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CONTENCIOSO

DO PODER
PÚBLICO

Jadine E. C . F . Seixas
Ano L etivo 2021/2022
A Sindicabilidade Judicial – o que é?
A sindicabilidade judicial trata-se da possibilidade jurídica de se submeter efetivamente qualquer lesão de direito e, por extensão,
ameaça de lesão a algum tipo de controle - Falamos então em modelo de controlo da atividade dos poderes públicos. Nesta cadeira
vamos tratar desta possibilidade na vertente constitucional e na vertente administrativa.

AULAS PRÁTICAS

Fiscalização da Constitucionalidade
Relembrando as funções do Estado:
Þ Função jurisdicional
Þ Função administrativa
O que estas têm em comum é que são ambas secundárias face à lei, mas o poder que acabamos de ver no art. 204º CRP permite ao
Juiz não aplicar se considerar que ela é inconstitucional. Trata-se de um poder importantíssimo que corresponde ao modelo norte-
americano de fiscalização judicial difusa da constitucionalidade, mas é um poder que a Administração não tem. O Juiz é dotado deste
poder porque colabora na aplicação e execução da lei enquanto a Administração apenas aplica a lei.
O regime que temos em Portugal diz-se inspirado em variados regimes, mais concretamente:
Þ Regime francês – Fiscalização política
Þ Regime austríaco – Fiscalização judicial concentrada
Þ Regime norte-americano – Fiscalização judicial difusa
O sistema de fiscalização portuguesa diz-se misto porquê?
Þ Todos os Tribunais podem fiscalizar a constitucionalidade. Os Juízes quando estão perante uma norma jurídica que considerem
inconstitucional podem recusar a sua aplicação de acordo com o art. 204º CRP, por considerar que essa norma ofende a CRP.
Þ Vai buscar traços característicos de variados regimes, sendo que a fiscalização é difusa pois os vários Tribunais – comuns e
administrativos - podem desaplicar, mas não declaram a inconstitucionalidade sendo que quem pode declarar a
inconstitucionalidade é apenas o Tribunal Constitucional (fiscalização concentrada).
o É verdade que todos os Tribunais colaboram na fiscalização da constitucionalidade, mas apenas é só um Tribunal que
elimina as normas incompatíveis com a CRP do ordenamento jurídico.
Þ Ao mesmo tempo que temos uma fiscalização difusa precisamos sempre de ter uma fiscalização concentrada na medida em
que o Tribunal Constitucional (como acontece no modelo austríaco) é que pode declarar a inconstitucionalidade, mas os
Tribunais Comuns e Administrativos podem recusar a aplicação de normas que considerem inconstitucionais (modelo norte-
americano).
DESAPLICAR NÃO É ELIMINAR A NORMA DA ORDEM JURÍDICA

Influência do Regime Francês no nosso modelo


Þ Tem de ver com a existência de um regime que permite que a designação dos membros do Tribunal Constitucional passe por
um órgão político. Porém, no nosso modelo a designação só pode maioritariamente recair sobre Juízes e quando não em
Juízes, em Juristas de reconhecido mérito.
Þ Apenas existem traços no regime que podem aproximar da fiscalização política, do regime francês.
O nosso sistema constitucional é jurisdicional, o Tribunal é constituído por Juízes que aplicam o Direito aos litígios que têm de dirimir.
Também se caracteriza por ser difuso e concentrado.
Þ Difuso - Todos os Tribunais podem fazer o controlo da constitucionalidade das normas em vigor, podem desaplicar a norma
no caso concreta – efeito inter partes;
Þ Concentrado - Só o Tribunal Constitucional é que tem o poder de eliminar a norma – efeito erga omnes;

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O nosso sistema também se caracteriza por ser preventivo e sucessivo na medida em que a fiscalização da constitucionalidade não
ocorre apenas após a aprovação e entrada em vigor da norma jurídica, mas também é permitida antes da norma entrar em vigor (neste
caso é uma fiscalização concentrada).
Por fim, há que referir que o nosso sistema de inconstitucionalidade funciona quer por ação, quer por omissão.
Þ Por Ação - Na maioria dos casos;
Þ Por Omissão - Muito excecionalmente; O que está aqui em causa é um regime jurídico legal que a CRP obriga a que seja
criado, existe o dever constitucional de criar esse regime jurídico legal sem o qual os cidadãos ficam desprovidos de direitos
fundamentais.

O PODER DE COGNIÇÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL EM MATÉRIAS DE OMISSÃO É MUITO MENOR QUANDO


COMPARADO COM O PODER DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO

Þ Em regra, este sistema de fiscalização de inconstitucionalidade por ação e por omissão revela as diferenças entre os poderes
presentes em cada um destes tipos de fiscalização, sendo que a fiscalização por ação se revela como uma bomba atómica que
tem efeito direto no ordenamento jurídico podendo eliminar uma norma jurídica, ao passo que a fiscalização por omissão não
é dotada de tanta força porque o Tribunal limita-se a constatar que existe a falta de legislação. Não só relativamente ao poder
é que se denotam as diferenças entre os poderes de ação e de omissão, também se denota relativamente à legitimidade de
cada órgão – AR (indireta) e TC (direta) – e relativamente à liberdade política, à oportunidade política da criação dos regimes
sendo que esta não pode ser condicionada pela intervenção do Tribunal Constitucional e, portanto, optou-se por este regime
em que o Tribunal se limita a constatar que a omissão existe e comunica ao órgão essa mesma omissão – acaba aqui o poder,
é um poder de declaração.
Þ Este modelo de fiscalização que foi usado como modelo de fiscalização de normas regulamentares (normas administrativas),
ou seja, também é possível na jurisdição administrativa apresenta-se de forma diferente sendo que as normas regulamentares
podem ser eliminadas por inconstitucionalidade e por ilegalidade, mas a Administração pode ser condenada a, num
determinado prazo, editar as normas regulamentares em falta. O que se compreende no âmbito da jurisdição administrativa e
não se compreende no âmbito da jurisdição constitucional por causa da liberdade política, sendo que permitiria que não fosse
o Governo ou a AR pressionados a adotar o regime legal em falta, a liberdade política exige que o Tribunal Constitucional não
force os órgãos políticos a adotar o regime legislativo em falta.
o O poder do Tribunal Constitucional é muito reduzido nos casos da fiscalização por omissão, mas é muito amplo nos
casos de fiscalização de normas regulamentares. É amplo q.b. porque pode condenar a Administração a adotar o
regulamento em falta, pode fixar um prazo para o fazer, mas não pode substituir-se a Administração e aprovar ela
própria o regulamento sendo que os regulamentos se inscrevem na discricionariedade que a Administração tem e só
os órgãos administrativos é que podem exercer este poder e não os Tribunais, sob pena de haver usurpação de
poderes.

HIPÓTESE A – PRIMEIRA PARTE


Suponha que a Assembleia da República enviou no dia um 1 de agosto um diploma ao Presidente da República para promulgação.
Este, no dia 8, pelas 18.00 horas, remeteu o diploma ao TC para fiscalização da constitucionalidade. No requerimento, o Presidente
não invocou as normas que considerava violadas.
1. O TC demorou 26 dias a pronunciar-se. Quid?
2. E se se tratar de lei orgânica?
3. O TC declara ou pronuncia -se pela inconstitucionalidade?

RESPOSTAS
Foi cumprido o prazo ou não?

