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PROJETO DE DESARENADORES EM APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS


COM ADUÇÃO POR CANAL DE DERIVAÇÃO-PARTE 1: MÉTODOS
CONVENCIONAIS

Conference Paper · August 2018

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3 authors:

Marcus Vinícius Estigoni Guilherme de Lima


NHC Brasil Consultores - Especialistas em Recursos Hídricos
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Jose A. Vasquez
Northwest Hydraulic Consultants (NHC)
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PROJETO DE DESARENADORES EM APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS COM
ADUÇÃO POR CANAL DE DERIVAÇÃO – PARTE 1: MÉTODOS CONVENCIONAIS
Estigoni, M. V.1; Lima, G. de1; Vasquez, J. A.2
1. NHC Brasil Consultores. Rua Funchal, 263 – 2º. Andar, conj. 21, Vila Olímpia, São Paulo-SP.
E-mail: mestigoni@nhcweb.com; glima@nhcweb.com
2. Northwest Hydraulic Consultants. 30 Gostick Place, North Vancouver, BC, Canadá

Resumo: Reservatórios suficientemente grandes são capazes de promover a deposição do


sedimento, porém em pequenos reservatórios e naqueles que já assoreados a carga de sedimento
afluente ao sistema de adução é semelhante à encontrada nos rios. A presença de sedimentos
aumenta a abrasão mecânica danificando turbinas e demais equipamentos hidráulicos. Em
aproveitamentos hidrelétricos com sistema de adução por canais de derivação é comum o uso
de desarenadores, ou câmaras de sedimentação, para a remoção do excesso de sedimentos
afluentes às turbinas. Este trabalho busca contribuir com o conhecimento nacional sobre
projetos de desarenadores complexos para remoção de sedimentos em suspensão em
empreendimentos hidrelétricos com sistema de derivação. Este artigo apresenta o estado da arte
dos métodos convencionais de dimensionamento de desarenadores. Na parte 2 deste trabalho é
apresentado o uso de modelagem numérica 2D.

Palavras-chave: desarenadores, câmaras de sedimentação, eficiência de retenção, transporte de


sedimentos.

DESIGN OF DESANDER FOR RUN OF RIVER HYDRO POWER PROJECTS – PART 1:


