Você está na página 1de 6

1

CBI of Miami
DIREITOS AUTORAIS

Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos
sobre o mesmo estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e
reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais.

2
CBI of Miami
Descobrindo a Função do Comportamento

Lucelmo Lacerda

Uma frase pode definir bem o espírito deste tema: “Sem reforço não há
comportamento”, com exceção ao comportamento respondente. Se isto é verdade,
sempre que uma pessoa emite qualquer comportamento, há algum reforçador que
o mantém, por mais estranho que possa parecer.

Vejamos o caso de crianças com autismo que batem a cabeça na parede com
bastante força. Provavelmente sua tendência é dizer “Este comportamento é
diferente, ele é punitivo, ele não tem reforçador, mas é porque ele tem autismo”,
Ledo engano... Vamos voltar à frase “Sem reforço não há comportamento”, observe
que, ao fim da frase, não tem uma ressalva do tipo “a não ser que seja uma pessoa
com autismo” (a exceção colocada é sobre o comportamento respondente, ou
reflexo, que é uma lista bem específica de comportamentos muito mais simples,
como salivar ou dilatar a pupila). Então, se a criança bate a cabeça na parede, há
sim, algum reforçador. A dificuldade é descobrir qual é este reforçador e este é o
objetivo da Análise Funcional.

Muitas vezes, uma entrevista com os pais de uma criança pode ajudar e até
revelar uma boa hipótese sobre qual seja a função de um certo comportamento.
Acontece, no entanto, muitas vezes, de os pais terem todas as informações
necessárias para saberem a função do comportamento, mas não terem ainda
descoberto a função com exatidão. Isso acontece porque o senso comum é
mentalista e a estes pais foi ensinado que a forma como uma pessoa se comporta
“está no sangue”, “puxou o pai” ou “cada cabeça, uma sentença” ou, ainda, “isso é
coisa do autismo”. Daí que esta nova perspectiva teórica, a da Análise do
Comportamento, pode ajudar estes pais a simplesmente juntarem os pontos. Mas
nem sempre isso funciona.

É por isso que, para além da entrevista, os profissionais podem e


normalmente devem fazer observações diretas do comportamento da pessoa a ser
atendida. Este tipo de observação segue o padrão A-B-C, em que A é o ambiente
3
CBI of Miami
em que ocorre, B é a resposta propriamente dita, a ação do sujeito que se está
observando, e C é tudo o que vem depois da resposta. Esta observação não é feita
em um só momento, mas de maneira sistemática. Quando isso ocorre, começam a
se revelar padrões, isto é, certas circunstâncias em que a Resposta é emitida e
outras em que ela não aparece. Ficam visíveis, também, algumas coisas que
normalmente seguem à resposta e que podem ser as consequências reforçadoras.
Isso nos ajuda com boas hipóteses sobre a função daquele comportamento.

As 7 dimensões da ABA

Se você faz qualquer processo de ensino para pessoas com TEA, já deve ter
percebido de que muito do que aqui já foi dito coincide com o que você faz e deve
estar se perguntando coisas como “Então já trabalho baseado em ABA?” ou ainda
“Se isso eu já faço, porque estou fazendo este curso?” (espero que não esta última
pergunta). Explico que, na verdade, simplifiquei bastante o que seja a ABA, porque
ainda estamos no começo do curso, ainda tem muito mais pela frente, mas isso não
quer dizer que você não esteja no caminho. Normalmente, só é necessário
incrementar o que já se faz para que isso seja “baseado em ABA”.

Imaginemos o seguinte, que você seja uma professora ou terapeuta ou mãe


que está tentando ensinar sua criança a imitar, digamos que você diz a esta criança
“faz igual” e põe o dedo no nariz e se a criança eventualmente acerta, você a elogia
e diz “muito bem, parabéns, que bonito”. Este é só um exemplo, eu poderia dar
centenas de outros que são coisas que as pessoas fazem no dia-a-dia com pessoas
com autismo ou outros atrasos no desenvolvimento e que pode ser considerado
como muito próximo de uma intervenção “baseada em ABA”.

Neste caso, eu diria que esta pessoa está quase lá, basta um empurrãozinho
para que ela trabalhe “baseado em ABA” e isso está escrito neste módulo porque
têm tudo a ver com as dimensões apresentadas, pois este é o cerne desta ciência.
Vou elencar aqui resumidamente as 7 dimensões da ABA, que são justamente o
que esta pessoa precisaria fazer para melhorar sua prática, torná-la mais eficaz e
poder dizer que ela é “baseada em ABA”.

