Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Marcos Eugênio Vieira Melo
RESUMO
Palavras-chave: seletividade
seletividad penal; vida nua; biopolítica.
ABSTRACT
This article examines the question of selectivity of the penal system in the context of
biopolitics of Michel Foucault and Giorgio Agamben.
Agamben. In this regard, reference is made to the
formation of a neoliberal capitalist society which aims mainly profit and that excludes those
who can not get into the consumer market, making them disposable. Thus, the production of
bare life (homo sacer) is placed
placed in the presents days and the ruling classes criminalize sectors
considered unnecessary and irrelevant in society as the most damaging crimes the community
are shielded within the system. Finally, it proves to be the management of human life by
biopower and biopolitics, preserving it as useful and abandoning her as useless.
INTRODUÇÃO
1
Pós-Graduando
Graduando em Processo Penal pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) e Instituto de
Direito Penal Econômico e Europeu (IDPEE) da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra; Graduado
em Direito pelo Centro Universitário Tiradentes
Tiradente (UNIT – Maceió-AL); Advogado.
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 84
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
Entende-se
se aqui, Sistema Penal, no mesmo sentido que Eugênio
nio Raul Zaffaroni, como
um
controle social punitivo institucionalizado, que na prática abarca a partir de quando
se detecta ou supõe detectar-se
detectar se uma suspeita de delito até que se impõe e executa
uma pena, pressupondo uma atividade normativa que cria a lei le que institucionaliza o
procedimento, a atuação dos funcionários e define os casos e condições para esta
atuação. Esta é a idéia geral de “Sistema Penal” em um sentido limitado, englobando
a atividade do legislador, do público, da polícia, dos juízes, promotores
pro e
funcionários e da execução penal (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2006, p. 63 e 64).
2
De acordo com o DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional – Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias INFOPEN,, junho 2014: em uma população carcerária total de 607.731, 75% são de jovens de 18
a 34 anos, 68,2% são negros, 80% tem apenas o ensino fundamental completo e sua grande maioria envolvida
em tráfico de drogas (66.313) e crimes contra o patrimônio (97.206).
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 85
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
(...) a penalidade neoliberal é ainda mais sedutora e mais funesta quando aplicada
em países ao mesmo tempo atingidos por fortes desigualdades de condições
c e de
oportunidades de vida e desprovidos de tradição democrática e de instituições
capazes de amortecer os choques causados pela mutação do trabalho e do indivíduo
no limiar do novo século.
Com isso, em um cenário de total ausência de políticas públicas sociais que garantam
o mínimo existencial de parte da população (que é o caso da América Latina e, mais
especificamente, do Brasil), essa questão continua sendo vista como uma questão policial,
reforçando ainda mais o entendimento de que a repressão
repressão do crime tem como alvo,
3
Termo jurídico que significa que a pessoa tem condições econômicas e técnicas desfavoráveis e depende
depe de
ajuda (na maioria dos casos do Estado) para sobreviver com o mínimo possível.
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 86
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
especialmente, as classes trabalhadoras e as que sofrem repressão política, fazendo com que
estes setores sofram constantemente violência e ilegalidades da polícia (CALDEIRA, 2000).
Como assevera Augusto Jobim (AMARAL; ROSA, 2014,
2014, p. 14) “não é nenhuma
novidade que a punição desempenha uma função social complexa,, que a sanção pelo crime
não é simplesmente o seu único elemento essencial”. Assim:
Portanto, pode-se
se entender que existe um certo tipo de “controle social” de quais atos
que serão ou não mais propensos a punição. É o que diz Zaffaroni (2004, p. 60), ao afirmar
que “o certo é que toda sociedade apresenta uma estrutura
estrutura de poder, com grupos que
dominam e grupos que são dominados, com setores mais próximos ou mais afastados dos
centros de decisão”, consequentemente “de acordo com essa estrutura, se controla socialmente
a conduta dos homens, controle que não só se exerce
exerce sobre os grupos mais distantes do centro
do poder, como também sobre os grupos mais próximos a ele, aos quais se impõe controlar
sua própria conduta para não debilitar-se”.
debilitar
Entende-se,
se, com isto, que são esses grupos que dominam, que escolhem quais
condutas
tas que podem ser consideradas criminalizadas ou criminalizáveis. Deste modo, este
processo de criminalização é dividido em dois: criminalização primária e secundária. Segundo
Baratta (1999, p. 61), o mecanismo da produção das normas é conhecido por criminalização
crimin
primária, enquanto o mecanismo da aplicação das normas, isto é, o processo penal,
compreendendo a ação dos órgãos de investigação e culminando com o juízo, é conhecido por
processo de criminalização secundária.
