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Aula 2

Interação nutriente-solo
Meta

Apresentar as interações entre os nutrientes e o sistema solo – planta – atmosfera.

Objetivos

Ao final da disciplina o aluno deverá ser capaz de:


1 - Compreender a interação das fases sólida, líquida, gasosa e viva do solo no
processo de suprimento de nutrientes às plantas.
2 - Definir capacidade de troca de cátions e ânions
3 - Compreender a formação de cargas elétricas no solo.
4 - Conhecer os tipos, os mecanismos geradores e os efeitos da acidez nos solos.

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Interação nutriente-solo

Após o conhecimento dos nutrientes minerais (Aula 1) é muito


importante compreender os processos que
ocorrem com os elementos químicos no solo. Lembre-se: solo fértil
Assim, poderemos garantir o fornecimento não é sinônimo de solo
produtivo.
de nutrientes em quantidades satisfatórias e a
disponibilidade dos mesmos para a cultura.
Por este motivo, nesta aula nos ocuparemos com o estudo das
interações entre os nutrientes e o solo.
Responderemos as seguintes perguntas:
→ Como os elementos minerais ficam “armazenados” no solo? Livres ou
presos?
→ A disponibilidade destes elementos está associada à carga elétrica
dos mesmos?
→ O que é acidez do solo? Quais são os tipos? Qual a origem? Quais os
efeitos?
Inicialmente vale lembrar as fases do solo, estudadas na disciplina
Manejo do Solo:
O solo é um sistema complexo constituído de 3 (três) fases: sólida
(mineral e orgânica), líquida e
gasosa. A figura ao lado
apresenta a distribuição entre
as fases de um solo
considerado ideal. É claro que a
mecanização das culturas pode
diminuir o espaço “ar do solo” e
práticas culturais como a
irrigação - e até mesmo a chuva
- podem aumentar a participação relativa da fase “água”.

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A fase sólida ocupa cerca de 50% do Importante: A fase sólida do
volume do solo e é constituída por minerais e solo é composta por material
por material orgânico. Na fase sólida mineral mineral (originária das
encontram-se partículas sólidas de formas e rochas) e de matéria
tamanhos variáveis. Estas são classificadas orgânica (originária de
de acordo com o seu diâmetro, em frações organismos vivos).
granulométricas.
As escalas de frações granulométricas mais utilizadas no Brasil são
apresentadas na tabela abaixo:

Escala de frações granulométricas de partículas encontradas na fase sólida


mineral do solo, número de partículas por grama.

Fração Diâmetro das Número de partículas


partículas (mm) por grama
Matacão > 200 -
Calhaus 200 – 20 -
Cascalho 20 – 2 -
Areia grossa 2 – 0,2 6.510
Areia fina 0,2 – 0,05 768.000
Silte 0,05 – 0,002 5.776.000
Argila < 0,002 90.260.853.000

Em termos de suprimento de nutrientes às plantas pelos componentes


minerais, podemos afirmar que as frações areia e silte (minerais primários),
apenas liberam nutrientes para a solução Intemperismo: Conjunto
através da intemperização. Entretanto, trata-se de processos físicos,
químicos e biológicos que
de uma liberação muito lenta e dependente do transformam as rochas em
material que deu origem aos mesmos. solo.
Já a matéria orgânica não decomposta (esterco, composto etc.) quando
adicionada ao solo, libera nutrientes para a solução através da decomposição
de forma mais acelerada.
Mas se a quantidade de nutriente existente no solo é suficiente para
atender a necessidade da planta apenas por poucos dias, como a fase sólida
pode garantir o crescimento da lavoura?
As argilas (minerais secundários) e o “húmus” (último estágio de
decomposição da matéria orgânica) assumem grande importância. Em função

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do seu pequeno tamanho, possuem cargas negativas em sua superfície que
mantém adsorvidos elementos de carga positiva em seu entorno. Por este
motivo, argila e húmus são também conhecidos como colóides.
Esse assunto será abordado com maiores detalhes ainda nesta aula.

