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ARTE NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Patrícia Geraldino de Oliveira Santos

RESUMO

Este trabalho aborda uma reflexão sobre a Arte como disciplina nas séries iniciais,
visando compreender melhor o papel que seus conteúdos desempenham no
processo ensino-aprendizagem para a formação do cidadão. Tem-se por objetivos
específicos: entender suas diversas linguagens artísticas e seu contexto histórico;
compreender o trato pedagógico que estes estudos podem desencadear e contribuir
para o campo acadêmico da pedagogia no que diz respeito às suas áreas de
atuação e interdisciplinaridade; explicitar a função da Arte como meio de
interpretação da subjetividade do aluno com propostas de trabalhos rotineiros e
cotidianos. O estudo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica com adoção
da perspectiva qualitativa do campo educacional. Aprofundando-nos um pouco mais
sobre a Arte, observa-se que esta não é simplesmente um desenho, uma bela
pintura, mas a arte está no dia-a-dia, no jeito de ver a vida, no falar de cada região,
no andar na passarela de uma modelo, no corre-corre pela sobrevivência.

Palavras-chave: Artes. Séries Iniciais. Tendências Pedagógicas.

1 INTRODUÇÃO

Este estudo busca abordar uma reflexão sobre a Arte como disciplina nas séries
iniciais, procurando compreender melhor o papel que seus conteúdos desempenham
no processo ensino-aprendizagem para a formação do cidadão.

Entender suas diversas linguagens artísticas e seu contexto histórico para o


desenvolvimento cognitivo, afetivo, psicomotor, social e lógico do educando, be
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como os trabalhos desenvolvidos em sala de aula e suas representações artísticas


como elemento constitutivo dentro das artes visuais, cênicas, dança e música.

Para uma melhor compreensão do trato pedagógico que estes estudos podem
desencadear e contribuir para o campo acadêmico da pedagogia no que diz respeito
às suas áreas de atuação e interdisciplinaridade, faz-se necessário explicitar a
função da Arte como meio de interpretação da subjetividade do aluno com propostas
de trabalhos rotineiros e cotidianos.

O estudo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica com adoção da


perspectiva qualitativa do campo educacional.

No contexto da prática pedagógica observar-se-á a contextualização das


criações/produções no tempo e no espaço, considerando-se o campo das forças
políticas, históricas, sociais, geográficas e culturais presentes na época da
realização das obras.

Portanto, faz-se necessário um aprofundamento das questões estéticas,


comunicativas e cognitivas da Arte, trazendo à tona as contradições da sala de aula
e do processo educativo. Porém, torna-se necessário ainda, considerá-la como área
de conhecimento, de como a estética e a arte contemporânea possibilitam um
caminho acessível à educação escolar verificando as proposições dos PCNs para a
implementação da Arte para as séries iniciais do Ensino Fundamental.

Nesse sentido, buscam-se entender quais são as diversas linguagens artísticas que
podem ser desenvolvidas em sala de aula, suas propostas e possibilidades de
programá-las no cotidiano da escola.

2 A ARTE NA EDUCAÇÃO

Ao se avaliar a Arte na educação, pode-se concluir que, o que se apresenta é uma


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influenciando também as crianças que, muitas vezes transformam-se em obstáculos


para a construção de um conhecimento mais significativo.

Para Bueno (1998, p. 36), “Nessa fase a escrita, grande novidade para a 1ª série, é
mais valorizada do que os trabalhos em desenho e pintura, que acabam perdendo
muito da sua liberdade de expressão e significação”.

Também os pais não veem o ensino da Arte como algo que leve seu filho à
aprendizagem, sentem-se ansiosos pela alfabetização dos filhos não sabendo a
finalidade das aulas de Arte, e, isso faz com que o aluno perca o interesse e a
capacidade de expressão por meio da arte.

Diante da insegurança de se expressar, há no aluno a preocupação com o


julgamento de sua produção e é comum perguntarem ao professor se seu trabalho
está certo ou errado.

Sendo assim, o sociólogo e pesquisador de Arte Canclini (1980) diz que o fato
artístico é modificado ainda pelo consumo que, de certa forma, altera seu sentido
uma vez que depende de classes sociais e da formação cultural dos espectadores.

