Você está na página 1de 38

,

Bole~im Téenieo nQ 15

GEOLOGIA
VA FOLHA VE POTIRAGUA
NOROESTE

Paulo Ganem Sou~o


H~lio Ca~valho An~une~ de Azevedo
Jo~é Ca~lo~ Beze~~a
COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DE
RECUPERAÇÃO ECONOMICO-RURAL DA
LAVOURA CACAUElRA (CEPLAC).

Ministro da Fazenda
Antônio Delfim Netto, Presidente

Secretário Geral da CEPLAC


José Haroldo Castro Vieira

Superintendente Técnico
Paulo de Tarso Alvim

Superintendente Administrativo
Roberto Midlej

Diretor do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC)


Paulo de Tarso Alvim

Chefe da Divisão de Comunicação


Jorge O. A. Moreno

Publicação do CEPEC- CEP LAC


Caixa Postal 7, Itabuna, Bahia, Brasil
Junho de 1971. Tiragem.: 4.500 exem.plares
Im.presso na DICOM pelo sistem.a offset.

CONTEODO

Generalidades 5
Localização e Extensão 5
Trabalhos Anteriores 6
Fisiografia 6
Litologia e Estratigrafia 8
Pré-Cambriano Médio 9
Gnais ses Porfiroblásticos 9
Granulitos 13
Pré-Cambriano Superior 15
Grupo Rio Pardo 15
Formação Serra do Paraíso - - - - - - - - - - - - , - 16
Formação Água Preta - - - - - - - - - - - - - - - - 17
Formação Salóbro 21
Tectônica 22
Principais Elementos Estruturais 22
Estrutura do Embasamento Cristalino 22
Estrutura das Rochas Metassedirnentares 23
Metamorfis.mo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 24
Recursos Minerais 26
Literatura Citada - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 28
Resumo 29
Geologic Map of Potiragua Northeast (Summary) 30
GEOLOGIA ,
VA FOLHA VE POTIRAGUA
NOROESTE

Paulo G~nem Souto *


Hilio Ca~valho Antune4 de Azevedo *
J04~ Ca~lo4 Beze~~a *

GENERALIDADES Zona Fisiográfica Cacaueira da


Bahia, estando situada entre os
Dentro do programa de le-
paralelos 15 0 3 O' e 15 0 45' de la-
vantamento geológico do Sul da
titude Sul e os meridianos 39 0 3 O'
B a h i a, foi realizado o mapea-
e 39 0 45' de longitude Oeste de
mento da FÔlha de Potiraguá, de
Greenwich (Figura 1).
30' x 30', na escala de 1:100.000.
O presente trabalho objetiva a
A sua extenção· é de aproxi-
apresentação do mapa geológico
madamente 750 km 2 , e compre-
da parte Nordeste da área, de 15'
ende áreas pertencentes aos mu-
x 15'.
nicípios de Potiraguá (principal-
mente), Pau Brasil e um peque-
Os trabalhos de campo fo-
no trecho de Camacan. Itainibé
ram realizados durante os anos
(Coréia) e Gurupá Mirim são os
de 1967 e 1968, utilizando-se fo-
únicos povoados da área, pois as
tografias aéreas na e s c a 1 a de
sedes municipais de Pau Brasil e
1 :25. 000. Através destas foto-
Potiraguá estão ao norte e oeste
grafias, foi obtido um mapa pla-
da área, respectivamente.
nimétrico semi-controlado na es-
cala de 1 :50. 000, usa n d o - s e o
A estrada Camacan-Itapebi,
m é t o d o da triangulação radial
com direção N-S é a principal
gráfica, no qual foram lançados
rodovia da área, cortando o rio
os dados obtidos no campo. Pa-
Pardo 25 km ao Sul da cidade de
ra efeito de publicação, o mapa
Camacan, principal centro urba-
foi reduzido à escala de 1:100.000.
no da área. E sta e strada deverá
ter seu tráfego diminuído consi-
LOCALIZAÇÃO E EXTENSÃO deràvelmente com a implantação
e o asfaltamento ria BR-1 01, que
A área mapeada pertence à passará mais a leste. Tôdas as

• Técnicos do Setor de Geologia da Divisão de Solos do CEPEC.

5
FF==
I
IS.aó

I
oe 00 ,
~
.~
-

D d ' ___

I p.tir.9~
4D 'v77777777AJ
,go30'
- ""
I lISO 00'

Belmontt

Coiubi ~
O

/
~ r:p==- I ~~ ,0/) I L Ileooo
.. -o., 40 00' 3 j() 39°00' O 10 2011_
' l=::3! !

Figura 1 - Localização da área mapeada.

ou t r a s estradas assinaladas no lações COtn as Séries Lavras ou


mapa anexo são municipais ou Bambuí, sem que fôssem apre-
particulares, pràticatnente setn sentados dados consistentes para
qualquer conservação e de trá- as correlações. Mais recente-
fego muito difícil nos períodos tnente, Azevedo (1) estudou as
chuvosos. A densidade de s tas rochas carbonatadas da área,
peq'-lenas estradas é bem tnaior principalmente sob o p o n t o de
na parte oeste da área (zona da vista quítnico, visando a sua uti-
pecuária) talvez em virtude da lização como corretivo de solos
topografia não oferecer obstá- regionais. Pedreira, Souto e Aze~
culos à sua construção. vedo (6), ao estabelecerem os
fundamentos da estratigrafia das
r o c h a s tnetas seditnentares da
TRABALHOS ANTERIORES r e g i ã o sul baiana, preferiratn
denotninar de Formação Serra do
são raros e tnuito antigos os Paraíso a estas rochas carboná-
registros sóbre a geologia da á- ticas,passando o nome Rio Pardo
rea. Oliveira e Leonardos (4), para o grupo que engloba os me-
de acôrdo com alguns trabalhos tassedimentos da área.
de Hartt, Derby e outros geólo-
gos, denotninaram de Formação
Rio Pardo a utna zona de cal- FISIOGRAFIA
cário do baixo rio Pardo, cer-
tamente referindo-se às ro- Dois tipos climáticos distin-
chas carbonatadas tnetatnorfiza- tos estão representados: o tipo
das, tnapeadas pelos autores do Af, na região leste, e o tipo Am,
presente trabalho. Foram suge- mais a oeste, onde já se define
ridas por aquêles autores corre- um período de poucas precipita-

6
ções. ~stes tipos climáticos o- ramente litológico, como, em al-
rientam as principais atividades guns casos, de fatôres estrutu-
econônlicas ligadas ao aproveita- rais. Tôda a zona de filitos e
mento da terra. Na parte leste, metassj.ltitos da Formação Água
de p r e c i p i ta ç õ e s abundante s P r e t a é caracterizada por um
e pràticamente sem estação sê- r e 1 êv o homogêneo, constituído
ca, a cultura do cacau é a ativi- de espigões alongados, geralmen-
dade maior, embora localmente te corn tâpo arredondado, extre-
esteja limitada pela improprie- ma me n t e dissecados por urna
dade (baixa fertilidade) dos solos drenagem muito densa, que guar-
deri vados dos filitos da Forma- da urna relação muito evidente
ção Água Preta. com ° caráter argiloso da rocha.
~ste dis secamento intenso torna
a região acidentada, embora seja
Na faixa ocidental, onde já pequeno o desnível entre o tâpo
existe um período não chuvoso, dos morros e o nível dos vales.
os solos, de alta fertilidade, são Não se notou absolutamente qual-
totalmente apr oveitados para pe- quer relação entre as principais
cuária, sendo essa área urna das direções dos rios e a atitude de
mais propícias do Estado, para foliação das rochas, corno pode
tal atividade. ser bern observado em mapa.

Azevedo (2) definiu dois e- A drenagem parece mais di-


c o s sistema s p r i n c i p a i s: o da rigida em função de certos ní-
Floresta Perenifólia Higrófila a veis de base, que no caso são o
leste e o da Floresta Caducifólia rio Pardo e o rio Água Preta.
Tropófila a oeste, também cor- Ao sul do rio Pardo, urna dire-
relacionáveis aos tipos climáti- ção aproximada N-S dos princi-
cos já registrados. pais afluentes poderia ta rn b é m
ser interpretada corno seguindo a
direção de uma possível estrati-
Quanto à hidrografia, os rios ficação original destas J.'"ochas, a
pertencem à bacia do rio Pardo,
se julgar pela disposição ern ma-
(o principal da área), que tem di-
pa das faixas dos metas sedimen-
reção W -E, com algumas varia-
tos seguindo aquela direção.
ções importantes. Os principais
afluentes são os rios Água Preta
e Angelim e o córrego do Suru-
bim. ~ s t e último temporário, Na região da borda da bacia,
pois as suas nascentes se locali- os meta-carbonatos apresentam
zam na faixa mais sêca. f e i ç õ e s características de um
pequeno planalto cárstico, onde
não faltam nem rnesmo algumas
Na análise do relêvo, podem formas de detalhes típicos da-
ser separadas algumas unidades quela uni d a de geornorfológica.
bem diferenciadas, guardando e s- Dolinas e cavernas são feições
treita relação com a geologia da muito encontradas nesta unidade.
área, tanto do ponto de vista pu- O exame cuidadoso das fotogra-