CONVENTIONAL DESIGN METHODS

Abstract: River sediment loads are usually trapped in large reservoirs, but for small ones, or for
those already silted, sediments are transported through the reservoir and the sediment
concentration reaching the intake is similar to that of the incoming river flow. In the case of
hydropower projects, high sediment concentrations passing through the river intake can cause
abrasion damage in turbines. Desanders are structures located in the diversion channels
intended to remove suspended sediments and avoid or minimize those damages. This study
contributes to the Brazilian literature regarding the design of complex desanders in run-of-river
hydropower intakes. The present paper is the first of the two parts of the study. Here it is
presented a review of the conventional methods commonly used for desanders design. The part
2 shows the investigation of the hydraulics and the sediment settling process comparing
differents approaches, using 2D numerical modeling, a physical model and one of the
conventional methods method.
Keywords: desanders; settling basin; trap efficiency; sediment transport
1. INTRODUÇÃO
Pressões do setor ambiental para a redução de áreas alagadas por reservatórios, bem como
incentivos ao desenvolvimento de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), levaram o setor
hidrelétrico a construção de um grande número de empreendimentos a fio d’água com canal de
derivação nas últimas duas décadas. Este tipo de arranjo consiste no uso de um barramento, ou
simplesmente uma soleira, para a manutenção de nível mínimo das águas do rio para que parte
da vazão seja desviada por meio de canais ou condutos até um local onde o desnível natural do
terreno favoreça o aproveitamento hidrelétrico. Devido ao fato de a potência da usina (a qual é
função da vazão e da queda disponível) não estar associada à altura da barragem, estes
empreendimentos geralmente possuem pequenas barragens e consequentemente pequenos, ou
inexistentes, reservatórios.
Além de seu papel na regularização da vazão dos rios e melhoria na segurança da garantia da
geração de energia, os reservatórios também prestam um importante papel de proteção aos
componentes mecânicos das usinas com a retenção do sedimento. A presença de elevadas
cargas de sedimentos potencializa o processo de corrosão das turbinas pelo aumento da abrasão,
aumentando a necessidade de manutenção e troca das mesmas. Em centrais hidrelétricas com
sistema de derivação em escoamento livre ou de baixa pressão há também o problema de
deposição de sedimentos nos canais e condutos reduzindo a capacidade hidráulica dos mesmos,
reduzindo assim a vazão disponível para a geração de energia.
A água em movimento (seja em um rio, um reservatório ou em um canal artificial) possui uma
determinada capacidade de transportar uma quantidade máxima de sedimentos (conhecida
como valor de saturação) a qual é função de diversos fatores, como: a vazão do curso d’água;
a declividade do canal; velocidade do fluxo d’água; e a granulometria e o peso específico dos
sedimentos. Quando a quantidade de sedimentos transportados for maior do que o valor de
saturação há a formação de depósito nos corpos hídricos – canais, lagos, rios e reservatórios.
Um dos fatores que leva redução do valor de saturação, e consequente deposição do sedimento,
é a redução do gradiente energético do fluxo d'água (diminuição da velocidade do escoamento),
que ocorre naturalmente na foz de um rio, em estuários, zonas naturais de remanso, ou remansos
artificias criados pela construção de uma barragem.
Em empreendimentos hidrelétricos com médios e grandes reservatórios que não se encontram
assoreados, a velocidade do escoamento nos reservatórios é relativamente baixa em relação à
velocidade no trecho de rio o que promove a deposição de sedimentos no local. Deste modo, a
água que chega à tomada d'água apresenta baixas cargas de sedimento quando comparadas a
carga natural do corpo hídrico.
Em reservatórios pequenos ou aqueles com processo de assoreamento avançado, onde a
velocidade do escoamento no reservatório é parecida com a do trecho de rio, a concentração de
sedimentos que chega aos órgãos de adução é semelhante às encontradas naturalmente no rio.
Nestes casos, devem ser construídas estruturas adicionais junto ao sistema de adução para
promover a remoção do sedimento e a melhora da operação do aproveitamento hidrelétrico.
Scheulerlein (1984), Whittaker (1984) e Dudhraj (2013) destacam dois conceitos para lidar com
sedimentos em empreendimento com sistema de derivação, a “Rejeição de Sedimentos” e a
“Remoção de Sedimentos”. O primeiro consiste em lidar com os sedimentos ainda no rio
evitando a entrada de sedimentos no canal de derivação, para tal são utilizadas estruturas guias
(training walls) para redirecionar o fluxo de sedimentos e comportas no barramento para
descarga de depósitos de sedimento próximos a tomada d'água. O segundo consiste em remover
a carga de sedimentos que adentra o canal de derivação, neste caso são usados descarregadores
de sedimentos de leito (gravel trap ou sediment extractors sills); e desarenadores (chamados de
desanders, sand traps ou sediment traps) para a remoção de sedimentos em suspensão. No
presente trabalho abordaremos o uso dos desarenadores.
Desarenadores são estruturas construídas nos canais de derivação para a criação de condições
hidráulicas que favoreçam a deposição de sedimentos. Considerando que a velocidade do
escoamento é um dos principais fatores que afetam a capacidade de transporte de sedimentos,
os desarenadores promovem a redução da velocidade média do fluxo com a expansão lateral e
em profundidade do canal. Considerando que as partículas de sedimento possuem uma certa
velocidade de queda, o comprimento dos desarenadores também é um fator importante para a
promoção da efetiva deposição e remoção das partículas de sedimento do fluxo. A Figura 1
apresenta um desenho esquemático de um desarenador.
Figura 1. Desenho esquemático em planta (a) e em perfil (b) de um desarenador, onde a
expansão lateral e o aumento de profundidade fazem com que a velocidade no desarenador
(𝑉2) seja menor que no canal (𝑉1), promovendo assim a efetiva deposição de sedimentos no
local, exemplificada na figura b) pela trajetória de queda da partícula (obs.: 𝑤𝑜 é a velocidade
de queda da partícula)