Segundo Zaffaroni (2003, p. 43), criminalização
criminalização primária "é o ato e o efeito de
sancionar uma lei penal material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas" e a
criminalização secundária "é a ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece
quando as agências policiais detectam uma pessoa que supõe-se
se tenha praticado certo ato
criminalizado primariamente".
Destarte, compreende-se
compreende se que, apesar da criminalização primária ser também um modo
de controle social4, sua atuação é mais limitada, pois é realizada pelos legisladores
legislador no
4
Verifica-se
se isso por exemplo com a seleção criminalizadora, que ocorre mediante as diversas formulações
técnicas dos tipos penais, aliadas as espécies de conexão que eles determinam com o mecanismo das
agravantes/atenuantes, qualificadoras/efeitos privilegiadores. “Veja-se,
“Veja se, por exemplo, que o furto simples,
tipificado no artigo 155, caput do Código Penal é capitulação rara nas peças acusatórias do nosso país. Quase
sempre esse crime é qualificado por uma daquelas situações apresentadas no parágrafo 4º.
4º Esse tipo de delito é,
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 87
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
notadamente, praticado por pessoas pobres, razão pela qual a aplicação de qualificadoras que majoram a pena
vem bem a calhar. Percebe-se, se, também, que asas malhas dos tipos penais são, em geral, mais sutis no caso dos
delitos próprios de “colarinho branco”. Analisemos o art. 16 do mesmo diploma legal, que trata do instituto do
arrependimento posterior: “Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será
reduzida de um a dois terços”. Refere-se
Refere se aos crimes patrimoniais praticados sem violência ou grave ameaça à
pessoa.. O agente é beneficiado com uma redução de pena quando, por ato voluntário, repara o dano ou restitui o
objeto do delito. Em sua grande maioria, pessoas dos baixos extratos sociais são beneficiados por esse instituto,
pois são elas que, geralmente, praticam
praticam delitos contra o patrimônio Em sentido inverso, realizamos a análise da
Lei n. 8.137/90, que dispunha no artigo 14, que os crimes previstos em seus artigos 1.º, 2º e 3.º teriam extinta sua
punibilidade quando o agente (contribuinte ou servidor público) promovesse o pagamento do tributo ou
contribuição social antes do recebimento da denúncia. Não bastasse tamanho benefício, com o advento da Lei n.
10.684/2003, a extinção da punibilidade passou a ocorrer em qualquer fase do processo, e não antes do
recebimento
ento da denúncia. Vale lembrar que os crimes de sonegação fiscal afetam o Estado de forma drástica, vez
que o dinheiro que deixou de ser arrecadado poderia ter sido utilizado na realização de projetos sociais e outras
finalidades de efeito coletivo. Não há como negar, dessa forma, que a extinção da punibilidade do agente em
qualquer fase do processo transforma a justiça penal em mero instrumento de coação ao pagamento de impostos”
(JUNIOR & MENDES).
5
Foi neste sentido que Zaffaroni (1986, p. 59) fez crítica aos ordenamentos jurídicos penais, pois, destacou que a
lei penal estabelece tratamento diferenciado de censura de pessoas dependendo de sua estrutura social e
econômica e seu poder de consumo, afirmando que é uma clara violação ao princípio da igualdade reprovar com
a mesma intensidade pessoas que ocupam situações de privilégio e outras que se encontram em situações de
extrema pobreza.
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 88
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
Assim, enquanto o olhar se dirige aos segmentos pobres da população, permanecem sob
tranquila obscuridade os crimes perpetrados pelas classes hegemônicas,
hegemônicas, ou, nas palavras de
Foucault, “c’est
c’est que tout avait été amenagé, du haut en bas du système, pour que
fonctionnement les illégalismes et que les délinquances les plus profitables se multiplient”
multiplient -
“é tudo arranjado, de alto a baixo do sistema, para que funcionem os ilegalismos e os
delinquentes mais lucrativos se multipliquem” (FOULCAULT, 1975, p. V).
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 89
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 90
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
6
A essa relação de poder (biopoder) e a prática política de governar (biopolítica) Foucault chama de
governamentalidade. Entendida, em suma, “como conjunto de instituições, procedimentos, análises, reflexões,
cálculos, táticas que permitem exercer uma forma complexa de poder sobre a população,
população por uma forma de
saber que é a economia política e por instrumentos técnicos essenciais que são os dispositivos de segurança.
segurança (...)
pode ser vista como resultado de um processo através do qual o Estado de Justiça da Idade Média (uma
‘sociedade da lei’) foi convertido em Estado Administrativo (nascido de uma territorialidade correspondente
corresponden a
uma ‘sociedade de regramento e disciplina’) durante os XV e XVI e finalmente se ‘governamentalizou’ pouco a
pouco, ou seja, passou a ser definido não mais por um território, mas por uma superfície ocupada por uma
massa: a população,, instrumentalizada por um saber econômico e controlada por dispositivos de segurança”
segurança
(AMARAL; ROSA, 2014, p. 28), deste modo, esse governo não é exercido sobre o Estado, o território ou uma
estrutura política, mas sim sobre as pessoas, os indivíduos, os homens e as coletividades
coletividades (Segurança, Território,
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 91
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
População FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977- (1977
1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 164).
