Você está na página 1de 168

Copyright©2017 por Degravação e revisão:

Márcio Antunes Vieira Lília de Faria Duarte


Luciano de Oliveira Campanário
Todos os direitos reservados por: Capa:
A. D. Santos Editora APS
Al. Júlia da Costa, 215
Editoração:
80410-070
Manoel Menezes
Curitiba – Paraná – Brasil
+55(41)3207-8585 Coordenação editorial:
www.adsantos.com.br Priscila Laranjeira
editora@adsantos.com.br Impressão e acabamento:
Gráfica Exklusiva
Conselho Editorial:
Reginaldo P. Moraes, Dr.; Gleyds Domingues, Dra.; Antônio Renato
Gusso, Dr.; Sandra de Fátima Gusso, Dra.; Priscila R. A. Laranjeira,
Editorial; André Portes Santos, Diretoria; Adelson Damasceno San-
tos, Diretoria; Adelson Damasceno Santos Jr., Diretoria.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
VIEIRA, Márcio Antunes
Ver para crer ou crer para ver / Márcio Antunes Vieira – A.D. Santos
Editora, Curitiba, 2017.
14x21cm – 168 páginas.
ISBN – 978.85.7459-460-6
CDD 220
1. Hermenêutica Bíblica   2. Estudos Bíblicos
CDD 240
1. Preceitos bíblicos   2. Casuística moral cristã
1ª edição: Novembro de 2017
Proibida a reprodução total ou parcial,
por quaisquer meios a não ser em citações breves,
com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:
Prefácio

Sem dúvida a fé é um tema muito importante a ser


explorado na vida de qualquer pessoa. O pastor Márcio
Antunes Vieira nos presenteia com um conteúdo brilhante
fruto de uma série de sermões inspirados por Deus que
muito edificou a igreja a quem este servo tem ministrado
há muitos anos com competência e amor. Caminhar pelos
capítulos deste livro é se deliciar com uma obra centrada
na Bíblia Sagrada que tanto nos capacita a ter fé. É uma
viagem em inúmeras experiências pessoais e ilustrações
preciosas que nos ajudam a compreender o tema com faci-
lidade.
Márcio (meu xará) nos leva a uma jornada pela Palavra
de Deus na companhia de inúmeros personagens com um
destaque especial para aqueles citados no capítulo onze do
livro de Hebreus. Somos desafiados o tempo todo a rever
nosso conceito de fé. Trocando experiências no Antigo e
Novo Testamentos a fé vai ganhando força na prática, por
meio do exemplo de homens que foram desafiados inúme-
ras vezes a simplesmente crer.
Ver para crer ou crer para ver? A Bíblia tem muitas
histórias que me chamam a atenção. No Novo Testamento
temos histórias relatadas sobre o dia a dia de Jesus, como a
fé admirável do centurião, os amigos do paralítico, o cego
Bartimeu… No Evangelho de Marcos, capítulo cinco,
temos um texto abençoador que conta a história de uma

iii
mulher que, embora não saibamos o nome dela, sabemos
que é uma Mulher de Fé, marcada pela dor e sofrimento.
Ela padecia de uma doença incurável para a época e sofria
o preconceito religioso que a considerava impura. Mesmo
assim, aquela Mulher de Fé foi persistente até alcançar a
bênção. Com esta história podemos aprender algumas ati-
tudes que demonstram fé. A ousada mulher seguiu a Jesus
e tocou em suas vestes, experimentando um milagre extra-
ordinário. O texto nos relata que em meio à multidão que
seguia Jesus, ela persistiu com um objetivo muito claro.
Cada um estava ali por um motivo pessoal, pois a multidão
era tomada por interesses diversos. No entanto, no meio
daquela multidão havia alguém com uma fé diferenciada.
Ela seguia a Jesus com propósito claro, mas um coração
diferente. Ela seguia a Jesus motivada por sua fé. Não
tinha forças, mas tinha uma fé corajosa. Sua determinação
e coragem eram sublimes ao ponto de atingir o coração
de Deus. Imagino que a dor daquela mulher já havia che-
gado ao limite. Conforme o relato nos revela, há doze anos
ela sofria com aquela enfermidade e já havia gasto tudo o
que tinha com medicamentos e tratamentos de saúde sem
resultados. Grande era sua frustração. Mas, ao ouvir sobre
Jesus, um raio de esperança brilhou em seu coração e ela
buscou forças para chegar até o Mestre, mesmo tendo que
avançar em meio a uma multidão. Entre todas as pessoas
que seguiram Jesus, esta mulher se destaca entre os gran-
des exemplos de superação e fé. Ela creu e sem hesitar viu
a manifestação do poder de Jesus.
Neste livro Márcio Antunes, usando exaustivamente
as citações bíblicas nos confronta inúmeras vezes com rela-

iv
ção a nossa fé. Ele também centra seus estudos na pessoa
de Jesus. Ouvimos falar de Jesus que salva, cura e liberta,
mas é muito importante crer, seguir ao Senhor verdadeira-
mente e experimentar seu poder restaurador.
Um milagre deve acontecer primeiro no coração do
que crê. A mulher do fluxo de sangue declarou exatamente
o que acreditava enquanto se arrastava aos pés de Jesus.
A possibilidade de cura era a maior necessidade que tinha.
Então teve a ideia proveniente da fé de tocar em Jesus.
Parecia algo inatingível, difícil e distante; cheio de obs-
táculos pelo caminho. Era a parte pessoal nesse milagre.
Jesus havia ensinado: “Qualquer que disser a este monte:
Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas
crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.”.
Você consegue imaginar que mesmo diante de muitos
milagres registrados na Bíblia deve ter havido cegos, para-
líticos e leprosos que não acreditaram e não ousaram ir até
Jesus? O autor nos desafia a nunca declarar as dificuldades
ou obstáculos, mas declarar nossa fé enquanto seguimos
em direção a Jesus.
É um encorajamento a viver uma fé genuína, nos
acrescenta que CRER é uma ação, não apenas uma von-
tade. Muitas pessoas sonham com coisas que poderiam
acontecer em suas vidas, mas não têm atitude. Uma ação
prática de sua fé provoca uma reação milagrosa da parte
de Deus. Muitas pessoas quando se depararam com Jesus
tiveram suas marcas, cicatrizes e dores encerradas, apaga-
das; o que ficou foi uma alegria incontida, uma experiência
riquíssima que jamais poderia ser esquecida. Afinal, como
diria o autor da carta aos hebreus: “Sem fé é impossível agra-
v
dar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele
existe e que recompensa àqueles que o buscam”.
Marcio Tunala – Pastor, Teólogo, Coordenador do Ministé-
rio de Pequenos Grupos Multiplicadores da Igreja Batista do
Bacacheri, em Curitiba/PR. Autor dos livros: Lidera Jovem
e Aconselhamento Pessoal do Jovem.

vi
Sumário

Prefácio_______________________________________ iii
Introdução______________________________________9
Capítulo I
PERDENDO PARA GANHAR__________________12
Capítulo II
DEIXANDO A ZONA DE CONFORTO_________32
Capítulo III
NAVEGANDO PELA FÉ_______________________50
Capítulo IV
A CAMINHADA DA FÉ_______________________70
Capítulo V
ANDANDO COM DEUS_______________________86
Capítulo VI
OFERTANDO COMO ABEL__________________104
Capítulo VII
OLHANDO PARA JESUS_____________________118
Capítulo VIII
ANDANDO PELA FÉ NOS DIAS ATUAIS______134
Conclusão____________________________________161
Agradecimentos_______________________________165
Como tudo começou____________________________167
Bibliografia___________________________________168

vii
viii
Introdução

Vivemos em um tempo onde a descrença é incenti-


vada e vista como virtude, sinônimo de saber. Um tempo
em que pessoas de fé são vistas como retrógradas, incul-
tas e facilmente manipuladas por gente que saiba traba-
lhar suas emoções. Um tempo em que VER torna-se algo
imprescindível para CRER em alguma coisa e o que não
se pode ver, apalpar, deve ser imediatamente descartado
por não ter nenhum valor experimental.
Quando abrimos a Palavra de Deus vemos exata-
mente o contrário, um mar de exemplos de pessoas que
apostaram tudo na vida tão somente motivados por sua
FÉ, crendo de todo o coração em promessas ainda não
cumpridas, muitas delas aparentemente impossíveis de
serem realizadas, mas, motivados pela fé, não somente cre-
ram como dispuseram suas próprias vidas por crerem tre-
mendamente naquilo que não podiam ver.
Eis a encruzilhada que nos encontramos: Ver para
crer ou crer para ver? Baseado nessa questão, Deus me deu
a oportunidade de pregar uma série de mensagens, falando
à igreja a qual tenho servido há 20 anos, sobre a fé, o que
ela é e o que faz na vida daqueles que decidiram viver por
ela. Naturalmente que não poderia abordar esse tema em
toda a Bíblia, pois me seria impossível, por ser inesgotável,
no entanto, me dirigi a Hebreus capítulo 11, na conhe-
cida “Galeria dos Heróis da Fé”, para examinar a vida de

9
homens e mulheres que decidiram abrir mão de ver para
crer escolhendo viver na dimensão da fé, ou seja, optaram
por crer para ver. Uma gente considerada estranha para o
mundo e com certeza, nos dias atuais, loucos ou ignorantes
que ousaram viver pela fé.
Naturalmente que em poucos sermões não podere-
mos examinar todos os heróis, mas apenas alguns deles
que nos têm falado profundamente ao longo da história
da Igreja do Senhor Jesus. Homens e mulheres que nos
deixaram o legado da fé e sobretudo, a convicção de valer
a pena viver pela fé, ainda que saibamos que, como eles,
seremos incompreendidos, algumas vezes achincalhados e,
por fim, até perseguidos.
Os capítulos abordarão personagens sem a preocupa-
ção de ordem cronológica ou descendência, pois o objetivo
dessa obra está absolutamente ligado às histórias de fé e
não a genealogias ou algo parecido. Vislumbraremos a vida
de fé de personagens igualmente importantes, conquanto
sejam tão diferentes em suas experiências, mas que alicer-
çados na mesma fé, foram vitoriosos, apesar de aos olhos
dos tolos parecerem derrotados.
Quero convidá-los a entrar nessa caminhada da fé,
nesse ambiente maravilhoso e ao mesmo tempo desafia-
dor, de gente que decidiu contrariar a lógica, abrir mão
do sucesso óbvio, para experimentar uma comunhão plena
com o Senhor, uma comunhão demonstrada pela disposi-
ção de perder, sabendo que a vitória seria certa se a mesma
fosse alcançada pela fé.
Vamos juntos nos encher de esperança, pois o nosso
Deus continua a ser o mesmo Deus, ao qual se submete-
10
ram, pela fé, os que hoje são considerados “heróis”. Juntos
poderemos ser desafiados a viver numa dimensão abso-
lutamente superior àqueles que para crer precisam ver, e
talvez pensem assim por se considerarem deuses de suas
próprias vidas, nós, no entanto, queremos exercitar uma fé
que nos capacite a crer, mesmo que por hora não possamos
ver e, ainda que morramos sem ver, tenhamos a convicção
de que Deus tem algo preparado para nós infinitamente
melhor, porque suas bênçãos são eternas.
Ao final da leitura desse conteúdo escrito na depen-
dência de Deus, com certeza, iremos, definitivamente, dei-
xar de desejar ver para crer, e edificaremos a nossa vida
na fé e pela fé, convictos de que verdadeiramente valerá
a pena crer para ver, pois, “... a fé é a certeza daquilo que
esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois por
meio dela que os antigos receberam bom testemunho”
(Hebreus 11.1,2). Construiremos nossas vidas alicerçadas
na fé no Deus que nos criou e nos sustenta, que sempre
cumpre suas promessas e que se agrada daqueles que acei-
tam o lindo desafio de viver pela fé, o que enche o coração
do Pai de alegria.
Vamos juntos crer para ver, confiando totalmente
naquele que prometeu, depositando nossa esperança no
Deus de toda a Terra, desejosos de agradar o seu coração.
“Sem fé é impossível agradar a Deus”.
Márcio Antunes Vieira

11
Capítulo I

PERDENDO PARA
GANHAR

© 2017 Envato Elements/viki2win


“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam”.
Hebreus 11.6

“Por amor de Cristo, considerou a desonra


riqueza maior do que os tesouros do Egito,
porque contemplava a sua recompensa”.
Hebreus 11.26
14
A carta aos Hebreus, escrita originariamente para
judeus convertidos, normatiza a beleza do sacerdócio de
Cristo, mostrando aos seus leitores, que estavam retor-
nando aos rudimentos da Lei, a suficiência de Cristo, o
Sumo Sacerdote que os apresenta e os representa diante a
Deus, com o sacrifício único, sendo Ele o próprio cordeiro
oferecido e imolado na cruz, substituindo de uma vez por
todas, os demais sacrifícios anteriormente e regularmente
oferecidos para a remissão dos pecados. Um único sacri-
fício, suficientemente capaz de pagar e apagar todos os
pecados, não sendo mais necessário a angústia da prepara-
ção de rituais, acompanhados do medo de não serem acei-
tos por Deus. Jesus pagou o preço e ponto final!
Poeticamente, muito se foi escrito sobre o valor e
o poder do sacerdócio de Jesus, mas a linda canção dos
Arautos do Rei, cujo título não poderia ser outro senão,
“Graça”, descreve de maneira profunda a beleza da mani-
festação da maravilhosa graça que se encontra no derra-
mar da vida do Cordeiro que, oferecendo-se de uma só
vez, trouxe a mais completa e perfeita justificação.