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Þ O prazo para a apreciação da fiscalização preventiva da constitucionalidade é de 8 dias a contar da receção do diploma (Art.
278º nº3 CRP). A hipótese diz que a Assembleia da República enviou, mas não menciona a data da receção do diploma e o
prazo tem de ser contado a partir da data da receção e não do envio – Elemento importante a ter em atenção.
Þ Presumindo que a receção sucede no mesmo dia do envio ao Presidente, assim o prazo conta-se a partir do dia 2 de Agosto
e não do dia 1 sendo que a contagem do prazo começa no dia a seguir à notificação.
Þ O prazo é de 8 dias úteis - os prazos são sempre contados em dias úteis no processo administrativo, ao contrário do que
sucede no processo civil – contados a partir de dia 2 de Agosto, assim sendo no dia 8 de Agosto, dia em que o Presidente
remeteu o diploma para fiscalização, estava dentro do prazo.
Þ Dando a entrega por fax, considera-se que o diploma entrou no dia seguinte porque a Secretaria do Tribunal já se encontra
fechada. O Tribunal Constitucional é o único que não está no sistema informático – praticamente todos estão – daí ter um
horário até as 17 horas.
Relativamente ao facto de o Presidente não invocar as normas que considerava violadas, é importante?
Þ Lei Orgânica, art. 51º, no caso de falta ou insuficiência ou manifesta obscuridade das indicações a que se refere o nº1 (menciona
a exigência de especificar as normas ou princípios constitucionais violados). No caso de falta, pede-se ao autor do pedido para
suprir as insuficiências de modo a decidir a admissão ou não.
Þ Não há uma rejeição porque rejeitar será, de acordo com o art. 52º, quando não haja legitimidade (o Presidente tem legitimidade,
não é este o pressuposto em falta – 278º nº1); quando as deficiências não foram supridas (neste caso não responder à
notificação do 51º nº3); ou quando tenha sido apresentada falta de prazo. São estas 3 situações que permitem a não aceitação
do pedido.
Pergunta 1: O TC demorou 26 dias a pronunciar-se. Quid? Tem alguma consequência?
Þ Art. 278º nº8 C. da República Portuguesa, diz-nos que o Tribunal tem de se pronunciar num prazo de 25 dias.
Þ Mas este prazo não pode ser alargado? Art. 60º da LOTC, o prazo pode ser encurtado e nunca alargado. Assim sendo, a
pronuncia foi feita fora do prazo à Há uma violação da C. da República Portuguesa que obriga a que decisão ocorra no prazo
de 25 dias (analogia sobre a pronunciação de inconstitucionalidade), é como se se voltasse ao início, ou seja, é como se o
Tribunal não se tivesse pronunciado.
Pergunta 2: E se a norma fosse uma lei orgânica? O prazo para se pedir a fiscalização é igual? A legitimidade é igual?
Þ No caso das leis orgânicas, existem mais órgãos que possuem legitimidade. Existem outros sujeitos processuais que têm
legitimidade ativa, têm personalidade judiciária ativa. São estes:
o O Primeiro-Ministro
o 1/5 dos deputados da Assembleia da República
Art. 278º nº4 C. da República Portuguesa, neste caso o prazo de 8 dias não é o prazo contado da receção pelo Presidente,
tem de ser contado a partir do prazo em que o Primeiro-Ministro e os deputados tiverem conhecimento.
Pergunta 3: O TC declara ou pronuncia-se pela inconstitucionalidade?
Þ O TC pronuncia-se, é que sucede na fiscalização preventiva.
Þ A declaração apenas acontece na fiscalização sucessiva.
Þ Qual é o efeito da pronúncia? É devolvido ao Presidente ou ao Representante da República o diploma que, por sua vez, é
obrigado a vetar. A AR pode discordar/ultrapassar o veto.

Imagine-se que o diploma era do Governo, o Governo pode confirmar a norma? Não, porque não tem a mesma legitimidade democrática
direta que a AR, O Governo tem legitimidade democrática, mas indireta. Daí que a opção presente na C. da República Portuguesa é de
um órgão eleito que representa o povo ter a oportunidade se expressarem por uma maioria mais robusta e confirmarem que pretendem
que a norma tenha aquele conteúdo.

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HIPÓTESE A – SEGUNDA PARTE
Suponha que a AR aprovou um decreto que foi promulgado pelo PR como lei da AR e remetido para publicação. Antes de esta
acontecer, a Provedora de Justiça requereu a fiscalização sucessiva abstrata. Podia?
1. E 23 deputados? Podiam fazê-lo 2 anos depois?
2. Presidente TC admitiu pedido 20 dias depois de ter sido submetido na secretaria. Pode?
3. Apreciado o pedido, o Tribunal pronunciou-se pela constitucionalidade da norma x. Pode?
4. E se o Tribunal se pronunciasse pela inconstitucionalidade de norma julgada não inconstitucional?
5. Qual o efeito dessa decisão?
6. A declaração podia produzir apenas efeitos para o futuro?

RESPOSTAS
A Provedora de Justiça podia requerer a fiscalização sucessiva? Estamos no processo de fiscalização sucessiva e neste tipo de
fiscalização, o pedido é de declaração de inconstitucionalidade com efeitos erga omnes. A fiscalização sucessiva abstrata é aquela em
que podem alguns titulares de órgãos de soberania referidos no art. 180º nº2 C. da República Portuguesa. diz-nos este artigo que podem
requerer esta inconstitucionalidade relativamente a quaisquer normas. A questão que se coloca é: trata-se de uma norma antes da
publicação ou depois da publicação? Ela existe ou não existe? A norma existe – art. 112º C. da República Portuguesa – porém não tendo
sido publicada, diz-nos o art. 119º que consequentemente a norma é ineficaz. Portanto, se a norma existe, mas não produz efeitos, não
pode ser objeto de fiscalização, ou seja, a Provedora tem de esperar pela publicação da norma para poder requerer a fiscalização.

HIPÓTESE A – SEGUNDA PARTE (CONTINUAÇÃO)


Suponha que a AR aprovou um decreto que foi promulgado pelo PR como lei da AR e remetido para publicação. Antes de esta
acontecer, a Provedora de Justiça requereu a fiscalização sucessiva abstrata. Podia?
1. E 23 deputados? Podiam fazê-lo 2 anos depois?
2. Presidente TC admitiu pedido 20 dias depois de ter sido submetido na secretaria. Pode?
Apreciado o pedido, o Tribunal pronunciou-se pela constitucionalidade da norma x. Pode? E se o Tribunal se pronunciasse
pela inconstitucionalidade de norma julgada não inconstitucional? Qual o efeito dessa decisão? A declaração podia produzir
apenas efeitos para o futuro?

RESPOSTAS
A Fiscalização Sucessiva Abstrata podia ser desencadeada por 23 deputados?
Þ A Fiscalização Sucessiva pode ser desencadeada por 23 deputados, número que corresponde a um décimo dos deputados que
é a quantidade necessária para que se reconheça a legitimidade ativa para requerer a Fiscalização Sucessiva Abstrata.
Presidente do TC admitiu pedido 20 dias depois de ter sido submetido na secretaria. Pode?
Þ A fiscalização sucessiva abstrata não tem prazo de acordo com a Lei Orgânica do Tribunal Constitucional, mais concretamente
do art. 62º nº1 – prazo para admissão do pedido – e do art. 62º nº2 – prazo para a Secretaria.
O TC pode pronunciar-se pela inconstitucionalidade da norma x? Qual é a decisão que o Tribunal profere?
Þ Na Fiscalização Preventiva pronuncia.
Þ Na Fiscalização Sucessiva, que é a que aqui está presente, declara.
o Mas declara o quê? Pode declarar constitucionalidade? Não, apenas pode declarar a inconstitucionalidade.
Pode declarar a inconstitucionalidade de normas que tenham sido apreciadas e julgadas não inconstitucional?
Þ Procura-se saber se a decisão faz caso julgado e a resposta é sim, faz caso julgado. Este caso julgado é formal – efeitos dentro
do processo; interpartes - e não material – vincula a matéria em si; erga omnes, com anulação da ordem jurídica - ou seja, não
vincula outros processos.
o O Tribunal Constitucional na Fiscalização Sucessiva Abstrata permite que o efeito seja erga omnes se for anulada a
norma, fazendo caso julgado material.
Qual é o efeito da decisão? A declaração podia produzir apenas efeitos para o futuro?

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Þ Isto tem de ver com a modelação dos efeitos e é verdade que a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade de força
obrigatória e geral tem os efeitos do 282º da CRP, de acordo com o art. 66º da Lei Orgânica. Com o art. 282º CRP percebemos
que é possível fazer a modelação dos efeitos que, por sua vez permitem declarar que os efeitos só produzem para o futuro ou
que não determinam a repristinação das normas - repristinação é norma que é revogada pela norma eliminada do ordenamento
jurídico retorna a sua vigência e continua a produzir efeitos.