A fase líquida do solo é constituída por água acrescida de minerais e


compostos orgânicos nela dissolvidos, formando a solução do solo. A solução
do solo representa a fonte imediata de nutrientes às plantas, ou seja, a
absorção pelas raízes ocorre apenas a partir da solução do solo. A fase líquida
tem uma relação muito estreita com o espaço aéreo do solo, pois este, que
representa os restantes 50% do volume do solo é constituído de macro e
microporos. De uma maneira geral é desejável que a água ocupe de 30% a
35% do espaço poroso, principalmente os microporos; o ar e os gases
existentes no solo - necessários às raízes e aos organismos vivos do solo -
ocupam os macroporos.

A fase gasosa ocupa o espaço poroso do solo (principalmente


macroporos) é preenchido pelo ar do solo, que contém de 10 a 100 vezes mais
CO2 e pouco menos O2 que o ar atmosférico normal (na atmosfera os teores de
CO2 estão em torno de 0,03% e os de oxigênio em torno de 21%). As plantas
não sobrevivem quando o teor de oxigênio no ar do solo é inferior a 10%.
O ar do solo tem, geralmente, os mesmos componentes do ar
atmosférico. A respiração das raízes e dos microrganismos, a decomposição
da matéria orgânica e outras reações, porém, modificam sua composição,
podendo apresentar maior concentração de CO2.
Em termos de interação dos nutrientes com a fase gasosa, pensando-se
no suprimento direto de nutrientes às plantas, não há qualquer importância
desta fase, dado a inexistência de nutrientes na forma gasosa. A exceção fica
por conta do nitrogênio, que se apresenta no solo também na forma de gás N2.
Todavia, nenhuma espécie vegetal é capaz de absorver essa forma gasosa. A
importância do gás nitrogênio fica restrita ao processo de fixação biológica por
organismos do solo, com o posterior fornecimento de formas minerais às
plantas.

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Desenvolvimento de cargas elétricas no solo

Vamos continuar nossos estudos retomando a pergunta feita na página


anterior: Como a fase sólida pode ressuprir a solução do solo para garantir o
crescimento da lavoura?
O ressuprimento da solução é feito
Ressuprir: devolver, fornecer de novo. pelos minerais secundários (fração
argila) e também pelo húmus,
último estágio da decomposição da matéria orgânica.
Talvez esta resposta não seja suficiente para sua compreensão, mas
vamos entender com detalhes esse ressuprimento de minerais, prestando
bastante atenção nas explicações que seguem:
Os minerais secundários e as frações húmicas da matéria orgânica
apresentam-se normalmente, como colóides e, como tal, são os principais
responsáveis pela atividade química dos
solos. A atividade química deve-se a Na ciência do solo, colóides
são partículas menores que 1
propriedade dos sistemas coloidais, que é micrômetro de diâmetro (um
o desenvolvimento de cargas elétricas. milímetro dividido por mil) e
que apresentam cargas
Com a existência de cargas elétricas elétricas em sua superfície,
na superfície dos colóides, a fase sólida mantendo íons em seu
entorno.
torna-se capaz de reter os cátions e ânions
liberados para a solução pelo intemperismo dos minerais primários ou pela
decomposição da matéria orgânica ou, ainda, adicionados na solução através
da adubação.

Mas qual a importância das cargas elétricas?

Sem a existência de cargas elétricas, os nutrientes seriam perdidos para


camadas mais profundas, com a percolação da água, através do processo de
lixiviação.

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→ ADSORÇÃO: íon nutriente retido (= preso) nas cargas elétricas dos
colóides.
→ DESSORÇÃO: íon nutriente liberado dos colóides para a solução do
solo.
→ ABSORÇÃO: liberação do íon nutriente da solução do solo para dentro
das células da raiz.
→ LIXIVIAÇÃO OU PERCOLAÇÃO: descida do íon nutriente pelo perfil do
solo.

Resumindo: As cargas elétricas existentes nas superfícies das partículas


minerais e orgânicas da fase sólida atraem os íons da solução do solo para as
proximidades da superfície da partícula.

Atividade 1: Qual a origem das cargas elétricas em solos?


.....................................................................................................................................
Resposta comentada: As cargas elétricas em solos surgem das superfícies de partículas
inorgânicas e orgânicas do solo (colóides).

As cargas elétricas estudadas nesta aula são a origem da CTC


(capacidade de troca de cátions) e CTA (capacidade de troca de ânions) que
estudaremos a seguir. Por isto é muito importante sua compreensão.
Se você não entendeu esses conceitos, releia a aula. Se a dúvida
persistir, entre em contato com o professor ou com o seu tutor.

