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PASSO III

Neurociência
Alfabetização neurocientífica II
Neurociência

ALFABETIZAÇÃO NEUROCIÊNTÍFICA II
Objetivos
Conhecer algumas células e processos que fazem parte do sistema
nervoso central
Compreender alguns pontos do papel da maturação do cérebro no
processo de desenvolvimento.

ANTERIORMENTE
No passo anterior, definimos o que é neuroci-
ência, as suas áreas de abrangência e como
se dá a divisão do sistema nervoso. Entende-
mos que esse sistema está dividido em duas
partes fundamentais: sistema nervoso cen-
tral e sistema nervoso periférico e que são
os componentes desses sistemas que permi-
tem a compreensão do funcionamento, estru-
tura e desenvolvimento do nosso organismo.

Também ressaltamos que, embora ambos os sistemas (central e periféri-


co) sejam imprescindíveis para o funcionamento de todo o nosso corpo,
o foco do nosso estudo foi entender mais sobre o sistema nervoso central.

3.2
Neurociência

Passeamos pelos lobos cerebrais (frontal, parietal, occipital, tempo-


ral e insular) e vimos algumas das funções atreladas a eles, embo-
ra tenhamos enfatizado que todos os lobos trabalham em conjunto.

Aquecimento
Neste passo, chamado de Alfabetização neurocien-
tífica II, daremos continuidade à exploração dos
componentes do sistema nervoso central. As células
e processos apresentados aqui serão fundamentais
para a nossa discussão no passo seguinte, por isso
vamos ficar atentos, porque ela servirá como base
para todo o nosso módulo. E aqui, vale a dica do
passo anterior: são nomes e conceitos novos, mas fique tranquilo, porque to-
dos eles farão parte das discussões de uma forma muito natural. Vamos lá?

Caminhada
Conhecendo o tecido nervoso

O tecido nervoso é um tecido de comunicação, capaz de receber, interpretar e


responder aos estímulos. As células desse tecido são altamente especializadas no
processamento de informações, porque são sensíveis a vários tipos de estímulos que
se originam de fora ou do interior do organismo. Ao ser estimulado, esse tecido
torna-se capaz de conduzir os impulsos nervosos de maneira rápida e, às vezes,
por distâncias relativamente grandes. Trata-se de um dos tecidos mais especia-
lizados do organismo animal. É responsável por diversas funções do organis-

3.3
Neurociência

mo, como coordenar as atividades de diferentes órgãos. Esse tecido é compos-


to, principalmente, por neurônios e células da glia (Cosenza e Guerra, 2011).

Os neurônios são as células responsáveis pela propagação dos impulsos nervosos,


já as células da glia apresentam diversas funções, mas por muito tempo foram
relacionadas apenas com a função de proteção e nutrição dos neurônios (Cosen-
za e Guerra, 2011). O nosso grande objetivo aqui será falar dos neurônios, mas
antes vamos conhecer, brevemente, as células por trás dos bastidores: as glias.

As células da glia
“As células da glia, que foram descritas há mais de 150 anos,
LENT são um conjunto de vários tipos celulares, sendo as suas
(2005)
células principais os astrócitos, oligodendrócitos, micróglias”.

Os astrócitos, células da glia mais comuns, são células gran-


des em forma de estrela, com prolongamentos, núcleo grande. Es-
tão relacionados à homeostase do sistema nervoso central, desem-
penhando funções como: funcionamento e formação de sinapses,
nutrição dos neurônios, liberação de neurotransmissores, participa-
ção na barreira hematoencefálica, guia para a migração dos neurô-
nios e impedimento da propagação desordenada de impulsos nervosos.

Homeostase: é a independente capacidade de constância e funcio-


namento de um organismo, mesmo diante de alterações ambientais
externas. Fonte: https://bit.ly/3bFRa4m Acesso: 14/02/2020

3.4
Neurociência

Dentre as suas funções, destaca-se a de nutrição. As extremida-


des dos prolongamentos dos astrócitos circundam os vasos sanguíne-
os e através deles os nutrientes são levados até o neurônio (Lent, 2005).

Os oligodendrócitos possuem núcleo esférico e são menores que os astró-


citos. Essas células são encontradas na substância branca e cinzenta. Na
substância branca, eles são encontrados envolvendo os axônios de alguns
neurônios, formando, assim, uma membrana rica em lipídeos denominada
bainha de mielina (Lent, 2005).