7
fias aéreas mostra claramente o nos em relação aos vales. Os
desaparecimento de rios em de- rios podem seguir a direção NE
pres sões fechadas, outra feição coincidente com a foliação meta-
específica de áreas cársticas. mórfica (bandeamento) das ro-
chas; entretanto, em muitos ca-
sos, seus trechos estão nitida-
A existência de camadas de mente adaptados a fraturamento
quartzitos, interpretadas p e los das rochas subjacentes.
autores como intercaladas com
os carbonatos, provoca o apare-
cimento de extensos mantos de LITOLOGIA E ESTRATIGRAFIA
areia, certamente resultantes da
intemperização destas r o c h as. Duas grandes unidades lito-
Estas areias podem assumir tal lógicas estão principalmente re-
proporção que chegam a provo- presentadas na Fólha de Potira-
car dúvidas quanto à existência guá NE: os metassedimentos de
na área de rochas carbonáticas o baixo grau de metamorfismo do
que, entretanto, é constatado no Grupo Rio Pardo, recentemente
mapeamento de detalhe. descritos por Pedreira, Souto e
Azevedo (6) e as rochas altamen-
te metamórficas do embasamento
cr~stalino. As rochas do Grupo
Os falhamentos de bordo da
Rio Pardo, segundo datações geo-
bacia são fatôre s tectônicos re s-
cronológicas realizadas por Cor-
ponsáveis por importantes aspec-
dani (3), sofreram metamorfismo
tos geomorfológicos da área. O
há cêrca de 470 milhões de anos,
grande escarpamento, de direção
idade obtida usando- se o método
N-S, que limita os metassedimen-
K-Ar em filitos da Formação
tos, separando- os das r o c h a s
Água Preta. Pertencentes àque-
cristalinas situadas em nível in-
le grupo, afloram as Formações
ferior, é uma feição tipicamente
Serra do Paraíso, Água Preta e
e s t r ut u r a 1. Esta tectônica de
SalÔbro, esta última numa área
bordo também formou a serra da
p e que na. Na área do presente
Água Branca, que nada mais é do
trabalho, os metassedimentos es-
que um bloco elevado de rochas
tão em contacto de falha com as
do embasamento, entre r o c h a s
rochas mais antigas do embasa-
carbonáticas de idade mais re-
mento cristalino, representadas
cente.
essencialmente por gnais se s por-
firoblásticos e granulitos, fre-
qüentemente recortados por di-
Para oeste, em nível mais
ques de diabásio, o que não foi
b a i x o em relação à topografia
constatado entre os metas sedi-
dos metas sedimentos, está a uni-
mentos.
dade formada pelas r o c h a s do
embasamento cristalino. :t urna
área arrazada, muito homogênea, A seguinte coluna estrati-
não acidentada, formada por co- gráfica é proposta para as ro-
linas de tôpo arredondado, que chas que afloram na FÔlha de Po-
guardam desníveis muito peque- tiraguá NE:

8
Pré-Cambriano Médio: Gnaisses porfiroblásticos e granulitos ácidos
intermediários do embasamento cristalino,
cortados por diques de diabásio e veios de
aplito.

- ~L ,
Formaçao Salooro
Pré-Cambriano Superior: Grupo Rio Pardo Formação Água Preta
Formação S. do Paraíso

Quaternário: Formação Pau Brasil


Aluviões

o Conglomerado Panelinha e Gnaisses porfiroblásticos


a Formação Camacan, conside-
O c a r á t e r porfiroblástico
radas as rochas mais antigas do
das rochas que estão em contato
Grupo Rio Pardo, não afloram
com os metas sedimentos do Gru-
nesta área.
po Rio Pardo, dispondo-se numa
faixa de direção aproximada N-S,
Pré-Cambriano Médio foi, desde o mapeamento de cam-
po, um critério utilizado para sua
separação (Figura 2).
F o r a m consideradas desta
idade as rochas metamórficas do são r o c h a s de granulação
embasamento cristalino, separa- gros sa, onde sob r e s s a e m - s e
das, para efeito de mapeamento, cristais de feldspato branco, for-
em duas unidades que não indi- mando bandas que dão um aspec-
cam abs olutamente idade s dife- to claramente orientado à sua
rentes. A separação, em mapas, te s tu r a macroscópica. ~stes
destas unidades obedeceu ao cri- cristais de feldspato, que even-
tério de predomínio de determi- tualmente podem ser facoidais,
nado tipo litológico numa certa estão quase sempre muito fratu-
faixa. Realmente, diversas se- rados. Quartzo granular, de côr
ções, realizadas no sentido E-W, azul intenso, é outro as p e c t o
mostraram rochas porfiroblásti- marcante da macroscopia destas
cas em contato com os metasse- rochas. Faixas de minerais es-
dimentos, pas sando a oe ste para curos são bem visíveis, salien-
rochas do tipo de granulitos, de tando o bandeamento mineralógi-
composição ácida ou inte rmediá- co. Ao microscópio, trata- se de
ria. Na faixa mapeada como sen- uma rocha de textura granoblás-
do rochas porfiroblásticas, tam- tica, onde predominam porfiro-
bém foram encontradas r o c h as blastos de microclina, intensa-
quartzo- felspáticas muito seme- mente pertitizados, sendo a per-
1hantes a rochas descritas corno ti ta do tipo fusiforme (Figura 3).
granulitos ácidos, razão por que As fraturas, que são bem obser-
consideramos as duas unidades vadas macroscàpicamente, mos-
geneticamente relacionadas. tram- se preenchidas principal-

9
Figura 2 - Aspecto macroscópico dos gnaisses porfiroblásticos.

Figura 3 - Microclina pertítica, típica dos gnaisses porfiroblásticos.

10
mente por sericita, quando exa- Quartzo em grãos anedrais, lim-
minados microscopicamente. pos, de extinção ondulante, tam-
bém é comum nestas r o c h as.
São comuns i n c 1 u s õ e s de Freqfientemente, o plagioclásio
plagioclásio e quartzo arredon- p o d e aparecer mime rquitizado ,
dado ou vermicular. O plagio- abrindo-se em leque em <ti.reção
clásio, mesmo em seções não à microclina (Figura 5). Anfibó-
geminadas, é fàcilmente distin- lio e biotita são os máficos pre-
guível da microclina por sua for- sentes, coexistindo ou aparecen-
te alteração para sericita, epi- do isoladamente numa lâmina. A
doto e quartzo. Em tôdas estas biotita pode ocorrer com inclu-
rochas porfiroblásticas, o pla- sões nos plagioclásios ou em a-
gioclásio tem uma textura muito gregados de pequenas lâminas,
característica: um núcleo do mi- com pleocro(smo variando de in-
neral alterado, com muitas in- color, verde claro a verde muito
clusões, circundado por uma co- intenso.
roa de material não alterado, de
côr de interferência a m a r e la, Dois tipos de anfibólios fo-
sem inclusões, possIvelmente al- ram registrados: hornblenda e
bita (Figura 4). Inclusões de bio- outro, inicialmente identificado
tita também foram registradas corno tremolita-a c ti no 1 i ta. A
nos plagioclásios. De um modo hornblenda tem pleocroísmo va-
geral, os plagioclásios ocorrem riando de amarelo esverdeado a
em quantidades menores na ro- ver d e e marrom-avermelhado,
cha. em relação à microclina. sendo muito comuns as inclusões

Figura 4 - Plagioclásios alterados (a), com bordos al-


bitizados (b) corno inclusão em pertitas (c)
nos gnaisses porfiroblásticos.

11
Figura 5 - Mimerquita abrindo- se em direção ao felds-
pato potássico.

de apatita; em algumas lâminas, T r ê 's minerais acessórios


existem evidências texturais de estão invariàvelmente presentes:
transformação para biotita. Em apatita, zircão e associação il-
q u a s e tôdas as amo stras , foi menita..;leucoxênio. A associa-
identificado um mineral incolor ção ilmenita-Ieucoxênio é carac-
ligeiramente esverdeado, de re- terizada por urna textura típica:
lêvo alto, formado por agregados ilmenita (ou magnetita titanífera)
de fibras, que acidentalmente po- como núcleo de um anel de leu-
dem ter disposição radial. Es .- coxênio, branco em luz refletida,
tas fibras, englobadas num único certamente resultante da altera-
grão mineral, se extinguem dife- ção do miner.al metálico. A apa-
rentemente. A extinção é para- tita ocorre em pequenos prismas
lela ou em ângulo muito baixo e a arredondados, muitas vêzes in-
côr de inte r ·re rênc ia alc ança, no clusos na hornblenda. Z i r c ã o,
máximo, verde de segunda or- formando pequenos cristais ró-
dem. ~ste mineral teIll proprie- seos, apresenta, em quase tôdas
dades muito semelhantes à tre- as lâminas estudadas, estrutura
molita-actinolita e é absoluta- zonada.
mente igual ao que ocorre como
a I t e r a ç ã o dos piroxênios nos Muitas vêzes, aparecem, as-
granulitos intermediários encon- sociadas a estas rochas porfiro-
trados mais a oeste. lt possível blásticas, outras de granulação
que, nestas lâminas, a tremolita mais fina, com estrutura bandea-
seja resultante de alteração da da muito bem evidenciada pela
hornblenda, pois tem t ô das as intercalação de faixas ricas em
características texturais de um. quartzo e feldspato. O quartzo
mineral secundário. ocorre sob a forma de placas a-

