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Políticas Públicas

em Saúde Mental
Cassiano Teixeira de Morais
Cassiano Teixeira de Morais

Mineiro - Araxá
Medicina - UFU
Psiquiatria - SES/UnB
Dependência Química - Unifesp
Médico perito - TJDFT
MBA em Gestão - FGV
Mestrado em Gerontologia - UCB
Professor da IPEMED
Estratégia
Focar nos 3 Ps

 Prática

 Prescrição

 Prova
O que é a política:

O conceito de política tem origem no grego politikós, uma derivação


de polis que significa "cidade" e tikós, que se refere ao "bem
comum".

O significado de política está, em geral, relacionado com aquilo que


diz respeito ao espaço público e ao bem dos cidadãos e sua
administração.

A política é a atividade própria da cidade, refere-se às relações


humanas em um espaço comum, dividido e negociado entre os
indivíduos.

O termo também pode ser utilizado como referência a um conjunto


de regras ou normas de um determinado grupo e a forma de
relacionamento entre pessoas para atingir um objetivo em comum.
Assim, a política de uma empresa, por exemplo, são regras implícitas
definidas pela sua visão, missão, valores e compromissos.
A origem da Política
O surgimento da política ocorreu na Grécia
Antiga, quando se percebeu a necessidade da criação
de regras de funcionamento e de organização das
cidades gregas (polis).

O primeiro registro deste tipo de organização política


aconteceu na cidade de Atenas e este sistema ficou
conhecido como "democracia ateniense".

Os cidadãos passam a ser responsáveis pela


administração da cidade, dando origem ao espaço
público, ao espaço comum.
IPEMEDlândia
Cidade do interior de Minas Gerais, de 250.000
habitantes.
Possui um hospital psiquiátrico com 55 vagas para
internação.
Anexo a este hospital: Ambulatório de saúde mental
(psicologia, psiquiatria e assistência social), com
capacidade para 40 consultas por dia, Hospital-Dia, com
capacidade para até 100 pacientes.
Há 2 hospitais gerais com boa estrutura
Carece de outros locais de assistência à saúde mental
na rede pública.
A rede particular tem cerca de 120 vagas para
internação.
Proponha 10 ações de política pública de saúde mental
Teoria do Duplo Impacto

Sthal, 2013
Política em
Rede
Política em Rede
Política em Rede
Aprender com o passado

Por Centers for Disease Control and Prevention


EVOLUÇÃO
Aspectos
históricos
Breve histórico: da melancolia à depressão

China Antiga Antigo Testamento Mitologia Grega

CORDÁS; EMILIO, 2017


Breve histórico: da melancolia à depressão

Belerofonte Rei Saul


pharmakon
Breve histórico: da melancolia à depressão

“a intoxicação pela bile


negra causaria um distúrbio
caracterizado por medo,
aversão à comida, falta de
ânimo, irritabilidade,
inquietação e tristeza;
devendo ser denominado
melancolia” (melan, negro e
choles, bile).

Hipócrates

CORDÁS; EMILIO, 2017


Os quatro humores 03.
Temperamentos
Colérico
01.
Sanguíneo 04.
Melancólico

RESUMO DA TEORIOA DOS QUATRO


HUMORES
02. Fleumático
Humor Qualidade Estação Temperamento

Sangue Quente Primavera Sanguíneo

Fleuma Frio Inverno Fleumático

Bile Amarela Seco Verão Colérico

Bile Negra Úmido Outono Melancólico


Contexto Histórico•O corpus Hippocraticum foi elaborado
As primeiras teorias dos transtornos mentais por volta de 400 a.C, consistindo em um
agrupamento de textos, que foram
escritos sobre a influência da escola
médica de Cós, reunidos por Hipocrátes e
estudados profundamente por grandes
nomes da filosofia grega como Platão e
Aristóteles
•O tratado Hipocrático “Da natureza do
Homem” nos traz diversas explicações
sobre as doenças mais recorrentes na
sociedade Grega, nesta obra consta a
explicação de como o comportamento
humano é influenciado pelos humores.
EJIK, P. V. D.; JACQUES, J.; NEIL, A. (ed.). The Legacy of the Hippocratic treatise
The Nature of Man Theory of the four humors: In Greek Medicine from Hippocrates
Capa da edição veneziana de 1575 do Corpus Hippocraticum. to Galen: Selected Papers. 1. ed. BOSTON: Brill, 2012. 403 p. ISBN 9789004232549
9004232540.
Breve histórico: da melancolia à depressão
GOMES; SILVA, 2018