As células da microglia também estão presentes nas substâncias


brancas e cinzenta do sistema nervoso central. Essas células são
alongadas e pequenas, com núcleo em forma de bastão. Elas
atuam na defesa imune do sistema nervoso central (Lent, 2005).

A figura 1 mostra os 3 tipos de células da glia.

Figura 1: imagem representativa das células da glia: oligodendrócitos, astrócitos e microglia

Oligodendrócitos: Célula da glia envolvida na produção das bainhas


de mielina que envolvem os axônios.
Fonte: https://bit.ly/3bENVdN Acesso: 14/02/2020

3.5
Neurociência

As células da glia

“O neurônio é a célula do sistema nervoso que tem a


CONSENZA capacidade de estabelecer conexões entre si ao receber
& GUERRA estímulos do ambiente externo ou do próprio organismo.
(2011)
São os responsáveis por transmitir os impulsos nervosos”.

Temos cerca de 86 bilhões de neurônios e sua estrutura é geralmente a


mesma: há os dendritos, o corpo celular e o axônio (quadro1). (Cosenza e
Guerra, 2011). A imagem representativa do neurônio encontra-se na figura 2.

3.6
Neurociência

Figura 2: imagem representativa do neurônio e suas partes componentes.

Os neurônios também podem ser classificados de acordo com sua função,


como apresentado no quadro 2

3.7
Neurociência

Discutiremos mais especificamente sobre os interneurônios, que são aqueles


que estabelecem conexões entre si.

Entre um neurônio e outra célula, encontramos


uma junção denominada de sinapse. Nesses lo-
cais, geralmente são lançados neurotransmisso-
res que atuam no transporte das informações
de um neurônio para outra célula. Ao neurônio
que está passando a informação dá-se o nome
de neurônio pré-sináptico, e à célula que recebe
o sinal dá-se o nome de neurônio pós-sináptico.
Vamos explorar mais esses conceitos.

Sinapse – a conversa entre os neurônios

Vimos que o tecido cerebral é capaz A sinapse pode ser definida como
de ser estimulado, o que o habilita a a região de proximidade entre a
conduzir a informação por meio de extremidade de um neurônio (pré-
impulsos nervosos. Esses impulsos de- -sináptico) e outro neurônio vizi-
vem passar de uma célula à outra para nho (pós-sináptico) (figura 3). Fa-
que ocorra uma resposta a um deter- zendo uma analogia, é como se os
minado sinal. Para isso, é necessária neurônios conversassem e a esse
a presença de uma região especiali- diálogo fosse dado o nome de si-
zada, que recebe o nome de sinapse. napse (Cosenza e Guerra, 2011).

3.8
Neurociência

Um neurônio faz sinapses (conversa) com diversos outros neurônios. Geralmente


elas ocorrem entre o axônio de um neurônio e o dendrito de outro. Entretanto,
podem ocorrer algumas sinapses menos comuns, tais como axônio com axônio,
dendrito com dendrito e dendrito com corpo celular (Cosenza e Guerra, 2011).

Os axônios apresentam diver- No botão sináptico existem diversas


sas ramificações e, no final delas, vesículas que são repletas de uma
são encontradas expansões cha- substância química chamada de neu-
madas de botões sinápticos. Esse rotransmissores, que são capazes de
botão está separado da mem- alterar a permeabilidade da membra-
brana do outro neurônio ou célu- na do neurônio pós-sináptico. Como
la muscular através de um espaço exemplos de neurotransmissores, pode-
que recebe o nome de fenda si- mos citar a acetilcolina, a dopamina e
náptica (Cosenza e Guerra, 2011). a adrenalina (Cosenza e Guerra, 2011).

Quando um impulso nervoso chega ao botão pré-sináptico, os neurotransmis-


sores são liberados na fenda sináptica, que é o espaço entre um neurônio e
outro. Esses neurotransmissores, então, ligam-se aos
receptores de membrana do neurônio pós-sináptico.
Alguns neurotransmissores exercem a função excitató-
ria em uma sinapse, enquanto outros podem ter a fun-
ção de inibir o impulso (Cosenza e Guerra, 2011). Os
neurotransmissores são produzidos continuamente pe-
los botões sinápticos ou, ainda, pelo corpo celular. En-
tretanto, uma estimulação frequente e excessiva pode
ocasionar o esgotamento dessa substância e, consequentemente, parar o impul-
so, funcionando, assim, como um meio de proteção (Cosenza e Guerra, 2011).

3.9
Neurociência

Figura 3: representação esquemática de um neurônio pré-sináptico – sinapse - neurônio pós-sináptico.