Retenção e troca de íons no solo

Vimos a pouco que os colóides desenvolvem cargas que promovem a


adsorção dos elementos químicos presentes na solução do solo. Estudamos
também, que a fração líquida do solo é a fonte imediata de nutrientes a serem
absorvidos pelas raízes e que a fração sólida é grande reservatório de
nutrientes, ressuprindo a solução do solo à medida que os nutrientes são
absorvidos da solução pelas raízes. A figura abaixo ilustra o que foi dito até o
momento para a retenção de íons no solo:

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A retenção de íons pela fase sólida do solo não envolve apenas a
adsorção em cargas elétricas desenvolvidas na superfície dos colóides.
Enquanto a adsorção de cátions (Al3+,
Íon: átomo ou molécula
Ca2+, Mg2+, K+, NH4+, Na+) às cargas eletricamente carregado, que
perdeu ou ganhou um ou mais
negativas dos colóides é direta, o íon H+
elétrons. Íons carregados
não é trocável com a solução do solo. negativamente são conhecidos
como ânions, enquanto íons
Sendo assim, o único meio do H+ sair da
com carga positiva são
superfície do colóide é através da denominados cátions
calagem (aplicação de calcário).
Veja:

CaCO3 + 2H+ → Ca2+ + OH- + H+ + CO2


(calcário) (colóide) ↓ H2O

Entendeu alguma coisa?


Não se preocupe! Vamos às explicações:

A pouco, afirmamos que os cátions (carga positiva)


retidos nas cargas negativas dos colóides podem ser
liberados para a solução do solo, exceto o íon H+.
A solução para o H+ seria a aplicação do calcário (CaCO3). Analisando a
reação química, percebemos que a reação do calcário com duas moléculas de
H+ retidas nos colóides, dá origem ao cálcio (macronutriente), a água e ao gás
carbônico - benéficos ou inofensivos.

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Maiores detalhes sobre esta reação serão apresentados no item acidez
e na aula 4 (calagem e gessagem).

Importante: para que um íon deixe a superfície do colóide (fase sólida) e vá


para a solução do solo (fase líquida), outro de mesma carga elétrica deverá
ocupar o seu lugar.

Antes de iniciarmos o próximo


Nutriente disponível: É a
assunto, é importante ressaltar que uma fração do nutriente que se
encontra no solo sob formas
significativa parcela dos nutrientes
passíveis de absorção pelas
disponíveis nas fases sólida e líquida não plantas. Em geral são:
Moléculas ou íons - presentes
está disponível para as plantas. Estes
na solução do solo - ligados
mecanismos serão desvendados a fracamente à fase sólida.
seguir.

Capacidade de troca de Cátions (CTC)

A CTC (Capacidade de Troca de Cátions) indica a capacidade que o


solo tem de adsorver cátions e trocá-los por quantidades equivalentes de
outros cátions.
Cátions retidos (adsorvidos) nos colóides do solo podem ser substituídos
por outros cátions. Isto, em termos práticos, significa que eles são trocáveis. O
cálcio pode ser trocado por hidrogênio e, ou, potássio, ou vice-versa.
Portanto, a CTC é uma característica fundamental ao manejo adequado
da fertilidade do solo.
A figura abaixo indica a quantidade de cátions que um colóide (argila) e
a areia (que não é um colóide) é capaz de reter e trocar por quantidades
equivalentes de outros cátions.

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Quanto maior a CTC do solo, maior o número de cátions que
os colóides podem reter e trocar com a solução do solo.

Matematicamente, a CTC refere-se à soma de todos os elementos de


cargas positivas: cálcio, magnésio, potássio, sódio, alumínio e hidrogênio.
Portanto, a CTC é calculada a partir dos resultados expressos na análise de
solo.
Alguns fatores interferem na CTC do solo:

→ pH da solução do solo: o pH pH ou potencial de hidrogênio:


mais baixo (acidez do solo) indica maior consiste em uma escala que varia
de 0 a 14 que indica acidez (pH <
concentração do íon H+. Assim, as 7), neutralidade (pH = 7) ou
cargas elétricas negativas dos colóides alcalinidade (pH > 7) de uma
solução aquosa.
serão ocupadas pelo H+, em detrimento
dos elementos minerais de carga positiva. Portanto, o pH baixo (acidez) diminui
a CTC.
→ Natureza dos cátions trocáveis: a preferência para ocupar os
colóides é determinada pela quantidade de carga positiva dos cátions, com
exceção novamente do hidrogênio:

H+ > Al3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ > NH4+ > Na+

→ Matéria orgânica: a adição de matéria orgânica nos solos promove


o aumento da CTC.

