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Cálculo I A - 2021-1 Revisão de funções

Revisão de funções
Importante:

Prezado aluno, sabemos que 90 páginas parece muito, mas não se assuste com o tamanho deste texto!

Preparamos este texto para ser utilizado principalmente como material de apoio, para você consul-
tar quando tiver alguma dificuldade com os conceitos e tipos básicos de função, que deveriam ter sido
estudados no Ensino Médio.

Inicie o estudo deste semana a partir da Lista de Exercı́cios de Revisão de Funções e, se tiver alguma
dificuldade com os conceitos, retorne a este texto e leia a seção correspondente.

A única exceção é a Seção 5 deste texto. Esta, nós realmente gostarı́amos que você estudasse,
independentemente de conhecer os conceitos nela abordados, antes de resolver os exercı́cios da Seção
4 da Lista de Exercı́cios.

Volte a este texto sempre que precisar, em qualquer momento ao longo do semestre.

Começamos aqui nossa caminhada rumo ao Cálculo. Bons estudos!

Sumário
1 Expressões do Primeiro Grau 3
1.1 A expressão y = bx + c . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Retas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Sinal de uma Expressão do Primeiro Grau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Coeficiente Angular × Tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Expressões do segundo grau 8


2.1 A expressão y = ax2 + bx + c . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 As raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 O Vértice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.4 Esboço de Parábolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 Estudo do Sinal de uma Expressão do 2o Grau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.6 Fatoração de uma Expressão do Segundo Grau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.7 Sobre a Fórmula de Bhaskara . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3 Estudo de sinais de Expressões 23


3.1 Estudo de Sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

4 Resolução de Inequações 27

1
5 Funções Reais a uma Variável Real 30
5.1 O Conceito de Função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5.2 Alguns exemplos básicos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.3 Uma observação importante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.4 Imagem e gráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.5 Tipos básicos de gráficos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.6 Curvas definidas por mais de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.7 Funções definidas verbalmente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

6 Funções condicionalmente definidas 41


6.1 Um exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.2 Funções condicionalmente definidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

7 Módulo e Função Modular 46


7.1 O módulo de um número real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
7.2 Função Modular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
7.3 Equações e inequações modulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
7.4 Voltando a falar do módulo de números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

8 Função Exponencial 59
8.1 Relembrando propriedades das potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
8.2 Exemplos iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
8.3 Função exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
8.4 Comparação entre exponenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
8.5 Equações e inequações exponenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

9 Funções Trigonométricas 73
9.1 O cı́rculo trigonométrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
9.2 Seno e Cosseno de t ∈ R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
9.3 Algumas relações importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
9.4 As funções seno e cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
9.5 As funções tangente e cotangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
9.6 As funções secante e cossecante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

2
1 Expressões do Primeiro Grau
Abaixo, vamos descrever uma situação do dia-a-dia.

“Ao entrarmos em um táxi, percebemos que o valor de R$6,00 já está sendo cobrado e que a esse valor
será acrescentado o produto entre a quantidade x de quilômetros percorridos e um valor fixo R$2,65.
O valor y a ser pago é expresso em reais por y = 2, 65x + 6”

Expressões como a do valor da corrida acima são chamadas expressões do 1o grau.


Para visualizar como o preço y da corrida varia em função da quantidade de quilômetros percorridos,
acesse o link https://www.geogebra.org/m/rxkkswzf.

1.1 A expressão y = bx + c
Uma expressão do 1o grau é do tipo

y = bx + c, (1)

x ∈ R, onde b e c são constantes reais, com b 6= 0. b e c são ditos, respectivamente, coeficientes angular
e linear.

Dados dois pontos P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2 ) que satisfazem a expressão (1), temos que,

y1 = bx1 + c e y2 = bx2 + c,

de modo que,
y1 − y2 = bx1 + c − (bx2 + c) = bx1 − bx2 = b(x1 − x2 ).
Portanto, se definirmos ∆y como ∆y = y1 − y2 e ∆x como ∆x = x1 − x2 , segue que,

∆y = b ∆x, (2)

de forma que,
∆y
= b. (3)
∆x
Observe que:

• (3) significa que a taxa de variação média de y em relação a x é constante e igual a b.

• (2) nos diz que quando x varia de uma quantidade ∆x, y sofre uma variação ∆y = b ∆x. Por
exemplo, se tomarmos b = 4 e x sofrer um acréscimo de 0.1, então y sofrerá um acréscimo de
4 × 0.1 = 0.4. Já se tivermos b = −2 e x sofrer um acréscimo de 0.1, então y sofrerá uma variação
de −2 × 0.1 = −0.2, ou seja, sofrerá um decréscimo de 0.2.

3
1.2 Retas
A representação de y = bx + c, x ∈ R, no plano cartesiano, dada pelos pares ordenados (x, y) da forma
(x, bx + c) é uma reta não-vertical.

Quando b = 0, temos a equação y = c, que é a equação de uma reta horizontal, ou seja, uma reta
paralela ao eixo y. Neste caso, observa-se que para cada valor de x, o y associado é o mesmo, formando
pontos da forma (x, c).

Se b > 0, então a medida que aumentamos x, isto é, variando de x1 para x2 , onde x1 < x2 , temos
da equação (2) que o valor de y correspondente também aumenta, ou seja y1 < y2 , onde yi = bxi + c,
i = 1, 2. Assim o ponto P2 = (x2 , y2 ) estará acima do ponto P1 = (x1 , y1 ), indicando que estamos diante
de uma reta crescente. Utilizando este mesmo raciocı́nio, se b < 0, então a medida que aumentamos
∆y
x, o valor de y diminui, pois = b. Desta forma, o ponto P2 = (x2 , y2 ) estará abaixo do ponto
∆x
P1 = (x1 , y1 ), indicando que estamos diante de uma reta decrescente.

Vale a pena ressaltar que, quando b 6= 0, há interseção com os dois eixos coordenados:

• Para descobrir a interseção da reta com o eixo x, fazemos y = 0, pois um ponto do eixo x é da
forma (x, 0). Sendo assim, temos que
c
y = 0 ⇔ bx + c = 0 ⇔ x = − .
b
 c 
Portanto, o ponto de interseção da reta com o eixo x é o ponto − , 0 .
b
4
• Para descobrir a interseção da reta com o eixo y, basta fazemos x = 0, pois um ponto do eixo y
é da forma (0, y). Sendo assim, temos que

x = 0 ⇒ y = b(0) + c = c.

Portanto, o ponto de interseção da reta com o eixo y é o ponto (0, c).

> Onde ocorrem as interseções com os eixos das retas acima?

1.3 Sinal de uma Expressão do Primeiro Grau


Vamos pensar no seguinte problema:

“Uma pessoa tem por objetivo comprar um novo celular que custa R$2.480,00 e depois comprar um
pacote de viagem. Esta pessoa possui R$500,00 e consegue economizar R$180,00 por mês. Em que
meses ela estará juntando dinheiro para a viagem?”

O exemplo acima é um caso particular do que chamamos de estudo de sinais de expressões e, neste
caso, desejamos estudar o sinal de uma expressão do primeiro grau. Para fazermos isto, vamos apro-
veitar nosso conhecimento de retas da seção anterior.

Em geral, temos a seguinte situação para o sinal de y = bx + c:

• Se b = 0, o sinal de y = bx + c é o mesmo da constante c, para todo x ∈ R, se c 6= 0. Se c = 0,


temos y = 0.
c
• Se b > 0, vimos anteriormente que a reta y = bx + c é crescente e “corta” o eixo x na raiz x = − .
b
Portanto, a reta y = bx + c estará acima do eixo x após a raiz e estará abaixo do eixo x antes
da raiz. Estar acima do eixo x, significa que a ordenada y do ponto da reta (x, y) = (x, bx + c) é
positiva e, da mesma forma, estar abaixo do eixo x, significa que a ordenada y do ponto da reta
(x, y) = (x, bx + c) é negativa. Temos assim, que
c
y = bx + c > 0 ⇔ x > − ;
b
c
y = bx + c < 0 ⇔ x < − e
b
c
y = bx + c = 0 ⇔ x = − .
b

• Se b < 0, vimos anteriormente que a reta y = bx + c é decrescente e “corta” o eixo x na raiz


c
x = − . Portanto, a reta y = bx + c estará acima do eixo x antes da raiz e estará abaixo do eixo
b
x após raiz. Portanto a ordenada y do ponto da reta (x, y) = (x, bx + c) é positiva antes da raiz
e negativa após a raiz. Temos assim, que
c
y = bx + c > 0 ⇔ x < − ;
b
5
c
y = bx + c < 0 ⇔ x > − e
b
c
y = bx + c = 0 ⇔ x = − .
b

x
Observe o sinal da expressão y = + 1 da segunda figura da página 4 (em verde).
2

> Note, no gráfico, que y > 0 corresponde à parte do gráfico acima do eixo x e que y < 0 corres-
ponde à parte do gráfico abaixo do eixo x

Repare o sinal da expressão y = −2x + 4 da terceira figura da página 2 (em vermelho).

De posse dos conhecimentos adquidos anteriormente, vamos resolver o problema do exemplo inicial
e determinar em que meses ela estará juntando dinheiro para a viagem?

Observe que após x meses, a pessoa terá economizado 500 + 180x. Assim terá juntado o dinheiro
para o celular quando
500 + 180x − 2480 = 0.
Portanto, ela passará a economizar para a viagem quando

500 + 180x − 2480 > 0.

Sendo assim, o problema se resume ao estudo do sinal da expressão.

y = 500 + 180x − 2480 = 180x − 1980.

Como estamos diante de uma expressão do primeiro grau, nosso primeiro passo é encontrar a raiz da
equação 180x − 1980 = 0. Neste caso, temos 180x − 1980 = 0 ⇔ x = 11. O segundo passo é verificar
o sinal do coeficiente b do termo de primeiro grau. Como b = 180 > 0, a reta associada à expressão
y = 180x − 1980 é crescente e, portanto, y = 180x − 1980 é positivo depois da raiz e negativo, antes.
Ou seja, temos que.
y = 180x − 1980 > 0 ⇔ x > 11;
y = 180x − 1980 < 0 ⇔ x < 11 e
y = 180x − 1980 = 0 ⇔ x = 11.
Logo, em 11 meses terá o dinheiro para o celular e a partir de 11 meses, ou seja, do décimo segundo
mês em diante,ela já estará economizando para a viagem.

6
1.4 Coeficiente Angular × Tangente
Dada a expressão y = bx + c, lembre-se que na expressão (3), vimos que
∆y
b= .
∆x
Conforme você pode ver na figura abaixo, o coeficiente angular b é igual à tangente do ângulo que a
reta faz com o eixo x, marcando o ângulo a partir do semieixo positivo dos x até a reta, no sentido
anti-horário.

Por esta razão, o coeficiente b é dito a inclinação da reta de equação y = bx + c.

Observações:

(1) Reta vertical: uma reta vertical é descrita da forma x = k, k ∈ R. Neste caso, o ângulo formado
é de 90o e não existe tangente desse ângulo. Mas, observe que esta reta não pode ser colocada na
forma y = bx + c que é a expressão com a qual estamos trabalhando.
(2) Reta horizontal: uma reta horizontal é descrita da forma y = c. Sendo horizontal, o ângulo formado
é de 0o e, de fato, b = 0 = tan(0o ).
(3) Retas paralelas possuem o mesmo coeficiente angular.
(4) Conhecendo o coeficiente angular b de uma reta e um ponto (x0 , y0 ) pertencente à reta, podemos
determinar sua equação, a saber:
y = b(x − x0 ) + y0 . (4)
De fato, se (x0 , y0 ) é uma ponto da reta y = bx + c, isto significa que este ponto satisfaz esta
equação e, portanto, temos que y0 = bx0 + c. Desta forma, segue que
y0 = bx0 + c ⇔ c = y0 − bx0 .
Substituindo o resultado acima na equação da reta, temos que
y = bx + c ⇒ y = bx + y0 − bx0 = b(x − x0 ) + y0 .
Esse fato será muito importante ao longo da disciplina! Guarde no coração!
(5) Dados dois pontos sobre uma reta, podemos calcular o coeficiente angular b da reta através da
∆y
equação b = e, escollhendo um dos pontos, somos capazes de escrever a equação da reta
∆x
utilizando a equação (4).

7
2 Expressões do segundo grau
Abaixo, vamos descrever uma situação, para o caso particular de televisões, mas que fabricantes, de
um modo geral, vivenciam.

“Um fabricante de televisões possui uma demanda de aparelhos, em função do preço x, dada por
−3x+6.500 (Exercı́cio 6.9 de expressões do primeiro grau). Supondo que toda a demanda seja vendida,
teremos uma receita de −3x2 + 6.500x (receita = quantidade vendida × o preço de venda). Levando-se
em conta que o custo de fabricação de cada TV é de R$1.000,00, o custo total das TVs vendidas (toda
a demanda) é de 1.000(−3x + 6.500) = −3.000x + 6.500.000. Desta forma, o lucro y obtido com a
venda das TVs é dado por (lucro = receita − custo)”

y = −3x2 + 6.500x − (−3.000x + 6.500.000)


⇒ y = −3x2 + 9.500x − 6.500.000

Expressões como a da lucro obtida acima são chamadas de expressões do 2o grau.

Clique no link https://www.geogebra.org/m/nduc8uqu e observe a variação do lucro y em função


do preço x. Aproveite para pensar nas seguintes perguntas:

(1) Há um valor que seria o maior valor que y assume? Consegue perceber um valor aproximado para
esse y máximo? E para o valor de x associado a esse y máximo?

(2) O que significa a parte do gráfico em que y é negativo? Nesse caso, a parte correspondente do
gráfico está acima ou abaixo do eixo x?

(3) Quando o gráfico “encontra” o eixo x, qual o valor de y? Qual o valor aproximado do maior valor
de x onde este “encontro” acontece?

(4) Como saber o valor exato de tudo o que foi perguntado acima? Se não sabe, continue a leitura que
você vai descobrir!

2.1 A expressão y = ax2 + bx + c


Uma expressão do 2o grau é do tipo

y = ax2 + bx + c, (5)

x ∈ R, onde a, b e c são constantes reais, com a 6= 0. Note que se a = 0, temos uma expressão do
1o grau, estudada anteriormente. A representação de y = ax2 + bx + c, x ∈ R, no plano cartesiano,
dada pelos pares ordenados (x, ax2 + bx + c), ou seja, o gráfico de uma expressão do 2o grau é uma

8
curva chamada de parábola, que intersecta o eixo y no ponto (0, c), cuja concavidade é para cima (∪),
quando a > 0 e é para baixo (∩), quando a < 0. Observe os exemplos a seguir:

Parábola (i): y = 2x2 − 8x + 6 Parábola (ii): y = 4 − x2

Parábola (iii): y = x2 − 2x + 2 Parábola (iv): y = −x2 + 4x − 4

Nos exemplos de parábolas acima, marcamos os pontos importantes V1 , V2 , V3 e V4 , que são os


vértices das parábolas. A notação usual para a abscissa e a ordenada do vértice V de uma parábola é,
respectivamente, xv e yv . Assim , temos que V = (xv , yv ). Nas parábolas (i) e (iii), como o coeficiente
do termo de segundo grau é positivo, i.e. a > 0, a ordenada do vértice, yv , corresponde ao menor valor
que a expressão quadrática assume em toda a reta real. Já nas parábolas (ii) e (iv), sendo a < 0, a
ordenada do vértice, yv , corresponde ao maior valor que a expressão quadrática assume em toda a reta
real.

Observe que nas parábolas (i), (ii) e (iv) há interseção da parábola com o eixo x, mas, na parábola
(iii), não existe interseção da parábola com o eixo x. Em todos os exemplos, entretanto, há interseção
com o eixo y.

2.2 As raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0


As raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0 está entre os assuntos mais lembrados
√ da Matemática do Ensino
−b ± ∆
Médio. Imediatamente nos vem à mente a clássica expressão , que, como tantas outras, faz
2a
parte do nosso repertório de expressões lembradas mas, não necessariamente entendidas.

Esta expressão é parte da famosa “Fórmula de Bhaskara” para solução da equação do segundo
grau. Esperamos deixar claro a importância do “∆”, ∆ = b2 − 4ac, associado a uma expressão do
segundo grau em relação ao estudo das raı́zes (interseções com o eixo x). Abaixo apresentaremos a

9
igualdade que permite concluir a fórmula das raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0 e, se você tiver curio-
sidade de saber como aparece esse “tal delta”, não deixe de ler a seção “Sobre a Fórmula de Bhaskara”.

Através de umas manipulações algébricas que são feitas em detalhes na seção referida acima, temos
que
 2
2 b ∆
y = ax + bx + c = a x + − , (6)
2a 4a

onde ∆ = b2 − 4ac, de modo que


 2
2 b ∆
ax + bx + c = 0 ⇔ x + = 2.
2a 4a

Portanto, temos que a equação ax2 + bx + c = 0:

• possui duas soluções reais distintas se, e somente se, ∆ > 0, sendo estas
√ √ √ √
b ∆ −b + ∆ b ∆ −b − ∆
x1 = − + = e x2 = − − = ,
2a 2a 2a 2a 2a 2a
ou, escrito de forma condensada
√ √
b ∆ −b ± ∆
x=− ± = ;
2a 2a 2a

• possui duas soluções reais iguais se, e somente se, ∆ = 0, sendo esta
b
x=− ;
2a

• não possui soluções reais se, e somente se, ∆ < 0, pois um número real ao quadrado é sempre
positivo ou nulo (quando o próprio número é zero).

Para visualizar a variação do número de raı́zes em função do sinal de ∆ alterando os valores de a,


b e c, acesse o link https://www.geogebra.org/m/uvemxsyy.

Exemplo 2.1 Encontre as raı́zes, caso existam, das equações exemplificadas pelas parábolas de (i) a
(iv) dadas anteriormente, ou seja, das equações abaixo.

(a) 2x2 − 8x + 6 = 0 (c) x2 − 2x + 2 = 0

(b) 4 − x2 = 0 (d) −x2 + 4x − 4 = 0

Solução:
(a) y = 2x2 − 8x + 6: Neste caso, temos que,

∆ = b2 − 4ac = (−8)2 − 4(2)(6) = 64 − 48 = 16 > 0.

10
Portanto, a equação x2 − 3x + 2 = 0 possui duas raı́zes reais distintas, sendo elas,

−(−8) + 16 8+4 12
x1 = = = =3
2(2) 4 4
e √
−(−8) − 16 8−4 4
x2 = = = = 1.
2(2) 4 4
(b) y = 4 − x2 : Neste caso, temos que,

∆ = b2 − 4ac = (0)2 − 4(−1)(4) = 16 > 0.

Portanto, a equação 4 − x2 = 0 possui duas raı́zes reais distintas, sendo elas,



−(0) + 16 4
x1 = = =2
2(1) 2
e √
−(0) − 16 4
x2 = = − = −2.
2(1) 2
Você poderia ter resolvido esta igualdade de um outra forma bem simples:

4 − x2 = 0 ⇔ x2 = 4 ⇔ x − 2 ou x = −2.

(c) y = x2 − 2x + 2: Neste caso, temos que,

∆ = b2 − 4ac = (−2)2 − 4(1)(2) = 4 − 8 = −4 < 0.

Portanto, a equação x2 − 2x + 2 = 0 não possui raı́zes reais .

(d) y = −x2 + 4x − 4: Neste caso, temos que,

∆ = b2 − 4ac = (4)2 − 4(−1)(−4) = 16 − 16 = 0.

Portanto, a equação −x2 + 4x − 40 possui duas raı́zes reais iguais, sendo elas,
−(4) −4
x1 = x2 = = =2
2(−1) −2

2.3 O Vértice
 
b ∆
O vértice de uma parábola é dado por V = (xv , yv ) = − ,− . Mas, o que esse ponto tem de
2a 4a
especial a ponto de ser ressaltado?