“Graça simples assim


Perdão se recebe, se aceita e fim
Pecado não se explica
Pecado se paga
E Cristo pagou por mim”

Isso foi o que Jesus fez na cruz, Ele nos concedeu per-
dão e nós O recebemos sem merecimento, apenas aceita-
mos, pela fé, a graça derramada sobre nossas vidas. Porém,

15
Ver para crer ou crer para ver

o nosso pecado deve ser pago, a nossa pecaminosidade


deve ser paga, não poderíamos oferecer nada, nem mesmo
a nossa vida, que fosse suficiente para sermos justificados
diante de Deus. Nada poderia redimir-nos sem o elemento
doloroso da morte, e exatamente por isso, o apóstolo Paulo
nos diz em sua carta aos Romanos, no capítulo 10, versí-
culo 23:
“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gra-
tuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, o nosso
Senhor”.
Alguém tem que morrer e para que não seja seu e
você, Cristo, o suficiente Sumo Sacerdote foi ao altar do
sacrifício, na cruz do Calvário e morreu, assumindo a pena
da nossa condenação e disse: Tetelestai (Está tudo pago),
definitivamente pago.
“Quando vocês estavam mortos em pecados e na incir-
cuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente
com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e
cancelou a escrita da dívida...” (Colossenses 2.13,14).
A nossa incapacidade de exercer uma auto justifica-
ção foi suplantada pela obra de Cristo na cruz, e Ele espera
que tal manifestação tenha como contrapartida a nossa fé,
uma fé real que não precisa ver para crer, mas se manifesta
na ação daqueles que querem crer para depois ver, que têm
a certeza que é tão somente pela fé que receberão o per-
dão e que serão definitivamente justificados por crerem na
suficiência daquele que “levou sobre si nossas enfermida-
des”, tornando-se maldito por nós, com a garantia de que
aqueles que têm seus pecados perdoados, Deus, o Pai, não

16
1. Perdendo para ganhar

se lembra mais de nenhuma de suas iniquidades. Peca-


dos confessados, colocados na conta de Cristo, são peca-
dos perdoados, logo, não precisamos mais nos preocupar
com eles, nossa consciência não precisa carregar o peso da
culpa.
“Portanto, agora já não há condenação para os que estão
em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do
Espírito me libertou do pecado e da morte” (Romanos
8.1,2).
Se você se arrependeu dos seus pecados e os colocou
na conta de Jesus, se os lançou na cruz, seus pecados foram
definitivamente pagos, você foi perdoado e salvo por essa
graça simples, porém, maravilhosa.
O capítulo onze da carta aos Hebreus, também popu-
larmente conhecido como “A Galeria dos Heróis da Fé”,
faz uma descrição de homens e mulheres do Antigo Tes-
tamento que foram verdadeiros heróis, um heroísmo que
teve como única motivação a fé inabalável naquilo que
haviam recebido como promessa de Deus e por causa
disso, alguns foram mortos ao fio da espada, outros esquar-
tejados, outros perderam bens, martirizados, acreditando
que para se ganhar o bem maior, há que se perder bens
menores. Como se consegue essa vitória? O versículo seis
vai dizer que:
“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem Dele se
aproxima precisa crer que Ele existe e que recompensa
aqueles que o buscam”.
Essa é a fé que salva, crer na existência de Deus, de
seu filho Jesus, crer que Jesus Cristo é o mediador, bem
17
Ver para crer ou crer para ver

como a sua recompensa. Deus recompensa por intermédio


da obra de Cristo na cruz, quando Jesus paga, de uma vez
por todas, por nossos delitos e pecados.
O que é fé? O verso primeiro responde a esta per-
gunta categoricamente afirmando ser
“... a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas
que não vemos”.
Eu creio naquilo que espero e tenho certeza, mesmo
que não possa agora ver, que sou salvo por Jesus, que meus
pecados foram perdoados e que estarei com Ele para sem-
pre. Independente de professar uma religião, nem mesmo
o fato de praticar boas obras (obras que devem ser prati-
cadas, não para sermos salvos, mas porque já somos sal-
vos), uma fé que crê na promessa de Deus mesmo que não
possa vê-la cumprida, ou seja, a nossa redenção eterna com
Cristo, nós já a recebemos, porém ainda esperamos o dia
em que Jesus há de voltar para buscar a sua Igreja e tomar
para si todos quantos confessaram o seu nome. Sem esta fé
é impossível agradar a Deus, sem esta fé é impossível estar
em Sua presença, sem esta fé é impossível servir a Deus,
sem esta fé é impossível ser perdoado, justificado e salvo.
“Sem fé é impossível...”.
O apóstolo Paulo ao escrever sua carta aos Efésios, no
capítulo 2.8,9 diz de forma cristalina:
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto
não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para
que ninguém se glorie”.

18
1. Perdendo para ganhar

Somente pela fé recebemos a graça do Senhor e a


manifestação da graça de Deus se dá por meio da mani-
festação de nossa fé.
Dentre tantos heróis da fé, começamos por destacar
o grande líder do povo de Israel, Moisés, e por que ele foi
inserido nesta seleta galeria. Moisés, um judeu nascido sob
o julgo da escravidão egípcia, tendo o Egito como super-
potência do seu tempo, um verdadeiro império, com poder
total e absoluto que demonstrava ser indestrutível, inata-
cável. Sendo assim, ser egípcio era um grande privilégio,
ser egípcio era nascer no melhor lugar do mundo, gozar de
fartura, estar protegido por toda uma estrutura de poder
imperial, do qual as demais nações viviam absolutamente
submissas. Assim como hoje os norte-americanos têm o
orgulho em dizer: “Eu sou um cidadão americano”, como
já houve um tempo em que os babilônios tinham orgulho
em dizer: “Eu sou um cidadão da Babilônia”, assim tam-
bém ocorreu com os persas, os gregos, os romanos, e tem
ocorrido, ao longo da história onde grandes impérios se
levantaram, assim também será quando outro império se
levantar após o atual, haverá o mesmo orgulho de dizer
que pertencem a uma nação, próspera e melhor que as
demais. Embora não sendo um conceito correto é assim
que as pessoas normalmente pensam. Moisés nasceu filho
de escrava, como qualquer outro judeu escravizado pelo
Egito. Não tinha direito a essa cidadania, estava lá, mas era
escravo, mão de obra barata, uma fonte de produção para
a economia do Egito. O tempo de José como governador
de todo o Egito já havia passado, e esse novo faraó não se
lembrava mais de José e começou a oprimir o povo judeu

19
Ver para crer ou crer para ver

que se multiplicava e prosperava com a sua posição estra-


tégica, na melhor terra do Egito, pois José ao trazer sua
família de Canaã para o Egito, com permissão do faraó,
eles foram morar na melhor terra daquele país, onde José
e seus filhos também habitavam. Assim José colocou a sua
família na terra de Gósen, no delta do Nilo, bem próximo
ao mar Mediterrâneo onde havia mais água, mais rique-
zas, maiores possibilidades de sobrevivência. Então o faraó
disse a José:
“Seu pai e seus irmãos vieram a você, e a terra do Egito
está a sua disposição; faça com que seu pai e seus irmãos
habitem na melhor parte da terra. Deixe-os morar em
Gósen. E se você vê que alguns deles são competentes,
coloque-os como responsáveis por meu rebanho” (Gêne-
sis 47.5,6).

E A HISTÓRIA MUDOU ...


“Então subiu ao trono do Egito um novo rei, que nada
sabia sobre José” (Êxodo 1.8).
Com a morte de José, de todos os seus irmãos e de
toda sua geração, houve uma multiplicação dos israelitas
na terra do Egito, um crescimento numérico extraordi-
nário que causou preocupação ao faraó, possivelmente de
outra dinastia, o que teria contribuído para tal desconhe-
cimento, já que havia a prática da destruição da memó-
ria dos antepassados de dinastias diferentes. O faraó do
êxodo, talvez devido a esses fatos não tinha conhecimento

20
1. Perdendo para ganhar

dos feitos de José e parece que nem mesmo ouvira falar do


grande administrador que ele fora.
E assim os judeus se tornaram escravos.
Moisés, embora nascido no Egito, era escravo e no
tempo do seu nascimento devido a esta multiplicação dos
judeus, o faraó emitiu um decreto em que todos os filhos
de judeus, meninos de até dois anos de idade deveriam ser
mortos. Para livrar o bebê da morte, sua irmã o colocou
num cesto e o cesto que descia o Nilo foi encontrado por
uma das filhas de Faraó, a filha do grande todo poderoso
imperador da época, seria instrumento nas mãos de Deus
para dar seguimento ao propósito de libertação do povo
em direção à Terra Prometida. Assim Moisés foi criado
no palácio de faraó, e sem que a filha do Faraó soubesse,
ao mandar chamar dentre os hebreus uma cuidadora,
entregou Moisés aos cuidados de Joquebede, sua própria
mãe, que cuidou do menino, seu legítimo filho, ainda que
na qualidade de serva da filha de faraó. É neste contexto
de muita riqueza, de grande fartura, vestindo as melhores
roupas, tendo os melhores mestres, criado num contexto
de muito amor e carinho por sua mãe e pela filha do faraó,
que cresceu aquele que haveria de libertar os hebreus. Mas,
que menino de sorte! Seria escravo, se não assassinado, e
agora era mimado e protegido pela filha do pseudo rei de
toda a Terra, recebendo a melhor educação, crescendo em
direção a um futuro brilhante e garantido. Seria um prín-
cipe, não se sentaria no trono, mas seria um príncipe, um
sucesso total, tudo que havia de tecnologia, tudo que havia
de ciência, tudo que havia de cultura seria apresentado
ao menino hebreu. Com então poderíamos imaginar que

21
Ver para crer ou crer para ver

uma pessoa que experimentou uma mudança tão radical


em sua vida pudesse abrir mão de tudo, fazer uma escolha
de não estar mais lá? Moisés escolheu perder para ganhar!
Moisés, o “salvo pelas águas”, viria a ser o libertador
do povo hebreu, uma espécie de prefigura do que Jesus
faria, ao se tornar não só libertador dos judeus da escra-
vidão de um determinado povo opressor, mas ao se fazer
homem e apresentar-se como libertador, não da escravidão
do Egito, não de 430 anos de escravidão, mas da escravi-
dão eterna, da escravidão do domínio do pecado, da escra-
vidão do opressor e acusador de nossas almas; não apenas
do julgo do faraó, mas do julgo de Satanás; não do julgo
pesado dos opressores egípcios, mas do julgo de Satanás e
seus demônios. Moisés representava toda essa libertação
concedida não só a ele, mas a todo Israel.
Deus, então chama Moisés a abrir mão de tudo que
ele tinha e de quem era, e libertar o povo da escravidão.
Em obediência largou o palácio, a boa comida, o conforto,
todas as regalias, o prestígio, o brilhante futuro que o espe-
rava sob a ótica de qualquer homem: Jesus largou muito
mais que Moisés, seu sacrifício foi infinitamente superior,
mais que deixar o palácio de faraó, Jesus deixou de viver
no Trono de Deus, na casa do Pai, nos Céus. Jesus não
deixou uma boa roupa, mas suas vestes reais. O Rei dos
reis e Senhor dos senhores, em estado de humilhação, veio
a nós e viveu como um de nós. Experimentou nossas limi-
tações, nossas dores, e infinitamente mais do que Moisés,
não apenas viveu para libertar o povo, mas Jesus morreu
para proporcionar tão maravilhosa libertação àqueles que
confessam o seu majestoso nome. O que Moisés fez, foi

22
1. Perdendo para ganhar

abrir mão se ser chamado filho da filha de faraó, abriu mão


de ser da família real, de ser neto do faraó, mas Jesus fez
muito mais do que isso e de qualquer outra renúncia que
qualquer homem pudesse fazer. Ele fez muito mais!
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que,
embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a
Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se
a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante
aos homens. E, sendo encontrado em forma humana,
humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e
morte de cruz” (Filipenses 2.5-8).
Moisés, pela fé já adulto recusou ser chamado filho da
filha de faraó, neto do rei:
“... mas preferiu “ser maltratado com o povo de Deus a
desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo”
(Hebreus 11.25).
Atente-se para essa última afirmação, “por algum
tempo”. Os prazeres do pecado duram “por algum tempo”.
As alegrias do pecado são vividas “por algum tempo”, mas
o final é sempre destruição, infelicidade e morte. Pela fé
largou tudo, pois o Reino que ele procurava era muito
maior do que o reino de faraó, o Reino que ele procurava
era infinitamente superior, e o Rei que ele procurava servir
não era o rei do Egito ou de qualquer potência que pode-
ria surgir, mas o Rei de toda a Terra. Moisés abriu mão do
palácio para servir ao Rei dos reis, ao Senhor dos senhores
e buscar a herança que lhe estava garantida na eternidade.
Moisés fez uma escolha, tomou uma decisão que
mudaria a sua história, bem como a história de todo um
23
Ver para crer ou crer para ver

povo e, que futuramente contribuiria para mudar a história


de toda a humanidade, mas essa escolha, feita tão somente
pela fé, momentaneamente lhe trouxe muitas “perdas”, por
isso, precisou ser uma opção radical. Assim também deve
ocorrer conosco: escolhemos o Egito, ou o Reino de Deus?
Escolhemos o presente mundo e tudo que ele oferece, o
nosso Egito, ou o Reino de Deus?
“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém
amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o
que há no mundo: a cobiça da carne, a cobiça dos olhos
e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do
mundo. O mundo passa e a sua cobiça, mas aquele que
faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1João
2.15-17).
Uma escolha dessas requer fé, prontidão para enfren-
tar perdas, na certeza de que Deus fará algo infinitamente
melhor, não apenas para nos abençoar, mas para abençoar
gerações.
O Egito dos tempos de Moisés era uma terra de
pecaminosidade, de paganismo, feitiçaria, idolatria, devas-
sidão e era isso o que tinha a oferecer. Embora houvesse
muita riqueza material, principalmente para Moisés, que
em lugar de escravo, tornara-se cidadão egípcio, ele julgou
que não valia a pena toda essa riqueza, amar o mundo e
tudo o que nele havia. Caberia muito bem a Moisés as
seguintes palavras de Jesus:
“Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e
perder a sua alma? ” (Marcos 8.36).