O dimensionamento de um desarenador é baseado na eficiência de remoção desejada para de


um determinado tamanho de partículas (Raju et al., 1999; Novik et al., 2014), considerando a
necessidade de cada empreendimento, por exemplo, manter a concentração de sedimentos
abaixo de um patamar predefinido, ou remover partículas maiores que determinado diâmetro.
De maneira simplista, para uma dada vazão de projeto e uma dada eficiência de retenção, as
variáveis no dimensionamento são largura, profundidade e comprimento.
Existem diferentes métodos e abordagens para o dimensionamento de desarenadores. Os
métodos aqui chamados de convencionais são geralmente expressos por meio de equações
matemáticas relativamente simples, as quais são baseadas em uma abordagem unidimensional
do escoamento e na velocidade de queda das partículas. Outras abordagens que se pode destacar
é o uso de modelagem numérica do escoamento em uma, duas ou três dimensões, e também o
uso de modelos de escala reduzida.
Outro aspecto importante no projeto de desarenadores é a definição de quantas câmaras
desarenadoras sãos utilizadas. Com o passar do tempo, as câmaras de sedimentação se enchem
de sedimentos e perdem a eficiência e concentrações mais elevadas e partículas de maior
diâmetro adentram a estruturas de adução (assim como em um reservatório assoreado). Neste
momento deve ser realizada a limpeza das câmaras. O processo de limpeza consiste em remover
os sedimentos acumulados por meio de remoção pode ser mecânica ou hidráulica. A remoção
hidráulica é a mais comum e é realizada com uma manobra de operação que empregue altas
velocidades de fluxo que causarão a erosão e transporte do material depositado de volta ao rio.
É preferível que o desarenador tenha mais de uma câmara, e que a limpeza das câmaras não
seja realizada simultaneamente, deste modo o empreendimento poderá continuar sua operação
mesmo durante a limpeza do desarenador.
O uso de múltiplas câmaras também tem um papel de promover melhor o fluxo longitudinal em
desarenadores largos, minimizando fluxos bidimensionais e caminhos preferenciais que
poderiam reduzir sua eficiência. Diversos são os trabalhos que abordam o tema da variação do
campo de velocidade do fluxo em desarenadores e sua influência na eficiência (Adams e Rodi
1990, Olsen e Skoglund 1995, Agrawal 2005, Vasquez 2007; Roncal e Vasquez 2012;
Dorfmann et. al 2012, e Novik et. al 2014). Mais detalhes deste tipo de abordagem são
apresentados na segunda parte deste artigo (Estigoni et. al, 2018).
Neste contexto o presente trabalho busca contribuir com o conhecimento nacional sobre
projetos de desarenadores complexos para a remoção do excesso de sedimentos em suspensão
em empreendimentos hidrelétricos com sistema de derivação. O presente artigo (parte 1)
apresenta o estado da arte dos métodos convencionais de dimensionamento de desarenadores.
Na segunda parte deste artigo (Estigoni et. al, 2018) é apresentado a técnica de
dimensionamento de desarenadores por modelagem numérica 2D em malha não estruturada
com os programas Telemac-2D+Sisyphe comparando com resultados de modelagem em escala
reduzida.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Ao longo deste capítulo é apresentado uma revisão dos métodos convencionais de
dimensionamento de desarenadores e câmaras desarenadoras.
2.1. Método de Vetter (Vanoni, 1975)
Uma maneira simplificada de se dimensionar o comprimento de um desarenador (L) consiste
em assumir o escoamento como sendo unidimensional (1D) na direção longitudinal x e
desprezado efeitos da turbulência. Neste caso, o transporte e deposição do sedimento é função
da profundidade da câmara (h), da velocidade do fluxo (U) e da velocidade de queda da partícula
de sedimento (ω). Destaca-se que a velocidade de queda da partícula é função do seu diâmetro
e massa específica, podendo ser calculada por meio de análises de laboratório (procedimentos
apresentados em Carvalho et. al, 2000a) ou por métodos teóricos como o de Van Rijn (Van
Rijn, 1987, 1993). A concentração de sedimento é expressa como "C" (Equação 1).
𝑑𝐶
[1] ℎ𝑈 𝑑𝑥 = 𝜔𝐶
Uma solução analítica simples da equação 1 leva a um decaimento exponencial da concentração
C(x) de sedimentos ao longo do desarenador (0 x  L) (Equação 2). Considerando que a
eficiência de remoção de sedimentos  é expressa pela equação 3, e assumindo C(0) = Cin e
C(L) = Cout chega-se à equação 4, a qual é conhecida como método de Vetter ou do USBR
(Vanoni, 1975) para cálculo da eficiência de desarenadores.
𝜔𝑥
[2] 𝐶(𝑥) = 𝐶𝑖𝑛 𝑒 −𝑈ℎ
𝐶𝑖𝑛 −𝐶𝑜𝑢𝑡 𝐶𝑜𝑢𝑡
[3] 𝜂= =1−
𝐶𝑖𝑛 𝐶𝑖𝑛
𝜔𝐿 𝜔𝐴𝑠
𝐶𝑜𝑢𝑡 − −
[4] 𝜂 = 1− =1−𝑒 𝑈ℎ = 1−𝑒 𝑄
𝐶𝑖𝑛
Onde As = área superficial das câmaras de desarenação (m2); e Q = vazão (m3/s).
Neste método, a eficiência de retenção de sedimentos de um desarenador é função apenas da
vazão de entrada e da área superficial do desarenador, a qual é função de seu comprimento e
largura. Não é definido claramente a relação entre comprimento e largura, ficando a cargo da
experiência do projetista essa definição. Liria Montañés (2006) aconselha que o comprimento
seja ao menos seis vezes maior que a largura. A principal limitação do método de Vetter é a
negligência dos efeitos de turbulência.