Vamos supor primeiro que a > 0 e voltar à igualdade 6 para respondermos essa pergunta. Observe
que  2
b ∆
y =a x+ −
2a 4a
assumirá o valor mı́nimo quando (x + b/2a)2 = 0, pois esse termo, por ser o quadrado de um número
b
real, é nulo ou positivo. Logo, se a > 0, xv = − é a abscissa do ponto onde a ordenada y tem o
2a

valor mı́nimo, a saber, − . Na próxima seção, ao estudarmos parábolas, veremos que se a > 0, a
4a
11
parábola possui concavidade voltada para cima. Desta forma, verificaremos geometricamente que é no
vértice que se dá o menor valor da ordenada y da parábola.

De forma análoga, se a < 0, temos que


 2
b ∆
y =a x+ −
2a 4a

assumirá o valor máximo quando (x + b/2a)2 = 0, pois esse termo é nulo ou positivo. Logo, se a < 0,
b ∆
xv = − é a abscissa do ponto onde a ordenada y tem o valor máximo, a saber, − . Na próxima
2a 4a
seção, ao estudarmos parábolas, veremos que se a < 0, a parábola possui concavidade voltada para
baixo. Desta forma, verificaremos geometricamente que é no vértice que se dá o maior valor da orde-
nada y da parábola.

Exemplo 2.2 Encontre o vértice das parábolas abaixo (parábolas (i), (ii), (iii) e (iv)).

(a) y = 2x2 − 8x + 6 (c) y = x2 − 2x + 2

(b) y = 4 − x2 (d) y = −x2 + 4x − 4

Solução:
(a) y = 2x2 − 8x + 6: Conforme visto no Exemplo 2.1 a), ∆ = 16, portanto
     
b ∆ −8 16 8 16
V = − ,− = − ,− = ,−
2a 4a 2(2) 4(2) 4 8
= (2, −2)

(b) y = 4 − x2 : Conforme visto no Exemplo 2.1 (a), ∆ = 16, portanto


     
b ∆ 0 16 16
V = − ,− = − ,− = 0,
2a 4a 2(−1) 4(−1) 4
= (0, 4)

(c) y = x2 − 2x + 2: Conforme visto no Exemplo 2.1 c), ∆ = −4, portanto


     
b ∆ −2 −4 2 4
V = − ,− = − ,− = ,
2a 4a 2(1) 4(1) 2 4
= (1, 1)

(d) y = −x2 + 4x − 4: Conforme visto no Exemplo 2.1 (c), ∆ = 0, portanto


     
b ∆ 4 0 4
V = − ,− = − ,− = ,0
2a 4a 2(−1) 4(−1) 2
= (2, 0)

Exemplo 2.3 Voltando ao exemplo inicial do fabricante de televisões, determine o lucro máximo que
ele pode conseguir e o preço aplicado onde isto ocorre.

12
Solução: Vimos que a expressão do lucro y em função do preço x é dada por,
y = −3x2 + 9.500x − 6.500.000.
b
Como nesta expressão do segundo grau, temos a = −3 < 0, conforme observado, xv = − fornece a
2a

abscissa do ponto onde a ordenada y tem o valor máximo e este valor máximo é dado por yv = − .
4a
Desta forma, como ∆ = (−9.500)2 − 4(−3)(−6.500.0000) = 12.250.000, o lucro máximo obtido é
de
∆ 12.250.000 12.250.000 3.062.500
y=− =− = = ≈ 1.020.833, 33
4a 4(−3) 12 3
e ele ocorre quando o preço aplicado é de
b 9.500 9.500 4750
x=− =− = = ≈ 1583, 33.
2a 2(−3) 6 3
Observe que com a teoria estudada, você consegue fornecer valores exatos para o lucro máximo e para
o preço associado a ele, valores estes, que antes podiam ser dados apenas de forma aproximada pela
observação do gráfico do lucro.

2.4 Esboço de Parábolas


Vimos que a representação de y = ax2 + bx + c, x ∈ R, a, b, c constantes reais e a 6= 0 , no plano
cartesiano, dada pelos pares ordenados (x, ax2 + bx + c), ou seja, o gráfico de uma expressão do 2o grau
é uma curva chamada de parábola, cuja concavidade é para cima (∪), quando a > 0 e é para baixo
(∩), quando a < 0.

Nesta seção, vamos dividir o esboço de parábolas em seis diferentes casos, dependendo do sinal de a
e do sinal de ∆, que, conforme visto, se relaciona com o número de raı́zes da equação ax2 + bx + c = 0,
ou equivalentemente, com o número de interseções da parábola com o eixo x.

Para desenhar uma parábola, temos que determinar a sua concavidade, o seu vértice e onde ela
intersecta os eixos coordenados. Observe que a reta dada por x = xv é o eixo de simetria da parábola.
Isto significa que o esboço da parte da parábola para x > xv é o espelho (reflexo) do esboço da parte
da parábola para x < xv e vice-versa, é claro.

Dependendo do coeficiente do termo de segundo grau, temos que: se a > 0, a parábola possui conca-
vidade voltada para cima e, se a < 0, a parábola tem concavidade voltada para baixo.

(a) a > 0: Concavidade para cima (b) a < 0: Concavidade para baixo

13
Note que, quando um ponto (x, y) está sobre o eixo y, sua primeira coordenada, ou seja, a abscissa
do ponto, é igual a zero. Assim, para determinar os valores y em que a parábola y = ax2 + bx + c
intersecta o eixo y, fazemos x = 0, nesta equação. Desta forma, o valor y procurado deve ser a solução
de y = a(0)2 + b(0) + c = 0, ou seja, y = c. Portanto, a parábola intersecta o eixo y no ponto (0, c).

Por outro lado, note que, quando um ponto (x, y) está sobre o eixo x, sua segunda coordenada,
ou seja, a ordenada do ponto, é igual a zero. Assim, para determinar os valores x em que a parábola
y = ax2 +bx+c intersecta o eixo x, fazemos y = 0, nesta equação. Desta forma, os valores x procurados
devem ser as soluções da equação do segundo grau ax2 + bx + c = 0, estudadas na seção anterior e
dadas pela fórmula de Bhaskara

−b ± ∆
x= , onde ∆ = b2 − 4ac.
2a
Conforme visto, de acordo com o valor de ∆, podemos ter três tipos de soluções para a equação
ax2 + bx + c = 0.

Caso 1: ∆ = b2 − 4ac > 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 tem como solução dois valores reais distintos, dados por
√ √
−b − ∆ −b + ∆
x1 = e x2 = ,
2a 2a
de modo que a parábola intersecta o eixo x nos pontos (x1 , 0) e (x2 , 0). Vamos dividir este caso em
dois subcasos, em função do sinal de a.

(1a) ∆ = b2 − 4ac > 0 e a > 0. (1b) ∆ = b2 − 4ac > 0 e a < 0.

Como a > 0, a concavidade da Como a < 0, a concavidade da


parábola é para cima. parábola é para baixo.

Caso 2: ∆ = b2 − 4ac = 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 tem uma única solução, dada por
b
x1 = x2 = − .
2a
Portanto, a parábola intersecta o eixo x no ponto (x1 , 0). Como anteriormente feito, vamos dividir este
caso em dois subcasos, em função do sinal de a.

14
(2a) ∆ = b2 − 4ac = 0 e a > 0. (2b) ∆ = b2 − 4ac = 0 e a < 0.

Como a > 0, a concavidade da Como a < 0, a concavidade da


parábola é para cima. parábola é para baixo.

Caso 3: ∆ = b2 − 4ac < 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 não possui solução real. Como feito antes, vamos dividir
este caso em dois subcasos, em função do sinal de a.

(3a) ∆ = b2 − 4ac < 0 e a > 0. (3b) ∆ = b2 − 4ac < 0 e a < 0.

Como a > 0, a concavidade da Como a < 0, a concavidade da


parábola é para cima. parábola é para baixo.

Consulte o link https://www.geogebra.org/m/k4zwu7hb para esboçar diferentes parábolas alte-


rando os valores de a, b e c. É bem divertido!

Observe que:

• a parábola (i), dada por y = 2x2 −8x+6 ,se enquadra no Caso (1a), pois ∆ = 16 > 0 e a = 2 > 0:
concavidade voltada para cima e com duas interseções com o eixo x;

• a parábola (ii), dada por y = 4 − x2 , se enquadra no Caso (1b), pois ∆ = 16 > 0 e a = −1 < 0:
concavidade voltada para baixo e com duas interseções com o eixo x;

• a parábola (iii), dada por y = x2 − 2x + 2, se enquadra no Caso (3a), pois ∆ = −4 < 0 e


a = 1 > 0: concavidade voltada para cima e nenhuma interseção com o eixo x;

• a parábola (iv), dada por y = −x2 + 4x − 4 se enquadra no Caso (2b), pois ∆ = 0 e a = −1 < 0:
concavidade voltada para baixo e com apenas uma interseção com o eixo x.

15
2.5 Estudo do Sinal de uma Expressão do 2o Grau
Voltando ao nosso exemplo inicial, suponha que o fabricante queira saber o intervalo de preços no qual
ele pode trabalhar, de forma que obtenha lucro. Observe que obter lucro, significa que a expressão que
representa o lucro, que é a expressão y = −3x2 + 9.500x − 6.500.000, deve ser positiva. Desta forma,
o que o fabricante deseja saber é quando

−3x2 + 9.500x − 6.500.000 > 0.

Análises como a acima são conhecidas como estudo de sinais de expressões e, neste caso, desejamos
estudar o sinal de uma expressão do segundo grau. Para fazermos isto, vamos aproveitar nosso conhe-
cimento de parábolas da seção anterior.

Conforme vimos, a representação de y = ax2 + bx + c, x ∈ R, a, b, c constantes reais e a 6= 0 , no


plano cartesiano, dada pelos pares ordenados (x, ax2 + bx + c), ou seja, o gráfico de uma expressão do
2o grau é uma parábola, cuja concavidade é para cima (∪), quando a > 0 e é para baixo (∩), quando
a < 0 e cuja interseção com o eixo x é regida pelo valor de ∆.

Desta forma, repare que querer determinar os valores de x para os quais ax2 + bx + c > 0, equivale
a descobrir os valores de x para os quais a ordenada y dos pontos da parábola y = ax2 + bx + c é
positiva, uma vez que um ponto (x, y) desta parábola é da forma (x, ax2 + bx + c). Agora, repare que
os valores de x para os quais a ordenada y da parábola é positiva, são os valores de x correspondentes
às partes da parábola que estão acima do eixo x. Analogamente, para determinar os valores de x para
os quais ax2 + bx + c < 0 precisamos descobrir os valores de x para os quais a ordenada y dos pontos
da parábola y = ax2 + bx + c é negativa, que são os valores de x correspondentes às partes da parábola
que estão abaixo do eixo x. Lembre-se que você já sabe os valores de x tais que ax2 + bx + c = 0,
que são dados pela fórmula de Bhaskara, quando ∆ ≥ 0, e que são os pontos da parábola sobre o eixo x.

Vamos então dividir o estudo de sinais de uma expressão do segundo grau analisando o valores de
∆ e de a, da mesma forma feita no esboço de parábolas da seção anterior.

Caso 1: ∆ = b2 − 4ac > 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 tem como solução dois valores reais distintos, dados por,
√ √
−b − ∆ −b + ∆
x1 = e x2 = ,
2a 2a
de modo que a parábola intersecta o eixo x nos pontos (x1 , 0) e (x2 , 0).

Caso 1a: ∆ = b2 − 4ac > 0 e a > 0.


Como a > 0, a concavidade da parábola é
para cima. Portanto, a parábola está abaixo
do eixo x entre as raı́zes e acima do eixo x,
fora. Ou seja,

• y = ax2 + bx + c > 0, para x < x1 ou


x > x2 .

• y = ax2 + bx + c < 0, para x1 < x < x2 .

16
Caso 1b: ∆ = b2 − 4ac > 0 e a < 0.
Como a < 0, a concavidade da parábola é
para baixo. Portanto, a parábola está acima
do eixo x entre as raı́zes e abaixo do eixo x,
fora. Ou seja,
• y = ax2 + bx + c > 0, para x1 < x < x2 .
• y = ax2 +bx+c < 0, para x < x1 ou x > x2 .

Caso 2: ∆ = b2 − 4ac = 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 tem uma única solução, dada por,
b
x1 = x2 = − .
2a
Portanto, a parábola intersecta o eixo x no ponto (x1 , 0).

Caso 2a: ∆ = b2 − 4ac = 0 e a > 0.


Como a > 0, a concavidade da parábola é
para cima. Portanto, tirando o ponto x1 =
b
− , onde y = 0 e a parábola “toca” o eixo
2a
x, temos que a parábola está sempre acima
do eixo x. Ou seja,
b
• y = ax2 + bx + c > 0, para x 6= − .
2a

Caso 2b: ∆ = b2 − 4ac = 0 e a < 0.


Como a < 0, a concavidade da parábola é
para baixo. Portanto, tirando o ponto x =
b
− , onde y = 0 e a parábola “toca” o eixo
2a
x, temos que a parábola está sempre abaixo
do eixo x. Ou seja,
b
• y = ax2 + bx + c < 0, para x 6= − .
2a

Caso 3: ∆ = b2 − 4ac < 0.

Neste caso, a equação ax2 + bx + c = 0 não possui solução real.

17
Caso 3a: ∆ = b2 − 4ac < 0 e a > 0.
Como a equação ax2 + bx + c = 0 não possui
soluções reais, a parábola não intersecta o
eixo x.
Como a > 0, a concavidade da parábola é
para cima. Portanto, temos que a parábola
está sempre acima do eixo x para qualquer
valor de x. Ou seja,

• y = ax2 + bx + c > 0, para x ∈ R.

Caso 3b: ∆ = b2 − 4ac < 0 e a < 0.


Como a equação ax2 + bx + c = 0 não possui
soluções reais, a parábola não intersecta o
eixo x.
Como a < 0, a concavidade da parábola é
para baixo. Portanto, temos que a parábola
está sempre abaixo do eixo x para qualquer
valor de x. Ou seja,

• y = ax2 + bx + c < 0, para x ∈ R.

De posse dos conhecimentos adquidos anteriormente, vamos resolver o problema do exemplo inicial
e determinar, de forma exata e não somente aproximada, o intervalo de preços no qual o fabricante
possui lucro. Ou seja, vamos determinar para que valores de x, tem-se y = −3x2 +9.500x−6.500.000 >
0. Neste caso, como ∆ = (−9.500)2 − 4(−3)(6.500.0000) = 12.250.000 > 0, temos que a equação
−3x2 + 9.500x − 6.500.000 = 0 possui duas raı́zes reais distintas. São elas,

−9.500 + 12.250.000 −9.500 + 3.500 −6.000
x1 = = = = 1.000
2.(−3) −6 −6
e √
−9.500 − 12.250.000 −9.500 − 3.500 −13.000
x2 = = = = 3.250
2.(−3) −6 −6
de modo que a parábola intersecta o eixo x nos pontos (1.000, 0) e (3.250, 0).

Como a = −3 < 0, a parábola possui concavidade voltada para baixo e, portanto, o valor do lu-
cro y será positivo quando o preço x estiver entre as raı́zes. Sendo assim, temos que

y = −3x2 + 9.500x − 6.500.000 > 0 ⇔ x ∈ (1.000, 3.250)

Observe que lucro negativo significa prejuı́zo e, portanto, deve ser evitado!

Vamos aproveitar para verificar os sinais das expressões dadas pelas parábolas de (i) a (iv):

• a parábola (i), dada por y = 2x2 − 8x + 6, se enquadra no Caso (1a): possui duas raı́zes reais
distintas, a saber, x1 = 3 e x2 = 1, e tem a = 2 > 0. Portanto, a ordenada y é negativa entre as

18
raı́zes e positiva, fora. Ou seja,

y = 2x2 − 8x + 6 > 0 ⇔ x < 1 ou x > 3;


y = 2x2 − 8x + 6 < 0 ⇔ 1 < x < 3;
y = 2x2 − 8x + 6 = 0 ⇔ x = 1 ou x = 3;

• a parábola (ii), dada por y = 4 − x2 , se enquadra no Caso (1b): possui duas raı́zes reais distintas,
a saber, x1 = 2 e x2 = −2, e tem a = −1 < 0. Portanto, a ordenada y é positiva entre as raı́zes
e negativa, fora. Ou seja,

y = 4 − x2 > 0 ⇔ −2 < x < 2;


y = 4 − x2 < 0 ⇔ x < −2 ou x > 2;
y = 4 − x2 = 0 ⇔ x = −2 ou x = 2;

• a parábola (iii), dada por y = x2 − 2x + 2, se enquadra no Caso (3a): não possui raı́zes reais e
tem a = 1 > 0. Portanto, a ordenada y é positiva em toda reta. Ou seja,

y = x2 − 2x + 2 > 0 ⇔ x ∈ R;

• a parábola (iv), dada por y = −x2 + 4x − 4 se enquadra no Caso (2b): possui apenas uma raiz
real, a saber, x1 = x2 = 2, e tem a = −1 < 0: Portanto, a ordenada y é negativa para todo x
diferente da raiz. Ou seja,

y = −x2 + 4x − 4 < 0 ⇔ x 6= 2
y = −x2 + 4x − 4 = 0 ⇔ x = 2.

2.6 Fatoração de uma Expressão do Segundo Grau


Se a expressão y = ax2 + bx + c, x ∈ R, a, b, c constantes reais e a 6= 0 é tal que ∆ ≥ 0, podemos
fatorar esta expressão como o produto de duas expressões de primeiro grau. Vamos dividir em dois
casos:

1) Se ∆ > 0, temos duas raı́zes reais distintas, dadas por,


√ √
−b − ∆ −b + ∆
x1 = e x2 = .
2a 2a
Neste caso, com algumas manipulações algébricas temos que,
   2
2 b c b ∆
y = ax + bx + c = a x + + =a x+ −
a a 2a 4a
√ !! √ !!
−b − ∆ −b + ∆
= a x− x−
2a 2a
= a (x − x1 ) (x − x2 )

2) Se ∆ = 0, temos duas raı́zes reais iguais,

b
x1 = x2 = − .
2a

19
Neste caso, temos que
   2
2 b c b ∆
y = ax + bx + c = a x + + =a x+ −
a a 2a 4a
 2
b
= a x+
2a
= a (x − x1 )2

Vamos fatorar as expressões dadas pelas parábolas de (i) a iv):


• a parábola (i), dada por y = 2x2 − 8x + 6, possui duas raı́zes reais distintas, a saber, x1 = 3 e
x2 = 1. Portanto,
 
2 b c
y = 2x − 8x + 6 = a x + + = a (x − x1 ) (x − x2 )
a a
= 2 x2 − 4x + 3


= 2 (x − 1) (x − 3) ;

• a parábola (ii), dada por y = 4 − x2 , possui duas raı́zes reais distintas, a saber, x1 = 2 e x2 = −2.
Portanto,
 
2 b c
y =4−x = a x+ + = a (x − x1 ) (x − x2 )
a a
= −1 x2 − 4 = −1 (x − (−2)) (x − 2)


= −1 (x + 2) (x − 2) ;

• a parábola (iii), dada por y = x2 − 2x + 2, não possui raı́zes reais. Portanto, não podemos
fatorá-la (no ambiente dos números reais);

• a parábola (iv), dada por y = −x2 + 4x − 4, possui apenas uma raiz real, a saber, x1 = x2 = 2.
Portanto,
 
b c
2
y = −x + 4x − 4 = a x + + = a (x − x1 )2
a a
= − (x − 2)2 .

