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CONCURSO DE AGENTES (PESSOAS)

Professor Lúcio Valente

1. Espécies de Crimes quanto à exigência de número de agentes:


Há injustos em que o concurso de duas ou mais pessoas é elemento constitutivo do tipo. já
em outros, a colaboração de, pelo menos, duas pessoas é indispensável. A lei penal em
certas circunstâncias assenta à categoria de tipo autônomo: o ajuste, a determinação ou
instigação e o auxílio ao injusto.
a)Crimes Unissubjetivos, monossubjetivos ou de concurso eventual: Crimes que podem ser
praticados por uma só pessoal, mas que, eventualmente, podem ser praticados por mais
de uma pessoa. Ex.: Homicício, Roubo, Furto, Estupro, etc.
b)Crimes Plurissubjetivos ou de concurso necessário: O tipo penal exige, para sua
configuração, a ação de mais de uma pessoa. A doutrina os subdivide em: a) crimes
plurissubjetivos de conduta paralela (art. 288 – quadrilha ou bando); b) de condutas
convergentes (art. 235 – Bigamia); c) de condutas contrapostas (art. 137- Rixa).

2. Teorias sobre o concurso de pessoas


1ª) Monista, monística ou unitária (regra: art. 29, caput, do CP)

Tal teoria não faz qualquer distinção entre autoria e participação, instigação e
cumplicidade. Assim, quem concorre para o crime causa-o em sua totalidade, respondendo
integralmente, permanecendo indivisível. Essa postura é cômoda, visto que evita questões
polêmicas, e a reforma de 1984, de início, teria adotado a mesma direção teórica agora
atenuada, pois faz distinção entre autor e partícipe (art. 29 e parágrafos do CP). Para
Mastieri, o legislador pátrio teria adotado no concurso de pessoas uma TEORIA UNITÁRIA
TEMPERADA.
No mesmo sentido de Mastieri, Fragoso, Mirabete, Delmanto, Paulo José da Costa Junior,
Prado, com o reforço do princípio constitucional da individualização da pena ( na medida da
sua culpabilidade) e com o corolário da TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS
ANTECEDENTES CAUSAIS, ensinam que o CPB não faz, em princípio, a distinção entre
autor, co-autor e partícipe

2ª) Dualista ou dualística (exceção: art. 29, § 1º, do CP)

3ª) Pluralística ou Pluralista (exceção: art. 29, § 2º, do CP)

3. Requisitos do Concurso de Pessoas


a) Pluralidade de Agentes;
A pluralidade de pessoas e de ações é conditio no concurso em que cada partícipe deve
realizar as condições típicas básicas para ser sujeito ativo. Inexiste concurso quando: (a) o
outro participante é inimputável; (b) ou quando é levado a erro, coagido irresistivelmente;
(c) ou ainda no caso de ordem não manifestamente ilegal de regime hierárquico,
respondendo apenas o que utiliza o inimputável, o que determina o erro, o autor da coação
ou da ordem
b) Relevância causal das condutas;
c) Vínculo subjetivo.

4. Autoria

O legislador de 1984 NÃO definiu normativamente o conceito de autoria nem tampouco de


co-autoria, deixando aos doutrinadores. Tratou a questão sob a rubrica correta de
CONCURSO DE PESSOAS, pondo ponto final à equivocidade da denominação do texto
original de 1940, de CO-AUTORIA.
Faremos uma distinção básico entre CO-AUTORIA (cada co-autor é um autor) e
PARTICIPAÇÃO, que dá uma idéia de acessoriedade (já que existe o autor típico e o
partícipe vem a contribuir com ajuste, determinação e instigação.
a) Conceito amplo ou extensivo de autor (subjetivo-causal) – todos que concorrem para o
crime são autores. O “conceito unificado de autor defende que cada partícipe responda
exclusivamente por seu injusto e sua culpabilidade, configurando o sistema de único
tipo, perdendo significados os problemas de acessoriedade da participação, autoria
mediata, cumplicidade ou indução. O conceito UNITÁRIO de autor considera AUTOR
todos os intervenientes que contribuem para a realização do tipo independentemente
da importância de sua colaboração para a totalidade dos acontecimentos.
b) Conceito restritivo de autor (formal-objetivo) – autor é aquele que pratica o verbo
núcleo do tipo. Defendida por Merkel, considera: (a) o AUTOR no sentido estrito é
aquele que realiza a AÇÃO PRINCIPAL ou AÇÃO EXECUTIVA; (b) PARTÍCIPE é o
que consciente ajuda o autor principal na comissão do fato. Em síntese, o AUTOR
realiza PESSOALMENTE o tipo; já o cúmplice (partícipe) presta AUXÍLIO doloso à
realização típica de terceiro. O PARTÍCIPE é o que realiza uma ação PREPARATÓRIA
e colabora durante a execução numa função meramente AUXILIADORA. Fica o
partícipe na dependência do autor iniciar a execução do tipo.
A crítica à teoria formal-objetiva reside no fato de que ela não explica a AUTORIA
MEDIATA, que é aquela em que o autor se vale de uma outra pessoa INIMPUTÁVEL
para a realização do ato criminoso.

c) Teoria do domínio do fato (objetivo-subjetiva) – autor é quem tem o domínio final dos
fatos, ou seja, aquele que decide quando, como ou onde realizar a conduta criminosa.
Obs. Segundo orientação da maioria dos doutrinadores, o CP teria adotado a teoria
restritiva: autor, portanto, será aquele que praticar a ação nuclear; co-autores, os que
cooperarem na execução do delito; partícipes, por fim, todas as pessoas que auxílio moral
(induzimento ou instigação) ou material. A doutrina, contudo, prefere a Teoria do Domínio
do Fato.
Esta teoria eclética, nem puramente objetiva nem puramente subjetiva, é o melhor caminho
para delimitar a AUTORIA DIRETA e a PARTICIPAÇÃO e, em um síntese doutrinal, a
resultante é a TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO. O ponto de partida para a solvência da
questão é o conceito restritivo de autor e a conexão com o tipo legal, sendo, pois, errôneo
formular um conceito unitário de autor com base na causação, visto que o conteúdo da
autoria deve ser distinto nos fatos dolosos e culposos.
4.1 Autoria Mediata – O autor utiliza terceiro, manipulando sua vontade ou aproveitando-
se de sua inimputabilidade.
5. Participação: é o auxílio material ou moral, sem a concorrência na execução do
crime.
Teorias sobre a punibilidade da participação:
a) Teoria da Acessoriedade mínima: a conduta do autor deve ser apenas típica;
b) Teoria da Acessoriedade limitada: exige que a conduta do autor seja típica e
antijurídica;
c) Teoria da Acessoriedade extrema: a conduta do autor deve ser típica, ilícita e culpável;
d) Teoria da hiperacessoriedade: sustenta que o fato deve ser típico, ilícito, culpável e
punível.
6. Homogeneidade de elemento subjetivo – Não existe participação dolosa em
crime culposo.
7. Participação de menor importância e participação dolosamente distinta (erro na
participação) – art. 29, §§, 1º e 2ª.
8. Autoria Colateral e Incerta
Colateral: quando duas pessoas concorrem para um mesmo resultado, sem que haja
vínculo subjetivo.
Incerta: quando, diante de uma hipótese de autoria colateral, não se pode determinar quem
foi o responsável pelo resultado.

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