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REVISTA

INTERDISCIPLINAR
EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

< vol. 3 n m. 2 2021 >


A translinguagem no ensino de uma língua de herança: Proposta
metodológica para contextos de línguas em contato

Juliana Azevedo Gomes


Universidad Internacional de La Rioja

Andresa Sartor Harada


Universidad Internacional de La Rioja

Resumo: A l ngua de herança a l ngua falada no mbito familiar em um territ rio onde a
l ngua majorit ria distinta. Sua did tica complexa e din mica, pois associa elementos
como l ngua, cultura e identidade. Por esta raz o, as diretrizes para o trabalho com a l ngua
de herança devem ser lex veis e pass veis de adaptaç o aos diferentes contextos de ensino.
Este artigo apresenta uma proposta metodol gica para o ensino do portugu s como l ngua de
herança com base na Translinguagem. A Translinguagem uma teoria lingu stica
contempor nea, que considera os diferentes repert rios lingu sticos e culturais dos alunos. A
proposta est fundamentada em estudos pr vios sobre o uso da Translinguagem em
diferentes n veis educativos e est dirigida aos docentes, atrav s de perguntas geradores e
estrat gias em tr s dimens es: contextual, metodol gica e de materiais.

Palavras-chave: L ngua de herança; Portugu s; Proposta metodol gica; Translinguagem



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Introdução

A l ngua de herança a l ngua familiar que se converte em “de herança” por estar em
um territ rio onde a l ngua majorit ria distinta (VALD S, 2001, POLINSKY E SCONTRAS,
2020). Os estudos sobre o portugu s como l ngua de herança se situam em contextos de
l nguas em contato e procuram compreender como as pol ticas lingu sticas, os aspectos
relativos aquisiç o pluril ngue e a inter-relaç o entre os elementos curriculares podem
contribuir no desenvolvimento de uma did tica espec ica nesta modalidade.
Neste sentido, a did tica para a l ngua de herança pode ser situada em um marco
sociolingu stico, quando pensamos na gama de l nguas e culturas que s o parte da identidade
de um falante de herança. A esta especi icidade soma-se a heterogeneidade de per is e
necessidades educativas. Portanto, estudos sobre a did tica do portugu s como l ngua de
herança apontam para a necessidade de contemplar estrat gias lex veis e que considerem
todo o repert rio lingu stico e cultural dos indiv duos (MENDES, 2012, AZEVEDO-GOMES,
2017, LIRA SANTOS, 2020).
A translinguagem (GARC A & WEI, 2014, WEI, 2018) apresenta-se como teoria
lingu stica pr tica, que compreende a complexidade dos repert rios lingu sticos e culturais de
um indiv duo bi ou pluril ngue e tem a preocupaç o de conhecer como este comunica seus
pensamentos com base em suas pr ticas de comunicaç o.
O artigo inicia com um breve hist rico sobre o movimento da l ngua de herança e do
portugu s de variante brasileira como l ngua de herança. Em um segundo momento, re lete
sobre a teoria da translinguagem, seus fundamentos e possibilidades pedag gicas. Por im,
apresenta uma proposta metodol gica estruturada para a aplicaç o da translinguagem nas
aulas de portuimgu s como l ngua de herança, em contextos formais ou n o formais.
Neste trabalho, compartilham-se as vantagens do trabalho com as translinguagem, com
o pressuposto de que esta uma opç o did tica que se ajusta s singularidades dos falantes
de herança e oferece ao professor a possibilidade de problematizar de forma signi icativa os
conhecimentos pr vios dos estudantes na promoç o da l ngua portuguesa.

1. O portugu s como parte de um repert rio pluril ngue: a l ngua de herança

A l ngua de herança caracterizada por um v nculo intergeracional1 e pelo status de


l ngua minorit ria em um contexto sociolingu stico espec ico. Vald s (2001) de ine a l ngua

1 V nculo estabelecido entre diferentes geraç es.


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de herança como um idioma de origem familiar, distinto ao do pa s de resid ncia. T o