24
1. Perdendo para ganhar

De que adiantava a Moisés, desfrutar da fartura e de


toda essa pecaminosidade, se ele ganhasse o reino tem-
porário do Egito, perdendo assim o Reino Eterno de
Deus? Fica claramente evidenciado que Moisés entendeu
tal realidade e, pela fé, preferiu tornar-se um escravo, para
encontrar a libertação do domínio do pecado, da escra-
vidão de um mundo espiritualmente opressor, escolheu
abrir mão de tudo o que lhe poderia ser vantajoso, para
alcançar a beleza da liberdade oferecida pelo Senhor Deus.
Ele entendeu e, ao entender, fez uma escolha, uma escolha
baseada unicamente na fé, pois entendia que:
“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se
aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa
aqueles que o buscam”.
Moisés tornou-se escravo para ser livre.
Sempre serviremos a alguém, ao reino do pecado ou
ao Reino de Deus, ao “príncipe deste mundo”, o “Diabo”,
“Satanás” ou serviremos ao Rei dos reis, Senhor dos senho-
res e seu nome é Jesus, “O Filho de Deus”. Seguiremos a
Satanás, aquele que veio para” roubar, matar e destruir”, ou
Àquele que veio para destruir as obras de Satanás e nos dar
vida em abundância. A escolha é nossa! Moisés fez a sua
escolha, ele escolheu a liberdade eterna, ser participante do
Reino eterno do Pai, não como filho do faraó, mas como
filho amado do Rei de toda a Terra.
“O mundo e a sua concupiscência passam, mas aquele
que faz a vontade de Deus permanece para sempre”.
Esta afirmação feita pelo apóstolo João nos leva à
seguinte reflexão: Quantas pessoas conhecemos que foram
25
Ver para crer ou crer para ver

dominadas e destruídas pelo pecado, pelas drogas, pelos


vícios, prostituição, pela avareza e pela desonestidade, mas
em tempo reconheceram que todo esse tipo de prazer
era enganoso, ilusório e passageiro? E então, como Moi-
sés, escolheram o Reino de Deus, muito embora tenham
perdido muitas coisas, sendo incompreendidas por aque-
les que as conheciam anteriormente, usando expressões,
muitas vezes irônicas dizendo; “Você mudou? Você virou
crente?” Muito mais do que isso, elas fizeram a escolha,
preferiram Jesus e seu Reino à faraó e ter o Egito como
casa, fizeram a escolha de ter um lugar na casa do Pai.
“Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse
assim, eu lhes teria dito: Vou preparar-lhes lugar. E se
eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para
mim, para que vocês estejam onde eu estiver” ( João
14.2,3).
Pode ser que não haja lugar para você no palácio de
faraó, ou em qualquer outro palácio, mas o que importa, se
há um lugar preparado para você na casa de Deus, junto ao
Pai? Você, no entanto, assim como Moisés, precisa esco-
lher. Aos olhos do mundo só um louco faria a escolha de
Moisés, largar tudo para sofrer, mas ele fez isso pela fé. E o
que é mesmo fé?
“... a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas
que não vemos”.
E é por essa fé que escolhemos a Deus e consegui-
mos permanecer firmes Nele, embora tenhamos moti-
vos humanos para abandoná-lo e voltar ao Egito pois, o
mundo que jaz no maligno, nos chama e tenta nos arrastar

26
1. Perdendo para ganhar

de volta ao Egito. É nesse momento que a fé nos protege e


nos liberta e, por ela podemos dizer:
“Porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de
que ele é poderoso para guardar o meu depósito até
aquele dia” (2 Timóteo 1.12).
O dia glorioso em que vamos nos encontrar com
Jesus o nosso Salvador, pode ser vislumbrado agora, pela
mais absoluta convicção de que Deus cumpre cada uma de
suas promessas, uma convicção, não baseada em evidências
humanas, mas alicerçada por uma fé inabalável.
A fé é a certeza daquilo que esperamos que aconteça
e a prova antecipada daquilo que não podemos por hora
ver. Cremos em Jesus, cremos que Ele veio, cremos que Ele
morreu para nos salvar, cremos que Ele ressuscitou, cremos
que irá voltar para buscar a sua Igreja, cremos que temos
um lugar nos céus, e embora não possamos ver agora, cre-
mos. Foi exatamente isso que Moisés, ao escolher, pela fé,
não mais ser chamado de filho da filha de faraó, entrando
em um tremendo deserto, para experimentar grandiosos
desafios em sua vida, sabendo que tudo iria “piorar” para
ele e para o povo, decidiu obedecer incondicionalmente a
Deus, dirigindo-se então, à Terra Prometida. Mas, por que
Moisés fez isso?
“Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza
maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava
a sua recompensa” (vs.26).
Ser desonrado, ridicularizado, tornar-se motivo de
zombaria pelos egípcios, não era nada, perto da riqueza

27
Ver para crer ou crer para ver

incomparavelmente maior do que todo o tesouro do Egito.


Por amor a Deus, tudo vale a pena!
“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar
perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero
tudo como perda, comparado com a suprema grandeza
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja
causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco
para poder ganhar a Cristo” (Filipenses 3.7-8).
Qual é a sua maior riqueza? Onde você tem depo-
sitado a sua vida, sua confiança e todos os seus sonhos?
O dinheiro? Sua boa saúde? Sua juventude? Seu sucesso?
Seus prazeres? Essas são suas riquezas? Saiba que existe
um tesouro maior. Moisés por amor ao Senhor, considerou
sua desonra uma riqueza maior que os tesouros do Egito.
Ele sabia que se perdesse o palácio do Egito, ganharia a
casa de Deus; se perdesse as riquezas do Egito, ganharia
uma riqueza eterna; se perdesse as oportunidades e privilé-
gios do Egito, ganharia o privilégio de ter intimidade com
o Deus Eterno. Não estaria mais diante de autoridades
importantes, reis poderosos, mas estaria diante do trono
do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Pela fé ele contem-
plava sua recompensa, uma recompensa eterna.
A vontade de Deus nem sempre é fácil de ser obede-
cida, suas ordens podem exigir muita renúncia, suas pala-
vras podem parecer duras demais, e por isso, não são pou-
cas as vezes que pensamos em desistir, ou mesmo vemos
muitos voltando atrás. “A vontade de Deus não é um itine-
rário, mas uma atitude” (Andrew Dhuse).
O que fazer, seguir ou desistir?

28
1. Perdendo para ganhar

“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de


vida eterna” ( João 6.68).
As multidões querem ouvir coisas boas deste reino,
pregadores e cantores que preguem e cantem a prosperi-
dade aqui neste reino, mas não querem ouvir que precisam
se arrepender de seus pecados ou não verão o Reino de
Deus, e que é impossível servir a dois senhores. Quando
o discurso endurece, as multidões começam a se afastar.
Qual é a sua escolha: o Egito ou a casa de Deus? Qual é a
sua escolha: Deus ou faraó? Qual é a sua escolha: ganhar
o mundo inteiro ou ganhar a sua alma ainda que venha
perder o mundo?
Eu faço a mesma escolha de Moisés, não por pensar
ser melhor ou mais santo do que qualquer outra pessoa,
não por que nasci em uma família cristã ou por seguir uma
religião, mas pela fé, eu creio em Deus, em seu amor. Creio
que Jesus pagou por meus pecados, e creio que meu reino
não é deste mundo. Moisés escolheu o Reino eterno de
Deus. Eu e você teremos que escolher entre o reino do
mundo e tudo o que ele tem a nos oferecer e o Reino de
Deus, que embora nos leve às experiências de perda sob a
ótica terrena, nos conduz definitivamente à vitória, uma
nova e maravilhosa vida, regada, cuidada e protegida pelo
poder de Deus. Tudo isso, no entanto, podemos alcançar
pela fé, tão somente PELA FÉ.
“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem
ser comparados com a glória que em nós será revelada”
(Romanos 8.18).

29
Ver para crer ou crer para ver

Ilustração
Você tem mesmo fé em mim?
Um grande equilibrista, muito famoso em seu país,
resolveu fazer uma apresentação, que representaria um
grande e inédito feito em toda sua carreira. Ele iria atra-
vessar um vale de uma montanha a outra, sobre uma corda
bamba, sem nenhuma proteção, somente usando as suas
habilidades de equilibrismo.
No dia marcado para a realização da travessia, uma
enorme multidão se reuniu para ver o equilibrista em ação.
Concentrado, ele iniciou sua jornada com técnica e agili-
dade e, depois de algum tempo, chegou até o outro lado.
A multidão foi ao delírio e começou a gritar pedindo bis.
Foi quando algumas pessoas da multidão chegaram
mais perto do equilibrista e lhe disseram:
– Atravesse mais uma vez, você consegue! Você é o
melhor! Você é demais! Temos fé em você! O equilibrista
pergunta àquelas pessoas:
– Vocês creem que eu posso atravessar de novo esse
vale, andando apenas nessa corda bamba?
Sem hesitar todos responderam:
– Sim, nós cremos!
O equilibrista, então, pediu ao seu assistente que lhe
arranje uma carriola. Ninguém entendeu esse pedido estra-
nho dele, mas o assistente fez como ele mandou. Quando a
carriola chegou, o equilibrista chamou um homem daquele
grupo que tinha tanta fé nele e lhe disse:

30
1. Perdendo para ganhar

– Já que você crê tanto em minha capacidade, suba


nessa carriola que eu atravessarei a corda bamba levando
você nela!
O homem recuou imediatamente e não quis partici-
par!
– Mas você não crê em mim? Não crê que sou demais,
que sou o melhor? Indagou o equilibrista!
– Eu creio que você é o melhor, mas não confio a
ponto de subir nessa carriola.
Assim somos muitas vezes com Deus! Dissemos que
cremos Nele, que Ele é o melhor, mas não temos coragem
de “subir na carriola” e entregar plenamente nossa vida aos
cuidados dele!
Crer para ver? Ver para crer? Este é o foco de nossa
caminhada na vida cristã.

31
Capítulo II

DEIXANDO A ZONA DE
CONFORTO

Projetado por Snowing - Freepik.com


Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam (Hebreus 11. 6).

Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e


dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como
herança, embora não soubesse para onde estava
indo. Pela fé peregrinou na terra prometida como se
estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem
como Isaque e Jacó, coerdeiros da mesma promessa.
Pois ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo
arquiteto e edificador é Deus. Pela fé, Abraão — e
também a própria Sara, apesar de estéril e avançada
em idade — recebeu poder para gerar um filho,
porque considerou fiel aquele que lhe havia feito a
promessa. Assim, daquele homem já sem vitalidade
originaram-se descendentes tão numerosos como
as estrelas do céu e tão incontáveis como a areia da
praia do mar (Hebreus 11. 8-12).

Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu


Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido
as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único
filho, embora Deus lhe tivesse dito: “Por meio de
Isaque a sua descendência será considerada”. Abraão
levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos;
e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os
mortos (Hebreus 11.17-19).
34
A fé é a absoluta certeza do cumprimento do que
esperamos acontecer, é ter antecipadamente a prova de que
aquilo que não se pode ver agora, será visto futuramente.
A fé está além da nossa capacidade, ou seja, cremos embora
não possamos ver, mas mesmo assim cremos, porque Deus
promete cumprir cada uma de suas promessas.
Moisés escolheu não ser chamado de filho da filha
de faraó, preferiu ser maltratado com o povo de Deus a
desfrutar dos prazeres dos pecados momentâneos e, pela
fé, aceitou a desonra de partir como escravo para o deserto,
porque contemplava uma recompensa maior, uma recom-
pensa advinda de Deus!
Abraão foi o homem escolhido por Deus para dar
origem ao povo de Israel, vindo a ser reconhecido como o
Pai da Fé. Foi a fé que moveu o seu coração para enfren-
tar tantas e radicais mudanças em sua vida, que transfor-
mariam completamente seu futuro, rompendo com todo e
qualquer planejamento previamente traçado, tirando-lhe
qualquer sentido de segurança futura, sob o olhar humano.
Na verdade, o que queremos para nossa vida é que
aconteça tudo como planejado. Temos a necessidade de
segurança em todos os níveis, segurança financeira, fami-
liar, queremos estabilidade e, exatamente por isso, gosta-
mos da nossa cidade, do povo, dos vizinhos com os quais
fomos criados, porque ao redor de tudo isso está a nossa
necessidade e a sensação de estarmos seguros, sem correr
grandes riscos, com a tranquilidade de uma estabilidade
adquirida. Segurança é saber o que esperar, onde ir, a quem
recorrer, para que tudo transcorra exatamente conforme

35
Ver para crer ou crer para ver

o esperado. Essa segurança nos faz bem, trazendo paz ao


nosso coração e, por isso, é tão almejada por todos.
Lembro-me de uma de minhas viagens à Cuba
quando uma de minhas ovelhas (Rodrigo) ficou cerca de
duas horas detido pela polícia cubana, não podendo se
comunicar com ninguém, sendo esta sua primeira viagem
internacional e sem dominar o idioma. Após a liberação, o
Rodrigo demonstrava uma mistura de angústia e alívio. Ele
sentiu-se inseguro, o que lhe causou grande nervosismo e
segundo seu próprio relato, veio à mente não poder mais
estar com seus queridos, voltar ao seu país e tantas outras
preocupações. Com certeza ele pensou que se estivesse em
seu país e mais especificamente em sua cidade, tudo seria
diferente. Saberia a quem recorrer, como agir, pois, esta-
ria seguro. No entanto, estando em outro país, sem acesso
a pessoas conhecidas, viu-se em apuros por longas duas
horas.
A vida de Abraão passou por diversas mudanças ines-
peradas, mas a Palavra diz que ele enfrentou essas mudan-
ças e venceu por um motivo só, e não foi por sua coragem,
por sua competência, por sua inteligência, ou por sua
influência. O texto relata que foi pela fé. Vamos refrescar
nossa memória sobre o que vem a ser fé.
“Ora a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1).
Foi a fé que fez com que Abraão passasse por tan-
tas coisas, em um momento de incerteza, de dúvida que o
fazia pensar em ter um futuro meio sombrio.