HIPÓTESE B
Suponha que António, Autor numa ação administrativa, veio nas alegações de Direito, responder à contestação, dizendo que a norma
legal invocada pela Entidade Demandada contrariava uma convenção internacional. Na sentença, porém, o juiz do Tribunal
Administrativo, entendeu que não havia qualquer desconformidade entre a norma legal e a referida convenção, aplicando-a.
1. António pode recorrer desta decisão para o Tribunal Constitucional?
2. Quais os pressupostos processuais que, neste caso, António precisaria de
preencher para poder aceder ao contencioso constitucional?
3. O Tribunal Constitucional poderá conhecer do fundo da causa submetida ao
Tribunal Administrativo?

RESPOSTAS
Existem pressupostos processuais específicos para a utilização deste recurso para o Tribunal Constitucional, denominado de Recurso
de Fiscalização Sucessiva Concreta da Legalidade.
O Juiz pode considerar que não existe nenhuma desconformidade?
Þ Pode, tendo em atenção ao art. 204º CRP que permite qualquer Juiz desaplicar qualquer norma que considere contrária à lei,
à CRP e aos seus princípios. Um dos princípios consignados na CRP é de que o Direito Internacional tem primazia sobre o
Direito Interno e neste sentido o Tribunal podia ter desaplicado.
António podia recorrer da decisão do Tribunal, sendo que este não lhe deu razão?
Þ Ele invocou esta razão nas alegações de Direito à contestação da entidade demandada que contrariou a convenção internacional,
ou seja, já depois dos Articulados que, tratando-se de uma ação administrativa, António é provavelmente autor da ação
administrativa. O Tribunal Constitucional pode reconhecer desta ilegalidade, a questão é se estão reunidos os pressupostos
processuais para que António possa recorrer para o Tribunal Constitucional.
Þ De acordo com o art. 72º al.b) da Lei Orgânica, António teria legitimidade para recorrer. Mas relativamente aos pressupostos
processuais específicos de uma ação administrativa que está a correr em 1ª instância no Tribunal Administrativo e a
possibilidade de recorrer das respetivas decisões está presente no nº2 do art. 72º que nos diz:
o António tinha a legitimidade porque tinha suscitado a questão da ilegalidade.
o “de modo processualmente adequado” – Quer isto dizer que a questão tem de ser suscitada a inconstitucionalidade
da norma no primeiro momento processual em que a norma é suscetível de ser aplicada. O primeiro momento
processual em que o António tem uma intervenção, em que é potencialmente aplicável a norma em causa, ele tem de
suscitar a inconstitucionalidade da norma.
Þ Imaginem que a decisão foi proferida e está a ser impugnada no Tribunal Administrativo já se funda na norma jurídica que vem
a ser invocada na contestação pela entidade demandada, se o ato que está a ser impugnado já tem como fundamento de Direito
a norma em causa então António tinha de ter uma petição inicial que levantava a questão da ilegalidade da norma. Isto é o que
leva a que mais de metade das decisões do Tribunal Constitucional sejam de: não admissão do recurso, não apresentação em
termos adequados. O modo processualmente adequado perante o Tribunal que proferiu a decisão é no primeiro momento em
que a questão da aplicação da norma é conhecida, tem de se suscitar de imediato porque é que a norma é ilegal ou
inconstitucional, explicar qual é a norma constitucional ou legal que é violada e porquê. É normalmente aqui que se perdem
os recursos.
Þ O outro pressuposto processual é que tinha de esgotar a via contenciosa, isto é, tinha que recorrer até não ser mais possível
recorrer da decisão, porque neste caso o Tribunal não lhe deu razão.
O Tribunal pode conhecer do fundo da causa submetida ao Tribunal Administrativo? Não, o Tribunal só conhece o problema de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade.

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A garantia da constitucionalidade não é um exclusivo do Tribunal Constitucional, é algo que qualquer Tribunal pode usar e participar
aquando da aplicação de normas que considerem contrárias à C. da República Portuguesa. A propósito disto, há uma discussão
relativamente à competência dos Tribunais para aplicar o Direito ou as leis e quando se recusam à aplicação de leis fazem-no devido ao
Direito ou devido às normas positivas.
Þ Professor João Pedro Machante (pode ter sido inspirado por Kelsen): Tem uma tese segundo a qual os Tribunais não aplicam
o Direito, mas sim as leis. Tratam-se de coisas bastante diferentes porque o sentido que a C. da República Portuguesa quis
dar a essa norma foi o sentido de dizer que a regra era que os Tribunais aplicavam as leis aprovadas pelo parlamento (princípio
positivista) e não o Direito, este tem várias fontes (doutrina, jurisprudência), não necessariamente só as leis, não
necessariamente só aquilo que emana da função legislativa.
o Se dissermos que os Tribunais aplicam o Direito, é uma coisa; Se dissermos que os Tribunais aplicam as leis, é outra.
o Esta tese diz-nos que C. da República Portuguesa foi concebida de tal forma rígida que se entende que os Tribunais
aplicavam não o Direito, mas as leis. Significa que a C. da República Portuguesa acarreta um certo positivismo, ou
seja, o que está positivado é o que vale como fonte de Direito, é seguro, é por isso que a norma está presente na C.
da República Portuguesa. As outras regras e princípios que se extraem das leis não acarretam com positividade,
porque não são as leis, tratam-se apenas de outras fontes que permitem perceber as leis.
Þ Esta noção parece ser contrariada pelo CPA aquando da explicação do sentido do princípio da legalidade que diz: “os órgãos
da Administração Pública devem atuar com obediência à lei e ao Direito”, não é só à lei. Com a posição positivista, acreditamos
que o Direito não é todo o Direito escrito, ou seja, há outro Direito para além das leis que pode ser relevante e determinar a
atuação dos órgãos públicos, e consequentemente abrimos essa caixa.

CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO

A delimitação da matéria administrativa assenta no critério estatuário.


Þ O critério estatutário determina que a delimitação administrativa tem de haver essencialmente com os atos praticados ao abrigo
do Direito Administrativo (art. 212º nº3 C. da República Portuguesa), com a atividade desenvolvida pelos órgãos ao abrigo do
Direito Administrativo.
Þ As relações jurídicas administrativas são aquelas que são positivadas pelo Direito Administrativo, logo os litígios emergentes
dessas relações é que cabem no âmbito da jurisdição administrativa.
Þ Trata-se de um critério não absoluto, porque existem casos em que estando perante uma relação jurídica administrativa que
não é obstante perante Tribunal Administrativo, tal como há casos inversos em que a relação não é dirimida pelo Direito
Administrativo, no entanto há julgamento no Tribunal Administrativo.
o Não é um critério absoluto porque há várias situações em que estamos perante situações jurídicas disciplinadas pelo
Direito Administrativo, mas não são conhecidas pelo Tribunal Administrativo (Exemplos: Contraordenações
rodoviárias, estas não são dirimidas nos Tribunais Administrativos, porém a decisão de aplicar a coima é um ato
administrativo, trata-se de todo um processo administrativo que é feito nos Tribunais Comuns; Portarias de extensão
e Portarias de condições mínimas – regulamentos em matérias laborais – tratam-se de regulamentos administrativos
cuja validade é impugnada em Tribunais Comuns e não em Tribunais Administrativos; Impugnações em matéria civil
e notarial, são maioritariamente feitas em Tribunais Comuns.
o Antigamente, as contraordenações eram vistas como algo muito perto do Direito Penal, porém com a reforma de 2015
deu-se um passo no sentido de incluir algumas matérias relacionadas com procurações no âmbito da jurisdição
administrativa – exemplo: contraordenações urbanísticas estão incluídas na jurisdição administrativa desde 2015.
o Temos também exemplos inversos, isto é, matérias que não são disciplinadas pelo Direito Administrativo, mas por
razões práticas são dirimidas pelo Tribunal Administrativo (Exemplos: Responsabilidade pela atividade do Estado no
âmbito da promoção política, legislativa ou jurisdicional, art. 4º al. f) ETAF – Lei nº13 /2002 que desenvolve o art.

