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Aulas Datadas de Ied
Aulas Datadas de Ied
CURSO DE DIREITO
AULAS RESUMIDAS DE
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
DIREITO
Luanda, 2020
1
Doutorando em Direito, Mestre em Governação e Governação em Gestão Pública e Licenciado e
Direito.
1
11/03/2020
Aula n.º 1 e 2
Sumário:
2
Quanto ao fim da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, visa munir,
acomodar, capacitar ou mesmo preparar o estudante do primeiro ano do curso do
Direito com as matérias “especiais” de todo um pouco dos distintos ramos do
direito, para que diante dos inúmeros casos jurídicos com que se possa deparar
durante a sua trajectória poder dirimi-los sem sobressaltos.
3
13/03/2020
Aula n.º 3, 4 e 5
Sumário:
1. O Homem e a Sociedade
1.1. A Natureza Social do Homem
1.2. A Ordem Social. Instituições Sociais
1.2.1. Noção e Função
1.2.2. Necessidade
I – ORDEM SOCIAL
4
seres Animais, Vegetais ou Minerais, seres vivos ou inertes, o fazem. O Homem
não passa de uma partícula desse conjunto.
Contudo, o Homem tem sobressaído nesse ecossistema, na medida em que tem
características e qualidades que lhe permitem a distinção sobre os restantes seres
e, até, o domínio sobre as restantes espécies.
É por isso, que se mantém ainda actual uma perspectiva antropocêntrica do
universo, onde o Homem é o centro de todas as preocupações universais. O
núcleo que dá força ao próprio sistema, apesar de existirem posições que
afirmam uma perspectiva diversa desta, nomeadamente, as posições ecocêntrica e
económico-cêntrica.
A primeira coloca os factores ecológicos no centro das preocupações actuais,
onde todos os seres, vivos ou inertes, merecem a mesma protecção. A Segunda,
económico-cêntrica, coloca o acento tónico das preocupações nos recursos
naturais e na maximização do sustentado, pelo que, os seres, vivos ou inertes,
desempenham um papel cuja relevância há-de depender da possibilidade do seu
aproveitamento.
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II – A ORDEM E AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
6
II – II TIPOS DE INSTITUIÇÃO
Já vimos que o Homem, de uma forma inata, vive em Sociedade, mas, além
disso, o Homem é por natureza inacabado, está em permanente mutação. Ora,
tudo isso faz com que o Homem sinta necessidade de orientação permanente. As
instituições são, por isso, necessárias para o Homem, porque são elas que traçam
o caminho que o Homem deve percorrer, é nas Instituições que o Homem
encontra instrumentos de orientação, um rumo de acção no meio em que ele se
integra.
Ora, todas as instituições desempenham esta função de escola, de factor de
aprendizagem e todas as Instituições são fontes de conhecimento.
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18/03/2020
Aula n.º 6 e 7
Sumário:
Como é sobejamente sabido, a sociedade enquanto meio que por virtude da qual
os homens mantém ou estabelecem vínculos está submissa a inúmeras e
deferentes ordens normativas.
Neste sentido, no quadro do estudo da disciplina de Introdução ao Estudo do
Direito imprime-se sem sombra de dúvidas a necessidade de se saber quais a
referidas ordens, os aspectos que as justificam ou caracterizam para as distinguir
uma da outra
Neste quadro de análise, para o efeito, dos três grupos de trabalho existentes na
turma, far-se-á a distribuição dos temas conforme em tópico, para pesquisa,
apresentação e debate na turma, com excepção da ordem jurídica que será
ministrada pelo professor.
Importa realçar que, depois de apresentado os temas pelos distintos grupos, o
professor efectuará a consolidação e o resumo dos mesmos.
8
20/03/2020
Aula n.º 8, 9 e 10
Sumário:
III – ORDENS
9
III – I LEIS NORMATIVAS E LEIS FÍSICAS
III – II ORDENS
10
A religião é composta por um conjunto de regras, tal como o é o direito, e
importa, por isso, traçar a fronteira entre direito e religião.
Nessa medida, a ordem religiosa possui 3 características que identificam as suas
normas e que permitem a correcta distinção entre religião e Direito:
1ª - as normas religiosas têm um carácter instrumental, não são um fim
em si mesmas, mas limitam-se a preparar e a tornar possível aquilo que não
pertence ao mundo terreno mas à transição para a vida eterna;
2ª - são normas intra - individuais, porque se dirigem, essencialmente, aos
aspectos internos, aos pensamentos, às sensações e às vocações, negligenciando,
ou colocando em 2º plano os actos e os factos;
3ª - as normas religiosas são normas, em regra, com cariz sancionatório,
são dotadas de sanção, nomeadamente, o remorso.
A aplicação das sanções religiosas é uma competência alheia à vontade do estado
e circunscrita à actividade das igrejas. Nessa medida, a sua aplicação não é
caracterizada pela coercibilidade, ou seja, não pode ser imposta pela força.
Cumprir as normas religiosas significa alcançar as metas a que a ordem se
propõe. A vida eterna é a forma de retribuição que a ordem religiosa estabelece
para quem acata os seus ditames. O remorso é o castigo, é a sanção para os
prevaricadores, quem não cumpre.
Ao longo da história assistimos a alguma confusão promíscua entre a religião e o
Direito, aliás o Direito Romano em muito se funda em normas religiosas. O
próprio conceito de Ius, associado à deusa Iustitia, demonstra a origem divina do
Direito e, portanto, numa perspectiva embrionária o Direito teve uma fonte
eminentemente religiosa. Ao longo do tempo assistimos a uma secularização do
Direito e à laicização do Estado, ao ponto de podermos hoje afirmar que o direito
e religião são coisas distintas, são coisas diversas, o que não quer dizer que não
existam ligações ou relações entre Religião e Direito, aliás, o Direito é ainda
muito influenciado pela religião, essencialmente pela católica: ao nível da
criminalização de atitudes, o incesto censurável; o aborto ainda hoje é assim;
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2 - ORDEM MORAL – É caracterizada pela interioridade e espontaneidade. É,
por isso que a Ordem Moral tem uma esfera ou âmbito de aplicação muito
alargado. Os limites da Ordem Moral definem-se com base nos limites das
projecções da consciência humana. Dizemos, por isso, que a Ordem Moral vai
até onde chegar a consciência humana e, ela, consiste num conjunto de regras
obrigatórias para com a consciência do Homem, normas essas que procuram
regular o comportamento do Homem em sociedade.
Ora, esta definição de Moral é abrangente e pode colocar a Moral em rota de
colisão com o Direito.
Torna-se, por isso, imperioso o estabelecimento de um critério que permita
distinguir o Direito da Moral. São 6 os critérios propostos para obter e referida
distinção:
1 – Critério Teleológico – A teleologia é a ciência que estuda as
finalidades, os objectivos. Segundo este critério o Direito é diferente da Moral
porque a Moral tem um fim pessoal, que consiste na plena realização do Homem,
ao passo que o Direito tem um fim social, que consiste na justiça e na segurança.
Este critério apontado para distinguir o Direito da Moral não é um critério
rigoroso e nós não o aceitamos porque, não raras vezes, a Moral tem fins sociais,
por exemplo quando as suas normas se preocupam com o bem estar de uma
comunidade (esmola a um pedinte) e, por outro lado, também é frequente ver
Direito na busca de fins pessoais, como é o exemplo típico das normas de higiene
e segurança no trabalho;
2 – Critério da Perspectiva – Segundo este critério o que interessa para
distinguir o Direito da Moral é a forma de abordagem normativa e, assim, ao
passo que a Moral recai ou incide sobre aspectos interiores ou intrínsecos sobre a
chamada motivação, o Direito preocupa-se com o aspecto externo, com actuação
humana.
Este critério também não merece a nossa aceitação, porque são inúmeras as
normas do Direito que valoram atitudes e motivações, veja-se o exemplo da
premeditação no homicídio e também abundam normas Morais que se
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preocupam com o comportamento, por exemplo é imoral não cumprir um
contrato.
