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Busca ao tesouro

Era uma vez, na velha Babilônia, um pobre alfaiate chamado Beremis. O humilde alfaiate tinha mulher e filhos e jamais
se conformara com a sua pobreza. No fundo, bem no fundo de seu coração, acalentava um sonho: ser rico. Certo dia,
depois de pensar muito sobre a sua situação, Beremis decidiu que deveria por mãos a obra no sentido de realizar o seu
sonho.

Começa por se perguntar: como eu poderia me tornar rico? Esta pergunta traz a sua mente algumas respostas. Poderia
ficar rico trabalhando? Por certo que não. Trabalhara toda a sua vida com afinco e, contudo, estava muito longe de se
tornar rico. Poderia também tornar-se um salteador, incorporando-se as quadrilhas que infestavam as estradas por
onde passavam as caravanas rumo a Pérsia ou ao Egito. Aquele, porem, era um modo muito perigoso, pois poderia levá-
lo a prisão ou a morte. Imaginou, por fim, que poderia encontrar um tesouro, pois, naquele tempo, era muito comum
que os reis vencidos enterrassem seus tesouros para não vêlos cair nas mãos de seus inimigos. Sim. Um tesouro. Era
aquele exatamente o modo mais correto para realizar o seu sonho.

Decidida esta questão, já no dia seguinte Beremis pegou o seu burro, tomou uma pá e se aprontou para partir. A sua
mulher, porem, estranhando o comportamento de seu marido, disse:

- Beremis, aonde você vai?

- Vou procurar um tesouro.

- Um tesouro? E você tem mapa?

Aquela pergunta tão banal trouxe Beremis a realidade. Como acharia um tesouro sem mapa? Era como buscar uma
agulha em um palheiro. Beremis suspirou e pensou consigo mesmo: vou esperar mais. Se eu tiver de ser rico, a riqueza
virá às minhas mãos. Pensando assim o pobre alfaiate voltou ao seu trabalho.

O tempo passou e, um dia, Beremis estava na porta de sua humilde oficina quando viu na estrada, ao longe, uma grande
nuvem de poeira. A medida que a nuvem se aproximava, Beremis percebeu o som de vozes e de flautas, o bufar dos
camelos; era por certo uma caravana. De fato, era, e a caravana parou em frente a oficina. Do meio dos homens que
cuidavam da carga e dos animais, destacou-se um que parecia ser o chefe. O homem chegou onde estava o alfaiate e
lhe disse:

- Amigo, vejo que trabalhas fazendo roupas.

- É verdade. Respondeu Beremis.

- Pois bem. Preciso de tua ajuda. Venho das terras do Sul e pretendo me encontrar com o rei da Babilônia, a fim de
tratar com ele o casamento de sua filha com o príncipe meu senhor, entretanto, minhas roupas estão gastas e sujas.
Preciso de roupas novas.

Beremis estava muito ocupado, mas o homem lhe dissera que pagaria bem e o alfaiate decidiu deixar de lado a roupa de
seus fregueses habituais e ganhar aquele dinheiro extra. O homem mandou, então, que os escravos lhe trouxessem um
grande baú de cor escura a dali tirou o tecido com que sua roupa seria confeccionada. No momento, porem, que o
homem abriu o baú, Beremis, para a sua surpresa, viu dentro dele, meio oculto entre os tecidos de fino gosto, um livro;
a seu coração bateu mais apressado quando viu na lombada do livro o seu titulo: O Tesouro de Bresa.

Imediatamente, o sonho amigo voltou com incrível energia. Então tinha razão. Havia chegado a sua oportunidade.
Valera a pena esperar e confiar na bondade dos deuses. Ainda emocionado, perguntou ao homem:

- Senhor, que livro é esse?

- É um livro que trata de um tesouro.

- Sim. Estou vendo. Esse tesouro existe mesmo? O livro ensina como encontrá-lo?
- É um livro muito antigo. Acredito em que seja um roteiro para se encontrar esse tesouro, mas eu mesmo não o li.
Comprei-o em um mercado de Bassora, de um velho mercador.

