12 JCS AGOSTO 2017
cenário
Como a tecnologia está mudando o mercado
de seguros
O rápido avanço da tecnologia, a princípio, deixou o segmento preocupado, mas pode ser um grande facilitador na vida
dos corretores de seguros e dos consumidores
Por Thamires Costa
Nos últimos anos, diversas empresas inovadoras vêm
balançando alguns mercados que permaneceram intac-
tos durante décadas. A Netflix, por exemplo, passou de
uma locadora online, que realizava entregas dos filmes
na casa dos clientes, para um dos maiores serviços de
streaming de filmes e séries do mundo, inclusive pro-
duzindo conteúdo próprio. A Uber é outro exemplo
de disrupção no universo do transporte particular, que
colocou taxistas em alerta no mundo inteiro. O mercado
financeiro também acompanhou a tendência, lançando
as fintechs, que oferecem serviços bancários online, sem
burocracia e que deixou os bancos preocupados. Era
uma questão de tempo até as inovações chegarem ao
mercado de seguros.
As chamadas insurtechs, junção da palavra insurance
(seguro) e technology (tecnologia) ganharam força em
meados de 2015, quando o total de investimentos
superou os US$ 3 bilhões em empresas do gênero ao
redor do mundo. Nos Estados Unidos, na Europa e na
China, o surgimento dessas companhias tem se tornado
comum. No Brasil a aparição dessas startups ainda é um
pouco tímida, mas está deixando o mercado de seguros
em alerta. Atualmente, o País conta com 14 empresas do
segmento, de acordo com levantamento do FintechLab.
Para debater o assunto, a Susep publicou em julho a
Portaria nº 6.964, constituindo a Comissão Especial
de Inovação e Insurtech, que visa acelerar o processo de
regulamentação dessas empresas.
As insurtechs não prometem somente uma aproxi-
mação mais digital com os consumidores, mas também
facilitar outros processos do dia a dia em seguro, como
vistoria, a precificação do produto e a subscrição dos ris-
cos. Se for para aprimorar os procedimentos e alavancar
as vendas no segmento, por que então, os corretores de
seguros e o mercado têm tanto receio dessas iniciativas?
Para o coordenador da Comissão de Tecnologia do
Sincor-SP e CEO da Minuto Seguros, Marcelo Blay,
toda novidade gera resistência. “Mas, esse é o momento
ideal de contar com parceiros que passam confiabilidade,
como profissionais qualificados e que saibam vender
com destreza e qualidade. As próprias seguradoras com
as principais entidades do setor podem fazer um belíssi-
mo trabalho no sentido de difundir a cultura do seguro
e fomentar o empreendedorismo no setor”, avalia.
O vice-presidente técnico da HDI Seguros, Fabio
Leme, pontua que tudo é uma questão de adaptação.
“Processos novos passam por um período de transição”.
Leme ainda revela que o mercado está de olho nas star-
tups por bons motivos. “Elas podem nos trazer soluções
digitais, que podem afetar mecanismos e formatos de
vendas, trazendo mais facilidade para os corretores de
seguros e também para os consumidores.”
Tecnologia é aliada
Em um mundo altamente conectado, onde a velo-
cidade da informação é incontestável, além de uma
maior variedade de opções no mercado, o consumidor
aprendeu a exigir serviços qualificados e respostas rápi-
das. A partir daí, as seguradoras apostam em diversos
tipos de tecnologia que facilitam o relacionamento com
o segurado e com o corretor de seguros. Aplicativos
que permitem a consulta de sinistros, acionamento
de assistência 24 horas, acompanhamento do guincho
etc, já estão disponíveis na maioria das seguradoras
do mercado e aprimoram a experiência da população
com o seguro. Segundo relatório da Accenture, 94%
das seguradoras acreditam que a adoção de um modelo
de negócio baseado em plataformas e o envolvimento
em ecossistemas de parceiros digitais são fundamentais
para o seu sucesso. Ou seja, daqui pra frente, os serviços
serão, cada vez mais, digitais, e o corretor precisa estar
atento a essas mudanças.
O gerente de marketing digital da Allianz Segu-
ros, Ivan Clemente, ressalta que a integração entre
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A internet é um meio, não um fim. Ela ajuda Exemplos de

a trazer clientes para o mercado e facilita processos Insurtechs pelo mundo
operacionais, mas não substitui a consultoria prestada
por um especialista, então, pode-se concluir que o
atendimento humano é a estratégia principal e que (Alemanha) corretora de seguros online
se mostra efetiva no mercado de seguros online. que opera através do crowdfunding, sistema
de vaquinha online, entre amigos;
Marcelo Blay
coordenador da Comissão de Tecnologia do Sincor-SP