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212º nº3 da C. da República Portuguesa – o que sucede aqui é que se está a colocar o regime jurídico da
responsabilidade presente na Lei nº 77/2007 como regime comum, o regime de responsabilidade do Estado e o
regime das iniciativas públicas, é um vínculo para toda a atividade do Estado e para a atividade administrativa das
pessoas coletivas públicas. Portanto, faz sentido que aplique o mesmo regime jurídico sendo que o Estado é uma
única pessoa). Quase toda a responsabilidade civil está na jurisdição administrativa.

HIPÓTESE F
António, cidadão português, residente em Beja, foi detido no aeroporto de Riade e mantido preso durante 3 meses em condições
desumanas. Revoltado, intentou uma ação no Tribunal judicial da comarca de Loures, onde tem domicílio profissional o seu
advogado, contra o SEF e contra o MNE, por considerar que sofreu danos que os dois Réus não evitaram.
1. Pode dirimir o litígio no Tribunal Administrativo?
2. Qual o Tribunal competente?
3. Quem são as partes no litígio?
4. Qual o prazo para intentar a ação?

RESPOSTAS
O critério regra da delimitação é o critério do direito invocável. O que António diz é que por causa da omissão do Ministério e do SEF e
devido à mesma sofreu danos, tendo sido preso no estrangeiro, também diz que os danos podiam ter sido evitados através da atuação
do Ministério e do SEF. Não interessando se ele tem razão ou não, com o Direito Processual precisamos de saber se, tendo as pessoas
uma discussão sobre o direito que se arroga, existe um meio processual adequado e quais são os pressupostos processuais relacionados
com esse meio processual adequado. Por mais que absurdo seja um pedido, é discutido no Tribunal.
Cabe dentro da jurisdição administrativa ou não?
Þ Cabe por força da disposição presente na al. f) nº1 do art. 4º ETAF. É claramente um litígio da jurisdição administrativa na
medida em que estamos a falar da atividade administrativa desenvolvida por órgãos do SEF e do Ministério dos Negócios
Estrangeiros – da Administração Pública – que causaram alegadamente danos e, consequentemente, geraram responsabilidade
civil.
o Sobre quem é que recai a responsabilidade jurídica? O SEF e Ministério não são pessoas jurídicas, mas sim o Estado
e António são pessoas jurídicas. Assim, o princípio é que quem pode ser parte no litígio é quem tem personalidade
judiciária, só dotado desta personalidade quem tem personalidade jurídica (Art. 8ºA do CPTA) à António é autor e o
Estado é o réu.
António intentou ação no Tribunal Judicial de Loures. Este é o Tribunal competente?
Þ Não, de acordo com o art. 4º nº8 do CPTA.
o O C. de Processo Civil tem uma disposição semelhante ao art. 14º do CPTA, este último determina que quando o
Tribunal não pertence à jurisdição competente o réu é absolvido da instância e o autor tem a possibilidade de, sem
perder o prazo, intentar nova ação, ou seja, pedir a remessa do processo para o Tribunal competente em razão da
jurisdição da ação.
Þ Dentro da jurisdição administrativa qual é o Tribunal competente? Temos que ver o ETAF, mais concretamente os arts. 24º, 37º
e 44º porque o ETAF identifica a competência do Supremo Tribunal Administrativo da secção do Contencioso do Tribunal
Administrativo – art. 24º; identifica a secção do Contencioso do Tribunal Central Administrativo – art. 37º - que seria Sul;
o Os artigos referidos identificam a competência dos Tribunais em primeira instância. Por acaso em matéria de
hierarquia, não se aplica a regra do art. 44º porque este diz que não tem competência para dirimir litígios suscetíveis
a Tribunais superiores. Portanto, a regra é primeira instância, mas lemos sempre o art. 44º por cautela de ser suscetível
de ir para Tribunal superior.
o Se houver competência nos Tribunais superiores serão os Tribunais superiores competentes.

PÔR REMISSÃO NO ART. 44º PARA O ART. 24º E 37º DO ETAF E PARA O ART. 16º E SS DO CPTA (para competência territorial)

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HIPÓTESE F
António, cidadão português, residente em Beja, foi detido no aeroporto de Riade e mantido preso durante 3 meses em condições
desumanas. Revoltado, intentou uma ação no Tribunal judicial da comarca de Loures, onde tem domicílio profissional o seu
advogado, contra o SEF e contra o MNE, por considerar que sofreu danos que os dois Réus não evitaram.
1. Pode dirimir o litígio no Tribunal Administrativo?
2. Qual o Tribunal competente?
3. Quem são as partes no litígio?
4. Qual o prazo para intentar a ação?

RESPOSTAS
Litigou em Tribunal judicial – incompetência leva a absolvição da instância que por sua vez dá o correr de prazo de 30 dias para ser
instaurada no Tribunal administrativo competente (art. 14º). Porque é que concluímos que o tribunal administrativo era o competente?
Porque estamos perante responsabilidade civil causada por atos administrativos (art. 212º nº3) – critério estatutário.
Entramos no ETAF – A rera é que de que os litígios são dirimidos na primeira instância a menos que exista uma regra especial que diga
que tem de ser o tribunal central (37) ou o STA (24). Afastando estas regras chegamos a conclusão que tem de ser o Tribunal
Administrativo de Círculo (Tribunais de 1ª instância identificados no DL nº 325/2003 e no mapa anexo temos a identificação dos 18
Tribunais e dos municípios que são servidos por eles). Os Tribunais estão divididos e sabemos que António reside em Beja Remissão
do art 44º ETAF para o art. CPTA (em razão da hierarquia)
Art. 16 e ss ETAF remissão para o DL 325/2003 (em razão do território)
O Tribunal competente será qual? Será o de Círculo ou o Fiscal?
Þ Regra especial do CPTA, art. 18º sobre ações de responsabilidade civil que nos diz que a competência é do Tribunal onde se
produzam os danos ou a maioria dos danos. Os danos neste caso foram produzidos em Riade, mas não há nenhum Tribunal
lá. Como é que resolvemos? Será no de Lisboa porque quando não se seja possível determinar a competência é o Tribunal de
Lisboa que é competente (art. 22º, na sequência da aplicação do art. 18º).
Quem são as partes no litígio?

HIPÓTESE H
Bento dirigiu à Câmara Municipal de Palmela um pedido de alteração de alvará de loteamento, que deu lugar a uma apreciação e
reponderação ex-novo de todo o processo de loteamento. Como não concordava com o acto de loteamento inicial praticado pela
Câmara Municipal, decidiu impugná-lo judicialmente, através de uma ação administrativa que intentou contra a Câmara Municipal
no Tribunal Administrativo de Lisboa. Todavia, a Câmara já havia manifestado vontade em alterar o alvará de loteamento.
1. Bento pode dirimir o litígio no Tribunal Administrativo?
2. Qual o meio processual mencionado na hipótese?
3. Qual o Tribunal competente?
4. Quem são as partes no litígio?
5. Qual o prazo para intentar a ação?

RESPOSTAS
Já vimos que esta hipótese tem de ver com o art. 39º CPTA (interesse processual), vemos então que a ideia de legitimidade está
construída sobre a ideia do interesse pessoal, em regra, que se repercute na nossa esfera jurídica. Tirando os casos dos interesses
difusos, que também são reconhecidos para efeitos de tipificação de legitimidade ativa no art. 9º nº2 CPTA.
Relativamente aos pressupostos processuais