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Capacidade de troca de ânions (CTA)

Em solos tropicais como os brasileiros, os colóides apresentam


predominância de cargas negativas, mantendo em seu entorno íons de carga
positiva (alta CTC). Porém, é importante destacar que a fase sólida do solo
também apresenta cargas positivas, em pequena quantidade, possibilitando a
adsorção de ânions.
Portanto, a determinação da CTA é de pouca utilidade quando se
analisa um solo brasileiro.
Agora que já discutimos o processo de retenção e troca de íons no solo,
nos ocuparemos com os cálculos relacionados à CTC, muito importantes para
a recomendação de corretivos (Aula 4) e Fertilizantes (Aula 7).
Neste momento ainda não discutiremos com profundidade os
componentes de uma análise de solo completa.
Mas partiremos de um exemplo prático para permitir sua
compreensão.
Não se esqueça da calculadora! Será muito útil daqui para frente.
Os dados abaixo representam uma análise do solo:

pH CTC a CTC
K Ca Mg Al (H+Al) SB V m
em pH 7 efetiva
3 3
água mg/dm cmolc/dm % %
4,2 24 0,6 0,2 0,4 4,6 ? ? ? ? ?

O pH e os teores de K (potássio), O termo cmolc/.dm3 (centimol de


carga por decímetro cúbico),
Ca (Cálcio), Mg (Magnésio), Al utilizado em Minas Gerais,
(Alumínio) e H + Al (Hidrogênio mais equivale a antiga unidade
meq/100dm3. Os laboratórios
alumínio ou acidez potencial) foram paulistas de análise de solos
determinados em laboratório. Os expressam seus valores em
mmolc/.dm3 (milimol de carga por
demais componentes deverão ser decímetro cúbico), que equivale a
calculados. dez vezes o cmolc/.dm3.
Vamos por partes, começando pela SB (soma de bases):

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Soma de bases (SB) - soma dos teores de cátions trocáveis, exceto H+
e Al3+, que são elementos causadores de acidez do solo.

SB (cmolc/dm³) = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+

Aqui nos deparamos com um problema: perceba na análise de solo da


página anterior que o K está expresso em mg/dm³. A soma de bases (SB) é
expressa em cmolc/dm3; portanto todos os elementos têm que estar expressos
na mesma unidade. Sendo assim, o potássio (K) deve ser transformado em
cmolc/dm³.
Para converter mg/dm³ de K em cmolc/dm³, dividimos por 391:
24 mg de K/dm³ / 391 = 0,06 cmolc/dm³.
Outro fator importante: a concentração de Na (sódio) é irrelevante na
maioria dos casos. Além disso, as análises de solo de rotina não contemplam a
análise do sódio.
Agora, vamos ao nosso caso:
SB = Ca2+ + Mg2+ + K+
SB = 0,6 + 0,2 + 0,06 = 0,86 cmolc/dm3

CTC efetiva (t) - é a capacidade do solo reter cátions no seu pH natural.


É calculada pela fórmula:

t (cmolc/dm³) = SB + Al3+

Basta somar o valor da soma de bases (já calculado) com a


concentração de alumínio (Al) da análise do solo. Então:
t = SB + Al³+
t = 0,86 + 0,4 = 1,26 cmolc/dm³
Atenção: resultados muito baixos (menores do 2,3 cmolc/dm³) indicam
solos arenosos e com baixo percentual de matéria orgânica. A adubação neste
caso favorece a lixiviação e a salinidade do solo.

CTC a pH 7,0 (T) - indica a capacidade do solo reter cátions se o seu pH


fosse ajustado para 7,0 (neutro).

