Você está na página 1de 14

PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS: UMA PROPOSTA DE TRABALHO PARA

ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

PREVENTION TO THE IMPROPER USE OF DRUGS: A PROPOSAL OF WORK FOR


STUDENTS OF ELEMENTARY AND HIGH SCHOOL

Sílvia Helena Cestari


Formação: Bióloga
Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
E-mail: mhadassa@hotmail.com

Alaor Aparecido Almeida


Formação: Farmacêutico-Bioquímico
Cargo: pesquisador Farmacêutico-Bioquímico
Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Unidade Auxiliar: Centro de Assistência Toxicológica
E-mail: alaor@ibb.unesp.br

Renato Eugênio da Silva Diniz


Formação: Biólogo
Cargo: Professor Adjunto
Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Departamento: Departamento de Educação
E-mail: rdiniz@ibb.unesp.br

1
Resumo: A proposta foi pautada na busca de abrir maior espaço a diálogos e menos repressão para
despertar neles a consciência crítica para a tomada de decisões responsáveis. Dessa forma, os
participantes puderam se sentir à vontade para se expressarem e refletirem sobre as conseqüências do
uso de drogas: Aids, gravidez, acidentes de trânsito. A proposta de ensino inclui as seguintes
atividades: dinâmicas de grupo, discussões, encenação, interpretação de músicas, visualização de filme,
elaboração de cartazes, redações, poemas e/ou acrósticos, que foram realizadas em 6 encontros. As
técnicas variadas foram escolhidas para evitar que o trabalho ficasse desinteressante e cansativo aos
adolescentes, devido aos vários encontros. Este projeto de conclusão de curso teve como objetivos a
elaboração e desenvolvimento de uma ação educativa enfocando a prevenção ao uso indevido de
drogas junto a adolescentes.
Palavras-chave: drogas, adolescentes, prevenção.

Abstract: The proposal the dialogues and little repression were pautada in the search to open greater
space to awake in them the critical conscience for the taking of responsible decisions. Of this form, the
participants had been able to feel themselves to the will to express themselves and to reflect on the
consequences of the use of drugs: AIDS, pregnancy, traffic accidents. The education proposal includes
the following activities: dynamic of group, quarrels, stage, interpretation of musics, visualization of
film, elaboration of posters, writings, poems and/or acrósticos, that had been carried through in six
meeting. The varied techniques had been chosen to prevent that the work was uninteresting and tiring
to the adolescents, had to the some meeting. This project of course conclusion had as objective the
elaboration and development of an educative action focusing the prevention to together the improper
use of drugs the adolescents.
Keywords: drugs, teenage, prevention.