(EUA) oferece serviço estritamente online

com cobertura mensal a partir de US$ 5
para o morador e a partir de US$ 35 para o
proprietário, devolvendo o dinheiro ao final
da apólice, caso não ocorra sinistro;

(EUA) calcula o valor do prêmio mensal

de acordo com a quilometragem rodada,
num conceito chamado de pay as you go
(pague como anda);

(EUA) seguradora permite ao usuário escolher

os corretores e seguradoras tem que ser maior, com o
compartilhamento das informações, com adaptação ao
sistema das corretoras, para que a informação chegue
primeiro ao corretor e ele possa entender as necessi-
dades do seu cliente. “As seguradoras devem focar na
criação de produtos simples e intuitivos, entregando
serviços de qualidade, o corretor deve focar em vendas
e no atendimento ao cliente, enquanto as ferramentas
devem ter soluções sistêmicas de gestão, que facilitam
os processos”, completa.
Para o corretor de seguros Geílson Souza Lima, atual-
mente, é impossível trabalhar sem o auxílio da tecno-
logia, mas ressalta que o corretor pequeno ainda tem
dificuldades em ter acesso a elas. “Por mais que existam
sistemas no mercado, ainda é individual a conexão
entre a seguradora e o corretor. Então, a liberação das
ferramentas fica a cargo do relacionamento e produção
de cada companhia, e as ferramentas independentes
ainda são caras para o pequeno corretor custear indivi-
dualmente”, explica.
A corretora de seguros Rosana Antônio de Matos
Abarca também acredita que o corretor de pequeno
porte é o que mais sofre, juntamente aqueles que estão
há muitos anos no mercado. “Para os corretores mais
antigos é muito complicado se acostumar com essas
tecnologias, eles precisam ter uma assistência maior para
utilizar essas ferramentas”, declara. “Se não nos atuali-
zarmos com o que está acontecendo fora da corretora,
participando de cursos, palestras, vamos ficar para trás.”
De acordo com o executivo da Minuto, o uso da
tecnologia em estado avançado é um dos grandes pontos
para que o mercado de seguros ganhe mais visibilidade.
“O pagamento de sinistros “real-time” por meio do uso
de inteligência artificial; precificação e subscrição de
riscos flexíveis; uso de machine learning e aplicativos
que permitem aos clientes a consulta a suas apólices;
processos simplificados integrados por webservice para
corretores e prestadores de serviços; grande conecti-
vidade dos corretores com as seguradoras; produtos
personalizados e on-demand são outras formas que o
mercado de seguros ganha notoriedade”, completa.
Sendo assim, o corretor de seguros deve ter uma
estratégia para se adaptar a toda essa tecnologia, sempre
lembrando que a internet, na verdade, é um meio, não
um fim. “Ela ajuda a trazer clientes para o mercado
e facilita processos operacionais, mas não substitui a
consultoria prestada por um especialista, então, pode-
se concluir que o atendimento humano é a estratégia
principal e que se mostra efetiva no mercado de seguros
online”, declara Blay.
a cobertura para objetos como notebook,
smartphone, câmera fotográfica etc,
por períodos determinados;
(Brasil) plataforma móvel que mede o valor
do seguro no conceito pay how you drive
(pague como dirige), em que o que conta
é a forma como o motorista dirige.
Tendências para
os próximos anos
Seguro on demand: cobertura específica para
períodos limitados;
Big Data: volume de dados dos usuários,
coletados da navegação na internet, das redes
sociais, download de aplicativos etc, e que
são utilizados para criação de novos produtos
e serviços;
Internet das coisas (Internet of Things - IoT):
conexão entre dispositivos eletrônicos utilizados
no dia a dia.