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Þ Qual é o meio processual que António vai utilizar nesta ação? Precisa de um meio urgente? Não, precisa de uma ação
administrativa normal. Não há necessidade pela urgência nem há necessidade de tutela.
Þ Intentou contra a CM, está bem ou mal? Mal, porquê? tem de ser intentado contra o Município de Palmela, não contra a CM.
o Significa que temos um ato administrativo praticado pela CM e de modo a defendermos que é suscetível de
impugnação temos que saber os pressupostos processuais específicos, o art. 51º CPTA - os pressupostos processuais
específicos da impugnação administrativa.
Antes de existir o art. 51º CPTA havia uma norma que já vinha dentro da C. da República Portuguesa e determinava que os atos eram suscetíveis de serem impugnados contenciosamente eram os atos definitivos executórios -
matéria de DAA.
Os atos definitivos executórios eram triplamente definitivos e eram insuscetíveis de serem impugnados. No entanto, a C. da República Portuguesa deliberou e passou-se a dizer que são atos administrativos por ser uma visão
mais abrangente e mais apropriada porque aquilo que se queria dizer era que tinha de ser garantida a impugnação contenciosa de vários pedidos, isto tendo em consideração que a Administração tem o poder de executar os
atos que ela própria pratica – autotutela declarativa e autotutela executiva. Assim, a probabilidade os atos executivos serem reduzidos em grande volume é certa porque a Administração tem o poder de interpretar e impugnar a
sua própria atuação. Com isto, vimos a saber que os atos definitivos executórios eram como se definiam os atos exclusivos, mas na realidade eram uma categoria de atos exclusivos. Caracterizavam-se então como o conjunto
de atos suscetíveis de serem impugnados contenciosamente a um conjunto bastante restrito de atos – tornava praticamente impossível impugnar pela via administrativa. Era muito difícil impugnar atos administrativos porque
não era fácil perceber o que é que estava a acontecer no procedimento.
Os atos definitivos executórios são os atos que são material, horizontal ou verticalmente definitivos – triplamente definitivos.
a. Materialmente Definitivos – São atos que definiam atuação do particular para com o a Administração - “o senhor tem licença para fazer isto”, “o senhor tem direito à bolsa” - ou o inverso - “o senhor está obrigado
a fazer isto”.
• O problema que se coloca é quando se cinge à definitividade material acaba por se abranger atos que não eram horizontalmente definitivos – exemplo: pareceres vinculativos, estes definem uma
situação jurídica do particular perante a Administração porque a decisão vai ter aquele conteúdo, mas não se vê como um ato definitivo porque o ato que se denomina de definitivo é aquele que
esgota por si mesmo o procedimento à Art. 59º CPA + Art. 148º CPA.
• O ato definitivo é tido como uma decisão que esgota o procedimento, porém temos um problema relativo a procedimentos que contam com várias decisões – exemplo: temos um concurso público
em que foi feita a 1ª fase, 2ª fase, 3ª fase, 4ª fase... em cada fase vão sendo excluídas pessoas e à medida em que isto sucede o procedimento não chegou ao fim, mas para as pessoas que foram
excluídas foi o fim do procedimento à Assim temos atos que eram chamados de atos destacáveis (ato movido/ato com eficácia externa) para eliminar o parecer vinculativo.
b. Horizontalmente Definitivos – Encerra o procedimento. Atenção: Existem situações em que procedimento não termina, mas há momentos do procedimento em que ocorre a exclusão de pessoas e quando isso
acontece o ato não é final objetivamente mesmo que subjetivamente o seja para as pessoas que foram excluídas. O ato é apenas lesivo e devia permitir o acesso direto à via contenciosa – o art. 51º CPTA quis
permitir o acesso à via contenciosa à “ainda que não ponham termo a um procedimento”, referência ao art. 148º CPA. NÃO PRODUZ EFEITOS, VISA PRODUZIR EFEITOS!
c. Verticalmente Definitivos – Foi a parte que caiu em 2004 porque havia uma grande divergência sobre a exigência da definitividade vertical. Esta tratava-se de dizer que os particulares tinham sempre, para esgotar
a via administrativa e antes de recorrer à via contenciosa, de pedir a confirmação do superior hierárquico antes de ir a Tribunal.
• Quando os atos eram praticados por órgãos que não ocupavam o topo da hierarquia nas respetivas administrações – direta, indireta, autónoma – ou quando atos suscetíveis de serem julgados ao
abrigo de órgãos que ocupavam o topo da hierarquia ou quando se tratava de atos de competência exclusiva, entendia-se que antes de se aceder à via contenciosa era necessário pedir confirmação
à Administração de que era mesmo esse o ato que se podia praticar. isto caiu em 2004 devido ao art. 59º nº4 CPTA, entendeu-se que não fazia sentido obrigar o particular a confirmar, a pedir a
confirmação do ato que ia eventualmente ser confirmado por haver uma certa sentença vinculativa na Administração de confirmar as decisões que órgãos tomam, assim não fazia sentido nenhum
obrigar a pedir a confirmação do ato a um superior hierárquico para depois aceder à via contenciosa = perda de tempo, atraso ao acesso aos Tribunais! Considerou-se então que obrigar o particular
a pedir a confirmação, a utilizar mais uma garantia para aceder à via contenciosa (a verdadeira garantia) era uma perda e deu-se uma mudança no sentido em que não era a regra considerar que as
garantias não eram necessárias, mas sim apenas os casos em que a lei o estabelecesse – art. 3º do diploma preambular que aprovou o CPA (só quando a própria lei qualifique a garantia impugnatória
como necessária é que ela é necessária e, portanto tem de e usar expressões como “é necessário”, “tem de sempre usar a garantia” ou dizer que a utilização da garantia “tem efeito suspensivo”.
• A definitividade vertical caiu e hoje em dia o que é verdadeiramente importante é cumprir definitividade material e horizontal, é estarmos perante o ato final.
O que é o ato executório? É o ato eficaz que é suscetível de ser executado. Entre aquilo que é suscetível de ser executado e aquilo que é executado pela Administração vai fazer diferença. O que acontece é que às vezes o ato
não é executório – não é eficaz nem produz efeitos – e não obstante a Administração executa. Esta era outra crítica que se apontava a este conceito do ato definitivo executório à temos agora o critério da lesividade que se
releva como mais coerente consoante o que a C. da República Portuguesa pretende assegurar.
Estamos a estudar o que é o ato definitivo executório de modo a descobrir qual é o ato impugnável, descobrir qual é o ato final, o ato que cinge, o ato que produz efeitos externos ou que visa produzir efeitos externos porque
esse ato é que é o ato impugnável. É a partir desse ato que conta o prazo de 3 meses presente no art. 58ª CPTA para impugnar o ato. Nós precisamos de descobrir no procedimento quantas vezes é que a Administração praticou
atos, sendo que o procedimento é um conjunto de atos (art. 1º CPA). Pode um ato ser relevante para efeitos de impugnação, antigamente era o denominado ato definitivo executório – como sabemos Freitas de Amaral dissecou
o mesmo em ato materialmente definitivo, horizontalmente definitivo e verticalmente definitivo, mas tínhamos grandes problemas relativamente aos atos anteriores ao ato final eram eles próprios finais + o problema dos atos
posteriores ao ato final que por vezes também eram finais.
Þ Quando é que os atos são finais? Imagine-se que há uma reclamação ou recurso que é decidido, mas a Administração na decisão acrescenta qualquer coisa – se alterou ou inovou, introduziu alguma coisa de
novo – o prazo volta a contar porque esse ato substitui o anterior e inova.

ANTIGAMENTE FALÁVAMOS EM ATOS DEFINITIVOS EXECUTÓRIOS, AGORA FALAMOS EM DECISÃO IMPUGNÁVEIS, EM ATO IMPUGNÁVEL – C. DA REPÚBLICA PORTUGUESA SUBSTITUIU O TERMO DE ATO DEFINITIVO
EXECUTÓRIO PARA ATOS ADMINISTRATIVOS.

Vimos exemplos de atos que não são finais, mas que são lesivos.
Atos que são posteriores são finais, mas são lesivos e são suscetíveis de serem impugnados
Þ Qual é o problema da definitividade? A definitividade foi construída para evitar que os particulares pudessem conjuntamente suscitar junto da Administração a prática de atos e abrir consequentemente o prazo para
a ação contenciosa (art. 58º CPTA) à O objetivo era que houvesse segurança jurídica, que houvesse um momento em que o particular tinha 3 meses para agir e que esse momento não estivesse não estava
permanentemente a reabrir.
o Isto é quase uma armadilha porque a Administração notificava várias vezes o particular, de várias coisas e o particular ficava sem saber contra que momento é que tinha de reagir, contra que decisão
é que reagia à Arts. 151º e 152º do CPA – exige que o ato administrativo tem que ter características específicas e as regras da notificação do ato administrativo exigem que o particular seja notificado
relativamente à garantia que ele pode usar.
o Isto veio tornar mais clara as decisões da Administração e ajudar os particulares a defenderem-se da atuação administrativa.
Atos que põem termo ao incidente autónomo do procedimento – caso típico: levantamento do incidente de suspeição, muito comum no processo disciplinar.
Þ Levanta-se o incidente de suspeição do instrutor do processo disciplinar, quando isto acontece a decisão que recai desse incidente, o particular não precisa de esperar e pode logo atacar essa decisão.
Atos posteriores
Þ Art. 53º CPTA, diz que não são impugnáveis os atos confirmativos.
Þ Imaginemos que somos notificados de uma decisão e depois usamos uma garantia administrativa – reclamar ou recorrer – e há uma resposta no âmbito da reclamação ou do recurso. Em princípio, a resposta à
reclamação ou ao recurso se indeferirmos com o os fundamentos do ato administrativo não introduz nenhuma novidade ao ato e, portanto, não conseguimos através da aplicação da reclamação ou do recurso abrir
novo prazo para a impugnação.

