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SUMÁRIO
CADERNO DE JURISPRUDÊNCIA – JULHO DE 2020.................................................................................... 2
DIREITO CONSTITUCIONAL.................................................................................................................. 2
A) REPASSE DE RECURSOS FEDERAIS AO DF: FISCALIZAÇÃO .......................................................... 2
B) TRABALHO RURAL ANTES DOS 12 ANOS ................................................................................... 2
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL ....................................................................................................... 3
A) ESTELIONATO: NOVA REGRA DA REPRESENTAÇÃO ................................................................... 3
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL .............................................................................................................. 4
A) LEI DE DROGAS ........................................................................................................................ 4
DIREITO PROCESSUAL PENAL .............................................................................................................. 5
A) COMPETÊNCIA – “PIRAMIDE FINANCEIRA” ............................................................................... 5
B) COMPETENCIA – CULTIVO DE CANNABIS (MACONHA) .............................................................. 5
C) SUSPENSÃO DE TRABALHO EXTERNO (COVID-19) ..................................................................... 6
D) RESOLUÇÃO 62/CNJ E RÉU PRESO NO EXTERIOR....................................................................... 7
DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................................. 8
A) MANDADO DE SEGURANÇA – LEGITIMIDADE ........................................................................... 8
B) IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DELAÇÃO PREMIADA ......................................................... 8
C) RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO .............................................................................. 9
OUTROS JULGADOS RELEVANTES ........................................................................................................ 9
A) RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA – ACIDENTE EM LINHA FÉRREA ......................................... 9
B) PRISÃO CIVIL POR ALIMENTOS (COVID-19) ............................................................................. 10
C) USO INDEVIDO DE IMAGEM DE TORCEDOR ............................................................................ 10
EXERCÍCIOS ...................................................................................................................................... 11
GABARITO COMENTADO .................................................................................................................. 13
➢ Informativos analisados:
• STJ – 673, 674
• STF – Não houve
DIREITO CONSTITUCIONAL
A) REPASSE DE RECURSOS FEDERAIS AO DF: FISCALIZAÇÃO
STJ, 674 - O Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para
fiscalizar a aplicação de recursos federais repassados ao Distrito Federal.
(RMS 61.997-DF)
Caso concreto: durante o processo de aposentadoria, JOÃO CUNHA alegou ter exercido
trabalho rural antes dos 12 anos de idade. O tribunal de origem reconheceu as provas
apresentadas, mas limitou o cômputo do tempo a partir dos 14 anos.
Premissas: o art. 7°, XXXIII da CR/88 impõe limites ao trabalho do menor, podendo ser
assim sintetizado:
Grupo protegido Regra Exceção
Entre 16 e 18 anos Pode trabalhar Não pode se for trabalho noturno, perigoso ou insalubre.
Menores de 16 anos Não pode trabalhar A partir dos 14, na condição de aprendiz.
Decisão 1° Turma/STJ: O STJ determinou o reconhecimento do trabalho mesmo antes
dos 12 anos de idade, sob os seguintes fundamentos: i) influência do pensamento garantístico;
ii) decisão que confira maior proteção e mais eficaz tutela dos direitos subjetivos dos
hipossuficientes; iii) não interpretar o art. 7o., XXXIII, da Constituição em prejuízo da criança
ou adolescente; iv) evitar a “dupla punição” da criança ou adolescente. Definiu-se, ainda, a
impossibilidade de se estabelecer um limite mínimo de idade para o reconhecimento do labor
infantil para fins previdenciários.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, depósito, transportar ou trouxer consigo,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, para consumo pessoal, drogas sem
transportar, trazer consigo, guardar, autorização ou em desacordo com
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou determinação legal ou regulamentar será
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, submetido às seguintes penas:
sem autorização ou em desacordo com § 1º Às mesmas medidas submete-se quem,
determinação legal ou regulamentar: para seu consumo pessoal, semeia, cultiva
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: ou colhe plantas destinadas à preparação de
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, pequena quantidade de substância ou
adquire, vende, expõe à venda, oferece, produto capaz de causar dependência física
fornece, tem em depósito, transporta, traz ou psíquica.
consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar,
matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas;
Premissas: 1) a folha de coca ("erythroxylum coca lam") não é, por si mesma, droga; 2) a
folha de coca consta na Portaria n. 344 da Anvisa como substância proscrita, que pode
originar substância entorpecente ou psicotrópica;
Decisão da 3° Seção/STJ: o STJ entendeu que embora seu uso fosse, em tese, para
consumo pessoal, não é possível enquadrar a conduta no art. 28 da Lei 11.343/06, pois este se
refere apenas ao transporte de “drogas”, não incluindo suas matérias primas ou insumos.
