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INTERDISCIPLINAR
EM ESTUDOS DE LINGUAGEM
Quadro a quadro: das histórias em quadrinhos do X-Men
para o ensino de Língua Portuguesa
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Considerações iniciais
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1 Ocorr ncia que se efetiva entre sujeitos humanos, podendo estabelecer ou ser estabelecida entre dois ou mais
sujeitos. Nesse sentido, h uma troca de consci ncias entre indiv duos que se estabelecem reciprocamente.
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2 Conceito criado por Will Eisner para de inir as hist rias em quadrinhos de modo geral.
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3 Express o que faz uma esp cie de alus o aos teatros. De maneira mais espec ica, possui relaç o ao momento
em que os personagens ou os objetos interagem com a plateia. A met fora nasce em comparaç o com a forma de
um local teatral, normalmente composto por 3 paredes: a do cen rio (dianteira) e as laterais. A quarta se trata,
portanto, de uma parede invis vel, que separa o p blico da peça e, quando “quebrada”, d a impress o de
aproximaç o.
4 Famoso subg nero de ilmes policiais. J existiam quadrinhos com tem tica de investigaç o, por m, Spirit foi
um dos que mais conseguiram popularidade.
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Com isso, surgiram subg neros dos quadrinhos convencionais, como pulps5, zines6 e
demais produç es independentes. Al m de conhecidas, as HQs passaram a n o apenas
serem in luenciadas pela sociedade, mas, tamb m, a in luenci -la. Produç es
cinematogr icas, por exemplo, começaram a fazer o uso de ideias vindas diretamente de
hist rias em quadrinhos para diversos ins, inclusive monet rios.
Portanto, torna-se v lido dizer que as HQs abrigam uma gama de informaç es e
cumprem, desde o s culo XIX, um papel importante na sociedade art stica, bem como nas
express es humanas. Por isso, contextualizar o g nero e lev -lo para a sala de aula,
especialmente por meio de recursos digitais, apresenta-se como uma proposta de
ressigni icaç o do ensino, medida que capaz de auxiliar signi icativamente para que a
aprendizagem de portugu s se efetue mais amplamente, com vistas a n o apenas ler e
escrever, mas a compreender a vida social, hist rica, ilos ica, geogr ica, art stica e, en im,
humana.
comum ouvir que as hist rias em quadrinhos possuem como funç o entreter os
sujeitos, principalmente os mais jovens. Entretanto, o que muitos desconsideram ao realizar
tal a irmativa que esse material, em virtude de suas ricas linguagens, mais do que entreter,
pode ser explorado em sala de aula de in meras formas, de modo a contribuir para que se
efetue a formaç o cr tica e cidad dos alunos.
No que diz respeito ao trabalho com a l ngua portuguesa nas escolas, n o raro
perceber um ensino enfadonho pautado no uso de l pis e de caderno para a c pia de mat rias.
Soma-se a isso um n mero signi icante de professores que pautam as suas aulas quase
unicamente na gram tica normativa, reduzindo as concepç es de l ngua(gem), texto e ensino.
Assim sendo, preciso reavaliar tais metodologias, visando produzir aulas mais
din micas e promover novas pr ticas que se caracterizem por ser contextualizadas; que se
preocupem em explorar os sentidos e os usos da l ngua em diferentes inst ncias. Isso se
justi ica porque, se o aluno apenas trabalha com quest es ligadas gram tica, o resultado o
“[...] decl nio da lu ncia verbal, da compreens o e da elaboraç o de textos mais complexos e
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formais, da capacidade de leitura da linguagem simb lica, entre muitas outras perdas e
reduç es” (ANTUNES, 2009, p. 34).
Dessa maneira, visando promover um ensino que de fato alfabetize os sujeitos e
promova a pr tica dos multiletramentos, ampliando todas as compet ncias de uso da l ngua
(MELO; GOULART, 2020), o professor pode partir das HQs para ressigni icar o ensino. Em
trabalhos como esse, poss vel instigar
Assim, preciso que o trabalho com HQs se d de maneira contextualizada, isto , que
tenha ligaç o com a vida social dos estudantes. Um exemplo o pr prio uso de quadrinhos
dos X-Men: al m de trazerem personagens adolescentes, trabalham com tem ticas muito
importantes e que precisam ser discutidas, como a puberdade; tudo apresentado em um vi s
l dico.
Tamb m, nas obras, os confrontos n o s o totalmente resolvidos com combates, mas
com di logos, o que toca em pol ticas humanas, preconceitos e dialogias de uma sociedade
que, infelizmente, costuma n o aceitar as diferenças. Al m disso, as escritas que comp em as
HQs podem ser exploradas, por exemplo, ao se trabalhar as diferenças entre verbal e n o
verbal, levando os alunos a perceber que em g neros como esse, a gram tica, sozinha, n o
su iciente para a completa produç o de sentidos.