36
2. Deixando a zona de conforto

“Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-


-se a um lugar que mais tarde receberia como herança,
embora não soubesse para onde estava indo” (Vs.11.8).
Essa foi a primeira grande mudança que Abraão teve
que enfrentar pela Fé. Ele teve que deixar a sua segurança,
a sua terra, a sua geografia, o seu ambiente familiar.
Em Gênesis capítulo 12.1, encontramos registrado
o chamado de Abraão: “Então o Senhor disse a Abraão:
Abraão saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa
de seus pais, e vá para terra que eu lhe mostrarei”.
Parece pouco, mas não era, e sabe por quê? Abraão já
tinha uma certa idade e segundo a Palavra de Deus, era um
homem extremamente próspero, um homem rico, possuía
gado, ovelhas, servos, produção, etc.
Abraão tinha uma estrutura de vida absolutamente
tranquila. Possivelmente, Abraão havia preparado a sua
aposentadoria e agora talvez pudesse dizer como especi-
ficado no Novo Testamento, quando Jesus ensina sobre o
perigo de se confiar nas riquezas:
“E direi a mim mesmo: “Você tem grande quantidade de
bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma,
beba e alegre-se” (Lucas 12.19).
Não seria esse o nosso sonho? Trabalhar, planejar
a aposentadoria, quanto mais pudermos guardar para o
nosso conforto e nossa segurança no futuro, um futuro de
tranquilidade econômica, uma velhice segura e feliz. Sim,
temos que admitir que muitas vezes essa é a nossa linha do
horizonte.

37
Ver para crer ou crer para ver

As fases da vida mudam e em cada uma delas temos


os nossos desafios e expectativas. Quando chega o tempo
de formar os filhos, nos esforçamos para que tenham o
melhor preparo a fim de que tenham condições de esco-
lher o caminho profissional a seguir, para que sejam inde-
pendentes, construam suas próprias famílias, para que
finalmente, nós pais, possamos descansar, diminuir o
ritmo, desfrutando das bênçãos dos cabelos brancos, lite-
ralmente na busca de “sombra e água fresca”, para desfru-
tar da merecida recompensa por tantos anos de lutas para
que chegássemos até aqui.
Abraão era mais ou menos assim, só que com muito
mais do que podemos imaginar. Ele estava na sua terra,
com a sua família, possivelmente em um grande clã e estava
com sua vida absolutamente resolvida. Quando Deus diz:
“Abraão sai daí! Sai da tua terra, deixa tudo para trás, sai
da tua parentela, do meio da sua família, dos seus parentes e
vá agora em direção a um lugar que eu te mostrarei”. A des-
peito de qualquer circunstância, ele o obedeceu. Abraão
não sabia qual era o lugar, não sabia qual era essa terra,
estava saindo para uma incerteza, não sabia para onde ia,
mas tinha convicção de quem estaria caminhando com ele.
Abraão quando obedeceu a Deus e deixou a sua riqueza,
os seus parentes, a sua terra e foi para um lugar que não
conhecia. Ele não sabia para onde ia, mas sabia com quem
ia e isso fez toda a diferença! Seria uma terra de guerreiros,
terra de inimigos ou mesmo, uma terra produtiva, onde
poderia desenvolver a agricultura e criação de animais,
seria uma terra boa para o gado e para as ovelhas? Defi-
nitivamente, Abraão não sabia de nada. Mas, havia uma

38
2. Deixando a zona de conforto

certeza: Abraão sabia quem estaria indo com ele. Deus iria
com ele, seria o seu guardião, seu protetor, seu guia, então,
pela fé em Deus, o texto diz que, quando chamado, Abraão
obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia
como herança, embora por ora, não soubesse para onde
iria. Isso é fé! Não foi fácil tomar essa decisão. Não seria
fácil para você e não seria fácil para mim.
Imagine a situação. Chegamos para um casal que já
tem filhos, em idade avançada, conhecem praticamente
todos da cidade e dizemos: “Aí, sai de sua terra, de sua
parentela, vão apenas os dois para um lugar que não lhe
diremos onde é, larguem tudo e sigam adiante”. Qual seria
a reação esperada? Com certeza não seria nada fácil! Para
aceitar um desafio desses é preciso ter fé, que “é a certeza
das coisas que esperam e a prova das que não vemos”,
é preciso ter conhecimento de quem está por trás dessa
ordem, é preciso saber com quem se está indo. E a pergunta
é: nas decisões que temos que tomar, que implicarão em
mudança de vida, temos a certeza de que Deus está no
projeto? Seja mudança de emprego, de cidade, de curso,
de fé, temos a convicção de que Deus está aprovando, de
que Ele está neste negócio? Se temos, fiquemos tranquilo,
porque Deus é fiel, Ele não abandona os seus. Ele estará
conosco, nãos nos deixará sozinhos. Ele nos comissiona e
nos acompanha.
“E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”
(Mateus 28.20).
Abraão deixou a sua terra, a sua parentela, sua riqueza,
suas posses, sua segurança, sua estabilidade e pela fé, partiu
em obediência. É como se ele dissesse a Deus: “Se vais
39
Ver para crer ou crer para ver

comigo, contigo irei”. Abraão decidiu confiar em Deus e


pela fé peregrinou na Terra Prometida como se estivesse
em terra estranha, viveu em tendas bem como Isaque e
Jacó, coerdeiros da mesma promessa. Partiu Abraão como
peregrino, como um nômade, gente que não tem paradeiro,
que monta uma cabana aqui, uma cabana ali, outra lá,
que vive cada dia, o dia de hoje, sem saber o que o espera
amanhã. Não nos esqueçamos que ele era um homem
absolutamente estável em todas as áreas de sua vida, estava
saindo de uma situação pior para procurar uma melhor,
mas da melhor situação que alguém pode ter ou pode
esperar a fim de encontrar algo que Deus tinha preparado
para ele. Então, Abraão peregrinou daqui para lá de lá para
cá: procurava montar sua cabana perto de um oásis e às
vezes não o encontrava; passava alguns dias em terra árida,
sob o forte calor do sol durante o dia e o frio assustador
do deserto à noite. Ele não sabia se estava indo encontrar
riqueza, escassez... Desconhecia o que Deus havia prepa-
rado para ele e fez isso porque esperava a cidade que tem
alicerces cujo Arquiteto e Edificador é o próprio Deus.
Abraão sabia qual era o alicerce e quem havia cons-
truído sua casa em Ur, onde vivia, reconhecia que o que
havia conquistado lhe fora dado pelo mesmo Deus que
agora o mandara deixar tudo e partir.
“O Senhor é justo em todos os seus caminhos e é bondoso
em tudo o que faz” (Salmo 145.17).
Deixou tudo para trás e, pela fé, obedeceu a Deus.
Aquele homem precisou de mais um passo de fé. Deus
falou para Abraão assim:

40
2. Deixando a zona de conforto

“Abraão, sai de sua terra de sua parentela e vá par um


lugar que eu lhe mostrarei, você será uma bênção e eu farei
de você pai de uma grande nação”. Até aí tudo bem, só
tinha um problema: Sara sua esposa era estéril, não podia
gerar filhos e Abraão já estava em idade avançada, não
tinha mais vitalidade para a vida sexual, ainda mais para
gerar filhos!
“Abraão e Sara já eram velhos, de idade bem avançada,
e Sara já tinha passado da idade de ter filhos” (Gênesis
18.11).
A promessa era boa: “Você vai ser uma bênção e eu
vou fazer de você pai de uma grande nação, eu vou lhe dar
filhos”; o que na cultura do Oriente Médio seria o maior
presente que alguém poderia receber. A mulher estéril era
humilhada por outras mulheres e o marido que não tinha
filhos, e principalmente filhos homens, sentia-se despre-
zado, envergonhado. Então quando Deus disse: “Vem
filho aí!” Que notícia maravilhosa chegou ao coração do
Abraão! Com certeza ele gritou de alegria: “Eu vou ser
pai!” Muita gente deve ter rido de Abraão e até mesmo
Sara riu diante do que acreditava ser uma impossibilidade.
“Por isso riu consigo mesma, quando pensou: ‘Depois
de já estar velha e meu senhor já idoso, ainda terei esse
prazer?’” (Gênesis 18.12).
Abraão, no entanto, acreditava no Deus do Impossí-
vel. Deus tinha algo tremendo para fazer a ele e por inter-
médio dele. Aos cem anos Abraão foi pai. Um milagre?
Sim, o Deus de Abraão é o Deus do Impossível!

41
Ver para crer ou crer para ver

Quando você crer no Deus do impossível, Ele fará


coisas aparentemente impossíveis acontecerem! Quando
você se dispõe pela fé, Deus faz milagres em sua vida. Ele
resolve problemas aparentemente insolúveis, e Ele fez isso
com Abraão e, não só abençoou Abraão, deu-lhe a alegria
de ser pai, deu a Sara a alegria de ser mãe. Mas, segundo
a Palavra de Deus lá em Gênesis, Ele abençoou todas as
famílias da Terra. Sabe o que isso quer dizer? Que todos
que obedecem a Deus não têm a bênção só para si, mas
abençoam muita gente. Como Abraão abençoou todas as
famílias da Terra? Como?
O menino Isaque nasceu e a partir dele, uma descen-
dência que seria a origem do povo de Israel. Deus escolheu
Abraão e da descendência de Abraão veio o povo de Israel,
de Israel a Jesus, de Jesus todos nós. Tudo isso porque
Abraão, pela fé, deixou tudo para cumprir o propósito de
Deus, não apenas para ser abençoado, mas principalmente,
para ser canal de bênção.
Podemos ser salvos porque um homem chamado
Abraão, pela fé, acreditou no poder de Deus. Como Abraão
poderia imaginar que ainda seria pai e que da sua des-
cendência viria o Salvador do mundo? Por isso, no Novo
Testamento, Abraão é conhecido como o homem que foi
justificado pela fé. Ele acreditou! Ele disse: “Olha, é impos-
sível, eu não tenho mais saúde para ser pai, a minha esposa
não é fértil, isso não pode acontecer, mas tem uma coisa
que sei. Se Deus falou, Ele fará, porque Deus pode todas
as coisas”. E aí veio a alegria na casa de Abraão! Chegou
um menino a quem foi dado o nome de Isaque! Deveria
ser bagunceiro, corria para lá corria para cá, igual a todos os

42
2. Deixando a zona de conforto

nossos filhos, todas as nossas crianças, uma criança como


outra qualquer, mas que pela fé de seu pai, sua história
haveria de ser extraordinária.
Após tantas emoções, poderíamos pensar: “Agora
Abraão vai sossegar, agora ele volta para sua aposentadoria,
agora descansa”. No entanto, Deus tinha mais mudanças
na vida de Abraão. Observe o que o texto continua a dizer:
“pela fé Abraão quando Deus o pôs a prova ofereceu Isa-
que como sacrifício”. Não foi Deus quem tirou Abraão lá
da terra de Ur dos Caldeus, não foi Deus quem fez Abraão
peregrinar na terra que seria a terra da promessa? Não foi
Abraão que pediu, foi Deus quem disse que Abraão seria
pai e que além de tudo seria pai de uma grande nação?
E agora esse Deus diz para Abraão:
“... Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você
ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como
holocausto num dos montes que lhe indicarei” (Gênesis
22.2).
Quem é pai pode imaginar Deus falando: “Márcio
o teu primogênito eu quero. Agora vai lá e sacrifica ele
a mim!”. Já pensou? Foi o que Deus fez! “Abraão, pegue
o seu filho e suba com ele o Monte Moriá, ali você vai
montar um holocausto, um local de culto de sacrifício de
animais e aí você vai oferecer este menino. Não é um car-
neirinho não, é este menino que eu te dei, você vai oferecer
este menino a mim”. Que dor, que angústia, que desespero!
Como compreender, senão pela fé?
“Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, oferecei
Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido as

43
Ver para crer ou crer para ver

promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho”


(Vs.17).
Foi pela fé que Abraão tomou o menino pelas mãos,
caminhando com ele, numa longa caminhada, que ficaria
mais longa ainda, em virtude da dor do coração de um pai
que levava o seu filho para o caminho da morte. Ao che-
gar ao Monte Moriá, Abraão montou o altar de sacrifício
e ao terminar, ouviu de seu filho a mais dura de todas as
perguntas.
Isaque disse ao seu pai, Abraão: “Meu pai!” “Sim, meu
filho”, respondeu Abraão. Isaque perguntou:
“As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está o cordeiro
para o holocausto?” (Gênesis 22.7).
Coloquemo-nos no lugar de Abraão! Como daría-
mos uma notícia dessa ao nosso filho? Como olhar nos
olhos do filho que tanto amamos, que é nosso sangue,
nossa carne, e dizer: “Estou te levando para a morte?” Ima-
gine como ficou Sara! Não temos nenhuma informação
quanto a isso, mas dá para imaginar, se ela tomou conheci-
mento, quanto problema teve Abraão para arrancar Isaque
de seus braços, e se não ficou sabendo anteriormente, o
saberia depois, então pensemos na encruzilhada em que se
encontrava Abraão! Uma mãe que depois de sua velhice
recebe de presente, um filho amado e tão ansiosamente
aguardado e que, agora, precisa entender que Deus está
exigindo a vida desse filho de volta, que o menino deveria
ser sacrificado para que Abraão pudesse demonstrar que
Deus era mais importante para ele do que seu próprio
filho. Deus ou nossos filhos?