2.7 Sobre a Fórmula de Bhaskara


Para resolver a equação ax2 +bx+c = 0, vamos, inicialmente, pensar em como resolvemos uma equação
mais simples, que é uma equação do tipo x2 + c = 0, isto é, a equação ax2 + bx + c = 0, quando a = 1
e b = 0. Neste caso, temos que

x2 + c = 0 ⇔ x2 = −c,

que terá uma única solução real, a saber, x = 0, se c = 0; terá duas soluções reais, a saber, x = ± −c,
se c < 0 (nesse caso −c > 0) e, finalmente, não terá solução real, se c > 0, pois se x é um elemento do
conjunto dos números reais, x2 que é este número elevado ao quadrado, ou ainda, este número vezes ele
próprio, é sempre maior do que zero ou igual a zero, nunca podendo ser negativo. Nesse caso, você deve
ter aprendido que a equação só admite soluções complexas, mas o conjunto dos números imaginários

20
não terá parte nesta revisão, que tem por objetivo prepará-lo para o cálculo de funções reais de uma
variável real.
b c
A ideia por trás dos cálculos que se seguirão é transformar a equação x2 + x + numa equação
a a
parecida com a anterior. O que é este “parecido”? É escrevê-la como um quadrado perfeito mais
uma constante, isto é, na forma (x + k1 )2 + k2 , se for possı́vel, é claro. Chamamos este processo de
completar quadrados. (Ele será bastante utilizado no curso. Guarde-o com carinho!) Para tal, va-
mos primeiro recordar a fórmula do quadrado de uma soma: se x e k1 são dois números reais, então
(x + k1 )2 = x2 + 2k1 x + k12 (este é o quadrado perfeito ao qual nos referimos).

Partindo da equação
ax2 + bx + c = 0,
como a > 0, vamos reescrevê-la como abaixo, onde colocamos a em evidência,
 
2 b c
a x + x+ = 0.
a a
b c
O próximo passo é tentar escrever o x2 + x + como um quadrado perfeito mais uma constante,
a a
b c
isto é, na forma (x + k1 ) + k2 = x + 2k1 x + k1 + k2 é comparar as duas expressões (x2 + x + e
2 2 2
a a
x2 + 2k1 x + k12 + k2 ). Observamos que o coeficiente do termo x2 de ambas é 1 e que o coeficiente do
b
termo x em uma é 2k1 e na outra é . Precisamos então fazê-los iguais, i.e.
a
b b
2k1 = ∴ k1 = .
a 2a
Com isso, o quadrado perfeito seria
2  2
b2

2 b 2 b b b
(x + k1 ) = x + =x +2· x+ = x2 + 2 · x + 2 .
2a 2a 2a 2a 4a
b c
Mas isso não é igual a x2 + x + ... e agora?
a a
E agora, é a hora que entrará o papel da constante k2 . Vamos trabalhar na equação que temos,
qual seja,    
2 b c 2 b c
a x + x+ =a x +2· x+ = 0,
a a 2a a
b2
somando e subtraindo, dentro do parênteses, um mesmo termo, no caso 2 , o que não altera a equação,
4a
mas fará nosso quadrado perfeito aparecer, conforme veremos a seguir.

Obtemos então
c b2 b2
 
2 b
a x +2· x+ + 2 − 2 = 0.
2a a 4a 4a
Agrupando os termos dentro dos parênteses de forma mais visual, temos

b2 b2
  
2 b c
a x + 2 · x + 2 + − 2 = 0,
2a 4a a 4a

21
ou, equivalentemente, !
2
b2

b c
a x+ + − 2 = 0.
2a a 4a
Multiplicando agora o a pelos termos de dentro dos parênteses, obtemos
2
b2

b c
a x+ + a · − a · 2 = 0,
2a a 4a
ou ainda 2
b2

b
a x+ +c− = 0.
2a 4a
Com isso, 2
b2

b
a x+ = − c,
2a 4a
que equivale a (colocando o lado direito sobre o mesmo denominador 4a)
2
b2 − 4ac

b
a x+ = .
2a 4a
Lembrando que ∆ = b2 − 4ac, temos
 2
b ∆
a x+ = ,
2a 4a
que, dividindo por a, equivale a  2
b ∆
x+ = .
2a 4a2

Como 4a2 é sempre positivo, o sinal de ∆ é que determinará o sinal da fração . Neste caso,
4a2
temos que a equação ax2 + bx + c = 0:

• possui duas soluções reais distintas se, e somente se, ∆ > 0, sendo estas
√ √ √ √
b ∆ −b + ∆ b ∆ −b − ∆
x1 = − + = e x2 = − − = ,
2a 2a 2a 2a 2a 2a
ou, escrito de forma condensada
√ √
b ∆ −b ± ∆
x=− ± = .
2a 2a 2a
• possui duas soluções reais iguais se, e somente se, ∆ = 0, sendo esta
−b
x= .
2a
• não possui soluções reais se, e somente se, ∆ < 0,
Eis a razão de ser da Fórmula de Bhaskara!

P.S. O caso a < 0 é resolvido de forma análoga, chegando-se na mesma fórmula.

22
3 Estudo de sinais de Expressões
Você já sabe avaliar o sinal de expressões do primeiro grau e de segundo grau. Vamos relembrar este
estudo nos dois exemplos a seguir.

Exemplo 3.1 Estude o sinal das expressões

(a) y = −2x + 3 (b) y = x − x2

Solução:

(a) y = −2x + 3: como estamos diante de uma expressão do primeiro grau, nosso primeiro passo é
3
encontrar a raiz da equação −2x + 3 = 0. Neste caso, temos −2x + 3 = 0 ⇔ x = . O segundo
2
passo é verificar o sinal do coeficiente b do termo de primeiro grau. Como b = −2 < 0, a reta
associada à expressão y = −2x + 3 é decrescente e, portanto, y = −2x + 3 é positivo antes da raiz
e negativo, depois. Ou seja, temos que,
3
y = −2x + 3 > 0 ⇔ x < ;
2
3
y = −2x + 3 < 0 ⇔ x > ;
2
3
y = −2x + 3 = 0 ⇔ x = .
2

(b) y = x − x2 : como estamos diante de uma expressão do segundo grau, nosso primeiro passo é
2
encontrar o valor de ∆. Como ∆ = 1 − 4 · (−1) √ · (0) = 1 > 0, a equação
√ x − x = 0 possui duas
−(1) + 1 −(1) − 1
raı́zes reais distintas, sendo estas x1 = = 0 e x2 = = 1. O segundo passo é
2 · (−1) 2 · (−1)
analisar o sinal do coeficiente a do termo de segundo grau. Como a = −1 < 0, a parábola associada
à expressão y = x − x2 possui concavidade para baixo e, portanto, y = x − x2 é negativo entre as
raı́zes e positivo fora. Ou seja, temos que,

y = x − x2 > 0 ⇔ 0 < x < 1;


y = x − x2 < 0 ⇔ x < 0 ou x > 1;
y = x − x2 = 0 ⇔ x = 0 ou x = 1.

Observação: Embora não haja nenhum problema em achar as raı́zes utilizando Bhaskara, como
fizemos, neste caso, há um método bem mais simples, já que c = 0. Podemos colocar x em
evidência, pois não há termo independente de x, obtendo y = x − x2 = x(1 − x). Desta forma,
temos que,
x − x2 = x(1 − x) = 0 ⇔ x = 0 ou x = 1.

Na próxima seção, vamos estudar o sinal de expressões mais gerais, formadas pelo produto e/ou
quociente de expressões do primeiro e segundo graus.

23
3.1 Estudo de Sinais
Inicialmente, lembre-se que quando multiplicamos números reais, o sinal do produto final será positivo
se a quantidade de números negativos for par e será negativo se a quantidade de números negativos
for ı́mpar. O mesmo acontece com a divisão.

Exemplo 3.2 Observe as multiplicações e divisões abaixo.


√ 
 
2
  6 · − √
2 20 7 3 6
(a) (5) · (−2) · − = (b)   =−
3 3 2 70
(5) · (−2) · −
3

No exemplo (a), o sinal do resultado é positivo, pois temos dois fatores negativos. No exemplo (b),
o sinal do resultado é negativo, pois temos três números negativos sendo multiplicados ou divididos.

Vamos começar estudando o sinal da expressão

y = x (−x2 + 2x − 1)

Inicialmente, note que a expressão acima está definida para x ∈ R.

Observe que podemos raciocinar que estamos multiplicando o número y = x pelo número y =
−x2 + 2x − 1. Como x é uma variável, vamos analisar, na reta real, os intervalos em que cada
um dos números dados pelas expressões anteriores é positivo, negativo ou nulo.

• y = x: esta análise é bem simples:

y = x > 0 ⇔ x > 0;
y = x < 0 ⇔ x < 0;
y = x = 0 ⇔ x = 0.

• y = −x2 +2x−1: tratando-se de uma expressão do segundo grau, vamos primeiro verificar o sinal
de ∆. Como ∆ = 22 − 4 · (−1) · (−1) = 4 − 4 = 0, a equação −x2 + 2x − 1 = 0 possui duas raı́zes
−(2)
reais iguais, a saber x1 = x2 = = 1. Vamos agora verificar o sinal do coeficiente a do
2 · (−1)
termos de segundo grau. Como a = −1 < 0, a parábola associada à expressão y = −x2 + 2x − 1
possui concavidade para baixo e “toca” o eixo x na raiz x1 , portanto, y = −x2 + 2x − 1 é negativo
para todo x diferente da raiz x1 . Ou seja, temos que,

y = −x2 + 2x − 1 < 0 ⇔ x 6= 1;

y = −x2 + 2x − 1 = 0 ⇔ x = 1.

Para facilitar, vamos colocar todas as informações acima numa tabela, onde as colunas representam
os números reais relevantes, que são as raı́zes das expressões detalhadas acima (pois, são valores que
marcam quando as expressões zeram) e os intervalos entre cada uma delas (pois, nestes intervalos e, só
nestes, as expressões podem mudar de sinal). Cada linha representará uma expressão analisada acima
e colocaremos em cada coluna o sinal desta expressão. A linha final é reservada à expressão completa.

24
(−∞, 0) 0 (0, 1) 1 (1, ∞)
x − 0 + + +
2
−x + 2x − 1 − − − 0 −
x (−x2 + 2x − 1) + 0 − 0 −

Observando a tabela acima, vemos que,

y = x (−x2 + 2x − 1) > 0 ⇔ x < 0;


y = x (−x2 + 2x − 1) < 0 ⇔ 0 < x < 1 ou x > 1;
y = x (−x2 + 2x − 1) = 0 ⇔ x = 0 ou x = 1.

Agora, vamos estudar o sinal da expressão abaixo, que é um pouco mais complexa.

(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
y= .
x2 + 4x − 5
Inicialmente, note que a expressão acima está definida para x ∈ R, tal que,

x2 + 4x − 5 6= 0 ⇔ x 6= −5 e x 6= 1,

pois a divisão por zero não está definida no conjunto dos números reais.

Observe que podemos raciocinar que estamos multiplicando o número y = x − 2 pelo número y =
2x2 − 6x − 8 e dividindo este produto pelo número y = x2 + 4x − 5. Como x é uma variável, vamos
analisar, na reta real, os intervalos onde cada um dos números dados pelas expressões anteriores é
positivo, negativo ou nulo.

• y = x − 2: como estamos diante de uma expressão do primeiro grau, nosso primeiro passo é
encontrar a raiz da equação x − 2 = 0. Neste caso, temos x − 2 = 0 ⇔ x = 2. O segundo passo é
verificar o sinal do coeficiente b do termo de primeiro grau. Como b = 1 > 0, a reta associada à
expressão y = x − 2 é crescente e, portanto, y = x − 2 é positivo depois da raiz e negativo, antes.
Ou seja, temos que,

y = x − 2 > 0 ⇔ x > 2;
y = x − 2 < 0 ⇔ x < 2;
y = x − 2 = 0 ⇔ x = 2.

• y = 2x2 − 6x − 8: tratando-se de uma expressão do segundo grau, vamos primeiro verificar o sinal
de ∆. Como ∆ = 62 − 4 · (2) · (−8) = 36 + 64 =√100 > 0, a equação 2x2 − 6x√− 8 = 0 possui duas
−(−6) + 100 −(−6) + 100
raı́zes reais distintas, a saber, x1 = = 4 e x2 = = −1. Vamos
2·2 2·2
agora verificar o sinal do coeficiente a do termo de segundo grau. Como a = 2 > 0, a parábola
associada à expressão y = 2x2 −6x−8 possui concavidade para cima e, portanto, y = 2x2 −6x−8
é negativo entre as raı́zes e positivo, fora. Ou seja, temos que,

y = 2x2 − 6x − 8 > 0 ⇔ x < −1 ou x > 4;


y = 2x2 − 6x − 8 < 0 ⇔ −1 < x < 4;
y = 2x2 − 6x − 8 = 0 ⇔ x = −1 ou x = 4.

25
• y = x2 + 4x − 5: tratando-se de uma expressão do segundo grau, vamos primeiro verificar o sinal
de ∆. Como ∆ = 42 − 4 · (−5) = 16 + 2
√20 = 36 > 0, a equação√x + 4x − 5 = 0 possui duas raı́zes
−4 + 36 −4 − 36
reais distintas, a saber, x1 = = 1 e x2 = = −5. Vamos agora verificar
2 2
o sinal do coeficiente a do termo de segundo grau. Como a = 1 > 0, a parábola associada à
expressão y = x2 + 4x − 5 possui concavidade para cima e, portanto, y = x2 + 4x − 5 é negativo
entre as raı́zes e positivo, fora. Ou seja, temos que,
y = x2 + 4x − 5 > 0 ⇔ x < −5 ou x > 1;
y = x2 + 4x − 5 < 0 ⇔ −5 < x < 1;
y = x2 + 4x − 5 = 0 ⇔ x = −5 ou x = 1.

Para facilitar, vamos colocar todas as informação acima numa tabela, onde as colunas representam
os números reais relevantes, que são as raı́zes das expressões detalhadas acima (pois, são valores que
marcam quando as expressões zeram) e os intervalos entre cada uma delas (pois, nestes intervalos e, só
nestes, as expressões podem mudar de sinal). Cada linha representará uma expressão analisada acima
e colocaremos em cada coluna o sinal desta expressão. A linha final é reservada à expressão completa.
(−∞, −5) −5 (−5, −1) −1 (−1, 1) 1 (1, 2) 2 (2, 4) 4 (4, +∞)
x−2 − − − − − − − 0 + + +
2x2 − 6x − 8 + + + 0 − − − − − 0 +
x2 + 4x − 5 + 0 − − − 0 + + + + +
(x−2)(2x2 −6x−8)
x2 +4x−5
− 6∃ + 0 − 6∃ + 0 − 0 +

Observando a tabela acima, vemos que,


(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
> 0 ⇔ −5 < x < −1 ou 1 < x < 2 ou x > 4;
x2 + 4x − 5
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
< 0 ⇔ x < −5 ou − 1 < x < 1 ou 2 < x < 4;
x2 + 4x − 5
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
= 0 ⇔ x = −1 ou x = 2 ou x = 4.
x2 + 4x − 5

Apresentaremos a seguir uma outra solução, onde as expressões de segundo grau são fatoradas.

Como a expressão y = 2x2 − 6x − 8 possui ∆ = 36 > 0 e, portanto, duas raı́zes reais distintas,
podemos fatorá-la como o produto de duas expressões do primeiro grau. De fato,
y = 2x2 − 6x − 8 = 2(x2 − 3x − 4) = 2(x − (−1)) · (x − 4) = 2(x + 1)(x − 4).
Da mesma forma, a expressão y = x2 + 4x − 5 possui ∆ = 100 > 0 e, portanto, duas raı́zes reais
distintas, podemos fatorá-la como o produto de duas expressões do primeiro grau, obtendo,
y = x2 + 4x − 5 = (x − 1) · (x − (−5)) = (x − 1)(x + 5).
Desta forma, temos que
(x − 2)(2x2 − 6x − 8) 2(x − 2)(x + 1)(x − 4)
2
= .
x + 4x − 5 (x − 1)(x + 5)
Portanto, poderemos substituir a análise dos termos de segundo grau pelos termos de primeiro grau
obtidos na fatoração e a tabela anterior, neste caso, ficaria da seguinte forma:

26
(−∞, −5) −5 (−5, −1) −1 (−1, 1) 1 (1, 2) 2 (2, 4) 4 (4, +∞)
2 + + + + + + + + + + +
x−2 − − − − − − − 0 + + +
x+1 − − − 0 + + + + + + +
x−4 − − − − − − − − − 0 +
x−1 − − − − − 0 + + + + +
x+5 − 0 + + + + + + + + +
(x−2)(2x2 −6x−8)
x2 +4x−5
− 6∃ + 0 − 6∃ + 0 − 0 +

Na próxima seção vamos utilizar o estudo de sinais para resolver inequações.

4 Resolução de Inequações
Você pode estar se perguntando para que serve o estudo de sinais que vimos na seção anterior. A
resposta é simples. De posse do estudo de sinais de uma expressão, podemos resolver inequações.
Vamos exemplificar esta afirmação através dos exercı́cios resolvidos a seguir.

Exemplo 4.1 Resolva as inequações abaixo.

(a) −2x + 3 < 0 (b) x − x2 ≥ 0

Solução:
(a) Para descobrir para que valores de x, temos −2x+3 < 0, podemos definir a expressão y = −2x+3 e,
desta forma, nosso problema equivale a descobrir para que valores de x, temos y < 0, onde y = −2x+3.
Isto é exatamente fazer o estudo de sinais da expressão y = −2x + 3 e escolher como solução apenas
os valores de x que fazem a expressão y = −2x + 3 ser negativa.

No Exemplo 3.1, item (a), vimos que,


3
−2x + 3 < 0 ⇔ x >
2
 
3
Desta forma, temos que o conjunto solução da inequação −2x + 3 < 0 é dado por x ∈ ,∞ .
2

(b) Para descobrir para que valores de x, temos x − x2 ≥ 0, vamos proceder como acima e definir a
expressão y = x − x2 . Desta forma, nosso problema equivale a descobrir para que valores de x, temos
y ≥ 0, onde y = x − x2 . Isto é exatamente fazer o estudo de sinais da expressão y = x − x2 e escolher
como solução apenas os valores de x que fazem a expressão y = x − x2 ser positiva ou nula.

No Exemplo 3.1, item (b), vimos que,

x − x2 > 0 ⇔ 0 < x < 1 e x − x2 = 0 ⇔ x = 0 ou x = 1

Desta forma, temos que o conjunto solução da inequação x − x2 ≥ 0 é dado por x ∈ [0, 1].

27
Exemplo 4.2 Resolva a inequação a seguir.
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
>0
x2 + 4x − 5

(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
Solução: Já estudamos previamente o sinal da expressão y = , obtendo que,
x2 + 4x − 5
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
> 0 ⇔ −5 < x < −1 ou 1 < x < 2 ou x > 4;
x2 + 4x − 5
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
< 0 ⇔ x < −5 ou − 1 < x < 1 ou 2 < x < 4;
x2 + 4x − 5
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
= 0 ⇔ x = −1 ou x = 2 ou x = 4.
x2 + 4x − 5
Desta forma, segue que,
(x − 2)(2x2 − 6x − 8)
> 0 ⇔ x ∈ (−5, −1) ∪ (2, 1) ∪ (4, ∞).
x2 + 4x − 5

Observe que nos exemplos anteriores resolvidos, nosso objetivo era descobrir quando uma expressão
era “> 0”, “≥ 0”, “< 0” ou “≤ 0”, pois, são nestes, e apenas nestes casos, que basta ver se em um
determinado intervalo temos um número par ou ı́mpar de produtos de números (expressões) negativos.
Como devemos proceder, então se estivermos diante de uma desigualdade do tipo
2x2 − 10x
≥ −2?
−x2 + 4x − 5
Ora, vamos manipular a expressão de modo a colocá-la na forma desejada, ou seja, onde em um
dos lados da desigualdade temos o zero! Para isto, é necessário que recordemos uma propriedade dos
números reais no que concerne a desigualdades.

Sejam m, n e k números reais. Então,

m<n ⇔ m + k < n + k.

No lugar de “<”, pode-se ter “≤”, “>” ou “≥”, que a propriedade acima permanece válida. A
tradução desta propriedade é: “somar um mesmo número a ambos os lados da desigualdade não altera
a desigualdade.” Esta propriedade é conhecida como Monotonicidade da Adição.