Neste caso tínhamos vários atos, havia recurso, uma reclamação e depois resposta desse recurso e reclamação. Com isto não há uma
perceção clara relativamente a qual é o ato suscetível de impugnação e quando começa a contar o prazo para a impugnação.

9 JADINE SEIXAS
Já sabemos que o ato decisivo é o ato que é a decisão do procedimento ou do incidente e a reclamação ou recurso vão apenas permitir
que nos termos dos art. 58º e 59º nº4 CPTA que o prazo seja suspenso ou que possa ser alargado o objeto de impugnação ao novo ato
que tenha substituído o ato inicialmente impugnado.

Critério de Impugnabilidade dos atos (art. 51º CPTA – Atos Impugnáveis)


Þ Começamos com o art. 25º da Lei de Processos Administrativos (LPTA - Decreto-Lei nº 267/85 de 16 de Julho), que nos dizia
que a impugnação de atos através da via contenciosa era apenas possível quando se tratasse de atos definitivos executórios.
Este artigo é anterior à própria C. da República Portuguesa manteve-se em vigor mesmo depois da C. da República Portuguesa
ser alterada à este era o critério de impugnação dos atos
o Ainda teve vigência durante bastante tempo tendo sido alterado em 2004 quando se introduziu o CPTA.
o Na revisão constitucional de 1994 foi alterado o texto que anteriormente dizia “é garantida o recurso contencioso de
atos definitivos executórios” para “é garantida a impugnação de atos lesivos”. Isto porque havia uma discussão sobre
o que eram os atos definitivos executórios, estes caracterizavam-se por serem materialmente, horizontalmente e
verticalmente definitivos e suscetíveis de impugnação forçada. O problema desta definição era relativamente à sua
definitividade, se estes impediam o acesso à via contenciosa de atos que lesivos devido à restrição potencializada pela
caracterização da definitividade dos atos, questionava-se que a definição de atos definitivos executórios era compatível
com redação alterada pela C. da República Portuguesa.
• Materialmente definitivos: Definiam uma situação/atuação do particular perante a Administração e vice-versa
– com este critério são englobados os pareceres vinculativos.
• Horizontalmente definitivos: Têm de decidir o procedimento, têm de ser o ato final – característica que o
parecer vinculativo não tem, o parecer vinculativo apenas tem o conteúdo da decisão final.
§ Esta conceção de Freitas do Amaral era considerada muito restritiva porque eliminava do conceito
de ato lesivo vários atos que eram lesivos e acrescentava outros que não faziam sentido, por
exemplo o ato materialmente definitivo incluía os pareceres vinculativos e Freitas do Amaral
contrapunha com o argumento que era necessário tratar-se de um ato horizontalmente definitivo,
um ato que decide o procedimento.
• Verticalmente definitivos
Isto é importante para denominar qual é o ato lesivo sendo que é este que abre o prazo de 3 meses para a
impugnação contenciosa presente no art. 58º CPTA, temos que saber qual é o ato lesivo para saber
a partir de quando é que contamos o prazo de 3 meses para a impugnação contenciosa.

NO CASO DE SAIR EM FREQUÊNCIA: É necessário explicar a evolução da conceção de modo a perceber o sentido do ato impugnável
Þ Art. 268º nº4 C. da República Portuguesa faz referência a “quaisquer atos administrativos que os lesem” – para cada direito tem
de existir uma tutela adequada por força do princípio da tutela jurisdicional efetiva (art. 20º C. da República Portuguesa), assim
sendo significa que os atos que lesem os nossos direitos, quando sejam praticados, possam de alguma forma ser atacados
pelo particular para que este defenda os seus direitos e interesses legalmente protegidos. A questão coloca-se em saber quais
são os atos que por associação essa garantia e acesso à via contenciosa, qual é a dimensão da tutela jurisdicional efetiva (se é
ideal ou não).
Þ O art. 25º da LPTA violava o direito de acesso ao Tribunal (art. 20º C. da República Portuguesa), não permitia o acesso imediato
à via contenciosa porque era tão exigente quanto ao ato, quanto às características que o ato devia deter para se poder aceder
à via contenciosa que deixava um conjunto de atos lesivos de fora sem justificação constitucional à A solução era injusta! Era
inconstitucional porque comprimia a garantia contenciosa a um nível não compatível com a ideia de Estado de Direito.

10 JADINE SEIXAS
Þ A conceção do Freitas do Amaral dos atos triplamente definitivos exigia que fossem materialmente definitivos, horizontalmente
definitivos e verticalmente definitivos.
o Materialmente definitivos – Define a situação do particular perante a Administração (“o senhor não tem direito”, “o
senhor tem direito”, “não pode fazer”, “pode fazer”, “não tem este dever”, “tem este dever”).
o Horizontalmente definitivos – Encerra, esgota, decide o procedimento (art. 148º CPA: o ato que decide o procedimento
é que é o ato administrativo)
§ O que é que acontece quando o procedimento continua? Por exemplo, num concurso público ou quando se
decide um incidente autónomo no procedimento – questão de suspeição sobre o instrutor de um processo
disciplinar – Nestes casos, há uma decisão e o procedimento continua. Assim, o Professor Freitas do Amaral
teve de reformular a sua tese e disse que é tem de ser um ato que decide o procedimento ou põe termo a
um incidente autónomo deste, são os chamados atos descartáveis (art. 51º CPTA).
§ No concurso as decisões são subjetivamente finais, mas não objetivamente finais.
o Verticalmente definitivo – Foi este caiu completamente em desuso porque era praticado por 5 categorias de órgãos
com competência para praticar atos finais do ponto de vista da hierarquia, mais concretamente eram os órgãos que
ocupavam o topo da hierarquia da Administração Direta, Indireta ou Autónoma. Essas 5 categorias de órgãos eram os
órgãos que tinham competências para praticar os atos verticalmente definitivos porque se entendia que ninguém podia
aceder à via contenciosa sem esgotar a via hierárquica.
§ O que é que acontece com isto? Existem atos que não as praticados pelos órgãos que ocupam o topo da
hierarquia, devido à desconcentração, mas a partir do momento em que são praticados, são eficazes e sendo
eficazes são suscetíveis de execução forçada e, por isso significava que as pessoas forçadas a recorrer à via
graciosa antes de aceder à via contenciosa, eram impedidas de aceder à via contenciosa e isso significava
um atraso que para alguns era considerado um incumprimento para com a C. da República Portuguesa e
correspondia a uma negação de justiça. Estar a repreender uma pessoa de aceder à via contenciosa quando
já está a ser lesada e o tratamento que estava a receber era desproporcional e injusto.
§ A jurisprudência por considerava que esgotar primeiro a via administrativa não era inconstitucional sendo
que o prazo total para o particular recorrer à via contenciosa era de 60 dias e era o suficiente. Porém, hoje
em dia isso não sucede, desde 2004 em que se contemplou no art. 59º CPTA, uma série de disposições
que vieram pôr em evidência que as garantias eram cumulativas de modo a evitar a ideia de esgotamento
prévia da via administrativa, ainda temos o art. 5º do Decreto Preambular que aprovou o CPTA veio dizer
que os recursos só são necessários quando a lei o diga previamente à não há recursos necessários sem
ser que a lei previamente os tenha previsto, ou seja, não devemos presumir que todos os recursos são
necessários.