importante quanto a l ngua, s o as representaç es identit rias e culturais que est o
vinculadas ao idioma. Van Deusen-Scholl (2003) ressalta que independente do conhecimento
lingu stico, existe um v nculo afetivo e/ou cultural, que poder ser explorado em funç o do
desejo do falante de herança. Por este motivo, Ortiz lvarez (2016), a irma que o conceito de
l ngua de herança possui uma conotaç o mais sociocultural que lingu stica.
Os estudos sobre a l ngua de herança partem do contexto canadense, pa s com alto
n mero de imigrantes e pioneiro nos programas de l ngua de origem (CUMMINS, 2005). No
entanto, este campo de estudo se expandiu por todos os continentes, debruçando-se
inicialmente em de inir as caracter sticas dos falantes de herança (KONDO-BROWN, 2005,
MONTRUL, 2012, VALDES, 2001, VAN DEUSEN –SCHOLL, 2003) e, compreendendo os fatores
que in luem na aquisiç o e aprendizagem da l ngua (BENMAMOUN, MONTRUL & POLINSKY,
2013, MONTRUL, 2016) e, mais recentemente, de inindo uma did tica para este grupo
espec ico (BEAUDRIE, DUCAR & RELA O PASTOR, 2009, CUMMINS, 2005, CARREIRA &
KAGAN, 2011, KONDO-BROWN, 2010, POLINSKY & KAGAN, 2007, KAGAN, CARREIRA & CHIK,
2017, AZEVEDO-GOMES, 2017, LIRA SANTOS, 2020).
Entre as caracter sticas comuns dos falantes de herança, se destacam o bilinguismo em
diferentes graus, pro ici ncia vari vel na l ngua de herança, aquisiç o lingu stica na primeira
inf ncia, erros de desenvolvimento da linguagem semelhantes a um falante monol ngue e a
aprendizes de l ngua estrangeira (ZYZIK, 2016).
Com relaç o aos fatores que in luenciam no desenvolvimento da l ngua de herança, se
destacam os de mbito sociolingu stico, como as pol ticas lingu sticas locais e familiar, a
dist ncia lingu stica entre as l nguas majorit rias e a l ngua de herança, e os de mbito
psicolingu stico, como a quantidade e a qualidade do input recebido na l ngua de heranças, as
atitudes lingu sticas e o grau de compet ncia comunicativa, ou seja, a capacidade que possui
um indiv duo para estabelecer comunicaç o, considerando os c digos lingu sticos e culturais
de um idioma (CAMP , 2011).
Por algum tempo, a base did tica para l ngua de herança transitou pelas did ticas para
o ensino da l ngua materna e as did ticas para o ensino da l ngua estrangeira. Contudo, uma
vez conhecidas as caracter sticas e o status da l ngua de herança dentro de um marco
complexo, os fundamentos did ticos apoiaram, mas n o foram su icientes para orientar a
construç o de uma did tica que contemplasse as especi icidades da l ngua de herança e de
seus falantes.
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O portugu s como l ngua de herança um movimento ainda em expans o. Mendes


(2012, p.21) a irma que “O portugu s como l ngua de herança caracteriza-se pelos contextos
em que o portugu s e sua cultura s o ensinados a ilhos de luso-falantes imigrados [...]”.
Apesar de que o instituto Cam es foi respons vel por organizar, sistematizar e difundir
o ensino do portugu s na di spora2 para ilhos de imigrantes portugueses, no contexto do
portugu s de variante brasileira n o houve uma pol tica lingu stica organizada inicialmente.
Assim, o movimento foi originado pelos imigrantes residentes nas di sporas somente ao redor
da d cada de 80, momento em que o Brasil deixa de ser um pa s de imigraç o por motivos
especialmente econ micos (SOL , CAVALCANTI & PARELLA, 2011) para tornar-se um pa s de
emigraç o. Al m das iniciativas familiares, tamb m necess rio destacar o papel de alguns
pa ses europeus que, com seus programas de promoç o das l nguas de origem (UNESCO,
2004), ofereceram a possibilidade de incluir o ensino da l ngua portuguesa dentro dos centros
educativos, como no caso da ustria e da Su ça alem . Em outros casos, como na Su ça
francesa, o governo oferece seus espaços f sicos para o ensino do portugu s e a possibilidade
de incluir a nota inal desta disciplina no boletim do aluno. Majoritariamente, o ensino do
portugu s de variaç o brasileira na modalidade l ngua de herança realizado atrav s de
iniciativas no mbito da educaç o n o formal. Por esta raz o, os estudos sobre a construç o
de did tica e curr culo para o ensino do portugu s como l ngua de herança ainda est o em um
est gio inicial (SOUZA & AZEVEDO-GOMES, 2017). Souza & Vizentini (2020) defendem que os
estudos sobre curr culo devem considerar os fatores contextuais do ensino da l ngua e
permitir adaptaç es que facilitem e promovam a melhora educativa no contexto do portugu s
como l ngua de herança. Por esta raz o, em contextos de l ngua de herança costuma-se evitar
quaisquer generalizaç es.
Os estudos sobre a l ngua de herança se situam em um marco sociolingu stico, dada a
interaç o constante entre diferentes l nguas e culturas que s o parte do universo do falante de
herança. A esta linha, somado o paradigma p s-estruturalista, que nasce como um ponto de
intersecç o entre a vis o bin ria e estruturalista dos sistemas lingu sticos e uma nova
realidade, que reconhece a justaposiç o de diferentes estruturas e descontr i a hierarquia e a
vis o de um sistema lingu stico e cultural nico e reconhece o policentrismo dos diferentes
contextos de aprendizagem e comunicaç o (BLOOMAERT & BACKHUS, 2013).
Acolhendo o plurilinguismo como uma realidade e um valor educativo (Diniz & Prieto,
2018), considera-se a compet ncia pluril ngue como um marco e um objetivo quando se trata