2
I - Introdução
A proposta de ensino inclui as seguintes atividades: dinâmicas de grupo, discussões, encenação,
interpretação de músicas, visualização de filme, elaboração de cartazes, redações, poemas e/ou
acrósticos.
Por que falar sobre drogas? Esse assunto não é novidade. Desde a Antigüidade usavam-se
drogas com fins terapêuticos, relaxantes ou simplesmente prazerosos, em ritos religiosos ou culturais.
Desde sempre o homem tenta modificar suas percepções, sensações e a relação consigo mesmo e com
seus meios naturais e sociais, e o faz também através de substâncias psicoativas. Como exemplo
podemos citar o ecstasy, tão em moda atualmente, mas foi sintetizado já em 1912 e o ácido lisérgico
(LSD) em 1930.
As drogas eram prerrogativas das elites, mas a partir da Segunda Guerra Mundial houve a
"democratização" do consumo. A partir dos anos sessenta, o consumo de drogas transformou-se em
uma preocupação mundial, em particular nos países industrializados. O consumo de tóxicos e crimes
relacionados com o tráfico é a quarta preocupação da nossa população, depois do desemprego, saúde e
salário.
Assim, falar de drogas virou modismo. O alarde da mídia e de outros segmentos da sociedade
em relação ao combate a substâncias ilegais desvia a atenção de outros problemas. Pouca ênfase é dada
ao consumo indiscriminado e à falta de controle efetivo da divulgação e venda de drogas que maiores
danos causam à população, como as bebidas alcoólicas, o cigarro, os moderadores de apetite e os
solventes. Atualmente, qualquer família de classe média tem um barzinho instalado em um lugar
especial, como se fosse oratório (TIBA, 1996) e não consideram as drogas lícitas (bebidas alcoólicas,
tabaco, tranqüilizantes) como drogas. As mensagens são carregadas de sensacionalismo e
dramatizações exageradas, apelos moralistas, discursos cheios de mitos, sem embasamentos científicos
e geralmente, vazios.
Este projeto de conclusão de curso teve como objetivos a elaboração e desenvolvimento de
ação educativa enfocando a prevenção ao uso indevido de drogas, junto a adolescentes.
Pautamos a proposta na busca de abrir maior espaço a diálogos e menos repressão para
despertar neles a consciência crítica para a tomada de decisões responsáveis. Dessa forma, os
participantes podem se sentir à vontade para se expressarem e refletirem sobre as conseqüências do uso
de drogas: Aids, gravidez, acidentes de trânsito. Procuramos sanar curiosidades em relação aos efeitos
das drogas no organismo e sugerir formas alternativas de prazer longe das drogas.
Embora a proposta tenha sido aplicada a adolescentes fora do contexto escolar é perfeitamente
aplicável aos alunos dos ensinos fundamental e médio.
3
II - Falando sobre drogas: ações educativas e a escola
Por que fazer educação preventiva com adolescentes?
O uso abusivo de drogas é cada vez mais precoce. Um levantamento do Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) feito em 1997 revela que o percentual de
adolescentes que já consumiram drogas entre 10 e os 12 anos de idade é altíssimo. Nas 10 capitais
pesquisadas, cresceu a tendência para uso freqüente de maconha entre as crianças e adolescentes. O
consumo de cocaína e de álcool também aumentou em seis capitais. O uso pesado de drogas, isto é, 20
vezes ou mais no mês, também experimentou um aumento nas dez capitais para a maconha e em oito
capitais para o álcool.
Outra pesquisa, realizada em 1998 pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Droga do
Hospital das Clínicas, entre estudantes da Universidade de São Paulo, indicou que 31% dos alunos já
haviam fumado maconha e 7% já tinham experimentado cocaína alguma vez na vida.
A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a juventude, muito importante no
processo de desenvolvimento, com características próprias: períodos de serenidade e outros de extrema
fragilidade emocional e instabilidade.
Esta é uma fase que envolve grandes transformações físicas e psíquicas, quando sobressaem
atitudes de auto-afirmação que tornam os adolescentes cada vez mais vulneráveis ao uso de drogas.
Pensam que nada pode afetá-los, não correm o risco de engravidar, de contrair alguma doença
sexualmente transmissível, nem mesmo a AIDS, ou de sofrerem um acidente de trânsito por estarem
alcoolizados.
Diante de algo novo e sem informação necessária sobre os malefícios do consumo de drogas, os
adolescentes experimentam seus efeitos. Se as sensações desencadeadas forem agradáveis para o
jovem, isto se torna um reforçador maior e fortalece o comportamento de busca da droga (OLIVEIRA,
1997).
As modificações também ocorrem a nível social. A importância do grupo de amigos é
aumentada e a tendência à imitação é acentuada. Por isso, a forma de se vestir, de falar, de agir, até
mesmo os gostos tendem a ser muito influenciados pelo grupo em razão do medo de não serem aceitos
e valorizados pelos amigos, assim, procuram agir de acordo com o que faz a maioria (ZAGURY,
1996). Esse é um dos fatores de risco para o uso e abuso de drogas claramente demonstrado por
diversas pesquisas.
O engajamento no abuso de drogas origina-se nos problemas sociais e nas tensões por ele
desencadeadas, especialmente naquelas que afligem diretamente os jovens. Nesse viés, as drogas
4
funcionam como um atalho de escape a estas tensões e às frustrações. Muitas vezes as drogas não são o
problema, mas a conseqüência dele. São exemplos dessas situações a rarificação do mercado de
trabalho, o sistema educacional inapropriado e distante da realidade dos jovens, a falta de opções de
lazer e atividades culturais e o estreitamento do espaço de participação política (CARLINI et al., 1990).

Como falar de drogas? Modelos de prevenção.