3 – Critério da Imperatividade – Segundo este critério a Moral distingue-
se do Direito na medida em que tem um carácter unilateral ou unidimensional, ao
passo que o Direito tem um carácter bilateral, na medida em que ao mesmo
tempo que impõe um dever a uma pessoa, correlativamente, atribui um direito a
outro, por exemplo a Ordem Moral impõe a todos o dever de ajudar os mais
desprotegidos, mas aos mais desprotegidos não atribui o direito de auferir essa
ajuda. A Ordem jurídica tem um carácter bilateral na medida porque e por
exemplo, quando se atribui um dever a uma pessoa (ex. o dever do inquilino
pagar a renda) automaticamente a outra parte, no caso o senhorio, adquire um
direito de crédito que é o direito de receber tal montante.
Este critério é objecto de crítica porque, embora seja verdadeiro, o carácter
bilateral do Direito não espelha a realidade jurídica, e por várias razões. Desde
logo porque existem normas sem sanção (leis imperfeitas), em que nada acontece
a quem não as cumpre, por outro lado existem normas permissivas, que não
impõem condutas, simplesmente as permitem (por ex. as normas que permitem a
celebração de negócios jurídicos).
4 – Critério dos Motivos da Acção – Segundo este critério o Direito
distingue-se da Moral porque a Moral tem a sua fonte na consciência de quem a
deve cumprir ou respeitar. A Moral é, por isso, autónoma, o criador da Moral, o
autor das suas normas é a mesma pessoa que lhes deve respeito e obediência, ao
passo que no Direito as normas são fruto da vontade de uma pessoa diferente
daquela que é o destinatário das mesmas. O Direito tem, por isso, um carácter
heterónomo.
Este critério não espelha a realidade porque, embora a Moral seja um imperativo
categórico em que cada indivíduo tem o poder de apreciar a validade das normas,
a Ordem Jurídica ou o Direito tem um carácter hipotético porque se limita a
estabelecer os pressupostos da sua aplicação.
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Assim sendo, também no Direito existe autonomia porque as suas normas são
criadas na sociedade e para a sociedade. O ente criador do Direito não é diferente
do núcleo das pessoas a quem as suas regras serão aplicáveis.
5 – Critério da Forma ou dos Meios – Segundo este critério a distinção
entre a Moral e o Direito se faz na exacta medida em que as normas morais não
são coercivas, não são susceptíveis de aplicação com recurso à força sempre que
possível e necessário. O cumprimento das normas morais têm, por isso, um
carácter espontâneo, ou seja, só cumpre quem quiser e pela força ninguém pode
ser obrigado a cumpri-las. O Direito é caracterizado pela coercibilidade porque
quem não cumpra uma norma jurídica será obrigado a fazê-lo com recurso à
força sempre que possível e necessário.
Este critério também não serve porque a coercibilidade não é uma dimensão
essencial no Direito, não é uma característica nuclear das normas jurídicas
porque são inúmeras as normas jurídicas que não são dotadas de coercibilidade.
6 - Critério do Mínimo Ético ou das Circunferências Concêntricas –
Segundo este critério todas as normas jurídicas tinham um mínimo de ética, todas
as normas jurídicas eram moralmente aceites, mas o inverso não é verdade,
porque nem todas as normas morais teriam relevância jurídica. O mundo da
Moral absorve no seu conteúdo o mundo do Direito.
Este critério também não nos satisfaz porque, embora admitamos que, do ponto
de vista histórico, tenha sido esse o percurso do Direito, ao longo da história
assistimos à crescente separação entre o mundo do Direito e o mundo da Moral.
ENTÃO:
- qual a distinção entre Moral e Direito?
O Direito distingue-se da Moral na exacta medida em que a Moral se caracteriza
pela autovinculação e pela importância que dá à motivação das condutas, ou seja,
a Moral preocupa-se, essencialmente, com aspectos interiores a casa ser humano,
faz depender o seu respeito da vontade de cada um. Enquanto que o Direito não
se preocupa com o Homem individualmente considerado, mas com o Homem
quando em relações com os outros, no que diz respeito à sua vida em sociedade.
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3 – ORDEM DO TRATO SOCIAL – Existem comportamentos que em
sociedade são adoptados em obediência a regras ou normas que emergem da
própria sociedade. Estas regras têm 2 características:
1ª - são impessoais, na medida em que não têm origem na vontade
humana, resultam de factores aleatórios relacionados com aspectos da
convivência humana, aspectos esses que são considerados acessórios,
colaterais ou não essenciais à subsistência da própria sociedade. Esta
impessoalidade transmite às normas do trato social alguma abstracção e
irracionalidade, são muitas vezes normas que têm fundamento em atitudes,
em convicções, mas não espelham a vontade nem o querer de ninguém:
2ª - as normas do trato social são caracterizadas pela coactividade, e têm
essa característica porque se impõem através do mecanismo da pressão
social, onde a força do conjunto, a força da própria sociedade, servem de
instrumento através do qual se consegue impor o cumprimento dessas
normas.
É nesta coactividade que se pode desenhar a existência de sanção. As
normas do trato social são dotadas de sanção porque existem
consequências negativas para quem não as cumpra, não as respeite, como
são os exemplos da perda de prestígio e da marginalização social.
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As normas do trato social são distintas das normas jurídicas essencialmente
porque, embora ambas possam ser dotadas de sanção, nas normas jurídicas
existem instituições como órgãos de Polícia e os Tribunais, cuja específica
função é aplicar as sanções aos prevaricadores, a quem não cumpre as normas
jurídicas, ao passo que nas normas do trato social a sanção existe, mas não existe
o órgão ou instituição vocacionada à sua aplicação.
16
é impossível definir Direito, porque qualquer definição de Direito
poderia cair numa desactualização, porque as definições são estáticas,
inflexíveis, e o direito exige flexibilidade.
17
Assim, podemos dizer que, para que o Homem exista tem que existir uma
sociedade, para que a sociedade subsista tem que existir Direito, logo, para que o
Homem subsista tem que existir Direito. È, por isso, que dizemos que o Direito é
necessário, é útil e imprescindível à subsistência humana, mas também não deixa
de ser verdade uma análise inversa, porque o Direito depende da sociedade, a
sociedade depende do Homem, logo, o Direito depende do Homem
(característica essencial do Direito).
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- porque há normas cuja imperatividade é discutível, por exemplo as
normas supletivas;
- é que dentro das normas imperativas há vários graus de
imperatividade, onde umas são mais imperativas que outras, por
exemplo, a norma que diz “é proibido matar” é muito mais imperativa
que a norma que diz que o pagamento de uma prestação contratual
pode ser feita no prazo de 30 dias.
19
25/03/2020
Aula n.º 11 e 12
Sumário:
1. Ordem Jurídica
1.1. Direitos Subjectivos Privados
1.1.1. Noção
1.1.2. Modalidades
1.1.2.1. Direito Subjectivo no Sentido Estrito ou Propriamente
dito
1.1.2.2. Direito Potestativo
1.1.3. Classificação
1.1.4. Direito de Direcção, Poderes Deveres ou Poderes Funcionais
IV – ORDEM JURÍDICA
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RELAÇÃO JURÍDICA – É uma relação social tutelada ou protegida pelo
Direito. Esta relação contém 4 elementos:
- sujeitos;
- objecto;
- facto jurídico;
- garantia.
SUJEITOS – Sujeitos de uma relação jurídica são pessoas entre as quais se
desenvolve a relação jurídica (exemplo: o mútuo tem 2 sujeitos, o mutuante e o
mutuário).
ESFERA JURÍDICA – É o local imaginário onde se depositam os direitos e
deveres de um determinado sujeito. A esfera jurídica tem 2 hemisférios:
- de um lado temos hemisfério pessoal onde estão os direitos e deveres
pessoais, não patrimoniais ou insusceptíveis de avaliação pecuniária
(exemplo: direito à vida).
- Do outro lado temos o hemisfério patrimonial onde temos os direitos
e deveres susceptíveis de avaliação pecuniária.
21
SER SUJEITO ACTIVO – significa ter uma posição jurídica de vantagem, ou
seja, tem um direito subjectivo ou interesse legítimo (interesse legalmente
protegido).