Noutra via, Em razão disso, admite-se seu enquadramento no ° 1°, I, do art. 33 da Lei
11,343/06. Por estas razões, definiu-se que a conduta amolda-se, em tese, ao delito ao art. 33,
I, §1º da Lei de Drogas, no caso específico, combinado com o art. 40, I (transnacionalidade),
atraindo, portanto, a competência federal para o processo e julgamento.
Caso concreto: Uma pessoa interessada em cultivar cannabis sativa (maconha), a ser
usada para fins medicinais, impetra um habeas corpus preventivo a fim de evitar eventual
constrangimento ilegal das autoridades policiais. O juízo estadual declara-se incompetente
para expedir o Salvo Conduto, alegando que o transporte em outras unidades da federação
Caso concreto: em SC, um reeducando apenado por crime hediondo, que cumpria pena
em regime semiaberto teve suspenso seu direito de realização de trabalho externo em razão
dos riscos sanitários decorrentes da COVID-19. O reeducando impetrou HC requerendo a
continuidade do trabalho externo ou a conversão da prisão em domiciliar. O HC não foi
conhecido em decisão monocrática, levando a parte a agravá-lo perante a 5° Turma.
Premissas: 1) durante a crise de COVID-19, diversos entes políticos vêm limitando o
ingresso nas unidades prisionais apenas a pessoas indispensáveis a seu funcionamento; 2) a
Resolução n. 62 de 18/MAR/20 do CNJ trata da substituição da prisão decorrente da sentença
condenatória pela domiciliar, devendo-se demonstrar para tanto: a) tratar-se de apenado do
grupo de risco; b) impossibilidade de receber tratamento na penitenciária; c) risco real de
existência de contaminação dentro do estabelecimento prisional.
Decisão da 5° Turma/STJ: denegou-se a ordem de HC, alegando, não existir
constrangimento ilegal. Fundamentou-se no sentido de que a decisão resguarda um bem
maior – a saúde do próprio reeducando e da coletividade. Justificou-se, ainda, que a
inexistência de casos de COVID-19 na penitenciária e o fato de o impetrante não compor o
grupo de risco.
Caso concreto: um cidadão brasileiro residente nos EUA teve uma ordem de prisão
determinada no curso da Operação o Unfair Play, desdobramento da Operação Lava-Jato. Ele
ingressa com HC contra a decisão judicial alegando uma série de argumentos (700 páginas),
dentre os quais a pandemia de COVID-19, e requer a conversão da prisão em cautelares
diversas.
Premissas: 1) A CR/88 não admite, em regra, que o STJ analise HC contra decisão
denegatória de desembargador antes de pronunciamento do órgão colegiado.
Decisão 6º Turma/STJ: o HC não serve para o revolvimento vertical de provas, de
modo que o STJ não adentra ao mérito dos argumentos apresentados pela defesa. Quanto à
crise de COVID-19, fundamenta o STJ que a Resolução 62/CNJ não se aplica a pessoas que não
estejam presas no Brasil, além de que não existem indicativos de provável extradição. Agravo
regimental não provido.
DIREITO ADMINISTRATIVO
A) MANDADO DE SEGURANÇA – LEGITIMIDADE
STJ, 673 - O Secretário de Estado da Fazenda não está legitimado a figurar,
como autoridade coatora, em mandados de segurança que visam evitar a
prática de lançamento fiscal. (RMS 54.823-PB)
Caso concreto: dentro das instalações do fórum de São José dos Campos/SP, o réu de
uma ação de violência contra mulher efetuou disparos de arma de fogo na direção de sua
esposa e acabou acertando o advogado dela, que veio a óbito no local. A família ingressa em
juízo contra a Fazenda do Estado de São Paulo, alegando omissão estatal (detector de metais
sem funcionamento e ausência de seguranças) e requer pagamento de danos materiais e
morais pelo ocorrido. O caso chega ao STJ após o TJ/SP negar a existência de nexo causal.