2.2. Método de Dobbins e Camp (Dobbins, 1944; Camp, 1946)


Nesta abordagem, inicialmente proposta por Dobbins (1944) e modificada por Camp (1946),
os efeitos da turbulência do fluxo são parametrizados por meio da velocidade de cisalhamento
𝑢 ∗ (shear velocity), a qual pode ser calculada conhecendo o coeficiente de rugosidade de
Manning (n). A razão entre comprimento e largura é então obtida de um ábaco (Figura 2)
expresso pela equação 6, a qual é expressa no ábaco já com a substituição dos parâmetros da
equação 5, e assumindo o uso da profundidade no lugar do raio hidráulico. Deve ser destacado,
porém que para desarenadores em que a razão entre comprimento e largura é grande deve-se
utilizar o raio hidráulico no lugar da profundidade.
Matematicamente, independente da velocidade do fluxo, uma câmara suficientemente longa
seria capaz de remover 100% dos sedimentos, o que não é verdade. Se o fluxo possui energia
suficiente as partículas de sedimento permanecerão sendo transportadas independentemente do
comprimento do percurso, tal qual ocorre em um canal. De acordo com Garde e colaboradores
(1990) o método superestima a eficiência de remoção para partículas finas.
Figura 2. Ábaco para cálculo da eficiência de retenção de câmaras desarenadoras segundo o
método de Dobbins e Camp. (Fonte: Garde et. al, 2015)

𝑛𝑈 √𝑔
[5] 𝑢∗ =
𝑅ℎ 1⁄6

𝑤𝐿 𝑤
[6] 𝜂 = 𝑓 (𝑈𝐷 , 𝑢 )

Onde: 𝑤: velocidade de queda da partícula [m/s]; 𝐿: comprimento do desarenador [m]; 𝑈:


velocidade média ao longo do desarenador [m/s]; 𝐷: profundidade do desarenador [m] (obs:
apresentado como H na Figura 1), pode também ser utilizado como raio hiráulico; 𝑛: coeficiente
de rugosidade de Manning.

2.3. Método de Sumer (Sumer, 1977)


Nesta abordagem também é parametrizado o efeito da turbulência por meio da velocidade de
cisalhamento. O autor sugere a utilização de um ábaco (Figura 3) para cálculo de parâmetros
da equação 7 utilizada para calcular a eficiência de retenção de sedimentos de uma câmara
desarenadora. Assim como no método de Dobins e Camp, Garde e colaboradores (1990)
apontam que método de Sumer superestima a eficiência de retenção para partículas finas.
−𝜆𝑢∗ 𝐿
[7] ln(1 − 𝜂) = 15𝑈𝐷
Figura 3. Ábaco para cálculo do parâmetro 𝜆. (Fonte: Garde et. al, 2015).

