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A matéria é recorrente neste Regional, o que torna

despicienda maior argumentação.

É importante salientar, inicialmente, que o plus salarial


decorrente de acúmulo de funções resulta de violação contratual por
parte do empregador. Se este contrata um empregado para exercer
determinada função e se compromete a ele pagar salário, contraria o
princípio da comutatividade contratual quando obriga o empregado a
também exercer, cumulativamente, outra função, sem a ele pagar um
complemento salarial.

Assim procedendo o empregador obtém indevida vantagem


em detrimento do empregado, realizando alteração contratual in pejus.

O empregador que não pretende violar o pactuado contrata


outro empregado, deixando de aproveitar o trabalhador com acúmulo de
funções.

A pretensão contida na inicial independe de quadro em


carreira, de norma coletiva ou de indicação de paradigma. Basta a prova
do fato violador do princípio da comutatividade do contrato de trabalho.
Licitude só existe quando as prestações se equivalem. A ilicitude ocorre
quando o empregador, pagando o salário ajustado em virtude da função
contratada, obriga o trabalhador a exercer também outra função, mas
sem o pagamento de um complemento salarial.

Em caso de acúmulo de funções, presente a lacuna no


diploma celetista, a jurisprudência se inclina à aplicação analógica do art.
13 da Lei nº 6.615/78 (Lei dos Radialistas), na conformidade do parágrafo
único do art. 8º da CLT. A essa corrente se filia este Relator.

Feitas as considerações acima, há que se perquirir se, de


fato, restou provado que as atividades desempenhadas pelo recorrente
durante a jornada diária referem-se a atribuições de cargos distintos, ou,
lado outro, inserem-se nas atribuições típicas do cargo efetivamente
ocupado.

É fato incontroverso nos autos, pelos termos da defesa da


reclamada, de que o reclamante, contratado como motorista de ônibus
urbano, também realizava a cobrança das passagens.

A reclamada sustenta a tese de que as atividades


alegadamente desempenhadas pelo reclamante estão inseridas nas
atribuições do cargo efetivamente por este ocupado na reclamada,
aduzindo que as funções eram compatíveis e que o autor era
remunerado pela melhor função, sem qualquer aumento da carga
horária.

É de conhecimento deste Relator, em decorrência de


inúmeros julgamentos de processos análogos outros, que a previsão em
negociação coletiva de recebimento de passagens como parte das
funções do condutor de coletivo é prevista apenas nos casos de
motorista júnior, que são ex-cobradores treinados e aprovados em testes
para conduzirem ônibus menores(micros) e similares.

À guisa de elucidação, insta ressaltar a ilicitude de tal norma


coletiva, pois exige do motorista júnior as funções de motorista e de
cobrador, pasmem, com salário inferior ao de motorista. Entretanto,
sequer é necessário adentrar neste mérito, visto que o autor não era
motorista júnior, não lhe sendo aplicável tal regramento. Tal conclusão
decorre do exame minudente do contrato de trabalho acostado aos
autos em cotejo com os termos da defesa, os quais não deixam margens
a qualquer dúvida neste sentido.

A ré ao exigir do autor o desempenho de duas funções


concomitantes fere o art. 468 da CLT, verbis: “ Nos contratos individuais de
trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições, por mútuo
consentimento, e, ainda assim, desde que não resultem, direta ou
indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula
infringente desta garantia.”

Resta claro que a atitude da empresa extrapola em muito os


limites do jus variandi do empregador, uma vez que a ré passou a exigir
mais trabalho do seu empregado sem a contraprestação pelo serviço
prestado.

É totalmente cabível na hipótese em tela a aplicação


analógica da Lei dos radialistas (Lei nº 6.615/78) , onde há previsão
quanto ao pagamento de adicional salarial em decorrência do acúmulo
de funções.

Nego provimento.

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