BASTA QUE SE TRATEM DE ATOS LESIVOS PARA SE PUDER IMPUGNAR

Qual é domínio material da Justiça Administrativa?


Þ É o mesmo que perguntar qual é o âmbito da Jurisdição Administrativa, art. 212º nº3 C. da República Portuguesa e art. 4º do
ETAF.
o O critério material que é observado é o critério das relações materiais controvertidas que têm de ser relações jurídicas
administrativas e estas caracterizam-me se por serem aquelas que são disciplinadas pelo Direito Administrativo à
baseia-se no Direito aplicável. Apesar de ser um critério que parece absoluto, não é, sendo que admite exceções por
razões práticas que é sucede ao analisar o art. 4º do ETAF, vemos que o critério assenta na natureza da relação, se
for um litígio emergente numa relação jurídica administrativa, mas existem outros litígios emergentes de relações
jurídico-administrativos que não estão incluídas no âmbito da jurisdição administrativa. Temos então como exemplos:

11 JADINE SEIXAS
• Exemplo: Contraordenações, apenas as que estão indicadas no art. 4º do ETAF - referentes ao urbanismo
na al.l) – ficam de fora as contraordenações rodoviárias, do ambiente e outras que não sejam urbanísticas
à só as urbanísticas ficaram no âmbito da jurisdição administrativa por razoes de ordem prática e por uma
guerra de poderes entre Tribunais, entre ordens da jurisdição comum e ordens da jurisdição administrativa,
sendo que a jurisdição administrativa queria receber essas competências e a jurisdição comum não queria
perder esses litígios porque acham que são os verdadeiros defensores dos DLG’s.
• Exemplo: Alterações produzidas pelo Ministério do Trabalho em matéria de extensão dos efeitos de
convenções coletivas a outros trabalhadores não abrangidos pelas mesmas – portarias de extensão e
portarias de condições mínimas – considera-se estar incluído na jurisdição laboral e não na jurisdição
administrativa.
• Exemplo: Expropriações, o ato de expropriação é impugnado pelo Tribunal Administrativo e a indemnização
que é devida e o montante da mesma é discutida nos Tribunais Comuns ~se quer discutir o valor é no
Tribunal Comum, se quer discutir o ato é no Tribunal Administrativo, não há propriamente uma transição.
o Tentou-se desde sempre que as questões fossem discutidas no mesmo Tribunal, mas não foi possível devido às
guerras entre os poderes dos Tribunais.
o Temos também situações inversas, isto é que estão incluídas no âmbito da jurisdição administrativa, mas não são
emergentes de relações jurídico-administrativas. Temos como exemplo:
• Exemplo: Responsabilidade extracontratual do Estado, é no Estado que se coloca o problema porque este
não causa danos apenas pelo exercício da atividade administrativa, também causa danos ao exercer outras
funções tais como política, legislativa e jurisdicional e o que se entendeu foi que, de modo a evitar andar a
saltitar entre Tribunais, deveria ser tudo julgado num mesmo Tribunal ou numa única exceção que é a
responsabilidade civil causada por erro judiciário dos Tribunais Comuns porque estes não queriam ter os
seus arestos discutidos nos Tribunais Administrativos à exceção ao art. 4º do ETAF!
• O que não está correto pois perde-se a parcialidade da decisão. A solução deveria consistir na apreciação
do erro judiciário feito pelos Tribunais Comuns nos Tribunais Administrativos e vice-versa, para evitar a
sensação de existência de proteção.

HIPÓTESE I
António, casado com Benta, residente em Lisboa, requereu em 2 de Janeiro deste ano, junto da Câmara Municipal do Porto uma
bolsa de estudos. Até ao momento, ainda não obteve qualquer resposta ao seu requerimento, não obstante saber que, nos termos
da lei, tem direito à bolsa e preenche todos os requisitos para que lhe seja atribuída a mesma. Como não obteve resposta, ficou um
ano sem estudar e pretende ser ressarcido desse dano.
1. Qual o meio processual de que se pode socorrer António?
2. Quais os pressupostos deste meio processual?
3. Imagine que a CMP tinha indeferido expressamente e que António tinha reclamado, sem que tivesse sido proferida resposta.
Esta circunstância altera algum pressuposto processual?

RESPOSTAS
É jurisdição administrativa?
Þ Sim, de com o art. 212º nº3 C. da República Portuguesa, em princípio caberá na jurisdição administrativa, em conjugação com
o art. 4º do CPA, que desenvolve o que é a jurisdição administrativa utilizando o mesmo critério da relação material controvertida
ser uma relação jurídico-administrativa à temos então um ato administrativo que se denomina de omissão.
o Tendo uma omissão estamos perante um ato administrativo que foi omitido, ou seja, um ato administrativo que podia
ter sido praticado e não foi.

12 JADINE SEIXAS
o Agora temos que pedir a condenação à prática do ato, para que seja praticado o ato legalmente devido e perceber se
está dentro do prazo; saber quem figura como parte na ação; o Tribunal competente.
António quer pedir duas coisas - a condenação para a prática do ato devido e a responsabilidade pela omissão, pelo não cumprimento
do prazo de decisão (o prazo encontra-se no art. 58º CPTA*1).
Þ Cada pedido é referente a uma coisa e temos que ver todos os pressupostos necessários para cada um deles.
*1
O prazo de 3 meses presente no art.58º CPTA tem de ver com a impugnação contenciosa de atos administrativos. O prazo de 1 ano presente
no art. 58º CPTA, reporta-se ao pedido de anulação.
O prazo é de 1 ano a contar do termo do prazo para a decisão do processo administrativo (art. 69º CPTA) à O prazo de decisão é de 60 dias
nos termos do art. 128º do CPA. – Alterado em 2020. Temos de contar o prazo de um 1 ano a partir do termo do prazo de 60 dias para o fim do
procedimento administrativo (art. 69º CPTA – o prazo começa a contar a partir do momento em que o procedimento devia estar decidido e não
foi).

Aplicando à hipótese: Em 2 de janeiro começa a contar o prazo de 60 dias úteis para o fim do procedimento requerido por António; 2 meses e
meio após, apontando para 15 de março de 2022, até este dia pode intentar ação, já será diferente para o pedido de indemnização o prazo é
diferente, é maior – norma geral presente na Lei do Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e das Pessoas Coletivas
Públicas (Lei nº 67/2007), no seu art. 5º tem uma remissão para o art. 498º do C. Civil - tem prazo de 3 anos; Havendo 2 prazos temos que
usar o mais curto, isto porque, se usarmos o mais comprido conseguimos ter a responsabilidade civil, mas não a condenação por falta de
prática do ato legalmente devido à Art. 38º CPTA diz: “nos casos em que a lei substantiva o admita, designadamente no domínio da
responsabilidade civil da Administração por atos administrativos ilegais, o tribunal pode conhecer, a título incidental, da ilegalidade de um ato
administrativo que já não possa ser impugnado” - significa isto que a posição do CPTA é no sentido em que não é preciso obter a declaração
prévia da ilegalidade da atuação da Administração para se definir a responsabilidade e para obter a indemnização. Fazemos então uma
interpretação extensiva, consideramos que a norma diz de menos porque aquilo que verdadeiramente quer dizer é: não é preciso atacar a
atuação ilegal da Administração para poder apurar a responsabilidade civil, basta que exista a uma atuação ilegal para se obter a
responsabilidade civil. O espírito da norma é permitir que o particular seja indemnizado ainda que não tenha atacado a atuação ilegal = o
objetivo é pôr em evidência que não é preciso atacar a atividade legal para pedir a responsabilidade civil!
Se perder o prazo de 1 ano não impede de pedir a responsabilidade civil, o que acontece é que para cada pedido existem pressupostos
processuais específicos e para acumular os pedidos é necessário demonstrar que os pressupostos processuais de cada pedido estão
preenchidos.
Þ Quanto ao Tribunal Competente: Em princípio é sempre o Tribunal Administrativo de Círculo, temos de ir aos art. 16º e ss do
CPTA para a competência territorial e, segundo o princípio do domicílio do autor é Lisboa, mas estamos perante um pedido a
um órgão de autarquia local - art. 20º nº1 CPTA (pedidos referentes processos respeitantes a omissão de normas e atos
administrativos), tem de ser na sede e neste caso é no Porto. Temos determinado como competente o Tribunal do Porto. Não
se trata de uma questão judicial, não é uma questão de contratos públicos, deste modo acabamos por ficar no Juízo Comum
do Tribunal Administrativo do Porto.
Þ Quanto aos pedidos de condenação a prática de ato legalmente devido: Tem de haver um requerimento dirigido ao órgão
administrativo competente com a pretensão de obter a prática de um ato administrativo, tem de demonstrar que a omissão é
ilícita, causou danos e é da omissão que os danos repercutam. Nós não nos preocupamos com o Direito Substantivo, não nos
preocupamos em saber se ele tem ou não tem Direito, nós apenas temos que investigar o que é que o autor tem de alegar e
provar e qual é o meio adequado para o fazer. Se tem ou não razão, trata-se de um problema do processo.
António pode pedir tudo, pode é depois ter ou não razão – questão que não temos de resolver, quem tem esta preocupação é o processo
em si e o Juiz.