SER SUJEITO PASSIVO – implica estar numa posição de desvantagem, ou seja,
estar vinculado, ou adstrito a um dever jurídico ou estado de sujeição.
22
como é o exemplo do direito à servidão legal de passagem prevista no
art.º 1550º do C.C..
2º - Direitos potestativos modificativos – são aqueles direitos cujo
exercício provoca uma alteração na relação jurídica pré-existente,
como é o caso da separação de bens2, e também é o exemplo do direito
à modificação do contrato prevista no art.º 437º do C.C..
3º - Direitos potestativos extintivos – este direito é aquele que pelo seu
exercício faz cessar ou extinguir uma relação jurídica pré-existente,
como é o caso do direito ao divórcio litigioso3, por violação dos
deveres conjugais4. Outro exemplo é o que está previsto no art.º 437º
do C.C. – direito à resolução do contrato por alteração superveniente
das circunstâncias.
2
Pesquisar a base legal no Código da Família angolano
3
Idem
4
Idem.
23
A vontade humana é o factos propulsor do Direito subjectivo e este encontra
naquela a razão da sua existência.
CRÍTICA – Não defendemos esta teoria por 6 razões:
– as pessoas juridicamente incapazes do exercício de Direitos (ex:
menores e interditos por anomalia psíquica) são pessoas que a lei
rotulou de incapazes com o objectivo de os proteger. A incapacidade
não é uma sanção, é sim um mecanismo de protecção. Nesses casos, o
legislador entende que a vontade dessas pessoas, juridicamente, não é
relevante e apesar disso não deixa de lhes reconhecer a titularidade de
Direitos subjectivos.
– As pessoas colectivas, também designadas pessoas FALTA UMA
PALAVRA, são pessoas jurídicas construídas pelo Direito para
responder a determinadas necessidades das populações. É inegável que
as pessoas colectivas têm Direitos subjectivos, mas, apesar disso, é
muito discutível que tenham vontade autónoma, porque há quem
defenda uma teoria orgânica da vontade, segundo a qual, a vontade das
sociedades corresponde às vontades das pessoas que integram os
órgãos sociais dessas pessoas colectivas.
– Direitos acéfalos – existem situações de Direitos subjectivos que ficam
latentes, a pairar (ex: é o caso da herança jacente e os nascituros), ou
seja não existe pessoa titular desses Direitos e, assim não existe a
vontade.
– Existem direitos cuja titularidade e exercício é irrenunciável, são os
chamados Direitos imprescindíveis, porque a pessoa não pode abdicar
ou ceder a outrem esse Direito (ex: Direito à vida; Direito ao salário,
férias, etc.).
– Existem direitos que o seu titular ignora, não sabe da sua existência,
muito menos pode ter vontade no seu exercício (ex: se perder uma
caneta durante muito tempo, continua-se e ter o direito de propriedade
(direito subjectivo), mas não se sabe da sua existência).
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– Nos Direitos renunciáveis é perfeitamente possível que a pessoa titular
desse Direito não exija do sujeito passivo o seu respeito (ex: António
comprou um automóvel a Bento. António tem o Direito de exigir de
Bento que este lhe entregue o automóvel, mas este Direito existe
sempre quer o António exija ou não a Bento).
25
- Se, como afirma a teoria do interesse, este seria essencial ao Direito,
não seria pensável que o Direito subjectivo pudesse existir sem
interesse, o que acontece, porque são inúmeras as situações em que as
pessoas são titulares de Direitos e não têm interesse.
- Também pode acontecer a situação inversa à referida no caso anterior,
porque também são inúmeras as situações em que as pessoas têm
interesses dignos de protecção jurídica e que o Direito protege, mas
sem atribuir o correspondente Direito subjectivo.
- Existem ainda situações em que a ordem jurídica pretende proteger
interesses, mas em vez de atribuir Direitos, em vez de proteger os
titulares desses interesses, impõe deveres, obrigações (ex: é proibido
matar o pombo bravo).
- Existem também situações em que a ordem jurídica atribui o Direito
subjectivo a uma pessoa quando o interesse é de outra, é o que
acontece nos chamados contratos a favor de terceiros, muito típicos no
domínio dos seguros.
26
estabelece o dever ser, aquilo que todos e cada um de nós devemos fazer, e o que
Ihering chama Direito subjectivo não é mais do que uma simples consequência
ou um reflexo deste mesmo dever.
Analisada a teoria de Kelsen, podemos concluir que a tutela que o Direito
confere às pessoas e que nós chamamos Direito subjectivo, tem o seu
fundamento na própria norma jurídica no Direito subjectivo.
CRÍTICA – esta teoria não é aceite por 2 razões:
- Kelsen ao não admitir a dualidade, Direito objectivo Direito
subjectivo, implicitamente, não admite a existência do Direito
subjectivo, mas sem razão, porque os Direitos subjectivos existem e,
logo, a diferença entre Direito subjectivo e Direito objectivo é também
ela uma realidade.
- Nem sempre as normas protegem as posições jurídicas dos
destinatários. Ao contrário do que afirma Kelsen, existem posições
jurídicas que não se sustentam em normas jurídicas porque encontram
fundamento em regras sobre as quais nenhuma lei foi elaborada, como
é o exemplo dos costumes e dos princípios gerais do Direito. Por outro
lado, também não são raras as situações em que, embora a norma
jurídica pretenda proteger a posição jurídica do cidadão, não o faz
através da atribuição de direitos subjectivos, mas através da protecção
de interesses, da concepção de faculdades ou da imposição de deveres.
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Assim, o autor afirma, ao contrário de Kelsen, que existe uma dualidade porque
existe direito subjectivo e direito objectivo, apesar de ambos não passarem de
duas faces da mesma moeda, de dois momentos da mesma realidade. Um é
imprescindível ao outro e, por isso, o direito subjectivo o direito subjectivo tem
fundamento no direito objectivo e essa é a sua natureza jurídica.
Contudo, Castanheira Neves, apesar de ter aperfeiçoado a teoria normativista de
Kelsen e de ter eliminado a 1ª das críticas apontadas, não consegue diluir a 2ª
crítica afirmada, que se mantém e, por isso, também não aceitamos a teoria
normativo-integrante de Castanheira Neves.
3 – TEORIA ACTUAL (Orlando Carvalho) – Segundo Orlando Carvalho o
direito subjectivo é um importante instrumento de tutela do poder de
autodeterminação. O direito subjectivo reconhece a todos os cidadãos o poder de
autodeterminação, o qual consiste no poder que cada um de nós tem para, de
acordo com a sua vontade, delinear a sua actuação, definir o seu modelo de vida,
e o direito subjectivo desempenha um papel imprescindível na protecção deste
poder de autodeterminação.
É com base na experiência, com base nas situações de prevalência nas
composições de interesses, é com base nas auscultação da realidade vivida que o
direito objectivo elabora as suas normas e, por isso, o direito tem que proteger
umas posições em detrimento de outras. Afirma, por isso, o autor que o direito
subjectivo é um de entre vários instrumentos utilizados pelo direito objectivo e
por ele tutelado ou protegido, através do qual se procede à concreta delimitação
da posição jurídica de cada pessoa titular do respectivo poder, poder de interferir
na esfera jurídica de outrem, através do exercício do direito subjectivo, cuja
existência o direito objectivo reconhece (É A TEORIA DEFENDIDA).
28
nascimento da própria pessoa, nascimento que se produz nos termos
do art.º 66º do C.C., ou seja, nascimento completo e com vida, como é
o exemplo à personalidade jurídica.
Os direitos não inatos são todos os outros, aqueles que nem todas as
pessoas têm. Os direitos de personalidade (art.ºs 70º e ss. do C.C.) são
em regra inatos, contudo existem 2 não inatos: o direito ao nome,
porque só se adquire com o registo na Conservatória do registo civil;
os direitos de autor, porque só se adquire em função de uma
actividade de criação;
2ª - Direitos essenciais e direitos não essenciais – são essenciais
aqueles direitos que inelutavelmente estão associados à pessoa
humana, esta não subsiste sem a sua titularidade, como é o caso dos
direitos de personalidade.