Neurotransmissores – o conteúdo da conversa

A neurotransmissão constitui a base para a maior parte dos eventos de transfe-


rência de informação no sistema nervoso. A acuidade e a complexidade desses
processos durante o desenvolvimento humano formam o substrato para ativida-
des superiores como aprendizado, memória, percepção e cognição (Lent, 2008).

A quantidade de neurotransmissores liberada entre dois neurônios, ou na rede


neural como um todo, pode aumentar ou diminuir a resposta a mudanças
fisiológicas. Muitos transtornos neuropsiquiátricos ocorrem por conta desse
desbalanço excessivo. Nesse contexto, certos mensageiros químicos e muitas
drogas podem modificar o processo de neurotransmissão, produzindo efeitos
adversos ou, por outro lado, corrigindo algumas disfunções (Lent, 2008).

3.10
Neurociência

Mas o que são os


neurotransmissores?

Os neurotransmissores são definidos como mensageiros químicos que transpor-


tam, estimulam e equilibram os sinais entre os neurônios. Bilhões de moléculas
de neurotransmissores trabalham constantemente para manter o funciona-
mento do nosso cérebro, gerenciando tudo, desde a respiração até o bati-
mento cardíaco, até os níveis de aprendizado e concentração (Lent, 2008).

Para que os neurônios enviem mensagens por todo o corpo, eles precisam se
comunicar uns com os outros para transmitir sinais, o que se dá pela sinapse,
como vimos anteriormente.

Na maioria dos casos, um neurotrans- zinhos, que contêm receptores onde


missor é liberado do terminal axônico. os neurotransmissores podem se ligar
Quando um sinal elétrico chega ao fi- e desencadear mudanças nas células,
nal de um neurônio, ele dispara a libe- estimulando ou inibindo o neurônio
ração de pequenos sacos chamados receptor dependendo do tipo de neu-
vesículas que contêm os neurotrans- rotransmissor. Os neurotransmissores
missores. Esses sacos derramam seu agem como uma chave e o receptor
conteúdo na fenda sináptica, onde os como uma fechadura. Para cada tipo
neurotransmissores se movem através de neurotransmissor há um tipo espe-
do espaço em direção a neurônios vi- cífico de receptor (Lent, 2008).

3.11
Neurociência

Figura 4: imagem representativa de liberação de neurotransmissores na fenda sináptica e captação por


receptores nos neurônios pós-sinápticos.

Há muitos tipos diferentes de neurotransmissores e a figura 4 apresenta alguns


exemplos, acompanhados da sua fórmula química e atuação. É muito impor-
tante enfatizar que devemos tomar cuidado com as generalizações. Afirmações
como “Estou com problema de memória, então preciso de glutamato” ou “Para os
alunos que têm dificuldades de concentração, vou em busca da noradrenalina”
não podem ser utilizadas, já que há uma somatória de atuação de neurotrans-
missores e outros processos para que tenhamos determinados comportamentos.

3.12
Neurociência

Figura 5: imagem ilustrativa de oito tipos de neurotransmissores.

Vamos entender como um neurotrans-


missor pode atuar em situações que
provavelmente você já presenciou?

3.13
Neurociência

A redução dos receptores de dopamina na


adolescência
Na adolescência, a busca por atividades de
grande intensidade, como a prática de esportes
radicais, jogar games violentos ou até mesmo di-
rigir em alta velocidade, está ligada a perda de
receptores de dopamina entre os períodos da in-
fância e da adolescência. A substância é um neu-
rotransmissor responsável, entre outros efeitos,
por passar a sensação de prazer e de motivação
às pessoas. Um dos sintomas da diminuição des-
se número é o fato de o jovem sentir tédio com grande facilidade (Siegel, 2016).

As crianças possuem um terço a a ganhar massa branca, principal-


mais da quantidade de receptores mente a partir dos 16 anos. A úl-
que um adolescente. Aos sete anos, tima é formada pela aglomeração
a pessoa atinge o pico de sinapses, de mielina, substância que produz
momento de imaturidade do orga- uma capa de gordura ao redor dos
nismo. Como são muitas as vias de axônios, condutores de impulsos
entrada para a dopamina, a criança nervosos. O espessamento da re-
precisa de menos estímulos para se gião eleva a comunicação sinápti-
sentir feliz. A partir dos doze anos, ca por permitir um maior isolamen-
mais ou menos, o cérebro começa a to elétrico e, com isso, aperfeiçoa a
perder massa cinzenta, constituída cognição e a capacidade de abs-
pelo corpo celular dos neurônios, e tração (Siegel, 2016).