As pesquisas dos professores Brent e Morejorie Wilson (apud, BUENO, 1998),


mostram que é impossível ignorar a realidade de que a expressão artística da
criança hoje está carregada de imagem veiculada pela mídia, o mundo de imagem
pronto, rápido, sem tempo para pensar.

Naturalmente não se considera negativo todo o papel da mídia, nem se aceita


totalmente qualquer manifesto do senso comum, mas mostram-se apenas a
massificação para que os educadores possam encontrar caminhos para um ensino
mais consistente, e com isso tornar a criança mais crítica favorecendo sua
autoconfiança, sua capacidade de vencer desafios, o autoconhecimento e a
imaginação criativa, a fim de resgatar sua condição inventiva.

As novas práticas sustentam a necessidade de o ensino da Arte contemplar a


abordagem triangular, proposta por Ana Mae Barbosa desde 1986, como eixo
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contextualização da obra de arte, além de desenvolverem os conhecimentos


pertinentes a ela, sirvam cada vez mais de referencias para uma leitura critica de
mundo.

Vive-se num mundo em que as imagens nos invadem a cada instante de maneira
fugaz e efêmera. Essa massificação do olhar acaba por tornar-nos espectadores
passivos que consomem qualquer tipo de produção imagética, sem tempo de se
deter sobre ele um olhar reflexivo que a transforme em imagem verdadeiramente
significativa.

O exercício de ler imagens é tão importante quanto produzir objetos e não pode de
maneira alguma ser interpretado como um “fazer nada”.

Ao se compreender que a arte é linguagem, construção humana que comunica


ideias, a obra de arte passa a ser vista como um texto visual que deve ser descrito,
analisado, interpretado, tanto à luz do contexto em que foi criado quanto à do que
está sendo lido e essa leitura deverá ultrapassar a descrição dos aspectos formais
da obra, de maneira a possibilitar a construção de significados para os leitores.

Aquilo que um artista produz oportuniza um tipo de comunicação em que inúmeras


significações condensam na combinação de determinados elementos e conceitos.
Existem maneiras particulares dentro de cada linguagem.
Na verdade, a criança que se pretende livre, solta, criativa só pode existir dentro de
uma linguagem criada sobre ele e para ela, e é daí que se deve valorizar o ensino da
arte. Visto que esse ensino ainda se choca com os estereótipos presentes no senso
comum, há um enfrentamento quanto ao desafio de se igualar à ciência no que se
refere ao currículo escolar.

Sabe-se que ao ingressar na 1ª série do Ensino Fundamental, a criança traz consigo


formas de construção de espaço e conhecimentos desenvolvidos no contato com a
cultura e os modelos vividos e experienciados na pré-escola. Para Efland (1998) o
impacto provocado pelas imagens que a criança se apropria constrói a sua visão da
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Os termos de produção estética e artística, arte como área do conhecimento,


alfabetização estética e artística, contemporaneidade faz-se presentes nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

Torna-se importante na alfabetização, o ensino de arte na proposta contemporâneas


na estética e artística do individuo. Só assim ele terá condições de situar-se no
mundo e com ele interagir, em todas as dimensões, no seu dia-a-dia como ser social
e natural, transformando-se num ser criador de cultura.

A arte não nasceu adulta e armada do cérebro de Zeus, formou-se


lentamente na consciência e na ação humana; e nunca nem mesmo nos mais
grosseiros impulsos operativos do primitivismo, houve um ato separado da
consciência do ato do sentido ainda que apenas inicial da sua historicidade
intrínseca. (ARGAN, 1998, p. 19)

Desde a existência humana na terra, aparecem imagens desenhadas nas cavernas.


Neste sentido, pode-se dizer que a vida na arte esteve sempre presente na vida
humana. E hoje, qual seria a importância da arte no dia-a-dia e qual seria o sentido
da atividade artística na vida do homem?

A vida adquire sentido para o ser humano, à medida que o mesmo organiza o
mundo. Por meio das percepções e interpretações, os sistemas externos da
realidade são mapeados nos sistema internos do ser, e o cérebro humano vai
também se desenvolvendo no contato com essa realidade.

De acordo com Bueno (1998, p. 20) “[...] a arte se faz presente desde as primeiras
manifestações como linguagem e produto da relação homem x mundo”.