2 Termo utilizado para referir-se dispers o de um povo. Neste contexto, se refere ao ensino de portugu s em
pa ses n o luso falantes. (https://www.diasporalusa.pt/lingua-portuguesa/)
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de formar a falantes de herança. Isto porque esta compet ncia fomenta o desenvolvimento da
consci ncia sobre as l nguas e a comunicaç o, al m de ser “[...] uma compet ncia complexa e
comp sita ao serviço das necessidades e objetivos comunicativos de cada falante” (MELO-
PFEIFER & ARA JO E S (2017, p.114). Neste sentido, Andrade & Ara jo & S (2007)
complementam que o desenvolvimento da compet ncia pluril ngue e a valorizaç o da
diversidade passam obrigatoriamente pela viv ncia de distintas e novas pr ticas
comunicativas. Para isso, as autoras destacam que as aulas destacam dois princ pios que
devem ser considerados dentro da did tica pluril ngue: a valorizaç o das l nguas e dos
contatos lingu sticos e culturais em todos os contextos de comunicaç o e o desenvolvimento
da capacidade de analisar criticamente os status e funç es dos idiomas presentes na realidade
dos indiv duos.
Para compreender como ocorre a aquisiç o da linguagem em contextos de l nguas em
contato, recorremos aos pressupostos do plurilinguismo. Flores e Melo Pfeiffer (2014, p.19)
a irmam que: “[...] estudos aquisitivos na l ngua de herança consistem sobretudo em perceber
de que forma a exposiç o a uma l ngua em contexto multil ngue in luencia o
seu desenvolvimento, isto , a construç o do saber lingu stico em todos os seus dom nios
(fon tico-fonol gico, morfossint tico, sem ntico, lexical, pragm tico)”.
Com base nesses fundamentos, rati ica-se que no mbito da l ngua de herança
imperativo l ngua de herança exige que se considerem as especi icidades dos indiv duos,
falantes de herança, para plani icar uma did tica espec ica.

2. Um caminho did tico para o ensino do portugu s em contextos pluril ngues: a


translinguagem

H um consenso sobre o ensino da l ngua de herança estar vinculado ao sentimento de


pertencimento l ngua e cultura (VAN DEUSEN-SCHOLL, 2003, AZEVEDO-GOMES, 2017,
SEALS, 2018, LIRA SANTOS, 2020). Por esta raz o, as pr ticas de ensino desta modalidade
lingu stica devem problematizar as representaç es que os falantes de herança fazem de suas
l nguas e culturas (MENDES, 2012). Al m disso, Seals (2018) rati ica a import ncia de utilizar
os espaços de ensino da l ngua de herança para empoderar os alunos no sentido de ajud -los a
avançar na construç o de sua identidade multicultural por meio das l nguas e culturas que s o
parte do seu cotidiano.
Estudos sobre a did tica do portugu s para a l ngua de herança reconhecem a
utilizaç o de conhecimentos pr vios na construç o de signi icado, no uso social da l ngua, no
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desenvolvimento da compet ncia comunicativa intercultural (CAMP , 2011) e,


consequentemente, na valorizaç o dos repert rios lingu sticos dos alunos, como bases
fundamentais dessa did tica espec ica (MENDES, 2012, AZEVEDO-GOMES, 2019, FERREIRA,
GRAÇA & CARDOSO, 2020, LIRA SANTOS, 2020, MORONI, 2020).
Nesta acepç o, nos encontramos com a teoria lingu stica da translinguagem (GARC A &
LI WEI ,2014), que traz consigo a epistemologia do plurilinguismo e agrega uma vertente
social e pol tica ativa, que questiona e vincula a produç o de signi icados a um processo de
transformaç o social com respeito ao uso dos repert rios na comunicaç o.
Wei (2018) caracteriza a translinguagem como uma teoria pr tica da linguagem que
nasce da preocupaç o em compreender o dinamismo e a complexidade das pr ticas de
comunicaç o, a partir de v rios idiomas e recursos semi ticos, concedendo uma vis o mais
hol stica na compreens o dos repert rios de um indiv duo e de como este capaz de
comunicar seus pensamentos. Canagarajah (2018) ressalta que para trabalhar com
translinguagem necess rio traspassar as fronteiras lingu sticas e sociais, adaptando pr ticas
comunicativas mais expansivas. Por esta raz o Vogel & Garc a (2018, p.1) a irmam que “O uso
de translinguagem na educaç o criou o maior interesse, mas tamb m ainda mais desacordo.”
A pedagogia da translinguagem vem buscando orientar os professores sobre uso
consciente dos diferentes sistemas de comunicaç o dos indiv duos. Garc a, Johnson & Seltzer
(2017) destacam quatro raz es para o uso estrat gico das translinguagens nas salas de aula:

1. Facilita e engajamento dos estudantes na compreens o de textos e conte dos


complexos.
2. Concede oportunidade para os estudantes desenvolverem pr ticas lingu sticas em
contextos educativos formais.
3. Oferecem espaço para o bilinguismo e as diferentes formas de conhecimento dos
estudantes.
4. Favorece a construç o das identidades h bridas e do desenvolvimento
socioemocional.