2.4. Método de Garde (Garde et. al, 1990)


Baseando-se nos trabalhos anteriores, Garde e colaboradores (1990) realizaram um
experimento comparando os três métodos anteriormente apresentados (itens 2.1, 2.2 e 2.3),
para diferentes condições, sugerindo uma nova relação entre os parâmetros. Também é
utilizado um ábaco (
Figura 4) para cálculo de dois parâmetros auxiliares em função da velocidade de cisalhamento,
os quais são utilizados na equação 8 para o cálculo da eficiência de um desarenador.

[8] 𝜂 = 𝜂0 (1 − 𝑒 −𝑘𝐿⁄𝐷 )

Figura 4. Ábaco para cálculo dos parâmetros 𝑘 e 𝜂0 . (Fonte: Garde et. al, 2015)
2.5. Método da Eletrobrás (DNAEE- Eletrobrás, 1985a,b; Eletrobrás, 2000)
O método de dimensionamento foi inicialmente proposto nos manuais da Eletrobrás (Centrais
Elétricas Brasileiras S.A.) da década de 80 para construção e projeto de microcentrais
hidrelétricas (DNAEE-Eletrobrás, 1985a) e minicentrais hidrelétricas (DNAEE- Eletrobrás,
1985b). É uma abordagem 1D simples (equação 9) que parametriza a velocidade de deposição
em função de um "coeficiente de deposição" ( 𝐾𝑑 ) que deve ser assumido entre 5 e 10. Maiores
detalhes sobre o cálculo do coeficiente de deposição não são fornecidos.
𝐾𝑑 𝑄
[9] 𝐿= 𝐵

Posteriormente este método é reproduzido de maneira mais simplificada no trabalho “Diretrizes


para Estudos e Projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas” (Eletrobrás, 2000) por meio de
uma tabela (Tabela 1) que sugerem valores mínimos e valores recomendados para largura e
comprimento do desarenador. Nesta versão é aconselhado que seja mantida velocidade do fluxo
no desarenador inferior a 1,0 m/s. Comparando-se os resultados da equação 9 pode-se notar que
os valores da tabela correspondem à valores que seriam resultantes da equação.
O método não faz distinção de faixas granulométricas a serem removidas e não considera uma
eficiência de remoção de sedimentos como fator de dimensionamento. A versão mais recente
do manual (Eletrobrás, 2000) destaca que os desarenadores (como são propostos) não
asseguram a remoção de material menor que 0,5 mm de diâmetro. O que é razoável quando se
considera o arranjo proposto (Figura 5) se assemelha mais aos descarregadores de sedimentos
de leito apresentados na literatura internacional que aos desarenadores. Entende-se que os
parâmetros propostos são razoáveis para a remoção de partículas grosseiras, mas são
inadequados para a remoção de partículas médias e finas, desta maneira não sendo apropriados
para o dimensionamento de um desarenador convencional. Da maneira como o método é
proposto não é possível calcular qual a eficiência do desarenador e, por consequência, a
concentração de sedimentos que adentrariam a tomada d’água.
Adicionalmente, o arranjo proposto não aconselha de forma explícita o uso de múltiplas
câmaras no desarenador. Utilizando uma única câmara no desarenador é necessárias paradas
periódicas da operação do empreendimento para limpeza. Ressalta-se que o método foi
concebido na década de 80 em um momento onde mini, micro e pequenas centrais hidrelétricas
eram utilizadas somente para autoprodução, e talvez a geração ininterrupta de energia não
tivesse um papel tão importante. No cenário atual com a comercialização de energia a
maximização da geração é fundamental para o empreendimento.
Tabela 1. Parâmetros para dimensionamento de desarenadores de acordo com Eletrobrás
(2000). Onde: BC: largura [m]; LC: comprimento [m]; e HC: profundidade.