São não essenciais aqueles direitos que se podem conceber sem a
pessoa, que se podem desligar da pessoa, que a pessoa pode existir e
subsistir sem ser titular deles, como é o caso do direito de
propriedade;
3ª - Direitos patrimoniais e direitos não patrimoniais ou pessoais – são
patrimoniais os direitos que pelas suas características sejam
susceptíveis de avaliação pecuniária, ou seja, o direito pode ser
traduzido numa determinada quantia em dinheiro (ex: direito de
propriedade).
Os não patrimoniais ou pessoais são aqueles que não são traduzíveis
em dinheiro, como é o exemplo dos direitos de personalidade ( o art.º
496º do C.C. prevê a necessidade de compensar e não avaliar os
direitos patrimoniais);
4ª - Direitos absoluto e direitos relativos – são aqueles que conferem
ao seu titular um poder directo e imediato sobre uma coisa. São
direitos de exclusão porque produzem efeitos erga omnes, ou seja,
sobre todas as outras pessoas que não sejam titulares daquele direito,
29
que se encontrem, por isso, na chamada obrigação passiva universal
(ex: direito de propriedade).
Direitos relativos não incidem sobre coisas mas sobre condutas ou
prestações, são direitos de colaboração porque estão circunscritos às
pessoas que o lado passivo da relação jurídica e, por isso, produzem
efeitos inter partes (ex: direito de crédito).
5ª - Direitos disponíveis e direitos indisponíveis – são disponíveis os
direitos que a pessoa pode prescindir, renunciar ou abdicar, por
exemplo o direitos de propriedade.
São indisponíveis os direitos que não se podem desligar do seu titular,
aqueles que a pessoa não pode abdicar (ex: direito ao salário, às férias,
à greve, etc.).
6ª - Direitos simples e direitos complexos – são direitos simples
aqueles que consistem numa pretensão específica, está correctamente
determinado o que o meu direito impõe, é o caso do direito de crédito.
Há outros direitos que são complexos, aqueles que consistem num
feixe ou conjunto de possibilidades os faculdades de actuação (ex:
direito de propriedade – art.º 1305º do C.C.).
V – PODERES FUNCIONAIS
V – I – PODERES / DEVERES OU DIREITOS DE DIRECÇÃO
30
exercício de uma função (por exemplo a de pai, porque estes embora
defendam interesses que não são seus, mas dos filhos, fazem-no como
se fossem titulares desses interesses. A ordem jurídica entrega aos pais
os interesses dos filhos, mas ao mesmo tempo obriga os pais quanto ao
modo de gestão desses interesses.
- Contrariamente a esta posição, Miguel Reale, partindo de que existe o
entendimento que o direito subjectivo permite sempre ao seu titular o
poder de o usar ou não. Partindo do pressuposto de que a uma
pretensão corresponde sempre uma protecção não considera os
poderes/deveres como direitos subjectivos.
Em conclusão, defendemos que os poderes/deveres são verdadeiros direitos
subjectivos e o facto apontado por Miguel Reale não procede porque o interesse
nem sempre está associado aos direitos subjectivos, como já vimos nas críticas
apontadas à teoria do interesse.
31
27/03/2020
32
1ª - Defendida por Jonh Lock - segundo o qual no estado natural o homem tem
direitos naturais, como por exemplo o direito à vida, mas falta-lhe a organização,
falta ordem que discipline os conflitos que surgem entre os direitos adquiridos
nesse estado de natureza. Ora, foi essa necessidade que justificou a celebração do
contrato social. O contrato social consiste num pacto, através do qual surgiu a
figura do Estado e, consequentemente, o estado civilizacional que se contrapõe
ao estado natural que prevalecia no momento anterior à criação do Estado. Ora, o
Estado, porque foi criado pelos cidadãos, é fruto da vontade destes, tem que
respeitar as posições jurídicas que os mesmos cidadãos detinham antes de surgir
o Estado.
2ª - Jean Jacques rousseau - defende que no estado natural, antes do
aparecimento do Estado, existia uma harmonia nas relações sociais, havia
igualdade entre as pessoas e, por isso, tudo era perfeito.
Contudo, diz o autor que alguém, de forma pouco sensata, teve a ideia de
sobrevalorizar o egoísmo e o individualismo porque vedou a propriedade e disse:
“isto é meu”. Ora, isso, simbolicamente, representa o surgimento dos direitos de
exclusão. A propriedade foi desde logo um foco de instabilidade porque é um
factor de desigualdade entre os homens. E foi com o objectivo de remediar este
desequilíbrio que apareceu o Estado e, através do contrato social, passou-se de
um estado natural para um estado civilizacional.
Com este contrato social, diz o autor, o homem cede direitos ao Estado, mas em
contrapartida o Estado devolve-lhe os direitos naturais recebidos, convertidos em
direitos civis num estado civilizacional, direitos que por isso são garantidos e
protegidos pelo próprio Estado.
Critica – Nós não concordamos com a doutrina contratualista, qualquer que seja
a sua versão, porque esta assenta numa ficção. O estado natural nunca existiu
porque o homem sempre teve natureza social, sempre vivemos em sociedade.
Ora, nessa medida, não é possível conceber-se a hipótese de o homem em algum
momento ter vivido sem uma ordem que o disciplinasse. Até podia não ser
Estado, mas que sempre houve uma ordem isso é inegável, logo, estado natural
nunca existiu.
33
- Teoria da auto-limitação – teoria defendida por yering. Segundo este
autor compete ao estado delimitar o que pertence ao indivíduo. Quando
o cidadão tomou a iniciativa de conceber a figura do Estado, foi
também por sua iniciativa que esse mesmo cidadão circunscreveu a sua
acção. O Estado no exercício soberano de poder e pela sua iniciativa
delimita o âmbito da sua acção. Quando o Estado executa essa
actividade ele está a criar direitos subjectivos públicos.
34
1/04/2020
Aula n.º 16 e 17
Sumário:
35
- Direitos reflexos – são posições jurídicas protegidas na exacta medida
em que a ordem jurídica impõe deveres a outrem para proteger uma
pessoa. O Direito não lhe concede direitos subjectivos, mas impõe
deveres jurídicos a outrem, é o caso dos filhos em relação aos pais, os
filhos têm direitos reflexos porque a sua posição está protegida na
medida em que a ordem jurídica impõe obrigações a outrem (os pais);
- Expectativas jurídicas – tem uma expectativa jurídica a pessoa que
ainda não é titular de um direito subjectivo, mas que com grande
probabilidade conta vir a tê-lo. Trata-se por isso de uma esperança que
o Direito julga legítima e que, por isso, a protege. É o caso típico do
art.º 877º do C.C., segundo o qual a validade da venda de pais ou avós
para filhos ou netos de um bem imóvel exige o consentimentos dos
outros filhos ou netos.
36
3/04/2020
1. Fins do Direito
1.1. A Justiça
1.1.1. Considerações Gerais
1.1.2. Elementos Lógicos
1.1.3. Modalidades
1.1.4. Equidade
1.2. Segurança Jurídica
1.3. Relação entre a Justiça e a Segurança Jurídica
VI – FINS DO DIREITO
VI – I ANÁLISE DE JUSTIÇA
37
contínua, realizar a justiça. esta justiça, assim entendida, deve distinguir-se de
outras acepções que o mesmo termo contempla, como é o caso da Moral e da
Religião, ordens que dão ao conceito de justiça conteúdos diversos dos que ela
encerra no campo jurídico.
Para o Direito a justiça tem 3 características:
- Impessoalidade – a justiça é impessoal, não contempla subjectivismos,
estabelece um limite e uma medida daquilo que o Homem pode ou
deve fazer no campo jurídico;
- Dinamismo – a justiça não é finita, está em constante evolução. Aquilo
que hoje é justo pode amanhã ser injusto e, por isso, nós dizemos que o
Direito que temos é permanentemente injusto. Compete ao Direito
evoluir, mudar as suas regras, para ser cada vez mais justo, razão pela
qual, nunca de uma forma plena a justiça se realiza no Direito. A
justiça não é algo que o Direito atinja, mas aquilo para onde ele
caminha;
- Alteridade – a justiça coloca-se entre a vida pessoas e a vida social. Ela
procura estabelecer equilíbrios entre os Homens que vivem em
sociedade, ela não se preocupa com o ser individualmente considerado,
mas com o relacionamento interpessoal e, por isso, nós não falámos na
justiça das pessoas, mas na justiça das relações, na justiça dos
comportamentos.