Por im, importante pontuar sobre a possibilidade de ao realizar um trabalho como
esse, o docente perceber que nem todos os alunos t m em m os uma hist ria em quadrinhos.
Ent o, o uso de recursos digitais pode ser muito til, sobretudo o de e-books. Para tanto,
existe a possibilidade de agrupar os alunos – de modo que possam se ajudar e aprendam a
trabalhar em conjunto – ou utilizar aparelhos eletr nicos da pr pria escola, se ela tiver, para
acessar os materiais na internet.
2.2 Proposta de trabalho com o g nero HQ
Dentre as possibilidades de trabalho que o professor de L ngua Portuguesa pode
promover em sala de aula, destaca-se a an lise de imagens presentes em uma HQ. Para que
isso se realize de forma processual e din mica, interessante partir da exploraç o de
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Assim, desse material podem ser realizadas discuss es sobre iguras de linguagem
(met foras, principalmente) e sobre como uma nica imagem, mesmo se n o estiver
acompanhada de palavras, produz sentidos. Em um trabalho dessa natureza, ressalta-se o
fato de que o texto constitui a realidade imediata para que se possa estudar o homem social
e a sua linguagem, uma vez que ambas s o mediadas pelo texto. Mant m-se, ent o, a ideia
de que os estudos semi ticos em aulas de L ngua Portuguesa podem produzir sentidos que
7 No portugu s brasileiro, da esquerda para a direita: “Voc um homem de sorte. Graças a voc - e pessoas como
voc - mutantes vivem com medo todos os dias de nossas vidas. E, s vezes, essas vidas s o bem curtas. Menos de
uma semana atr s duas crianças em Connecticut foram assassinadas, Stryker - condenados por um acidente de
nascimento”. “Voc faria algo a algu m por conta de sua cor ou crença? Eu n o faço nada, Ciclope, sou um
instrumento de Deus. E independente dessas coisas, eu ainda sou um humano, voc s, mutantes, n o!” “E quem
diz, voc ? Quem garante que sua conex o com o c u mais forte que a minha? N s temos dons nicos, nada mais
especial do que um atleta ou il sofo. Tudo isso pode ser um acidente divino, quem sabe?”.
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promover debate interdisciplinares, pol ticos e humanit rios a respeito de quest es di rias do
mundo ocidental e oriental, realocando, dessa forma, a posiç o dos diferentes sujeitos que se
encontram presentes em uma sala de aula.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola poss vel. S o Paulo: Par bola
Editorial, 2009.
ANTUNES, I. Lutar com palavras. S o Paulo: Par bola Editorial, 2017.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. S o Paulo: Editora WMF, 2018.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ensino fundamental. Bras lia,
MEC/CONSED/UNDIME, 2017.
BRASIL. Secretaria de Educaç o Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: l ngua portuguesa / Secretaria de Educaç o
Fundamental. Bras lia: MEC/SEF, 1998.
MELO, G.; GOULART, I. V. C. A utilizaç o de memes nas aulas de l ngua portuguesa: da
descontraç o ao pensamento cr tico. In: MATIAS, Richard Brunel; CRISTOV O, Vera L cia
Lopes; LOUSADA, Eliane Gouv a (org.). Géneros textuales/discursivos y tecnologías
digitales. C rdoba: Facultad de Lenguas – Universidad Nacional de C rdoba, 2020. p. 90-98.
RAMOS, P. A leitura dos quadrinhos. S o Paulo: Contexto, 2009.
VERGUEIRO, W. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. S o
Paulo: Editora Contexto, 2004.
Abstract: In the mid-19th century, comic books – or comics – emerged in Western culture as a
form of language based on the semiotic mixture of images and words. In this perspective, the
history of the X-Men, created in 1963 by Jack Kirby and Stan Lee, provided an approach to
themes previously little explored in other comics, such as: racial prejudices, philosophies,
con licts over ethics, among others. Given the above, this work, which operates at the interface
of studies of discourse analysis and semiotics, aims to investigate the mechanisms of meaning
production in the X-Men's comics and their modi ications in relation to changes in society. For
this purpose, enunciative events are compared and the use of the above-mentioned comics to
work with Portuguese in elementary schools is analyzed, with a focus on narrativities of
content and expression.
Keywords: Comics; Portuguese language; Semiotics; X-Men.
Gabriel Vicente Alves Silva graduando em Letras pela Universidade Federal de Lavras
(UFLA). Participante Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Estudos de Linguagem. E-mail:
gabrielvicentevicente17@gmail.com ORCiD https://orcid.org/0000-0001-9281-8050
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