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COMO É POSSÍVEL "PENSAR" NESSA SOCIEDADE?

Jucelaine Isabel Pereira Moraes

Resumo

O presente artigo vem a demonstrar a necessidade de uma consciência de


classe oprimida, por ser necessário desvelar nessa sociedade a ideológia dominante.
O opressor, geralmente, recorre a estratégias para recriar a lógica de sobrevivência do
capitalismo, manipulando a lógica pretendida, que é a lógica capitalista, se valendo de
uma educação voltada a reprodução. Este artigo descreve uma abordagem, a uma
educação bancária, que permite a manutenção a esse modelo, precisamos de
educadores venham a definir os métodos que tem como base a "prática educativa"
transformadora. A metodologia desenvolvida baseia-se na ruptura com a consciência
ingênua para transformar uma prática que serve a reprodução em uma que seja para
transformação radical dessa sociedade capitalista. A solução desse dilema está na
formação continuada dos professores que devem desenvolver atividades que venham
a emancipar seus sentidos no que fazer pedagógico.

Palavras-chave: Ideologia. Consciência de Classe. Educação Libertadora. Motivação.

1. Introdução

Tudo depende de nossa compreensão. O mundo é conhecível e nós precisamos


conhecer tudo, para decidirmos e nos posicionarmos nele. Freire menciona que temos
que romper com a consciência ingênua.
Não poderia ser de outra forma, que em pleno século XXI, nos deparamos com
uma educação, voltada para a manutenção do sistema capitalista, um mercado onde
poucos na sociedade se favorecem, na exploração do trabalho de outros, numa luta
desenfreada da maximização do lucro. Onde a tecnológia e a ciência, muitas vezes,
só aumentam a exclusão social. Que repassa através da educação o valor do ter, por
ver no ser humano, uma mercadoria e usando a prática pedagógica como esquema
ideológico que sustentam os mecanismos de dominação da classe dominante.
Por isso, o modelo de educação bancária só pode acontecer de forma
antidialógica, pois o método aqui é o do repasse, para a manutenção do status quo
sem se preocupar com o ser mais e, com um único intuito o de te preparar para o
mercado de trabalho, ou melhor, para serem mais um consumidor. Nessa visão essa
educação se torna ideal para a sociedade capitalista.
Através das leituras de Paulo Freire, observa-se que a sociedade é dividida
entre duas classes distintas, a de opressores e oprimidos. Nessa sociedade as
relações sociais, em sua maioria, são de opressão e isso acontece, também, no
processo educativo entre professor - aluno. Nota-se no método de alfabetização dele
uma teoria voltada para conscientização do ser humano, nas suas reais condições no
mundo e nossas possibilidades de vir a ser mais. Menciona, também, que somos
opressores quando impedimos do outro o vir a ser. Qualquer um, poderá agir como um
"tatu", na vida de seus alunos, sendo essa uma atitude inesperada de um professor
que trabalha com uma educação libertadora, isso seria matar o outro e, em muitas
vezes, sem dar-se conta, pois o professor também precisa ser educado para que
ocorra uma educação ambiental problematizadora, e se não for assim, sua prática
servirá como mecanismo de dominação. Ser "tatu" na visão de Freire é ser opressor.
Para Freire a realidade do oprimido tem sido essa, que para transformarem-se
em um novo homem eles têm que ser agora, não mais oprimidos, mas opressores,
para eles, a superação da contradição como nos esclarece que:

"[...] num primeiro momento deste descobrimento, os oprimidos em vez


de buscar a libertação na luta e por ela, tendem a ser opressores
também, ou subopressores. A estrutura de seu pensar se condiciona
pela contradição vivida na situação concreta, existencial, em que se
”formam” . O seu ideal é, realmente, ser homens, mas, para eles, ser
homens, na contradição em que sempre estiveram e cuja superação
não está clara, é ser opressores. Este são seu testemunho de
humanidade. [...] os oprimidos assumem uma postura que chamamos
de “aderência” ao opressor [...]“ (FREIRE, 2005).

2. Consciência de Classe

Esse é o interesse da educação bancária ambiental, manter nos oprimidos a


consciência do medo, e como esses não se sentem seguros como um novo homem,
por conhecerem, somente duas versões: ou tu oprime, ou tu és oprimido. Agora
quando esse toma a consciência de si como pessoa oprimida e consciência de classe
oprimida, é ai que começa a transformar a realidade histórica, por romper com a
percepção ingênua, e com uma percepção fatalística da realidade objetiva.
Freire 2005, menciona que o fatalismo cede seu lugar ao ímpeto de
transformação e de busca, de que os homens se sentem sujeitos. Entretanto, a
responsabilidade do professor revolucionário, envolvido com a educação
problematizadora da educação ambiental como prática de liberdade, baseia-se no
método dialógico, por acreditar no homem como ser inconcluso, consciente de sua
inconclusão, e seu permanente movimento do ser mais.
Freire enfatiza:

“Por isso mesmo é que, qualquer que seja a situação em que alguns
homens proíbam a outros que sejam sujeitos de sua busca, se instaura
como situação violenta. Não importa os meios usados para essa
proibição. Fazê-los objetos é aliená-los de suas decisões, que são
transferidas a outro ou a outros.” (FREIRE, 2005).

Então, agir de outra forma é uma violência contra os homens, pois somos seres
históricos e quando engajados na transformação da sociedade, juntos, buscamos
resolver os conflitos, sejam esses em curto ou a longo prazo, mas o que precisamos
para que o educador tenha uma prática que venha a ser revolucionária? Sei que o
educador deve também ser educado, porque caminhamos para uma outra sociedade,
por isso, a educação para os educadores tem que ser, também, de libertação. É como
nos enfatiza Freire, que ninguém educa ninguém, assim também, como ninguém
liberta ninguém, tudo acontece quando estamos juntos problematizando e
mediatizados pelo mundo. Devido as evoluções técnico-cientìficas, se faz necessário
educadores conscientes de sua ação pedagógica para uma transformação radical,
pois um pensar complexo leva a um agir consciente.