Legitimando essas raz es, a investigaç o realizada por Flores et al (2013) transforma a
teorizaç o em propostas de pr ticas transl ngues para v rios n veis educativos. Dentro desse
estudo, destacam-se alguns elementos orientadores: Em primeiro lugar, a ecologia
multil ngue, que se refere criaç o de um ambiente que naturalmente promova o
multilinguismo, mas que seja um ambiente culturalmente relevante, onde os sujeitos bil ngues
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possam sentir-se realmente identi icados em sua diversidade. Em segundo lugar, a Instruç o
essencial se refere criaç o de objetivos lingu sticos multil ngues e instruç o integrada em
v rios idiomas. Em terceiro, se destaca o trabalho colaborativo, com o qual poss vel aplicar
uma s rie de estrat gias para a melhora das habilidades de fala e escuta, tanto na l ngua de
casa, como na l ngua local. Por im, os Recursos e materiais para a translinguagem promovem
estrat gias que nascem da re lex o sobre como poss vel utilizar, adaptar e criar materiais e
recursos que fomentem a consci ncia por todo repert rio lingu stico e cultural dos alunos.
Uma das cr ticas da translinguagem sobre as l nguas de herança (FLORES et al, 2016)
a vis o de que a l ngua recebida e, consequentemente, est tica, contrariando a concepç o de
repert rios lingu sticos vivos e din micos, patrim nio de cada falante de herança. No entanto,
trabalhar com translinguagem em uma aula de l ngua de herança n o decis o simples, uma
vez que a priori, este conceito est fundado no rompimento do conceito de idiomas e das
hierarquias lingu sticas (GARC A & OTHEGUY, 2019).
No ensino de uma l ngua minorit ria, romper com a concepç o de priorizar uma l ngua,
n o tarefa f cil. necess rio saber como integrar o repert rio completo dos falantes de
herança na sala de aula, concedendo o espaço necess rio para o desenvolvimento da l ngua
minorit ria, de herança. uma transformaç o da vis o digl ssica para uma vis o
heterogl ssica (LEWIS, JONES & BAKER, 2012) compreendendo que as l nguas conversam
entre si em casa, nas ruas, na escola e nas aulas de l ngua de herança tamb m.
As translinguagens na l ngua de herança foram pesquisadas dentro e fora do contexto
de aula. Abourehab & Azaz (2020), em uma pesquisa com o rabe como l ngua de herança,
defendem que a utilizaç o da translinguagem favorece a negociaç o de signi icados na
comunicaç o e na construç o da identidade, legitimando seus repert rios. Wu & Leung (2020)
trazem uma importante re lex o sobre o papel do professor na promoç o das pr ticas
transl ngues, permitindo a entrada de diferentes dialetos chineses para a aula de mandarim. A
partir dessa estrat gia, os falantes de herança foram capazes de criar textos escritos bil ngues,
al m de desenvolver estrat gias de traduç o entre colegas. Pacheco & Miller (2016) trazem a
experi ncia de utilizar a l ngua de herança para o processo de alfabetizaç o na l ngua local e
defendem as pr ticas de translinguagens como favorecedoras para a utilizaç o do repert rio
completo e para a criaç o de signi icados nas aulas.
No mbito extraescolar, Song (2016) demonstra em um estudo com coreanos vivendo
nos Estados Unidos, que o fato da fam lia reconhecer e acolher os idiomas presentes da vida
das crianças, utilizando-os de forma lex vel no mbito familiar, ajudou a ampliar o
vocabul rio lingu stico na sua l ngua de herança. Com respeito s pr ticas transl ngues, Zhao
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& Flewiit (2020) ressaltam o valor das redes sociais para enriquecer as oportunidades dessas
pr ticas emergentes de translinguagem entre crianças pluril ngues, residentes em Londres
com ascend ncia chinesa e portuguesa. Moreno & Garc a (2018) a irmam que a
translinguagem deveria ser utilizada de forma mais abrangente, considerando n o somente os
recursos lingu sticos, mas tamb m as aç es suportadas pelo uso da tecnologia, que s o parte
do repert rio semi tico dos indiv duos.

4. A translinguagem na did tica do portugu s como l ngua de herança

Ao plani icar uma proposta metodol gica pautada na translinguagem para o ensino do
portugu s em contexto de di spora, se utilizar o os fundamentos do Guia de CUNY – NYSIEB
(FLORES et al, 2013), resultado de uma investigaç o sobre estudos de linguagem em
sociedades urbanas, da Universidade de New York. Neste guia, apresentam-se pr ticas de
translinguagem aplic veis a contextos de educaç o prim ria, secund ria e universit ria.
Em um primeiro momento, a proposta para o uso da translinguagem no ensino do
portugu s como l ngua de herança est estruturada em tr s dimens es, que se sistematizar o
em uma proposta tem tica, seguida de perguntas geradoras aos docentes e de exemplos de
estrat gias para serem utilizadas nas aulas de portugu s como l ngua de herança.

