Você está na página 1de 2

Adolescente – um sujeito em questão

Jorge A. Pimenta Filho

Phoenix - Revista da Delegação Paraná da EBP, Curitiba, n.4, p. 79-86, abr. 2004.

Resenha: O texto se propõe a trabalhar com a categoria da adolescência, construção cara à


psicanálise. Mesmo Freud salientando a presença da pulsão sexual na infância vai utilizar-se do
critério de puberdade para falar em adolescência. O interesse pela

adolescência é recente, pontua Pimenta Filho, sendo que para os estudos sociológicos e
antropológicos esse é o momento de adestramento, de educação do sujeito para que ele possa ser
introduzido ao mundo adulto por meio de processos e ritos de iniciação.

Se por um lado a sociedade tende a “adestrar” o adolescente, principalmente no que se refere à


sua sexualidade, a psicanálise vai justamente ao encontro dessa sexualidade não adestrada, e sim
traumática, pré-genital, que se apoia nas fantasias incestuosas e nas relações com os pais. A
puberdade é o momento de retomada dos resquícios edipianos, mas com um novo ingred iente: o
encontro com o outro sexo. Segundo Freud, encontro que possui efeitos traumáticos já que há
uma disjunção entre a corrente terna da primeira infância e a corrente sensual presente na
puberdade. Momento de maturação e reativação do Édipo e do objeto enquanto interditado.

Outro aspecto é o desligamento da autoridade paterna. Ao se utilizar da peça “O despertar da


primavera” de Wedekind, Lacan aponta para o trabalho psíquico que constitui esse desligamento.
Pimenta Filho caminha no pensamento de Lacan salientando que na adolescência o “sujeito se
depara com algo que não funciona a contento, há um exílio da relação sexual, há um fracasso,
impasse no momento de assunção do sujeito” (p.82). Lacan aborda a necessidade da fantasia do
adolescente no encontro com o outro sexo, pois o despertar da fantasia se articula com a
separação dos pais. A peça destaca essas dificuldades diante do encontro com o outro parceiro,
pois se de um lado o sonho e a fantasia podem possibilitar esse encontro, eles também angustia m
por reativarem os investimentos libidinosos direcionados aos pais. Mas, paradoxalmente, elas
podem servir como apoio ao adolescente quando esse se defrontar com novas situações,
possibilitando a separação do Outro parental. Ao final, Pimenta Filho marca a puberdade como
“o momento de indeterminação das escolhas amorosas”, da confirmação ou não das escolhas da
primeira infância.

Palavras-chave: adolescência; sexualidade; traumatismo.


Claudia Figaro-Garcia

Você também pode gostar