3. Educando os Educadores

Os termos motivação e motivo são muito usados na literatura educacional. que


quer dizer mover, por em movimento, induzir para a ação. Assim, a motivação e o
motivo são a força que colocam a pessoa em ação e que desperta sua disponibilidade
de se transformar. É aquilo que nos move que nos leva a agir e a realizar alguma
coisa.
Os motivos ativam o organismo na tentativa de satisfazer as necessidades e
dirigem o comportamento para um objetivo que suprirá uma ou mais necessidades.
Podemos dizer que essa questão representa o centro das discussões pedagógicas e
que geram outros temas ligadas a elas, como o fracasso escolar, a indisciplina, a
aprendizagem mecânica, a evasão escolar, tudo causado pela total falta de motivação
para o estudo por parte dos alunos e dos educadores, uma prática com métodos
tradicionais são causas da desmotivação para continuar estudando.
Analisando, também, que a desmotivação do aluno tem origem numa prática,
centrada no reproduzir ao invés de recriar, sem nenhuma significação para ele e, por
esse motivo, não ativam seus sistemas cognitivos para atribuírem significados às
informações recebidas.
Segundo Freire:

"[...] O que mantém uma pessoa, um professor vivo como um educador


libertador, é a clareza política para entender as manipulações
ideológicas que desconfirmam o seres humanos enquanto tais. [...]"
(Freire, 2001).

O educador que desenvolve uma prática libertadora oportuniza ao aluno a


possibilidade de vir a ser mais do que é hoje, estimula o outro para a descoberta,
desafiando-os ao recriar. Se faz necessário o professor, provocar o aluno para que ele
se sinta motivado a recriar novos conhecimentos a partir destes desafios.
Ainda hoje, se ouve professores reclamando de alunos que não tem interesse
no aprendizado, o que os leva, muitas vezes, a uma prática bancária. Existe uma
verdadeira aversão pelo estudo, um conformismo, uma dificuldade de refletir sobre um
texto, de elaborar questionamentos e de raciocinar diante de cálculos e problemas
matemáticos. Os alunos parecem que se negam totalmente a aprender. Por que isso
acontece? Por ser esta uma prática bancária, totalmente desvinculada do contexto.
Para Freire: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo" (Freire, 2005).
Numa educação bancária o professor é o detentor do saber e o aluno o receptor
desse saber. O professor, não consegue entender porque o aluno age dessa maneira,
como ele aprende e muito menos o que precisa fazer para que possa motivá-lo e,
assim, ajudá-lo no processo de construção de seus conhecimentos.
A preocupação maior do professor está em cumprir o conteúdo programático e
não com a aprendizagem do aluno. Isso acontece porque grande parte dos educadores
ainda não tem consciência de que seu agir pedagógico deve estar subordinado ao
aluno, ou seja, que as situações propostas em sala de aula devem depender do nível
de desenvolvimento cognitivo do aluno partindo das necessidades e da realidade do
aluno.
Em relação a realidde do aluno, a realidade do aluno, Freire propoem:

"A história é sempre uma possibilidade e não fixada ou predeterminada.


Igualmente, o educador(a) progressista deve estar sempre em
mudança, continuamente reinventando-me e reinventado o que significa
ser democrático em seu próprio contexto especìfico cultural e histórico."
(Freire, 2001).

Parto do pressuposto que tanto o professor quanto o aluno, muitas vezes, vão
desmotivados para a sala de aula e com isso, o processo de aprendizagem não ocorre.
É preciso ter motivação partindo do professor para que o aluno também se motive e
que haja uma troca entre eles em que o professor oriente a aprendizagem do aluno e
este interaja no processo.
Além de um método, para Freire o método é:

"[...] a forma exterior e materilizada em atos, que assume a propriedade


fundamental da consciência: a sua intencionalidade. O próprio da
consciência é estar com o mundo e este procedimento é permanente e
irrecusàvel. [...] a consciência é pois, método [...]" (Freire, 2005).

4. Considerações Finais

Não pretendo aqui dar uma palavra final sobre o assunto, mas sim dar uma
pequena contribuição para que surjam novos questionamentos. Urge a necessidade de
emancipar os sentidos do que fazer pedagógico ajudando-nos no nosso desempenho
dentro do processo de aprendizagem para que possa haver mudanças na prática
pedagógica, pois se faz necessário uma outra sociedade, justa e igualitária.
Diante desse fato se faz necessário que o educador venha a ter um pensar
complexo para um agir consciente e e vá de encontro com as necessidades de uma
educação libertadora. Para isso acontecer, temos que ter clareza da manipulação
ideológica que a classe dominante exerce sobre nós profissionais da educação, usa a
educação como mecanismo de reprodução e manutenção do status quo. Cabe ao
educador perceber o que está na essência olhando a aparência. Precisamos de um
engajamento na luta com consciência de classe oprimida. Para que possamos, como
menciona Freire, fazer da história uma possibilidade, nunca congelada. Isso se torna
possível por sermos seres inconclusos é estarmos em permanente busca do ser mais,
fazendo parte de nossos estudos a formação continuada, trazendo a motivação tão
esperada.

5. Referências Bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE. Paulo; Ana Maria Araújo Freire organizadora. Pedagogia dos Sonhos
Possíveis. São Paulo. Editora UNESP, 2001.

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