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DOI: http://dx.doi.org/10.177651/1983-1870.2017v10n1p83-89
Aline Nataly Soares Vital RESUMO: Avaliar o risco para o desenvolvimento de ortorexia
Discente da Universidade de Pernambuco (UPE) Cam- nervosa e o comportamento alimentar de estudantes universitários.
pus Petrolina (PE), Brasil. Pesquisa qualitativa/quantitativa de caráter descritivo e transversal,
realizada em instituição de nível superior em Petrolina- PE. Utilizaram-
Amanda Beatriz Aureliano Silva se dois questionários na coleta de dados: o Orto-15 para avaliar o
Discente da Universidade de Pernambuco (UPE) Cam- comportamento de risco para desenvolver a ortorexia nervosa, e
pus Petrolina (PE), Brasil. um questionário de frequência alimentar para investigar o consumo
alimentar. Avaliaram-se 40 estudantes, de ambos os sexos, a partir
Emerson Iago Garcia e Silva dos 18 anos, cursando o primeiro e sétimo período de bacharelado
Graduado em nutrição pela Universidade de Pernam- em educação física. Em relação à ortorexia nervosa, constatou-se
buco (UPE) Campus Petrolina (PE), Brasil. que 33 (82,5%) indivíduos apresentaram comportamento de risco
para desenvolvê-la, prevalentemente no sexo masculino (88%). Com
Cristhiane Maria Bazílio de Omena Messias relação à série do curso, os alunos do primeiro período apresentaram
Docente Adjunta do Colegiado de Nutrição e do Pro- maior risco quando comparados ao sétimo período. Quanto ao
grama de Pós-graduação em Formação de Professores comportamento alimentar, escolhas saudáveis predominaram. A partir
e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universi-
dade de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina (PE),
da análise dos dados, houve prevalência do comportamento de risco
Brasil. para o desenvolvimento de ortorexia nervosa no público avaliado.
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objetivo avaliar o risco para o desenvolvimento de bolos, gorduras, açúcares, doces e bebidas açucaradas).
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Tabela 1. Prevalência do comportamento de risco ortoréxico trabalhos ou outros cenários, mas no nosso estudo não
versus escolaridade em estudantes universitários, Petrolina – foi encontrado. Logo, tudo o que se pode inferir é algo
Pernambuco, 2016
numérico, não estatístico.
1º 7º
Classificação Geral
período período p-valor* Tabela 2. Prevalência do comportamento de risco ortoréxico
n (%) n (%) n (%) versus sexo em estudantes universitários, Petrolina –
Pernambuco, 2016
Comportamento 21 12 (75 33
de risco (87,5%) %) (82,5%) p= Comportamento
0,4072 ortoréxico
3 7 Sexo p- valor
Sem risco 4 (25 %) Sim Não Total
(12,5%) (17,5%)
40 n (%) n (%)
Total 24 16
(100)
25
* Teste exato de Fisher. Masculino 22 (88) 3 (12)
(100) p=
Fonte: Elaboração própria. 0,3920
15
Feminino 11 (73,3) 4 (26,7)
(100)
A análise feita por sexo (Tabela 2) constatou que * Teste exato de Fisher.
88% do sexo masculino possuem comportamento de risco Fonte: Elaboração própria.
e 12% não possui risco para desenvolvimento de ortorexia
nervosa. Já o sexo feminino obteve o percentual de 73,3% Em relação ao consumo alimentar, os resultados
para comportamento de risco e 26,7% não possuem risco de maior relevância obtidos no QFA foram dispostos
para o desenvolvimento de ortorexia nervosa. A análise em tabelas, onde é possível verificar que os alimentos
estatística indica p = 0,3920, o que determina que não construtores mais consumidos foram o frango assado
houve associação entre comportamento ortoréxico e sexo. (42,5%); o feijão (35%), consumido diariamente em
Não houve associação estatística significativa entre torno de uma concha, sendo o carioca a variedade mais
as variáveis comportamento ortoréxico e escolaridade escolhida; a carne bovina assada (35%) e o ovo (30%),
(série do curso) e comportamento ortoréxico e sexo. Vale que na maioria dos casos é consumido frito (Tabela 3).
