
trabalho, é precisamente o valor de troca destes produtos". 6
4
"Sob a produção socializada, bem como sob a produção
capitalista, os trabalhadores dos ramos de negócios com períodos
de trabalho mais curtos, como antes, retirarão produtos apenas
por um curto período de tempo sem dar nenhum produto em
troca; enquanto os ramos de negócios com períodos de trabalho
longos retiram produtos continuamente por um tempo mais
longo antes de devolver qualquer coisa. Esta circunstância,
portanto, decorre do caráter material do processo de trabalho em
particular, não de sua forma social."
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desejar limitar a ciência econômica exclusivamente ao domínio da forma e
até mesmo a uma forma específica de produção capitalista-modelo. Como
se pode resumir a "forma de aparência" das coisas aos seus rudimentos, se
estes rudimentos são desconhecidos? 7.
6
significação etc. A anatomia do homem é a chave da anatomia do
macaco. O que nas espécies animais inferiores indica uma forma
superior não pode, ao contrário, ser compreendido senão quando
se conhece a forma superior. A Economia burguesa fornece a
chave para o antigo, etc. Porém, não conforme o método dos
economistas que fazem desaparecer todas as diferenças históricas
e veem a forma burguesa em todas as formas de sociedade. (...)
Além disso, como a própria sociedade burguesa é apenas uma
forma contraditória de desenvolvimento, as relações derivadas de
formas anteriores muitas vezes serão encontradas dentro dela
apenas de uma maneira totalmente atrofiada, ou mesmo
travestida. Por exemplo, a propriedade comunal. Assim, embora
seja verdade que as categorias da economia burguesa possuem
uma verdade aplicável a todas as outras formas de sociedade, isto
deve ser tomado apenas cum grano salis. Elas podem contê-las de
forma desenvolvida, atrofiada, caricatural, etc., mas sempre com
uma diferença essencial" 9.
7
E a enumeração vai além dos elementos da sociedade burguesa, no
sentido real da palavra.
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Em termos gerais, assim segue o pensamento de Rubin, de quem
Voznesenskij toma emprestado os argumentos básicos e lhes acrescenta
adereços duvidosos. Assim, para Voznesenskij o trabalho abstrato, embora
incluindo em si mesmo momentos históricos e sociais, não deixa ao mesmo
tempo de ser trabalho fisiológico e, como tal, já existe no processo de
produção.
"Pode parecer que tudo o que se conseguiu com isso foi descobrir
a expressão abstrata da relação mais simples e mais antiga em
9
que os seres humanos – em qualquer forma de sociedade –
desempenham o papel de produtores. Isto é correto em um
aspecto, mas não em outro." 13.
E ainda mostra que esta simples abstração, "a qual expressa uma relação
imensamente antiga e válida em todas as formas de sociedade, no entanto
alcança a verdade prática como uma abstração apenas como uma categoria
da sociedade mais moderna" (p.28). Em outras palavras, Marx relaciona o
trabalho abstrato com as categorias histórico-condicionais, para usar os
termos acima citados. Trabalho abstrato, trabalho em geral, trabalho como
dispêndio fisiológico de músculos, nervos e assim por diante – é um
conceito, que vai muito além da organização interna da produção de
mercadorias, um conceito geral. Mas, na prática, tal conceito só pode ser
aplicado integralmente sob condições específicas. Quais são essas
condições? Primeiramente, a possibilidade de generalizar a partir de formas
concretas de trabalho; uma relação que seja indiferente às formas concretas
só é concebível naquele estágio de desenvolvimento econômico em que
nenhuma forma de trabalho é dominante. Em segundo lugar, o trabalho
abstrato pressupõe um tipo de ordem econômica em que facilmente os
indivíduos se deslocam de um tipo de trabalho para outro; nessa ordem o
trabalho específico "é uma questão de acaso para os indivíduos, portanto
de indiferença". Não apenas a categoria, o trabalho, mas o trabalho na
realidade tornou-se aqui o meio de criar riqueza em geral, e deixou de estar
organicamente ligado a indivíduos particulares em qualquer forma
específica.
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Se o trabalho abstrato existe, por assim dizer, idealmente em épocas
anteriores à produção de mercadorias, encontrando apenas no mundo das
mercadorias terreno para sua manifestação prática, então qual é seu
destino na circunstância da transição da produção de mercadorias para a
produção socialista organizada? Será que esta categoria desaparece sob o
socialismo? A resposta a esta pergunta é dada pela análise dessas
condições, sob as quais, para Marx, o trabalho abstrato adquire o
significado da verdade prática. Nós as enumeramos acima. Entre elas não
há uma, que seria "abolida" no socialismo. Pelo contrário, na sociedade
socialista, elas se desenvolvem ainda mais.