4.1. Dimensões didáticas da translinguagem para o ensino do português como língua de


herança

Para a elaboraç o da proposta metodol gica de uso da translinguagem no contexto do


ensino portugu s como l ngua de herança, optou-se por trabalhar com tr s dimens es
(FLORES et al, 2013): Contextual: Ecologia multil ngue
Partindo do princ pio de que a ecologia analisa a inter-relaç o entre os elementos do
ambiente, esta categoria considera o p blico-alvo das aulas de portugu s, os falantes de
herança que s o minimamente bil ngues, na hora de organizar o espaço de aula e de planejar
as estrat gias pedag gicas. Ao pensar na ecologia multil ngue, o ambiente de formaç o, seja
ele presencial ou virtual, torna-se um espaço seguro, que valoriza os diferentes repert rios
lingu sticos dos alunos e oferece oportunidades para a construç o e desenvolvimento dos
conhecimentos na l ngua portuguesa, com base no conhecimento lingu stico e cultural j
existente.
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1. Metodol gica: Trabalho colaborativo

Com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da consci ncia metacognitiva, de inida


por Canagarajah (2011) como o grau de consci ncia que possui um indiv duo sobre seu
pr prio pensamento e aprendizagem, esta dimens o defende o trabalho colaborativo como
base estrat gica para as aulas de l ngua de herança. Nesta concepç o, as atividades em dupla
ou grupos, favorecem o conhecimento compartilhado, o avanço na compet ncia comunicativa
e a avaliaç o entre pares. Desta maneira, se promove o protagonismo do aluno no seu
processo de aprendizagem e o desenvolvimento de sua regulaç o pedag gica, tanto com
respeito aos seus pr prios conhecimentos, como com relaç o ao conhecimento de grupo.

2. Materiais: Recursos multil ngues

Os recursos e materiais did ticos na concepç o de translinguagem possuem um car ter


aut ntico e de construç o cont nua. Seu conte do se fundamentar na l ngua portuguesa em
suas diferentes variantes e nas demais l nguas e culturas, considerando especialmente, os
presentes nos repert rios dos alunos falantes de herança.
A partir das dimens es para o trabalho com a translinguagem nas aulas de l ngua de herança,
considera-se fundamental incluir nesta proposta algumas perguntas geradoras aos
professores. Esta etapa, elaborada com base no trabalho de Flores et al (2013), importante
para ajudar-lhes a re letir sobre sua aç o pedag gica e repensar suas futuras pr ticas com a
translinguagem.

Quadro 1. Descriç o das perguntas geradoras aos docentes

Dimensão Proposta Perguntas geradoras


Contextual Ecologia multil ngue 1.Como criar uma aula com um
ambiente que reconheça e promova as
l nguas e culturas dos falantes de
h e ra n ç a c o m o fo c o n a l n g u a
portuguesa?

2.Como criar consci ncia entre os


falantes de herança sobre os diferentes
idiomas presentes no seu repert rio?
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Metodológica Trabalho colaborativo 3 . C o m o p l a n i i c a r u m t ra b a l h o


colaborativo onde os falantes de
h e r a n ç a p o s s a m u t i l i z a r
conscientemente seus diferentes
idiomas nas aulas de l ngua de
herança?

4. De que maneira podemos ajudar os


falantes de herança a melhorar sua
compet ncia comunicativa utilizando
todo seu repert rio lingu stico?
Material Recursos multil ngues 5.Como podemos utilizar materiais em
diferentes idiomas nas aulas de l ngua
de herança?

6.Como podemos ajudar os falantes de


h e r a n ç a a a p r o f u n d a r s e u
conhecimento de conte do e de
contexto para compreender melhor os
temas relacionados com sua l ngua de
herança?

7.De que maneira a utilizaç o de


materiais multil ngues ajudam a
d e s e n v o l v e r a c o m p e t n c i a
comunicativa?

Fonte: Adaptado de Flores et al (2013)

As perguntas geradoras, elaboradas em conson ncia com os princ pios da


translinguagem, tamb m desa iar o os professores a ir mais al m do ensino do portugu s e
preparar-se para o trabalho em uma perspectiva did tica distinta qual possivelmente foi
formado. Neste sentido Souza & Lira Santos (2020) a irmam que os professores brasileiros
possuem per is muito diferentes com respeito a sua formaç o e, adicionalmente, a formaç o
para a l ngua de herança mais signi icativa quando parte dos contextos reais de trabalho do
professor. Por esta raz o, a aplicaç o da translinguagem que parte das re lex es e adequaç es
do professor sobre seu grupo, possui mais possibilidades de xito que um plano de estrat gias
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did tico pronto, em virtude da lexibilidade e autonomia que concede ao professor na


plani icaç o do seu plano de aç o nas salas de aula de portugu s como l ngua de herança.

4.2.Estratégias didáticas translíngues para o ensino do português como língua de


herança

A aplicaç o da translinguagem em sala de aula traspassa a elaboraç o de atividades nos


idiomas que o aluno conhece e exige uma mudança de paradigma de compreens o e
express o dos conhecimentos lingu sticos. Por esta raz o, nossa proposta metodol gica
culmina com algumas estrat gias dirigidas ao professor, elaboradas como resposta s
perguntas geradoras. Uma vez que este trabalho possui o car ter de sugest o metodol gica,
as estrat gias s o orientaç es abertas, que permitir o ao professor elaborar um panorama
nico de seu contexto de trabalho.