Galeno Avicena (Ibin Sina)


Aristóteles
Tipos de melancolia Canon da medicina
Problemata
melancolia romântica Sintomas cardinais: Flatulência, barulho no
medo e tristeza ouvido e palpitações
Breve histórico: da melancolia à depressão

Ionnes Cassianus Freira Hildegard


Acídia
Fraqueza moral, pecado
RADDEN, 2002; CORDÁS; EMILIO, 2017
Breve histórico: da melancolia à depressão

Robert Burton Immanuel Kant Philippe Pinel


melancolia x loucura Melancolia, mania e insanidade Tratamento humanizado
Inaptidão para o trabalho hipocondria Forma parcial de insanidade,
Suicídio delírio dirigido

LAWLOR, 2012; RADDEN, 2002


Contexto Histórico

Pois o que é uma picada de pulga para um, causa


insuportável tormento a outro, e o que um, por sua
singular moderação e atitude bem-composta, pode com
felicidade superar, um segundo é incapaz de sustentar,
e em cada pequena ocasião de abuso mal concebido,
injúria, dor, desgraça, perda, aborrecimento, boato etc.,
cede tão completamente à paixão que a sua tez fica
alterada, sua digestão perturbada, seu sono
desaparece, seu espírito se obscurece e seu coração
fica pesado […] e ele próprio é tomado de Melancolia.

Robert Burton, 1621


Breve histórico: da melancolia à depressão

Sigmund Freud Emil Kraepelin


Bases da psicanálise Psiquiatria científica
fundamentos e teorias da psicologia Bases neurobiológicas
Termo Depressão
LAWLOR, 2012
TEMOS 335% MAIS
Evolução no DSM PATOLOGIAS DESCRITAS
HOJE DO QUE HAVIA EM
1952
Diagnóstico

OMS - 1893 APA - 1952


Diagnóstico de Depressão

CID - 10 DSM - 5
Pelo menos 2 dos sintomas:
Pelo menos 1 dos sintomas:
1. humor deprimido;
1. humor deprimido;
2. perda de interesse e prazer;

3. fatigabilidade aumentada. 2. perda de interesse ou prazer

Duração mínima: 2 semanas Duração mínima: 2 semanas

OMS, 1993; APA, 2013


CID - 10 DSM - 5
Pelo menos 3 a 4 dos sintomas:
Pelo menos 2 dos sintomas:
3 - perda ou ganho de peso, redução ou
(a) concentração e atenção reduzidas; aumento do apetite;

(b) auto-estima e autoconfiança reduzidas; 4 - insônia ou hipersonia;

5 - agitação ou retardo psicomotor;


(c) ideias de culpa e inutilidade;
6 - fadiga ou perda de energia;
(d) visões desoladas e pessimistas do futuro;
7 - sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva;
(e) ideias ou atos autolesivos ou suicídio;
8 - diminuição da capacidade de pensar, se
(f) sono perturbado; concentrar ou indecisão;

(g) apetite diminuído 9 - pensamentos de morte, ideação ou tentativa


de suicídio.
OMS, 1993; APA, 2013
Breve histórico:
Da démence précoce ao Espectro da Esquizofrenia

Orestes Dr. Simão Bacamarte


Oresteia de Ésquilo
Casa de Orestes
525 a 456 a.C.
Breve histórico:
Da démence précoce ao Espectro da Esquizofrenia

A descoberta da bruxaria Philippe Pienl Benedicti Morel


1584 1745 - 1826 démence precoce
1853
Breve histórico:
Da démence précoce ao Espectro da Esquizofrenia

Edward Hecker Karl Ludwig Kahlbaum Emil Kraepelin


hebefrenia catatonia Dementia praexoc
1871 1874 1899
Ernst Kretschmer
1888-1926

Astênico x Pícnico
Breve histórico:
Da démence précoce ao Espectro da Esquizofrenia

Eugen Bleuler Kurt Schneider


Esquizofrenia (os 4 ou 6 As) Sintomas de primeira ordem
1911 1952
Os As de Bleuler