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T (cmolc/dm³) = SB + (H + Al)

A soma de bases já foi calculada. Retiramos o valor de (H + Al) da


análise do solo. Então:
T = SB + (H + Al)
T = 0,86 + 4,6 = 5,46 cmolc/dm³

Saturação de alumínio (m) - representa a


Fitotoxidez:
fração da CTC efetiva que é ocupada por alumínio tóxico ao vegetal
trocável, sendo um indicativo de fitotoxidez deste
elemento às espécies vegetais.

m (%) = (Al3+ / t) x 100

Al está na análise e t já foi calculado.


Então:
m = (Al3+ / t) x 100
m = (0,4 / 1,26) x 100
m = (0,3175) x 100 = 31,75 %
O ideal é que este valor seja sempre menor que 25% para a cultura do
café: Quando a saturação de alumínio é maior que 60%, o crescimento das
raízes é totalmente paralisado.

Saturação de bases (V%) - indica quanto da capacidade de troca de


cátions do solo está sendo utilizada pelas bases (Ca, Mg, K e Na).

V (%) = (SB / T) x 100

SB e T foram calculados nas etapas anteriores. Então:


V = (SB / T) x 100
V = (0,86 / 5,46) x 100
V = (0,1575) x 100 = 15,75 %

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Obs.: o valor ideal varia de acordo com a cultura. No caso do café, a V%
deve ser igual ou superior a 60%. Sendo menor, deveremos recomendar a
aplicação de calcário (aula 4).

Alguns laboratórios de análise do solo também expressam em seus


laudos a participação das principais bases trocáveis dentro da CTC a pH 7,0
(T).
Os cálculos abaixo respondem as seguintes perguntas: Qual a
porcentagem de cálcio, magnésio e potássio entre os nutrientes de carga
positiva? Este solo está equilibrado?

Vamos aos cálculos:

Ca na CTC a pH 7 (%) = (100 x Ca) / T


Ca na CTC a pH 7 (%) = (100 x 0,6) / 5,46
Ca na CTC a pH 7 (%) = 10,99 %

Mg na CTC a pH 7 (%) = (100 x Mg) / T


Mg na CTC a pH 7 (%) = (100 x 0,2) / 5,46
Mg na CTC a pH 7 (%) = 3,66 %

K na CTC a pH 7 (%) = (100 x K) / T


K na CTC a pH 7 (%) = (100 x 0,06) / 5,46
K na CTC a pH 7 (%) = 1,1 %

Analisando os resultados, percebemos um forte desequilíbrio nas


saturações de cátions. O ideal deveria ser:
Ca = 60 a 70%
Mg = 10 a 20%
K = 2 a 5%.
A participação dos três elementos está muito baixa dentro da CTC a pH
7. Na prática, isso significa dizer que a participação do (H+Al) está muito alta
entre os elementos que possuem cargas positivas.

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Agora, vamos completar o nosso laudo de análise do solo substituindo
as interrogações pelos resultados calculados:

CTC
pH CTC
K Ca Mg Al (H+Al) SB a pH V m
em efetiva
7
água 3 3
mg/dm cmolc/dm % %
4,2 24 0,6 0,2 0,4 4,6 0,86 5,46 1,26 15,75 31,75

Os valores de SB, T e V% são de grande importância para a fertilidade


do solo ao emprego de adubos e corretivos. No entanto, antes da adubação e,
na verdade, antes do preparo do solo, deve-se procurar saber as condições de
acidez do solo, assunto que será abordado a seguir.

Vamos verificar sua compreensão?

Atividade 2: O laudo da análise de uma amostra de solo encaminhada


ao laboratório de Análise de Solo do Instituto Federal Sul de Minas – Campus
Muzambinho acusou os seguintes resultados:

Ca2+ trocável = 3,0 cmolc/dm³ de solo


Mg2+ trocável = 1,8 cmolc/dm³ de solo
K+ trocável = 89 mg/dm³ de solo
Al3+ trocável = 0,40 cmolc/dm³ de solo
(H + Al) = 3,60 cmolc/dm³ de solo

Determine os valores SB, t, T, V% e m:


...............................................................................................................................
Resposta comentada: Não podemos esquecer de converter o K em cmolc/dm³: 89 mg de K/dm³
/ 391 = 0,23 cmolc/dm³.
SB = (Ca + Mg + K ) = (3,0 + 1,8 + 0,23) = 5,03 cmolc/dm³
3+
CTC efetiva (t)= SB + Al = 5,03 + 0,40 = 5,43 cmolc/dm³
CTC a pH 7,0 (T) = SB + (H + Al) = 5,03 + 3,60 = 8,63 cmolc/dm³
V% (saturação de bases) da CTC = (SB / T) x 100 = 5,03 / 8,63 x 100 = 58,29%
3+
m% (saturação de alumínio) = Al / t x 100 = 0,40 / 5,43 x 100 = 7,37%

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Ufa! Chegou até aqui? Que tal
uma parada para saborear um
cafezinho?