Portanto, quando estivermos diante de uma desigualdade do tipo:

expressão 1 < expressão 2,

temos a seguinte equivalência ao aplicarmos esta propriedade,

expressão 1 < expressão 2 ⇔ expressão 1 − expressão 2 < expressão 2 − expressão 2


⇔ expressão 1 − expressão 2 < 0,

o que coloca a desigualdade na forma desejada. Esta propriedade já deve ser velha conhecida sua, mas
com outro nome: o famoso “passa para o outros lado e troca de sinal”.

28
Aplicando esta propriedade na inequação acima, temos que,
2x2 − 10x 2x2 − 10x
≥ −2 ⇔ + (2) ≥ −2 + (2)
−x2 + 4x − 5 −x2 + 4x − 5
2x2 − 10x
⇔ + 2 ≥ 0.
−x2 + 4x − 5
Você pode continuar utilizado o “passa para o outro lado e troca de sinal” tranquilamente, mas agora
você sabe que ele vem de uma propriedade dos números reais.

Colocando a seguir o lado esquerdo da inequação sobre o mesmo denominador, temos que,
2x2 − 10x 2x2 − 10x
 2 
−x + 4x − 5
+2≥0 ⇔ +2 ≥0
−x2 + 4x − 5 −x2 + 4x − 5 −x2 + 4x − 5
2x2 − 10x + 2 (−x2 + 4x − 5)
⇔ ≥0
−x2 + 4x − 5
2x2 − 10x − 2x2 + 8x − 10
⇔ ≥0
−x2 + 4x − 5
−2x − 10
⇔ ≥0
−x2 + 4x − 5

Vamos aplicar agora o nosso procedimento de estudar separadamente as expressões de primeiro e


segundo graus, y = −2x − 10 e y = −x2 + 4x − 5.

• y = −2x − 10: como estamos diante de uma expressão do primeiro grau, nosso primeiro passo
é encontrar a raiz da equação −2x − 10 = 0. Neste caso, temos −2x − 10 = 0 ⇔ x = −5. O
segundo passo é verificar o sinal do coeficiente b do termo de primeiro grau. Como b = −2 < 0,
a reta associada à expressão y = −2x − 10 é decrescente e, portanto, y = −2x − 10 é positivo
antes da raiz e negativo, depois. Ou seja, temos que,

y = −2x − 10 > 0 ⇔ x < −5;

y = −2x − 10 < 0 ⇔ x > −5;


y = −2x − 10 = 0 ⇔ x = −5.

• y = −x2 + 4x − 5: tratando-se de uma expressão do segundo grau, vamos primeiro verificar o


sinal de ∆. Como ∆ = 42 − 4 · (−1) · (−5) = 16 − 20 = −4 < 0, a equação −x2 + 4x − 5 = 0
não possui raı́zes reais. Vamos então verificar o sinal do coeficiente a do termo de segundo grau.
Como a = −1 < 0, a parábola associada à expressão y = −x2 + 4x − 5 possui concavidade para
baixo e não intersecta o eixo x. Portanto, y = −x2 + 4x − 5 é negativo para todo x real. Ou seja,
temos que,
y = −x2 + 4x − 5 < 0 ⇔ x ∈ R.

De posse das informações acima, vamos construir nossa tabela, para descobrir para que valores de x
−2x − 10
temos ≥ 0.
−x2 + 4x − 5
(−∞, −5) −5 (−5, ∞)
−2x − 10 + 0 −
−x2 + 4x − 5 − − −
−2x − 10
− 0 +
−x2 + 4x − 5

29
Observando a tabela acima, vemos que,
−2x − 10
y= ≥ 0 ⇔ x ≥ −5.
−x2 + 4x − 5
Como vimos que,
2x2 − 10x −2x − 10
2
≥ −2 ⇔ ≥ 0,
−x + 4x − 5 −x2 + 4x − 5
segue que,
2x2 − 10x
≥ −2 ⇔ x ≥ −5.
−x2 + 4x − 5

5 Funções Reais a uma Variável Real


As funções são utilizadas para descrever o mundo real em termos matemáticos, é o que se chama de
modelagem matemática para as diversas situações. Podem, por exemplo, descrever o ritmo cardı́aco,
crescimento populacional, variações de temperatura, movimento de objetos, evolução de uma epidemia,
custos e lucros de uma empresa, oscilações do solo num terremoto, entre muitas outras coisas. A
noção de função é a principal ferramenta para o estudo do Cálculo Diferencial e Integral, pois constitui
o ambiente no qual o Cálculo é desenvolvido.

Dentre as funções mais importantes, destacamos as polinomiais, as funções racionais, as funções raı́zes,
as trigonométricas, exponenciais e logarı́tmicas. Nessa disciplina, vamos estudar um pouco de cada
uma delas.

5.1 O Conceito de Função


As funções surgem quando uma quantidade (variável dependente) depende de outra (variável indepen-
dente). Observe os exemplos:

(1) A temperatura T da água numa panela que é colocada para ferver depende do tempo transcorrido
t. Assim, nessa situação T é a variável dependente e t a variável independente.

(2) A área A de um cı́rculo depende de seu raio r e essa dependência se expressa através da fórmula
bem conhecida A = πr2 . Neste caso, A é variável dependente e r é a variável independente.

(3) A população humana mundial P depende do tempo em anos t e pode ter uma representação
aproximada utilizando uma tabela. Como P varia em função do tempo t, P é a variável dependente
e t é a variável independente

30
Ano População (bilhões)
1900 1,650
1910 1,750
1920 1,860
1930 2,070
1940 2,300
1950 2,560
1960 3,040
1970 3,710
1980 4,450
1990 5,280
2000 6,080
2010 6,900
2020 7,790

(4) O cardiologista avalia o ritmo cardı́aco de um indivı́duo através do eletrocardiograma. Esse gráfico
mostra a variação do potencial elétrico (variável dependente) em relação ao tempo decorrido du-
rante o exame (variável independente) e gera uma imagem em ondas, cujo padrão determina a
condição cardı́aca do paciente.

Figura 1: Eletrocardiograma

(5) Um modelo matemático simples para calcular a dinâmica da propagação de uma virose é o da curva
exponencial. E como um gráfico de uma epidemia se comporta? No inı́cio a evolução é lenta. Uma
pessoa saudável, quando entra em contato com uma pessoa doente, torna-se infectada também. O
número de pessoas doentes aumenta rapidamente à medida que a virose se espalha. No gráfico,
esse fenômeno é a chamada fase de crescimento exponencial, que se caracteriza por um tempo
de crescimento acelerado (Figura 2). Mas, o crescimento de uma epidemia não é permanente.
Depois, em algum ponto, a curva do gráfico começa a crescer de forma mais lenta, depois que uma
população grande já foi infectada e, eventualmente, começa a decrescer. Essa curva toma a forma
de um sino (Figura 3) ou um “s”.
Em todos os casos acima temos uma associação que a cada valor da variável independente (tempo
ou raio), atribui um único valor à variável dependente (Temperatura, Área, População, Potencial
Elétrico ou Número de infectados). Essa situação constitui o que chamamos de função, cuja definição
matemática é a seguinte :
Definição 5.1 Uma função de um conjunto A ⊂ R para outro conjunto B ⊂ R é uma regra (lei) que
a cada elemento x ∈ A associa um único elemento y ∈ B.
Costuma-se denotar uma função por letras como f (ou g, h, T, u, ...). E a seguinte notação, devida
a Euler é utilı́ssima y = f (x) (Lê-se “y é igual a f de x”). Outra maneira de denotar uma função é
f : A ⊂ R → B ⊂ R ou ainda
f : A −→ B
x 7−→ f (x).

31
(a) Figura 2 - Casos Acumulados de Covid-19 (b) Figura 3 - Projeção da evolução da Covid 19
no Brasil em 2020 (fase exponencial). Fonte:
https://covid.saude.gov.br

O conjunto A é dito o domı́nio da função f , também denotado por D(f ), e B é dito seu contradomı́nio.
Assim, uma função é formada por três elementos, a lei de formação, o domı́nio e o contradomı́nio.

Observações:
(1) De um modo geral, uma função associa a cada elemento de um conjunto (não necessariamente de
números reais), um único elemento de outro conjunto através de uma regra de associação, como
as que vimos acima. No curso de Cálculo 1A, nossos conjuntos serão de números reais. Portanto,
a definição matemática que demos acima de função, já foi apresentada para o caso especı́fico
de funções reais de variáveis reais. Neste texto, estamos abusando um pouco da linguagem.
Formalmente a definição de função deveria ser uma terna (A, B, a 7→ b), onde A e B são conjuntos
e a 7→ b uma regra que a cada elemento a ∈ A associa um único elemento b ∈ B.
Importante: Para ser considerada função, a lei deve ser capaz de associar a cada elemento do domı́nio
um único elemento do contradomı́nio. Se houver ambiguidade na associação, a lei não é considerada
uma função. Uma forma clássica de representar essa ideia é através de diagramas de flechas :

Representação de uma Representação de uma


função usando um associação que não é
diagrama de flechas. função usando um
diagrama de flechas.
'$'$ '$'$

a1 1
a1 -1
-
 
:
a2   :


a2 
b1 2
b1 -2
-
:


b2   b2 - 2.5
c1 -3 c1 -3

:  :

c2  

c2 

d1 -4 d1 :- 4

d2 -5 d2 -5
&%
f &% &%&%
A −→ B

32
5.2 Alguns exemplos básicos de funções
Exemplo 5.1 f (x) = bx + c, x ∈ R, onde b e c são constantes reais. Ou seja, qualquer expressão
do 1º grau pode ser vista como uma função real de variável real. Esse tipo de função é chamada de
Função Afim.

Exemplo 5.2 f (x) = x2 , x ∈ R. Em geral, qualquer expressão do 2º grau, do tipo f (x) = ax2 + bx +
c, x ∈ R, onde a, b e c são constantes reais, a 6= 0, pode ser vista como uma função real de variável
real, dita Função Quadrática

Exemplo 5.3 As Funções Polinomiais, em geral, se escrevem como


p(x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 , x ∈ R,
onde n é um inteiro não negativo e an , . . . , a0 são constantes reais. Estas são funções definidas em
toda a reta real R. Para, n = 1 temos uma função afim, n = 2 temos uma função quadrática, vistas
nos exemplos anteriores e, para n = 3, a função é dita uma Função Cúbica.

Exemplo 5.4 As Funções Racionais são aquelas formadas por um quociente de polinômios, digamos,
p(x)
f (x) = e, neste caso, o domı́nio depende das raı́zes do polinômio do denominador, ou seja,
q(x)
D(f ) = {x ∈ R; q(x) 6= 0}. O domı́nio da f é o conjunto dos reais, exceto as raı́zes de q(x), que zeram
o denominador, gerando uma divisão por 0, que sabemos não estar definida no conjunto dos números
reais.
Casos particulares de funções racionais:
x+1
(a) f (x) = , x ∈ R (Note que 2x2 + 5 > 0, ∀x ∈ R).
2x2 + 5
x+1
(b) f (x) = , x ∈ R\{0, 1}, pois o denominador se anula quando x = 0 ou x = 1.
x2 − x
Observações:
i) Lembramos
√ que a raiz quadrada de um√número real a > 0 é definida como o número real denotado
por a, também positivo, tal que ( a)2 = a e raiz quadrada de 0 é 0.

ii) Lembramos
√ raiz cúbica de um número real a ∈ R é definida como o número real denotado
que a √
por a, tal que ( 3 a)3 = a e raiz cúbica de 0 é 0. No caso de raiz de ı́ndice ı́mpar, a raiz tem o
3

mesmo sinal do radicando a



Exemplo 5.5 A função Raiz Quadrada f (x) = x, x ≥ 0. Para ser uma função real, o maior
domı́nio que podemos ter para a função raiz quadrada é o intervalo √ [0, +∞). Além disso, √ √ x ≥ 0,
dado
está associado a ele um e só um número real positivo ou nulo, a saber x, tal que o produto x· x = x.

Exemplo 5.6 A função Raiz Cúbica f (x) = 3 x, x ∈ R. Para ser uma função real, o maior domı́nio
que podemos ter para a função Raiz Cúbica
√ é toda a reta R. √ √ dado x ∈ R, está associado a
Além√disso,
ele um e só um número real, a saber 3 x, tal que o produto 3 x · 3 x · 3 x = x.

33
5.3 Uma observação importante
Muitas vezes, por simplicidade de linguagem (na verdade, abuso de linguagem!) não especificamos o
domı́nio e o contradomı́nio de uma função ao apresentá-la, apenas sua expressão. Nestes casos, adota-
remos a convenção abaixo.

Convenção: Quando uma função for definida através de uma expressão, sem referência ao contra-
domı́nio, estaremos supondo que o contradomı́nio é R. De forma análoga, se apresentarmos a expressão
de uma função e perguntarmos sobre seu domı́nio, estaremos supondo que o domı́nio é o maior sub-
conjunto de R, onde a expressão está bem definida (pode ser calculada e nos fornece valores reais para
y).


x+3
Exemplo 5.7 A função f (x) = tem como domı́nio D(f ) = [−3, 2) ∪ (2, +∞) e contradomı́nio
x−2
R. De fato, para estar bem definida no conjunto dos reais, devemos ter, x + 3 ≥ 0 e x − 2 6= 0, portanto
x ≥ −3 e x 6= 2, donde D(f ) = [−3, 2) ∪ (2, +∞).
1 √
Exemplo 5.8 A função f (x) = √ + 1 − x tem como domı́nio D(f ) = (0, 1] e contradomı́nio R,
x
pois nesse caso, devemos ter x > 0, já que há uma raiz quadrada no denominador e 1 − x ≥ 0, por
conta da segunda raiz. Portanto, x > 0 e x ≤ 1, significa que D(f ) = (0, +∞) ∩ (−∞, 1] = (0, 1].

Exemplo 5.9 A função f (x) = x2 − 7x + 6 tem como domı́nio D(f ) = (−∞, 1] ∪ [6, +∞) e contra-
domı́nio R. De fato, nesse caso, devemos ter x2 − 7x + 6 ≥ 0, já que há uma raiz quadrada. Calculando
as raı́zes da equação x2 − 7x + 6 = 0, obtemos x1 = 1 e x2 = 6. Estudando o sinal da expressão do 2º
grau, cuja parábola associada tem concavidade para cima, segue que x2 − 7x + 6 > 0, se e somente se,
x < 1 ou x > 6. Portanto, D(f ) = (−∞, 1] ∪ [6, +∞).
r
9 − x2
Exemplo 5.10 A função f (x) = tem como domı́nio D(f ) = (−∞, −3] ∪ (−1, 3] e contra-
x+1
domı́nio R. De fato, devemos ter x + 1 6= 0 e fazer o produto dos sinais entre 9 − x2 e x + 1, conforme
a seguinte tabela de sinal:

(−∞, −3) −3 (−3, −1) −1 (−1, 3) 3 (3, +∞)


9− x2 − 0 + + + 0 −
x+1 − − − 0 + + +
9 − x2
+ 0 − @ + 0 −
x+1

Assim, teremos que D(f ) = (−∞, −3] ∪ (−1, 3].

Definição 5.2 Duas funções f e g são iguais, escrevemos f = g, se e só se D(f ) = D(g), possuem o
mesmo contradomı́nio e f (x) = g(x), ∀x ∈ D(f ).

x2 − 1
Exemplo 5.11 f (x) = e g(x) = x + 1 são funções diferentes.
x−1
x2 − 1 (x − 1)(x + 1)
Como = = x + 1, ∀x 6= 1, em uma primeira abordagem, você pode achar que
x−1 x−1
estas duas funções são iguais, mas, repare que embora tenham a mesma imagem em cada ponto de
R\{1}, as duas têm domı́nios diferentes! Temos D(f ) = R\{1} = 6 R e D(g) = R.
O que ocorre é o seguinte: as duas funções são diferentes, porém possuem a mesma imagem em cada
ponto de D(f ) = R\{1}, isto é f (x) = g(x), ∀x ∈ D(f ) = R\{1}.

34
x4 − 1
Exemplo 5.12 f (x) = e g(x) = x2 − 1 são funções iguais, pois D(f ) = D(g) = R, o contra-
x2 + 1
domı́nio é o mesmo e fatorando o numerador e cancelando, obtemos a igualdade nas imagens, ponto a
x4 − 1 (x2 − 1)(x2 + 1)
ponto: 2 = = x2 − 1, ∀x ∈ R.
x +1 x2 + 1

5.4 Imagem e gráfico


Definição 5.3 O Conjunto Imagem de uma função f é denotado por Im(f ) e é definido como

Im(f ) = {f (x) ∈ B; x ∈ D(f )}.

Assim, Im(f ) é um subconjunto do contradomı́nio B, Im(f ) ⊂ B. Pode ocorrer de Im(f ) = B ou


não, nesse caso serão conjuntos distintos, isto é Im(f ) B.

Exemplo 5.13 f (x) = x+4, x ∈ R, tem como conjunto imagem todos os reais. De fato, dado qualquer
número real y, ele pode ser escrito como imagem do número real y − 4, ou seja, pela lei de formação
da f , a imagem de y − 4 é dada por f (y − 4) = (y − 4) + 4 = y.

Exemplo 5.14 f (x) = x2 + 1, x ∈ R, tem como conjunto imagem o intervalo [1, +∞). De fato, pense
na parábola que está associada à expressão da função, qualquer número y ≥ 1 no eixo y está associado
a um valor de x real, tal que y = x2 + 1.

Definição 5.4 O Gráfico de uma f é denotado por Gr(f ) e é definido como

Gr(f ) = {(x, f (x)) ∈ R2 ; x ∈ D(f )}.

Note que o Gr(f ) é um subconjunto do plano R2 , formado pelos pares ordenados onde a primeira
coordenada é um ponto do domı́nio e a segunda coordenada é a imagem correspondente.

O comportamento de uma função é claramente visualizado através de seu gráfico, que é o conjunto
dos pares ordenados Gr(f ) = {(x, f (x)) ∈ R2 ; x ∈ D(f )}. O esboço do gráfico no plano cartesiano
nos fornece o comportamento da f , seu domı́nio e sua imagem. De fato, repare que, dado o gráfico
da função, como ele só contém pontos da forma (x, f (x)), x ∈ D(f ), podemos descobrir o domı́nio da
função projetando o gráfico sobre o eixo x. Da mesma forma, se projetarmos o gráfico sobre o eixo y,
teremos a imagem da função, pois só pontos com ordenada y = f (x) estarão no gráfico.
Quando o D(f ) é um intervalo ilimitado, procuramos traçar uma parte do seu gráfico que contenha
todas as suas propriedades interessantes, como raı́zes, pontos de mudança de crescimento, onde ocor-
rem saltos, entre outros, e tal que se tenha uma ideia do que ocorre no restante do gráfico.

Observação: Uma forma de saber se uma curva no plano xy pode ou não ser o gráfico de uma
função de x, é fazendo o teste da reta vertical. Se alguma reta vertical intersectar a curva em mais de
um ponto, esta curva não pode ser o gráfico de uma função de x, pois estarı́amos associando a um deter-
minado ponto x do domı́nio, mais do que apenas um ponto do contradomı́nio. Por outro lado, se toda
reta vertical intersectar a curva em no máximo um ponto, então essa curva é gráfico de uma função de x.

Exemplo 5.15 As duas curvas a seguir não são gráficos de uma função de x.

35
Na próxima seção veremos exemplos de gráficos básicos de funções, com os quais trabalharemos no
restante do curso.

5.5 Tipos básicos de gráficos de funções


Exemplo 5.16 Já sabemos que f (x) = bx + c, x ∈ R, onde b e c são constantes, é dita uma função
afim. O gráfico é uma reta horizontal, se b = 0, ou uma reta inclinada, se b 6= 0.

c1 é a reta y = 1, c2 é y = 2x − 1 e c3 é y = −3x.