 Associação frouxa de ideias


 Afeto embotado
4  Autismo
6  Ambivalência

Atenção
Avolição

 Acessórios: Alucinações e delírios


Reforma
Psiquiátrica
Philippe Pinel
1745 - 1826
Hospital Salpêtrière
Philippe Pinel

Em 1793, o Governo Revolucionário o nomeou


médico chefe do Hospital de Bicêtre, localizado nas
proximidades de Paris. Diante das precárias
condições em que os alienados se encontravam,
Pinel solicitou autorização à Assembléia Nacional
para retirar as correntes dos pacientes, tratamento
usual para os doentes mentais. Tal gesto e sua teoria
foram contestados por muitos autores, mas bastante
referido como mérito do médico francês: "libertando
a loucura dos grilhões".
Jean-Étienne Esquirol
1772-1840
“alucinação”
Jean-Martin Charcot
1825 - 1893

Alunos:
Freud
Babinski
Gilles de la Tourette
James Parkinson
Avanços Evolutivos
Inglaterra
1948 – Serviço Nacional de Saúde
1959 – Lei de Saúde Mental
manicômio  hospital psiquiátrico
sistema “portas abertas”

França
1964 – Política de Setor
- hospitais centralizados + assistência na comunidade

Itália
1967 – Comunidades terapêuticas
Franco Basaglia
1924-1980

1943 – Medicina
1944 – prisão
1949 – forma-se
1952 – psiquiatra
1952 – livre docência
1961 – Gorizia
1970 – Parma
1971 – Trieste
1979 – Roma
Brasil
Basaglia em Gorizia

• proibir o uso de eletrochoque do hospital de Gorizia e


retirar as grades das janelas;
• remover as camisas de força que colocavam nos
pacientes mais inquietos, incapacitando-os de se
moverem;
• deixar de usar a bata branca, considerada símbolo de
poder e definidora da hierarquia dentro do asilo.
• depois de eliminar as camisas de força e as batas
brancas, tentou-se superar a desconfiança inicial dos
pacientes com a organização das primeiras reuniões e
assembleias.
Amanhã de manhã, à hora da visita, quando sem qualquer
vocabulário tentarem se comunicar com estes homens, possam
lembrar e reconhecer que neles vocês têm apenas uma
superioridade: a força.

Por um lado, uma ciência comprometida com a pesquisa sobre a gênese


de uma doença que reconhece ‘incompreensível’; por outro, um paciente
que, por sua suposta ‘incompreensibilidade’, foi oprimido, humilhado,
destruído pela organização asilar

O nível de degradação, objetivação, aniquilação total, que se observa,


não é a pura expressão de um estado de morbidade, mas sim o
produto de uma ação destrutiva de uma instituição cujo objetivo era a
proteção das pessoas saudáveis contra a loucura.

A coisa importante é que temos demonstrado que o impossível se


torna possível. Dez, quinze, vinte anos atrás era impensável que
um manicômio pudesse ser destruído.
No Brasil
O primeiro momento de preocupação efetiva com o
doente mental no Brasil foi em 1808 (período da
transferência da corte portuguesa para o Brasil),
quando se autorizou, por decreto, a construção do
hospício. O motivo de tal decisão “foi a perturbação
do funcionamento do Cais do Rio de Janeiro pelos
inúmeros loucos que por ali perambulavam”. Em
1852, 11 anos depois, foi inaugurado o Hospício
Pedro II, o qual recebeu, de imediato, 144 pacientes
oriundos dos porões da Santa Casa e de uma
instalação provisória que existia na Praia Vermelha.
Nise da Silveira
1905 - 1999

1926 – Medicina - BA
1933 – Psiquiatria
H. da Praia Vermelha
1936 – prisão
1944 – H. Pedro II
1952 – Museu da
Imagem do Inconsciente
1956 – Casa das
Palmeiras
1957 – aluna de Carl Jung
Reforma Psiquiátrica no Brasil
No Brasil, o processo se iniciou no final da década de 1970,
no contexto político de luta pela democratização. O principal
marco de sua fundação é a chamada "crise da Dinsam"
(Divisão Nacional de Saúde Mental), que eclode em 1978. Os
profissionais da área denunciavam as péssimas condições da
maioria dos hospitais psiquiátricos do Ministério da Saúde no
Rio de Janeiro e vários foram demitidos. No mesmo ano, no V
Congresso Brasileiro de Psiquiatria, uma caravana de
profissionais da saúde demitidos no processo de lutas da
Dinsam divulgou o Manifesto de Camboriú e marcou o I
Encontro Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental,
realizado em São Paulo, em 1979. Neste processo surge o
principal protagonista da reforma psiquiátrica brasileira, o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM).
Paulo Delgado
1951 - ainda vivo

