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Arqueiro contra Doutor Garra: Legislação processual

Local: Dentro de um escritório em meio às sombras.

Personagens:

Arqueiro

Doutor Garra

- Parado aí Doutor Garra. Você está preso em nome da justiça. Brada audaciosamente o arqueiro
enquanto aponta uma flecha para o Doutor Garra que guardava papeis em uma misteriosa mala
numa sala de escritório escura.

- Como? O que? Mas, do que diabos você está falando? O que você está fazendo no meio da
noite num escritório administrativo, fantasiado com roupas da idade média e apontando uma
flecha contra mim? Você sabe que isso pode me ferir ou até matar certo? Retruca abusadamente
o Doutor Garra.

- O que? Quer dizer... Chega. Você não vai fugir nem me enganar com esse papinho. É você
quem está no meio de um escritório de noite com ações suspeitas. Eu sei que você está
tramando algo e vou impedi-lo. Seu império do mau acaba hoje. Responde o Arqueiro retomando
a confiança outrora perdida devido aos questionamentos do Doutor Garra.

- Sério? Quer dizer, vamos supor que você esteja certo e eu esteja executando algo ilegal. Você
sabia que existem procedimentos que asseguram a legalidade de uma prisão? Sabia que aqui,
em nosso país, não existe prisão de civil e que caso você testemunhe um ato ilegal você deve
ligar para a polícia e comunicar o crime para que ELES tomem as devidas providências. E que,
caso você me "prendesse" hoje todas as "provas" que você conseguisse juntar contra mim seriam
ineficazes por não estarem apoiadas por um mandato judicial previamente aprovado?

O Arqueiro baixa o arco desconcertado e pensativo.

- Não quer dizer eu... Sabe o que é? Eu nunca consegui passar no vestibular nem no exame para
policial. A verdade mesmo é que eu sempre reprovo na parte da legislação, não consigo entender
nada e confundo o que é parágrafo, inciso... É muito difícil... Lamenta o Arqueiro olhando para o
horizonte.

- Entendo. Por outro lado, portar armas brancas é uma contravenção penal. Bem como agir como
um justiceiro. Dentro do Estado democrático de direito existe uma hierarquia prevista pela lei
onde é conferida somente à polícia a atribuição de investigar e prender criminosos, enquanto ao
juiz caberá a escolha da pena adequada e sua aplicação mediante a lei e ao júri de decidir se o
réu ou suspeito é culpado ou não. Tudo isso dentro de um processo claramente descrito pela
constituição que assegura que todas as partes envolvidas no processo terão sua integridade
física, psicológica e moral asseguradas pelo Estado. Até onde me consta, você não representa
nenhuma destas partes bem como nenhum processo está sendo movido contra mim neste
momento. Portanto, penso que a única pessoa em clara atividade criminosa aqui neste momento
é você. Posto que não tem condições de comprovar que estou ou não no meu ambiente de
trabalho e/ou propriedade e que também não pode comprovar que tenha adentrado o recinto que
não é seu de maneira licita...

Nesse momento o Arqueiro que já estava caminhando sorrateiramente na direção contraria ao


Doutor Garra parte em carreira desesperada.

- Eu sabia que deveria ter aceito aquelas lições de direito penal que o Vigilante Noturno ofereceu
como workshop.

E mais uma vez, não sabemos se o mau perseverou ou não por conta da ignorância sobre a
legislação processual dos membros da Sociedade da Virtude.

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