Você está na página 1de 2

O vaso chinês

Um velho monge, pressentindo a própria morte, decidiu eleger entre os seus


discípulos aquele que seria o seu sucessor. Por ser um homem sábio e justo não
poderia deixar que a predileção por algum de seus aprendizes influenciasse a sua
escolha. Na verdade, embora a palavra final fosse sua, ele deixaria que a escolha
ficasse com os próprios monges, por isso, daria a eles uma tarefa difícil e a escolha
recairia sobre àquele que conseguisse cumpri-la.
Numa manhã, o mestre reuniu os dez aprendizes mais dedicados, os quais treinava
havia anos. Lhes comunicou a sua decisão de escolher um sucessor por prever sua
breve partida. Os jovens se entreolharam com tristeza, pois, embora soubessem que
o mestre tinha idade bastante para partir, não desejavam perder sua companhia e
seus ensinamentos. Ele os instruía desde a infância e era um verdadeiro pai para
eles.
Pediu que os jovens o acompanhassem até uma sala especial na qual nenhum deles
jamais havia entrado. Todos se surpreenderam ao notar que a sala secreta estava
vazia. Logo depois que adentraram o recinto, o velho mestre deu uma orientação
para que fosse posto dentro da sala quatro bancos de madeira que foram
encostados em cada uma das quatro paredes.
O sábio fez sinal para que se sentassem. Disse que iria lhes apresentar um problema,
que o seu sucessor seria qualquer um que primeiro o resolvesse, que teriam até o
pôr-do-sol para fazer isso; que se ninguém conseguisse encontrar a solução, todos
seriam mandados para as suas casas e o mosteiro seria fechado. A um sinal do
mestre entraram dois homens carregando um imenso, antigo e valioso vaso que foi
colocado no centro da sala. Olhando para os jovens apreensivos ele disse apenas:
“Resolvam o problema” e saiu deixando a porta aberta.
Os candidatos à sucessão não tiveram chance de fazer qual quer pergunta e
concluíram que o precioso objeto ocultava o problema. Os mais ágeis logo viraram
o vaso para procurar alguma pista em seu interior, mas ele estava vazio e não havia
nenhuma inscrição dentro dele. Então o viraram para olhar embaixo, mas a
porcelana era tão branca e tão limpa como a do lado de dentro. A superfície externa
do vaso era decorada em ouro, havia uma grande quantidade de traços delicados
formando belíssimos desenhos e neles se fixou a atenção dos jovens durante horas
e horas, sem chegarem a nenhum resultado. O dia já ia acabando, eles estavam
cansados, exaustos, com fome e desanimados. O sol já estava se pondo.
Os discípulos cochichavam entre si, viravam e reviravam o vaso, mudavam de
posição diversas vezes para vê-lo sob ângulos diferentes, até que um deles se
levantou e de um salto, meteu o pé no vaso quebrando-o em vários pedaços. Os
outros, aturdidos com aquela atitude, se lançaram sobre ele gritando e acusando-o
de ter-lhes tirado a chance de resolverem o problema e terem um sucessor, mas,
antes que o ferissem, ouviram novamente a voz do mestre que ordenou que se
afastassem do rapaz e, aproximando-se dele, olhou-o bem nos olhos, sorriu e disse:
“Eis o meu sucessor”. Os outros protestaram, dizendo que ele destruiu o vaso. O
velho sábio sorriu novamente e lhes disse que aquele jovem intrépido ao destruir o
vaso, tinha resolvido o problema, pois o vaso era o problema e explicou: “Por mais
bonito, caro, precioso e raro que um problema pareça, ele continua sendo um
problema e requer uma solução. Enquanto vocês tocaram o vaso com cuidado, o
alisavam, o acariciavam, o esquadrinhavam tentando encontrar uma resposta
mágica, esse discípulo fez a única coisa que poderia ser feita: identificou o problema,
encarou-o e o resolveu. Se vocês se fixam no problema, vão tratá-lo com muito valor,
vão ser delicados com ele, vão tentar decifrá-lo e, não conseguindo, vão se curvar
diante dele e carregá-lo para onde for. “Problemas existem para serem resolvidos”.

Autor desconhecido.

Moral da história - Muitas vezes nos apegamos aos problemas, damos a eles mais
poder do que eles têm e deixamos que esses dominem a nossa vida, isso quando
não acabamos tendo um envolvimento doentio com eles e carregando-os nas costas,
mostrando às outras pessoas o quanto somos infelizes, o quanto sofremos e como
são pesados, difíceis e insolúveis os problemas que carregamos. Esse é um
comportamento perigoso. Não devemos fugir dos problemas e nem os procurar,
mas, quando eles se apresentam – e eles sempre se apresentarão – não devemos
nos apegar a eles e carregá-los conosco. Temos que resolvê-los. Carregar um grande,
delicado e precioso problema é como se deixar levar pela preciosidade de um
grande, delicado e precioso vaso de porcelana, que, ainda que ele seja lindo, é uma
tarefa difícil demais, eis que ele nos afasta, nos distrai e nos impede de prosseguir
com os nossos objetivos.

Você também pode gostar