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depois do jantar, assim como eu tenho em mente, sem nunca me
tornar caçador, pescador, pastor ou crítico".15
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Em toda economia social conscientemente organizada, o trabalho é
social já em sua forma concreta direta. Isso é verdade. Na produção de
mercadorias, ele se torna social por meio da conversão em trabalho
abstrato. Isso também é verdade. Mas é verdade que, por esta razão, a
categoria de trabalho abstrato torna-se supérflua em todas as outras formas
de produção, além da de mercadoria? Isso seria assim se o trabalho
abstrato só possuísse tal atribuição, que lhe é imputada, se todo seu papel
se resumisse a dar a determinadas formas de trabalho o caráter de trabalho
social, em condições de produção de mercadorias. Mas a questão é que
mesmo naquelas formas econômicas em que é visível o caráter social do
trabalho concreto, e onde não demanda o espelho curvo das relações
reificadas e das categorias abstratas, a função do trabalho abstrato é
absolutamente necessária, na medida em que a questão tem a ver com o
cálculo da energia social do trabalho. Tal cálculo só pode acontecer com
indiferentes, ou seja, com unidades de contagem abstratas. No mesmo
capítulo sobre fetichismo de mercadorias Marx, com plena determinação,
mostra que todas as mistificações da produção de mercadorias acontecem
não a partir da mudança do concreto no trabalho abstrato, mas a partir da
expressão reificada desta abstração. Do que se trata nesse capítulo? Sobre
o fetichismo de mercadorias. Marx mostra claramente que nem no trabalho
concreto nem no trabalho abstrato como tal existe qualquer mística,
qualquer misticismo.
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privado, o produto não deve se transformar em uma mercadoria para
atender uma reivindicação social; é um produto social desde o primeiro
momento de sua existência. Portanto, também o trabalho é aqui o trabalho
social já em suas formas concretas particulares, não necessitando para isto
de qualquer tipo de transformação e generalização. A partir disto, seguiria
uma tal cadeia de conclusões: na sociedade organizada não há
mercadorias, mas apenas produtos. Não há trabalho privado, mas apenas
trabalho social, o trabalho dos órgãos conscientes do todo social. Não há
trabalho abstrato, mas apenas trabalho concreto.
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mercadorias como a encarnação do trabalho universal e o valor de troca
não seriam transformados em preço; mas nem o valor de uso seria
transformado em valor de troca e o produto em mercadoria, e assim a
própria base da produção burguesa seria abolida. 18 "É fácil notar que,
nesta breve mas clara contraposição de mercadoria e produção socialista,
falta exatamente aquele elo ao qual Rubin se agarrou: a antítese do
trabalho concreto e abstrato, embora seja enfatizado que na sociedade
socialista o trabalho não precisa de elos intermediários de intercâmbio e
alienação, para se tornar trabalho social.
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cada fábrica. Sem uma conta quantitativa da mão-de-obra aqui não é
possível uma produção organizada. Mas que mão-de-obra está sendo
contabilizada aqui? Mão-de-obra em geral, como forma determinada de
energia produtiva, independentemente da forma de sua manifestação. Se
Rubin e Voznesenskij consideram esta mão-de-obra abstrata, eles deveriam
criar uma terceira categoria especial para ela, pois é inconcebível
contabilizar a mão-de-obra concreta com unidades abstratas. O próprio
conceito de contabilidade significa generalizar a partir de qualquer
qualidade. A aritmética é a ciência abstrata dos números.
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Desta forma, não somente o trabalho na época da economia simples
de mercadorias, mas também todo o trabalho das pessoas produzindo na
sociedade, "toda produção individual socialmente determinada" caracteriza,
para Marx, o caráter dual do trabalho. A distinção consiste apenas no
seguinte. Na produção de mercadorias, esta dualidade do trabalho adquire
demonstração prática no processo de intercâmbio. Por outro lado, na
sociedade de mercadorias, o trabalho concreto útil emerge diretamente,
como trabalho privado. O trabalho social torna-se social apenas por meio
de coisas, por meio da troca de mercadorias, a qual simultaneamente
converte o trabalho concreto em seu oposto. Pelo contrário, em todas as
outras formas econômicas, tanto o trabalho concreto quanto o abstrato são
apenas dois lados do mesmo trabalho social. Trabalho concreto é trabalho
social no sentido de que ele satisfaz em especial uma exigência social
particular na qualidade de uma divisão específica do trabalho social.