Quadro 2. Relaç o entre dimens es e estrat gias na did tica do


portugu s como l ngua de herança com base na translinguagem

Dimensões P e r g u n t a s g e r a d o r a s a o s Estratégias
docentes
Ecologia multil ngue 1. Como criar uma aula com um a). Realizar um estudo da comunidade.
a m b i e n t e q u e re c o n h e ç a e
promova as l nguas e culturas dos b). Criar um ambiente culturalmente
falantes de herança? relevante.

2.Como criar consci ncia entre os


falantes de herança sobre os
diferentes idiomas presentes no
seu repert rio?
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Trabalho 3.Como plani icar um trabalho c). Trabalho multil ngue colaborativo
colaborativo colaborativo onde os falantes de
h e r a n ç a p o s s a m u t i l i z a r d). Duplas de leitura multil ngues
conscientemente seus diferentes
idiomas nas aulas de l ngua de e). Duplas de redaç o multil ngues
herança?

4. De que maneira podemos


ajudar os falantes de herança a
m e l h o r a r s u a c o m p e t n c i a
comunicativa utilizando todo seu
repert rio lingu stico?
Recursos 5 . C o m o p o d e m o s u t i l i z a r f). Utilizaç o de textos multil ngues
multil ngues materiais em diferentes idiomas
nas aulas de l ngua de herança? g). Criaç o de dicion rios ilustrados
multil ngues
6.Como podemos ajudar os
falantes de herança a incrementar h). Utilizaç o da internet como recurso
seu conhecimento de conte do e multil ngue
de contexto para compreender
melhor os temas relacionados
com sua l ngua de herança?

7.De que maneira a utilizaç o de


materiais multil ngues ajudam a
d e s e nvo lve r a c o m p e t n c i a
comunicativa?

Fonte: Elaboraç o pr pria com base em Flores et al (2013)

a) Realizar um estudo da comunidade: para a criaç o do espaço culturalmente


relevante, imprescind vel que o professor conheça seu grupo e a comunidade em que
participa como agente educativo. Neste caso, a an lise dos fatores sociolingu sticos propostos
por Montrul (2013) ser um guia para compreender o status do portugu s na comunidade em
que se ensina, as pol ticas lingu sticas locais e familiares e o papel da l ngua portuguesa na
vida dos alunos. Este passo pr vio fundamental para que seja poss vel criar um ambiente
signi icativo e conforme com a bagagem lingu stica e cultural e os interesses dos alunos,
falantes de herança.
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b) Criar um ambiente culturalmente relevante: o espaço de aula de portugu s como