Já sabemos de DAA que os particulares têm o direito de serem informados sobre o estado do procedimento e sobre o andamento dele
e a ser notificados da respetiva notificação. Trata-se de uma garantia fundamental que é reconhecida pela C. da República Portuguesa e
na lei, é uma garantia muito importante porque é através dela que nós podemos contar o prazo, atacar a própria Administração - se eu
não sei da decisão que a Administração tomou, como é que me posso defender?
Þ Para evitar tais circunstâncias foram introduzidos vários instrumentos que permitem que seja pedida informação como:

13 JADINE SEIXAS
o Arts. 82º e ss CPA – permitem aos particulares pedir informações sobre o procedimento, com exceção de informação
condicional, isto é informação que constitua informação reservada de conhecimento do Tribunal. Como exemplos
temos segredos profissionais (do próprio advogado, do médico) que apenas são acessíveis ao próprio e não a
terceiros.
• Este mecanismo permite que seja dirigido um requerimento escrito à Administração a pedir informação
sobre um processo ou sobre factos do processo. A Administração tem 10 dias uteis para responder, nos
termos da lei, só tem este dever na medida em que pode só partilhar informação que exista - não podemos
pedir que informação seja feita.
o O que acontece se a informação não for prestada? Existe um mecanismo presente no art. 104º CPTA (intimação para
a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de certidões) que é usado nos termos do art. 105º
CPTA (pressupostos) contra quem recusou prestar informação para consulta do processo ou para passagem de
certidão.
• Trata-se de um processo específico; é um meio processual principal, urgente e específico para esta situação,
ou seja, é para os casos em que os particulares pedem o acesso a dados da Administração e que a
Administração não o faz no prazo legalmente estabelecido de 10 dias úteis.
• Como é que se utiliza a intimação? O particular tem de dirigir um requerimento à Administração a pedir um
documento relativo ao processo, a Administração tem que não atender esse pedido (seja totalmente, seja
parcialmente). Decorridos os 10 dias úteis, começa a contar um prazo de 20 para ser deduzia uma intimação
contra a Administração.
§ Exemplo: Eu faço um pedido ao IRN de uma certidão e o IRN não dá a certidão no prazo de 10
dias. A partir desse momento tenho um prazo de 20 dias seguidos para me dirigir ao Tribunal e
deduzir uma impugnação contra o IRN a pedir a condenação do IRN na emissão da certidão.
Atenção: A decisão que recai sobre o pedido de informação não é considerada ato administrativo,
portanto, a impugnação da resposta que seja dada ao pedido de impugnação é tratada na intimação
à É aqui que o juiz vai saber se o pedido foi ou não totalmente atendido ou parcialmente atendido.
Isto é se há violação ao direito de informação ou não. A Administração aquando impugnação tem
de responder imediatamente, nem que seja para depois se defender na contestação a dizer que já
prestou informação – nestes casos a Administração tem 10 dias para contestar e depois o Juiz
resolverá a questão.
• A intimação é um mecanismo fundamental para termos acesso à informação que consequentemente é
essencial para a nossa participação na vida em sociedade, para os nossos direitos sendo que com esta
temos a capacidade de formular uma opinião, de exercer os nossos direitos... sem informação não é possível
participara na vida em sociedade da mesma forma. Não há dúvida que é o escrutínio que faz a Administração
melhorar o seu desempenho.
• Este meio é uma vantagem porque olhando para o art. 106º CPA vemos que o mecanismo pode salvar-nos
a vida. Na medida em que acontece muitas vezes a Administração notifica o particular de forma deficiente
de uma decisão que não é favorável e o particular tem de responder num prazo que é bastante curto para
impugnar indicado no art. 58º do CPTA – 3 meses em sede de impugnação administrativa normal, mas
existem vários meios que têm prazos diferenciados (por exemplo a impugnação de atos pré-contratuais -
art. 101º CPTA, o prazo é de um mês) e quando isto acontece, muitas vezes o particular vai deixando passar
o tempo, não consulta logo o advogado e quando chega a si o contacto para impugnar o ato administrativo,
já passou o prazo.
• Há uma possibilidade que é impugnar, pedir informação adicional e requerer que a notificação do ato seja
completa pedindo informação sobre o ato que foi praticado, pedindo nomeadamente que seja informado
sobre o parecer que justificou que aquela decisão tivesse sido tomada, isto de modo a que depois se possa
alegar que no fundo não conhecia a decisão integral, só conheceu a decisão integral quando conheceu o
parecer mediante pedido à Administração e que só foi devidamente notificado da decisão.

14 JADINE SEIXAS
• Se foi pedido o acesso ao parecer que fundamentou a decisão e este não é dado, se não foram demonstradas
as razões que levaram à decisão e o Tribunal disser que tínhamos razão, que não conhecíamos o parecer e
apenas fomos notificados do parecer em momento posterior ao ato é possível fazer renascer o prazo da
impugnação do ato à Art. 106º CPTA: “O prazo de impugnação recomeça”.

Diferença entre Suspensão e Interrupção


Þ Na suspensão o prazo está a decorrer agora, suspende e volta a contar à retorna a contagem do prazo anterior e há um
momento a meio em que prazo deixa de contar.
o Exemplo: Prazos para a atividade administrativa – As férias de Natal começam dia 20 e até dia 3 de janeiro ficam
suspensos, no dia 3 de janeiro voltam a contar.
Þ A interrupção é uma arma fortíssima, isto porque prazo que correu não interessa porque agora nasce um prazo novo, do início
à o prazo começa do início, começa de novo, É UM PRAZO NOVO! Isto pode significar voltar a ter o prazo processual original
outra vez para impugnar o ato administrativo, se conseguirmos demonstrar que não fomos informados corretamente do ato
(inclui a fundamentação)à DEMONSTARA QUE A INTIMAÇÃO É DE FACTO INDISPENSÁVEL, NÃO TEM NATUREZA
ACESSÓRIA, foi assim considerada durante muito tempo. Não faz sentido considerar este mecanismo como instrumental porque
tem em si um fim próprio, não se caracteriza por ser um meio para outro fim, sendo que o fim é o acesso à informação
procedimental, não com informação extraprocedimental.
Tem de ver com outra realidade sendo que
estou a pedir acesso a órgãos
administrativos de informações que não
dizem respeito ao procedimento em que
sou interessado. Exemplo: Dados de
saúde.

O princípio é de que deve ser permitido o acesso a todos os documentos e, por regra, em vez de negar o acesso aos documentos
deve expurgar-se do documento aquilo que não deve ser divulgado.
Þ O que é que não deve ser divulgado? A C. da República Portuguesa é que explica – questões que podem possa
comprometer a utilidade da decisão que vai ser praticada afinal; questões relativas a dados de saúde que sejam pessoais;
questões que ponham em risco a segurança nacional à Podemos falar dever de reserva em relação a estas matérias.
Þ A Administração está pouco habituada a ser transparente, a ser escrutinada, mas trata-se de um direito que assiste a todos
os cidadãos, o direito de escrutinar a atuação administrativa.

15 JADINE SEIXAS

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