3.14
Neurociência

Para chegar aos mesmos níveis de satisfação de antes, o adolescente co-


meça a buscar atividades desafiadoras e a correr riscos. Apesar de pare-
cer algo ruim, essa foi uma grande conquista para a humanidade, porque
passamos a ter de fazer escolhas. Porém, as decisões de risco ainda são
perigosas porque o córtex pré-frontal, parte do cérebro envolvida no plane-
jamento de ações, está imaturo nessa fase da vida e não é capaz de ava-
liar as consequências negativas das escolhas. Isso acontece principalmente
porque essa região adquire a capacidade de pensar em abstrações apenas
com o avanço da idade (Siegel, 2016).

Bainha de mielina – a roupa do neurônio


A bainha de mielina trata-se de um revestimento rico em lipídeos que
encobre muitos axônios tanto no sistema nervoso central como no perifé-
rico. Sua função é proteger o axônio, além de acelerar a velocidade da
condução do impulso nervoso (Cosenza e Guerra, 2011). A bainha de mie-
lina não é contínua, pois ela apresenta intervalos reguladores, formando
os nódulos de Ranvier (Lent, 2005).

Lipídeos: Nome dado às substâncias orgânicas usualmente chamadas


gorduras, insolúveis na água, solúveis no benzeno e no éter e formadas
por ácidos, graxos unidos a outros corpos. Fonte: https://bit.ly/3bL75ic
Acesso: 14/02/2020

3.15
Neurociência

A perda da mielina provoca uma Uma região que mostra claramen-


grande variedade de sintomas. Se a te a mielina destruída é chamada
bainha de mielina que envolve a fi- lesão ou placa. Os sintomas de tal
bra nervosa for lesada ou destruída, deficiência são, entre outros: defici-
os impulsos nervosos se tornam cada ências sensitivas (como visão borra-
vez mais lentos ou não são transmi- da), dificuldades de coordenação,
tidos. O impulso então é transmitido problemas de marcha e dificulda-
ao longo de toda a extensão da cé- des nas funções corpóreas (por
lula nervosa, o que toma um tempo exemplo, controle insuficiente da
maior do que se ele se propagasse bexiga). A esclerose múltipla é um
de um nódulo para outro. A perda exemplo de doença causada pela
da bainha também pode provo- perda da bainha de mielina (des-
car curtos-circuitos ou bloqueios da mielinização) dos neurônios (Lent,
transmissão dos impulsos nervosos. 2005; Cosenza e Guerra, 2011).

Outro fato muito importante é que a pre-


sença da bainha de mielina nos axônios dos
neurônios é o que marca, em aspectos bioló-
gicos, a maturidade daquela região cerebral.
Hoje se sabe que a última área a amadurecer
é o lobo frontal, lembram-se dele? Fica na re-
gião da testa. Isso significa que, nessa região,
os neurônios são mielinizados mais tarde, ou
seja, as informações são processadas mais rapidamente apenas quando há
a presença da bainha de mielina, o que ocorre, apenas, na idade adulta.

3.16
Neurociência

O processo de maturação do cérebro

Um estudo conduzido por Gogtay e colaboradores (2004) utilizou imagens


de ressonância magnética (MRI) e estudou o desenvolvimento cerebral nor-
mal de indivíduos dos 5 aos 20 anos. Os resultados mostraram que o lobo
pré frontal, o centro cerebral das “ordens superiores”, alcança a maturação
completa apenas da idade adulta.

As imagens de ressonância mag- fletindo a perda progressiva de


nética coletadas durante mais de conexões neuronais não utiliza-
10 anos foram colocadas em se- das. É o que chamamos de poda
quência dinâmica e se assemelha- neural. Ou seja, sinapses usadas
ram a um filme de três dimensões com frequência são reforçadas,
mostrando a maturação do cére- enquanto as que deixam de ser
bro. Observou-se que o tecido de usadas são perdidas, de modo
massa cinzenta ainda imaturo vai que as opções feitas nessa fase da
diminuindo como uma onda, da vida ajudarão a formar o cérebro
parte posterior para a frontal, re- do adulto (Gogtay et al., 2004).