2.1 O ENSINO DA ARTE NA ESCOLA BRASILAIRA: BREVE HISTÓRICO

Desde o início da história da humanidade, a Arte sempre esteve presente em


praticamente todas as formações culturais. O homem que descobriu um bisão numa
caverna pré-histórica e teve que aprender de algum modo, seu ofício, utilizou a Arte
para ensinar para alguém o que aprendeu. Assim, o ensino e a aprendizagem da
Arte
faz
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ambiente cultural, do conhecimento que envolve a produção artística em todos os


tempos.

No entanto, a área que trata da educação escolar em Artes tem um percurso


relativamente recente e coincide com as transformações educacionais que
caracterizam o século XX em várias partes do mundo.

As pesquisas desenvolvidas em vários campos das ciências humanas trouxeram


dados importantes sobre o desenvolvimento da criança, sobre o processo criador,
sobre a Arte de outras culturas. Alguns princípios reconheciam a arte da criança
como manifestação espontânea e autoexpressiva: valorizam a livre expressão e a
sensibilização para a experimentação artística como orientações que visavam a
desenvolvimento do potencial criador, ou seja, eram propostas centradas na questão
do desenvolvimento do aluno.

O ensino da Arte no Brasil se iniciou ainda no período colonial, quando Dom João VI
trouxe para o país um grupo de artistas vindos da Europa. A este grupo foi dado o
nome de Missão Artística Francesa, trazida em 1816, cujo enfoque principal era o
desenho, com a valorização da cópia fiel e a utilização de modelos europeus.

Ainda na escola tradicional, o desenho era relacionado ao progresso industrial e


tinha sentido utilitário de preparo dos indivíduos para o trabalho em fábricas ou
serviços artesanais.

Nos anos de 1930 e 1970, os programas de ensino eram estruturados da seguinte


forma: Desenho do natural; Desenho decorativo; Desenho geométrico; Desenho
“pedagógico” nas escolas normais, esquemas de construção de desenho para
“ilustrar” aulas. (FERRAZ apud FUSARI, 1993, p.22).

A partir dos anos 50 aconteceu um movimento denominado Escola Nova. Este


movimento teve grande influência com o surgimento da pedagogia que, centrada no
aluno nas aulas de Arte, direcionou o ensino para a livre expressão e a valorização
do
pro
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forma espontânea pessoal, o que vinha a ser a valorização da criatividade como


máxima no ensino da Arte.

De acordo com a autora Iavelberg (2003), existente a partir de 1950 nos EUA, a
escola tecnicista, que se instalou no Brasil nas décadas de 60 e 70, visando uma
sintonia com os interesses da sociedade industrial e a preparação dos alunos para o
mercado de trabalho. O Behaviorismo de Skinner era a base psicológica da
proposta, o que implicava a prática escolar e as propostas de estudos dirigidos. A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – Nº. 5692/71 introduz a
Educação Artística no currículo escolar do ensino fundamental e médio.

Na escola libertadora e libertária, o ensino da Arte segue propostas da pedagogia


ativa, com ações interdisciplinares em torno de um tema gerador. A educação visava
à conscientização do povo, reivindicando uma educação democrática e de qualidade
e queria redimensionar o trabalho escolar público de toda população. A escola
propõe experiências da autogestão nas instituições, a não-deretividade do processo
educativo e a autonomia vivenciada por professores e alunos.

Nos fins da década de 70, ocorre a retomada dos estudos teórico-críticos, conhecida
como Escola Crítico-Social dos conteúdos, cujas metas eram conseguir uma escola
pública competente e garantir aos alunos acessos aos conteúdos fundamentais.

Na LDB 9394/96, Arte passa a ser componente curricular obrigatório, definido nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte em quatro linguagens: Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro. Esta abordagem caracteriza a Escola Construtivista. Os
temas transversais também citados pelos parâmetros são trabalhados nos
conteúdos de todas as linguagens da Arte e demais áreas de conhecimento,
separada ou interdisciplinarmente.

Com a nova LDB (Lei 9394/96), não só a terminologia de Educação Artística foi
mudada, mas também a presença da Arte foi reafirmada no currículo escolar como
disc
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ae
não
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“ati
vida
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8

3 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DA ARTE

O professor precisa conhecer as tendências pedagógicas ao longo da história da


Arte para entender o contexto atual da arte-educação, refletindo e objetivando sua
ação pedagógica, visando o ensino com a própria Arte enquanto linguagem original
do ser humano capaz de desconstruir relações dialéticas entre o ensino, a pesquisa
e o objeto de arte.