Excetuando as retas horizontais (b = 0), o conjunto imagem de uma reta é todos os reais R.

Exemplo 5.17 f (x) = x2 , x ∈ R. O gráfico é uma parábola, que ao projetar no eixo y, permite obter
o conjunto imagem [0, +∞).

O conjunto imagem é [0, +∞).

36

Exemplo 5.18 f (x) = x, x ≥ 0. Note, pela observação do gráfico abaixo, que projetando o gráfico
no eixo y, temos Im(f ) = [0, +∞).

O conjunto imagem é [0, +∞).

1
Exemplo 5.19 f (x) = , x 6= 0. O gráfico é uma hipérbole. Observe o comportamento do gráfico,
x
para x > 0 aumentando, 1/x diminui e se aproxima do zero (nunca será igual a zero!). Analogamente,
se x < 0 diminui, então 1/x se aproxima de zero por valores negativos. Por outro lado, se x > 0 fica
muito pequeno, isto é, próximo de zero, então 1/x aumenta de forma ilimitada (dizemos que tende
a infinito). Se x < 0 se aproxima de zero, então 1/x é negativo e se torna ilimitado (dizemos que
1
tende a menos infinito). O gráfico de qualquer potência ı́mpar negativa de x, a saber y = x−3 = 3 ,
x
−5 1 −7 1
y = x = 5 , y = x = 7 ,. . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.
x x

O conjunto imagem é (−∞, 0) ∪ (0, +∞).

1
Exemplo 5.20 f (x) = 2 , x 6= 0. O gráfico de qualquer potência par negativa de x, a saber, y =
x
1 1 1
−4
x = 4 , y = x = 6 , y = x−8 = 8 ,. . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.
−6
x x x

O conjunto imagem é (0, +∞).

37
Exemplo 5.21 f (x) = x3 , x ∈ R. O gráfico de qualquer potência inteira n ≥ 3 ı́mpar de x, a saber
y = x5 , y = x7 , y = x9 , . . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.

O conjunto imagem é R.

Exemplo 5.22 f (x) = x4 , x ∈ R. O gráfico de qualquer potência n ≥ 2 par de x, a saber y = x6 ,


y = x8 , y = x10 ,. . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.

O conjunto imagem é [0, +∞).

Observação: Vamos relembrar as definições de raı́zes de ı́ndice ı́mpar e par. Dado n ∈ N


i) A raiz de
√ ı́ndice (ı́mpar)√2n + 1 de um número real a ∈ R é definida como o número real denotado
por 2n+1
a, tal que ( 2n+1
a)2n+1 = a e raiz 2n + 1 de 0 é 0. No caso de raiz de ı́ndice ı́mpar, a
raiz tem o mesmo sinal do radicando a.
ii) A raiz de ı́ndice√ (par) 2n de2n √um 2nnúmero real a > 0 é definida como o número real positivo
2n
denotado por a, tal que ( a) = a e raiz 2n de 0 é 0.
√ √
Exemplo
√ 5.23 y = 3
x, x ∈ R. O gráfico de qualquer raiz de ı́ndice ı́mpar de x, a saber, y = 5
x, y =
7
x, . . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.

O conjunto imagem é R.
√ √
Exemplo
√ 5.24 y = 4 x, x ≥ 0. O gráfico de qualquer raiz de ı́ndice par de x, a saber, y = 6 x, y =
8
x, . . . , tem o mesmo aspecto do gráfico abaixo.

38
O conjunto imagem é [0, +∞).

5.6 Curvas definidas por mais de uma função


Exemplo 5.25 A curva x − y 2 = 0 é uma parábola invertida, como mostra o gráfico √ abaixo. Não
é gráfico de uma função de x, mas podemos
√ descrevê-la usando duas funções, y = x, x ≥ 0 , que
descreve a parte superior (azul) e y = − x, x ≥ 0, que descreve a parte inferior (magenta).

A parábola invertida x − y 2 = 0.

Exemplo 5.26 A circunferência x2 + y 2 = r2 , onde r > 0 é o √ raio, também não é gráfico de uma
função de x, mas podemos descrevê-la
√ usando duas funções, y = r2 − x2 , −r ≤ x ≤ r, que descreve
a parte superior (azul) e y = − r − x2 , −r ≤ x ≤ r, que descreve a parte inferior (magenta).
2

Circunferência de raio r: x2 + y 2 = r2 .

Dependendo da situação, também podemos usar a variável y como variável independente. Nesse
caso, podemos formular o Teste da reta horizontal para verificar se uma curva é gráfico de uma função
de y.

Teste da reta horizontal: Uma curva no plano xy é gráfico de uma (única) função de y, se e só se,
toda reta horizontal tiver no máximo um ponto de interseção com a curva.
Observe que, no exemplo (5.25) acima, a curva pode ser descrita por uma (única) função de y, a
saber f (y) = y 2 , y ∈ R. Porém, no exemplo (5.26), tal não acontece.

39
Exemplo 5.27 Considere a curva x2 + y 2 = 1, para −1 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ x ≤ 1.

(a) Como posso descrevê-la usando x como variável?

(b) Como posso descrevê-la usando y como variável?

Solução:
√ √
(a) Observe que y 2 = 1 − x2 ⇒ y = 1 − x2 ou y = − 1 − x2 , para 0 ≤ √ x ≤ 1. Assim, podemos
descrever a semicircunferência√usando duas funções de x, a saber, y = 1 − x2 , 0 ≤ x ≤ 1 para a
parte de cima (azul) e y = − 1 − x2 , 0 ≤ x ≤ 1 para a parte de baixo (magenta).

Semicrcunferência de raio 1: x2 + y 2 = 1, 0 ≤ x ≤ 1..

p
b) Observe que x2 = 1 − y 2 ⇒ x = 1 − y 2 , para −1 ≤ y ≤ 1, pois x ≥ p 0. Assim, podemos descrever
a semicircunferência usando uma única função de y, a saber, f (y) = 1 − y 2 , −1 ≤ y ≤ 1.

5.7 Funções definidas verbalmente


Algumas funções podem ser apresentadas verbalmente, isto é, usando apenas palavras, sem expressões
matemáticas. Nesse caso, devemos encontrar a expressão matemática que define a função descrita
verbalmente, esse processo é um exemplo simples do que chamamos de modelagem matemática. Para
isso, fazemos um esboço do problema, através de desenhos, listagem das variáveis envolvidas e em
muitos casos encontramos uma ou mais equações matemáticas que relacionem as variáveis.

Exemplo 5.28 Um retângulo tem área igual a 25 m2 .

(a) Expresse seu perı́metro como função do comprimento de um de seus lados.

(b) Determine o comprimento dos lados do retângulo, cujo perı́metro é igual a 25m.

Solução:
25
(a) Sejam x e y os lados do retângulo, então x.y = 25 ⇒ y = . Logo, seu perı́metro é dado por
x
2.25 50 2x2 + 50
P = 2x + 2y = 2x + = 2x + = , x > 0.
x x x
2x2 + 50
(b) P = = 25 ⇒ 2x2 + 50 = 25x ⇒ 2x2 − 25x + 50 = 0, cujas raı́zes são x1 = 10 e x2 = 2, 5.
x
Assim, um lado mede 10 cm e o outro 2,5 cm.

40
Exemplo 5.29 Uma escada com 3m de comprimento está apoiada em uma parede vertical. Se a base
da escada desliza, afastando-se da parede, determine a distância da base da escada à parede em função
da distância da base da parede ao topo da escada.

Solução: Sejam x a distância da base da escada à parede e y a distância do topo da escada ao chão,
como na figura a seguir:

Usando o Teorema de Pitágoras, temos que x2 + y 2 = 9, portanto a distância x da base


p da escada
à parede em função da distância y da base da parede ao topo da escada é dada por x = 9 − y 2 , para
0 ≤ y ≤ 3.

6 Funções condicionalmente definidas


6.1 Um exemplo
Será que o esboço abaixo representa o gráfico de uma função f : R → R ?

Lembre-se de que, para que o esboço represente o gráfico de uma função f : R → R, para cada
valor de x ∈ R deve haver um único ponto valor de y ∈ R tal que (x, y) seja um ponto deste gráfico.
Neste caso, teremos que f (x) = y.

Em termos geométricos, isto significa que toda reta vertical deverá cortar o esboço em um ponto e
apenas um ponto.

41
Podemos ver claramente que é isso o que ocorre no esboço apresentado. Você pode ficar com alguma
dúvida com relação ao que acontece para x = −1, afinal, neste valor de x há um “salto”na função.
Note, porém, que o ponto (−1, −1) pertence ao gráfico (o ponto está representado como uma “bolinha
cheia”), enquanto o ponto (−1, 1) não pertence (o ponto está representado por uma “bolinha vazia”).
Com isso, temos f (−1) = −1.

Será que podemos apresentar uma expressão f (x) para esta função, isto é, obter uma expressão que
dê explicitamente o valor que a função assume para cada valor de x ∈ R? Isto depende das informações
que temos sobre o gráfico.

Vamos supor que ele seja formado por pedaços de retas para x 6 −1 e para −1 < x < 1, e uma
por parábola de vértice (1, 1) e concavidade para cima, para x > 1.

Esta função é

• afim, com f (−2) = 0 e f (−1) = −1, para x 6 −1.

• constante e igual a 1, se −1 < x < 1.

42
• e quadrática, com vértice (1, 1) e f (2) = 2, quando x > 2.

Com isso, conseguimos obter uma expressão para a função em cada uma das condições acima.

• x 6 −1:

Nesta condição, a expressão da função será da forma f (x) = bx + c. Os pontos (x0 , y0 ) = (−2, 0)
e (x1 , y1 ) = (−1, −1) pertencem ao gráfico da função, portanto

∆y y1 − y0 −1 − 0 −1
b= = = = = −1.
∆x x1 − x0 −1 − (−2) 1

Assim, temos y = f (x) = −x + c. Substituindo (−1, −1), temos

−1 = −(−1) + c ∴ c = −2.

Portanto, f (x) = −x − 2, se x 6 −1.

• −1 < x < 1:
Nesta condição, a função f é constante e igual a 1. Assim, sua expressão é dada por f (x) = 1.

• x > 1:
Nesta condição, f é quadrática, logo f (x) = ax2 + bx + c. O vértice é dado por
 
b ∆
− ,− = (1, 1),
2a 4a

logo
b
− = 1 ∴ b = −2a,
2a
e
∆ (−2a)2 − 4ac 4a2 − 4ac 4a(a − c)
− =1∴− =1∴− =1∴− = 1 ∴ −(a − c) = 1 ∴ c − a = 1
4a 4a 4a 4a

∴ c = a + 1.

Com isso, a expressão é da forma

f (x) = ax2 − 2ax + a + 1.

Substituindo o ponto (2, 2), temos

2 = a · 22 − 2a · 2 + a + 1 ∴ 4a − 4a + a + 1 = 2 ∴ a = 1.

Com isso, b = −2a = −2 e c = a + 1 = 2, logo f (x) = x2 − 2x + 2, para x > 1.

43
Obtivemos uma expressão para a função f em cada condição, mas como podemos reunir todas estas
possibilidades em uma única expressão? Podemos escrever na forma


 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se − 1 < x < 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1
Este tipo de escrita é chamado de condicional, e a função é dita condicionalmente definida, ou
função partida. Note que estamos dizendo, claramente, como calcular o valor de f (x) em todo os
pontos x do domı́nio R da função, pois

R = {x ∈ R|x 6 −1} ∪ {x ∈ R| − 1 < x < 1} ∪ {x ∈ R|x > 1}.

Além disso, para cada valor de x ∈ R, há um único valor atribuı́do a f (x), pois não há x que esteja
em duas condições diferentes. Mais abaixo, veremos que até seria “permitido”que que um mesmo x
satisfizesse duas condições, desde que o valor da f fosse igual em ambas.

O valor de f (x) mudaria em algum valor de x se, em vez da expressão acima, escrevêssemos a que
se segue?


 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se − 1 < x 6 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1
Repare que x = 1 agora satisfaz a segunda condição e não mais a primeira. Avaliando x = 1 de
acordo com a segunda condição, temos



 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se − 1 < x 6 1 ⇒ f (1) = 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1
Por outro lado, com a expressão que obtivemos anteriormente, o x = 1 deveria ser avaliado de
acordo com a terceira condição, e terı́amos


 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se − 1 < x < 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1 ⇒ f (1) = 12 − 2 · 1 + 2 = 1.
Ou seja, a mudança feita não alteraria os valores f (x) da função. São, portanto, expressões dife-
rentes para a mesma função.

E se, agora, escrevêssemos da forma abaixo?

44


 −x − 2, se x < − 1



f (x) = 1, se − 1 6 x < 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1
Note que agora trocamos a condição satisfeita pelo x = −1. Ele agora satisfaz a segunda condição,
e não mais a primeira. Avaliando x = −1, temos


 −x − 2, se x 6 − 1 ⇒ f (−1) = −1



f (x) = 1, se − 1 < x < 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1.
Por outro lado, na primeira expressão, antes da mudança, terı́amos


 −x − 2, se x < − 1



f (x) = 1, se − 1 6 x < 1 ⇒ f (−1) = 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1.

Ou seja, a alteração feira mudou a função, uma vez que o valor f (x) mudou para pelo menos um
valor de x. Assim, seriam funções diferentes.

E será que poderı́amos definir a função como abaixo?




 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se − 1 < x 61




 2
x − 2x + 2, se x >1
Repare que x = 1 satisfaz duas condições, a segunda e a terceira.

Não seria usual escrever desta forma, mas poderı́amos sim. O único valor de x ∈ R que satisfaz
duas condições é o x = 1, sendo f (1) avaliado com o mesmo valor nestas duas condições.
Mas não poderı́amos definir a função como abaixo


 −x − 2, se x 6 −1



f (x) = 1, se −1 6 x < 1




 2
x − 2x + 2, se x > 1,

pois x = 1 satisfaz à primeira e à segunda condições, tendo valores diferentes em cada uma. Na
primeira, temos f (−1) = −1 e, na segunda, f (−1) = 1. Assim, a função não estaria bem definida para
x = −1.

45
6.2 Funções condicionalmente definidas
Uma função f : D → R é dita condicionalmente definida ou partida se sua expressão é apresentada na
forma


 f1 (x), se condição1
 f2 (x), se condição

2
f (x) = ..


 .
 f (x), se condição
n n

Sendo

D = {x ∈ R|x satisfaz acondição1 }∪{x ∈ R|x satisfaz acondição2 }∪. . .∪{x ∈ R|x satisfaz acondiçãon }

Além disso, se um mesmo x0 ∈ D satisfaz a mais de uma condição diferente, por exemplo, condiçãoi
e condiçãoj , então fi (x0 ) = fj (x0 ). O mais usual, porém, é que todos os valores de x ∈ D satisfaçam
apenas uma das condições.

7 Módulo e Função Modular


7.1 O módulo de um número real
Você deve se lembrar que, dado um número real, seu módulo ou valor absoluto é o próprio número,
caso ele seja positivo ou zero, e seu simétrico positivo, caso o número seja negativo. Além disso, o
módulo de 0 é 0.

Assim, por exemplo,

(a) |0| = 0
(b) |2| = 2
(c) | − 2| = 2 = −(−2)
√ √ √
(d) | 2 − 1| = 2 − 1, pois 2 − 1 > 0
√ √ √ √ √
(e) |1 − 2| = 2 − 1, pois 1 − 2 < 0, portanto sua “versão positiva”é o −(1 − 2) = 2 − 1.
(f ) |π − 3,14| = π − 3,14, pois π − 3,14 > 0

Exemplo 7.1 Como escrever a expressão |x2 + 1| sem o módulo?

Note que, pelo que foi visto em funções quadráticas, x2 + 1 > 0 para todo x ∈ R, portanto
|x + 1| = x2 + 1.
2

Formalizando a definição de módulo para números reais, o módulo de x ∈ R é dado por



x, se x > 0
|x| =
−x, se x < 0.

Poderı́amos também ter definido a o módulo de outras duas outras maneiras, que serão equivalentes:

46

x, se x > 0 
x, se x > 0

|x| = 0, se x = 0 |x| =
−x, se x 6 0
−x, se x < 0

A diferença entre as definições está apenas em como vamos avaliar o x = 0. Mas observe que, em
todas elas, independentemente da expressão que utilizemos para avaliar |0|, teremos 0 como resultado.
E qual devemos usar? A mais conveniente à situação estudada, é claro!

Repare que o valor do módulo, isto é, |x|, será sempre um número positivo ou 0, sendo |x| = 0
apenas quando x = 0.

Neste ponto, é possı́vel que você esteja estranhando uma coisa... Se



x, se x > 0
|x| =
−x, se x < 0.

como pode, na terceira condição, termos |x| = −x, se o módulo é sempre positivo ou zero? Como pode
o resultado do módulo ser −x?
Mas repare que |x| = −x apenas quando x < 0. Neste caso, como x < 0, teremos que −x > 0, ou
seja, |x| = −x > 0. Ainda não ficou claro? Vejamos um exemplo. Se x = −1, como x < 0, teremos
|x| = −x = −(−1) = 1, ou seja, | − 1| = 1.

Não se engane com o sinal; a expressão −x não é necessariamente um número negativo. Ela será
positiva se o x for negativo.

Propriedades 7.1 Entre as várias propriedades do módulo, podemos agora destacar duas, que utili-
zaremos bastante:

i. |x| > 0, ∀x ∈ R. Além disso, |x| = 0 ⇔ x = 0.

ii. | − x| = |x|, ∀x ∈ R

No final deste texto, apresentarmos mais algumas propriedades importantes do módulo.

Exemplo 7.2 Como escrever a expressão |x − 1| sem o módulo?

Não podemos afirmar o sinal de x − 1, uma vez que este pode ser positivo, caso x > 1, negativo,
quando x < 1, ou a expressão pode assumir valor 0, caso x = 1.

Assim, |x − 1| depende do valor de x, e será dado por



x − 1, se x − 1 > 0
|x − 1| =
−(x − 1), se x − 1 < 0
que, pode ser reescrito como 
x − 1, se x > 1
|x − 1| =
−x + 1, se x < 1

47
7.2 Função Modular
Vamos agora definir a função modular.
Definição 1 A função modular é definida por f : R → R tal que

x, se x > 0
f (x) = |x| =
−x, se x < 0.
O gráfico desta função está sobre a reta y = −x quando x < 0, e sobre a reta y = x quando x > 0.

A partir do gráfico da função modular, é fácil percebermos algumas de suas propriedades.


Propriedades 7.2 A função modular f : R → R, f (x) = |x| possui as seguintes propriedades:
i. f (x) > 0, ∀x ∈ R. Além disso, f (x) = 0 ⇔ x = 0.
ii. A imagem de f é [0, +∞)
iii. f (−x) = f (x), ∀x ∈ R (f é uma função par)
iv. f é crescente em [0, +∞) e decrescente em (−∞, 0]
Exemplo 7.3 Apresentar uma expressão para a função f : R → R definida por
f (x) = |x2 − 1|,
sem utilizar módulos e, depois, esboçar seu gráfico.
Pela definição de módulo,

2 x2 − 1, se x2 − 1 > 0
|x − 1| =
−(x − 1), se x2 − 1 < 0
2

Lembre se que a expressão x2 − 1 é negativa entre suas raı́zes, −1 e 1, e positiva fora destas raı́zes,
pois y = x2 − 1 representa a parábola esboçada abaixo.

48
Com isso, 
2 x2 − 1, se x 6 −1 ou x > 1
|x − 1| =
−x2 + 1, se − 1 < x < 1.
Para x 6 −1 ou x > 1, temos então f (X) = x2 − 1, logo seu gráfico será o da função quadrática de
expressão x2 − 1.

Para −1 < x < 1, temos f (x) = −x2 + 1, logo seu gráfico será o da função quadrática de expressão
−x2 + 1.