Premissas: a) a regra do ordenamento jurídico brasileiro é a responsabilidade objetiva
do Estado por ato comissivo; b) excepcionalmente, admite-se, a responsabilização objetiva do
Estado também por atos omissivos, quando demonstrado tratar-se de situação de risco
anormal; c) elementos que caracterizam a responsabilidade do Estado por omissão: i)
comportamento omissivo, ii) o dano, iii) o nexo de causalidade e iv) a culpa do serviço público
– rompimento do dever de cuidado.
Julgamento da 2° Turma/STJ: Considerou-se que a atividade desenvolvida no interior
de alguns edifícios públicos como fóruns, institutos prisionais e delegacias, possuem um risco
ínsito a sua própria natureza, razão pela qual estão abrangidos pela regra do art. 927, § único
do Código Civil – obrigação de reparar o dano independente de culpa. No caso em espécie,
decidiu a Turma pela existência de culpa administrativa (embora desnecessária) e nexo
causal, elementos aptos a determinar a responsabilização do poder público, quando por sua
conduta omissiva, deixa de agir com o cuidado.
Breve análise: Em regra, o uso da imagem só pode ser feito mediante autorização
expressa. Contudo, em situações especiais como a imagem de multidão, pessoas famosas ou
ocupantes de cargo público essa regra é flexibilizada (consentimento presumível). No caso
concreto, um torcedor, filmado durante uma partida de futebol, teve sua imagem usada sem
autorização para fins comerciais e ingressou em juízo pedindo indenização por dano moral
(exposição abusiva). O STJ negou, alegando não ter havido identificação e individualização da
pessoa.
Prezados(as);
Com isso encerramos a leitura de nosso primeiro informativo
mensal comentado. A seguir você irá se deparar com 20 questões
inéditas e com forte potencial de serem cobradas nos próximos
concursos de DELTA.
Todas as questões são inéditas!
Aguardo suas críticas e sugestões no perfil do IG
(@prof_andersonlima).
Forte Abraço e bons estudos!
EXERCÍCIOS
1. A competência originária para julgar crimes contra a economia popular, previstos na
Lei n. 1.521/51 é da Justiça Estadual, incluindo-se, entre estes, os delitos contra o
Sistema Financeiro Nacional.
CERTO ( ) ERRADO ( )
4. O crime de porte de drogas para consumo pessoal, previsto no art. 28 da Lei 11.343/06,
inclui entre suas condutas equiparadas, o transporte de matéria prima e insumos para
preparação da substância entorpecente.
CERTO ( ) ERRADO ( )
5. É cabível habeas corpus preventivo nas hipóteses em que se requer autorização para o
cultivo de cannabis sativa (maconha) para fins medicinais, sendo órgão competente
para o processo e julgamento a justiça estadual de 1º grau.
CERTO ( ) ERRADO ( )
9. Os crimes da lei de drogas são, por expressas determinação legal, todos de competência
da justiça federal, salvo quando tratar-se de delitos de menor potencial ofensivo.
CERTO ( ) ERRADO ( )
10. Criptomoedas, dentre as quais se incluem os bitcoins, não são regulados pelo
ordenamento jurídico brasileiro. Por esta razão, o emprego desses valores em
atividades financeiras é considerado ilícito.
CERTO ( ) ERRADO ( )
11. A Constituição Federal de 1988 não admite o exercício de qualquer trabalho ao menor
de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14. Por esta razão, veda-se
também o reconhecimento de vínculos trabalhistas antes dos 14 anos para fins
previdenciários.
CERTO ( ) ERRADO ( )
15. A responsabilidade objetiva do Estado decorre de atos comissivos de seus agentes, não
se vislumbrando hipótese de responsabilização objetiva por atos omissivos.