1988 – Deputado
Constituinte

1989 – Proposta de Lei


para extinguir os
manicômicos

2001 – Lei 10.216


Dissecando a Lei 10.216
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001

Dispõe sobre a proteção e os direitos


das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o
modelo assistencial em saúde mental.
Lei 10.216

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas
de transtorno mental, de que trata esta Lei, são
assegurados sem qualquer forma de discriminação
quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião,
opção política, nacionalidade, idade, família, recursos
econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de
evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer
natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis
serão formalmente cientificados dos direitos enumerados
no parágrafo único deste artigo.
Lei 10.216
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de
transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde,
consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse
exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua
recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e
exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
Lei 10.216
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de
transtorno mental:
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo,
para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização
involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de
sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios
menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços
comunitários de saúde mental.
Lei 10.216

Art. 3o É responsabilidade do Estado o


desenvolvimento da política de saúde mental, a
assistência e a promoção de ações de saúde
aos portadores de transtornos mentais, com a
devida participação da sociedade e da família, a
qual será prestada em estabelecimento de
saúde mental, assim entendidas as instituições
ou unidades que ofereçam assistência em
saúde aos portadores de transtornos mentais.
Lei 10.216

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será


indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem
insuficientes.
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção
social do paciente em seu meio.
§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de
forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de
transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência
social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos
mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas
desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem
aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.
Lei 10.216

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou


para o qual se caracterize situação de grave
dependência institucional, decorrente de seu
quadro clínico ou de ausência de suporte social,
será objeto de política específica de alta planejada
e reabilitação psicossocial assistida, sob
responsabilidade da autoridade sanitária
competente e supervisão de instância a ser definida
pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do
tratamento, quando necessário.
Lei 10.216

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será


realizada mediante laudo médico circunstanciado que
caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos
de internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o
consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela
Justiça.
Lei 10.216

Art. 7o A pessoa que solicita


voluntariamente sua internação, ou que a
consente, deve assinar, no momento da
admissão, uma declaração de que optou
por esse regime de tratamento.
Parágrafo único. O término da internação
voluntária dar-se-á por solicitação escrita
do paciente ou por determinação do
médico assistente.
Lei 10.216
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será
autorizada por médico devidamente registrado no Conselho
Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o
estabelecimento.
§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo
de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério
Público Estadual pelo responsável técnico do
estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse
mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por
solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou
quando estabelecido pelo especialista responsável pelo
tratamento.
Lei 10.216

Art. 9o A internação compulsória é


determinada, de acordo com a legislação
vigente, pelo juiz competente, que levará
em conta as condições de segurança do
estabelecimento, quanto à salvaguarda do
paciente, dos demais internados e
funcionários.
Lei 10.216

Art. 10. Evasão, transferência, acidente,


intercorrência clínica grave e falecimento
serão comunicados pela direção do
estabelecimento de saúde mental aos
familiares, ou ao representante legal do
paciente, bem como à autoridade sanitária
responsável, no prazo máximo de vinte e
quatro horas da data da ocorrência.
Lei 10.216

Art. 11. Pesquisas científicas para fins


diagnósticos ou terapêuticos não
poderão ser realizadas sem o
consentimento expresso do paciente, ou
de seu representante legal, e sem a
devida comunicação aos conselhos
profissionais competentes e ao Conselho
Nacional de Saúde.
Lei 10.216

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no


âmbito de sua atuação, criará comissão nacional
para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua


publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001;


180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Desdobramentos
Em 1989, ao que parece fortemente influenciado
pela Lei 180/1978 de Franco Basaglia na Itália, o
deputado federal Paulo Delgado lançou um projeto
de lei (PL-3657/1989) propondo o fechamento de
todos os hospitais psiquiátricos do país (“...Dispõe
sobre a extinção progressiva dos manicômios...”).
Na época, tal projeto foi rejeitado na Câmara do
Deputados, por 23 votos contra 4. Neste mesmo
ano, o médico Pedro Delgado, irmão de Paulo
Delgado criou e passou a presidir uma ONG
intitulada ‘Instituto Franco Basaglia’.
Desdobramentos

Passaram-se doze anos até que uma lei fosse promulgada.