A justiça contempla, além das referidas características, 3 elementos lógicos,
elementos esses que “não” fazem parte integrante do conteúdo de justiça, mas
que servem como referências para a determinação do comportamento que deve
ser considerado justo:
- Proporcionalidade – a ideia de proporção é um aspecto essencial de
justiça. as normas jurídicas para que sejam justas é necessário que
sejam proporcionais, aos factos praticados exige-se uma
proporcionalidade directa entre o facto verificado e a consequência que
o Direito para ele preconiza;
38
- Igualdade – segundo este princípio, as situações iguais merecem igual
tratamento pelo Direito e as diversas exigem tratamento diferente. Se
duas situações iguais merecessem, pelo Direito, tratamento diverso, aí
não haveria justiça. se duas situações diferentes merecessem o mesmo
tratamento pelo Direito, aí também não haveria justiça. É por causa
deste princípio de igualdade, é para, cumprindo-o, se realizar justiça
que as normas jurídicas são gerais e abstractas, ou seja, elas aplicam-se
a um conjunto indeterminado de pessoas ou a um conjunto
indeterminado de situações. A igualdade exige que a arbitrariedade
seja afastada do Direito;
- Alteridade – a alteridade, que como vimos, é característica da justiça é
também seu elemento lógico. O Direito não pode formular juízos sobre
as pessoas. O Direito só pode formular juízos sobre os
comportamentos ou as condutas. A justiça exige que o âmbito de
regulamentação do Direito não interfira na esfera pessoal de casa
pessoa. A justiça exige que o Direito só se preocupe com as acções, os
comportamentos a as atitudes que o Homem mantém com os outros.
39
Só olhando para a sociedade pode o Direito realizar justiça, porque ao
resolver os conflitos sociais está a fazer opções;
- Pressuposto da participação pessoal – através da justiça o Direito
procura atingir a realização de cada Homem na sociedade, razão, pela
qual, é necessário que o Direito reconheça que cada Homem deve ter
um espaço de autonomia, de liberdade de decisão;
- A justiça material exige integração comunitária – para que cada
Homem sobreviva e se realize é necessário que haja
complementaridade, colaboração entre todos, razão, pela qual, a justiça
também exige co-responsabilidade e solidariedade.
Por tudo isso, podemos afirmar que embora no campo formal a justiça se realize,
desde que respeite os princípios da proporcionalidade, igualdade e alteridade, no
domínio material a realização da justiça exige a intersecção entre a pessoa, a sua
autoridade e a própria comunidade.
É da dialéctica, ou do permanente relacionamento entre estes 3 factores que se
consegue a justiça material e, por isso, quando o Direito procura realizar a justiça
ele deve procurar encontrar o ponto óptimo entre estes 3 factores.
VI – II – MODALIDADES DE JUSTIÇA
40
A justiça comutativa é uma modalidade de justiça, essencialmente, aplicável nas
relações de coordenação, pelo que, o seu campo de aplicação por excelência é o
direito privado. Nesse domínio, atingir a justiça implica conceber normas
jurídicas com as quais se consiga evitar desequilíbrios negociais, impondo a cada
um a obrigação de cumprir o que assumiu.
2ª - Justiça distributiva – a justiça distributiva procura regular a repartição
de bens comuns pelos membros de uma sociedade, aplicando um critério de
igualdade proporcional, cujo objectivo é o de ter em conta o fim da distribuição e
a situação, os méritos e as necessidades dos sujeitos. Ela não assenta numa ideia
de reciprocidade, mas, essencialmente, numa ideia de adequação, o que está em
causa não é fazer um juízo de mérito sobre a actuação de uma pessoa, mas
formular normas jurídicas através das quais possamos utilizar os bens comuns de
acordo com as necessidades de cada um e não com o respectivo merecimento.
Esta modalidade de justiça tem, essencialmente, por aplicação o domínio do
direito público no âmbito das relações de subordinação.
3ª - Justiça legal ou geral – este conceito de justiça procura regular a
participação dos indivíduos na sociedade e procura aferir ou determinar qual
deve ser a quota parte com que cada um deve participar para a preservação do
conjunto. O que está em causa é determinar se a participação de cada pessoa para
se obterem as receitas necessárias à efectuação da despesa com a sociedade deve
ser feita na base da igualdade ou na base da proporcionalidade. Aqui, o legislador
optou por um critério de proporcionalidade, impondo a uns encargos superiores,
mais gravosos, do que impostos a outros, como é o caso típico do direito fiscal.
VI – III – EQUIDADE
41
Afirmar, no campo teórico, geral e abstracto, que uma norma jurídica é justa não
quer dizer que ela não possa, da mesma forma, ser aplicada a casos diversos e, de
forma diversa, a casos iguais.
A equidade não se preocupa com a formação das normas jurídicas, mas com a
sua aplicação. Nessa medida, e porque ocupam funções distintas, justiça e
equidade são perfeitamente compatíveis no mesmo ordenamento jurídico.
Importa, por isso analisar as funções desempenhadas pela equidade5:
- Função dulcificadora – a equidade consegue humanizar o Direito,
suavizar o vigor que no campo abstracto caracteriza as normas
jurídicas;
- Função decisória – a equidade é um critério de decisão dos casos
concretos e que se substitui à aplicação da lei. Em inúmeras situações o
próprio legislador estabelece que o Tribunal possa aplicar uma lei
segundo juízos de equidade, o que acontece com frequência na fixação
da prestação de alimentos;
- Função integradora – a equidade é uma forma de integrar lacunas no
Direito. Quando exista um espaço vazio que não foi regulado pelo
Direito é possível, através da equidade, encontrar uma solução jurídica
para o caso em apreço.
VI – IV – SEGURANÇA JURÍDICA
5
PESQUISAR AS DEMAIS FUNÇÕES DA EQUIDADE
42
A segurança jurídica pode contudo ser analisada em 4 sentidos ou acepções
diferentes:
1º - Podemos configurar a segurança jurídica enquanto ordem imanente à
própria existência e funcionalidade do Direito - O Direito, na medida em que se
procura a paz e a ordem, previne e reprime as agressões. A forma utilizada para
atingir esses objectivos resulta do conceito de segurança jurídica. Neste sentido, a
segurança jurídica é essencial ao Direito, não como um fim do Direito, mas como
fundamento e a razão de funcionalidade do Direito.
Ora, porque nós damos segurança jurídica esse valor, porque ela não é mais do
que um objectivo para onde o Direito caminha, porque dela não depende a
validade nem a eficácia do Direito, defendemos que esta acepção de segurança
jurídica não procede, a segurança jurídica não é isto que se afirma neste sentido;
2º - Segurança jurídica como certeza do Direito – na medida em que os
cidadãos precisam de, antes de adoptarem um comportamento, conhecer os
efeitos jurídicos a que esse comportamento conduz. O Direito dá-nos segurança
jurídica ao prever, de uma forma geral e abstracta, quais serão as consequências
para os casos em que adoptemos determinado comportamento.
É nisto que consiste a certeza do Direito. O Direito dá-nos certeza porque afasta
indefinições, porque o Direito existe, porque existem regras, nós podemos
planear a nossa vida, as nossas acções em bases firmes e sustentáveis.
Sem segurança jurídica a vida seria uma permanente surpresa, tudo seria precário
e instável.
Ora, esta acepção de segurança jurídica, porque permite estabilidade social,
tranquilidade e assegura o normal desenvolvimento das relações sociais, trata-se
de um verdadeiro sentido ou acepção de segurança jurídica.
3º - Segurança perante o Estado – num estado de direito, o Estado e as
demais pessoas colectivas de direito público devem obediência e respeito ao
Direito, por isso, é obrigação do Estado respeitar a autonomia individual, os
direitos subjectivos e os interesses legítimos de cada um, na exacta medida em
que o Estado está vinculado ao Direito os cidadão estão por inerência protegidos.