l ngua de herança deve ser um ambiente que integra e “alfabetiza” lingu stica e culturalmente
os falantes de herança. Isso signi ica possibilitar a ampliaç o de vocabul rio e os v nculos
entre os conhecimentos pr vios sobre determinadas l nguas e culturas. O professor pode
aproveitar o espaço para fomentar o conhecimento da l ngua portuguesa em todas suas
variantes a partir de ambientes, personagens, m sicas e rotinas que os alunos est o
familiarizados no(s) idioma(s) local(is). Dessa maneira, os alunos, al m de estarem em um
ambiente visualmente atraente, se sentir o representados neste espaço de aprendizagem. N o
se trata de sobrecarregar informaç o visual no espaço de aula, mas sim de construir um
ambiente onde o portugu s coexista com os demais repert rios dos alunos, ainda que
indiretamente.
c) Trabalho multilíngue colaborativo: dentro da dimens o metodol gica, ao iniciar o
trabalho com a translinguagem importante realizar um diagn stico dos conhecimentos
pr vios dos alunos na l ngua portuguesa. Sem intenç o de provocar um ambiente de testagem
e avaliaç o, sugerem-se propostas de trabalho colaborativo com base na resoluç o de
problemas, por exemplo, na elaboraç o de uma receita, organizaç o de um piquenique, uma
festa de anivers rio etc. Neste caso, os alunos trabalham de forma colaborativa, oferecendo
argumentos, sugest es e trazendo sua bagagem pessoal, tanto lingu stica, como cultural.
Tamb m uma estrat gia que favorece uma pr tica intercultural problematizada, provocando
os falantes de herança a re letirem sobre seus conhecimentos e viv ncias, em portugu s e em
outros idiomas. Al m disso, possibilita a integraç o de alunos com necessidades de
aprendizagem, uma vez que o trabalho colaborativo permite diferentes modalidades de
participaç o, incluindo a todos os per is de falantes de herança a partir de uma proposta em
formato desa io.
d) Duplas de leitura multilíngues: visto que com o trabalho colaborativo multil ngue
pode-se recolher informaç o relevante sobre os per is, conhecimentos e interesses dos alunos,
as duplas de leitura multil ngues t m o prop sito de fomentar a leitura em geral, a leitura em
voz alta, a avaliaç o entre pares, a ampliaç o do vocabul rio e a consci ncia pelos diferentes
idiomas por parte dos alunos. A leitura pode ser oferecida na l ngua portuguesa e a partir
desta primeira aç o, podem propor-se diversas atividades em funç o dos objetivos e n vel das
duplas. Alguns exemplos podem ser: realizar traduç o do conte do lido, preparar um resumo
a partir da leitura, selecionar palavras por conhecer, preparar uma dramatizaç o da leitura,
realizar uma gravaç o de udio-v deo com a dupla de leitura etc. O objetivo proporcionar um
espaço onde as duplas possam discutir sobre o signi icado da leitura em diferentes idiomas,
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utilizar os idiomas que j conhecem para aprofundar determinado conceito que n o est claro
etc. O trabalho do professor conduzir as propostas e trabalhar por observaç o sistem tica,
analisando os pontos onde pode explorar a l ngua portuguesa e reelaborar suas intervenç es
de forma personalizada. Importante ressaltar que n o necessariamente obrigat rio
trabalhar com textos escritos e alunos alfabetizados. poss vel oferecer diferentes g neros
textuais e inclusive sem texto para que os alunos possam interpretar e criar sua pr pria
hist ria.
e) Duplas de redação multilíngues: na mesma abordagem das duplas de leitura, as
duplas de redaç o est o dirigidas a crianças j alfabetizadas e/ou fase de desenvolvimento da
escrita. Neste caso, poss vel trabalhar a partir dos idiomas locais e/ou da l ngua portuguesa
e propor uma s rie de atividade que se desenlaçam da proposta de escrita: ampliaç o de texto,
resumo, traduç o, textos mistos (em mais de um idioma), etc. O prop sito favorecer um
espaço de construç o de conhecimentos na l ngua portuguesa, utilizando como base todo o
repert rio lingu stico dos alunos. Neste caso, cabe ao professor unir as duplas de acordo com
seu per il e realizar as intervenç es que considere pertinentes para ajudar aos alunos a
avançarem nos conhecimentos da l ngua portuguesa. uma proposta democr tica, onde os
alunos poder o escolher entre v rias estrat gias de aprendizagem, a melhor maneira de
realizar a atividade.
f) Utilização de textos multilíngues: conforme os preceitos da translinguagem, o
trabalho com textos multil ngues possui como im m ximo o desenvolvimento da consci ncia
lingu stica por parte dos alunos sobre seus conhecimentos em todos os idiomas que conhece.
Trata-se de uma estrat gia de valorizar a heterogeneidade presente na vida desses alunos e as
compet ncias variadas que apresentam em portugu s e em outros idiomas (MORONI, 2020).
Al m disso, uma estrat gia que colabora no desenvolvimento da autorregulaç o3,
importante na construç o da identidade do indiv duo. Devem ser utilizados uma ampla
variedade de g neros textuais e a aplicaç o da estrat gia pode ser realizada individualmente
ou em grupo.
g) Criação de dicionários ilustrados multilíngues: no mbito da adaptaç o e elaboraç o
de materiais aut nticos, a criaç o de um dicion rio multil ngue ilustrado uma estrat gia a
ser realizada tamb m de forma colaborativa. Neste caso, os pr prios alunos ir o produzir o
dicion rio, com base nos conte dos trabalhados em aula, seus interesses, conhecimentos etc.
Se considera de especial utilidade conceder liberdade aos alunos para que possam escolher as

3 Autorregulaç o a capacidade de administrar pensamentos, sentimentos e aç es para alcançar objetivos


pessoais
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l nguas com as quais trabalhar, estimulando a criaç o de materiais no maior n mero de


idiomas poss veis para facilitar a an lise e contraste entre eles. O dicion rio pode ser
elaborado por campos sem nticos para facilitar a compreens o e an lise. Sempre que seja
poss vel, o professor deve retomar os conhecimentos do idioma onde o aluno foi alfabetizado
para facilitar a compreens o do c digo em portugu s4.
h) Utilização da internet como recurso multilíngue: esta estrat gia foi totalmente
ressigni icada ap s a pandemia Covid-19. Podemos a irmar que a internet era utilizada com
parcim nia por parte dos professores, no entanto, seu uso foi ganhando força paulatinamente,
com a expans o das metodologias ativas como a sala de aula invertida e gami icaç o, por
exemplo. Ademais, nos ltimos meses, transformou-se em um espaço formativo legitimado. Se
antes pensava-se em atividades com o suporte da tecnologia, agora o ensino virtual uma
realidade que n o nos abandonar . Caber aos professores compreender as possibilidades
educativas desse novo ambiente de aprendizagem e saber aproveit -lo no seu processo de
ensino-aprendizagem, seja no ensino formal, como no informal. Al m disso, ressaltamos o
avanço da tecnologia mlearning ou aprendizagem m vel, que permite combinar mais de uma
metodologia e diversas estrat gias de aprendizagem para serem utilizados em telefones
m veis, tablets etc., de acordo com o per il de aluno (DE ARA JO JUNIOR et al, 2019). Esta
gama de possibilidades se ajusta ao paradigma da did tica da translinguagem, que reconhece
os diferentes per is e oferece situaç es educativas para que os falantes de herança possam
desenvolver, construir ou compartilhar conhecimentos, tanto dentro, como fora da sala de
aula. Em um estudo sobre a aplicaç o do mlearning com falantes de herança se destaca a
ampliaç o de contextos de comunicaç o, a possibilidade de utilizaç o entre pares e o reforço e
atitudes positivas sobre o repert rio lingu stico e cultural de cada falante de herança
(AZEVEDO-GOMES, SARTOR-HARADA, 2020).