12
chatadas no plano do bandeamen- ram encontrados na área: os á-
to, sendo realçado em rochas, cidos e os intermediários. Os
semi-alteradas, onde p. m a i o r primeiros são de composição
facilidade de decom.posição dos granítica e os outros de compo-
feldspato8 coloca em relêvo as sição quartzo-diorítica ou pró-
faixas formadas predom.inante- xima. '
mente por quartzo. No micros-
T r a ta m - s e de dois tipos
cópio, esta simplicidade de com-
perfeitamente distinguíveis ma-
posição mineralógica é confir-
croscopicamente e quase sempre
mada. A microclina forma os
intercalados em escala de aflo-
maiores grãos da rocha, contudo,
ramento. Os tipos á c i dos são
diferentemente do que acontece
:rochas claras, de granulação mé-
com as rochas porfiroblásticas,
dia, onde se distinguem perfeita-
não está pertitizada. Plagioclá-
mente os planos de bandeamento
sio e stá inteiramente caulinizado
mineralógico formados por quar-
e sericitizado e parece dominar
tzo azulado e agregados de felds-
a rocha, em relação ao feldspato
patos, aparecendo eventualmente
potássico. Quartzo também é a-
faixas de minerais máficos. O
bundante. Sericita e biotita, es-
quartzo também é placóide. O
ta última em quantidade mui t o
exame microscópico mostra ain-
reduzida, aparecem sempre as-
da urna composição mineralógica
sociadas a zonas de cisalhamen-
muito simples: quartzo em grãos
to. Esta rocha é muito seme-
com contatos reentrantes e ex-
lhante em composição mineraló-
gica às variedades á c i das que tinção fortemente ondulante, mi-
serão descritas na unidade onde croclina pertítica e plagioclásio,
predominam os granulitos e po- fortemente sericitizado e epido-
dem ser chamadas de granulitos tizado com muitos grãos mos-
trando inclusões de biotita. Em
quartzo-felspáticos, de natureza
alguns casos, êstes minerais a-
cataclástica.
presentam também bordos nã o
alterados, como no caso das ro-
Granulltoa chas porfiroblásticas. A qui, o
plagioclásio domina sôbre o
A oeste destas rochas por- feldspato potássico. Na biotita,
firoblásticas, em contato deslo- são comuns inclusões de um mi-
cado por falhament08 transver- neral acicular, pOSSIvelmente ru-
sais, afloram rochas granulíti- tilo.
cas, que foram muito bem carac-
Considerando-se a composi-
terizadas, durante o mapeamento
ção mineralógica acima, e s tas
da Fôlha de Potiraguá NW, por
rochas não poderiam ser chama-
Souto e Bezerra (7). Estas ro-
das propriamente de granulitos;
chas também ocorrem na unidade
seriam enquadradas melhor na
anterior, razão por que devem
designação de xistos feldspáticos,
estar geneticamente associadas.
proposta por Williarns, Turner e
Levando-se em conta a sua Gllbert (9). Contudo, a sua as-
composição mineralógica, d o i s sociação de campo com r o c ha s
tipos principais de granulitos fo- que, sem nenhuma dúvida, foram

13
classificados de granulitos inter- de feldspato potássico tabulares
mediários, bem como a sua tex- incluídos no plagioclásio mui t o
tura, exibindo quartzo placóide, bem individualizado (Figura 6).
muito semelhante àquela descrita A composição aproximada dos
para os granulitos ácidos (quar- plagioclásios é An 44. Freqüen-
tzo-feldspáticos), induziu-nos a temente está sericitizado. A mi-
esta última classificação. croclina aparece ou não pertiti-
zada, sempre em quantidade su-
Os granulitos intermediários
bordinada em relação ao plagio-
são rochas esverdeadas, aparen-
clásio. Quartzo ocorre em grãos
temente granulares, cujo bandea-
de até I cm, ou em ag regados de
mento mineralógico é notado a-
pequenos grãos com contatos re-
penas em espécimes alterados.
entrantes e extinção fortemente
O estudo de diversas seções del-
ondulante.
gadas conclui por uma composi-
ção mineralógica não muito va- Dois piroxênios estão muito
riável, se n d o os seguintes os bem caracterizados nestas ro-
seus principais minerais: pla- chas: o diopsídio, ligeiramente
gioclásio, antipertita, microcli- esverdeado com partição sempre
na, pertita, quartzo, hiperstênio, proeminente, e o hiperstênio, com
diopsídio, hornblenda, tremolita, pleocroísmo apresentando tona-
biotita, zircão e opac os. O pla- lidades rósea e verde claro, mui-
gioclásio é, sem dúvida, o n1.ine- to características dêstes mine-
ral dominante na rocha, sendo, rais. Em diversas lâminas, os
quase sempre, de caráter anti- piroxênios são envolvidos por
pertítico, com os pequenos grãos coroa de material fibroso, com

Figura 6 - Plagioclásios antipertíticos nos granulitos inter-


mediários.

14
as mesmas propriedades da tre- foi estabelecida preliminarmente
molita identificada corno mineral por Pedreira, Souto e Azevedo (6),
de alteração nas ro.chas por firo- sendo reconhecidas, inicialmente,
blásticas, por sua vez circunda- cinco formações geológicas: Pa-
do, também, por outrQ anel pe nelinha, Camacan, Salôbro, Agua
biotita verde, também f i b r o s a Preta e Serra do Paratso. Na
(Figura 7). FÔlha de Potiraguá NE estão re-
presentadas as três formações
Os piroxênios c o e xi s tem
consideradas mais jovens: Serra
muitas vêzes com hornblendas,
do Paratso, Agua Preta e Salô-
fortemente pleocróicas, de verde
bro. A Formação Serra do Pa-
a marrom avermelhada. Biotita
ratso, a mais nova do Grupo, faz
vermelha é encontrada em pe-
todo o contato oeste da b a c i a,
quenas lâminas e foi ' a d m i t i da
sendo que existem muitas evi-
corno resultante de processo de
dências de que se trata de conta-
alteração. Apatita é acessório
to falhado, não repre sentando,
mais comum, estando ta m b é m -
pois, o limite oe ste de deposição
presentes minerais opacos.
dos antigos sedimentos. Foram
encontrados, bem a oeste, na Fô-
Pré-Cambriano Superior lha de Potiraguá NW, testemunhos
expressivos de rochas carbonáti-
Grupo Rio Pardo cas depositadas diretamente sô-
A · estratigrafia dêste grupo bre o embasamento, p r o va nd o,

Figura 7 - Piroxênios não alterados (a) cercados por


um anel de tremolita fibrosa (b) e outro mais
externo de biotita (c).

15
desta forma, a extensão da bacia esta formação é constituída de
em relação ao limite mostrado metadolomitos e metacalcários
no mapa que acompanha o tra- dolomíticos, as sociados c om al-
balho. gumas camadas de rochas clásti-
cas do tipo de arcósios. A pri-
Nos trabalhos de mapeamen- meira idéia foi considerar êstes
to desenvolvidos sóbre as forma- arcósios pertencentes à Forma-
ções do Grupo Rio Pardo, não fo- ção Panelinha, considerada basal
ram encontradas rochas intrusi- e que também aflora no bordo
vas cortando os metassedimen- n o r de s t e da bacia, Trabalhos
tos. Trata-se de um fato real- p o s t e r i o r e s, mais detalhados,
mente estranho, pois se sabe da mostram que realmente estão in-
existência de diques de diabásio tercalados com as rochas carbo-
na costa baiana cortando sedi- náticas da Formação S e r r a do
mentos cr.etáceos, enquanto os Paraíso, . c·omo foi observado na
metas sedimentos foram datados Fazenda Cólina, sendo, pois, urna
de 470 milhões de anos. lt pos- indicação precisa do a m b i e n t e
sível que os diques de diabásio, em que estas rochas foram depo-
que cortam as rochas do emba- sitadas.
samento, sejam, portanto, mais
antigos do que se supõe, pois pa-
ram abruptamente no c o n t a t o Afloramentos de p e que nas
com os metassedimentos. Uma cristas alinhadas dêstes arcósios
outra hipótese, admitindo-se ês- podem ser vistos na estrada en-
tes diques de idade mais jovem, tre a cidade de Pau Brasil e o rio
é supor-se que a disposição es- Pardo. Lâminas de amostras
trutural destas rochas, diferente coletadas na Fazenda Colina, on-
da do embasamento, não tenha fa- de estas rochas clásticas estão
vorecido às intrusões b á s i c a s ,- intercaladas como metadolomitos
pois não parece plausível expli-- brancos, mostraram uma com-
car a ausência de intrusivas nos posição muito próxima à de sub-
metassedimentos por problemas arcósios. A rocha é constituída
apenas relacionados ao atual ní- principalmente de grãos de quar-
vel de erosão destas rochas. tzo completamente a n g uI a r e s
com microclina também angular
em quantidade inferior a 100/0, a-
Formação Serra do Paraíso glutinados por cimento constituí-
do de calcita. Outras 1 â m i nas
Esta formação inclui as ro-
destas rochas não tem cimento
chas antes conhecidas na litera-
calcítico, como as encontradas
tura pelo nome de Formação Rio
na estrada entre Pau Brasil e o
Pardo. Compreende uma exten-
rio Pardo. Esta rocha é forma-
sa faixa de rochas carbonáticas
da principalmente por q u a r t z o,
com direção aproximada N-S, in- pertita e microclina, com grande
fletindo ao sul, para urna direção
percentagem de sericita forman-
E. W. próximo ao povoado de Gu- do uma matriz, numa composi-
rupá-Mirim. ção agora mais semelhante à de
Ao norte da área mapeada, grauvacas.