Esta protecção é, ela própria, manifestação de segurança e quem nos dá essa
43
segurança é o Direito. Por isso, também aqui, é legítimo e pertinente afirmar-mos
a existência de um verdadeiro sentido ou acepção de segurança jurídica.
4º - Segurança jurídica como sinónimo de segurança social – aqui a
segurança jurídica é entendida em termos sociais. Segurança jurídica que procura
assegurar que cada um consiga bens materiais suficientes para a sua própria
subsistência. É, por isso, um sentido de segurança jurídica que está intimamente
relacionado com o direito do trabalho, nomeadamente com as prerrogativas que
se pretendem atribuir aos trabalhadores ( ex: salário mínimo; férias; idade
mínima; horário máximo; justa causa para despedimento). Analisadas estas
características, de entre outras que o direito do trabalho contempla, com o
objectivo manifesto de proteger o trabalhador, enquanto parte mais débil da
relação laboral, defende-se que isso é segurança jurídica, com o que também não
podemos concordar, porque o objectivo do legislador ao proteger o trabalhador,
estabelecendo normas como as já referidas, criando um mecanismo de subsídio
de desemprego, de segurança social e de protecção de rendimentos mínimos,
limita-se a debelar um problema social. Não são, por isso, preocupações jurídicas
que estão subjacentes a essas normas, são preocupações meramente sociais e,
quando muito, podemos aqui falar em segurança ou estabilidade social, mas
nunca em segurança jurídica.
44
Nem sempre um direito pode em simultâneo e em igual grau realizar os seus fins,
isto, não porque a justiça e segurança jurídica sejam 2 valores antagónicos, mas
porque na solução a encontrar para os casos concretos às vezes é necessário que
se façam opções. Estas opções, são sempre fruto de uma ponderação entre os 2
valores e, apesar das disfuncionalidades constatadas nos diversos exemplos,
nunca a opção por um dos fins é radical, porque nunca será possível realizar de
forma plena um dos fins do Direito sem que o outro tenha uma realização
mínima.
A justiça sem segurança seria injusta e a segurança sem justiça seria insegura.
Logo, toda a norma jurídica pretende atingir estes fins. O que pode acontecer é
que, às vezes, a vocação normativa para a justiça se superiorize à vocação para a
segurança e vice-versa, mas este resultado só pode existir quando,
simultaneamente e em igual grau, o legislador não consiga realizar a justiça e a
segurança jurídica.
45
8/04/2020
Aula n.º 21 e 22
Sumário:
VII – I – NAÇÃO
6
O estudo da Nação e do Estado é aprofundado e densificado por excelência em sede da Disciplina de
Ciência Política e Direito Constitucional.
46
Segundo o autor Santos Justo, nação “é uma comunidade (que) assenta numa
convivência mais ou menos longa de homens ligados pela mesma etnia, pela
mesma língua e pelas mesmas tradições sedimentadas naquela convivência”7.
Pelas considerações supra, fácil se torna perceber que a nação caracteriza-se pela
existência de um pontos convergentes, pontos comuns a um conjunto de homens.
A nação fornece valores aos homens, valores que estes se encarregam de
transmitir de geração em geração, valores que servem de factor de agregação nos
quais convergem os membros dessa comunidade, que se entre ajudam
mutuamente ao longo do tempo. É neste sentido que o autor que seguimos
considera algumas notas que a permitem caracterizar8.
Ou seja;
4 são os aspectos que permitem caracterizar uma nação:
7
A. Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, 4ª Edição, Coimbra Editora, Outubro, 2009, pág. 83.
8
Idem, pág. 84.
47
de destino, por essa razão, não existe necessariamente qualquer relação
com o Estado, são realidades distintas que podem coexistir.
VII – II – ESTADO
1. NOÇÃO
9
Cf. Benvindo Luciano, Descentralização e Desconcentração Administrativa em Angola, Escolar Editora,
Lobito, 2012.
10
Cf. Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição,5ª Edição., Almedina
Coimbra, 1997.
48
Jorge Gouveia, considera o Estado como “a estrutura juridicamente
personalizada, que num dado território exerce um Poder Político soberano, em
nome de uma comunidade de cidadãos que ao mesmo se vincula.”11
Para o autor que seguimos, Santos Justo, o vocábulo Estado tem-se usado
estritamente para referir quer uma comunidade territorial politicamente
independente integrada por governantes e governados (Estado - comunidade ou
Estado - sociedade) quer o poder do governo dessa comunidade (Estado-poder ou
Estado-governo). “O Estado é sociedade que se fixou num determinado território
e se organizou politicamente em termos autónomos e soberano.”12
Uma nota a não perder de vista é de que, o aspecto essencial do Estado que o
distingue da Nação é a organização.
A Nação é caracteristicamente desregulada ou desorganizada, o Estado acentua a
necessidade de um regime, de uma ordem e de uma disciplina e, por isso, ao
passo que a Nação se delimita ou se baliza tendo em conta aspectos íntimos,
valores que as pessoas comungam, a delimitação de Estado assenta em aspectos
objectivos e razões formais.
11
Cf. Jorge Barcelar Gouveia, Manual de Direito Constitucional, Vol. I, 2ª Edição., Coimbra, Almedina,
página 109 e seguintes, 2007.
12
Cf. António Santos Justo, Introdução ao Estudo do Direito, 8ª Edição., Coimbra Editora, 20017,
página. 84 e 85.
49
o factor determinante duma raça não é jurídico nem demográfico, mas
cultural, religioso ou linguístico.
- O Território – Que corresponde ao espaço que integra o solo, o
subsolo, o espaço aéreo e a zona marítima. O território corresponde,
por isso, à área onde o Estado exerce a sua competência. O território é,
por isso, delimitado por fronteiras físicas ou artificiais.
- O Poder Político – Consiste na faculdade que o Povo tem, por
autoridade própria, de instalar órgãos que vão exercer o domínio ao
nível legislativo, administrativo e judicial. O poder político é do Povo,
o qual nomeia representantes cuja competência é exercer esse poder
político em nome, em representação do Povo.
3. ORIGEM DO ESTADO13
13
Ler atentamente a doutrina do autor Santos Justo que seguimos, sobre esta temática, contida na página
85 e seguintes.
50
os condicionalismos a que se encontra sujeito. Pode emergir em qualquer época,
lugar ou civilização, mas as suas características essenciais estão ligadas, para o
que aqui importa, á instituição estadual de matriz europeia.
A expressão Estado provem do latim status, que traduz o modo de estar, situação,
condição, etc. Segundo o dicionário enciclopédico, o Estado designa “nação
politicamente organiza, divisão territorial de certos países, organismo político-
administrativo que, como nação soberana ou divisão territorial, ocupa um
território determinado, é dirigido por governo próprio e se constitui pessoa
jurídica de direito Público, internacionalmente reconhecida”14. Sua formação e
generalização são fruto duma longa evolução que começou no século XVI e só
ficou concluída no século XVIII com o Renascimento. A partir do renascimento
os tempos modernos iriam paulatinamente aperfeiçoar até se considerar
definitivamente consolidada no racionalismo triunfante do século XVIII.
A partir do século XVIII verifica-se a substituição Estado moderno-da
legitimidade divina por uma legitimidade humana, social ou mesmo popular. O
conceito parece ter origem nas antigas cidades-estado que se desenvolveram
na antiguidade, em várias regiões do mundo, como a Suméria, a América
Central e no Oriente. Os agrupamentos sucessivos e cada vez maiores de seres
humanos procedem de tal forma a chegarem à ideia de Estado, cujas bases foram
determinadas na história mundial com a Ordem de Wetsfalia (Paz de Vestfália)15.
A instituição Estatal, que possui uma base de prescrições jurídicas e sociais a
serem seguidas, evidencia-se como "casa forte" das leis que devem regimentar e
regulamentar a vida em sociedade. Desse modo, o Estado representa a forma
máxima de organização humana, somente transcendendo a ele a concepção
de Comunidade Internacional.
Ainda na senda da mesma análise, importa salientar que, a expressão Estado
numa perspectiva terminológica, nem sempre foi o vocábulo designado para o
denominar, sendo um atributo de recente conquista. Nisso foi decisiva a obra de
14
. Voz: “Ambiente”, in: DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, Alfa, 1992.