A análise dessas tendências que ainda influenciam o ensino-aprendizagem de Arte,


leva-os a conhecer e escolher qual prática é mais adequada e, assim compreender
melhor suas relações, uma vez que a Pedagogia Liberal prepara o indivíduo para
desempenhar papéis sociais de acordo com suas aptidões. A Pedagogia
Progressista se constitui como um instrumento de luta dos professores ao lado de
outras práticas sociais.

As tendências pedagógicas se dividem em:

● Tendências Idealistas liberais: Pedagogia tradicional – Iniciou-se no século


XIX e ainda é utilizada atualmente, pois inclui tendências e manifestações
diversas, tendo como papel principal da escola o de preparo intelectual do
indivíduo; Pedagogia Renovada – movimento Escolanovista ou Escola Nova,
originou-se na Europa e Estados Unidos, em fins do século XIX e teve
influência no Brasil nos anos 30; Pedagogia Tecnicista – Devido a crescente
industrialização, surgiu na segunda metade do século XX nos Estados Unidos
e no Brasil de 60 a 79 para responder às questões de preparo profissional.

● Tendências Realistas-Progressistas: Pedagogia Libertadora – Deu-se no


início dos anos 60, como sustentabilidade sociopolítica da educação;
Pedagogia Libertária – Dá ênfase as experiências de autogestão,
constituindo-se mais em instrumento de luta do professor, pois não tem como
se institucionalizar; Pedagogia Histórico-Crítica: enfatiza as relações
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individuo, integrando-o em seus processos de construção e organização


pessoal, surgiu no fim dos anos 70.

3.1 MOVIMENTO ARTE-EDUCAÇÃO

Na nova tendência do professor valorizar a cognição, o conhecimento passa a


ampliar os referenciais do aluno, acreditando que arte se aprende e se ensina, pois
leva o aluno a desenvolver sua criatividade, favorece experiências acionando
processos mentais, aguça a percepção visual contextualizando as informações na
realidade social em que está inserido.

Entre os arte-educadores atuais, a busca de propostas contemporâneas nas


instituições de ensino formal, tem-se tornado fator preponderante no
ensino-aprendizagem, como afirma Barbosa (1989, p. 14):

[...] um dos instrumentos de conscientização dos educadores poderá se


constituir na análise do sistema educacional, que numa sociedade
dependente, de acordo com Berger, “necessariamente tem que ser histórica”,
porque a análise histórica atravessa o processo de transformação,
modernização e inovação do sistema educacional.

Muito embora se perceba a grande influência das tendências tradicionalistas,


escolanovistas e tecnicistas, contidas nas ações do processo ensino-aprendizagem
da arte, os professores têm na cabeça o movimento e os princípios da Escola Nova.
Porém, infelizmente a realidade não oferece aos professores condições para
instaurar a Escola Nova, porque a realidade em que atuam é tradicional.
A essa contradição, Libâneo (1989, p. 20) acrescenta que [...] “o professor se vê
pressionado pela pedagogia oficial que prega a racionalidade e a produtividade do
sistema e do seu trabalho, eito é, ênfase nos meios (tecnicismo)”.

Percebe-se, então, que as instituições não mudaram muito, e para os professores


que não tiveram a oportunidade de conhecer ou estudar as correntes pedagógicas,
men
os
aind
a.10

É importante registrar, portanto, que o pensar a educação numa ótica


histórico-cultural, no Brasil, nas últimas décadas, está fortemente marcado pela
compreensão da ligação da educação com a política e da consequente importância
da educação das camadas populares como um dos caminhos para a criação de uma
nova hegemonia, ligada aos seus interesses (SANTA CATARINA, 1998).

As propostas de arte-educação, antes iniciativas isoladas e desenvolvidas por


artistas comprometidos com a função de educadores, oferece ao professor escolher
conteúdos mais significativos para o aluno, os quais passam a contribuir na sua
formação profissional, tudo isso visando à inserção do aluno no contexto social. Na
realidade, não basta que os conteúdos sejam bem ensinados, é preciso que tenham
significação humana e social.