7
Para Foucault, o termo racismo não é empregado somente na sua concepção étnica, étnica, mas deve ser entendido
como todo e qualquer mecanismo de exclusão do diferente para assegurar a vida.
8
Inspirado em Foucault, mas também em Walter Benjamin, Hannah Arendt e Carl Schmitt, Agamben pensa a
biopolítica no entrecruzamento de quatro conceitos
conceitos da política ocidental: poder soberano, vida nua (homo
( sacer),
estado de exceção e campo de concentração. Sua reflexão estabelece uma nítida correlação entre o caráter
rotineiro dos assassinatos em massa dos séculos XIX e XX e a normalização do estado de d exceção entre o
mesmo período de tempo. No cerne desta correlação está o princípio político da soberania, que, segundo
Agamben, seria a instância que, ao traçar o limite entre a vida protegida e a vida exposta à morte, politiza o
fenômeno da vida ao excluí-la la e incluí-la
incluí la simultaneamente da esfera jurídica, motivo pelo qual o regime
biopolítico pode garantir tanto o incentivo quanto o massacre da vida (DUARTE, p. 9).
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 92
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
próprio a um indivíduo ou grupo em uma comunidade política – ao zöé – “vida nua” -, ele
sugere que o nascimento
mento do biopoder na modernidade marca o ponto no qual a vida biológica
dos sujeitos entra na política e pertence inteiramente ao Estado (RABINOW; ROSE, 2006, p.
33).
Portanto, a importância de Agamben está, não apenas na continuidade ao pensamento
de Foucault
cault sobre a biopolítica, mas no estabelecimento de uma relação íntima entre o poder
jurídico e o poder biopolítico, pois esta relação não foi mencionada nos trabalhos de Foucault,
que separava poder soberano e biopolitica9.
Com isso, a biopolítica exclui
exclui do contexto social parte da população considerada
desnecessária para atender aos padrões de consumo da sociedade capitalista neoliberal. Neste
sentido, para a lógica neoliberal, “só tem valor e utilidade para o sistema aqueles sujeitos que,
de certa forma,
a, se ajustam aos padrões impostos e contribuem com a acumulação de capital”.
Os demais “são considerados ‘desajustados’ e redundantes, portanto, não merecedores do
convívio social” (ASSIS & WERMUTH, 2015).
Igualmente, estes problemas são inseridos na ordem
ordem do direito penal, que não mais se
limita a dizer quais condutas devem ser consideradas crimes e como puni-las,
puni uma vez que
trata-se
se agora de uma gestão da criminalidade, ou questão de penalidade, isto é, gerir quais
delitos que devem ser permitidos e a quantidade de pessoas que devem ser deixadas impunes
(FOUCAULT, 2008, p. 350).
De tal modo, é bom ressaltar que, como visto anteriormente, a “clientela” do direito
penal é em sua grande maioria de pessoas de classes baixas, ou seja, pessoas que estão
ridas na margem da sociedade moderna e podem ser consideradas “estranhos”10 ao
inseridas
mundo. Estranhos, estes, que não podem viver em conjunto com os detentores do saber/poder
e devem ser banidos dos limites do “mundo ordeiro” e impedidos de se comunicar com os do
lado de dentro.
Em outras palavras, deve-se
deve se “confinar os estranhos dentro das paredes visíveis do
gueto”, bem como “expulsar os estranhos para além das fronteiras do território administrado
ou administrável; ou quando nenhuma das duas medidas fosse factível,
factível, destruir fisicamente os
estranhos” (BAUMAN, 1998, p. 29).
9
Importante ressaltar que, distintamente de Foucault, Agamben refere a biopolítica não à modernidade,
m mas à
tradição do pensamento político do ocidente, pois a instituição do poder soberano é correlata à definição do
corpo político em termos biopolíticos.
10
Palavra utilizada por Zygmunt Bauman em seu livro O Mal-Estar da Pós-Modernidade
Modernidade, ao se referir as pessoas
que são excluídas dos padrões do mundo atual: “[...] os estranhos são as pessoas que não se encaixam no mapa
cognitivo, moral, ou estético do mundo – num desses mapas, em dois ou em todos os três; [...] Os estranhos
exalaram incerteza ondee a certeza e a clareza deviam ter impetrado” (BAUMAN, 1998, p. 27 e 28).