16
Os metacarbonatos são ro- Formação Agua Preta
chas de granulação fina, cinza-
azulados ou brancos, mostrando Aflora em mais de 500/0 da
algumas vêzes camadas muito fi- área mapeada. Trata-se de uma
nas de talco lamelar; veios de formação de litologia monótona,
calcita provenientes de fenôme- constituída por filitos, quartzo-
nos de rec ristalização ta m b é m filitos e filitos siltosos, esver-
são registrados. Embora a lite- deados ou cinza azulados. Alguns
ratura geológica se r e f i r a aos níveis de metaarenito aparecem
calcários do rio Pardo, estudos intercalados na formação.
químicos das rochas desta for-
mação, conduzidos por Azevedo Num corte realizado através
(1), mostraram que predominam da estrada estaduaICamacan-Ita-
me t a d o 1 i m i tos e metacalcá- pebi, a base da Formação Água
rios dolomíticos. A Figura 8 é Preta aflora logo a sul da ponte
o mapa de situação dos pontos a- sôbre o rio do mesmo nome, on-
mostrados com as principais de- de as rochas tlpicamente conglo-
terminações químicas realizadas. meráticas f o r a m interpretadas
como da Formação Salóbro. Nes-
ta estrada, os primeiros aflora-
Finas camadas de orto-quar-
mentos assumidos corno perten-
tzitos metamorfizados estão in-
centes à Formação Água Preta
tercalados também com os meta-
são de uma meta grauvaca con-
c a r b ona tos • ~ s te s q u a r t z i tos
glomerática (Figura 9), compos-
brancos tornam-se mais impor-
ta de uma matriz filítica, siltosa,
tantes nas fÔlhas de Potiraguá SE
cinza azulada, com seixos acha-
e Mascote SW, quando represen-
tados segundo o plano da foliação
tam um fácies quartzoso da For-
metamórfica da matriz. ~ s te s
mação Serra do Paraíso. Pedrei-
seixos são de calcário violeta,
ra (5), mapeando a região de San-
calcário dolomítico cinza, filito,
ta Maria Eterna, admitiu que ês-
quartzo azul, leitoso e róseo.
tes quartzitos constituem uma
Dendritos de manganês são co-
formação discordante s ôb r e a
muns. Em microscópio, a tex-
Formação Santa Maria.
tura é caracterizada por uma
matriz quartzo- sericitito-clorí-
Vários cortes efetuados no tica, o n d e estão esparsamente
sentido W -E mostram o caráter distribuídos os grãos de feldspa-
transicional entre as Formações to e quartzo, de grande angulari-
Serra do Paraíso e Água Preta. dade. Em uma das lâminas es-
Realmente, rochas intermediá- tudadas, foi identificado um sei-
rias, do tipo de margas, são en- xo de uma rocha onde ripas de
contradas antes que se passe ao feldspatos se distribuem segundo
domínio dos tipos argilosos (fili- a textura traquitóide. Deve tra-
tos) da Formação Água P r e ta. tar-se de rocha proveniente de
~ste contato. à altura da Fazen- diques de traquito, mapeados por
da Barra Avenida, no rio Pardo, Souto e Bezerra (7) na Fólha Po-
mostrou algumas evidências de tiraguá NW, c o r r e 1 a c i o na dos
interdigitação. quanto à idade geológica às ro-

17
SME/CEPlAC/U.'....
lEVANTAMENTO .EOlO •• CO
ROCHAS CARBONATADAS
DO SUL DA BAHIA

CALCIO MAGN~IO
PONTO SILICA
(Si 0.' ( •• CoO' (•• M,O)

I 24,15 18,25 12,81


2 2,40 31,27 19,97
3 5,1' 50,0' 2,77
4 38,14 17,S2 11,71
5 0,12 30,25 22,08
6 , 1,42 43,97 10,42
7 ',71 45,55 2,40
8 0,42 31,34 21,10
9 1,13 42,4' 11,31
10 1,07 29,69 20,17
1I 0,97 31,01 20,70
12 17,25 42,51 1,10
13 SO,85 20,01 13t l2
14 7,94 21,92 18 195
15 1,50 31,IS 11,14
16 27,09 22,21 15,S4
17 - 41,80 3,10
18 - 29,10 21,60

\
o I 10_
• I I

"LAN.INT'UA Nlo CONTROLADA

Figura 8 - Análises químicas dos metacarbonatos da Formação Serra


do Paraíso.

18
"

Figura 9 - Metagrauvacas conglomeráticas da Fol. mação Água Preta.

19
chas alcalinas mapeadas p e los bonoso, com alguns sulfetos dis-
autores na mesma área. O fato seminados, cujos contatos gra-
confirma idéias de que a sedi- dam nitidamente para os filitos
mentação das rochas do G r u p o adj ac ente s • A metade do corpo
Rio Pardo foi realmente poste- situada na margem direita do rio
rior à colocação dos corpos al- Pardo foi deta1hadamente estuda-
calinos da região, hipótese sus- da por Garrido -te, o b j e t i v a n d o
tentada por outras evidências de principalmente o conhecimento de
campo, posteriormente, por da- sua composição quím~ca. Os
tação das rochas. dados químicos 'obtidos estão
sintetizados no Quadro 1 .
Mais ao sul, aparece uma
sucessão de rochas filíticas, in- Na zona do Córrego dos Mu-
tercaladas com níveis si1tosos ou tuns, também foi mapeada uma
lente de r o c h a s carbonáticas.
arenosos. A observação micros-
cópica dos fi1itos mostra muitas Trata-se de dolomito cinza, mui-
to fino, intercalado com. n(veis
vêzes a intercalação de n í v e i s
muito finos formados exclusi va- d e SI'I ex. Ana' l'lses qUlmlcas
"'. d es-
Â

mente por pequenos g r ã o s de te s dolomitos e stão no Quadr o 2.


quartzo. Rochas que podem ser
clas sificadas como metaarenitos,
conservando perfeitamente a es- .. Comunicação esc rita do geólogo José
tratificação original, foram tam- Luiz Perez Garrido.
bém englobados como da Forma-
ção Água Preta. Um pacote des-
tas rochas af10ra ao sul da ponte Quadro 1 - Da dos químicos dos
sóbre o rio Pardo, não sendo pos- calcários da r e g i ã o
~
slvel, em mapa, uma separaçao - de Nancy.
consistente. O teor de quartzo
nestas rochas é superior a 900/0, CaO MgO
com me n o r e s percentagens de Amostras (0/0 ) (0/0 )
feldspatos em pequenos cristais,
sericita e c10rita. Próxilno ao 1 39,00 8,90
povoado de Gurupá-Mirim, a For- 2 24,68 17,80
mação Água Preta também é re- 3 48,11 2,92
presentada por êstes metaare- 4 52,00 4,51
nitos. 5 34,92 1,32
6 50,70 14,50
Intercaladas na série filítica 7 30,00 4,60
principal, pequenos corpos de ro- 8 50,45 1,27
chas carbonáticas também ocor- 9 20, 11 2, 01
rem na Formação Água Preta. O 10 53,10 13,70
principal dêstes corpos foi assi- 11 49,44 1 , 51
nalado próximo à ponte sóbre o 12 53,50 1, 65
rio Pardo (Nancy), estando cor- 13 39,09 2, 01
tado por um falhamento coinci- 14 43,34 4,10
dente c om o trecho daquéle rio. 15 46,81 8,28
11: um calcário cinza-escuro, car-

20
Quadro 2 - Dados químicos dos calcários de Mutuns.

Perda por
calcinação Si 02 Óxidos combinados CaO MgO
Amostras (0/0 ) (0/0 ) (0/0 ) (0/0 ) (0/0 )

1 46,27 1,.50 0,02 30,86 21,00


2 46,43 1,26 O, 03 26,63 25,04
3 46,52 1,45 0,02 30,22 22,08
4 46,74 2,93 O', 03 29,57 22,19

Formação Salôbro norte da ponte sÔbre o rio Água


Preta (Figura 10), afloram rochas
S'omente urna pequena area
' esverdeadas, de granulação mé-
desta forll}.ação aparece no mapa dia, muito compactas, que foram,
Potiraguá NE. Os seus princi- no campo, denominadas de meta-
pais afloramentos, na á r e a do arenitos. Microscópicamente são
presente trabalho, estão situados roéhas de textura granular onde
- na ponte- sôbre o rio Água Preta predominam feldspatos (microcli-
é em suas imediações, poi~ aque- na intensamente pertitizada) pla-
,la formação está tipicamente r.e.- gioclásio muito sericitizado, alte-
presentada nas FÔlhas de Masco- rando-se também para epidoto e
te NW e Camacan SW. Logo ao qu~rtzo, com quantidade subor-

Figura 1 °- Metaconglomerados da Formaçao Salobro, sob a ponte


do rio Água Preta.