4 A ARTE COMO COMPONENTE CURRICULAR NAS SÉRIES INICIAIS

Arte é a expressividade do ser humano que pode se dar através de diversas


linguagens e que ultrapassa os limites do tempo. É um meio que o homem tem de se
expressar. É aquilo que acompanha o desenvolvimento histórico do ser.

Barbosa (1972) afirma que a arte desenvolve a criatividade das crianças e age como
veiculo de interatividade, independente do método que a ela se aplique. Em sua
obra, acrescenta que a escola precisa promover aprendizagem através da interação
mental das crianças.

Também destaca que a habilidade desenvolvida nos processos criativos capacita a


criança não somente para a interação com os materiais explorados por elas, mas
também com idéias, nas relações inerentes aos problemas criativos de outra
natureza. Através da utilização de diversos materiais, fazendo a interação entre eles
e seu objeto de criação, a criança percebe as possibilidades de interagir em suas
relações, nos acontecimentos de sua vida.

A Arte é a expressão do olhar de cada artista, mostrada através da obra e que se


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Há,
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educadores certa visão de que a obra de arte se completa ao ser apreciada. Isso
significa que a obra não está pronta ao ser concluída pelo autor, mas seu ciclo
estende-se até o momento de sua apreciação. A interpretação de determinadas
obras devem ser levadas em conta seu contexto histórico

Para completar, ao lado do apreciador de Arte, que é o público, desenvolve-se a


ideia do gosto, do juízo de valor, que seria a opinião do público, do respeito da obra
de arte. Baseada nesse tripé – artista, obra e público – surgiu uma das disciplinas
ligada à arte: a estética.

Arte é uma das disciplinas que proporciona ao aluno encontrar-se consigo mesmo,
com o mundo, com sua realidade, de forma imaginária e criativa. Apesar de algumas
mudanças sociais, a criança traz em si a fantasia, a imaginação, o conto de fadas, a
necessidade de representar tudo que a cerca através de um universo lúdico, criado
por ela. Nesse sentido, ela produz, transforma e natureza e aprende interagindo com
sua própria realidade. Portanto,

Arte é incentivar e desenvolver o espírito criativo, suscitar o gosto pela


descoberta, fornecer o pleno emprego de todas as faculdades, tanto as do
corpo como as da mente, em todos os seus componentes, realizando assim a
união da inteligência com a sensibilidade (FERRAZ apud FUSARI, 1993, p.
20).

É dar condição para que o aluno possa se expressar. A livre expressão é


necessária. Discutir, contextualizar junto com ele e propor uma técnica que retrate o
que foi discutido, para reproduzir-se a partir do que viu e discutiu.
A leitura da imagem é que desencadeará o interesse em conhecer detalhes
esclarecedores sobre ela, sobre a história pessoal do autor e suas relações coma
cultura com a qual dialoga.

As crianças nas aulas de Arte poderão expressar os seus modos de ver o mundo
nas linguagens artísticas, concretizando em formas plásticas, gestuais, cênicas,
entre
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que
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imag
inaç
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2

As diversas manifestações artísticas têm em comum com as outras áreas do


conhecimento sentido de busca, de criação e de inovação. É inerente ao ser humano
organizar e estruturar o mundo ao seu redor.

Os PCNs (1997) propõem uma base triangular para o exercício da leitura que
compõem a Arte: as artes visuais, a dança, o teatro e a música. Propõem ainda que
observemos a obra de Arte dentro do seu contexto de produção, procurando ler, por
meio dela, o grupo social do qual fez ou faz parte o artista criador para perceber a
intencionalidade do artista e a ideologia presente na obra.

Outro caminho é comparar as produções das diversas épocas, contextos e analisar


as diferenças entre elas. As manifestações e criações artísticas são produzidas de
acordo com as dinâmicas sociais de cada condição histórica. A Arte está presente
em todas as modalidades do conhecimento humano. Tanto nas atividades artísticas,
em suas manifestações populares, aqueles legitimados e patrocinados pelos grupos
de poder político e econômico de uma determinada civilização ou sociedade, não
produzida através de intuição ou da razão, com base nos conhecimentos produzidos
e legitimados socialmente pelo senso comum, religioso, filosófico e científico (PCN,
1997).