Paralelamente, ocorre outra mudança importante na chamada substância


branca, constituída por axônios. Ao longo do desenvolvimento, os axônios
são cobertos por bainha de mielina, que age como um isolante e aumenta
a velocidade de transmissão do sinal entre as células. Assim, enquanto a
matéria cinzenta diminui devido ao corte das sinapses, a branca aumenta
por causa do aumento na mielina. Entre a perda e o refinamento das sinap-

3.17
Neurociência

ses, a massa total do cérebro permanece relativamente constante, mas


o funcionamento vai se aprimorando graças às mudanças estruturais e
químicas (Gogtay et al., 2004).

Além de ajudar a entender o adolescente, essas


descobertas podem levar muitos adultos a questio-
narem a própria maturidade cerebral. Isso porque
o corte de sinapses pode avançar até os 30 anos,
e o aumento na massa branca, até os 40. Há mui-
to tempo se tem conhecimento de que existe uma
superprodução de conexões neuronais durante os
primeiros 18 meses de vida, seguida de um posterior
declínio e descarte dos circuitos que não são utili-
zados. Nos anos 90, foi descoberta uma superprodução de substância cinzenta,
seguida de um novo descarte de circuitos não utilizados durante a puberdade.

O estudo mostrou que as primeiras áreas a se maturarem são as extremi-


dades posteriores do cérebro, que são responsáveis pelas funções primárias
como o processamento das sensações, visão e movimento. As áreas envol-
vidas na orientação espacial e linguagem (lobo parietal) se maturam em
seguida. As áreas responsáveis pelas funções mais elaboradas, como a inte-
gração das funções a partir das sensações, o raciocínio e as funções executi-
vas (lobo pré frontal) são as últimas a se maturarem (Gogtay et al., 2004).

3.18
Neurociência

As funções executivas são um grupo de monstraram que a rede pré frontal é


habilidades superiores de organização a última área cerebral a se maturar,
e integração que estão conectadas sendo a área responsável pelo plane-
neuroanatomicamente a diferentes jamento, sequenciamento hierárquico
vias de interação neuronal envolvendo e o auto monitoramento de tarefas de
o lobo pré frontal. Essa rede de funções acordo com o plano inicial. Em geral,
auto dirigidas possibilita a avaliação o estabelecimento pleno dessas habi-
das consequências sociais, ponderan- lidades coincide com a maturação fí-
do os resultados imediatos e tardios sica e emocional encontrada no final
de forma integrada. Os autores de- da adolescência (Gogtay et al., 2004).

A imagem 6 traz uma representação do processo de maturação cerebral


evidenciado no estudo.

3.19
Neurociência

Figura 6: imagem representativa da maturação cerebral de crianças de 5 anos de idade a adolescentes


de 20 anos. O vermelho indica maior quantidade de substância cinzenta, ainda imatura, conectando-se
de forma pouco ordenada. A substância cinzenta diminui da área posterior para a anterior à medida
que o cérebro vai maturando-se e o excesso de conexões neuronais vai sendo progressivamente cortado e
ordenado. As áreas responsáveis pelas funções básicas maturam-se precocemente, as de funções mais ela-
boradas, depois. A área pré frontal responsável pelo raciocínio mais elaborado e pelas funções executivas
se desenvolve por último na sequência de maturação normal do cérebro.

3.20
Neurociência

FÓRUM

O artigo “Interações entre maturação do cérebro e experiências de indu-


ção de desenvolvimento comportamental”, de Sarah Durston, fala sobre
a importância de compreender o papel da maturação do cérebro no
desenvolvimento comportamental.

Fa ça a le it u ra do ar t ig o e re dij a um bre -
ve coment ár io do s po nt o s qu e m ais lh e
cha ma ra m at e nçã o .

Indicação de Leitura
Artigo de Sarah Durston (2011) - Link: https://bit.ly/2P2XTM7
Acesso: 14/02/2020

3.21
REFERÊNCIAS
COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e
educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

GOGTAY N, GIEDD JN, LUSK L, HAYASHI KM, GREENSTEIN D, VAITUZIS


AC, NUGENT TF 3RD, HERMAN DH, CLASEN LS, TOGA AW, RAPOPORT JL,
THOMPSON PM. Dynamic mapping of human cortical development during
childhood through early adulthood. Proceedings of the National Academy of
Sciences of the United States of America;101(21):8174-8179; 2004.

LENT, ROBERTO. Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais de


neurociência. São Paulo: Atheneu, 2005.

LENT, ROBERTO. Neurociência da mente e do comportamento. São Paulo:


Guanabara Koogan, 2008.

SIEGEL, Daniel. O Cérebro Adolescente. São Paulo: NVersos, 2016.


Professora: Adriessa Santos
Design: Franciele Souza

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