44
2. Deixando a zona de conforto

Eu quero abrir um parêntese e dizer: “Cuidado pais”!


Há muitos pais que pedem a Deus um filho e depois dei-
xam de vir à igreja por causa do filho! “Hoje está frio,
hoje está quente, hoje tem sol, hoje está chovendo, hoje
tem lua...” Cuidado com isso! Porque os filhos vêm como
herança de Deus! Deus deu a vocês os filhos, então honre
a Deus com seus filhos. Imagino Abraão chegar para seu
filho e dizer: “Filho, venha até aqui”. E o texto diz (Gêne-
sis 22.9) que ele pega Isaque e coloca Isaque no lugar de
sacrifício, pega o cutelo e vai em direção ao seu filho para
imolá-lo, para matá-lo, para oferecê-lo a Deus.
Sei o que eu faria! Mas, Abraão, pela fé, deu início
aos procedimentos que culminariam com o holocausto de
seu filho, chegou a começar o sacrifício. Ele não sabia que
Deus iria falar e impedi-lo de cometer tal ato, então, por
que ele continuou, por que tomou o cutelo?
“Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os
mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta den-
tre os mortos” (Vs.19).
Ele creu no que parecia ser impossível, mas sua fé
no Deus que o havia chamado o levava a crer absoluta-
mente em tudo o que de Deus recebia. Abraão reconhecia
que Isaque não pertencia a ele e a Sara, mas unicamente a
Deus.
A doutrina da ressurreição é um ensino muito claro
no Novo testamento, mas no Antigo Testamento ainda
não! Nunca ninguém havia falado em ressurreição. Nin-
guém havia ensinado ressurreição, não havia promessa
de ressurreição. Jesus ainda não havia vindo ao mundo e,

45
Ver para crer ou crer para ver

obviamente, se não havia morrido, não havia ressuscitado.


Ressurreição era algo inimaginável, novo, improvável,
senão impossível. No entanto, a fé de Abraão o levava a
crer que o mesmo que Deus que disse que ele seria pai de
uma grande nação, que lhe daria um filho e que mesmo
em sua velhice iria gerar um filho e que sua esposa estéril
e idosa seria mãe, e que apesar de toda impossibilidade,
Deus cumpriu sua promessa, este mesmo Deus traria seu
filho de volta, mesmo que pela momentânea, imprová-
vel ressurreição. Conhecendo o coração de Deus, pensou
assim: “Deus não mente! Deus irá cumprir sua promessa
ainda que eu tire a vida de meu filho como um ato de lou-
vor Deus, Ele irá ressuscitá-lo”. Isso é maravilhoso!
“A fé é a certeza das coisas que se esperam e a prova
das coisas que não podemos ver.”
Abraão foi lá, sacrificar Isaque, mas! Deus disse: “Não
faça isso! Por que que Deus agiu assim? Seria Deus um
sádico, gostaria de ver seus filhos sofrendo? Não! Deus
precisava saber se Abraão amava mais ao seu filho do que
a Ele, se amava mais a criatura do que o Criador! Foi um
teste! Por quê? Não foi Deus quem deu o filho a Abraão?
“Eu sou o Senhor; esse é o meu nome! Não darei a outro
a minha glória...” (Isaías 42.8).
Pais, não sejamos ingratos para com Deus! Ele nos
concede a bênção dos filhos, mas eles não são nossos e
nem podem ser tratados como deus. Os filhos não podem
tomar o lugar de Deus em nossos corações, não devemos
idolatrá-los, não podemos descuidar do nosso louvor e ser�
-
viço a Deus, usando como pretexto o cuidado dos nossos

46
2. Deixando a zona de conforto

filhos. Honremos a Deus com os nossos filhos, pois isso


se traduzirá em bênçãos para nossa vida, bem como para
nossa descendência.
Quando Deus interrompeu o sacrifício, Abraão res-
pirou aliviado, mas antes mesmo disso, ele cria na perfeita
provisão de Deus. Ele ensinou a seu filho Isaque que Deus
é um Deus que provê sobre nossas vidas, um Deus que
providencia o impossível. A grande resposta dada a Isa-
que quando este perguntou “...onde está o cordeiro para o
holocausto”, foi a mesma que devemos esperar e ensinar a
nossos filhos. Respondeu Abraão:
“Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto,
meu filho” (Gênesis 22.8).
Deus proverá!
Alguém, no entanto, teria que morrer, então a Bíblia
diz que ele olha para o lado e vê que ali estava um cordeiro.
“Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos
chifres num arbusto. Foi lá, pegou-o e sacrificou-o como
holocausto em lugar de seu filho” (Gênesis 22.13).
O cordeiro substituiu o filho, o cordeiro morreu em
lugar do filho, o cordeiro imolado, salvou a vida do filho.
O cordeiro foi sacrificado. O caminho de ida foi
doloroso para Abraão, com o coração sangrando, ele foi
em direção ao matadouro, agora, volta com o filho em
seus braços, beijando, jogando para cima, correndo para
lá e para cá. Por que houve festa? Porque um cordeiro foi
sacrificado em lugar de Isaque e esse cordeiro era a anun-
ciação daquilo que Jesus faria por mim e por você, morrer

47
Ver para crer ou crer para ver

em nosso lugar, onde eu deveria ser sacrificado Jesus foi e


se sacrificou por mim. Onde deveria ser o meu sangue der-
ramado, Jesus foi e derramou o seu sangue em meu lugar!
Tudo isso Ele fez por mim e por você. Uma morte vicária,
pagando pelos nossos pecados. Jesus foi e morreu em meu
lugar e Ele pagou pelos meus pecados! Podemos viver, mas
o Cordeiro foi sacrificado, morto em nosso lugar. Pela fé,
cremos neste sacrifício, pela fé aceitamos que o Cordeiro
morreu em nosso lugar, pela fé recebemos, em lugar de
morte, a vida eterna, pela fé, somente pela fé.
“Sem fé é impossível agradar a Deus”!
Qual é o tamanho de nossa fé? Se Deus nos der
saúde, se Deus nos der dinheiro, nós o serviremos. Isso é
fé? Não! Isso é barganha! Fé é o que Abraão demonstrou,
quanto tinha uma vida tranquila, tudo certo, tudo resolvido
e Deus então, manda que ele saia e vá para um lugar que
iria mostrar e levar. “Sai com a sua esposa e vá, e eu estarei
com você”. E ele foi, houve mudança, era rico e começou
a peregrinar, acampando aqui, ali, mas Deus havia pro-
metido! Deus, então, promete fazê-lo pai de uma grande
nação, e cumpriu a promessa. A única coisa que lhe faltava
era eu ser pai, e Deus lhe deu um filho, contrariando a
lógica. A riqueza de ser pai era maior do que tudo o que
havia ficado para trás. Mas, Deus após lhe dar um filho,
o pede de volta e mesmo não compreendendo, Abraão se
dispôs a entregá-lo. Abraão fez isso porque sabia que o
Deus que servia e que havia lhe prometido um filho, era
poderoso até mesmo para ressuscitá-lo dentre os mortos.
Como tem sido a nossa caminhada na fé? Será que
temos achado muito difícil sermos fiéis a Deus, pensando
48
2. Deixando a zona de conforto

estar pagando um preço alto? Talvez Deus esteja nos man-


dando partir e ainda que não nos mostre os detalhes, Ele
irá conosco. Ouçamos Deus dizer: “Sigam em frente por-
que eu estou com vocês! Não desfaleçam porque eu irei
com vocês! Não desanimem porque eu os ajudarei!
“Não foi eu que te ordenei? Seja forte e corajoso! Não se
apavore, nem se desanime, pois, o Senhor, o seu Deus,
estará com você por onde você andar” ( Josué 1.9).

49
Capítulo III

NAVEGANDO PELA FÉ

Projetado por Kjpargeter - Freepik.com


“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam”
(Hebreus 11.6).

“Pela fé Noé, quando avisado a respeito de coisas


que ainda não se viam, movido por santo temor,
construiu uma arca para salvar sua família. Por
meio da fé ele condenou o mundo e tornou-se
herdeiro da justiça que é segundo a fé”
(Hebreus 11.7).
52
“Sem fé é impossível agradar a Deus”. Sem fé não
há maneira de agradar o coração de Deus. Se somos pes-
soas sem fé, não conseguiremos desenvolver um relaciona-
mento com o Senhor, pois a única maneira de conseguir-
mos chegar ao coração do Pai se encontra na existência e
no exercício de nossa fé. Já sabemos o que é fé:
“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1).
É a plena convicção daquilo que esperamos que irá
acontecer, com absoluta certeza que, mesmo que não
possamos ver agora, certamente, todas elas se cumprirão.
Fé é crer de todo o coração numa promessa que ainda está
por se cumprir, mas que pela fé se cumprirá. Existe uma
máxima para os filhos de Deus que diz: “Deus não deixa
de cumprir nenhuma de suas promessas”.
Deus prometeu ao povo de Israel a libertação da
escravidão de 430 anos no Egito, e que os conduziria até
uma terra maravilhosa, cheia de fartura, “terra que emana
leite e mel”. Esse processo de libertação até a chegada à
Terra Prometida foi bastante conturbado, pois o povo, se
rebelou contra Deus, sem fé, pois mesmo vendo muitos
milagres, demonstrou ser um povo incrédulo, murmura-
dor. Como Deus não deixa de cumprir suas promessas, Ele
fez com que quase todos que saíram do Egito perecessem
no deserto, mas cumpriu a sua promessa com aqueles que
acreditaram, mesmo sem ver e por isso entraram na “Terra
Prometida”. Inclusive Josué e Calebe que haviam saído
do Egito, tendo permanecidos fiéis, obtiveram certeza do

53
Ver para crer ou crer para ver

que esperavam e provado que seria real, mesmo que não


pudessem por ora, ver a tão decantada terra!
Deus não mente, Ele sempre cumpre as suas promes-
sas, é fiel, por isso somos chamados a viver pela fé, pois a
fé está baseada, não em nossa capacidade, não em nossas
virtudes, não em que sejamos melhores que outras pessoas,
mas está baseada na pessoa de Deus. Naquele que faz a
promessa, no Deus Infalível que não se nega a cumprir
uma só de suas promessas, apesar de muitas vezes nos ver
vacilar em nossa trajetória. É por isso que a Bíblia afirma,
categoricamente:
“...sem fé é impossível agradar a Deus”.
Se cremos que Deus existe, então precisamos nos
aproximar Dele, crendo que irá recompensar a nossa fé.
Esse é o ponto principal da vida cristã: ninguém pode
chegar a Deus a não ser pela fé.
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto
não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para
que ninguém se glorie” (Efésios 2.8,9).
Mas, fé em quê? Fé em quem? O apóstolo Paulo res-
ponde com uma clareza tão maravilhosa, que não deixa
nenhuma dúvida sobre em quem deve estar depositada a
nossa fé.
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus” (1 Timóteo 2.5).
Assim, nossa fé na pessoa de Jesus nos dá a certeza de
que Deus haverá de cumprir todas as promessas. Cumprir
a promessa do perdão dos pecados, a promessa da salva-

54
3. Navegando pela fé

ção, a promessa da vida eterna. O que Deus prometeu, Ele


cumprirá, mas a nossa parte é crer, é ter fé.
Nos capítulos anteriores, analisamos a vida de Moisés,
que não quis ser chamado do filho da filha de faraó, esco-
lheu abdicar de uma vida de conforto e prazeres no palácio
do rei, indo para um imenso deserto de incertezas, mas
com a inabalável certeza de Deus cumpriria sua promessa.
Pudemos ver Abraão, um homem estabelecido, próspero,
com sua vida resolvida e família ajustada, um homem de
fé, pois ao ouvir o chamado de Deus, deixou tudo por um
lugar de incertezas, que não sabia onde era, não conhecia,
mas pela fé largou tudo e foi, pois, sabia que Deus estaria
com ele, e que o Deus que o tiraria da sua condição estabi-
lizada, seria absolutamente fiel a ele, crendo piamente em
Deus. Por isso, foi justificado pela fé.
“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como jus-
tiça” (Romanos 4.3).
Mesmo antes de Jesus nascer, antes dos mandamen-
tos terem sido escritos, pela fé, Abraão foi pai aos 100 anos
de idade, sua mulher tornou-se fértil, tendo permanecido
estéril por toda a vida. Ele creu na promessa de Deus.
Abraão entendeu a impossibilidade de ter intimidade e de
agradar ao coração de Deus se não houvesse por parte dele
a manifestação da fé, um passo de fé, crer no que lhe pare-
cia ser impossível. Crer para ver.
O texto de Hebreus onze nos apresenta um outro
personagem que nos deixou um grande legado de fé.
Apresenta Noé como um homem correto no meio de uma
sociedade completamente corrompida e para que fosse