15
Cf. Carlos Bianco de Morais, pág. 22.
51
Nicolau Maquiavel.16 A partir da qual, essa nomenclatura definitivamente se
instala na doutrina político-constitucional.
Apesar de existirem inúmeras teorias explicativas com fundamentos antagónicos
quer do ponto de vista das premissas como do ponto de vista das conclusões
relativamente a origem do Estado, ainda assim, autores como John Locke,
Thomas Hobbes, Jean Jack Rousseau concorrem de forma notória para
abordagem do seu fundamento.
Neste sentido, concorrem em seu torno as teorias da origem familiar -
considerada bastante arcaica e apoia-se na derivação da humanidade de um casal
originário, considerado como de fundo religioso; teoria patrimonial - que
afirmava que a posse da terra gerou o poder público e deu origem à organização
estatal e a teoria da força também chamada da origem violenta do Estado - que
sustenta que a organização política resultou do poder de dominação dos mais
fortes sobre os mais fracos. Dizia Bodin que, “o que dá origem ao Estado é a
violência dos mais fortes.
4. FUNÇÕES DO ESTADO
16
Cf. Nicolau Maquiavel, O príncipe, Lisboa, 1990, páginas 8 e seguintes, e Discourses on Livy, Chicago
/ London, 1996, páginas 20 e seguintes.
17
Carlos Bianco de Morais, pág. 24.
52
ao exercício de actividades de política externa); e a actividade de “prerrogativa”
(aprovação dos actos de guerra, exceção, e necessidade)18.
Montesquieu, inspirado no sistema britanico no seio de uma visão subjectiva e
não incontroversa, precedeu a uma definição tripartida dos poderes do Estado;
função legislativa ( a qual reconheceu o primado); função executivia
(condensaria os poderes de segurança interna , guerra e política externa, com
observância ao direito das gentes) ; jurisdicional ( traduzida na faculdade de
punir crimes e resolver litígios)19.
Constant sustentou uma divisão quadritómica dos poderes, colocando o poder
“moderador”, do Rei, acima dos poderes legislativos, executivo e judicial20.
León Duguit, referência do objectivismo Francês do virar século, ordenou as
funções do Estado segundo a tripartição clássica enformada pelo poder
legislativo, executivo e judicial21. A seu propósito considerou que: o poder
legislativo suporia a emissão de actos regra; o poder executivo a edição de actos
condição e de actos subjectivos e o judicial, actos vocacionados a resolução de
questões de direito22.
Kelsen considerou que no plano jurídico as funções do Estado seriam duas,
nomeadamente a legislativa (criação de direito) e a executiva (aplicação do
direito)23. Kelsen, contudo, posteriormente reconheceu que nas constituições
modernas a actividade de execução das leis se decomporia na actividade
administratva e no poder juricial.
De acordo a formulação do Professor Doutor Marcello Caetano citado por
Machete (1991), as funções do Estado dividem-se assim em: funções jurídicas e
não jurídicas.24 Na mesma senda sublinha o supracitado Professor que, as
funções jurídicas são: a legislativa e a executiva. A função legislativa é definida
como «a actividade dos órgãos do Estado que tem por objecto directo e imediato
18
Carlos Bianco de Morais, pág. 26.
19
Carlos Bianco de Morais, pág. 26.
20
Carlos Bianco de Morais, pág. 26.
21
Carlos Bianco de Morais, pág. 27.
22
Carlos Bianco de Morais, pág. 28.
23
Carlos Bianco de Morais, pág. 28.
24
Cf. Rui Chancerelle Machete, Estudos de Direito Público e Ciência Política, Fundação Oliveira
Martins, Centro de Estudos Administrativos, Portugal, 1991, página 22. Ver também Carlos Bianco de
Morais, pág. 29.
53
estatuir normas jurídicas de carácter geral e impessoal cujos preceitos não
correspondem a mera disciplina da execução de outras normas anteriores. A
função legislativa, ao contrário do poder legislativo, diz respeito unicamente à lei
em sentido material, caracterizada pela sua generalizada e novidade, e não à lei
em sentido formal. O Estado não pode, porém limitar-se a elaborar leis,
desinteressando-se depois da sua aplicação; resultaria daí um direito ineficaz.
À actividade dos órgãos do Estado que tem por objecto directo e imediato
promover e assegurar o cumprimento das leis e aplicar sanções aos infractores,
chama-se função executiva.
A função executiva ainda reveste-se de dois processos de exercícios. Umas
vezes, a lei é aplicada por um órgão do Estado imparcial e passivo que, na
aplicação do direito, procede, sobretudo mediante operações intelectuais - é o
processo jurisdicional da execução de leis;
Outras vezes, os órgãos do Estado procedem como se fossem eles próprios os
titulares dos interesses que a lei quer ver defendidos, agindo como verdadeiras
partes, e temos o processo administrativo de execução das eleições caracterizado
pela parcialidade e pela iniciativa.25
Ao lado das funções jurídicas, temos, porém, como vimos às funções não
jurídicas que se subdividem ainda em: função política e função técnica. Num
Estado praticam-se actos que são anteriores à existência de normas jurídicas ou
independentes delas. Quando, por exemplo, um povo proclama a sua
independência e organiza um poder político supremo e independente (soberana)
«cria a própria fonte do Direito positivo por meio de actos que para buscarem
algum fundamento jurídico só no Direito natural poderia alicerçar-se». Pertence
igualmente à função política a fixação pelos governos ou parlamentos dos
programas de acção e dos objectivos a serem posteriormente prosseguidos pelas
leis. Esta função, que corresponde ao que a maioria dos autores designa com a
equívoca expressão de «função governamental», pode definir-se como «a
actividade dos órgãos do Estado cujo objecto directo e imediato é a conservação
25
Cf. Rui Chancerelle Machete, Estudos de Direito…, página 22.
54
da sociedade política e a definição e prossecução doo interesse geral mediante a
livre escolha dos rumos ou das soluções consideradas preferíveis» .26
Quanto às funções técnicas segundo Duguit, Kelsen citado Machete (1991) «a
execução material» da lei, entrevieram certas actividades dos agentes estaduais
que não podem rigorosamente classificar-se como jurídicas. Trata-se de campos
em que predomina a eficiência de acordo com as normas de certa Ciência ou
Arte. Quanto o Estado ensina, educa, assiste ou cura, há, ao lado de uma
actividade que é jurídica, exercida pelos agentes que regem administrativamente
as escolas, os asilos e os hospitais, uma actividade meramente técnica: a dos
professores e médicos, etc., cujos actos profissionais escapam, na sua matéria ou
no seu conteúdo, à disciplina do direito.
Estas actividades dos órgãos do Estado, «cujo o objecto directo e imediato é a
produção de bens ou a produção de serviços destinados à satisfação de
necessidades colectividades de carácter material ou cultural», são as funções
técnicas27.
Finalmente, se por um lado o Professor Jorge Miranda considera como sendo as
funções do Estado a função política (legislativa e política); a função
administrativa e a função jurisdicional, por outro lado, o Professor Gomes
Canotilho e o Professor Marcelo Ribelo de Sousa consideram as funções do
Estado como sendo a função política; a função legislativa e a função judicial28.
Em síntese entendemos que o Estado desempenha 2 tipos de funções:
- Funções Primárias – Tratam-se das funções principais dentro das
funções desempenhadas pelo Estado e dentro das funções primárias
temos 2 tipos de função:
a) – Função Política – que consiste na definição e execução dos interesses
essenciais da comunidade (ex: elaboração de uma constituição);
b) – Função Legislativa – que consiste na criação de regras e normas
jurídicas.
26
Ibidem.
27
Ibidem.
28
Carlos Bianco de Morais, pág. 28.
55
- Funções secundárias - são funções subordinadas, dependentes e que
consistem na execução das funções primárias. O Estado desempenha 2
tipos de funções secundárias:
a) – Função Judicial – que consiste na aplicação da lei aos casos
concretos, solucionando os litígios sociais com relevância jurídica;
b) - Função Administrativa – que consiste na realização do interesse
público, na satisfação de necessidades sentidas pela comunidade.