Trabalho abstrato é trabalho social no sentido de que com ele se expressa o
caráter social do trabalho heterogêneo equacionado. Além disso, do ponto
de vista objetivo, o trabalho concreto sob condições de economia simples
de mercadorias também é trabalho social. Isto fica claro uma vez que o
produto do trabalho deve ser útil, deve satisfazer uma demanda social. "O
duplo caráter social do trabalho do indivíduo lhe aparece, quando
singularmente refletido em seu cérebro, (somente) sob aquelas formas que
ele (este caráter social) assume na prática diária por meio da troca de
produtos. Desta forma, o caráter que seu próprio trabalho possui de ser
socialmente útil assume a forma da condição de o produto não ser apenas
útil, mas útil para outros; e o caráter social que o trabalho particular possui,
de ser igual a todos os outros tipos particulares de trabalho, significa que
todos os artigos fisicamente diferentes e que são produtos do trabalho –
têm uma qualidade comum, ou seja, a de ter valor" 22. Aqui temos também
a resposta à segunda crítica que foi dirigida ao campo da definição
fisiológica do trabalho abstrato – a crítica de que tal definição não abrange
o caráter social do trabalho. Na opinião de Rubin, a contraposição de
trabalho concreto e abstrato não é uma contraposição de conceitos de
gênero e espécie, mas a análise do "trabalho sob dois pontos de vista: o
técnico-material e o social". O conceito de trabalho abstrato expressa as
características da organização social do trabalho em uma sociedade
capitalista de mercadorias" 23.
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"Para começar, a questão em discussão é a produção material. Os
indivíduos que produzem em uma sociedade e, portanto, a
produção socialmente determinada de indivíduos, é,
naturalmente, o ponto de partida".
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abstrato? Talvez aqui, por conteúdo social se esteja querendo fazer
referência a um conteúdo, adequado para quaisquer relações sociais
específicas e a variar junto com elas? Isto nos leva à questão sobre o
caráter histórico do trabalho abstrato, e aqui resta apenas repetir nossa
consideração sobre as categorias históricas em geral.
22
fenômeno, inerente apenas à economia de mercadorias – significa não
dizer nada. Por si só, entende-se que lá, onde não há troca, não há
produção de mercadorias. A outra afirmação, de que a aspiração do
trabalho a níveis iguais, o esforço de equiparação etc. é típica apenas da
produção de mercadorias, obviamente não é verdadeira. Entre outras
coisas, Rubin usa aqui o termo "social" no sentido, análogo ao termo
"mercado" ou produção de "mercadoria". Tal uso do termo está longe de
ser aceito.
Mais adiante, Rubin enfatiza ainda mais esta posição, indicando, que
a equalização do trabalho na sociedade de mercadorias não acontece
diretamente, "mas através do intercâmbio, não no processo de produção".
O conceito de trabalho abstrato expressa a forma histórica específica de
equalização do trabalho".
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Reproduzimos todo esse trecho para mostrar com toda a clareza a
inevitável distorção das categorias marxistas, se elas forem espremidas à
força no "esquema histórico-social" do rubinista. Rubin efetivamente apaga
aqui todas as fronteiras entre "trabalho" e "força de trabalho", tomadas
como fenômenos do mundo externo. Ele revela de antemão não ter muita
fé em sua tentativa de separar estas duas coisas, embora não apresente sua
defesa diante do veredicto inapelável. Enquanto isso, a formulação que
encontramos em Marx não deixa nenhuma dúvida a esse respeito:
Creio que seria impossível ser mais claro. Para Marx, a distinção
entre força de trabalho e trabalho está exatamente no mundo real e nas
condições da produção capitalista, onde todos os fenômenos tomam forma
perversa. Em Rubin existe a visão diametralmente oposta: no mundo
externo a força de trabalho e o trabalho são uma e a mesma coisa. Eles são
vistos exclusivamente sob o ângulo da produção capitalista de mercadorias.
Aqui há uma contradição irreconciliável com Marx 28. Mas não por esta
razão, é claro, o ponto de vista de Rubin deve ser rejeitado. A questão é
que a teoria de Rubin leva diretamente a uma representação do valor da
força de trabalho como remuneração do trabalho, ou seja, à confusão da
natureza do salário do trabalhador com sua aparência externa falsa,
contra a qual Marx disparou as flechas mais afiadas de sua crítica. Se o
salário do trabalhador é o pagamento pelo trabalho, então toda a teoria da
exploração fica suspensa no ar. O ponto de vista de Rubin representa um
retorno à economia clássica, que de fato não diferenciava os conceitos de
"trabalho" e "força de trabalho" e, portanto, não podia ir além do alcance
da ideologia burguesa. A "especificidade histórico-social" do trabalho
abstrato nos leva, desta forma, cada vez mais longe do marxismo genuíno.