55
Ver para crer ou crer para ver

instrumento nas mãos de Deus precisaria ter em si o ele-


mento insubstituível da fé. A história de Noé está toda ela
narrada nos capítulos 6 e 7 de Gênesis e nos traz algumas
informações importantes:
“O Senhor viu que a perversidade do homem tinha
aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensa-
mentos do seu coração era sempre e somente para o mal”
(Gênesis 6.5).
O homem havia se tornado, violento, rebelde. Havia
se tornado completamente distante de Deus. Homens
corruptos, imorais, cuja maldade chegou a um limite que
Deus não poderia suportar mais.
Sendo assim, Deus resolve destruir o homem que
havia criado. O Criador disse: “Chega! Não suporto mais!”
Mas, Deus viu um dentre tantos, um homem chamado
Noé e sobre ele afirma:
“Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua
época; ele andava com Deus” (Gênesis 6.9).
Quero tirar uma lição para nossa vida: não importa
o quão ruim esteja essa sociedade, não importa se as pes-
soas estão banalizando a moral, não importa se a sociedade
chamou o que Deus fez e disse de coisas más, distorcendo
a boa criação do Altíssimo; se tem aceitado a corrupção e a
imoralidade e não respeita mais nenhum valor e que todo
padrão de moralidade, honestidade e respeito está ruindo,
se diluindo em um mar de degradação... Nós não estamos
fadados ao mesmo destino. Noé nos ensina que o homem
temente a Deus se mantém fiel ainda que todos se desviem
de Deus. Ele se mantém nos padrões de Deus ainda que
56
3. Navegando pela fé

toda uma sociedade resolva se distanciar de Deus; se man-


tém firme nos ensinos do Senhor, mesmo que toda uma
sociedade insista em dizer não e se voltar contra o Senhor.
A maldade do homem havia enchido a Terra e Deus não
suportava mais, porém, havia um homem chamado Noé
que permaneceu fiel, íntegro e temente a Deus.
Muitas vezes a ideia de que para andarmos corretos
dependemos dos outros invade a nossa mente. Passamos
a pensar como os ímpios, a raciocinar com a lógica dos
homens que não têm temor a Deus, e com isso nos acostu-
mamos, padronizamos o nosso modo de pensar, falar e agir
ao padrão de homens que Deus não suporta mais.
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transfor-
mem-se pela renovação da sua mente, para que sejam
capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável
e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2).
Noé era um homem justo, que não compactuava
com a injustiça da sociedade. Noé era um homem íntegro
não compactuava com a perda dos valores de um homem
digno, pois andava com Deus, nutria temor a Deus e des-
frutava da comunhão com o Senhor e fazia a Sua vontade.
A família de Noé entendia o que ele estava fazendo e o
respeitava. Se refletirmos bem, vamos perceber que esta-
mos melhores que Noé, pois hoje existem muitas famí-
lias que estão comprometidas com o Senhor, o que não
nos permite possibilidades de justificarmos nossas atitudes
baseadas no quadro da sociedade que nos cerca. As jovens
cristãs não podem dizer que é impossível manter a pureza.
Os rapazes não podem dizer que é impossível se mante-
rem castos. Os trabalhadores não podem dizer ser impos�-
57
Ver para crer ou crer para ver

sível não sonegar impostos. Os casais não podem dizer que


a fidelidade conjugal é um bem de valor inatingível. Não
estamos sozinhos, pois ainda há filhos de Deus compro-
metidos com a santidade! Noé e sua família nos ensinam
que não importa para onde vá a sociedade, nem em qual
direção caminha o nosso país, isso não importa. Noé nos
ensina que é possível manter-se justo, íntegro e temente a
Deus mesmo que todos os outros decidam debandar.
A conduta de Noé fez com que recebesse a primeira
recompensa: Deus iria destruir todo o mundo, mas ele não
seria destruído. Deus reconheceu que Noé não fazia parte
daqueles que zombavam e se afastavam do Criador; daquela
comunidade que havia se afastado de seus caminhos. Noé
não fazia parte do turbilhão de pecadores inveterados, não
fazia parte das orgias, das negociatas. Assim aprendemos
que vale a pena ser fiel, ser diferente, vale a pena ser mino-
ria, pois quem disse que a minoria está errada? Essa é uma
ideia equivocada, a de que sempre devemos estar com a
maioria, onde todo mundo vai, iremos também, o que todo
mundo pensa, pensaremos também, e se todo mundo cair
no precipício, cairemos também. Isso é uma tolice! Não
podemos ficar como um gado cego, seguindo uma massa
que não sabe nem para onde vai.
Noé nos ensina a termos personalidade e se Noé
vivesse no tempo do apóstolo Paulo teria feito dele suas
palavras:
“Porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de
que ele é poderoso para guardar o meu depósito até
aquele dia” (2 Timóteo 1.12).

58
3. Navegando pela fé

Paulo foi preso, açoitado, perdeu seu prestígio, perdeu


amigos, mas não abriu mão de sua integridade espiritual
ainda que todos o abandonassem. Noé nos ensina que vale
a pena caminhar pela fé, ainda que fiquemos sozinhos, e
por sua fé recebeu um escape da parte do próprio Deus,
recebeu a salvação. Então, Deus se revelou a ele; revelou
seu plano de destruir todo a Terra num dilúvio, revelou
que toda a criatura que tivesse fôlego de vida seria des-
truída, mas com ele e com sua família seria estabelecida
uma aliança, na qual seriam salvos ele, sua mulher, seus
filhos e suas noras. Uma bênção familiar estaria sobre a
casa de Noé.
O patriarca vivia em uma região onde possivelmente
a terra era árida, seca e muito deserta. Normalmente a
terra era regada pelo orvalho e não por água caindo do céu,
parecia que a humanidade nunca havia visto um temporal.
Mesmo assim, Noé, vivendo em uma sociedade incrédula,
acreditou que Deus iria mandar uma tempestade, algo
nunca havia visto antes, e que seria tanta água que toda a
humanidade iria morrer e até os mais altos montes seriam
cobertos. Pela fé, ele não só acreditou, como agiu de acordo
com sua fé. Apenas um louco ou um crente, para acreditar
em uma mensagem tão improvável!
Para confirmar a sua fé, Deus manda que ele construa
uma arca enorme. Um absurdo! Um monstro, que levou
120 anos de trabalho para ficar pronto em pleno deserto.
Você consegue imaginar uma família construindo uma
arca dessa no deserto, em uma sociedade incrédula? Você
imagina quanto desprezo? Quanto deboche? Quanta
gente rindo de Noé? O quanto ele foi taxado de louco,

59
Ver para crer ou crer para ver

de fanático? Ou para utilizar uma expressão da moda, o


quanto ele foi tido como um fundamentalista? Assim,
durante 120 anos, Noé viveu pela fé, e a única garantia que
ele tinha era a palavra de Deus. Ele nem imaginava o que
era uma tempestade, que dirá um dilúvio... Quem mora
em regiões ribeirinhas, até pode calcular o que muita água
pode fazer, mas não pode calcular ou imaginar o que é
um dilúvio, uma enchente diluviana. Durante 120 anos de
construção, Noé e sua família foram testemunhas do que
iria acontecer. Imagino a família de Noé, sua esposa, seus
filhos, suas noras, como poderiam ter duvidado dele! Noé
sabia que a sua parte era construir a arca, que na hora certa
iria cair água do céu. Que fé admirável!
Ao fim de todo o trabalho, Deus mandou Noé entrar
na arca. Provavelmente estava ensolarado e quente quando
Noé entrou na arca. A porta se fechou e não havia nenhum
sinal de chuva. Noé não só construiu a arca pela fé como
também entrou antes que a chuva desse sinal.
E o dilúvio veio, dizimou toda humanidade, deixando
vestígios geológicos dessa grande catástrofe.
“No dia em que Noé completou seiscentos anos, um mês
e dezessete dias, nesse mesmo dia todas as fontes das
grandes profundezas jorraram, e as comportas do céu se
abriram. E a chuva caiu sobre a terra quarenta dias e
quarenta noites” (Gênesis 7.11,12).
Não só caiu água do céu, mas das profundezas da terra
brotou água, jorrou água. Sabemos que no subsolo existe
água, e a Bíblia diz que essa água rompeu as profundezas,
rachou o solo, brotou da terra. Provavelmente as pessoas

60
3. Navegando pela fé

começaram a ir até a arca e bater à porta, pois sabiam da


notícia de Noé. Não acreditaram nele porque não haviam
visto ainda, e quando viram provavelmente correram para
a arca. A fé não está na vida de quem espera ver para crer.
A fé está presente na vida daquele que crê para depois ver
e foi o que Noé fez, não viu nada, simplesmente acreditou.
Assim que Noé entrou na arca e a porta foi fechada, não
por Noé, mas por Deus, as multidões foram tomadas por
um grande desespero, mas já era tarde demais.
Mas, que ligação essa história pode ter com os dias de
hoje? No Novo Testamento, no evangelho de Mateus, no
capítulo 24.37-39, Jesus faz essa ligação:
“Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda
do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio,
o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se
em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e
eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou
a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem”.
Assim também o apóstolo Pedro afirma:
“Pela mesma palavra os céus e a terra que agora exis-
tem estão reservados para o fogo, guardados para o dia
do juízo e para a destruição dos ímpios” (2 Pedro 3.7).
Assim quando isso acontecer, a Bíblia afirma que
todos quantos não estiverem na arca, que é Jesus, não
poderão ser salvos, serão igualmente destruídos. No dia
em que Cristo voltar muitos irão se desesperar, e querer
entrar no Reino de Deus, mas não será mais possível, pois
a porta estará fechada e fechada por Deus. Não adiantará
crer no que agora se pode ver.
61
Ver para crer ou crer para ver

“Pela fé Noé, quando avisado a respeito de coisas que


ainda não se viam, movido por santo temor, construiu
uma arca para salvar sua família”.
Estamos construindo a nossa arca? Estamos reves-
tindo nossa vida, bem como a vida de nossa família da pos-
sibilidade de Salvação? Estamos destemidamente, cons-
truindo uma vida espiritual, a despeito de vivermos em
uma sociedade perdida, imunda, imoral, incrédula, pagã,
que diz não a tudo que se chama Deus? Como está a cons-
trução da nossa arca? Estamos preparados para quando
Deus resolver enviar a destruição ou a nossa morte? Esta-
mos tranquilos, cobertos e protegidos pela arca da salva-
ção?
Tão somente pela fé poderemos entrar na arca que é
Jesus Cristo. Aquele que nos protegerá da destruição total
do pecado que mata, nos protegerá de Satanás, e da morte
eterna no inferno.
“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito
de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”
(Romanos 6.23).
Muitos duvidarão da realidade desse grande e terrível
dia e o apóstolo Pedro relatou a veracidade dessa afirma-
ção em sua segunda carta, no capítulo 3, versículos 3 e 4:
“Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão
escarnecedores zombando e seguindo suas próprias pai-
xões. Eles dirão: “O que houve com a promessa da sua
vinda? “Desde que os antepassados morreram, tudo
continua como desde o princípio da criação”.

62
3. Navegando pela fé

Muitos dirão: “Nasce um dia, vem a noite, traba-


lhamos toda a semana, descansamos no domingo, e nada
aconteceu?”. Durante 120 anos não aconteceu nada! Isso
se deve ao fato de Deus ter dado 120 anos para a humani-
dade se arrepender dos seus pecados e crer em Noé. Quan-
tos anos Deus ainda nos dará para que nos arrependamos?
Quanto tempo Deus dará à nossa família? Podemos ficar
tranquilos quanto ao dia da destruição, o dia final de nossa
existência na Terra, no entanto, isso será possível somente
pela fé.
Deus não virá à Terra afim de explicar para que creia�-
mos em suas promessas, Ele não necessita provar a vera-
cidade de sua Palavra, pois a fé é a certeza das coisas das
quais não temos prova, não podemos ver.
“... Uma geração perversa e adúltera pede um sinal
miraculoso! Mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o
sinal do profeta Jonas” (Mateus 12.39).
Os homens não voltarão a Deus por meio de sinais
miraculosos, nem mesmo se queridos que já morreram
pudessem voltar, eles não mudariam suas vidas, mesmo
por que, a Palavra de Deus e a pregação do Evangelho são
o meio pelo qual Deus tem falado ao homem, oferecendo-
-lhe a oportunidade de salvação.
“Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que
os ouçam’. (...) ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas,
tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite
alguém dentre os mortos’ ”. (Lucas 16.29-31).

63
Ver para crer ou crer para ver

Deus não enviará anjos, Ele não fará com que Jesus
desça para que creiamos, pois nos tem dado a oportuni-
dade, por meio de sua Palavra e devemos aceitá-la pela fé.
“Da mesma forma, como o homem está destinado a
morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo,
assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma
única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá
segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer
salvação aos que o aguardam” (Hebreus 9.27,28).
“Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele
que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem
vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê
nisso?” ( João 11.25,26).
“Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a
vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” ( João
14.6).
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita
o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece
sobre ele” ( João 3.36).
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus” (1 Timóteo 2.5).
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto
não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para
que ninguém se glorie” (Efésios 2.8,9).
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho
Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça,
mas tenha a vida eterna” ( João 3.36).