21
dinadade clQrita., Embora. não t ~te não pa.rece ~er o único
t e n h a m sido realizadas muitas tipo de contato entre estas ro-
análiaea modais, estas rochas se chas, pois, ao norte e ao s ui da
assemelham a subarcósios rneta- área m.apeada, foram encontra-
n'lor Eizado~. do~ conta.toe di~cordante~ entre
aquelas litologias.
Na ponte do rio Água Preta,
afloram rochas conglomeráticas A principal direção de falha-
que foram englobadas na Forma- nlentos é N-S, formando, pois,
ção Salôbro. são rochas forma- escarpamentos com esta direção.
das por urna matriz esverdeada, Estas falhas são deslocadas por
onde estão esparsamente distri- outras transversais com direção
buídos seixos de quartzo e de ro- de E-W a N-W. Um sistema em
chas de embasamento cristalino. blocos ou compartimentos de ro-
O exame microscópico dêste chas diferentes resulta dêste tipo
conglomerado mostrou composi- de tectonismo da. área. A serra
ções muito diferentes em duas da Água Branca é um exemplo
amostras coletadas no me s mo marcante dêste estilo local, pois
afloramento. Em urna das amos- se trata de um bloco falhado, for-
tras, a calcita constitui 500/0 da mado por rochas de embasamen-
rocha que também é formada por to entre as rochas carbonáticas
q u a r t z o, feldspatos potássicos mais jovens da Formação Serra
pertíticos mui to sericitizados, do Paraíso. Não parece haver
plagioclásio e clorita. Em outra dúvida de que se trata de um sis-
amostra, a calcita quase desapa- tema de falhas de gravidade, ca-
rece na constituição da r o c h a, racterizando, do ponto de vista
sendo muito grande a percenta- de tectônica rígida, o bordo da
gem de feldspatos muito sericiti- bacia. O fato de que metassedi-
zados, superior mesmo ao teor mentos ocorrem mais a oeste
de quartzo na rocha. Epidoto é o (FÔlha Potiraguá NW) é um argu-
m i n e r a I acessório. Trata- se, mento a favor do caráter falhado
pois, de um conglomerado com do contato ora referido, mostran-
matriz do tipo subarcósia. do, pois, a extensão ocidental dos
antigos sedimentos de cujo meta-
TECTONICA morfismo resultaram as atuais
rochas do Grupo Rio Pardo.
Principais
elementos estruturais
De um modo mais amplo, o Estrutura do
g r a n d e sistema de falhamentos embasamento cristalino
no contato entre os metassedi-
mentos do Grupo Rio Pardo e as o bandeamento mineralógico,
rochas do embasamento cristali- formado principalmente pela in-
no é o mais importante dos ele- dividualização de faixas de mi-
mentos tectônicos da área, defi- nerais diferentes durante os fe-
nindo localmente um tipo de re- nômenos do metamorfismo, é a
lação entre as rochas de idade mais p a I p á ve I das estruturas
comprovadamente diferentes. metamórficas das rochas do em-

22
basamento cristalino da á r e a. lógico da área mostra, nos me-
~ste bandeamento · é muito bem tas sedimentos, uma faixa de ro-
caracterizado no que se denomi- chas carbonáticas (F o r ma ç ã o
nou de granulitofJ ácidos, onde Serra do Paraíso), passando a
se alternam vistvelmente faixas leste para os filitos da Forma-
ricafJ em Eeldspatos com. outras ção Água Preta. Não fico. qual-
onde domina quartzo placóide, e quer dúvida a respeito do fato de
também nos gnaisses porfiro- não se repetir a leste o pacote de
blásticos, onde existem verda- rochas ca_rbonatadas. Isto pode
deiras faixas de predom(nio de ser explicado pelo fato do limite
cristais de feldspatos. geográfico de deposição de s tas
duas formações corresponder ao
De uma xneneira geral, a di- limite atual (variação de fácies),
reção do bandeamento destas ro- entretanto pode também denun-
chas varia de N-S a N 30 E, com ciar a falta de existência de do-
mergulhos verticais ou com for- bramentos de grande raio de cur..
tes inclinações para W. A ob- vatura, impedindo a r e p e ti ç ã o
servação destas rochas do emba- das camadas.
samento c r i s t a I i n o em áreas
cont(guas dá fortes evidências de A s sim, o estilo tectônic o
que tenham sofrido dobramentos dêstes metassedimentos não está
pronunciados, o que realmente se definitivamente esclarecido. O
deve esperar em rochas meta- e x a m e das fotografias aéreas,
mórficas tão antigas e de alto e xc ele nt e para a detecção de
grau de metamorfismo. Entre- grandes estruturas lineares, co-
tanto, como estas rochas estão mo os falhamentos de borda da
profundamente erodidas, torna- bacia, não traz subsídios valio-
se dif(cil a reconstituição de um sos para análises do tipo de do-
estilo de dobramento. bramento sofrido pelas rochas da
bacia. O exame do estilo tectô-
Do ponto de vista de fratura- nico das rochas tem de se apoiar
mentos ,pode - se falar na grande apenas em dois tipos de informa-
consistência de pelo menos uma ções: a interpretação das atitu-
direção de fratura nas rochas do des tornadas no campo e a des-
embasamento: um sistema com crição dos afloramentos, pois não
direção N 75 W, com algumas- va- se consegue esboçar, com as fo-
riações até E.W., adaptando mui- tografias aéreas, linhas estrutu-
tas vêzes vários trechos da rêde rais. A pró p r i a interpretação
de drenagem, como acontece no das atitudes de estratificação, to-
rio Pardo e nos córregos do An- rnadas sóbre as rochas carboná-
gelim, Água Amarela, Água Bran- ticas, merece reservas, tanto pe-
ca, Cedro, etc. la proximidade dos fa!hamentos
que repre sentam uma f a s e de
tectonismo posterior à pos s(vel
Estrutura das fase de dobramentos, como pelas
rochas metasaedimentares complicações advindas de "do-
bramentos 11 certamente não tec-
A observação do mapa geo- tônicos, freqüentemente registra-

23
dos em rochas carbonatadas du- METAMORFISMO
'
rante, ou 1ogo apos, os fenome- A

nos de sedimentação. Mesmo as- Duas grandes provtncias


sim, analizando-se as atitudes metamórficas são bem caracte-
destas rochaa na parte norte da rizadas na área, sendo perfeita-
área. observa-se atitudes gerais mente separadas principalmente
predominante s segundo NE, com. pela diferença na intensidade do
mergulhos muito variáveis, en- metamorfismo a que foram sub-
tre ISo e 60° para W. Entretan- metidas, sem se falar nas épo-
to, ao sul da Fazenda Serra do cas geológicas bem distintas em
Paraíso, embora as direções das que êstes fenômenos se proces-
c a ma das sejam idênticas, os saram.
mergulhos tomam valôres para
SE, sugerindo um estilo dobrado. As rochas do Grupo Rio Par-
do foram sedimentos que sofre-
Nos filitos, a foliação é ao e s- ram metam.orfism.o de baixo grau
trutura mais clara. Embora. em há cêrca de 470 milhõe s de anos.
uma grande área de ocorrência conforme datações realizadas em
destas rochas, a dificuldade de filitos da Formação Água Preta,
acesso não tenha permitido a to- trans formando- se nos atuai s me-
mada de um grande número de tas sedimentos que guardam, po-
dados sóbre a sua disposição es- rém, tôdas as estruturas sedi-
peci,.al, muitas informações foram mentares originais. Estudando-
colhidas. Ao longo de todo o tre- se lâminas das rochas filíticas
cho da estrada Camacan-Itapebi, da Formação Água Preta e os
os filitos se dispõem segundo di- elásticos mais grossos da For-
reções NW, com mergulhos mé- mação Salôbro, foram encontra-
dios entre 40 0 e 60° para SW, dos os seguintes minerais meta-
sendo obtidos valôres semelhan- mórficos. que devem ser consi-
tes ao norte da área. Altitudes derados como diagnósticos na a-
tomadas próximas aos povoados nálise do grau metamórfico:
de Gurupá Mirim, nas margens clorita, sericita, albita, epidoto.
do córrego do Bom Prazer, em. Calcita, do limita e talco são mais
rochas mais arenosas, contudo encontrados nas rochas da For-
pertencentes à Formação Á g u a mação S e r r a do Paraíso. Nos
Preta. revelaram valôres de di- metaarenitos da Formação Sa-
reção segundo NE com mergulhos lóbro. a microclina pertitizada.
entre 30 0 e 60 0 para SE. mostran- que é um mineral comum em as-
do as sim outra evidência de do- sociações metamórficas de alto
bramentos nestas rochas. g r a u, aparece freqüentemente.
tendo sido interpretada como mi-
A norte de Itaimbé (Coréia) neral detrítico persistente, e de
os filitos da Formação Água Pre- origem não relacionada aos fenô-
ta apresentam exemplos típicos menos metamórficos regionais.
da chamada "estrufura de lápis",
formado pela intersecção da fo- As relações texturais encon-
liação com doi s fraturamentos tradas mostram claramente que
(Figura 11). a maior parte de epidoto foi re-