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 93
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
Assim, para Agamben, a antiga declaração ritual do homo sacer permanece presente
hoje na capacidade do Estado soberano de estabilizar o estado de exceção, para alocar aqueles
expropriados dos direitos do bíos para aquelas zonas, e para torturar ou matar aqueles
reduzidos ao status de zöé – vida nua – sem constrangimento legal.
Do mesmo modo, a partir da modernidade e, sobretudo na contemporaneidade, quando
o estado de exceção passa a tornar-se
tornar e regra, o espaço da vida nua, situado originalmente à
margem do ordenamento, vem a coincidir com o espaço político e, assim, exclusão e inclusão,
zöé e bíos,, direito e fato entram em uma zona amorfa e tornam-se
tornam se indistinguíveis. Este espaço
Agamben chama dee campo de concentração, que é o espaço biopolítico por excelência, pois
ao embaralhar estas categorias, o poder soberano tem diante de si uma vida nua sem qualquer
mediação, totalmente desqualificada, à mercê de um poder que no limite, é um poder de morte
(AGAMBEN, 2004, p. 16).
Portanto:
A exceção é uma espécie da exclusão. Ela é um caso singular, que é excluído da
norma geral. Mas o que caracteriza propriamente a exceção é que aquilo que é
excluído não está, por causa disso, absolutamente fora de relação
relaç com a norma; ao
contrário, esta se mantém em relação com aquela na forma da suspenção. A norma
se aplica a exceção desaplicando-se,
desaplicando retirando-se
se desta. O estado de exceção não é,
portanto, o caos que precede a ordem, mas a situação que resulta da sua suspensão
su
(AGAMBEM, 2004, p. 25).
11
Para Bauman, estes segmentos são considerados “refugos” da sociedade, e por não poderem mais ser
removidos para depósitos de lixo distantes e fora dos limites da “vida normal”, precisam ser lacrados em
contêineres fechados - fornecido pelo sistema penal como prisão, que serve para depositar estes sujeitos
irrelevantes (BAUMAN, 2005).
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249
OLHARES PLURAIS - Artigos 94
Dossiê Especial: 40 anos de Vigiar e Punir
conter o estado de exceção (que se verifica no exercício do poder punitivo) porque o estado de
exceção
ção sustenta o estado de direito.
Em outras palavras, não é possível pensar hoje o estado de direito sem o exercício do
poder punitivo, o que faz concluir que as figuras do criminoso, desviante ou inimigo, não são
privilégio de um Direito Penal de Exceção,
Exceção, mais são também essenciais para o Direito Penal
do Estado Democrático de Direito, ou que “permanecerá a possibilidade de criação de um
espaço de exceção constituinte do estado de direito, permitindo que a vida nua,
nua a partir desse
espaço indiscernível de atuação soberana, possa ser morta”, bem como que “a morte ocorre
sob os auspícios do Estado de Direito, e não fora dele” (COSTA, 2015).
Assim, a biopolítica dá novo sentido ao poder punitivo, já que permite que a vida
possa ser controlada sob a justificativa
justificativa de segurança/proteção de bens jurídicos (criados pelos
grupos dominantes), conferindo com isso, um “espaço legítimo” de atuação do poder punitivo
(criminalização secundária), partindo de um discurso que assegura e aniquila a vida a
depender se incluídoo ou excluído – homo sacer – na sociedade neoliberal.
CONCLUSÃO
Portanto, pode-se
se dizer que a função principal dos discursos jurídicos-penais
jurídicos
contemporâneos é o controle das massas populacionais, fazendo com que os dispositivos de
segurança atuem no limite da legalidade/não-legalidade,
legalidade/não legalidade, para colocar “cada um no seu devido
lugar”.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Augusto Jobim do; ROSA, Alexandre Morais da. Cultura da Punição:
Punição a
ostentação do horror.. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.
CALDEIRA, Teresa Rio do Pires. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São
Paulo.. São Paulo: Editora 34, 2000.
RABINOW, Paul; ROSE Nikolas. O Conceito de Biopoder Hoje. Política & Trabalho –
Revista de Ciências Sociais,
Sociais nº 24, Abril de 2006 – p. 27-57.
ZAFFARONI, Eugênio Raúl et. al. Direito penal brasileiro:: teoria geral do direito penal.
penal Rio
de Janeiro: Ed. Revan, 2003 vol. 1.
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 14, Ano 2016 ISSN 2176-9249