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MATHPODCAST: UMA FORMA DIFERENTE DE ESCUTAR

MATEMÁTICA.

FERRARI SOBRINHO1, Rita de Kassia, SILVA2, Daniel Afonso, LIMA3, Débora Martins de.
1, 2 e 3
Universidade Federal de Mato Grosso
E-mail:bernardoferrari05@gmail.com

Resumo
A tecnologia vem sendo utilizada como principal fonte de informação e entretenimento, mas
tem-se constituído também como ferramenta de ensino e aprendizagem. Nesse contexto,
diferentes espaços educativos têm produzido e utilizado podcasts, levando à necessidade de
discutir a importância e pertinência desse tipo de atividade na formação inicial docente. Para
substanciar uma reflexão acerca do tema, neste trabalho, narra-se a experiência de produção
de um podcast por graduandos do curso de Licenciatura em Matemática, bolsistas do
Programa de Educação Tutorial (PET Matemática Araguaia, da Universidade Federal de Mato
Grosso Campus Araguaia). O podcast tem por finalidade discutir assuntos relacionados à
matemática, levando os ouvintes a perceberem uma matemática diferente da habitual. O
Mathpodcast: de exatas? Nem tanto... surge como um desafio para os professores em
formação inicial, na medida em que exige uma apropriação ativa da tecnologia, bem como
estimula a criatividade e a autoria na produção de ferramentas de ensino, mostrando-nos uma
nova vertente que pode ser utilizada na Educação Matemática.
Palavras-chave: Pandemia; Podcast; Formação de professores.

Introdução
A pandemia causada pelo novo Coronavírus impactou profundamente a vida de todas
as pessoas ao redor do mundo. De forma abrupta, o surgimento desse vírus provocou uma
imensa turbulência em todos os setores da sociedade. De repente, professores tiveram que
deixar a sala de aula, alunos pararam de frequentar escolas e universidades, obrigados pelo
distanciamento social imposto a todos de maneira indiscriminada. Segundo Bragé et. al.:
A pandemia de COVID-19 trouxe inúmeras mudanças para vida pessoal,
profissional e emocional das pessoas que estão em isolamento social como
forma de prevenção do contágio do coronavírus, o que causa impactos
significativos na saúde mental. (BRAGÉ et. al. 2020, p. 11371)
As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s) estão sendo
amplamente utilizadas durante este período. Em particular, a Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT) adotou a chamada ‘flexibilização educacional’ para oferta das disciplinas
referentes ao primeiro semestre letivo de 2020. De fato, as atividades curriculares vêm sendo
desenvolvidas por meio de tecnologias digitais da informação e da comunicação, em caráter
excepcional e temporário, durante o período de distanciamento social. Nesse contexto,
professores e estudantes da instituição viram-se ante a necessidade de criar estratégias para
executar as propostas formativas de cada disciplina oferecida, inclusive os Estágios

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Supervisionados. Essa foi a origem da proposta de desenvolvermos um podcast, no intuito de
experienciar a produção de ferramentas que possam amparar a aprendizagem da matemática.

A equipe de trabalho e a proposta surgidas no Estágio Supervisionado foram


ampliadas a partir da parceria firmada com o grupo PET Matemática Araguaia, do Programa
de Educação Tutorial, um programa do Governo Federal brasileiro de estímulo a atividades de
pesquisa, ensino e extensão universitárias. Vinculado a cursos de graduação, o programa, que
é subordinado à Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, oferece bolsas a
grupos de estudantes, que desenvolvem atividades sob a orientação de um professor tutor.

No texto ora apresentado, narra-se a prática colaborativa de produção um podcast


concebido como recurso didático a ser utilizado na divulgação da matemática e no apoio à
aprendizagem. Em seguida, avaliamos seu efeito para a nossa própria formação, ainda que o
trabalho esteja em fase inicial.