Em se tratando de drogas, existem três formas de abordagem: prevenção, tratamento e
repressão, sendo a primeira a mais barata, mais abrangente e de responsabilidade de todos. Pesquisas
indicam que, ao contrário do que acontecia nas décadas de 60 e 70 quando prevalecia o medo e a
repressão como forma de atingir o usuário, especialmente nas duas últimas décadas, tem-se
privilegiado o trabalho preventivo, buscando informar e conscientizar corretamente o adolescente sobre
as drogas.
Cardia (2003) em sua dissertação de mestrado faz um levantamento dos modelos de educação
preventiva:
 modelo do amedrontamento - enfatiza as conseqüências negativas do abuso de substancias
psicoativas. Vigorou até décadas passadas, mas quase sem sucesso, devido à busca por desafios e
perigos próprios da idade dos jovens.
 modelo do apelo moral ou do princípio moral - busca-se o afastamento das drogas através da
demonstração da incompatibilidade dos valores e planos pessoais com o uso de tais substâncias.
 modelo da educação afetiva - parte-se do princípio de que pessoas psicologicamente mais
estruturadas e portanto menos vulneráveis, têm menor chance de se tornarem quimiodependentes.
Assim, trabalha-se a valorização da auto-estima, a habilidade para decidir e interagir em grupo, a
comunicação verbal e a resistência às pressões do grupo.
 modelo do treinamento para a resistência (Resistance training) - Busca preparar os estudantes a
recusarem ou se esquivarem e não cederem aos apelos da oferta de drogas, considerados pressões,
através de exercícios em classe. São exemplos, o PROERD em São Paulo (adaptado) e o original
DARE (Drug Abuse Resistance Education) dos EUA.
 modelo da pressão de grupo positiva - é inegável a importância da pressão de grupo no
comportamento ligado ao abuso de substâncias psicoativas entre jovens. Este modelo sugere a
aplicação do processo inverso, utilizando-se lideranças jovens nos programas de prevenção.
 modelo da orientação - busca-se orientar os pais a fixarem normas familiares de conduta e a
incrementarem o diálogo com seus filhos; pressionar as escolas para que estabeleçam regras para

5
evitar que seus alunos se aproximem das drogas, aos alunos para que resistam à influência dos
amigos.
 modelo de educação para a saúde - os temas abordados são inúmeros e variados, desde as
orientações para se evitar situações de estresse, alimentação adequada, danos ambientais, etc., até as
informações sobre os riscos inerentes ao abuso de substâncias psicoativas.
 modelo do conhecimento científico - baseado na transmissão de informações sobre as substâncias
psicoativas, de maneira completa, imparcial, porém não neutra e, sobretudo, com fundamentação
científica. Há alguns anos este modelo de educação preventiva sofreu críticas que, parece não terem
prosperado, porque estavam despidas de fundamentação sólida. Carlini et al. (1990) relata que
vários autores teriam verificado, em determinados casos, aumento do número de consumidores.
Cardia ainda trata de outros modelos que não se enquadram propriamente no sentido estrito de
modelo de educação preventiva, entre eles:
 modelo do oferecimento de alternativas - Não é, propriamente, um modelo de educação
preventiva. A prática de esportes é uma excelente forma de gastar energia, de promover o
desenvolvimento corporal equilibrado, de relaxar tensões, de levar ao aperfeiçoamento pessoal, à
auto-afirmação. Esportes em equipe ainda desenvolvem o trabalho em grupo e o respeito pelo
próximo. Marlatt (ibidem) acrescenta que este programa propicia sensações de desafio e alivio de
tédio, os chamados "highs", por meios outros que não os das substâncias psicoativas.
 modelo da modificação das condições de ensino - Preconiza a adoção de ações globalizantes de
prevenção à delinqüência, ao abuso de drogas e inclusive às psicopatologias, agindo no ambiente
em que ocorre a vivência escolar, ou seja, onde se processa a formação dos alunos.
 movimento da redução de danos - É uma estratégia programática de cunho social que tem como
objetivo amenizar as conseqüências negativas decorrentes do uso de drogas, lícitas ou ilícitas, mas
cujo enfoque centrou mais no que concerne estas últimas. A rigor, até o momento tem-se que este
programa constitui um movimento de prevenção cuja idéia central seria: em não sendo possível
interromper o uso de drogas, deve ser tentada a minimização dos danos, tanto para o usuário
como para a sociedade.

A abordagem de redução de danos, apesar de ter origem em praticas que remontam a 1926 na
Inglaterra, foi abandonada por longo tempo, sendo retomada com a epidemia da Aids. Uma análise
realizada por Canoletti (2005) verificou mudanças significativas nas práticas de educação preventiva a
partir da década de 90 e o emprego da abordagem de redução de danos em diferentes graus.