Dimensões [m]
Vazão HC
Mínima Recomendada
[m³/s] [m]
BC LC BC LC
0,1 < Q < 0,7 2,0 4,0 3,0 5,0 0,5
0,8 < Q < 1,6 3,0 4,5 3,5 6,0 0,6
1,7 < Q < 3,0 3,5 5,0 4,0 7,0 0,7
3,1 < Q < 6,5 7,0 4,0 11,5 5,0 0,9
6,6 < Q < 10,0 8,0 5,0 15,0 6,5 1,1
10,1 < Q < 13,5 9,5 6,0 16,5 7,5 1,3
13,6 < Q < 17,0 11,0 7,0 18,0 8,0 1,5
17,1 < Q < 20,0 12,0 8,0 21,0 9,0 1,7

Figura 5. Arranjo típico de desarenador junto a tomada d’água segundo Eletrobrás (2000).
3. DISCUSSÃO
Há uma certa tendência no setor brasileiro de energia de se encarar o projeto de um pequeno
empreendimento hidrelétrico como uma miniatura de um empreendimento de grande porte,
negligenciando papel dos grandes reservatórios na redução dos sedimentos nos órgãos de
adução. Como consequência, o uso de desarenadores complexos como apresentada neste estudo
é relativamente incomum em empreendimentos hidrelétricos. Acredita-se que este fato venha
de uma herança nacional da construção de grandes barragens e grandes reservatórios, os quais
não necessitam de tais estruturas. Até a década de 80 empreendimentos de menor porte e sem
reservatórios eram basicamente voltados a autoprodução, e o avanço do conhecimento nacional
nas técnicas e métodos para projeto de tais empreendimentos foi menor.
A literatura nacional não aborda de maneira muito profunda o tema do uso e parâmetros de
projeto de desarenadores. Trabalhos como Alves (2007), Tiago Filho e Lemos (2006) e Tiago
Filho e colaboradores (2008) fazem referência aos métodos apresentados nos manuais da
Eletrobrás (DNAEE- Eletrobrás, 1985a,b; Eletrobrás, 2000).
Conforme exposto, o procedimento de dimensionamento de desarenadores como proposto pela
Eletrobrás não considera alguns fatores de grande interesse, como a eficiência de retenção de
sedimentos e o diâmetro das partículas de sedimentos que passarão pela estrutura e chegarão as
turbinas. Destaca-se que o arranjo como proposto nos manuais é mais semelhante à
descarregadores de sedimentos de leito e não a desarenadores. Também não é recomendado
explicitamente o uso de múltiplas câmaras nos desarenadores, e o próprio manual em sua versão
mais recente (Eletrobrás, 2000) aponta limitações na remoção de partículas superiores a 0,5 mm
e dificuldades na limpeza das câmaras desarenadoras.
Aconselha-se que o estudo dos desarenadores seja realizado utilizando os métodos citados na
literatura internacional, porém, devido às limitações intrínsecas abordagem unidimensional
adotada, tais métodos devem ser utilizados somente para fins de anteprojeto ou projeto
conceitual.
4. CONCLUSÃO
A literatura nacional é relapsa ao tema, limitando-se basicamente as publicações da Eletrobrás.
Como consequência o uso de desarenadores em empreendimentos hidrelétricos brasileiros
ainda é insipiente. Tais estruturas se projetadas adequadamente seriam capazes de reduzir a
quantidade e o tamanho dos sedimentos que adentra as estruturas de adução e que chegam as
turbinas, reduzindo problemas de desgaste por abrasão nas pás das turbinas, e ou problemas
operacionais com a deposição de sedimentos nas estruturas de adução, como os reportados por
Carvalho et. al (2000b).
Os conceitos expressos na literatura nacional não são de desarenadores típicos, e se aproximam
mais de descarregadores de sedimentos de leito. Deste modo, o método aconselhado pelos
manuais da Eletrobrás não foi concebido e não é para o dimensionamento de desarenadores
capazes de remover o excesso de sedimentos e sedimentos de granulometria mais fina, como
inclusive é destacado na versão mais atual do manual (Eletrobrás, 2000).
A elaboração de projeto de desarenadores não é uma tarefa trivial e deve ser estudado caso a
caso. Os demais métodos aqui apresentados, que se baseiam em uma abordagem 1D, são
aconselhados para serem utilizados na fase de projeto conceitual e de pré-dimensionamento do
desarenador. Nas fases de projeto básico e executivo o pré-dimensionamento deve ser
verificado com o uso de modelo de escala reduzida ou com métodos de modelagem numérica
em 2 ou 3 dimensões que tenham sido testados e validados para situações semelhantes, como
os modelos apresentados por Olsen e Skoglund (1994), Dudhraj (2013), Estigoni e
colaboradores (2015), entre outros.

5. REFERÊNCIAS
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