24
Figura 11 - Estrutura e:.:n lápis nos filitos da Formação Agua Preta.

sultante de um processo relacio- Levando- se, pois, em conta


nado à perda de cálcio dos pla- os minerais {ndices do grau me-
gioclásios. :t também certo que tamórfico, estas rochas podem
os piroxênios e anfibólios muito ser situadas, de acôrdo com Tur-
comuns nas rochas originais ner e Verhoogen (8), como per-
(granulitos de composição varia- tencentes a fácies xisto verde,
da) entraram em desequilÍbrio subfácies quartzo-albita-musco-
nas novas condições de tempera- vita-clorita, relacionada a meta-
tura e pressão dando, em conse- m.orfismo region,a l.
qüência, minerais como epidotó,
calcita, clorita e outros t(picos Sem dúvida, as rochas que
de metamorfismo mais baixo. formam o embasamento do Grupo

25
Rio Pardo são metamorfitos de detalhados estão sendo conduzi-
grau mais alto e idade bem ,m ais dos em áreas contíguas, podendo,
antiga. Na unidade separada em pois, levar a conclusões mais ob-
mapa como granulitos ácidos e jetivas sóbre as relações entre
intermediários, hiperstênio, dio- as rochas do embasamento ..
psídio ç hQ.nbl<indã afio impor-
tantes minerais i'ndices do meta-
morfismo sofrido pelas r o c h a s RECURSOS MINERAIS
o r i g i n a i s. A c oexi stênc ia de
hornblenda com piroxênios, em O mapeamento de superfície
muitas lâminas onde não existem não revelou indícios de minerali-
evidências texturais de desequi- zações importantes na área dos
líbrio, conduz a situar estas ro- metas sedimentos do Grupo R i o
chas como pertencentes a sub- Pardo. Tanto nesta área como
f á c i e s hornblenda-granulito do em outras vizinhas, já estudadas,
meta.morEism.o regiona.l. Dentro não foram encontradas rochas
dêste contexto, um problema se- intrusivas, limitando assim a sua
• ...... A • -'

ria definir o grau metamórfico 1mportancla economlca a P0881-


das rochas que foram denomina- veis mineralizações singenéticas.
das g n a i s s e s porfiroblásticos. Por seu turno, não se podem con-
Ora, forte s evidências de campo siderar importantes os inícios da
indicam que se tratam de rochas existência de sulfetos, pirita pri-
sujeitas aos mesmos processos mordialmente, nas rochas filíti-
metamórficos, pois, como já se cas da área.
registrou em algumas áreas, fo ..
ram interpretadas como interca- Quanto às rochas carbonáti-
ladas em r o c h a s granulíticas cas da Formação Serra do Paraí-
típicas. A presença de quartzo so, que, pelo menos em idade
azul granular, como em outros geológica, podem ser correlacio-
g r a n u 1 i tos regionais, e a se- nadas com as da chamada Série
melhança de particularidades na Bambuí, também não apresenta-
textura, corno no caso dos pla- ram indícios animadores de mi-
gioclásios, são outras semelhan- neralizaçõe"s. t verdade que os
ças hem palpáveis entre e s tas trabalhos desenvolvidos s ôb r e
rochas. As diferenças mais mar- estas rochas não foram suficien-
cantes entre êstes tipos de ro- temente detalhados para permi-
chas, como o maior crescimento tir uma conclusão definitiva. As-
dos cristais de feldspatos e a au- sociada a estas rochas, existe, na
sência de piroxênios nas rochas Fazenda Nova Aurora, no muni-
porfiroblásticas, onde a hornblen- cípio de Potiraguá, às margens
da é o máfic o mais importante, do rio Pardo, uma ocorrência de
seguida da biotita, podem ser ex'- enxôfre nativo, já pesquisado pe-
plicadas, por exemplo, pela pre- lo Departamento Nacional da Pro-
sença de m a i o r quantidade de dução Mineral (DNPM), através
fluidos em determinadas faixas da abertura de pequenas galerias
ou de metas somatismo alcalino e de vários furos de sonda. Co-
as sociado a es forçosde cizalha- rno não houve êxito nestas pes-
mento. E s t u dos petrográficos quisas, o DNPM classificou a 0-

26
corrência como li simples curio- portante para o seu aproveita-
sidade mineralógica", sendo a- ITlento, principalmente como ma-
bandonada. Durante os trabalhos téria prima utilizada na prepara-
de mapeamento desenvolvidos pe- ção de corretivo de solos, usado
los autores, o local da ocorren- regionalmente na cultura do ca-
cia foi visitado, sendo clara a as- cau. 1st o porque situa, se em.
sociação de enxôfre com zonas tôrno de Camacan uma ampla re-
formadas por cristais bem for- gião de solos ácidos que necessi-
mados de calcita e quartzo, re- tam de grandes quantidades de
sultantes de processo de recris- calcário dolomítico ante s de se-
talização. Os mesmos indícios rem adubados. Não obstante, al-
foram encontrados em áreas vi- guns testes preliminares revela-
zinhas, ainda não pesquisadas. ram grande tenacidade de sta ro-
Não foram encontradas, nos cal- cha (resistência a quebramento),
cários, evidências de qualquer trazendo problema quanto à gra-
ati vidade vulcânica, nem tampou- nulometria do produto, uma das
co registradas rochas evaporíti- mais importantes especificações
cas típicas as sociadas como a- para o seu uso.
contece em muitas ocorrências
do globo. Diante disso, até aqui, Os calcários dolomíticos da
apenas o aproveitamento em si Formação Serra do Para(so tam-
das r o c h a s carbonatadas das bém podem ser utilizados com a
Formações Água Preta e Serra mesma finalidade. Por sinal, as
do Paraíso têm apresentado al- rochas carbonáticas da região da
gum interêsse econômico. A Toca da Onça, situada logo ao sul
lente de calcários que aflora a da área, tem abastecido até aqui
ponte sÔbre o rio Pardo, na es- o mercado de calcário dolomítico
trada Camacan-Itabepi, foi cogi'- usado pelas indústrias de corre-
tada como matéria prima para tivos de solos na Região. Um.a
uma indústria de cimento que po- mineração altamente predatória
deria vir a ser instalada na Re- tem prejudicado bastante a refe-
gião. rida jazida.
Os mármores brancos, si-
A análise do Quadro 1 mos- tuados ao norte da área, são de
tra contudo que não se trata de excepcional qualidade quanto à
uma jazida homogênea, o que pa- côr, granulação e dureza, mos-
rece lirnitante para aquela finali- trando grande efeito ornamental.
dade, não se falando na viabilida- T e s te s realizados na Fazenda
de econômica da indústria pre- Colina, próximo à foz do rio An-
tendida, que atualmente é bastan- gelim, não tiveram, contudo, o
te contestada. exito esperado, pois a existência
de fraturamentos i r r e g uI a r e s
Ou t r o corpo lenticular de (trincas) tornam difícil a explo-
dolo m i tos da Formação Água ração da pedreira. Entretanto,
Preta, situado na área do córre- como existem outras ocorrencias
go dos Mutuns, munic(pio de Ca- na área, é pos sível que novos tes-
macan, tem na sua proximidade a tes venham a conseguir melhores
esta cidade um fator muito im- resultados. Ao sul, nas proximi-

27
dades da Fazenda Água Amarela,
.I"
começam a aparecer marmores
° fato de serem calcíticos j usti-
fica uma pesquisa detalhada para
róseos, calcíticos, de granula- se verificar a pos sibilidade do
ção grossa, geralm.ente interca- seu emprêgo na indústria de ci-
lados com faixas biotíticas. ~s­ mento.
tes mármores têm mais êxpres-
são ao sul da área, na região da Na á r e a do embasamento
Cotinguiba e Fecha, onde já co- cristalino não foram registrados
meçam a ser explorados. Como indícios de mineralização embo-
em muitas áreas, os fraturamen- ra tenham sido apenas utilizados
tos i m p e de m o seu aproveita- métodos convencionais de geolo-
mento como pedra ornamental. gia de superfície.