Já não falamos sobre o ponto de que a tentativa de dar uma característica
"social" ao conceito de força de trabalho pertence ao mesmo tipo de
invenções, como as muitas definições de trabalho abstrato, que citamos
acima. A força de trabalho sem mais delongas é renomeada como trabalho
contratado, agora, e o trabalho assalariado em geral pode ser definido
como uma categoria histórica social, inerente à produção capitalista. O que
teria que ser demonstrado, a saber – se "força de trabalho" e "trabalho
assalariado" são sinônimos, Rubin deixa de lado sem nenhuma prova. Com
tal lógica, é claro, qualquer coisa pode ser provada.
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Enquanto isso, a força de trabalho, para Marx, é o poder que "existe
na pessoa do operário". Em outro lugar, Marx diz: "Trabalho – é em si
mesma a manifestação de uma das forças da natureza, a força de
trabalho humana" (Crítica do Programa Gotha). O conceito de força de
trabalho de Marx se aplica em relação às características do trabalho servil:
"Todo servo sabe que aquilo que ele gasta a serviço de seu senhor é uma
quantidade definida de sua própria força de trabalho pessoal".
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ridícula e despropositada de que o trabalho assalariado não cria valor (!?).
Mas, se esta aberração for abandonada, então permanece a conclusão
correta: trabalho não é uma "coisa", força de trabalho é uma "coisa". Disso
deriva sua relação diferente com o valor. Mas disto já se segue que entre
trabalho e força de trabalho existe uma distinção fundamental, que se
baseia em sua natureza objetiva. Por que foi necessário fazer tanto
barulho, apagando entre as duas noções todas as fronteiras, para depois
reconstruí-las novamente? O esforço gasto nesta empreitada não só não
tem nenhum valor como muito provavelmente também não o cria.
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específicas de aparecimento das leis da "vida produtiva" social, a fim de
deixar "aparecer" através de uma análise abstrata o lado interno do tecido
econômico que permanece embaçado, mascarado por formas
contraditórias de produção capitalista. As categorias básicas desta
economia, como capital, lucro, etc., representam fenômenos econômicos
de uma forma falsa, em um espelho curvo. Para expor este fetichismo de
fenômenos superficiais o próprio estudo deveria, em todo caso, possuir as
ferramentas e categorias não em ordem fetichizada; ele deveria, em sua
análise abstrata, colocar-se fora das categorias de produção burguesa.
Caso contrário, ele mesmo estará em seu cativeiro, como também
aconteceu com a escola clássica, para o melhor de seus representantes –
Ricardo. Mas onde se situa esse terreno, que nos daria perspectiva da
fronteira da visão burguesa do mundo? Tal terreno é o ponto de vista do
trabalho em seu sentido universal. A que se resume a análise marxista da
sociedade burguesa? Ela mostra que o lucro não cresce a partir do capital,
ou do aluguel ou da terra; que o capital e o valor não são propriedade das
coisas como tais; que o dinheiro também não é a aparência fulgurante pela
qual é desejado, que tudo isso – são apenas formas de aparência de
trabalho universal abstrato, a matéria primária, da qual se forja a produção
social, as classes e suas numerosas relações. Sobre este fundamento está
construída toda a teoria da mais-valia, toda a teoria da exploração.
Somente a condensação de todas as relações socioeconômicas ao trabalho
pode expor a mistificação da forma econômica burguesa, e esse é o mérito
que Marx atribuiu antes de tudo à escola clássica, embora não pudesse
realizar toda a tarefa teórica até seu fim necessário.
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de categorias "social-históricas", como um esquilo em uma roda. Todo o
esquema adquire o caráter da famosa construção: a terra sobre as baleias,
as baleias sobre a água, a água sobre a terra. A isto inevitavelmente deve
levar o zelo exorbitante em conceitos sociologizantes, a "expulsão da
matéria" do estudo econômico. Este é um passo atrás em relação ao
método materialista de Marx, na direção daquele fetichismo das relações
econômicas que Rubin desborda com muito sucesso em outras partes de
seu livro.