4
CBI of Miami
1ª - DIMENSÃO APLICADA – é preciso que a intervenção tenha como objetivo
uma mudança de comportamento realmente significativa para o sujeito. Sem
nenhuma dúvida, o ensino de imitação é simplesmente fundamental. Esta
dimensão já está sendo atendida por esta pessoa. Não dá para fazer uma pesquisa
que se diga de ABA só por curiosidade científica (como é possível na Análise
Experimental do Comportamento) é necessário melhorar a vida humana.

2ª - DIMENSÃO COMPORTAMENTAL – aqui a coisa se complica um pouco.


É preciso lidar com o comportamento de forma objetiva, medindo, avaliando, e há
uma base conceitual para isso. É preciso avaliar este ensino como uma
contingência. Ou seja, não basta que a consequência do comportamento pareça
reforçadora, como o elogio parece, mas que se tenha certeza se o é, assim, é
necessário avaliar se esta consequência, o elogio, está reforçando o
comportamento. E esta avaliação não é subjetiva, é medindo a frequência do
comportamento. Se ele ocorre com maior probabilidade ao ser consequência do
com elogios, então o elogio é reforçador, se não, não é. E se o elogio não for
reforçador, ou não for o suficiente, usar testes de preferências para selecionar
outros reforçadores e utilizá-los como consequência para o comportamento a ser
ensinado.

Não existe intervenção que se possa chamar de “baseada em ABA” sem


registro. Um ensino de imitação com este modelo deve ser feito com uma tabela do
lado, anotando cada resposta, se houve erro, acerto com ou sem ajuda e esses
dados devem ser utilizados para avaliar e replanejar sempre a intervenção.

3ª - DIMENSÃO CONCEITUALMENTE SISTEMÁTICA – isso indica que o


sujeito irá mobilizar os conceitos a Análise Experimental do Comportamento, como
antecedente, reforçamento, contingência, para avaliar este ensino e planejar seu
trabalho. Também irá se servir daquilo que já foi escrito, se basear na literatura
sobre o tema – neste caso, ensino de imitação. E esta é a base que instrui as
demais transformações necessárias. O Analista do Comportamento é um rato de
biblioteca (ok, esta metáfora não é mais tão boa em tempos de google acadêmico),
ele lê os artigos mais novos e sempre se atualiza sobre como ensinar mais e
melhor.

5
CBI of Miami
Se ele se baseia na literatura científica, vai descobrir que para ensinar
imitação motora fina (colocar a mão no nariz está nesta categoria), a criança
precisa, antes, ter aprendido uma série de coisas, como controle instrucional e
imitação motora grossa, então esta pessoa vai avaliar, antes do começo do ensino,
se estas outras habilidades estão presentes.

Se ele se basear na literatura, ele irá dar ajuda quando necessário. Se este
educador recorre à literatura científica, vai ver que embora frases como “A gente
aprende é pelo erro” sejam clássicos dos pais da velha guarda, as evidências
demonstram o contrário, o ideal é uma aprendizagem sem erros, o erro desmotiva.
Então, ao ensinar imitação, existe uma hierarquia de ajudas a serem dadas à
criança até ela atingir a autonomia, para que ela erre o mínimo possível.

4ª - DIMENSÃO TECNOLÓGICA – para atender a esta dimensão, é preciso


que o procedimento seja escrito e que esteja muito claro o que se faz para que
ensinar à criança o comportamento de imitar. Assim, o terapeuta, o professor, os
pais, podem realizar este procedimento em diversas circunstâncias.

5ª - DIMENSÃO DA GENERALIZAÇÃO – o objetivo desta intervenção não é


que a criança aprenda a imitar na terapia, mas em sua vida. Assim, se planejará a
aplicação de diversas estratégias para que esta criança, sempre que necessário,
em sua vida, imite.

6ª - DIMENSÃO ANALÍTICA – o Analista do Comportamento terá também que


ter certeza de que é a sua intervenção que está realmente ensinando esta criança
a imitar. Isso não é nada fácil, mas uma linha de base múltipla é uma das
possibilidades para isso.

7ª - DIMENSÃO DA EFICÁCIA – para atender a esta dimensão, é preciso


garantir que a criança aprenda. Se ela não aprender, ao invés de colocar a culpa
nela, é preciso reconhecer que a intervenção é que não foi adequada (já que
sabemos que todos os seres humanos aprendem) e mudar nossa estratégia.

O que acha de incorporarem esses ensinamentos àquilo que vocês já fazem?

6
CBI of Miami

Você também pode gostar