LITERATURA CITADA

1. AZEVEDO, H.C.A. Rochas carbonatadas do Sul da Bahia. Itabu-


na, Brasil. Centro de Pesquisas do Cacau. Comunicação
Técnica n9 28. 1968. 16 p.
2. AZEVEDO, L. G. de, GOUV~A, J.B. S. e LEÃO, A.C. Informe
preliminar sóbre ecos sistemas da vegetação cacaueira ba-
iana. Inédito.
3. CORDANI, U.G., USOTTA, C.A. e ABREU, A.C.S. Reconheci-
mento geocronológico do embasamento da região oriental da
Bahia. In Congresso Brasileiro de Geologia, 239, Salvador,
Bahia, Brasil, outubro, 1969. Anais.
4. OLIVEIRA, A.I. e LEONARDOS, O. H. Geologia do Brasil. Rio
de Janeiro, Ministério da Agricultura, Indústria e Comér-
cio. Serviço de Informação Agrícola, 1943. 813 p.
5. PEDREIRA, A.J. Geologia da Fôlha de Mascote Sudoeste. Itabu-
na, Brasil. Centro de Pesquisas do Cacau. Boletim Técni-
co n 9 11. 1 971. 18 p.
6. , SOUTO, P. G. e AZEVEDO, H. C. A. de. Metassedi-
-----
mentos do Grupo Rio Pardo, Bahia, Brasil. In Congresso
Brasileiro de Geologia, 239, Salvador, Bahia, Brasil, outu-
b r o, 1 9 69 . Ana i s • pp. 87 - 9 9 .
7. SOUTO, P. G. e BEZERRA, J. C. Levantamento geológico. Re-
latórios trimestrais. Inédito.
8. TURNER, F. J. and V ARHOOGEN, J. Petrolog{a {gnea y meta-
mórfica. Traducción de la 2~ ed. norteamericana por Jost!
M~ Fúster y Pablo Martinez Strong. Barcelona, O m e g a,
s.d.,726p.

28
9. WILLIAMS, H., TURNER, F. J. e GILBERT, C. M. Petrografia;
urna introdução ao estudo das rochas em seções delgadas.
Tradução do Prof. Ruy Ribeiro Franco. são Paulo, Polígo-
no, 1970. 445 p.


RESUMO

Urna área de 15' x 15' foi mapeada na e scala de 1:5 O. 000 nos mu-
nicípios de Potiraguá, Pau Brasil e Camacan, situada entre os para-
lelos 15 0 30' e 15 0 45' sul e os meridianos 39 0 30' e 39 0 45' oeste de
Greenwich.

Trata-se de uma área onde estão presentes dois tipos climáticos


distintos, Af e Am, que, por seu turno, controlam as principais ati-
vidades de cada área: na região mais úmida predomina a cultura do
cacau enquanto na outra, onde já existe um período sêco, a pecuária
é a atividade principal.

Os cursos d'água pertencem à bacia hidrográfica do rio Pardo


(o principal da área), cortando-a no sentido W-E. Seus afluentes, na
parte ocidental, têm o seu curso interrompido r..0S períodos de es-
tiagem.

As principais unidades de relêvo estão diretamente relacionadas


a dois aspectos essencialmente geológicos: a litologia e a tectônica.
Os metas sedimentos estão separados das rochas do embasamento
cristalino por um escarpamento retilíneo, atribuído a uma zona de fa-
lhas mapeadas no contato entre estas litologias. Naquelas rochas,
formas típicas de regiões cársticas são bem observadas onde ocor-
rem os metacarbonatos enquanto, na zona dos filitos, o intenso ravi-
namento (drenagem muito densa) é o aspecto mais marcante devendo
ser naturalmente relacionado com o caráter argiloso das rochas. O
embasamento forma uma área profundamente arrasada, de relêvo
muito homogêneo, formado por pequenas colinas arredondadas.

Duas grandes unidades geológicas foram bem separadas: os me-


tas sedimentos do Grupo Rio Pardo e as rochas rnais antigas do emba-
samento cristalino. Dos metamorfitos do Grupo Rio Pardo, que so-
freram o último metamorfismo há 470 milhões de anos, afloram três
formações, consideradas as mais recentes do Grupo: Serra do Pa-
raíso, formada essencialmente de metacarbonatos, Água Preta, cons-
tituída de elásticos finos (filitos e metas siltitos) e SalÔbro, formada
por metaconglomerados e metaarenitos, arcósios.

As Formações Serra do Paraíso e Água Preta dispõem-se, na


área, em faixas de direções N -S que, ao sul, infletem para E- W. Na
primeira, a estratificação das rochas carbonatadas têm valôres de

29
direção entre NS e NW com mergulhos variáveis para SW e -SE. Nos
filitos, a foliação metamórfica é, de um modo geral, orientada se-
gundo NW com mergulhos para SW, mas foram registradas variações
importantes. Os esforços de compressão, que acompanham o meta-
morfismo, causaram dobramentos nas rochas, entretanto não foi pos-
sível representá-los em mapas, pois não se tratam de grandes estru-
turas. Não ficaram constatados corpos intrusivos cortando as rochas
metas sedimentares, que estão separadas das rochas do embasamento
por um grande sistema de falhas de direção N -S, caracterizando um
estilo tectônico em blocos da borda da bacia.

As rochas do embasamento cristalino são principalmente gnais-


ses porfiroblásticos e granulitos do tipo ácido e intermediário, êstes
últimos já caracterizados pela presença de hiper stênib.

Do ponto de vista de recursos minerais. já estão sendo aprovei-


tados os calcários dolomíticos das formações Serra do Paraíso e
Água Preta, principalmente como corretivo de solos utilizados na
cultura do cacau. Já estão também em fase exploratória os mármo-
res da Formação Serra do Paraíso, que ocorrem em dois tipos dis-
tintos: os brancos, ao norte, na região do rio Pardo, e os róseos,
mais ao sul, nas áreas do Fecha e Cotinguiba. Pesquisas conduzidas
pelo DNPM não tiveram êxito na localização de jazidas de enxôfre nos
meta-carbonatos da Formação Serra do Paraíso.

GEOLOGIC MAP OF POTlRAGUA NORTHEAST


(Summa'l'y)

An area of 15' by 15' was mapped to the s cale of 1 :50, 000, which
included the districts of Potiragua, Pau Brasil and Camacan, it being
situated between the parallels 15 0 3 O' and 15 0 45' S and the meridians
39 0 30' and 39 0 45' W.

It is a region with two distinct climatical types, Af and An, which


in turn contraI the types of agriculture in each area: in the wetter re-
gion cocoa predominates whereas in the other, where there is a dry
season, cattle raising is the principal agricultural activity.

The rivers of the area belong to the hydrographic system of the


River Pardo, the main river in the region, which runs in a west to
east direction. The ri ve r '8 western tributaries often dry up in pe-
riods of drought.

The main types of relief are directly related to two essentially


geological aspects: the lithology and the tectonic. The metas sedi-
ments are separated from the rocks of a basement complex by a rec-

30
tilinear scarp, this being attributed;o a zone of mapped faults in con-
tact between these lithologies. In thcse rocks, typical of karst topog-
raphy the metacarbonates can be easily identified whereas in the
phyllite zone the many steep valleys are the most noteworthy charac-
teristic, this being naturally related to the clay nature of the rocks.
The basement is considerably destroyed with a very uniforITl'relief,
formed by little round hills.

The two large geo1ogica1 units were well separated: the metased-
iments of the River Pardo Group and the older rocks of the basement
cOITlplex. From the metamorphics of the River Pardo Group which
suffered their last metaITlorphism 470 million years ago, three for-
ITlations outcrop, which can be considered the most recent of the
Group: Serra do Paraiso, mainly made up of ITletacarbonates, Agua
Preta, composed of fine clastic sediments (phyllites and metasilicates)
and Salobro, forITled by ITletaconglomerates and metasandstones.

The Formations Serra do Paraiso and Agua Preta are found in


strips going from north to south which to the south of the area tend
towards east to west. In the first the stratification of the carbonated
rocks is in the direction between north to south and northwest with
variable dips towards southwest and southeast. In the phyllites the
metamorphic foliation is in general directed towards northwe st with
dips to southwest but important variations were also registered. The.
force of compression which accompanies the metaITlorphism caused
foldings in the rocks, a1though it was not pos sible to represent them
on the maps, for one is not dealing with large structures. No evi-
dence was found of intrusions in the metasediITlentary rocks, which
are separated from the basement rocks by a large system of faults in
the north to south direction, characterizing a tectonic style in blocks
around the basin.

The rocks of the basement complex are mainly porphyritic


gneisses, and granulites of the acid and intermediate type, these lat-
ter already characterized by the presence of hyperstene.

From the point of view of mineral resources the dolomitic lime-


stones from the Serra do Paraiso and Agua Preta Formations are al-
ready being used, principally for liming soils used for cocoa growing.
The marbles from the Formation Serra do Paraiso are also in an ex-
ploratory phase of exploitation. There are two distinct marble types:
the white, to the north, in the region of the River Pardo, and the pink
which are more to the south, in the areas of Fecha and Cotinguiba.
As yet research conducted by the National DepartITlent of Mines has
not been sucessful in localizing sulfur mines in the metacarbonates of
the Formation Serra do Paraiso •

•••
31
OUTRAS PUBLICAÇÕES DA CEPLAC

Boletün Técnico n9 1 -- - Levantamento Detalhado dos Solos do Cen-


tro de Pesquisas do Cacau. (Esgotado).
Boletim Técnico n9 2 - - - Água Subterrânea do Centro de Pesquisas
do Cacau. (Esgotado).