ressaltar que essa tal associação pode existir em outros Já os alimentos reguladores (Tabela 4) mais
Tabela 3. Consumo de alimentos construtores por estudantes universitários, Petrolina – Pernambuco, 2016
Alimentos Forma de
n (%) Frequência n (%) Tipo n (%)
construtores consumo
1 concha média,
Feijão 14 (35) 1 por dia 24 (60) Carioca 7 (17,5)
100g
1 pedaço médio,
Frango assado 17 (42,5) 2-4 por semana 25 (62,5)
180g
1 unidade média, De galinha,
Ovo 12 (30) 2-4 por semana 21 (52,5) 4 (15)
45g frito
Carne bovina assada 14 (35) 2-4 por semana 1 fatia média, 90g 19 (47,5)
consumidos foram a alface (42,5%), com uma frequência cenoura (40%); cuscuz (37,5%) e açúcar (35%), que na
de consumo de duas a quatro vezes por semana; a banana maioria das vezes é o cristal. No grupo de bebidas e
(40%); o tomate (35%) e o maracujá (22,5%). infusões, o desataque foi o café, consumido por 22,5% da
Quanto aos alimentos energéticos (Tabela 5), o população estudada, na maioria dos casos a quantidade
arroz foi o mais consumido, geralmente uma vez ao dia,
foi de uma xícara, de duas a quatro vezes por semana.
com o percentual de 57,5%, seguido por pão (47,5%);
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4 DISCUSSÃO
1 prato de sobremesa
Alface 17 (42,5) 2-4 por semana 10 (25) Lisa 16 (40)
cheio
1 copo requeijão,
Maracujá 11 (22,5) 2-4 por semana 30 (75)
250ml (suco natural)
Tabela 5. Consumo de alimentos energéticos por estudantes universitários, Petrolina – Pernambuco, 2016
Alimentos Forma de
n (%) Frequência n (%) Tipo n (%)
energéticos consumo
1colher chá cheio,
Açúcar 14 (35) 2-3 por dia 23 (57,5) Cristal 11 (27,5)
5g
1 escumadeira Branco e
Arroz 23 (57,5) 1 por dia 20 (50) 4 (15)
média cheia, 85g parboilizado
1colher sopa
Cenoura 16 (40) 2-4 por semana 21 (52,5)
cheia, 12g
A ortorexia nervosa é um comportamento que é afirmado por Rocha et al. (2015), pelo seu maior
recentemente proposto em que a qualidade dos conhecimento sobre nutrição.
alimentos torna-se uma obsessão e é caracterizada pela Segundo Belmonte e Luna (2016), a relação ao
rigidez acerca da dieta por obsessão patológica por padrão alimentar, seguido pelos estudantes de nutrição
alimentos considerados puros (BRYTEK-MATERA, 2012). e pelos profissionais da área de ciências nutricionais e da
A busca por uma alimentação saudável é motivada pelo saúde, como também por educadores físicos e esportistas,
desejo de aumentar o bem-estar e a saúde física (KOVEN é bastante discutida quando se fala em ortorexia. Ao mesmo
et al., 2015). Mas a partir do momento em que esse tempo vem sendo necessária a busca por associação
comportamento se torna uma obsessão, atingindo de entre um comportamento alimentar mais saudável e uma
forma negativa a vida do indivíduo, pode surgir o quadro obsessão doentia com escolhas alimentares, tendo em
de ortorexia nervosa. vista que o desenvolvimento da ortorexia pode levar ao
Um fator importante para o desenvolvimento desenvolvimento de um transtorno da conduta alimentar,
da ortorexia é o conhecimento a respeito da ciência da podendo haver transposição entre anorexia nervosa,
nutrição. Estudantes da área da saúde constituem um bulimia nervosa e ortorexia nervosa.