6
Qual é o papel da escola?
A influência do ambiente escolar é um fator muito importante no desenvolvimento da
personalidade dos jovens. A escola deve contribuir para uma visão crítica das situações e dos
problemas, para que os adolescentes possam desenvolver autonomia e capacidade de escolha.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) fornecem dicas e ferramentas para trabalhar a
prevenção ao abuso de drogas numa visão integrada em um conjunto de fatores que favorecem o
desenvolvimento de uma vida saudável, como a alimentação adequada, a atividade física, a vida sexual
segura, questões de meio ambiente, poluição, causas externas de prejuízos à saúde, riscos e postura em
relação ao consumo de álcool, tabaco e outras drogas.

III - Drogas e seu abuso


Droga: definição e classificação
O termo droga, presta-se a várias interpretações, mas comumente suscita a idéia de uma
substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo. Em linguagem científica, droga é toda e
qualquer substância, natural ou sintética, capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando
em mudanças fisiológicas ou de comportamento. As drogas psicotrópicas (afinidade pela mente)
podem criar dependência física e/ou psíquica, atuam sobre o nosso cérebro alterando nossa maneira de
sentir, de pensar e, muitas vezes, de agir. Mas estas alterações do nosso psiquismo não são sempre no
mesmo sentido e direção. Obviamente elas dependerão do tipo de droga psicotrópica que foi usada.
Segundo o pesquisador francês, Chaloult, as drogas psicotrópicas, são divididas em outros três
grandes grupos, de acordo com a ação que exercem sobre o nosso cérebro:
 Depressoras do SNC: diminuem a atividade do nosso cérebro, o que significa dizer que a pessoa
que faz uso desse tipo de droga fica "desligada", "devagar", desinteressada pelas coisas. Exemplos:
bebidas alcoólicas (etanol), hipnóticos, barbitúricos, ansiolíticos, narcóticos e solventes
(clorofórmio, éter, acetona, benzina, cola de sapateiro, etc..).
 Estimulantes do SNC: aumentam a atividade do nosso cérebro, fazendo com a pessoa que se
utiliza dessas drogas fique "ligada", "elétrica", sem sono. Exemplos: anfetaminas, cocaína, cafeína.
 Perturbadoras do SNC: drogas que agem modificando qualitativamente a atividade do nosso
cérebro. O cérebro passa a funcionar fora do seu normal e a atividade cerebral fica perturbada.
Provocam no indivíduo a percepção da realidade uma visão distorcida em relação ao mundo real.
Exemplos: alucinógenos (maconha, MDMA, LSD-25, anticolinérgicos).

7
Podem ainda ser classificadas como Lícitas (fumo, álcool, anfetaminas, barbitúricos, remédios
anticolinérgicos e antidepressivos tricíclicos) ou Ilícitas (maconha, cocaína, crack, heroína, LSD,
solvente).
O uso de drogas, dependendo da dose e freqüência traz complicações orgânicas, psicológicas e
sociais. O álcool reduz a capacidade de julgamento, o controle dos impulsos e o controle motor. Na
gravidez, pode causar malformações e alterações do desenvolvimento do feto (isto vale também para o
tabaco e alguns medicamentos).
A presença contínua de uma substância, no caso drogas psicotrópicas, faz com que o organismo
se adapte a ela e a incorpore ao seu funcionamento, é a chamada tolerância. Para se obter os mesmos
efeitos será necessário aumentar a dosagem. A intensificação do uso desenvolve a já mencionada
dependência que pode ser psíquica e/ou física.
Apenas as drogas que são prazerosas podem gerar dependência, apesar de todas as substâncias
alteram o funcionamento do organismo. Se não fosse pelo prazer encontrado no consumo, ninguém se
tornaria dependente. Este prazer pode resultar da ausência de dor, de euforia, bem-estar, sensações de
força, poder, leveza, serenidade ou esquecimento dos problemas, ou ainda, sensação de “barato”.
Dependência psíquica é a condição na qual uma droga produz um sentimento de satisfação e
um impulso psicológico que requer o uso periódico ou contínuo da droga. A dependência física é um
conjunto de distúrbios físicos quando o uso da droga é interrompido; tais distúrbios são denominados
síndrome de abstinência.
Abuso de drogas é o uso para propósitos não medicamentosos. Drogas são inapropriadamente
usadas para alterar o humor, afetar o estado de consciência, ou alterar uma função do corpo
desnecessariamente, como acontece com o uso de laxantes, por exemplo.
Os efeitos das drogas no corpo variam de acordo com a droga que é usada.
A pessoa que abusa de drogas pode não conseguir realizar suas atividades em casa ou no trabalho,
apresentando comportamento irregular, mau humor, distração, depressão, paranóia e ansiedade,
afetando suas relações pessoais e sociais. O uso de quase qualquer droga que altera o humor pode
conduzir ao abuso.