Acidez do solo

Para compreender a acidez do solo e seus mecanismos, precisamos


retomar com maior profundidade a discussão sobre pH.
O pH ou potencial de hidrogênio consiste em uma escala que varia de 0
a 14 que indica acidez (pH < 7), neutralidade (pH = 7) ou alcalinidade (pH > 7)
de uma solução aquosa.
Quanto menor o pH da solução do solo, maior é a concentração do íon
H+ (acidez). Valores maiores de pH indicam a maior concentração do íon OH-.

← Maior concentração de H+ Maior concentração de OH-→


ÁCIDO ALCALINO

Os valores de pH dos solos variam


A água pura possui pH 7
muito, numa faixa entre 3 e 10. A acidez do
(neutro), pois é constituída da
solo é o fator que mais afeta a união dos íons H+ e OH-.
disponibilidade dos nutrientes às plantas,

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em especial nos solos tropicais. Sob acidez ou alcalinidade excessiva, entre
outros problemas para as plantas, tem-se uma baixa disponibilidade de
nutrientes. Portanto, antes do preparo do solo e da adubação, deve-se procurar
saber as condições de acidez do solo.

Você saberia explicar como a acidez do solo interfere na


disponibilidade de nutrientes?

Basta juntar as informações estudadas até agora e refletir um pouco.


Lembre-se: o íon H+ é o cátion “todo poderoso”. Ele predomina sobre os
demais na ocupação das cargas negativas da superfície dos colóides.
Para ele ocupar um lugar “ao sol” ele sempre “despeja” alguém que vai
para a solução do solo e é lixiviado perfil abaixo. Além disso, quando ele ocupa
um lugar, ele não deixa espaço para os outros entrarem.
Como agravante, vamos relembrar outra informação: ele não é trocável
com outros cátions da solução.
Para entender melhor:
Pense em um ônibus com todos os assentos
ocupados por passageiros mal educados. E uma
pobre senhora, com mais de sessenta e cinco
anos, tentando, em vão, ocupar um lugar. Os
passageiros desprovidos de senso moral seriam
os íons H+, os assentos seriam os colóides e a
pobre senhora idosa seria um elemento de carga positiva que não conseguiu
um lugar. E por conseqüência ela lixiviou, quer dizer, desceu no próximo ponto.

Mecanismos desvendados, agora vamos ao estudo dos tipos de


acidez:

Acidez ativa: Refere-se à concentração dos íons H+ presentes na


solução do solo. No laudo de análise do solo, o resultado da acidez ativa é o
pH.

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Essa acidez pode ser Calcário: São rochas sedimentares
corrigida facilmente (neutralizada), que contêm minerais com
quantidades acima de 30% de
com a utilização de CaCO3 carbonato de cálcio, utilizadas na
(Carbonato de cálcio), um dos agricultura para controlar a acidez do
solo e fornecer cálcio e magnésio.
componentes do calcário.

Perceba na tabela abaixo como o pH (acidez ativa) interfere na


disponibilidade dos macronutrientes:

Estimativa da variação percentual na assimilação dos macronutrientes


pelas plantas, em função do pH do solo.

pH
NUTRIENTES
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,5
Nitrogênio 20 50 75 100 100 100
Fósforo 30 32 40 50 100 100
Potássio 30 35 70 90 100 100
Enxofre 40 80 100 100 100 100
Cálcio 20 40 50 67 83 100
Magnésio 20 40 50 70 80 100

Diante da tabela acima podemos concluir:


“Quanto mais o pH se aproxima da neutralidade (pH 7)
maior é o percentual dos macronutrientes absorvidos pelas
plantas.“

E no caso dos micronutrientes como ficaria esta


disponibilidade?

Na próxima tabela veremos como se comportam os micronutrientes em


função do pH.