- O senhor me vende este livro?

- Sim. Embora seja bastante caro. Não pretendo lê-lo e acho que não me encontro mais na idade de procurar tesouros.

- Quanto o senhor quer por ele?

- Oito dinheiros de ouro.

Era uma quantia considerável para Beremis, mas mesmo assim ele não desanimou. Se valeu da generosidade dos
amigos e completou o restante com a sua tarefa fazendo as roupas para o homem. Tendo terminado o seu trabalho,
Beremis viu o estrangeiro partir de volta para a sua terra e, logo em seguida, pôs-se a ler o livro.

No começo tudo foi muito bem. Havia uma espécie de prefacio que falava do tesouro e do seu valor incalculável;
entretanto, quando ia entrar na primeira parte, algo de fantástico aconteceu: o livro, queestava escrito em língua assíria
caldaica, passou a estar escrito em língua egípcia. Beremis gelou ate a medula. Aquilo era um absurdo. Como um livro
podia ser escrito em mais de uma língua? Pensando, porem, no dinheiro que havia empatado e no sonho que estava ali
ao seu alcance, decidiu aprender a antiga língua egípcia. Procurou um sábio que vivia junto ao templo do deus Enlil e
com ele aprendeu aquela língua e, assim, continuou a sua leitura. O livro, contudo, mudou para oito línguas diferentes,
mas Beremis, sem desanimar, aprendeu todas essas línguas.

Por fim, depois de alguns anos ele terminou a leitura do livro. Sabia, então, onde se localizava o tesouro: estava na
Montanha de Arbathol. Animado com a perspectiva de realizar seu sonho, o alfaiate, na manha seguinte, tornou a
arreiar o animal e, de novo, se preparou para partir. Nesse momento, porem, sua mulher tornou a intervir:

- Beremis, aonde você vai?

- Vou buscar o tesouro!

- Sabe onde ele se encontra?

- Sim. Na Montanha de Arbathol.

- Onde é a Montanha de Arbathol?

- É, mulher, o livro não diz isso.

Novamente Beremis se viu frente a um novo obstáculo, entretanto, sabia que não poderia desanimar. Se o livro não diz
onde era a montanha a solução era fazer uma pesquisa. Assim, Beremis estudou toda a Geografia da época e não
encontrou a montanha; talvez essa montanha fosse muito antiga e haja desaparecido, pensou Beremis e, por isso, leu
todos os historiadores e não achou a montanha; bem,quem sabe se não é uma montanha simbólica? Imaginou o
alfaiate. E estudou filosofia, linguagem, mitos, religiões, simbologia e nada encontrou. Nessa passagem aprendeu um
pouco de arte, principalmente arquitetura e engenharia pelas quais havia tomado gosto, juntamente com a ciência
matemática. O pior de tudo, porem, foi que, depois disto tudo, não encontrou a montanha. Cansado, guardou o livro e
continuou pobre em sua oficina de alfaiate.

Pouco tempo depois, o rei de Babilônia ia casar a sua filha e convidou os maiores potentados da época. Todos vieram
dos mais diversos lugares. Houve, contudo, um problema: o poliglota do reino falava apenas quatro línguas e o rei teve
dificuldade de se comunicar com os seus convidados. O soberano já estava se irritando quando um de seus ministros lhe
disse:

- Majestade, ouvi dizer que na cidade há um alfaiate que fala oito línguas...

- Mande esse homem vir aqui. Ele é precioso.


Beremis foi levado a presença do soberano e este lhe perguntou:

- E verdade que você fala oito línguas?

- Sim, majestade. Foi um livro que me fez aprender essas línguas.

- Isso não importa. Venha comigo.

Beremis, conduzido a presença dos potentados estrangeiros, conseguiu entender a todos a harmonizar o ambiente. O
rei muito feliz lhe disse:

- Fico muito grato pelo que você fez, Beremis.