IV - Metodologia
Diversos modelos de prevenção têm sido trabalhados ao longo dos anos. Várias políticas
públicas internacionais foram adotadas. Contudo, muitas delas se mostraram ineficazes quando
aplicadas a nossa realidade.
8
A prevenção deve ser destituída de mitos e preconceitos. Deve-se também ter o cuidado de não
associar prevenção à idéia que se deve evitar qualquer risco, já que estes são inerentes à vida. Mas
pode-se incluir o medo como um sinal positivo de vida - não de covardia - quando se corre risco. Não
se trata de acabar com os riscos, mas de construir competências para responder bem a eles.
A prevenção ainda, deve ir além da informação e de ações preventivas isoladas ou pautadas na
proibição. Já está amplamente provado que a proibição e a repressão são insuficientes para impedir o
consumo e "não há como evitar o contato dos alunos com as bebidas alcóolicas, portanto é melhor
ensiná-los a administrar a bebida do que pregar a abstinência" (TIBA, 1996). O que pesará mais na
hora de decidir entre usar ou não drogas ninguém sabe ao certo, mas a prevenção continua sendo o
melhor remédio.
Palestras e ações isoladas não são eficientes, o conhecimento por si só não coíbe ou evita o uso,
haja vista os muitos casos de usuários entre estudantes de medicina. "A educação para ter um alcance
preventivo deve situar-se num espaço mais amplo: o uso de drogas não deve ser visto como aspecto
isolado da vida social, mas tem que ser inserido num contexto geral da saúde, da convivência social e
dos valores" (BÜCHER, 1989).
Optamos por trabalhar com os adolescentes uma mescla de alguns dos modelos de prevenção
paralelos ao movimento de redução de danos, de acordo com a análise abaixo:
- Apesar das informações científicas e imparciais se constituírem uma via de mão dupla, acreditamos
que quanto mais informado o indivíduo estiver, mais apto estará para fazer suas escolhas.
- Em conformidade com os PCNs, a orientação para a saúde bem como a valorização da auto-estima
são de extrema importância na formação do cidadão.
- É uma realidade a existência das pressões do grupo, precisamos ensinar formas de vencê-las,
atentando para o apelo moral.
- É fundamental oferecer alternativas sadias para aliviar as tensões e crises vividas pelos jovens
diariamente. As atividades esportivas são uma excelente forma de gastar energia, de promover o
desenvolvimento corporal equilibrado, de relaxar tensões, de levar ao aperfeiçoamento pessoal, à
auto-afirmação. Esportes em equipe ainda desenvolvem o trabalho em grupo e o respeito pelo
próximo. Atividades artísticas também desviam o foco das drogas.

Buscamos variar as técnicas para evitar que o trabalho ficasse desinteressante e cansativo aos
adolescentes, devido aos vários encontros.
Destacamos algumas peculiaridades das metodologias empregadas neste trabalho.

9
A importância do trabalho em grupo - O trabalho em grupo oferece ao aluno a oportunidade de
estabelecer trocas de idéias e opiniões, desenvolvendo as habilidades necessárias à prática da
convivência com as pessoas.
Estudo de caso (situações-problema) - Consiste em apresentar de forma sucinta uma situação
real ou fictícia, para ser discutida em grupo. O objetivo educacional é desenvolver a capacidade de
tomar decisões, de adotar uma linha de ação depois de analisar as várias alternativas.
Dramatização - A dramatização é uma forma de expressão natural através da qual uma pessoa
exterioriza observações e sentimentos. Essa técnica consiste na representação teatralizada de situações
reais da vida, com o propósito de dar e receber informações, alcançar melhor compreensão das
situações e favorecer maior integração do grupo. Mais do que se colocar no lugar do outro, o aluno é
levado a representar a situação. Busca-se com essa técnica, sensibilizar quanto à realidade de uma
situação, estabelecendo correlação com o real e evidenciar seus pontos críticos.