Exemplo 7.4 Apresentar uma expressão para a função f : R → R definida por

f (x) = |x − 1| + |x + 2|,

sem utilizar módulos e, depois, esboçar seu gráfico.

Observe que
 
x − 1, se x − 1 > 0 x − 1, se x > 1
|x − 1| = =
−(x − 1), se x − 1 < 0 −x + 1, se x < 1,
e
 
x + 2, se x + 2 > 0 x + 2, se x > −2
|x + 2| = =
−(x + 2), se x + 2 < 0 −x − 2, se x < −2,

Assim, vamos dividir o estudo da função f em três possibilidades de valores para x ∈ R.

• x < −2:
Para x < −2, temos |x − 1| = −x + 1 e |x + 2| = −x − 2. Logo

f (x) = (−x + 1) + (−x − 2) = −2x − 1, para x < −2.

49
• −2 6 x < 1:
Para −2 6 x < 1, temos |x − 1| = −x + 1 e |x + 2| = x + 2. Logo
f (x) = (−x + 1) + (x + 2) = 3, para − 2 6 x < 1.

• x > 1:
Para x > 1, temos |x − 1| = x − 1 e |x + 2| = x + 2. Logo
f (x) = (x − 1) + (x + 2) = 2x + 1, para x > 1.

Reunindo as informações,

 −2x − 1, se x < −2
f (x) = |x − 1| + |x + 2| = 3, se − 2 6 x < 1
2x + 1, se x > 1.

7.3 Equações e inequações modulares


As propriedades da função modular podem ser utilizadas na solução de diversas equações e inequações
modulares com as quais podemos nos deparar.
Exemplo 7.5 Resolver a equação |x| = a, com a ∈ R.
Primeiro, lembre-se de que |x| > 0 para todo x ∈ R. Logo, quando a < 0, não há valores de x tais
que |x| = a. Isto pode ser confirmado visualmente pelo esboço de gráfico abaixo.

Já quando a = 0, temos a equação |x| = 0, que possui apenas uma solução, x = 0.

50
Por fim, observe no gráfico abaixo que, quando a > 0, teremos duas soluções, x = −a e x = a.

Assim, considerando a equação |x| = a,


• se a < 0, sua solução será vazia (S = ∅) .
• se a = 0, teremos x = 0 (S = {0})
• se a > 0, teremos x = a ou x = −a (S = {−a, a}).
Note que podemos unificar a segunda e a terceira possibilidades, escrevendo simplesmente,
• se a < 0, sua solução será vazia (S = ∅) .
• se a > 0, teremos x = a ou x = −a (S = {−a, a}).
Isto porque se a = 0, então −a = a = 0.
Exemplo 7.6 Resolver a equação
|2x + 1| = 3.
Utilizando o que vimos acima, como 3 > 0,

|2x + 1| = 3 ⇔ 2x + 1 = 3 ou 2x + 1 = −3
⇔ 2x = 3 − 1 ou 2x = −3 − 1
⇔ 2x = 2 ou 2x = −4
⇔ x = 1 ou x = −2
Exemplo 7.7 Resolver a equação
|2x + 1| = x + 3.
Antes de resolver com todo o cuidado, vamos “resolver”de uma forma bastante comum, mas incor-
reta! (Uma resolução correta será feita após o exemplo seguinte.)

|2x + 1| = x + 3 ⇔ 2x + 1 = x + 3 ou 2x + 1 = −(x + 3)
⇔ 2x + 1 = x + 3 ou 2x + 1 = −x − 3
⇔ 2x − x = 3 − 1 ou 2x + x = −3 − 1
⇔ x = 2 ou 3x = −4
4
⇔ x = 2 ou x = −
3
Vamos verificar se está correta esta solução que obtivemos,
4
|2x + 1| = x + 3 ⇔ x = 2 ou x = − .
3
Testando, temos que,

51
• para x = 2,
|2x + 1| = |2 · 2 + 1| = |5| = 5
x + 3 = 2 + 3 = 5,
logo |2x + 1| = x + 3 quando x = 2.

• para x = − 34 ,  
4 8 5 5
|2x + 1| = 2 · −
+ 1 = | − + 1| = | − | =
3 3 3 3
4 −4 + 9 5
x+3=− +3= = ,
3 3 3
4
logo |2x + 1| = x + 3 quando x = − 3 .

Então x = 2 e x = − 43 são mesmo solução da equação. Porém, a forma como resolvemos está
incorreta, mesmo que tenha conduzido, neste caso à solução correta. Esquecemos de algo muito
importante nesta “solução”! Você saberia dizer o quê?

Antes de entendermos o que fizemos errado e resolver corretamente, vamos a um outro exemplo.

Exemplo 7.8 Resolver a equação


|2x − 1| = 3x + 2.

Vamos “resolver”como fizemos no exemplo anterior... incorretamente!

|2x − 1| = 3x + 2 ⇔2x − 1 = 3x + 2 ou 2x − 1 = −(3x + 2)


⇔2x − 1 = 3x + 2 ou 2x − 1 = −3x − 2
⇔2x − 3x = 2 + 1 ou 2x + 3x = −2 + 1
⇔−x = 3 ou 5x = −1
1
⇔ x = −3 ou x = −
5
Obtivemos
1
|2x − 1| = 3x + 2 ⇔ x = −3 ou x = −
5
Verificando, temos que,

• para x = −3,
|2x − 1| = |2 · (−3) − 1| = | − 7| = 7
3x + 2 = −3(−3) + 2 = −7,
ou seja, não vale que |2x − 1| = 3x + 2;

• para x = − 51 ,  
1 7 7
|2x − 1| = 2 · −
− 1 = − =
5 5 5
3 7
3x + 2 = − + 2 =
5 5
. Portanto, x = − 15 é uma solução.

52
Assim, nossa técnica de solução está incorreta, pois gerou pelo menos uma raiz “falsa”!

O que fizemos de errado na solução dos exemplos anteriores?

Nos exemplos 7.7 e 7.8, utilizamos que

|2x + 1| = x + 3 ⇔ 2x + 1 = x + 3 ou 2x + 1 = −(x + 3),

|2x − 1| = 3x + 2 ⇔ 2x − 1 = 3x + 2 ou 2x − 1 = −(3x + 2),


ou seja, tentamos resolver como no caso |x| = a, que, apenas quando a > 0, equivale a
x = a ou x = −a. Acontece que não podemos garantir, em princı́pio, que x + 3 > 0 e 3x + 2 > 0.

Voltando à solução da equação |x| = a,

• Se a < 0, a solução é vazia (S = ∅) .

• Se a = 0, temos x = 0 (S = {0})

• Se a > 0, temos x = a ou x = −a (S = {−a, a}).

Podemos então escrever, de maneira geral, que

|x| = a ⇔ (x = a ou x = −a) e a > 0,

isto é, |x| = a é equivalente a x = a ou x = −a se, simultaneamente, tivermos a > 0.

Vamos voltar aos exemplos e resolvê-los corretamente:

Exemplo 7.3 Resolver a equação


|2x + 1| = x + 3.

Temos

|2x + 1| = x + 3 ⇔ (2x + 1 = x + 3 ou 2x + 1 = −(x + 3)) e x + 3 > 0


⇔ (2x + 1 = x + 3 ou 2x + 1 = −x − 3) e x > −3
⇔ (2x − x = 3 − 1 ou 2x + x = −3 − 1) e x > −3
⇔ (x = 2 ou 3x = −4) e x > −3
 
4
⇔ x = 2 ou x = − e x > −3
3
4
⇔ x = 2 ou x = −
3
Exemplo 7.4 Resolver a equação
|2x − 1| = 3x + 2.

53
Temos

|2x − 1| = 3x + 2 ⇔ (2x − 1 = 3x + 2 ou 2x − 1 = −(3x + 2)) e 3x + 2 > 0


⇔ (2x − 1 = 3x + 2 ou 2x − 1 = −3x − 2) e 3x > −2
2
⇔ (2x − 3x = 2 + 1 ou 2x + 3x = −2 + 1) e x > −
3
2
⇔ (−x = 3 ou 5x = −1) e x > −
  3
1 2
⇔ x = −3 ou x = − ex>−
5 3
1
⇔ x=− .
5
Na última equivalência, descartamos x = −3 pois não satisfaz a condição x > − 23 .

Exemplo 7.5 Resolver a equação


|x| = |a|.

Note que dois números reais x e a terão o mesmo módulo se, e somente se, x = a ou x = −a.

Assim,
|x| = |a| ⇔ x = a ou x = −a.

Exemplo 7.6 Resolver a equação


|x + 3| = |2x − 1|

Utilizando a equivalência
|x| = |a| ⇔ x = a ou x = −a
vista no exemplo anterior, temos

|x + 3| = |2x − 1| ⇔ x + 3 = 2x − 1 ou x + 3 = −(2x − 1)
⇔ x + 3 = 2x − 1 ou x + 3 = −2x + 1
⇔ x − 2x = −1 − 3 ou x + 2x = 1 − 3
⇔ −x = −4 ou 3x = −2
2
⇔ x = 4 ou x = −
3
Exemplo 7.7 Resolver a inequação
|x| > a.

54
Primeiramente, vamos pensar no caso em que a > 0. Observando o gráfico

podemos ver que |x| > a apenas quando x > a ou x < −a.

Se a < 0, então |x| > a será sempre verdadeiro, pois, para todo x ∈ R, |x| > 0 > a. E também
sempre será verdade que x > a ou x < −a, pois teremos a < 0 6 x ou −a > 0 > x.

Se a = 0, então |x| > a se, e somente se, x 6= 0, caso nos quais também teremos x > a = 0 ou
x < −a = 0.

Assim, para todo x ∈ R, vale a equivalência abaixo:

|x| > a ⇔ x > a ou x < −a

Exemplo 7.8 Resolver a inequação


|x| > a.

Como no exemplo anterior,


|x| > a ⇔ x > a ou x 6 −a

Exemplo 7.9 Resolver a inequação


|2x + 5| > 3

Utilizando a equivalência vista no exemplo anterior, temos

|2x + 5| > 3 ⇔ 2x + 5 > 3 ou 2x + 5 < −3


⇔ 2x > 3 − 5 ou 2x < −3 − 5
⇔ 2x > −2 ou 2x < −8
⇔ x > −1 ou x < −4

Exemplo 7.10 Resolver a inequação


|x| < a.

Pensando no caso em que a > 0, observando o gráfico da função modular,

55
vemos que

|x| < a ⇔ −a < x < a.


Se a 6 0, é fácil ver que |x| < a nunca é verdadeiro. Por outro lado, como a < 0, não poderemos
ter, simultaneamente, x < a e que x > −a.

Assim, para todo x ∈ R, temos a equivalência

|x| < a ⇔ −a < x < a ⇔ (x > −a) e (x < a)


Note ainda que
|x| 6 a ⇔ −a 6 x 6 a ⇔ (x > −a) e (x 6 a)

Exemplo 7.11 Resolver a inequação


|5 − 2x| 6 3

Pela equivalência do exemplo anterior, temos

|5 − 2x| > 3 ⇔ 5 − 2x > −3 e 5 − 2x 6 3


⇔ −2x > −3 − 5 e − 2x 6 3 − 5
⇔ −2x > −8 e − 2x 6 −2
⇔ x64 e x>1
⇔ 16x64

Exemplo 7.12 Resolver a inequação

|x + 3| < |2x − 1|

Vamos ler a inequação com p = x + 3 e a = |2x − 1|:


|p| a
z }| { z }| {
|x + 3| < |2x − 1|

Podemos então usar a equivalência vista no exemplo 7.10:


|p| a (p>−a) (p<a)
z }| { z }| { z }| { z }| {
|x + 3| < |2x − 1| ⇔ (x + 3 > −|2x − 1|) e (x + 3 < |2x − 1|)

Reorganizando as desigualdades do lado direito, temos

|x + 3| < |2x − 1| ⇔ (|2x − 1| > −x − 3) e (|2x − 1| > x + 3)

Vamos analisar as duas desigualdades que aparecem do lado direito. A desigualdade |2x−1| > −x−3
é da forma |p| > a, portanto temos

|2x − 1| > −x − 3 ⇔ 2x − 1 > −x − 3 ou 2x − 1 < −(−x − 3).

O mesmo vale para a desigualdade |2x − 1| > x + 3, e podemos reescrever

|2x − 1| > x + 3 ⇔ 2x − 1 > x + 3 ou 2x − 1 < −(x + 3).

56
Assim,
|x + 3| < |2x − 1| ⇔ (2x − 1 > −x − 3) ou 2x − 1 < −(−x − 3)) e (2x − 1 > x + 3 ou 2x − 1 < −(x + 3))

⇔ (2x − 1 > −x − 3 ou 2x − 1 < x + 3) e (2x − 1 > x + 3 ou 2x − 1 < −x − 3)

⇔ (3x > −2 ou x < 4) e (x > 4 ou 3x < −2)

x > − 32 x < − 23

⇔ ou x < 4) e (x > 4 ou
| {z }
x < − 23

⇔ (x ∈ R) e (x > 4 ou

⇔ x > 4 ou x < − 23

Observe que é sempre verdade a condição x > − 23 ou x < 4 ; qualquer número real x satisfaz pelo


menos uma das duas desigualdades.

7.4 Voltando a falar do módulo de números reais


Vamos acrescentar às propriedades 7.1 outras que surgiram do estudo das inequações, que fizemos na
seção anterior.
Propriedades 7.3 O módulo possui as seguintes propriedades
i. |x| > 0, ∀x ∈ R. Além disso, |x| = 0 ⇔ x = 0.
ii. | − x| = |x|, ∀x ∈ R.
iii. |x| = a ⇔ (x = a ou x = −a) e a > 0.
iv. |x| = |a| ⇔ x = a ou x = −a.
v. |x| > a ⇔ x > a ou x < −a
vi. |x| > a ⇔ x > a ou x 6 −a
vii. |x| < a ⇔ −a < x < a ⇔ (x > −a) e (x < a)
viii. |x| 6 a ⇔ −a 6 x 6 a ⇔ (x > −a) e (x 6 a)

O módulo possui uma importante interpretação geométrica. Observe os pontos abaixo, marcados
sobre a reta dos números reais:
E D A C B

−3 −2 −1 0 1 2 3
Representando por d(A, B) a distância entre os pontos A e B, temos
d(A, B) = +2, d(B, C) = +1, d(B, E) = +5, d(D, E) = +2.
De maneira geral, considerando a, b ∈ R,
a b

a distância d(a, b) entre a e b será dada por



b − a, se b > a
d(a, b) = = |b − a|.
a − b, se a > b
Conclusão: |b − a| representa a distância entre os números a e b na reta numérica.

57
Exemplo 7.13 Resolver geometricamente a desigualdade |x + 1| < |x − 2|.

Temos que

• |x + 1| = |x − (−1)| é a distância de x a −1.

• |x − 2| é a distância de x a 2.

Assim, para que |x − (−1)| < |x − 2|, a distância de x a −1 deve ser menor do que a distância de x
a 2. Abaixo esboçamos o conjunto dos pontos que satisfazem a esta condição.
1/2
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4

O conjunto solução é dado então por


 
1
S = −∞, .
2

Exemplo 7.14 O que representa o conjunto dos valores de x ∈ R tais que |x − 2| < 3?

Note que
|x − 2| < 3 ⇔ d(x, 2) < 3.
Assim, geometricamente, a desigualdade é satisfeita pelos valores de x ∈ R cuja distância ao 2 é
menor do que 3,

ou seja, o intervalo (−1, 5).

Exemplo 7.15 O que representa o conjunto dos valores de x ∈ R tais que |x − c| < r?

Note que
|x − c| < r ⇔ d(x, c) < r.
Assim, geometricamente, a desigualdade é satisfeita pelos valores de x ∈ R cuja distância a c é
menor do que r,

ou seja, o intervalo (c − r, c + r).

58
8 Função Exponencial
8.1 Relembrando propriedades das potências
Antes de começarmos, vamos relembrar (a jato!) algumas propriedades básicas de potências, que serão
úteis mais à frente. Caso não tenha familiaridade com alguma delas, não é precisa memorizar; deixe
esta lista perto de você para eventuais consultas.

Para a > 0, b > 0, x ∈ R, y ∈ R, valem as propriedades

(i) an = a
| · a ·{z. . . · a}, para n inteiro positivo.
n fatores a
n √
(ii) a m = m an , para m e n inteiros, m > 1.

(iii) a0 = 1 e a1 = a

(iv) ax > 0

(v) a−x = 1
ax

(vi) Para a 6= 1, a igualdade ax = 1 vale se, e somente se, x = 0.

(vii) (ax )y = axy = (ay )x

(viii) (ab)x = ax bx .

(ix) Se a > 1 e x > 0, então ax > 1.

(x) Se 0 < a < 1 e x > 0, então ax < 1.

Não faremos aqui uma demonstração das propriedades acima, por não ser o objetivo deste texto.
Muitas das propriedades também são válidas quando a ou b forem negativos, porém algumas deixariam
de valer, como a (iv), outras precisariam ser adaptadas ou ganhar hipóteses adicionais até mesmo para
estarem bem definidas, como a (ii) e (vii) e a (viii), por exemplo. Por isso, nos limitamos apenas ao
caso a > 0 e b > 0, que será o único necessário neste texto.

8.2 Exemplos iniciais


Exemplo 8.1 Imagine uma cultura de bactérias, inicialmente com 1.000.000 indivı́duos e crescendo
a uma mesma razão em intervalos de tempo fixados, de forma que esta população dobre a cada 1 hora,
enquanto não houver restrição de nutrientes ou interferência que dificulte este crescimento.

Vamos considerar o tempo do inı́cio da observação como t = 0. Enquanto não houver alguma
interferência, teremos um crescimento como abaixo:

t 0 1 2 3 4 5
População 1.000.000 2.000.000 4.000.000 8.000.000 16.000.000 32.000.000

A cada hora, a população será o dobro da anterior. A partir disso, podemos obter uma expressão
para a população P em função de t, quando t for um inteiro não-negativo.

59
P (0) = 1.000.000 = 1.000.000 · 1 = 1.000.000 · 20

P (1) = 2.000.000 = (1.000.000 · 20 ) · 2 = 1.000.000 · 21

P (2) = 4.000.000 = (1.000.000 · 21 ) · 2 = 1.000.000 · 22

P (3) = 8.000.000 = (1.000.000 · 22 ) · 2 = 1.000.000 · 23

P (4) = 16.000.000 = (1.000.000 · 23 ) · 2 = 1.000.000 · 24

P (5) = 32.000.000 = (1.000.000 · 24 ) · 2 = 1.000.000 · 25


..
.
P (t) = (1.000.000 · 2t−1 ) · 2 = 1.000.000 · 2t , para t ∈ N
Estes valores nos dão o esboço abaixo:

Porém, esta cultura de bactérias não dá “saltos populacionais”, o crescimento é gradual ao longo
do tempo. Qual seria, por exemplo, a população de bactérias quando t = 1/2, isto é, meia hora após
iniciarmos a observação?

Em cada perı́odo de meia hora (1/2 hora), a população de bactérias cresce um mesmo fator, que
vamos chamar de a. Assim, a população P (1/2) meia hora após o inı́cio do experimento é igual à
população inicial multiplicada por a. Da mesma forma a população P (1) é igual à população de meia
hora antes multiplicada por a, ou seja, a · P (1/2).
Lembrando ainda que P (1) = 2 · P (0),

 P (1/2) = a · P (0)
P (1) = a · P (1/2)
P (1) = 2 · P (0)

60
Substituindo o P (1) da terceira igualdade por a · P (1/2) (dado pela segunda igualdade), temos

2 · P (0) = a · P (1/2)

e, substituindo P (1/2) acima por a · P (0) (dado pela primeira igualdade), temos

2 · P (0) = a · (a · P (0)) .

Assim,
2 · P (0) = a2 · P (0),
√ √
logo a2 = 2√e, portanto a = 2 ou a = − 2. Como o valor negativo não faz sentido no problema,
temos a = 2 = 21/2 .