Considerações inais

A did tica da l ngua de herança um campo de estudo ainda em expans o. At o


presente momento, seus fundamentos se baseiam nos usos sociais da l ngua, no v nculo entre
idioma e cultura e nas estrat gias que valorizem os conhecimentos pr vios dos alunos. O
consenso atual de que, em virtude da heterogeneidade que abarca esse contexto, toda e
qualquer proposta metodol gica ou curricular deve estar pautada na lexibilidade e na

4 A utilizaç
o da estrutura morfossint tica de l nguas aprendidas no mbito formal para a aprendizagem de
portugu s foi comprovada nos estudos de Azevedo-Gomes (2017), onde as l nguas espanhola e catal serviam
como base para a compreens o da estrutura morfossint tica da l ngua portuguesa.
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particularizaç o das estrat gias did ticas em funç o das singularidades do grupo.
fundamental o reconhecimento que o portugu s na modalidade de herança, n o caminha
sozinho. O portugu s, neste contexto, vive um encontro permanente com outros idiomas e
inclusive, com outras variantes da l ngua portuguesa.
Este artigo traz a translinguagem como uma proposta metodol gica contempor nea,
vinculada ao paradigma p s-estruturalista, que reconhece a complexidade na construç o da
identidade e da compet ncia comunicativa em indiv duos que crescem entre dois ou mais
idiomas e culturas. A proposta, criada com base nos fundamentos do ensino de uma l ngua de
herança, tem o objetivo de facilitar ao professor de portugu s um caminho para trabalhar com
seus alunos, valorizando os demais idiomas e culturas que permeiam seu cotidiano.
O uso da translinguagem favorece o desenvolvimento da consci ncia metacognitiva do
estudante, Al m disso, cria um espaço de construç o dial gica, onde o professor apenas o
condutor das estrat gias, no entanto, s o os alunos os respons veis pelo produto inal, que
sempre ser aut ntico e original. O trabalho com a translinguagem favorece o envolvimento
dos alunos atrav s da motivaç o, uma vez que sempre conceder um espaço para a criaç o
individual e coletiva.
Com base na produç o dos alunos, o professor tamb m recebe subs dios para seguir
plani icando sua pr tica no ensino do portugu s como l ngua de herança, em um processo
espiral de an lise diagn stica e melhoria cont nua. Neste caso, nos referimos utilizaç o da
translinguagem como metodologia democr tica, criativa e sistem tica. A proposta tamb m
suscita algumas quest es, a serem respondidas em estudos futuros. Como formar um
professor de portugu s como l ngua de herança para trabalhar com a translinguagem? Como
conceder espaço su iciente para o desenvolvimento dos conhecimentos da l ngua portuguesa
utilizando os demais idiomas? Qual a melhor maneira de avaliar os novos conhecimentos
constru dos com base nessas estrat gias?
Independentemente das respostas que encontraremos, a translinguagem a teoria e a
metodologia que permite a viv ncia aut ntica na l ngua portuguesa em todas suas variantes e
culturas em um espaço de construç o din mica e signi icativa.

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Translenguaje en la enseñanza de las lenguas de herencia: propuesta metodológica


para el contexto de lenguas de contacto

Resumen: La lengua de herencia es la que se habla en el entorno familiar en un territorio


donde la lengua mayoritaria es distinta. Su did ctica es compleja y din mica, ya que combina
elementos como la lengua, la cultura y la identidad. Por ello, las directrices para la ense anza
de las lenguas patrimoniales deben ser lexibles y adaptables a los distintos contextos. Este
art culo presenta una propuesta metodol gica para la ense anza del portugu s como lengua
de herencia basada en el Translenguaje. El translenguaje es una teor a ling stica
contempor nea que tiene en cuenta los diferentes repertorios ling sticos y culturales de los
alumnos. La propuesta se basa en estudios previos sobre el uso de Translenguaje en diferentes
niveles educativos y se dirige a los profesores a trav s de preguntas y estrategias orientadoras
en tres dimensiones: contextual, metodol gica y material.

Palabras clave: Lengua patrimonial; Portugu s; Propuesta metodol gica; Translenguaje.

Juliana Azevedo Gomes doutora em Did tica, Professora e pesquisadora da Universidad


Internacional de La Rioja (UNIR). E-mail juliana.azevedo@unir.net , ORCiD https://orcid.org/
0000-0003-0192-5323

Andresa Sartor Harada doutora em Educaç o, Professora e pesquisadora da Universidad


Internacional de La Rioja (UNIR). E-mail andresa.sartor@unir.net, ORCiD https://orcid.org/
0000-0003-2045-7502


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