5. FINS DO ESTADO
29
Carlos Bianco de Morais, pág. 28.
56
fronteiras e a manutenção da integridade territorial, perante as ameaças vindas do
exterior. A comunidade humana ao organizar-se em Estado, tem por objectivo
substituir o arbítrio da justiça pelas próprias mãos, próprio das sociedades
primitivas, por um sistema de regras que evite a injustiça entre os cidadãos e
entre estes e a colectividade. Os homens, individualmente, são incapazes de
satisfazerem todas as suas necessidades materiais e espirituais, pelo que, o
Estado, através do poder político que exerce, se justifica também e hoje ainda
mais, para suprir as necessidades cada vez mais alargadas de um cada vez maior
número de cidadãos, o que leva o poder político do Estado a cumprir a finalidade
do bem-estar económico e social.
É neste sentido que o formula o Professor Marcelo Caetano que,
tradicionalmente, os fins principais ou existenciais do Estado constituem na
segurença, justiça e o bem estar30.
A segurança - a justiça, nas suas vertentes comutativa e distributiva e o bem-
estar social e económico, constituem assim, abstractamente os fins clássicos do
Estado.31.
A segurança, como fim abstracto do Estado, traduz-se na garantia da integridade
do território e na protecção da liberdade das pessoas e dos seus bens, o que
significa a organização jurídica do poder, de acordo com normas jurídicas
estáveis que traduzam uma concepção do bem comum legitimada por aquilo que
a comunidade pensa sobre esse bem comum.
A justiça, pressupõe a existência de regras ou normas inspiradas por princípios
de justiças, para que nas relações entre os membros da comunidade não exista
desproporção entre os valores comutados – justiça comutativa e, bem assim, uma
remuneração adequada à contribuição de cada um para o todo - justiça
distributiva.
30
Marcelo Caetano, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, I, Coimbra, 1995, pág 149.
Apud Carlos Bainco de Morais, pág. 22.
31
Cf. Marcelo Caetano, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Cit. páginas 143 e
seguintes; Marcelo Ribelo de Sousa, Direito Constitucional, Introdução à Teoria da Constituição, Cit.
páginas 229 e seguintes, António José Fernandes, Ciência Politica:Teorias. Métodos e Temáticas.
cit.,pánas130 e seguintes.
57
Afirma o Professor Marcelo Caetano, “na justiça comutativa a regra é a
igualdade das duas partes intervenientes na permuta, ao passo que, na justiça
distributiva a regra é da desigualdade para remunerar cada qual segundo o seu
mérito.32
O bem-estar económico e social, constitui uma razão da existência do próprio
Estado, na justa medida em que aquele promove a afectação de bens económicos,
sociais e culturais em ordem a satisfazer as necessidades colectivas e a melhorar
a qualidade de vida do povo, em níveis cada vez mais amplos.
O poder político do Estado começa por promover o povoamento e cultura das
terras, facilitar o comercio, alargar o culto, passa depois a abrir estradas,
canalizar águas, instituir escolas, construir navios criar albergarias e hospitais e a
medida que as necessidades se multiplicam com a civilização e que vão
aparecendo novos processos técnicos de satisfaze-las cada vez avulta a
importância deste fim do Estado.33
Ora por aqui se vê que os fins do Estado não são imutáveis, no seu entendimento
e relevo, por isso que as finalidades abstractas referidas são diversas em cada
época histórica e de acordo com a conjuntura e mesmo com o tipo de regime
político e económico, acabando por condicionar a realização desses mesmos fins.
É que os fins do Estado, abstractamente considerados, podem reconduzir-se a
ideia de bem comum adoptada pelas comunidades, a sua realização concreta, a
sua maior ou menor extensão, a sua importância relativa, variam
substancialmente de acordo com a evolução histórica do Estado, com o tipo de
regime político e mesmo o regime económico.
Essa razão leva a que, em rigor, devamos falar de fins prosseguidos pelo poder
político do Estado, como se antes se alvitrou, de forma a traduzir mais
adequadamente o enlace existente entre as assinaladas finalidades abstractas e a
sua tradução histórica e concreta.
Muitos autores entendem as preocupações finalísticas dos Estado estão
intrinsecamente ligados às relações históricas do Estado com o mercado.34 Assim,
32
Cf. Marcelo Caetano, Manual…, página 147.
33
Ibidem.
34
Cf. Franklim Dehousse, Introduction au Droit Public, Liége, págnas 331 e seguintes.
58
enquanto as tarefas básicas do Estado, do ponto de vista tradicional, se podiam
reconduzir à segurança, justiça e bem-estar social, as novas finalidades alargar-se
– iam `protecção” contra os excessos do funcionamento do mercado”
designadamente a protecção do ambiente, da natureza e dos recursos vivos.
Em qualquer caso, e importa sublinhar este ponto, os fins do Estado não
representam uma justificação última do poder e das instituições politicas alheios
à pessoa humana, ao povo, à comunidade de gentes, fixadas naquele território. O
Estado, como sociedade política organizada, existe para servir e valorizar a
pessoa humana e não para servir a ele próprio, qual figura monstruosa e
divinizada, alimentada por uma “qualquer razão de Estado” tão bem ilustrada
pelo “Leviatã “ de Hobbes35, que esqueça e espezinhe a pessoa humana. Assim,
os fins do Estado para serem correctamente entendidos têm de ser avaliados à luz
da época histórica considerada, da concreta situação jurídico – constitucional do
regime político e económico existente36.
35
Cf. Reinhold Zipellius, Teoria Geral do Estado, Lisboa, 3ª ed.,1997.págnas161 e seguintes. Ver
detalhamente em Diogo Freitas do Amaral, História do Pensamento Político Ocidental, Almedina,
Coimbra, págna19.
36
O que significa que a discussão acerca dos fins ou tarefas do Estado não é ideologicamente neutra, Cf.
Gomes Canotilho, Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador, Coimbra, 1992, página 167.
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exterminada a classe capitalista termina a luta de classes e o Estado
torna-se uma figura retórica, desnecessário e, por isso, desaparece.
O mesmo acontece ao Direito, porque no mundo da felicidade não
existem conflitos.
Logo, para este autor, não faz sentido falar na limitação do Estado pelo
Direito porque ambos vão desaparecer.
Qualquer uma das perspectivas não espelha a verdade, por um lado, não é
verdade que o Direito se confunda com o Estado, porque ao contrário do que
afirma Kelsen o Direito limita e legitima o Estado, por outro lado, e ao contrário
do que afirma Marx, o Direito nunca poderá ser um instrumento de opressão e
nunca pode tolerar injustiças. Logo, ao contrário do que afirma Marx, não
podemos aceitar que o Direito seja um instrumento ao serviço do Estado.
Por tudo isso, concluímos que o Estado só pode ser um Estado de Direito. É o
Direito quem define e fundamenta as competências do Estado. E na luta que o
Direito, ao longo da história, travou contra a arbitrariedade e pela submissão do
Estado às suas regras, podemos marcar 3 etapas:
- 1ª - nos finais do Século XVIII consistiu na luta contra o arbítrio
judicial. Com a revolução liberal (1789), uma das ideias de força foi a
obrigação de os juizes na apreciação dos litígios obedecerem à lei;
- 2ª - consistiu no controlo constitucional das leis, que emergiu no
Século XX, em que as leis ordinárias deviam e devem respeitar a
constituição;
- 3ª - na década de 80 institui-se um sistema de justiça administrativa,
pelo que, os Tribunais administrativos assumiram a caracterização de
verdadeiros Tribunais, logo, com competência para apreciar as
decisões da administração.
Percorridas estas 3 fases podemos afirmar que temos um Estado de Direito, um
Estado estritamente vinculado e com dever de obediência ao Direito, o que,
desde logo, é visível pelas seguintes razões:
- existe uma hierarquia das normas, em que a lei constitucional se
superioriza a todas as outras;
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- os Direitos fundamentais têm carácter inviolável;
- todas as decisões administrativas podem ser impugnadas;
- a própria actividade legislativa é objecto de controlo da
constitucionalidade, através do exercício da função do Tribunal
Constitucional.
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10/04/2020
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