Na Lei 10.216/2001 lê-se em sua epígrafe literalmente: "Dispõe
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental". Ela assegura os direitos dos portadores de
transtornos mentais, priorizando o atendimento junto à
comunidade, assim como atenção em todos os níveis
("consentâneo as necessidades", Art.2º § único-I) e faculta a
hospitalização em instituições que não tenham características
asilares (Art.4º, § 3º). Na Lei, nenhum dos artigos aponta para
o fechamento de hospitais psiquiátrico ou utiliza a palavra
‘manicômio’, que estava em desuso no país devido ao seu
caráter pejorativo, ou a expressão “reforma psiquiátrica”.
Desdobramentos

Por sucessivos governos, dessa época até o ano de


2011, o escolhido para ser o Coordenador de Saúde
Mental do Ministério da Saúde o médico Pedro Delgado
(irmão do deputado que havia tido seu projeto de lei
rejeitado em 1989, Sr. Paulo Delgado). Além disto, o
Instituto Franco Basaglia recebia verbas do Ministério
da Saúde para dar suporte técnico e para treinar as
equipes de saúde de atenção em saúde mental. Estes
arranjos fizeram com que muitas das portarias que
deveriam implementar a Lei 10.216 tomassem um perfil
mais sintonizado com o proposto em 1989 que o
promulgado em 2001. Vejamos:
Desdobramentos
• O número de leitos psiquiátricos caísse de 120 mil para menos
de 30 mil (o que representa uma redução de uns 80%, se
considerarmos o crescimento populacional no mesmo período;
• O orçamento destinado a saúde mental é redirecionado
preferentemente para os recursos extra-hospitalares. A rede
hospitalar passou a receber menos da metade do montante;
• Criam-se aproximadamente 1500 Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) no Brasil, mas número ainda é considerado
insuficiente (inclusive pelo próprio Ministério da Saúde) e
pouco eficiente, para algumas poucas avaliações metódicas
realizadas sobre o modelo;
• Do orçamento geral da saúde, a parte que é destinada para a
saúde mental caiu de cerca de 5,7% para 2,6%.
Via de Mão Dupla da Reforma
Psiquiátrica Brasileira

Redução gradual
dos Leitos em Aumento do
Hospitais número de
Psiquiátricos, dispositivos de
especialmente de atenção extra-
grande porte hospitalares
(acima de 160
leitos)

O Ritmo está adequado? Como está a qualidade


e a capacidade resolutiva dos serviços?
Desdobramentos
erros que poderíamos ter evitado:
• um desmantelamento dos hospitais psiquiátricos muito mais
rápido que a criação de uma rede ambulatorial efetiva, gerando
o fenômeno da “porta giratória”;
• de usar o redirecionamento a assistência junto a comunidade
como uma tentativa de reduzir o orçamento para saúde mental;
• “a privatização da loucura”, onde somente aqueles que têm
recursos financeiros conseguem atendimento em todos os níveis
de atenção;
• de dificultar a hospitalização mesmo dos casos muito graves,
como forma de forçar a implementação de um novo paradigma;
• do despejo de doentes mentais e conseqüente aumento dos
mesmos entre a população carcerária e os sem tetos.
Cenário atual
Prevalência dos transtornos mentais na população geral:
• 3% - transtornos mentais severos e persistentes,
que necessitam atendimento contínuo;
• 9% - transtornos psiquiátricos graves decorrentes
do uso prejudicial de álcool e outras drogas;
• 20% - percentual estimado da população que
necessita de atendimento, seja contínuo ou
eventual em 01 ano.
• Suicídio – BRASIL é o oitavo país em números
absolutos (entre 5-9 casos por 100.000hab)
Visão de conjunto da área
• Grupo de transtornos de alta (e crescente )
prevalência e baixa cobertura assistencial.
• Modelo assistencial em transição do hospitalar
para o comunitário, ainda refletindo algumas
distorções do modelo asilar.
• Política pública necessariamente intersetorial, com
interfaces fundamentais com as áreas de
assistência social, direitos humanos, justiça,
trabalho, habitação etc.
Diretrizes
da Política de Saúde Mental
1. Redução progressiva de leitos em hospitais psiquiátricos- desinstitucionalização
1.1. O programa de redução planificada de leitos / PNASH-Psiquiatria
1.2 Implementação do programa “DE VOLTA PARA CASA”
1.3 Expansão dos serviços residenciais terapêuticos
1.4 Reorientação dos manicômios judiciários
2. Expansão e consolidação da rede de CAPS : o desafio da acessibilidade e qualidade
3. Inclusão sistemática das ações de saúde mental na atenção básica
4. Programa permanente de capacitação de profissionais
5. Promoção dos direitos de pacientes e familiares
6. Qualificação e avaliação dos serviços (incluindo ambulatórios e hospitais gerais)
7. Atenção integral a usuários de álcool e outras drogas
PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA HOSPITALAR NO SUS (PRH)

• Substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma


rede comunitária de atenção psicossocial;
• Redução especialmente nos hospitais de maior porte;
• Garantia de adequada assistência extra-hospitalar aos
pacientes;
• Garantia de avaliação sistemática da qualidade da
assistência prestada nos hospitais psiquiátricos
CAPS I

• Cobertura de pelo menos 15.000 hab. (20k???)


• Equipe: 01 médico com formação em SM
01 enfermeiro
03 profissionais de nível superior
04 profissionais de nível médio
• Funcionamento: 8 às 18hs, nos 5 dias úteis.
CAPS II

• Cobertura pelo menos 70.000 hab.


• Equipe: 01 médico psiquiatra
01 enfermeiro com formação em SM
04 profissionais de nível superior
06 profissionais de nível médio
• Funcionamento: 8 às 18hs, nos 5 dias úteis,
podendo comportar 3º turno (18-21 hs).
CAPS III (geral ou AD)
• Cobertura de pelo menos 150.000 hab.
• Equipe: 02 médicos psiquiatras
01 enfermeiro com formação em SM
05 profissionais de nível superior
08 profissionais de nível médio
• Equipe diferenciada para acolhimento noturno e
para sábados, domingos e feriados
• Funcionamento: 24 horas diariamente, incluindo
feriados e finais de semana
CAPS IV (AD)
• Cobertura de pelo menos 500.000 hab. (áreas
críticas de uso de drogas, principalmente crack)
• Equipe: 02 médicos psiquiatras
01 enfermeiro com formação em SM
05 profissionais de nível superior
08 profissionais de nível médio
• Equipe diferenciada para acolhimento noturno e
para sábados, domingos e feriados
• Funcionamento: 24 horas diariamente, incluindo
feriados e finais de semana – 10 à 20 leitos
CAPS i

• Cobertura de pelo menos 70.000 hab.


• Equipe: 01 médico psiquiatra ou neurologista ou
pediatra com formação em Saúde Mental
01 enfermeiro
04 profissionais de nível superior
05 profissionais de nível médio
• Funcionamento: 8 às 18hs, nos 5 dias úteis,
podendo comportar 3º turno (18-21 hs)
CAPS ad
• Cobertura de pelo menos 70.000 hab.
• Equipe: 01 médico psiquiatra
01 enfermeiro com formação em SM
01 médico clínico
04 profissionais de nível superior
06 profissionais de nível médio
• Funcionamento: 8 às 18hs, nos 5 dias úteis,
podendo comportar 3º turno (18-21 hs)
Tipologia de CAPS até
08.2017
Equipes Multiprofissionais em
Saúde Mental

• Tipo 1: 1clínico, 1 psicólogo e 1 Assistente Social


• Tipo 2: 1 psiquiatra, 2 psicólogo e 1 Assistente
Social
• Tipo 3: Tipo 2 + 01 outro profissional, ex.: TO, Fono,
outro que a gestão ache importante.
UNIDADES DE ACOLHIMENTO PARA USUÁRIOS DE DROGAS:
ADULTO E INFANTIL:
Composição da RAPS
Política de álcool e drogas
Caps AD IV
Comunidades Terapêuticas
Hospitais psiquiátricos
Hospitais Psiquiátricos
Hospitais Psiquiátricos
Leitos Psiquiátricos em HG

isoladamente por leito


Internação de Crianças e Adolescentes
Inclusão de recursos de Tratamento
Ambulatório Multiprofissional de Saúde
Mental

Custeio: 12.000 – 21.000 – 30.000


Atualização das Portarias do MS com detalhamento
de insentivos de implantação e custeio
Obrigado

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