_________________________________
1. Este é o nome do artigo discutido. Capítulo 14 dos Ensaios sobre a Teoria do Valor
de Marx. Algumas passagens que Dashkovskij cita e critica foram aparentemente
abandonadas ou alteradas por Rubin em edições posteriores. A terceira edição dos
Ensaios de Rubin, na qual a tradução inglesa foi baseada, apareceu em 1928. A 4ª
edição data de 1930. No apêndice nº 2 (p. 240-54) Rubin deu uma resposta à crítica
de Dashkovskij. Nota do tradutor)
3.Se a definição de trabalho abstrato consiste apenas nisso, então por que Marx e
Engels deram um significado tão grande a essa categoria? – pergunta Voznesenskij.
Que o trabalho produz, por um lado, coisas úteis e, por outro lado, é um gasto de
energia humana – poderia tal truísmo ser considerado uma descoberta científica?
Respondemos a esta pergunta intrigante com outra pergunta. Toda economia assume,
por um lado, meios de produção e, por outro lado, força de trabalho. Isto também é
um truísmo. Será que daí decorre que o ensino de Marx sobre a composição orgânica
do capital não vale um centavo? Toda a questão aqui é o uso que Marx fez destes
"truísmos", que ainda eram conhecidos em tempos antigos e, no entanto,
permaneceram fora do campo de visão dos teóricos mais avançados da escola
clássica.
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quais elas se desenvolvem e existem", etc. (Engels to Borgius)
http://www.marxists.org/archive/marx/works/1894/letters/94_01_25a.htm Para
entender estas palavras é necessário, entretanto, ter em mente que Engels aqui
respondeu de forma ampla a uma pergunta sobre a "base" e a "superestrutura" de
cada sociedade. Desse ponto de vista, a base econômica deve incluir em si todos esses
elementos. Além disso, Engels no final da carta estipula, que ele não considera todas
as suas formulações suficientemente claras. Por tudo isso, a importância desses
elementos "supra-históricos" de estudo econômico não está sujeita a dúvidas.
9. "Grundrisse", p.28-29
10 "Grundrisse", p.-29.
11.I. Rubin. Ensaios sobre a teoria do valor de Marx, segunda edição, p. 102
http://www.marxists.org/archive/rubin/value/ch14.htm
13 "Grundrisse", p. 28
14.Z. Tseitlin faz uma nota interessante, desenhando o método de Marx com o
método das ciências naturais, fazendo um paralelo entre o ensino de Marx sobre o
trabalho abstrato e o ensino sobre o átomo. O conceito "átomo" se refere a todas as
épocas da história científica, assim como o conceito "trabalho" – a todos os períodos
da história social. O átomo, assim como o trabalho, tem uma "substância dupla".
Entretanto, a ciência poderia se desenvolver até a descoberta do átomo apenas até um
estágio definido da história científica, através da análise de "fenômenos concretos
complexos nos quais o átomo representa uma categoria geral uniformemente
distribuída". Na nebulosa primitiva, como também na sociedade primitiva, o átomo e o
trabalho embora ambos fossem categorias gerais, mas, por outro lado, estipulava esta
ou aquela configuração individual". Com o desenvolvimento do sistema solar, a
diversidade aumenta das combinações, das conexões químicas, nas quais o átomo
emerge, como categoria geral. O átomo se desindividualiza cada vez mais "na prática".
A atividade científica do homem por seu lado contribui para a multiplicação do
número de combinações de elementos químicos". "Sem dúvida, o poder do homem
sobre as forças da natureza atinge tal grau, que o átomo, como o trabalho, torna-se
"indiferente", ou seja, pode obter qualquer combinação para qualquer objetivo". O
átomo é uma categoria histórica no sentido de que somente naquele estádio de
desenvolvimento científico, quando a matéria se transforma em uma concretude
31
complexa, o caráter geral desta categoria emerge mais claramente. Veja uma
consideração mais detalhada em Z. Tseitlin. Ciência e hipótese. p. 171-73.
26.Ibid., p. 108.
27.Ibid., p. 107.
Citação:
32
"O movimento real dos salários apresenta fenômenos que parecem provar que
não o valor da força de trabalho é pago, mas o valor de sua função, do
próprio trabalho... 1.) Mudança de salários com a mudança da duração do dia
de trabalho. Pode-se concluir que não o valor de uma máquina é pago, mas o
de seu funcionamento, porque custa mais para contratar uma máquina por
uma semana do que por um dia". (Capital, vol. 1, cap. 18). (cap. 19, em
inglês, MIA)
Citação:
http://libcom.org/library/abstract-labour-economic-categories-marx-isaak-
dashkovskij?fbclid=IwAR0MD9uP8DMQsWV5AOES4QB1T0BySrASrxpuHlviYDDSh6Cr
c4T_rMpSe6s
Trad. JLN
33