Justificativa da escolha da metodologia


Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1980), o indivíduo mais propenso a utilizar
substâncias psicoativas é aquele que: não tem informações adequadas sobre os efeitos das drogas; tem
saúde deficiente; está insatisfeito com a sua qualidade de vida; tem personalidade deficientemente
integrada; tem fácil acesso às drogas.
Acreditamos que uma mescla de alguns dos modelos citados anteriormente possa ser satisfatória
para trabalhar com os jovens esse tema, uso indevido de drogas.

Atividades para cada encontro:


1º Dia – Conhecendo o grupo de reflexão
- Apresentação pessoal e do programa planejado.
- Dinâmica: um adolescente entrevista o outro e o apresenta ao grupo.
- Estabelecimento de regras do grupo: respeitar a opinião dos colegas.
- Discussão: a escola deve falar sobre drogas? O que gostariam de debater sobre as drogas e seu uso?
Os alunos se sentem à vontade para conversar sobre drogas com os amigos? E com os pais? Como
se sentem quando fala de drogas? E quando não falam?
- Aplicação dos questionários 1 e 2- não sendo necessária a identificação de cada aluno. Leitura das
questões para esclarecer eventuais dúvidas.
- Distribuição de um papel sulfite para cada aluno para registro de cinco coisas que gostam de fazer e
cinco que não gostam de fazer e o que esperam do projeto.
10
- Separação da turma em grupos para discutir sobre como seria um dia muito especial. Cada grupo
apresenta suas idéias aos outros anotando-as na lousa para discussão.
- Reflexão: O que pode ser feito para ampliar formas de lazer e emoções que não incluam o uso de
substâncias que afetam a consciência? Sempre fazemos coisas que nos dão prazer? O que nos
impede de fazê-las? Existem riscos associados às atividades que nos dão prazer?

2º Dia – O grupo
- Dinâmica: formação de um círculo pelos participantes sendo que um deles ficaria de fora tentando
entrar. Discussão: Quais sentimentos despertados nos indivíduos excluídos do grupo O que leva
um grupo a excluir uma pessoa Como evitar a exclusão
- Debate:
- Qual a importância do grupo em nossa vida?
- Quando uma situação em grupo não nos agrada, o que fazer?
- Como se manter firme na posição?
- Para fazer parte de um grupo vale abrir mão dos próprios gostos, opiniões e vontades?
- Como o adolescente reage diante de uma situação difícil na sua vida?
- Exibição da música Com quem você do grupo Barão Vermelho.
- Estudo de caso (para avaliar o comportamento frente às pressões de grupo): Dois alunos simulam
uma situação como se fossem novos em uma turma. (Características do grupo: fumantes e
bebedores ocasionais.) O que fazem para se enturmar? Como o grupo pode influenciar a atividade
dos novos integrantes? Como essas pessoas reagem às abordagens/provocações da turma.
- Exibição de um vídeo para reflexão e discussão para colocarem suas dúvidas, vivências, percepções
e sentimentos. Repasse de trechos que porventura não ficarem claros. Questionamentos: O que
sentiram ao ver o vídeo? As cenas e personagens têm alguma relação com a vida deles? Quais?

3º Dia – Matando a curiosidade


- Visita a um laboratório de informática para pesquisas na internet sobre drogas. Sugestão de tema
para os grupos apresentarem da forma que escolhesse (cartazes, recortes, encenação, explanação,
etc.) aos demais grupos no próximo encontro. Podem optar por exibir uma entrevista com um
fumante e um alcoólatra, elaborar redação, poema ou acróstico.
* O que são drogas? Quais os tipos de usos (terapêutico e abuso)? Qual sua origem? Quais os
efeitos no organismo? Quais são os riscos de usar drogas? Quais drogas são "novidade"? etc.

11
4º Dia - Desmitificando
- Apresentação dos trabalhos para a turma.
- Esclarecimento de dúvidas e possíveis informações não verdadeiras.
- Discussão e situação-problema: vulnerabilidade quando do uso indevido de drogas - acidente de
trânsito, por exemplo; relação das drogas com esporte e sexualidade. Os participantes
interpretariam a situação em papéis diferentes para identificar os vários aspectos do problema. Eles
deveriam concluir a história e dizer como agiriam se fossem um ou outro personagem.
- Simulação da transmissão do vírus HIV comparando com vírus de computador, uso de preservativo
e programa de escaneamento antivírus.