Metodologia
O podcast mostra-se como uma ferramenta prática e de fácil adesão, podendo ser
acessado em qualquer circunstância e gratuitamente. Configura-se como podcast:

…uma página, site ou local onde os ficheiros áudio estão disponibilizados


para carregamento; podcasting é o ato de gravar ou divulgar os ficheiros na
web; e por fim designa-se por podcaster o indivíduo que produz, ou seja, o
autor que grava e desenvolve os ficheiros no formato áudio. (JUNIOR E
COUTINHO 2007, p. 839).
Os podcasts tornam-se um importante instrumento no campo educacional, pois
segundo Junior e Coutinho (2007, p. 837) permitem “disponibilizar materiais didáticos como
aulas, documentários e entrevistas em formato áudio que podem ser ouvidos pelos estudantes
a qualquer hora do dia e em qualquer espaço geográfico.”. Em nosso trabalho, é necessário
executar as diferentes etapas de produção de um podcast.

Para conhecer os aspectos técnicos e metodológicos associados a cada uma das etapas,
foram realizadas leituras de textos extraídos de blogs, também assistiram-se a tutoriais em
vídeo e ouviram-se podcasts. Num primeiro momento, foram decididos: o nome, a identidade
visual e a trilha sonora do nosso podcast. Das leituras, verificou-se que, a cada episódio, era
necessário seguir as etapas:

1. Definição do tema;
2. Escolha dos participantes;
3. Definição dos equipamentos e dos softwares necessários para a edição;

2
4. Elaboração da pauta;
5. Gravação dos episódios;
6. Edição do podcast;
7. Compartilhamento/divulgação do episódio.

As escolhas iniciais recaíram sobre os temas: Matemática e Arte; Inclusão na


Educação Matemática; Robótica Educacional e Etnomatemática e Africanidade. Quanto aos
softwares para edição de áudio, temos estudado: Audacity, Skype, Sondcload e Voicemeeter.

Cada episódio terá duração máxima de 40 minutos.

Resultados e Discussões
Sendo esta uma experiência que ocorre vinculada à licenciatura, importa não apenas
garantir que os ouvintes dos podcasts aprendam sobre matemática; importa também promover
nossa própria aprendizagem para a docência. Nesse sentido, na elaboração do projeto,
aprimorou-se a capacidade de organizar o tempo e identificar as aptidões dos membros da
equipe, visto a necessidade de definir cronograma e de especificar as tarefas para cada um
realizar; tornando -se os participantes mais preparados para o trabalho conjunto e
colaborativo.

Como o objetivo do projeto MathPodcast: De exatas? Nem tanto... é falar de assuntos


relacionados à Matemática de maneira que atraia e desperte a curiosidade e a atenção dos
ouvintes, precisa-se analisar diferentes aspectos da matemática e da educação matemática, de
modo a identificar temáticas a serem tratadas. O educador Paulo Freire (1996) enfatizava que
“não existe docência sem discência”, isso é, os professores precisam fazer uma relação não só
com os conteúdos mas, principalmente, com os estudantes. O trabalho de produção de
podcast implica pensar mais no público-alvo, desenvolver certa empatia, preparar a todos para
um diálogo.

Um bom roteiro para um podcast deve ter começo, meio e fim; é necessário iniciar o
episódio destacando aspectos que estimulem a atenção, para depois aprofundar o debate. Para
conseguir esse efeito é preciso ter conhecimento sobre o tema, o que implica pesquisar,
discutir e roteirizar sobre ele. Essa etapa do trabalho estimula o estudo, a capacidade
argumentativa, a criatividade e a autoria – que são aspectos importantes para a prática
docente.

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Sobretudo, a experiência proporciona um maior contato com a tecnologia e, dessa
forma acabou-se familiarizando criticamente com esse tipo de ferramenta. O período de
pandemia em que está se vivendo mostrou o quanto é importante para o professor de
matemática dominar as tecnologias. Ponte et. al. aduzem:

Deste modo, as TIC podem favorecer o desenvolvimento nos alunos de


importantes competências, bem como de atitudes mais positivas em relação à
matemática e estimular uma visão mais completa sobre a natureza desta
ciência. (PONTE et. al. 2001, p. 01).
Essa interação com a tecnologia propicia a nós licenciandos conhecer outras
possibilidades de ensino, uma vez que o modo tradicional de ensino não desperta a
curiosidade dos alunos. Logo, é importante que os professores tenham contato com as TIDC’s
desde o início de sua formação. Cyrino e Baldini ressaltam que:

[...] a formação inicial deve somar-se atualizações, sob pena de cristalização


profissional. Para conseguir adequar os recursos educativos a estratégias
metodológicas inovadoras é necessário saber de sua existência, explorá-los e
manejá-los com tempo, com disponibilidade e abertura para recorrer às
novas formas de ensinar (RICOY; COUTO apud CYRINO e BALDINI,
2012, p. 44).
Portanto, é imprescindível que o professor, em sua formação, possa ter diferentes
vivências tecnológicas, para que, estando em uma sala de aula, possa utilizar e renovar os
benefícios de tais recursos de forma consciente e confiante.

Conclusões
O Coronavírus provocou muitas mudanças no cotidiano das pessoas. Muitos foram
“obrigados” pela possibilidade de reinventar, tentando assim atenuar os impactos causados
por essa pandemia. Todo esse caos também possibilitou-nos experiências que, até então não
tinham sido pensadas e/ou exploradas no contexto do nosso curso de licenciatura.

A elaboração do projeto MathPodcast: De exatas? Nem tanto... tem sido um trabalho


profícuo na medida em que nos possibilita refletir mais sobre a nossa área de atuação,
aprimorar a capacidade de trabalho em equipe, exercitar o diálogo, a criatividade, a autonomia
e a autora. Sobretudo, a produção de podcast tem-nos levado a estabelecer um contato íntimo
e crítico com as tecnologias digitais algo que, na Era tecnológica em que estamos vivendo, se
torna essencial para o exercício da docência.

Agradecimentos

4
Ao Programa de Educação Tutorial, do MEC/SESU, pelo financiamento das
atividades e pelas bolsas. Aos professores doutores Admur Severino Pamplona, tutor do grupo
PET e Wanderleya Nara Gonçalves Costa, que sempre nos auxiliam no desenvolvimento dos
trabalhos.

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Referências Bibliográficas
BOTTENTUIT JUNIOR, João Batista; COUTINHO, Clara Pereira. Podcast em Educação:
um contributo para o Estado da Arte. Barca, A., Peralbo, M., Porto, A., Duarte da Silva, B. e
Almeida, L. (Eds.) (2007). Libro de Actas do Congreso Internacional Galego-Portugués de
Psicopedagoxía. A.Coruña/Universidade da Coruña: Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía
e Educación. Disponível em http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7094;
BRAGÉ, Émilly Giacomelli. RIBEIRO, Lahanna da Silva. RAMOS, Domênica Bossardi.
FIALHO, Inara Rahde. ROCHA, Débora Gomes da. BUSATTO, Caroline. Desenvolvimento
de um podcast sobre saúde mental na pandemia de COVID19: Um relato de
experiência. Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 11368-11376 jul./aug. 2020.
Disponível em www.brazilianjournals.com › BJHR › article › view. Acesso em 29/10/2020.
CYRINO, Márcia Cristina de Costa Trindade. BALDINI, Loreni Aparecida Ferreira. O
software geogebra na formação de professores de matemática – uma visão a partir de
dissertações e teses. RPEM, Campo Mourão, PR, v.1, n.1, jul-dez. 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
JUNIOR, João Batista Bottentuit; COUTINHO, Clara Pereira. Podcast em Educação: um
contributo para o Estado da Arte. Barca, A., Peralbo, M., Porto, A., Duarte da Silva, B. e
Almeida, L. (Eds.) (2007). Libro de Actas do Congreso Internacional Galego-Portugués de
Psicopedagoxía. A.Coruña/Universidade da Coruña: Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía
e Educación. Disponível em http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7094.
PONTE, João Pedro da. OLIVEIRA, Hélia. VARANDAS, José Manuel. O contributo das
tecnologias de informação e comunicação para o desenvolvimento do conhecimento e da
identidade profissional. Departamento de Educação e Centro de Investigação em Educação
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2001. (Disponível em
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte. Acesso em 29/10/2020).

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