- Posso ir então, alteza?

- Não. Nomeio você poliglota do reino com o salário de quatro moedas de ouro. E mais, virá morar no palácio com a sua
família.

Assim, Beremis tornou-se um dos membros da corte de Babilônia. Certo dia, passando por uma rua, viu os engenheiros
do rei fazendo uma ponte. Notando que o terreno não era adequado e que os cálculos dos engenheiros deveriam estar
errados, ele disse: "Essa ponte vai cair". Os engenheiros acharam graça, mas por pouco tempo, pois logo que passou a
primeira carroça, a ponte ruiu. Os engenheiros foram procurar o rei e lhe disseram:

- Majestade, o senhor tem um bruxo entre os seus funcionários.

- Um bruxo? Quem e?

- Esse novo poliglota.

- Mas como sabem disto?

- Bem. Ele viu quando construíamos a ponte junto ao templo e, por inveja, rogou-nos uma praga e a ponte caiu.

O rei, preocupado, mandou chamar Beremis e lhe perguntou:

- Beremis, diga-me uma coisa. Você anda envolvido com magia negra?

- Não, majestade.

- Mas os engenheiros me disseram que você lançou uma maldição sobre a ponte que fizeram e ela caiu.

- Majestade, não tenho qualquer poder mágico. O fato é que a ponte estava sendo construída de um modo inadequado.

- Você conhece a arte de fazer pontes?

- Bem. Por causa de um livro tive de estudar geologia, física, matemática...

- Você faria uma ponte melhor?

- Sim. Penso que sim.

Beremis, então, procurou um lugar adequado, calculou cuidadosamente as medidas, escolheu o material a ser usado e
construiu uma ponte sólida. O rei o nomeou chefe dos engenheiros, triplicando os seus salários.

Não demorou muito e aconteceu uma luta perto de Enkidu. Era uma questão de terra entre dois senhores poderosos
que ameaçavam entrar em guerra. Beremis esteve lá e com grande habilidade dividiu a terra e os inimigos voltaram
abraçados para a cidade. Com isso, Beremis tornou-se diplomata do reino. E assim, foi Beremis galgando postos cada
vez mais elevados e, já muito velho, estava imensamente rico e todos os seus filhos ocupavam postos de importância no
reino. Viúvo e cansado da vida publica, Beremis se retirou para um templo a fim de terminar em calma os seus últimos
anos. Ali encontrou um sacerdote que, um dia, lhe perguntou:

- Amigo, me diga uma coisa. Desde que chegou aqui, tenho notado no seu rosto uma nuvem de tristeza. Você é um
homem muito rico, realizado intelectualmente, com a família em excelentes condições, o que é que o preocupa?

- Senhor, há muitos anos - eu era ainda jovem e meus filhos muito pequenos - encontrei um livro que falava de um
tesouro. Este livro me levou a estudar várias línguas e diversas ciências e, ao final de sua leitura, não descobri nenhum
tesouro. Sabe, hoje já não pensomais em tesouros, estou muito rico, entretanto me entristece saber que há por ai um
fabuloso tesouro escondido em algum lugar do qual muitos poderiam desfrutar.

- Você já achou esse tesouro.

- Não. Não achei coisa alguma.

- Achou sim. O nome do livro não é O Tesouro de Bresa?

- Sim. O nome é esse.

- Este tesouro não se encontra na montanha de Arbathol?

- Sim. De fato.

- Escute bem, meu amigo. Esse é um livro muito antigo, escrito por um sábio desconhecido cuja finalidade é mostrar às
pessoas que todos tem um tesouro dentro de si e que é só colocá-lo em ação. Arbathol e Bresa são palavras
(anagramas) que significam saber e trabalho. Amigo, se conseguirmos unir saber e trabalho, por certo, teremos o
mundo aos nossos pés e nada nos será impossível.

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