Boletim Técnico n9 3 - - - Contribuição ao Mapeam.ento da Vegetação


da Região Cacaueira da Bahia (Área- Teste
de Castelo N ôvo Município de Ilhéus).
Boletim Técnico n<? 4 -- - Pontos de Convergência da Comercializa-
ção do Cacau em Grãos na Região Cacauei-
ra do Sul da Bahia. (Esgotado).
Boletim. Técnico n9 5 --- Estudo do Sistema Radicular do Cacaueiro
em Alguns Tipos de Solos da Região Cacau-
eira do Sul da Bahia. (Esgotado).
Boletim Técnico n9 6 -- - Nível Nutricional dos Solos da Região Ca-
caueira da Bahia. (Esgotado).
Boletim Técnico n9 7 --- Respostas à Adubação em Algumas Unida-
des de Solos da Região Cacaueira da Bahia.

Boletim Técnico n9 8 --- Uso Atual das Terras da Região Cacaueira


do E stado da Bahia. FÔlhas Itabuna, Una,
Potiraguá, Mascote e Canavieiras.
Boletim Técnico n9 9 Solos da Bacia Inferior do R io Doce.
Boletim Técnico n9 10 Recursos Minerais do Sul da Bahia.
(Primeiros Resultados).
Boletim Técnico n 9 11 Geologia da FÔlha de Mascote Sudoeste.
Boletim Técnico n9 12 Geologia da FÔlha de Mascote Noroeste.
B oletirn Técnico n 9 13 Geologia da Faixa Costeira de Canavieiras
e Belmonte.
Boletim Técnico n9 14 --- Solos da Faixa Litorânea Itacaré-Camamu
Bahia.
Revista Cacau Atualidades.
Informes e Relatórios Técnicos da CEPLAC, CEPEC, DEPEXe EMARC.
Hevista Theobroma.

32
o QUE :e A CEPLAC

o Plano de Recuperação Econômico-Rural da Lavoura Cacaueíra


foi criado em 1957 a fim de melhorar as condições técnicas ~ econô-
micas da cacauicultura. Cabe à Comissão Executiva do Plano de Re-
cuperação Econômico-Rural da Lavoura Cacaueira - CEPLAC -
traçar as diretrizes em que se apoia a Secretaria Geral, instalada no
Rio de Janeiro, para coordenar a execução de todos os seus trabalhos
nas regiões cacaueiras do país. Para isto dispõe de uma Superinten-
dência Regional instalada no Sul da Bahia (km 26 da rodovia Ilhéus-
Ita b\ll1.a).

A Superintendência Regional está composta, entre outros, pelo


Centro de Pesquisas do Cacau - CEPEC, Departamento de Extensão
- DEPEX, Departamento de Crédito e Incentivos - DECRI, Escola
Média de Agricultura da Região Cacaueira - EMARC e a Divisão de
Comunicação - DICOM, destinados a executar as tarefas seguintes:

CEPEC - Experimentação sÔbre o cacau nos canlpos biológico,


pedológico e s ócio- econômico e outras ati vidades i n-
dispensáveis à diversificação da economia regional.
Além de uma área de 761 ha no município de Ilhéus,
dispõe de cinco estações experimentais próprias e á-
reas em convênio com o Ministério da Agricultura ou
com fazendeiros, espalhadas nas regiões cacaueiras
dos estados da Bahia, Espírito Santo, Pará e Ama-
zonas.

DEPEX - Execução das atividades destinadas a melhorar as


condições econômicas da cacauicultura. Dispõe de 30
escritórios locais, cobrindo tôda a área cacaueira do
./
paIs.

DECRI - Empréstimo dos recursos financeiru8 destinados pela


CEP LAC aos cacauicultores a fim de pos sibilitar-lhes
a execução das práticas indispensá.veis ao melhora-
mento da la voura.

EMARC - Formação de mão-de-obra especializada (Técnicos e


Práticos Agrícolas).

DICOM - Produção de materiais audio-visuais, publicações de


nível técnico-científico e popular,tais con10 a nova sé-
rie BoletiITl Técnico, a Revista Theobroma , a re-
vista Cacau Atualidades e o jornal rural O Cacaui-
cultor.

33
Os recursos financeiros da CEPLAC prov~m da retenção de urna
taxa de 150/0 das exportações de cacau. em. amêndoas. Boa parte dêles
~ -
e aplicado no melhoramento das condiçoes de infra-estrutura regional
(abertura de estradas de penetração, eletrificação rural, saneamento
e educação).

A CEPLAC apoia ativamente os movimentos cooperativista e sin-


dicalista dos cacauicultores.

Entre as principais realizações da CEPLAC podemos citar:

1. Descobrimento de ferrugem do caf~ na região cacaueira.


2. Financiamentos no montante de Cr$78. 985. 591,04 até maio
de 1971.
3. Revenda de materiais no valor de Cr$2 6.856.587 , 13 até m.aio
de 1971.
4. Adubação de 71.447 ha de cacauais no ano de 1970 .

•••

34
COMIT2 EDITORIAI~

Paulo de T. Alvim, Diretor do CEPEC ,


Fernando Vello, Chefe da Divisão de Genética
Hermínio M. Rocha, Chefe da Divisão de Fitopatologia
Antônio H. Mariano, Chefe da Divisão de Diversificação
Antonio J. Ventocilla, Assistente da Divisão de Entomologia
Percy Cabala R., Chefe do Setor de Fertilidade
Maria Helena Alencar, Técnico da Divisão de Economia
Luis Carlos Cruz, Comunicação, IICA-CEPLAC,
Coordenador do Comitê.

EDITOR PRINCIPAL
Luis Carlos Cruz

EDITOR ASSISTENTE
José Correia de Sales

COMPOSIÇÃO
Adernoel V. Câm.ara

MONTAGEM
Ney Se~ra Costa

FOTOLITO
João C. de Oliveira

IMPRESSÃO

Edelvito P. Lavinsky

Podem- se solicitar exemplares dêste Boletim Técnico, di-


rigindo-se a: Chefe da DICOM, CEPLAC. Caixa Postal 7.
Itabuna, Bahia, Brasil.

35
ERRATA

Página 17 - 1~ coluna ~ 31' linha - onde se lê: sobre a - lei--se: so-


bre a formação Serra do Paraíso~ sugerindo então o nome
de Formação Santa Maria ~
Página 17 - 2~ coluna - 33~ linha - onde se lê: sericitito - leia-se:
sericíticoo
Página 28 - A,crescentar:
AGRADECIMEI~TOS

Os autores agradecem aos colegas Geraldo Vilas Boas, Augusto


J. Pedreira e Edson Sampaio 9 Geólogos que participaram ativam.ente
do mapeamento geológico da área e que, na época da elaboração do
presente trabalho 9 já se encontravam. em outras entidades; e à
CEPLAC, pelas facilidades oferecidas 'para a realização do trabalho"
XII- NOR.ITI IAHIA- IRAI IL LEGENDA

QUATElltNÂII'O

SE
, "
Alull ••
T.rr.~ ••
IIolod.1 d • • coe ••

rITn pOI.cio NU ""IIL


~ C. •• I.lrodol c. . .el&Ol di til ••

,0 •••Clo ...... DO ""1111.110

~
Colelfrlo dolo.!tlco • • ' . . r . .
QurUI'OI
~ Arcó'i.1

••IPO
,0 •• "Clo "UA .. IITA

~
•• 0 NaDO
'IIUo
Colcárlo

po .... çlo 'ALo.ao

m;J M.to ., ... lto


... t. CHllo.,rodo

[!] In'rull., •• 1MI,lcal

~
hol... ,.,'lro ..16t1••
Gr .... llt.. ÓCldol • ,.,.,.,di.,i••

- - COlltOto
c..... ,.. ."011 •• 410
C.at.t. 'ONr'.
'0'111.
'olho I. f . " .
'0'''....... t.
A" A'It,d, d • • • ,ratlfl.o,"

,ti" .titu'. d. follo~lo

"""'" Atitude cle froturo


ta Vllo 011 ,o.,ooclo
"lendo
Roclo.,lo pri_cl,o'
Rodo.,lo Ncunclórlo
~
-.:::, "lo

..., .. .
.... ~.. DE LOC"LIZAÇÃO

. " 'li
1\1 V VI

vu W,
lO
IX
• "'
.. ~ IM"" ...
•v lM IM

1~1"·
- .
.,
li I

I..-
I .....•

I.'I .~.
I
lIeALA APItQXIMADA I: 100.000

LEVANTAIIENTO KOlÓ.,CO 00 I\L DA ."MIA


Convinio C,plOt, Secr.tario do, Mino •• E"tr,lo • U. F. lo .
F<ltov,ofiol 0., .0. na escola I: 25 .000 do AIIr.foto Notl"ldod. - ~.5
G.Olo,iO~ A. J. PMr.' ro. J . C.S.urro, P. Q..Souto , G.S .Yi lo.8oot,
E. E. Sampa io . H.C. A.d. Az."cIo - I'.'

Você também pode gostar