Para um cientista, uma fórmula pode ser “bela”, para um artista plástico, as relações
entre a luz e as formas são “problemas a serem resolvidos plasticamente”. Parecem
que há muito mais coisas em comum entre essas duas formas de conhecimento do
que se pode pensar (PCN, 2007, p.35).

Dentro desta perspectiva, surgem também novos paradigmas nas Artes. Tem-se
hoje Artes como cinema, Arte moderna, fotografia, design, dentre muitas outras que
dependem de conceitos científicos para sua criação e apreciação.

Partindo da concepção de que arte é uma linguagem manifestada desde os


primeiros momentos da história do homem e estruturada, em cada época e cultura,
de maneira singular, o conhecimento dessa linguagem contribuirá para maior
conhecimento do homem e do mundo. Portanto, a finalidade de Arte na educação é
propi
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ão
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ser
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contribuindo na formação de indivíduos mais críticos e criativos que, no futuro,


atuarão na transformação da sociedade (BUENO, 1988, p.33).

Enfim, esse conhecimento envolve experiência de fazer formas artísticas e tudo que
entra em jogo nessa ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisas
materiais e técnicas, a relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de
arte (PCN, 1997, p.23).

Como forma de propiciar um ambiente para a livre expressão, faz-se necessário


organizar o espaço em sala de aula para que as crianças tenham liberdade na hora
da criação.

4.1 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO PARA O TRABALHO COM ARTES

Além do mapeamento inicial em relação a cada criança e ao grupo, outras questões


de ordem organizacional precisam ser pensadas, como, por exemplo, o espaço da
sala de aula. Este espaço deve ser adequado às atividades expressivas das
crianças. Ele não pode ser restrito com normas estabelecidas pelo adulto privando o
uso de materiais que causam “sujeira ou bagunça”. A organização da sal de aula, a
quantidade e a qualidade dos materiais presentes e sua disposição no espaço são
determinantes para o fazer artístico.

É aconselhável que os locais de trabalho, de uma maneira geral, acomodem


confortavelmente as crianças, dando o máximo de autonomia para o acesso e uso
dos materiais. Espaços apertados inibem a expressão. Nesse sentido, vale lembrar
que os locais devem favorecer o andar, o correr e o brincar das crianças. Devem,
também, ser concebidos e equipados de forma que sejam interessantes para as
crianças, ativando o desejo de produzir e o prazer de estar ali.

Precisam igualmente permitir o rearranjo do mobiliário de acordo com as propostas.


Faz parte do processo criativo, uma certa “desordem” no local de trabalho, causada,
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término das atividades devem envolver a participação de todos e a permanência


nesse local pelo tempo que for desejável.

Muitas vezes as atividades nas instituições acontecem num mesmo espaço. O


professor pode então organizar o ambiente de forma a criar cantos específicos para
cada atividade: cantos dos brinquedos, de Artes Visuais, de leitura etc. No canto de
Artes, podem ser acomodadas caixas que abrigam os materiais, o chão pode ser
coberto de jornal para virar manchas, a secagem das produções pode ser feita
pregando os trabalhos em varais ou paredes, tudo pode ser organizado de forma
transitória, mas que possibilite a realização de uma atividade em Artes Visuais.

É possível organizar ateliês, que são espaços específicos e próprios para a


realização de diferentes atividades artísticas. Nesses ateliês, os materiais devem
ficar constantemente acessíveis às crianças, em prateleiras, estantes, caixas, etc.,
de forma a permitir livre escolha.

Esses materiais são a base da produção artística. É muito importante garantir às


crianças acesso a uma grande diversidade de instrumentos, meios e suporte. Alguns
deles são de uso corrente, como lápis preto, lápis de cor, pincéis, lápis de cera,
carvão, giz, brochas, rolos de pintar, espátulas, papéis de diferentes tamanhos,
cores e texturas, caixas, papelão, tintas, argila, massa diversas, barbante, cola,
tecido, linha, lãs, fita crepe, tesoura, etc. Outros materiais podem diversificar os
procedimentos em Artes Visuais, como canudos, esferas, conta-gotas, colheres,
cotonetes, carretilhas, formas diversas, papel carbono, estêncil, carimbos, escovas,
pentes, palitos, sucatas, elementos da natureza.