CERTO ( ) ERRADO ( )
16. Um torcedor de futebol que seja filmado durante uma partida de futebol e,
posteriormente, tenha sua imagem usada sem autorização para fins comerciais, fará jus
a indenização por uso abusivo da imagem – independente de sua identificação e
individualização.
CERTO ( ) ERRADO ( )
19. Com o advento da Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime), o delito de estelionato passou a
ter sua ação condicionada à representação da vítima. Segundo o STJ, tal regra possui
aplicabilidade imediata a todos os processos penais em curso, independente da fase em
que se encontrem.
CERTO ( ) ERRADO ( )
20. Ante a recente alteração legislativa insculpida pela Lei n. 13.964/19, o delito de
Estelionato passou a ter sua ação condicionada à representação do ofendido,
independente de qual seja a vítima.
CERTO ( ) ERRADO ( )
GABARITO COMENTADO
1. ERRADO. Em que pese os crimes contra a Economia Popular sejam, de fato, de
competência estadual, dentre estes não se incluem os crimes contra o Sistema Federal,
dado que são regulados pela Lei n. 7492/86, todos de competência federal.
2. ERRADO. Conforme destacado nos comentários do informativo, tal prática configura,
em tese, crime contra economia popular, portanto, de competência estadual.
3. CERTO. Tal prática se configurar crime será o de tráfico e, portanto, de competência
federal.
4. ERRADO. O crime de porte de drogas para consumo pessoal, não inclui entre seus
objetos materiais a matéria prima ou insumos, mas tão somente as drogas em si. Por
esta razão, a conduta de transportar folhas de coca não se amolda ao art. 28.
5. CERTA. Conforme apontado no informativo.
6. ERRADA. O HC coletivo vem sendo cada vez mais aceito pelos tribunais superiores,
dado que traz mais celeridade e favorece a eficácia da prestação jurisdicional.
7. CERTA. Foi exatamente nesse sentido ambas as decisões do STJ sobre a matéria. A
divergência é quanto à conversão (ou não) em pena de prisão domiciliar.
8. CERTO. Por óbvio que uma eventual denúncia e/ou condenação por tráfico deverá ser
lastreada em outras provas, não apenas no transporte, conforme o caso analisado pelo
STJ.
9. ERRADO. Somente são de competência federal os crimes de tráfico de drogas, mais
especificamente os que estão entre os art. 33 a 37 da Lei n. 11.343/06. Os demais
delitos, independente da pena, serão, em regra, de competência estadual.
10. ERRADO. Em que pese de fato as criptomoedas não possuam regulamentação específica
no ordenamento jurídico pátrio, isso não significa que seu emprego configure ilícito
civil tampouco penal. Lembre-se que o cidadão pode fazer tudo que a lei não lhe proíba.
11. ERRADO, embora a primeira premissa seja verdadeira, a segunda está em desacordo
com a jurisprudência do STJ. Em que pese a CR/88 proíba o trabalho antes dos 14 anos,
não se proíbe o reconhecimento das relações de emprego antes dessa idade para fins
previdenciários, dado que tratar-se-ia de uma “dupla punição” à criança ou adolescente
que precisou trabalhar durante a infância.
12. CERTO. Conforme o STJ, pouco importa a origem do recurso, dado o interesse público
na fiscalização e a previsão do art. 75, da Constituição Federal.
13. ERRADO. Conforme abordado, a Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime) alterou a redação
da Lei de Improbidade, passando a admitir o acordo de não persecução civil.
14. CERTO. Embora a norma tenha passado a admitir os acordos de não persecução para os
ilícitos administrativos previstos na LIA, permanece inadmitido a extensão dos
benefícios de colaboração premiada, pelas razões expostas no REsp 1.464.287-DF.
15. ERRADO. Conforme estudado, a regra da responsabilidade objetiva é, de fato,
decorrente de atos comissivos. Inobstante, em algumas situações específicas, o Estado
poderá responder objetivamente também por atos omissivos de seus agentes – quando
demonstrado que a atividade gera um risco anormal e houve rompimento do dever de
cuidado.