Com isso, a população após meia hora de observação, é dada por

P (1/2) = a · P (0) = 21/2 · 1.000.000 = 1.000.000 · 21/2 .

E qual seria a população de bactérias, por exemplo, quando t = 1/n?

Assim como fizemos acima, em cada perı́odo de 1/n hora, a população de bactérias cresce um
mesmo fator b. Logo a população em cada múltiplo de 1/n hora é a população de 1/n hora atrás
multiplicada por b:


 P (1/n) = b · P (0)
P (2/n) = b · P (1/n)




P (3/n) = b · P (2/n)
 ..



 .
 P (1) = P (n/n) = b · P ((n − 1)/n)

A primeira igualdade nos dá P (1/n) = b · P (0) que, substituindo na segunda, dá P (2/n) = b2 P (0).
Substituindo este P (2/n) na terceira, temos P (3/n) = b3 P (0). Seguindo assim, chegaremos na última
igualdade com P (1) = P (n/n) = bn P (0). Como P (1) = 2 · P (0), temos

2 · P (0) = bn · P (0),

logo bn = 2 e,√portanto, b = n 2 = 21/n . (Quando n é par, a equação bn = 2 também admitiria a
solução b = − n 2, que descartamos por não fazer sentido no fenômeno que estamos estudando)

61
Temos então
P (1/n) = b · P (0) = 21/n · 1.000.000.
Temos também

P (2/n) = b · P (1/n) = 21/n · (1.000.000 · 21/n ) = 1.000.000 · 22/n ,

e, prosseguindo assim,

P (3/n) = b · P (2/n) = 21/n · (1.000.000 · 22/n ) = 1.000.000 · 23/n .

P (4/n) = b · P (3/n) = 21/n · (1.000.000 · 23/n ) = 1.000.000 · 24/n .


..
.
 
m−1 m−1
P (m/n) = b · P = 21/n · 1000 · 2 n = 1.000.000 · 2m/n ,
n
para todo m ∈ N.
E qual teria sido a população de bactérias, por exemplo, uma hora antes de a observação começar,
isto é, quando t = −1?

Em cada perı́odo de 1 hora, a população de bactérias dobra, portanto a população P (0) no começo
da observação é o dobro da população P (−1) de uma hora antes. Logo,

P (0) = 2 · P (−1),

e então
P (0)
∴ P (−1) = = P (0) · 2−1 = 1.000.000 · 2−1 .
2
Repetindo os argumentos feitos para m, n ∈ N, podemos concluir que

P (−n) = 1.000.000 · 2−n ,

P (−m/n) = 1.000.000 · 2−m/n .


Até aqui, já concluı́mos então que, para todo número racional t = m/n ∈ Q, temos

P (t) = 1.000.000 · 2t .

Esta expressão pode ser estendida a todos os valores de t ∈ R. Para isso, consideramos apro-
ximações racionais q cada vez melhores de t e veremos o valor de P (q) se aproximar do valor que será o

62
de P (t). Esta é apenas uma forma intuitiva de pensar, que ficará mais clara apenas à frente do curso,
quando estudarmos limites e continuidade.

Para todo t ∈ R, temos então


P (t) = 1.000.000 · 2t .
O gráfico da função dada P : R → R dada por esta expressão é como abaixo.

Veremos daqui a pouco algumas propriedades que justifiquem este gráfico. Ele não é obtido sim-
plesmente “ligando pontos”conhecidos. Apenas ligando pontos, nada nos garantiria que o gráfico

não nos daria algo como

Exemplo 8.2 Uma população de bactérias possui, inicialmente, P0 indivı́duos. Qual seria a expressão
deste número de indivı́duos se ele aumentasse 50% a cada hora?

Após o aumento de 50% da primeira hora, teremos


100 P0 50 P0 150 P0 3
P0 −−−−−−−−→ P0 + 50%P0 = + = = P0
1 hora depois 100 100 100 2
Assim,  1
3
P (1) = P0 · .
2
Passada mais uma hora, teremos
 1  2
3 3 3 3
P (2) = P (1) · = P0 · · = P0 · .
2 2 2 2

63
Prosseguindo assim,  2  3
3 3 3 3
P (3) = P (2) · = P0 · · = P0 · ,
2 2 2 2
 3  4
3 3 3 3
P (4) = P (3) · = P0 · · = P0 · ,
2 2 2 2
..
.
 n
3
P (n) = P0 · ,n ∈ N
2
Generalizando como fizemos no caso em que a população dobrava,
 t
3
P (t) = P0 · , t ∈ R.
2

De maneira geral, qualquer crescimento a um fator a > 1 a cada unidade de tempo nos daria

P (t) = P0 · at , t ∈ R.

Nos exemplos anteriores, a = 2 e a = 32 , respectivamente.

Mas também existem fenômenos em que temos a redução de uma grandeza a um mesmo fator a
cada unidade de tempo, como no exemplo a seguir.

Exemplo 8.3 A cada ano, 20% de uma massa M0 de isótopos radioativos de um certo elemento se
converte em isótopos não radioativos.

Após um ano, teremos


100 M0 20 M0 80 M0 4
M0 −→ M0 − 20%M0 = − = = M0
1 ano 100 100 100 5
Assim, como nos exemplos anteriores,
 0
4
M (0) = M0 = M0 ·
5
 1
4 4
M (1) = M0 · = M0 ·
5 5
   2
4 4 4
M (2) = M0 · · = M0 ·
5 5 5
..
.
 n
4
M (n) = M0 · , n∈N
5
Da mesma forma que foi feito no primeiro exemplo, podemos generalizar esta expressão para todo
t ∈ R, obtendo  t
4
M (t) = M0 · , t ∈ R.
5

64
8.3 Função exponencial
Definição 2 Uma função f : R → R será exponencial se sua expressão for da forma
f (x) = ax ,
para algum número real a > 0.

Vamos entender um pouco melhor a expressão da função exponencial. A base, a, é um número real
positivo fixo, o que varia é o expoente x. É diferente de uma função potência, com expressão na forma
f (x) = xn , em que o expoente é fixo e a base é quem varia.

O gráfico da função exponencial é como um dos gráficos abaixo, dependendo do valor de a.

Observe que, quando a = 1 a função é constante e igual a 1, pois 1x = 1 para todo x ∈ R.

Proposição 8.1 Uma função exponencial f : R → R, f (x) = ax , com a > 0 será sempre positiva, isto
é, f (x) > 0 para todo x ∈ R.

Esta proposição é consequência direta da propriedade (iv) de potências, da primeira seção.

Outra observação muito importante é que, para qualquer base a > 0,


f (0) = a0 = 1.
Uma caracterı́stica importante da função exponencial está na razão entre sua variação e seu valor.
Vamos considerar uma função exponencial de expressão f (x) = ax . Agora, fixemos um número positivo
∆x. Para um valor qualquer de x0 ∈ R, a variação do valor da função entre x0 e x0 + ∆x é dada por
∆f = f (x0 + ∆x) − f (x0 ).
x
No exemplo abaixo, vamos calcular a variação de f (x) = 23 , quando ∆x = 2, para dois valores
diferentes de x0 . Depois, vamos dividir esta variação por f (x0 ), para ver o que obtemos.

65
x0 = 1 x0 = 2

3 1 3 2
 
f (x0 ) = f (1) = 2
= 1,5 f (x0 ) = f (2) = 2
= 2,25

3 3 3 4
 
f (x0 + 2) = f (1 + 2) = 2
= 3,375 f (x0 + 2) = f (2 + 2) = 2
= 5,0625

∆f = f (x0 + 2) − f (x0 ) = 1,875 ∆f = f (x0 + 2) − f (x0 ) = 2,8125

∆f 1,875 ∆f 3,8125
= = 1,25 = = 1,25
f (x0 ) 1,5 f (x0 ) 2,25

As razões entre ∆f e f (x0 ) calculadas acima ficaram iguais! Isso não é exclusividade deste exemplo.
f (x + ∆x) − f (x)
Sempre que fixarmos ∆x > 0, a razão será constante.
f (x)
Você pode experimentar um pouco o cálculo desta razão no applet disponı́vel em
https://www.geogebra.org/m/kmgz3vmn .

O fato desta razão ser constante não deveria ser uma surpresa. Lembre-se dos exemplos que vimos
no começo deste texto. Neles, para cada intervalo de tempo fixado (∆x), a variação de uma grandeza
(∆f = f (x0 +∆x)−f (x0 )) era proporcional ao valor da mesma grandeza no começo do intervalo (f (x0 )).

Vamos verificar que isso realmente sempre ocorre.

∆f = f (x0 + ∆x) − f (x0 )


= ax0 +∆x − ax0
= ax0 · a∆x − ax0
= ax0 (a∆x − 1)
= f (x0 ) (a∆x − 1)
| {z }
constante, pois a
e ∆x são fixados

Assim,
∆f f (x0 )(a∆x − 1)
= = (a∆x − 1)
f (x0 ) f (x0 ) | {z }
constante

66
Logo, concluı́mos que, fixada a variação ∆x do parâmetro x, a variação ∆f da função naquele
intervalo será proporcional ao valor f (x0 ) da função no começo do intervalo.

Podemos ainda tirar outras conclusões a partir da expressão

∆f = f (x0 )(a∆x − 1)

que obtivemos.

Se a > 1, como ∆x > 0, teremos a∆x > 1, logo a∆x − 1 > 0. Com isso,

∆f = f (x0 ) (a∆x − 1) > 0.


| {z } | {z }
positivo positivo

Ou seja, a variação da função é positiva em qualquer intervalo. Portanto a função f é crescente.

Se 0 < a < 1, como ∆x > 0, teremos a∆x < 1, logo a∆x − 1 < 0. Com isso,

∆f = f (x0 ) (a∆x − 1) < 0.


| {z } | {z }
positivo negativo

Ou seja, se 0 < a < 1, a variação da função é negativa em qualquer intervalo. Portanto a função f é
decrescente.

Se a = 1, temos a∆x = 1, logo a∆x − 1 = 0. Portanto, a variação de f é sempre nula, o que já era
esperado, pois f é constante.
Assim, para deixar registrado o que concluı́mos, vamos enunciar uma proposição:

Proposição 8.2 Seja f : R → R, dada por f (x) = ax , com a > 0.


• Se 0 < a < 1, f é decrescente, isto é, x0 < x1 se, e somente se, f (x0 ) > f (x1 ).
• Se a > 1, f é crescente, isto é, x0 < x1 se, e somente se, f (x0 ) < f (x1 ).
• Se a = 1, f é constante e igual a 1, isto é, f (x) = 1 para todo x ∈ R.
∆f
Podemos também calcular a variação média da exponencial, isto é, a razão ∆x
. Pelo que calculamos
acima,

∆f f (x0 )(a∆x − 1) (a∆x − 1)


= = f (x0 ) ,
∆x ∆x ∆x
| {z }
constante, pois a
e ∆x são fixados

que também não varia com a mudança do x0 . Esta variação média depende apenas do ∆x e do a fixados.

Uma consequência, da Proposição anterior é que, se a base a for diferente de 0, a função exponencial
sempre mudará de valor quando houver mudança do parâmetro x. Com isso, podemos também enunciar
o resultado a seguir.

Proposição 8.3 A função f : R → R, dada por f (x) = ax , com a > 0 e a 6= 1 é injetiva, isto é,
• se x0 6= x1 então f (x0 ) 6= f (x1 ),
• equivalentemente, se f (x0 ) = f (x1 ) então x0 = x1 .

67
8.4 Comparação entre exponenciais
Vamos comparar duas exponenciais de bases diferentes a e b, com 0 < a < b. Considere as funções
f : R → R e g : R → R dadas por f (x) = ax e g(x) = bx .

Para x > 0,  x
g(x) bx b
= x = .
f (x) a a
b
x
Como b > a, temos a
> 1 e, como x > 0, temos ab > 1. Logo

g(x)
> 1.
f (x)

Com isso, g(x) > f (x).

Assim, para um mesmo x > 0, quanto maior a base, maior o valor da função.

Para x < 0,  x  
g(x) bx b a −x
= x = = .
f (x) a a b
a
−x
Como a < b, temos b
< 1 e, como −x > 0, temos ab < 1. Logo

g(x)
< 1.
f (x)

Com isso, g(x) < f (x).

Assim, para um mesmo x < 0, quanto maior a base, menor o valor da função.

O esboço abaixo mostra alguns exemplos de gráficos de funções exponenciais. Tente observar as
relações obtidas nos parágrafos anteriores. Note que, para x0, quanto maior a base, mais acima está o
gráfico da exponencial correspondente. Para x < 0, a situação se inverte.

1 2 3
< <1< <2
2 3 2
Nas esboço anterior, vamos exibir as retas tangentes (não importa ainda como as obtivemos!) aos
gráficos das funções exponenciais exibidas, no ponto (0, 1).

68
Agora vamos olhar com maior aproximação para o gráfico e as tangentes de duas dessas funções,
de bases 2 e 3.

Vamos traçar a reta x = y, de coeficiente angular 1, que é a diagonal principal do plano cartesiano.
Depois, traçaremos a reta y = x + 1, paralela a y = x e passando pelo ponto (0, 1).

Podemos perceber que a inclinação desta reta está entre as inclinações das retas tangentes a
f (x) = 2x e g(x) = 3x em (0, 1). É razoável, portanto, acreditar que, para alguma base especial
a, com 2 < a < 3, a reta tangente ao gráfico da função h(x) = ax é dada por y = x + 1.

69
Esta base especial existe, e é dada por um número irracional muito especial, denotado por e e cujos
primeiros dı́gitos são
e = 2,71828182846...

A função exponencial dada por f (x) = ex é também denotada por exp(x), de tão especial que é.

O número e = 2,71828182846... é chamado, entre outros nomes, de número de Euler, número de


Napier, base natural e desempenhará um papel fundamental na disciplina Cálculo 1A. Mas, por en-
quanto, não se preocupe com ele; o importante agora é apenas saber se sua existência, saber que é algo
ali entre 2,5 e 3. Este número pode até parecer meio esquisitão à primeira vista, mas saiba que sua
aparição em qualquer problema de Cálculo certamente torna tudo mais fácil! A modelagem da maior
parte dos fenômenos naturais atraem (naturalmente!) o número e, de tão bonito que ele é.

Guarde bem o que vou dizer, para que eu possa cobrar no futuro. Você ainda ficará muito feliz
quando uma exponencial f (x) = ex cruzar o seu caminho em um problema de derivadas ou integrais!

8.5 Equações e inequações exponenciais


As Proposições 8.2 e 8.3 são muito importantes para resolvermos equações e inequações em que a
variável apareça no expoente de expressões.

Exemplo 8.4 Resolver, para x ∈ R, a equação

3x = 27.

70
Lembre-se de que a função exponencial é crescente (se a base for a > 1) ou decrescente (se a base
for 0 < a < 1). De qualquer forma, ela é injetiva.

Considerando a função f (x) = 3x , a equação se transforma em

f (x) = 27.

Note que 27 = 33 = f (3). Assim, a equação se torna

f (x) = f (3).

Como f é injetiva, se f (x) = f (3), temos x = 3.

Exemplo 8.5 Resolver, para x ∈ R, a equação


2
2x = 2x .

Considerando a função f (x) = 2x , que é injetiva,


2
2x = 2x ⇔ f x2 = f (x) ⇔ x2 = x ⇔ x = 0 ou x = 1.


Exemplo 8.6 Resolver, para x ∈ R, a equação


 x
x2 1
2 = .
2

Considerando a função f (x) = 2x , que é injetiva,


 x
x2 1 2
⇔ 2x = 2−x ⇔ f x2 = f (−x) ⇔ x2 = −x

2 =
2
⇔ x = 0 ou x = −1.

Exemplo 8.7 Resolver, para x ∈ R, a inequação

3x > 81.

Considerando a função f (x) = 3x , a inequação se transforma em

f (x) > f (4).

Como a base 3 da função exponencial f é maior que 1, f é crescente, logo

3x > 81 ⇔ f (x) > f (4) ⇔ x > 4.

71
Exemplo 8.8 Resolver, para x ∈ R, a inequação
 x
1
>8
2
x
Considerando a função f (x) = 12 , a inequação se transforma em
f (x) > f (−3),
1 −3
= 23 = 8. Como a base 12 da função exponencial f é menor que 1, f é decrescente, logo

pois 2
 x
1
> 8 ⇔ f (x) > f (−3) ⇔ x < −3.
2

Poderı́amos também resolver esta inequação de outra forma. Considerando a função f (x) = 2x , a
inequação se transforma em
f (−x) > f (3),
x
pois 2−x = 12 e 23 = 8. Como a base 2 da função exponencial f é maior que 1, f é crescente,


logo  x
1
> 8 ⇔ f (−x) > f (3) ⇔ −x > 3 ⇔ x < −3.
2

Exemplo 8.9 Resolver, para x ∈ R, a equação


4x − 3 · 2x = 4.
Note que 4x = (22 )x = (2x )2 . Fazendo y = 2x ,
4x − 3 · 2x = 4 ⇔ y 2 − 3y = 4 ⇔ y 2 − 3y − 4 = 0 ⇔
⇔ y = 4 ou y = −1.

Assim, a solução da equação é dada pelos x ∈ R tais que


2x = 4 ou 2x = −1.
Como não existe x ∈ R tal que 2x = −1 (por quê?),
4x − 3 · 2x = 4 ⇔ 2x = 4 ou 2x = −1 ⇔ x = 2.

Exemplo 8.10 Resolver, para x ∈ R, a inequação


4x − 3 · 2x > 4.
Fazendo y = 2x ,
4x − 3 · 2x > 4 ⇔ y 2 − 3y − 4 > 0 ⇔ y > 4 ou y < −1.
Assim, a solução da equação é dada pelos x ∈ R tais que
2x > 4 ou 2x < −1.
Como não existe x ∈ R tal que 2x < −1 (por quê?),
4x − 3 · 2x > 4 ⇔ 2x > 4 ou 2x < −1 ⇔ 2x > 22 ⇔ x > 2.

72
9 Funções Trigonométricas
Você consegue se lembrar das razões trigonométricas no triângulo retângulo?
C

a
b

B c A

cateto oposto b cateto adjacente c cateto oposto b


sen(B)
b = = , cos(B)
b = = , tg(B)
b = = .
hipotenusa a hipotenusa a cateto adjacente c

Estas razões estão definidas para um ângulo B de medida 0◦ < B̂ < 90◦ .

Há três ângulos cujas razões trigonométricas são muito especiais, 30◦ , 45◦ e 60◦ .

Considerando o quadrado de lado b da figura à esquerda



e traçando sua diagonal BC, temos c = b e a = 2 B.
Assim,

◦ b b 1 2
sen(45 ) = = √ = √ = .
a 2b 2 2

◦ c b 1 2
cos(45 ) = = √ = √ = .
a 2b 2 2
b b
tg(45◦ ) = = = 1.
c b

73
Considerando o triângulo equilátero BDC de lado a da
figura à√ esquerda, traçando sua altura AC, temos c = a2
e b = a 2 3 . Assim, olhando para o ângulo B̂ = 60◦ ,

a 3

b 3
sen(60◦ ) = = 2 = .
a a 2
a
c 1
cos(60◦ ) = = 2 = .
a a 2

◦ b a 3 √
tg(60 ) = = a2 = 3.
c 2

Olhando agora para o ângulo Ĉ = 30◦ ,


a
c 1
sen(30◦ ) = = 2 = .
a a 2

a 3

b 3
cos(30◦ ) = = 2 = .
a a 2
a

◦ c 2 1 3
tg(30 ) = = √ = √ = .
b a 3 3 3
2

Hoje, você verá que estas razões trigonométricas podem ser estendidas à funções de domı́nio R. Para
isso, precisaremos sair de um triângulo retângulo, onde os ângulos são limitados ao domı́nio (0◦ , 90◦ ).

Também deixaremos de trabalhar com os ângulos medidos em graus e adotaremos uma forma mais
natural de expressar ângulos, que, na verdade, passarão a ser arcos.