grupo suscetível a sofrer de ortorexia, de acordo com o
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De acordo com estudo conduzido por conheça o padrão de consumo alimentar de um grupo
Korinth, Schiess e Westenhoefer (2009), estudantes de ou de um indivíduo, uma vez que é uma ferramenta que
nutrição apresentam restrição dietética elevada quando possibilita a descoberta do consumo dos alimentos em
comparados aos outros estudantes da pesquisa, o que um determinado período de tempo (BASAGLIA; FREITAS,
significa que existe maior tendência para restringir 2015). É possível perceber, a partir dos dados obtidos no
a ingestão de alimentos. Nesse mesmo estudo, os QFA que os alimentos mais consumidos de cada grupo
estudantes de semestres mais altos obtiveram escores são alimentos que fazem parte dos hábitos alimentares
mais baixos de restrição dietética do que os alunos dos regionais, em que foi possível observar que há grande
semestres iniciais, mas por ser um resultado encontrado ingestão de alimentos in natura ou escolhas consideradas
também nos outros grupos, pode não estar relacionado mais saudáveis, o que pode estar relacionado com o risco
especificamente ao curso de nutrição. ao desenvolvimento do distúrbio.
Devido à educação profissional, os estudantes O fato de ter sido encontrada alta prevalência de
de “Educação Física e Esportes” podem ter grande comportamento de risco para o surgimento da ortorexia
preocupação com a forma e tamanho corporal. Embora requer atenção maior para o público em questão, visto
alguns estudos se preocupem com atitudes alimentares, que tal comportamento pode progredir ao ponto de
há falta de conhecimento sobre percepção da forma acarretar problemas nutricionais e psicossociais aos
corporal e a interação com atitudes alimentares dos indivíduos. Indivíduos com ortorexia nervosa podem
estudantes graduandos em educação física e esportes apresentar carências de nutrientes como o ferro, o cálcio
comparados com outras disciplinas, por exemplo, ciências e a vitamina B12, que causam anemia, osteoporose e
sociais. Como resultado da educação profissional dos hipovitaminose, respectivamente (BELMONTE, 2016).
estudantes dessas disciplinas, eles programam suas vidas Convém ressaltar, que o tamanho amostral
para irem ao encontro de comportamentos e aparência limitou nosso estudo e nossas análises.
saudável que podem levá-los à obsessão (NERGIZ-UNAL;
BILGIÇ; YABANCI, 2014).
5 CONCLUSÃO
O fato de os estudantes do primeiro período
estarem com o maior percentual de comportamento de
A partir da análise dos dados obtidos, é
risco para ortorexia nervosa, deve-se a evidência de os
possível perceber o comportamento de risco para o
mesmos estarem começando a adquirir conhecimentos
desenvolvimento de ortorexia nervosa no público
científicos e não possuírem uma base de informações
avaliado. É de fundamental importância maiores
concretas a respeito de uma vida saudável, acarretando
investigações sobre o assunto, além de uma divulgação
assim riscos para distúrbios alimentares por sentirem-se
mais ampla a respeito, já que ainda é pouco discutido.
obrigados a terem um estilo de vida e imagem condizente
A presença desse quadro em números tão elevados é
com a futura profissão (SOUZA, 2014).
preocupante, visto que a ortorexia nervosa pode trazer
O risco de desenvolvimento da ortorexia nervosa
problemas não apenas psicossociais como também
foi maior entre os homens em relação às mulheres
relacionados à carência de nutrientes, pelo isolamento
(88% versus 73,33%). Tal como afirmado por Donini et
social e exclusão de grupos alimentares, respectivamente.
al. (2005), é possível que com a atual tendência para a
presença de homens no mundo da cultura do “body”
(ou seja, a atenção dada ao aspecto físico, a fim de viver REFERÊNCIA
de acordo com o nível elevado estereótipos ditados pela
sociedade), os homens podem ter encontrado um padrão AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual
de comportamento ideal na obsessão alimentar pela diagnostic e estatístico de transtornos mentais: DSM-
escolha da comida pura. 5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Porto
A aplicação do QFA é importante para que se Alegre: Artes medicas, 2013.
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