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Assimilação dos principais micronutrientes pelas plantas, em função do
pH do solo

pH
NUTRIENTES
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,5
Zinco Zn+2 Zn+2
Boro B +3 B +3 B +3
Manganês Mn+2 Mn+2 Mn+2
Ferro Fe+2 Fe+2
Cobre Cu+2 Cu+2
Molibdênio Mo+4 Mo+4 Mo+4 Mo+4

Analisando a tabela, podemos concluir que a faixa ótima de pH para os


micronutrientes está situada entre 5 e 5,5.

Atenção: o pH ideal para absorção de macronutrientes é 6,5


e para os micronutrientes entre 5 e 5,5.
A diferença parece pequena, mas temos que observar que o
pH é uma escala logarítmica, ou seja: o pH 5 é 10 vezes mais
ácido que o pH 6 e 100 vezes mais ácido que o pH 7.
Sendo assim, temos que observar com muita atenção a disponibilidade
de cada nutriente, pois a ausência de apenas um deles poderá causar grandes
perdas de produtividade.
O gráfico abaixo estabelece a faixa 6,5 como a mais próxima do ideal,
onde a disponibilidade dos macro e micronutrientes seria a mais favorável:

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Acidez potencial: Na análise do solo, a acidez potencial é apresentada
como (H + Al). Contempla o Al3+ trocável, o H+ trocável (quase inexistente) e
também o H+ não trocável. Os resultados da acidez potencial são expressos
em cmolc/dm3.
Na prática, a acidez potencial aponta o problema existente e aquele que
ainda está por vir.

Discutimos até aqui os mecanismos e os tipos de acidez. Mas você pode


estar se perguntando:

Qual a origem da acidez do solo?

Existem algumas explicações para a ocorrência da acidez do solo:

→ Intensidade de chuvas
Bases trocáveis: elementos
(precipitação): solos tropicais - como os minerais de carga positiva:
Ca2+, Mg2+, K+ etc.
localizados na maior parte do território
Lixiviação: descida do
brasileiro - são normalmente ácidos, em elemento mineral pelo perfil
do solo.
função da lixiviação das bases trocáveis do
solo.
De forma simplificada, a acidificação do solo consiste na remoção dos
cátions básicos (Cálcio, Magnésio, Potássio e Sódio) do sistema solo,
substituindo-os por cátions ácidos (Alumínio e Hidrogênio).

→ Material de origem do solo (rochas): a ausência de minerais


primários e secundários responsáveis pela reposição das bases trocáveis não
permite o controle da acidez.

→ Remoção de bases pelas colheitas: O processo de colheita


representa uma importante fonte de acidificação dos solos, uma vez que
qualquer material vegetal é muito rico em bases. Por este e por outros motivos
que serão abordados na aula 8, é muito importante a distribuição da palha do
café, após a colheita.

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→ Uso de fertilizantes de reação ácida: Os fertilizantes aplicados ao
solo, após reação dos mesmos, produzem significativa alteração no pH do solo.
A maior alteração do pH do solo é promovida pelos fertilizantes nitrogenados
amoniacais, ou por aqueles que
resultam na formação de amônio Uréia: adubo com 45% de nitrogênio.
Fórmula molecular: CH4N2O.
no solo, como é o caso da uréia.

→ Decomposição da matéria orgânica: A decomposição da matéria


orgânica gera acidez de diversas formas. O CO2 produzido, em solos com pH
acima de 5,2, acidifica o solo. Perceba:

CO2 + H2O (solução do solo) → HCO3- + H+


O H+ gerado representa a acidez ativa

Mas afinal, quais são os efeitos da acidez nos solos?

O crescimento da maioria das plantas é drasticamente reduzido sob


acidez. Vejamos os efeitos:
A acidez excessiva do solo afeta o desenvolvimento das plantas e,
consequentemente, provoca queda na produção agrícola devido a:
→ Presença de elementos tóxicos como o alumínio e manganês (maior
solubilidade destes);
→ Baixo aproveitamento dos nutrientes pelas plantas;
→ Menor atividade dos microrganismos decompositores da matéria
orgânica;
→ Diminuição da CTC efetiva;
→ Baixos teores de cálcio e magnésio.

Na próxima aula, estudaremos os métodos de avaliação e amostragem


de solo e folhas.

Até breve!

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