9.1 O cı́rculo trigonométrico


Você poderá experimentar os conceitos desta seção e da próxima no applet disponı́vel no link
https://www.geogebra.org/m/vu78rk73.

Vamos inciar considerando o cı́rculo de centro em (0, 0) e raio 1, da figura abaixo. Considere
também o ponto A = (1, 0).

74
Escolha agora um número real t > 0. O comprimento do segmento de extremos (0, 0) e (t, 0),
esboçado abaixo em azul, é t. Considere, sobre o cı́rculo, o arco de comprimento t, desenhado a partir
de A e percorrendo o cı́rculo no sentido anti-horário, como na figura abaixo. Chame de P (t) o outro
extremo deste arco.

Uma observação importante é que como o raio deste cı́rculo é r = 1, o comprimento deste cı́rculo
inteiro será dado por 2π · r = 2π. Com isso, temos nas figuras abaixo os pontos P (π/2), P (π), P (3π/2)
e P (2π).

75
Também podemos ter t < 0. Neste caso, será percorrido um arco de comprimento |t|, também a
partir de A = (1, 0), porém no sentido horário.

Na figura abaixo, destacamos alguns pontos interessantes.

76
Para marcar alguns destes pontos, lembre 2π corresponde ao cı́rculo inteiro, logo π corresponde a
meio cı́rculo, π/2 a um quarto, π/3 a um sexto e π/6 a um doze-avos.

Alguns pontos foram escritos como correspondentes a mais de um valor de t. Na verdade, todos
poderiam ter sido escritos assim. Podemos chegar a qualquer ponto do cı́rculo partindo de A = (1, 0)
e percorrendo o cı́rculo no sentido horário ou anti-horário. Na verdade, cada ponto pode ser atingido
percorrendo o cı́rculo com infinitos arcos diferentes, basta ficarmos dando muitas voltas.

Cada volta completa no cı́rculo, seja no sentido horário ou anti-horário, nos levará ao mesmo ponto
de partida. Assim, todos os arcos de comprimento 2kπ, com k inteiro, percorridos a partir de A nos
levam... de volta ao próprio ponto A. Assim, para todo k ∈ Z,

P (2kπ) = P (0) = (1, 0).

De maneira geral, se a diferença entre o comprimento de dois arcos é um número inteiro de voltas,
isto é, se eles têm comprimentos t e t + 2kπ, com k ∈ Z, os arcos terminarão no mesmo lugar, isto é,

P (t + 2kπ) = P (t).

9.2 Seno e Cosseno de t ∈ R


Você poderá experimentar os conceitos desta seção e da anterior no applet disponı́vel no link
https://www.geogebra.org/m/vu78rk73.

77
Considerando o número real t e o ponto P (t) correspondente a ele, como vimos na seção anterior,
definimos o cosseno e seno de t respectivamente por

cos(t) = coordenada x do ponto P (t),


sen(t) = coordenada y do ponto P (t).
Isto é, sen(t) e cos(t) são tais que

P (t) = (cos(t), sen(t)) .

Como as coordenadas de P (t) são x = cos(t) e y = sen(t), e como sabemos que este cı́rculo é o
conjunto dos pontos (x, y) satisfazendo x2 + y 2 = 1, teremos então

(cos(t))2 + (sen(t))2 = 1

ou, como é mais comum escrever


cos2 (t) + sen2 (t) = 1,
que é chamada de relação trigonométrica fundamental.

Podemos também observar que, como o raio do cı́rculo é 1,

−1 6 cos(t) 6 1,

−1 6 sen(t) 6 1.
Observando os pontos do primeiro quadrante, e os ângulos centrais de 30◦ , 40◦ , e 60◦ que formam,
vemos que
 π  √3 π  1
cos = , sen = ,
6 2 6 2
 π  √2  π  √2
cos = , sen = ,
4 2 4 2
π  1  π  √3
cos = , sen = .
3 2 3 2

78
Observando agora os pontos P (0), P (π/2), P (π) e P (3π/2), temos

cos (0) = 1, sen (0) = 0,


π  π 
cos = 0, sen = 1,
2 2

cos (π) = −1, sen (π) = 0,


   
3π 3π
cos = 0, sen = −1.
2 2
Já vimos que P (t) = P (t + 2π), logo

cos(t + 2π) = cos(t), sen(t + 2π) = sen(t).

Na figura abaixo, você pode ver que os pontos P (t) e P (−t) são simétricos em relação ao eixo x,
pois são atingidos percorrendo arcos de mesmo tamanho, porém em direções opostas.

As coordenadas x destes pontos serão as mesmas, logo

cos(−t) = cos(t).

As coordenadas y destes pontos serão simétricas, logo

sen(−t) = −sen(t).

A diferença entre os arcos correspondentes a t e t + π é de π, que corresponde a meia volta no

79
cı́rculo. Portanto, os pontos P (t) e P (t + π) são simétricos, como podemos ver na figura abaixo.

Logo,
cos(t + π) = − cos(t),
sen(t + π) = −sen(t).

9.3 Algumas relações importantes


Duas relações muito importante, mas que não demonstraremos aqui, são as que nos dão sen e cos da
soma de dois arcos:

sen(a + b) = sen(a) cos(b) + sen(b) cos(a),


cos(a + b) = cos(a) cos(b) − sen(b)sen(a).
Há pessoas que gostam também de “decorar”outras duas relações, para a diferença entre dois arcos.
Mas nós não precisamos, pois elas seguem como consequência do que já vimos:

sen(a − b) = sen(a + (−b))

= sen(a) cos(−b) + sen(−b) cos(a), utilizando a fórmula da soma do sen

= sen(a) cos(b) − sen(b) cos(a), pois cos(−t) = cos(t) e sen(−t) = −sen(t)

cos(a − b) = cos(a + (−b))

= cos(a) cos(−b) − sen(−b)sen(a), utilizando a fórmula da soma do sen

= cos(a) cos(b) + sen(b)sen(a), pois cos(−t) = cos(t) e sen(−t) = −sen(t)

Na verdade, as pessoas gostam muito de “decorar fórmulas”, o que é bem estranho...

80
Seguindo aplicando as relações da soma de arcos para a = b = x, temos ainda que

sen(2x) = sen(x + x) = sen(x) cos(x) + sen(x) cos(x) = 2sen(x) cos(x),

cos(2x) = cos(x + x) = cos(x) cos(x) − sen(x)sen(x) = cos2 (x) − sen2 (x).


Outra relação muito importante, também decorrente da relação da soma do seno, é que
 π π  π 
sen x + = sen(x) cos + cos(x)sen = sen(x) · 0 + cos(x) · 1 = cos(x),
2 2 2
ou seja,  π
cos(x) = sen x + .
2
Portanto, o cosseno de x tem exatamente o mesmo valor que o seno assumirá em um arco π/2 maior
que x.
 

Exemplo 9.1 Calcule cos .
12

π π 2π + 3π 5π
+ = = ,
4 6 12 12
logo
 
5π π π
cos = cos +
12 4 6
π  π  π  π 
= cos cos − sen sen
√ 4√ √6 4 6
2 3 2 1
= · − ·
√2 2√ 2 2
6 2
= −
√4 √4
6− 2
=
4
5π π
A chave neste exemplo é perceber que 12
= 4
+ π6 . Mas como perceber isso? Pode ajudar se você
pensar em graus:
5π 5 π π
corresponde a · 180◦ = 5 · 15◦ = 75◦ = 45◦ + 30◦ , que corresponde a + .
12 12 4 6

9.4 As funções seno e cosseno


Para cada x ∈ R, definimos na seção anterior sen(x) e cos(x). Assim, temos duas funções sen : R → R
e cos : R → R, com algumas propriedades que já deduzimos na sessão anterior.

Propriedades 9.1 As funções sen : R → R e cos : R → R satisfazem às seguintes propriedades

• cos(x) = cos(−x), ou seja, o cosseno é uma função par.

• sen(−x) = −sen(x), ou seja, o seno é uma função ı́mpar.

81
• cos(x + 2π) = cos(x) e sen(x + 2π) = sen(x), ou seja, cosseno e seno são funções periódicas,
com perı́odo 2π.

• −1 6 cos(t) 6 1 e −1 6 sen(t) 6 1.

• cos(x) = sen x + π2


O gráfico de sen é o conjunto dos pontos da forma (x, sen(x)). Podemos construir este gráfico a
partir da definição do seno. Para x ∈ R, consideramos o ponto P (x) correspondente no cı́rculo, que terá
coordenadas (cos(x), sen(x)). O ponto (x, sen(x)) do gráfico, possui, portanto a mesma coordenada y
que P (x), estando portanto na mesma reta horizontal. Mas este ponto (x, sen(x)) também está na
mesma reta vertical que (x, 0), logo, é a interseção das retas que passam por P (x) e (x, 0).

Você pode experimentar uma construção do gráfico, como acima, no applet disponı́vel em
https://www.geogebra.org/m/txf36aa5.

Abaixo, temos o gráfico do seno construı́do desta forma:

Observe que os valores máximo e mı́nimo são 1 e −1 e que as raı́zes são os pontos da forma kπ,
com k ∈ Z.
Já vimos que o cosseno de x tem exatamente o mesmo valor que o seno assumirá em um arco
π/2 maior que x. Por exemplo, teremos cos(0) = sen(π/2), cos(π/2) = sen(π), etc. Se estivéssemos
falando do estudo de um fenômeno, no qual x é o tempo, poderı́amos dizer que o cosseno “acontece”π/2
segundos antes do seno. Com isso, seu gráfico é o mesmo do seno, apenas “antecipado”de π/2 unidades
em x.

82
Na próxima semana, veremos que o gráfico do cosseno é obtido por uma translação no gráfico do
seno.

Exemplo 9.2 Determine os valores de x ∈ R para os quais


1
cos(x) = .
2
Há apenas dois pontos no cı́rculo cuja coordenada horizontal (o cosseno) é igual a 21 . O primeiro
destes pontos é o correspondente ao arco de π3 (que corresponde ao ângulo central de 60◦ ). O outro
ponto, com a mesma coordenada horizontal, é o simétrico ao primeiro com relação ao eixo x. Este
ponto é o correspondente ao arco de − π3 .

Assim, a equação é satisfeita por x = π3 e por x = − π3 , mas estes não são os únicos valores de x
que tornam válida a igualdade. Qualquer outro valor x = π3 + 2kπ ou x = − π3 + 2kπ, com k ∈ Z,
corresponderá a um dos dois pontos do cı́rculo acima, logo também terão cosseno igual a 12 .

Assim,
1 π π
cos(x) = ⇔ x = + 2kπ ou x = − + 2kπ, com k ∈ Z.
2 3 3
Exemplo 9.3 Determine os valores de x ∈ R para os quais

2
sen(x) > .
2

2
Há apenas dois pontos no cı́rculo cuja coordenada vertical (o seno) é igual a 2
. Estes pontos são
os correspondentes aos arcos de π4 e o 3π
4
.

83
Como √ o seno é dado pela coordenada vertical
√ de um ponto do cı́rculo, os pontos cujo seno é maior ou
2 2
igual a 2 são aqueles acima da reta y = 2 ou na reta. O conjunto destes pontos estão representados
na figura abaixo:

π 3π
Estes pontos correspondem aos arcos de comprimento 4
6x6 4
. Assim,
√  
2 π 3π
sen(x) > para todo x ∈ , .
2 4 4

Porém, estes não são os únicos arcos que satisfazem a desigualdade. Qualquer arco de comprimento
x com π4 + 2kπ 6 x 6 3π 4
+ 2kπ, com k ∈ Z, também corresponderá a um dos pontos destacados na
figura (serão dadas k voltas e depois percorrido um arco que terá extremo no conjunto destacado).
Assim, √  
2 π 3π
sen(x) > para todo x ∈ + 2kπ, + 2kπ , com k ∈ Z.
2 4 4

9.5 As funções tangente e cotangente


Agora, vamos considerar a reta r : x = 1, tangente ao cı́rculo. Dado t ∈ R, tomamos o ponto P (t),
como antes. A reta que passa por (0, 0) e P (t) cortará a tangente r em um ponto T . Definiremos a
tangente de t, representada por tg(t), como sendo a coordenada y do ponto T . Veja abaixo.

84
Você pode experimentar uma construção da tangente e seu gráfico no applet disponı́vel em
https://www.geogebra.org/m/zmcmz548.

Pela semelhança entre os triângulos retângulos OBP (t) e OAT da figura abaixo, temos

AT OA
= ,
BP (t) OB
Como AT = tg(t), BP (t) = sen(t), OA = 1 e
OB = cos(t), temos

tg(t) 1
= ,
sen(t) cos(t)

logo
sen(t)
tg(t) = .
cos(t)

Um detalhe sobre a tangente é que ela não está definida para todo t. Se, por exemplo, t = π/2,
o ponto P (t) estará sobre o eixo y e, portanto, a reta OP (t) não intersectará a reta x = 1, portanto
não existirá o ponto T e a tangente. Isto acontecerá sempre que P (t) estiver sobre o eixo y, ou seja,
quando t for −π/2, π/2, 3π/2, 5π/2 ou mais geralmente, qualquer valor da forma π/2 + kπ, com k ∈ Z.
Isto é, quando t for π/2 mais qualquer número de mais-voltas.

E, como as equações não mentem jamais, a expressão que deduzimos para a tangente,

85
sen(t)
tg(t) = , também não está definida para tais valores de t, pois, para t na forma π/2 + kπ,
cos(t)
k ∈ Z, teremos cos(t) = 0.

π
Assim, a tangente determina uma função real tg de domı́nio dado por {x ∈ R|x 6= 2
+ kπ, ∀k ∈ Z},
isto é, uma função
n π o sen(x)
tg : x ∈ R x 6= + kπ, ∀k ∈ Z → R, tg(x) = .

2 cos(x)
Podemos construir o gráfico da tg da mesma forma que foi feito com o sen.

O gráfico da tangente é como abaixo. Repare que suas raı́zes são as mesmas da função sen e que
ela não está definida para os valores de x nos quais cos(x) = 0.

 π

Propriedades 9.2 A função tg : x ∈ R x 6= 2
+ kπ, ∀k ∈ Z → R tem as seguintes propriedades:
• tg(−x) = −tg(x), ou seja, tg é uma função ı́mpar.

86
tg(a) + tg(b)
• tg(a + b) = , quando tg(a + b) estiver definida.
1 − tg(a)tg(b)
• tg(x + π) = tg(x), logo tg é uma função de perı́odo π.

Podemos concluir estas propriedades a partir do que já sabemos sobre as funções seno e cosseno.
Temos

sen(−x) −sen(x) sen(x)


tg(−x) = = =− = −tg(x),
cos(−x) cos(x) cos(x)
e ainda,
sen(a) cos(b)+sen(b) cos(a)
sen(a + b) sen(a) cos(b) + sen(b) cos(a) cos(a) cos(b)
tg(a + b) = = = cos(a) cos(b)−sen(a)sen(b)
=
cos(a + b) cos(a) cos(b) − sen(a)sen(b)
cos(a) cos(b)

sen(a)
cos(a)
+ sen(b)
cos(b) tg(a) + tg(b)
= sen(a)sen(b)
= .
1 − cos(a) cos(b) 1 − tg(a)tg(b)
sen(0) 0
Com esta relação, e lembrando que tg(0) = cos(0)
= 1
= 0, deduzimos a terceira propriedade:

tg(x) + tg(π) tg(x) + 0 tg(x)


tg(x + π) = = = = tg(x).
1 − tg(a)tg(π) 1 − tg(a) · 0 1

15
Exemplo 9.4 Se tg(θ) = , quais são as possibilidades para cos(θ) e sen(θ) ?
8

Como
sen(x) 15 15
= tg(x) = ∴ sen(x) = cos(x),
cos(x) 8 8
e, como
sen2 (x) + cos2 (x) = 1,
temos  2
15
cos(x) + cos2 (x) = 1,
8
logo
225 cos2 (x)
+ cos2 (x) = 1,
64
e então
289 cos2 (x)
= 1.
64
Com isso,
64
cos2 (x) = .
289
Assim,
8 8
cos(x) = ou cos(x) = − .
17 17
8
Se cos(x) = 17
, temos
15 8 15
sen(x) = · = .
8 17 17

87
8
Se, por outro lado, cos(x) = − 17 , temos
 
15 8 15
sen(x) = · − =− .
8 17 17
Assim, temos duas possibilidades
8 15
cos(x) = e sen(x) =
17 17
ou
8 15
cos(x) = − e sen(x) = − .
17 17

Exemplo 9.5 Determine todos os valores de x ∈ R tais que



tg(x) > 3.


Como tg π3 = tg 4π
 
= 3, vemos, no cı́rculo trigonométrico,
√ 3
que tg(x) > 3 se, e somente se,
π π 4π 3π
+ 2kπ 6 x < + 2kπ ou + 2kπ 6 x < + 2kπ, k ∈ Z.
3 2 3 2

De forma semelhante à tangente, definimos a cotangente de t, denotada por cotg(t). Na figura


abaixo, cotg(t) é a coordenada x do ponto T .

88
Procedendo como na tangente, através da semelhança de triângulo, podemos concluir que

cos(t)
cotg(t) = ,
sen(t)

definida quando t não for da forma kπ, com k ∈ Z. Teremos então a função real

cos(x)
cotg : {x ∈ R |x 6= kπ, ∀k ∈ Z} → R, cotg(x) = .
sen(x)

A cotangente tem as propriedades semelhantes à tangente:

Propriedades 9.3 A função cotg : {x ∈ R |x 6= kπ, ∀k ∈ Z} → R tem as seguintes propriedades:

• cotg(−x) = −cotg(x), ou seja, cotg é uma função ı́mpar.

• cotg(x + π) = cotg(x), logo cotg é uma função de perı́odo π.

O gráfico da função cotg é dado abaixo.

89
9.6 As funções secante e cossecante
Considere agora uma reta tangente ao cı́rculo no ponto P (t) e os pontos E e F de interseção desta reta
com os eixos x e y, respectivamente, como na figura abaixo.

Definimos a secante e a cossecante de t como sendo, respectivamente, a coordenada x do ponto E


e a coordenada y do ponto F . A partir da semelhança entre os triângulos EOF e EP (t)O, concluı́mos
que
1
sec(t) =
cos(t)
e que sec está definida sempre que t 6= π2 + kπ para todo k ∈ Z. A partir da semelhança entre os
triângulos EOF e F P (t)O, concluı́mos que
1
cossec(t) =
sen(t)

e que cossec está definida sempre que t 6= tπ para todo k ∈ Z.

Temos então as funções reais


n π o 1
sec : x ∈ R x 6= + kπ, ∀k ∈ Z → R, sec(x) = ,

2 cos(x)
1
cossec : {x ∈ R |x 6= kπ, ∀k ∈ Z} → R, cos(x) = .
sen(x)

Propriedades 9.4 A função sec tem as seguintes propriedades:

• sec(−x) = sec(x), ou seja, sec é uma função par.

• sec(x + 2π) = sec(x), logo sec é uma função de perı́odo 2π.

• sec(x) > 1 ou sec(x) 6 −1 para todo x ∈ R

90
O gráfico da função sec é dado abaixo.

Propriedades 9.5 A função cossec tem as seguintes propriedades:


• cossec(−x) = −cossec(x), ou seja, sec é uma função par.
• cossec(x + 2π) = cossec(x), logo sec é uma função de perı́odo 2π.
• cossec(x) > 1 ou cossec(x) 6 −1 para todo x ∈ R
O gráfico da função cossec é dado abaixo.

Observe que
1 1
| sec(x)| = = ,
cos(x) | cos(x)|
logo, como 0 < | cos(x)| 6 1 para todo x onde sec(x) está definido, temos
| sec(x)| > 1,
ou seja, sec(x) 6 −1 ou sec(x) > 1. Da mesma forma, |cossec(x)| > 1, ou seja, cossec(x) 6 −1 ou
cossec(x) > 1.

91

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