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As reivindicações oficiais do sindicato ainda tem muita dificuldade de assinalar que não
podemos mais falar na existência da categoria “O”. Somos todos professores. Mais ainda:
somos todos trabalhadores. A meritocracia deixa alijado um discurso classista na perspectiva
da greve, pois não denuncia que a situação dramática de muitos alunos é fruto da exploração
da força de trabalho sob o capitalismo, que atinge suas famílias e inclusive muitos daqueles
que estudam e trabalham. Todavia, a ausência de um discurso de ruptura quanto a
meritocracia impede que nos sintamos em condições de horizontalidade com nossos alunos,
inclusive responsabilizando-os pelos problemas na escola. Colocamo-nos em posições
contrárias, quando deveríamos estar contrários aos governos e empresários da educação.
O mais grave é que a direção não promove a politização da manifestação. É uma ação
economicista, como já dissemos. Ou seja, não se descortina que a situação do professorado é
uma consequência de uma politica de Estado que atinge todos os servidores públicos e
também os trabalhadores em geral. A recusa de unificação com outros profissionais da
educação e mesmo com outros trabalhadores é uma prova incontestável da ausência de uma
perspectiva classista e de luta combativa por parte da direção do sindicato. Seria um momento
impar para organizar uma luta contra a politica neoliberal que destrói e corrói os ganhos dos
trabalhadores e sustenta o aumento da lucratividade do capital.
Por fim, chega a ser ridículo, ou para ser mais generoso, é desmobilizador para a
categoria aceitar mais uma comissão de negociação salarial quando na verdade já deveríamos
ter abandonado qualquer comissão paritária que apenas atrasa a luta dos professores, sempre
na espera (que principio mais conservador) de algum resultado. Ridículo e assombroso é dizer
que a luta conseguiu os 8% de aumento, mas comprova o aspecto economicista do sindicato,
ou seja, sua visão de ação apenas no tocante ao momento de aumento salarial. Isto, por si só,
demonstra que precisamos de uma revolução no sindicato dos professores. A APEOESP precisa
que os professores promovam uma ruptura total na perspectiva de sindicato que temos hoje.
Não basta apenas uma desvinculação de partidos, aliás, este nem é o centro do problema.
Precisamos de um sindicato combativo, que entenda que a educação não pode melhorar
enquanto os governos promoverem politicas neoliberais, que são executadas em nível federal,
estadual e municipal. Um sindicato feito para os professores, com vinculação efetiva com os
servidores em geral, que se sinta e promova uma perspectiva de que SOMOS TODOS
TRABALHADORES. COMO TRABALHADORES DEVEMOS TODOS NOS UNIR, para recuperar um
convite feito há muito tempo por um lutador contra as mazelas do capitalismo.
Flavio Eduardo Mazetto, professor da escola pública – Itapira (SP) e cientista político.