Quanto ao uso dos recursos tecnológicos na produção artística, materiais e


instrumentos como vídeos, projetor de slides, computadores, fotografia, xerox,
filmadoras, CD_ROM entre outros, possibilitam e enriquecem a quantidade de
recursos de que o professor pode lançar mão para o enriquecimento de suas aulas,
tornando-as mais atrativas e consequentemente de maior conhecimento e interesse
para
o
alun
ado.
15

CONCLUSÃO

A Arte é um produto do embate homem/mundo, considerando-se que ela é a vida e,


por meio dela, o homem interpreta sua própria natureza, construindo formas ao
mesmo tempo em que descobre, inventa, figura e conhece, conclui-se que, como
mostram Fusari e Ferraz (1993), o conceito da arte tem sido objeto de diferentes
interpretações: arte como técnicas, materiais artísticos, lazer, processo intuitivo,
liberação de impulsos reprimidos, expressão, linguagem, comunicação...

Portanto, acreditamos que a arte faz parte da vida do ser humano, pois, somos todos
criadores, geramos idéias, concluímos, analisamos, realizamos leituras, ampliamos
nossos conhecimentos e de novo geramos novas idéias. Somos todos integrantes
de um contexto sócio-cultural. Neste “lugar” aprendemos a andar, falar, conceituar,
agir, neste determinado tempo e espaço, medidos pela linguagem, interagiu com
todos os outros sujeitos e coletivamente transformamos e somos transformados pela
cultura.

A todo instante, lemos o mundo, crianças, adolescentes e adultos, cada um a seu


modo, compreende o mundo de uma forma diferente. A razão, os sentimentos e a
imaginação são elementos importantes na leitura sensível do mundo e não se
dissociam. A arte é a expressão dessa leitura.

Em muitas escolas brasileiras, até hoje a Arte é compreendida e trabalhada como


atividade e não como disciplina. Todo conhecimento artístico produzido e acumulado
pela humanidade é transgredido pela escola que o ignora negando ao educando a
possibilidade de conhecimento sobre ele. Temas e técnicas ocupam o lugar de
conteúdo e objetivo (IAVALBERG, 2003).

As atividades artísticas das crianças, muitas vezes, se reduzem a uma sucessão de


afazeres sem nenhuma orientação ou intervenção do professor. A criança desenha,
pinta, cola, constrói, modela etc., fazendo tudo que é possível dentro dos limites do
que
lhe é
ofere
cido
com
o
mate
rial
de
traba
lho e
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recur
sos
expr
essiv
os
pess
oais.
16

No entanto, uma boa forma de reconhecer a relação das crianças com a produção
artística tem tornado possível um novo conceito de aprendizagem e uma nova forma
de ação pedagógica. A Arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como
portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais.

A ação artística também costuma envolver criação grupal: nesse momento a arte
contribui para o fortalecimento do conceito de grupo como socializador e criador de
um universo imaginário, atualizando referências e desenvolvendo sua própria
história. A arte se torna presente para si mesmo, por meio de suas representações
imaginárias. O aspecto lúdico dessa atividade é fundamental (IAVALBERG, 2003).

Quando brinca, a criança desenvolve atividades rítmicas, melódicas, fantasia-se de


adulto, produz desenhos, danças, inventa histórias. Esse lugar de atividade lúdica é
cada vez mais substituído dentro e fora das escolas, por atividades e situações que
favorecem a reprodução mecânica de valores impostos pela cultura de massas, em
detrimento da experiência imaginativa.

Aprofundando-nos um pouco mais sobre a Arte, observa-se que esta não é


simplesmente um desenho, uma bela pintura, mas a arte está no nosso dia-a-dia, no
nosso jeito de ver a vida, no falar de cada região, por exemplo.

Viu-se que, a verdadeira Arte está em cada ser humano que sabe viver a sua vida.
Percebe-se que o sinônimo da Arte é a vida. Vida vivida em eterna alegria de saber
fazer Arte.
Por fim, num contexto histórico-social que inclui o artista, a obra de arte, os difusores
comunicacionais e o público, a Arte se apresenta como produção, trabalho e
construção.

REFERÊNCIAS
ARG
AN,
Giuli
o
Carl
o.
Clás
sico
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clás
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