5º Dia - Comportamento frente às drogas


- Apresentação de situações-problema e dramatização das mesmas.
- Discussão sobre questões levantadas.
- Análise de músicas: Natasha (Capital Inicial) e Renata (Tihuana).

6º Dia - Aproveitamento do trabalho


- Distribuição de um papel sulfite para cada aluno responder as seguintes questões: Qual a maior
razão para não usar drogas de forma indevida ou prejudicial? O que mais marcou desse trabalho?
- Aplicação do questionário 1.

V - Bibliografia
BRASIL, 2000. Parâmetros curriculares nacionais: 5º à 8º série. Temas transversais: Saúde:
Brasília, Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Saúde, Secretaria do Ensino Fundamental.

CARDIA, E. Toxicologia e Psicofarmacologia em Biologia e Programas de Saúde para o Ensino


Meio. Dissertação de Mestrado, 2003. Bauru (Ensino de Ciências, Faculdade de Ciências da UNESP,
campus de Bauru).
CARLINI, E.A.; CARLINI-COTRIN, B.; SILVA FILHO, A.R. Sugestões para programas de
prevenção ao abuso de drogas no Brasil: São Paulo: CEBRID/EPM, 1990.

12
CARLINI, E.A. et al. II Levantamento nacional sobre o uso de psicotrópicos em estudantes de 1º e
2º graus - 1989. São Paulo: CEBRID/EPM, 1990.

CANOLETTI, B.; SOARES, C.B. Programas de prevenção ao consumo de drogas no Brasil: uma
análise da produção científica de 1991 a 2001. Interface - Comunic, Saúde, Educ. v.9, n.16, p.115-29,
set.2004/fev.2005.

CEBRID, IV. Levantamento sobre drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais


brasileiras, 1997.

OLIVEIRA, A.C. Projetos Pedagógicos: práticas transdisciplinares - uma abordagem para os temas
transversais. São Paulo: Avercamp. 2005. 152p.

TIBA,I. Ponto de Apoio: 123 respostas sobre drogas. Editora Scipione, 1996 - 127 p.

ZAGURY, T. O adolescente por ele mesmo. 5º ed. Editora Record, 1996 - 23-32 e 90-116p.

Informações retiradas da internet. Acesso no primeiro semestre de 2005. Disponível em


www.antidrogas.com.br

13
VI - Anexos
Questionário 1: O que você entende sobre drogas?
Assinale: Concordo, Discordo, Não sei para as questões abaixo:
1- Cigarro e cerveja são drogas.
2- O cigarro diminui o apetite.
3- As drogas injetáveis trazem outros riscos para a saúde.
4- Os usuários de drogas podem apresentar comportamento de risco (relações sexuais) e adquirir e/ou
transmitir os vírus da AIDS e da hepatite.
5- A maconha faz menos mal que o cigarro de tabaco.
6- Uma “overdose” pode matar.
7- Filhos de pais drogados podem nascer doentes.
8- A pessoa que está em contato com fumaça do cigarro de tabaco pode ficar doente.
9- Quem experimenta uma droga pode vir a usar outras mais fortes.
10- As bebidas energéticas não fazem mal à saúde.
11- As drogas lícitas não fazem mal à saúde.
12- Bomba (anabolizantes), remédio para emagrecer e chá de cogumelo são drogas.
13- Quem bebe pouco pode dirigir.
14- O alcoolismo é uma doença.
15- Lança perfume não faz mal à saúde.
16- A ingestão de etanol pode levar ao câncer.
17- O cigarro causa câncer.
18- Cigarros free ou light (baixos teores) são mais seguros.
19- O medicamento viagra não deve ser usado sem indicação médica.
20- O tráfico de drogas gera violência.

Questionário 2
1- Como você escolhe sua turma?
2- O que, na sua opinião, leva alguém a usar drogas? Qual seu maior medo em relação ao uso de
drogas?
3- Qual droga você acha mais perigosa? Justifique. Quais drogas você gostaria de saber mais a
respeito?
4- Você acha possível alguém parar de usar drogas? O que deveria ser feito com o usuário de drogas?
5- Existe alguma relação entre drogas e violência? Qual (is)?
14

Você também pode gostar