64
3. Navegando pela fé

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para


perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injus-
tiça”. (1João 1)
“Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que
vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um
intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos
nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo”
(1 João 2.1,2).
Deus quer ouçamos e creiamos em sua Palavra, no
tempo aceitável do Senhor, que creiamos hoje, sem duvi-
dar:
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o
Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos;
enviou-me a restaurar os contritos de coração, a pro-
clamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos
presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor” (Isaías
61.1,2).
“Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o
coração...” (Hebreus 3.15).
Deus nos pedirá o passo de fé.
A fé que fez com que Moisés, deixasse de ser cha-
mado do filho da filha de faraó e toda a sua segurança,
para ir paro o deserto com um povo sofrido e escravizado,
pois, esperava uma recompensa maior. A fé que fez com
que Abraão saísse da sua casa e da sua parentela para uma
terra desconhecida, mas crendo na fidelidade de Deus.
Pela fé, Abraão acreditou que seria pai de uma nação,

65
Ver para crer ou crer para ver

mesmo sendo impossível aos seus olhos, que sua descen-


dência haveria de ser tão abundante quanto as areias da
praia. O que Deus quer ver em nós é a presença da mesma
fé demonstrada por Noé, ao crer que iria destruir toda a
humanidade, e fazer cair um dilúvio sobre a Terra, muito
embora nunca tivesse visto água cair do céu dessa forma.
Pela fé ele começou a construir a arca e trabalhou, por fé,
durante 120 anos. Pela fé, Noé entrou com sua família na
arca, e por isso, foi salvo da tragédia do dilúvio.
Pela fé, podemos ser salvos da tragédia que se abateu
e se abaterá sobre a humanidade, por causa do pecado. Pela
fé na “arca” da nossa salvação, Jesus Cristo, único meio de
sermos salvos da ira eterna e de desfrutarmos da bênção do
livramento de nossa destruição. Pela fé em Jesus, seremos
carregados pelos braços de Deus, livres de toda a condena-
ção, justificados diante ao Pai, agasalhados por seu amor.
No entanto, apenas se acreditarmos na “arca, se entramos
nela e, crendo, descansarmos na certeza de que seremos
salvos, pela fé.
“Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus” (1Timóeto 2.5).

66
3. Navegando pela fé

Ilustração:
A Rocha
Um homem estava dormindo a noite no interior
quando, de repente, sua casa encheu de luz e o Senhor apa-
receu. O Senhor disse ao homem que ele tinha um traba-
lho para ele e mostrou uma rocha enorme na frente da sua
casa. O Senhor explicou que o homem deveria empurrar a
rocha com toda sua força.
Isso o homem começou a fazer, dia após dia. Por
meses o homem se esforçou do amanhecer até o pôr do
sol, seus ombros empurrando a superfície da rocha enorme
e fria, mas a rocha não mudava.
Cada noite o homem retornava a sua casa, cansado,
músculos doendo e sentindo derrotado porque não havia
conseguido mudar a grande rocha.
Vendo que o homem estava mostrando sinais de desis-
tir, O Maligno começou a colocar pensamentos negativos
na cabeça dele. De repente o homem se achou pensando
“Você está tentando há muitos meses mudar essa rocha e
nunca conseguiu nada. Para que você está se desgastando?
Isso aí não dará resultado nenhum.”
Mais tarde o homem começou a duvidar assim: “Será
que Deus queria que eu continuasse esse tempo todo? Ele
só disse para eu empurrar a rocha, ele não disse por quanto
tempo. Já faz alguns anos que estou empurrando, talvez eu
posso desistir agora. Pelo menos, eu não preciso empurrar
o dia todo e com tanta força. Eu posso me dedicar uma
parte do dia a este trabalho e passar o resto fazendo outras
coisas.”
67
Ver para crer ou crer para ver

Ele decidiu fazer isso mesmo, mas depois ele chegou


a pensar que seria bom orar ao Senhor sobre o caso.
“Senhor,” ele falou, “eu trabalhei duro e por muito
tempo no serviço que o Senhor me deu. Eu dei toda minha
força para conseguir o que o Senhor quis. Mas, depois
desse tempo todo ainda não consegui mudar aquela rocha
nenhum centímetro. O que está errado? Por que eu estou
sendo derrotado?”
O Senhor respondeu com compaixão. “Meu amigo,
quando eu lhe pedi para me servir e você aceitou, eu lhe
disse que sua tarefa era de empurrar aquela rocha com toda
sua força, o que você fez até agora. Em nenhum momento
eu disse que eu esperava que você mudasse a rocha. Sua
tarefa era de empurrar. E agora você chega para mim pen-
sando que você fracassou. Mas, será que foi assim, mesmo?”
“Olhe para você mesmo,” disse o Senhor. “Seus bra-
ços estão fortes e musculosos. A musculatura das suas cos-
tas agora é bem desenvolvida e vigorosa. Suas pernas estão
duras e robustas, suas mãos firmes. Enfrentando a resis-
tência você cresceu muito e agora suas habilidades ultra-
passaram em muito o que você era antes.
Mas, você ainda não mudou a rocha. Porém, sua tarefa
não era de mudar a rocha e sim de ser obediente e empurrar
com toda sua força. Isso você fez, e fez bem. Ao contrário
de ser um fracasso você foi bem-sucedido e venceu. Eu ape-
nas queria que você exercitasse sua fé e confiasse na minha
sabedoria. Isso você fez. “Eu, meu filho, agora vou mudar a
rocha.”
Às vezes quando ouvimos uma Palavra de Deus
queremos usar nosso próprio raciocínio para decidir o que
68
3. Navegando pela fé

Ele quer, quando, mas o que Deus realmente quer é apenas


uma simples obediência e fé nEle. Com certeza, devemos
ter a fé que pode mover montanhas, mas lembrar ainda
que quem de fato move as montanhas é Deus.

69
Capítulo IV

A CAMINHADA DA FÉ

Projetado por Whatwolf - Freepik.com


Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam
(Hebreus 11.6).

Pela fé a prostituta Raabe, por ter acolhido os


espiões, não foi morta com os que haviam sido
desobedientes (Hebreus 11.31).
72
Os capítulos anteriores nos falaram de heróis famo-
sos pela fé, pessoas que admiramos muito, como Moisés e
Noé. Quem não é admirador de Moisés, de sua trajetória
sua história, de sua disposição de servir à Deus, sua fé ao
crer que Deus faria milagres no meio do povo de Israel por
seu intermédio? Ora, Moisés é um ícone da história, não
só cristã, um líder reconhecido, honrado, respeitado.
Também mencionamos Abraão. O que dizer sobre
Abraão, o pai da fé, o homem que Deus escolheu para ser
pai da grande nação de Israel? Uma nação que daria ao
mundo Jesus Cristo, o Salvador. Abraão foi justificado pela
fé e a história é linda, uma história de obediência, de des-
prendimento, uma história de comprometimento extraor-
dinário com Deus.
Falamos sobre Noé, um personagem conhecido pela
história do dilúvio, que vem apenas demonstrar as qualida-
des daquele homem: integridade, justiça e temor a Deus.
Um homem que tinha uma fé inabalável no Senhor, tanto
que entre uma humanidade decaída, Deus o considerou
justo, poupando sua vida. Deus mandou Noé fazer uma
arca e durante 120 anos pela fé ele trabalhou, e acreditou
na promessa de Deus, sendo salvo das águas do dilúvio.
Personagens admiráveis, pessoas que gostaríamos de
ser como elas, de ter fé e coragem suficiente para imitá-las.
O personagem deste capítulo é diferente. É uma
mulher que era uma prostituta, uma mulher que não tinha
o respeito das pessoas, que vendia o seu corpo, que não
entendia a beleza do sexo e do que Deus fez. Era um

73
Ver para crer ou crer para ver

objeto, ou pelo menos, se apresentava como um objeto e


assim era vista por todos.
A Bíblia diz tão somente que ela era prostituta e era
muito conhecida e sua história nos mostra isso, tanto que
o rei mandou alguém ir à casa da prostituta Raabe para que
ela dissesse onde estavam os espias de Israel. Mas, olha que
coisa fantástica! Até admirarmos os heróis da fé quando
falamos de Abraão, Noé, Moisés e tantos outros. Nos
parece normal, mas agora abriu-se uma brecha. Falávamos
de pessoas muito corretas, honestas, influentes, pessoas que
tinham pecado sim, mas que estavam dentro de um padrão
de normalidade e respeito na vida social. Na Galeria dos
Heróis da Fé foi incluído alguém sem nenhuma reputa-
ção, a prostituta Raabe, mas que, pela mesma fé de Abraão,
Moisés, Noé e os demais, também foi salva da destruição
de Jericó, mais do que isso, foi salva de sua vida de pecado.
Deus não está atrás de pessoas perfeitas e infalíveis, a
graça de Deus não está ao alcance dos corretos.
“Porque a graça do Senhor se manifestou salvadora a
todos os homens” (Tito 2.11).
O capítulo 11 de Hebreus nos mostra isso. Que coisa
linda é falar de Isaías, Jacó, Isaque, Noé, Abraão, Moi-
sés! Mas, de repente aparece uma prostituta. Da mesma
maneira, no mesmo capítulo, no mesmo contexto, na
mesma história, pela fé mesma, ela também foi salva. A sua
vida mudou. Ela que vivia antes do período da graça, obvia-
mente sob o ponto de vista de fazer uma confissão pessoal
a Jesus, ela demonstrou fé no Deus de Israel e tendo agido
com fé recebeu libertação.

74
4. A caminhada da fé

No livro de Josué Capítulo 2, quando os preparativos


para a conquista da Terra Prometida haviam começado,
Josué enviou espias à Jericó, uma cidade ultra fortificada,
com muralhas consideradas perfeitas, intransponíveis.
Situada próximo ao rio Jordão, do lado oposto onde se
encontrava o povo, atual Jordânia. A primeira cidade a ser
vencida seria um grande desafio para Israel porque era uma
cidade intransponível, muito bem protegida pelos seus sol-
dados, vigias, mas principalmente pelas suas intransponí-
veis muralhas, as famosas muralhas de Jericó.
Mas, por que Jericó era tão fortificada? Jericó sem-
pre foi chamada como a cidade das palmeiras. Então, em
Jericó havia água e água corrente, havia palmeiras, isto é,
havia sombra, era uma espécie de Oásis, só que um Oásis
habitado. Havia ali uma população, uma cidade. Ora, onde
há deserto qualquer lugar que haja sombra tem que ser
bem guardado, bem vigiado. A população de Jericó cui-
dava para que a cidade não fosse invadida.
O primeiro desafio que Deus deu a Josué foi conquis-
tar aquela cidade fortificada. Nós sabemos que a cidade foi
conquistada, está na Palavra de Deus, mas Josué, anterior-
mente, havia mandado espias à cidade.
“Então Josué, filho de Num, enviou secretamente de
Sitim dois espiões e lhes disse: “Vão examinar a terra,
especialmente Jericó”. Eles foram e entraram na casa de
uma prostituta chamada Raabe, e ali passaram a noite”
( Josué 2.1).
Por que que eles entraram na casa de uma prostituta?
Porque a casa de uma prostituta estava sempre aberta. Por-

75
Ver para crer ou crer para ver

que a casa de uma prostituta sempre estaria aberta para


qualquer homem, embora eles não estivessem ido até o
local com intenção de praticar ato indigno, mas homens
entrando na casa de uma prostituta era algo esperado e
não haveria suspeitas. O rei de Jericó ficou sabendo disso e
mandou vasculhar a casa de Raabe, porque a fama de Israel
chegara a Jericó. Eles conheciam a trajetória da libertação
do povo de Israel do Egito até chegarem perto da Terra
Prometida. O rei mandou dizer para que ela os entregasse
e ela escondeu os dois homens, não os entregou. Disse que
eles estiveram ali, mas já havia saído. O texto diz que:
“Antes dos espiões se deitarem, Raabe subiu ao terraço
e lhes disse: “Sei que o Senhor lhes deu esta terra. Antes
dos espiões se deitarem, Raabe subiu ao terraço e lhes
disse: “Sei que o Senhor lhes deu esta terra. “Vocês nos
causaram um medo terrível, e todos os habitantes desta
terra estão apavorados por causa de vocês. Pois temos
ouvido como o Senhor secou as águas do mar Verme-
lho perante vocês quando saíram do Egito, e o que vocês
fizeram a leste do Jordão com Seom e Ogue, os dois reis
amorreus que aniquilaram. Quando soubemos disso, o
povo desanimou-se completamente, e por causa de vocês
todos perderam a coragem, pois o Senhor, o seu Deus, é
Deus em cima nos céus e embaixo na terra” ( Josué 2.8-
11).
É essa palavra de Raabe que fez com que ela seja
incluída na Galeria dos Heróis da Fé. Pela fé Raabe foi
poupada no dia da destruição de Jerico.
E assim segue a história:

76
4. A caminhada da fé

“Quando soubemos disso, o povo desanimou-se comple-


tamente, e por causa de vocês todos perderam a cora-
gem, pois o Senhor, o seu Deus, é Deus em cima nos céus
e embaixo na terra. Jurem-me pelo Senhor que, assim
como eu fui bondosa com vocês, vocês também serão
bondosos com a minha família. Deem-me um sinal
seguro de que pouparão a vida de meu pai e de minha
mãe, de meus irmãos e minhas irmãs, e de tudo o que
lhes pertence. Livrem-nos da morte”. “As nossas vidas
pelas de vocês! “, os homens lhe garantiram. “Se você
não contar o que estamos fazendo, nós a trataremos com
bondade e fidelidade quando o Senhor nos der a terra”.
Então Raabe os ajudou a descer pela janela com uma
corda, pois a casa em que morava fazia parte do muro
da cidade, e lhes disse: “Vão para aquela montanha, para
que os perseguidores não os encontrem. Escondam-
-se lá por três dias, até que eles voltem; depois poderão
seguir o seu caminho”. Os homens lhe disseram: “Esta-
remos livres do juramento que você nos levou a fazer se,
quando entrarmos na terra, você não tiver amarrado
este cordão vermelho na janela pela qual nos ajudou a
descer...” ( Josué 2.11-18a).
O trato foi o seguinte: “Pouparemos a sua vida e de
seus familiares, essa muralha será destruída e a cidade
cairá, mas chegaremos com os soldados de Israel e vocês
deixem uma corda, um cordão vermelho pendurado”. Eles
desceram por uma corda e o cordão vermelho deveria ficar
ali até que Israel rodeasse a cidade de Jericó.
O capítulo 6 narra a queda de Jericó:

77
Ver para crer ou crer para ver

“A cidade, com tudo o que nela existe, será consagrada


ao Senhor para destruição. Somente a prostituta Raabe
e todos os que estão com ela em sua casa serão poupados,
pois ela escondeu os espiões que enviamos” ( Josué 6.17).
“Mas Josué poupou a prostituta Raabe, a sua família,
e todos os seus pertences, pois ela escondeu os homens
que Josué tinha enviado a Jericó como espiões. E Raabe
vive entre os israelitas até hoje” ( Josué 6.25).
Quando os muros caíram, eles viram, naquela mesma
janela a corda vermelha, e então, livraram Raabe, seus pais
e sua família e Raabe foi agregada à comunidade de Israel.
Em Hebreus o que vemos é que foi a fé desta mulher
que fez com que ela fosse salva. Entenda, Raabe foi salva
pela fé.
Deus é maravilhoso e não está apenas a procura dos
certinhos, das pessoas posicionadas socialmente, respei-
tadas, admiradas! Deus enviou Jesus Cristo para salvar a
todos. Deus enviou Jesus para buscar os perdidos e não os
justos. Jesus declarou enfaticamente que veio para abrir a
porta da prisão para os cativos, para recuperar os perdidos
e dar vida àqueles que a perderam. Jesus veio resgatar vidas
destruídas, manchadas. Jesus veio para salvar prostitutas,
ladrões, imorais, desonestos, veio libertar pessoas do vício.
Jesus veio curar todo tipo de enfermidade espiritual.
A prova está no livro no capítulo 11 de Hebreus. Uma
mulher sem nenhum reconhecimento, sem o respeito de
mais ninguém, mas a sua fé foi suficiente para que fosse
incluída, resgatada e agregada ao povo de Deus.

78
4. A caminhada da fé

O que significa isso para os dias de hoje? Como é a


nossa vida? Como vai a nossa vida moral e social? Somos
pessoas boas ou ruins? Somos de boa ou má índole? Esta-
mos destruídos pela vida? A fé pode restaurar qualquer
tipo de pecado. Se reconhecemos que há um Deus e que
Ele atua na Terra tendo manifestado o seu poder na pessoa
de Jesus Cristo, um poder restaurador que nos transforma
em novas criaturas, não importa quem somos ou o que
fizemos no passado, Jesus Cristo nos libertará assim como
Raabe.
Pela fé a prostituta Raabe não foi morta com os que
haviam sido desobedientes. Ela havia sido desobediente
no passado, uma vida devassa, e sem Deus, sem reconhe-
cimento moral, sem respeito, destruída e sem valor algum.
O seu corpo valia apenas algumas moedas, mais nada. Mas,
para Deus não! Para Deus Raabe tinha o valor de uma
vida criada por Ele. A Palavra diz que há uma grande festa
no céu quando um pecador se arrepende e que o valor de
uma vida é maior do que a do mundo inteiro, então Raabe
tinha o mesmo valor para Deus que tinham Abraão, Noé,
Moisés. Raabe também podia ser alcançada pelo amor e
pela graça de Deus. Então, o que faz toda a diferença é se
cremos ou não na graça de Deus, se acreditamos ou não no
que Deus pode fazer em nossa vida, se deixamos a desobe-
diência para obedecermos a Deus pela fé.
Mas, o que teria identificado Raabe na hora da
tomada de Jericó? Uma corda pendurada no alto da casa
de Raabe, encima das muralhas. Aquela corda vermelha
ficou lá. Eu vejo essa corda simbolizando o sangue de Jesus
Cristo que nos purifica de todo o pecado.

79
Ver para crer ou crer para ver

Qual a possibilidade de salvação? É a marca do san-


gue de Jesus. Para Raabe foi uma corda pendurada verme-
lha e ali houve salvação. Naquela casa, marcada pelo cor-
dão vermelho há alguém que foi salvo, resgatado, alguém
que foi agregado ao povo de Deus. A marca para nós é o
sangue de Jesus Cristo, que nos lavou dos nossos pecados,
de nossas imperfeições, depravações, daquilo que foi prati-
cado por nossa pecaminosidade.
“No passado Deus não levou em conta essa ignorância,
mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrepen-
dam” (Atos 17.30).
Deus não leva em conta os tempos da incredulidade.
Deus não leva em conta o tempo em que não entendíamos
o seu amor. Deus não leva em conta o tempo em que nos
rebelamos contra Ele. Deus não leva em conta o tempo
em que dissemos não, que não queríamos saber Dele, da
Bíblia, da Igreja. Deus não leva em conta mais nada do que
passou. Ele não leva em conta o tempo da incredulidade.
Ele apagou e perdoou os nossos pecados. Deus vai dizer
que não se lembra mais, que já tirou de sua memória os
nossos pecados para que andemos de cabeça erguida. Pela
fé Raabe colocou aquela corda vermelha e aquela corda foi
vista na hora de uma tremenda batalha! Os muros caindo,
a cidade sendo invadida, uma guerra tremenda, mas ao
povo de Israel foi dito: ali há alguém que será salvo. Assim
também ocorre hoje. Quando Jesus voltar haverá uma tre-
menda destruição e pessoas que não O tiverem como o
Senhor, estarão perdidas, irão para o inferno, serão con-
denadas a uma eternidade horrorosa, mas onde estiver a
marca do sangue do Cordeiro de Deus, do sangue de Jesus,
80
4. A caminhada da fé

ali não passará a morte, porque a marca do sangue de Jesus


será a garantia de nossa salvação. Aliás, essa foi a marca
simbólica da noite de libertação do povo de Israel da
escravidão do Egito: “Matem os carneiros, cuidem deles
e coloquem as marcas nos umbrais da porta de suas casas,
israelitas. E, quando o anjo da morte passar e ver a marca
do sangue nos umbrais da porta a morte não passará por
ali”! É exatamente essa reflexão que se faz hoje. Quando
a destruição chegar, quando o salário do pecado que é a
morte chegar, quando a mão de Deus pesar sobre a huma-
nidade ou sobre a vida de cada um de nós, se tivermos
em nosso coração a marca estampada do sangue de Jesus
estaremos seguros, nos braços do Senhor. Não importam
os pecados passados, quantos pecados tenhamos cometido
ou a qualidade deles, pois nossa segurança está em Jesus,
pela fé.
Não é por questões de esforço humano, não é por você
melhorar o comportamento, é pela fé. Acreditar que Jesus
tem poder de tirar do caminho da perdição, que Jesus tem
o poder de tirar todo e qualquer vício, que Jesus tem poder
para restaurar pessoas que tenham perdido o respeito. É a
certeza de que Deus vai fazer de mim e de você uma nova
criatura e que Ele nos conduzirá a vitória.
Deus não veio derramar a sua graça apenas para as
pessoas bem apanhadas e corretas. Deus veio derramar
a sua graça a todos, ainda que estejamos que tenhamos
nenhum crédito dos homens, Deus nos estenderá a sua
mão e nos resgatará, perdoará, libertará nossa escravidão,
e nos curará de toda a enfermidade espiritual. Deus quer
que sejamos agregados ao seu povo.

81
Ver para crer ou crer para ver

Raabe era uma prostituta e as pessoas só pensavam


em usá-la, seria morta com os outros, mas pela fé Ela não
foi morta e ainda foi agregada ao povo de Deus e o texto
diz que ainda vivia por ocasião em que o livro de Josué foi
escrito. Quão maravilhosa é a graça de Deus!
Foi pela fé, que Raabe acreditou no Deus de Israel,
Naquele que está sobre todas as coisas. Ela declarou com
suas palavras que acreditava nesse Deus e que confiava em
sua proteção a Israel, por esta demonstração de fé ela foi
salva. E nós? Talvez não tenhamos tomado uma decisão
por não termos a coragem de Raabe! Talvez não tenha-
mos coragem de preservar aqueles que são de Jesus e dizer
que queremos ser um deles. Talvez sejamos eternos amigos
do Evangelho, mas nunca entregamos a sua vida a Jesus
como Senhor e Salvador. Talvez fiquemos ao contrário de
Raabe, em cima do muro, vivendo em cima do muro, por-
que afinal de contas as muralhas de Jericó eram tremen-
damente seguras, mas não nos esqueçamos que diante de
Deus, todas as barreiras cairão.
Um dia aquela cidade intransponível ruiu e a segu-
rança de Jericó se desfez, assim como nossa segurança
humana também se desfará, a diferença é que aquela vida
que tiver a marca do sangue de Cristo será salva e agregada
ao povo de Deus.
O que Deus fez a Raabe, Abraão, Moisés e Noé fará a
mim e a você também. Desde que pela fé queiramos entre-
gar nossa vida ao Deus que criou o Céu e a Terra e reco-
nhecer que Jesus Cristo é o seu único Salvador e que Ele
poderá nos resgatar de qualquer tipo de pecado.

82
4. A caminhada da fé

Jesus quando se deparou com uma mulher adúltera,


que seria apedrejada, pois os homens estavam lá para ape-
drejá-la, usando a lei de Deus para justificar tal atrocidade.
O Mestre, no entanto Jesus disse:
“Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro
a atirar pedra nela”( João 8.7b).
Saindo um após o outro ele dirigiu-se à mulher: “Então
Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão
eles? Ninguém a condenou? ““Ninguém, Senhor”, disse
ela. Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora
vá e abandone sua vida de pecado” ( João 8.10,11).
Isso é Graça, isso é amor de Deus, isso é perdão, isso
é misericórdia é uma tremenda oportunidade de salvação e
libertação. Deus diz que todos precisam se arrepender por-
que um dia Ele há de julgar o mundo na pessoa de Jesus.
Deixemos Jesus ser nossa marca, que Jesus seja a marca
que nos garante perdão e salvação. Devemos nos lembrar
que a nossa libertação virá somente pela fé.
Com Raabe, aprendemos que o tipo de pessoa que
somos, nossa índole, caráter, não impedem Deus de nos
amar, pelo contrário, Deus nos amou por causa dos nos-
sos pecados, exatamente pelo fato de não O merecermos.
Deus tem nos amado incondicionalmente, de forma sacri-
ficial, sendo Dele a iniciativa.
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado
a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados” (1João 4.10).

83
Ver para crer ou crer para ver

Deus nos ama como somos e não como deveríamos


ser, não por nosso mérito, mais pelo mérito de Jesus que se
fez pecado por cada um de nós e o que espera que façamos
é tão somente aceitarmos seu sacrifício em nosso favor.
Sim, aceitar o seu amor por nós, pela fé.
Uma prostituta foi agregada ao Povo de Deus por ter
agido em favor dos hebreus pela fé. Qualquer pessoa, qual-
quer pecador está ao alcance dessa graça de Deus, e pode
tornar-se filho de Deus por crer em Cristo Jesus.
“Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu
nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”
( João 1.11,12).
Moisés, Abraão, Noé, Raabe, eu e você, todos salvos
pela fé.

Ilustração: Fé sincera
Crentes de uma igreja combinaram voltar à noite para
orar pedindo que Deus mandasse chuva, pois havia grande
necessidade, de vez que uma prolongada seca assolava a
região.
À hora marcada, uma menina apareceu de guarda-
chuva à tiracolo, capa de chuva e bota de borracha.
Alguém quis rir, mas foi repreendido pelo silêncio dos
demais, envergonhados pela fé sincera daquela criança.

84
85
Capítulo V

ANDANDO COM DEUS

Projetado por jannoo028 - Freepik.com


Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam. Hebreus 11.6

Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não


experimentou a morte; “ele já não foi encontrado
porque Deus o havia arrebatado”, pois antes de
ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha
agradado a Deus. Hebreus 11.5
88
Vimos que pela fé que Moisés escolheu não ser cha-
mado filho da filha de faraó, preferiu deixar de viver no
palácio. Como filho adotivo e sendo judeu, preferiu ir para
o deserto libertar o povo de Israel da escravidão do Egito
e enfrentar quarenta anos de deserto, porque segundo a
Palavra, pela fé, ele esperava uma recompensa muito maior.
Para ele não era suficiente ser filho do rei do Egito, do
faraó, do grande imperador do mundo, mas o ápice da vida
era ser filho do Rei dos reis.
Abraão pela fé também foi justificado, e ouviu Deus
falar:
“Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à
terra que eu te mostrar” (Atos 7.3).
Abraão era um homem bem posicionado em todos
os sentidos, um homem estabelecido na vida, mas Deus o
chamou para uma missão. A história de Abraão nos ensina
que ele não sabia para onde ia, mas sabia com quem ia, e
foi em obediência a Deus, que o escolheu para ser pai de
uma grande nação. Deus ao escolher Abraão para ser pai
de uma grande nação fez com que dessa nação viesse o
Salvador do mundo, Jesus Cristo.
Raabe era uma prostituta na cidade de Jericó, mas a
Palavra de Deus diz que pela fé, foi salva por acreditar nos
homens de Deus, quando lhe disseram que iriam conquis-
tar a Terra Prometida e que começariam a conquista por
Jericó. Ela preservou a vida daqueles homens, que como
espias, foram conhecer um pouco da cidade de Jericó e
não os entregaram às autoridades de Jericó. O texto diz
que aquela mulher que tinha tudo para estar perdida, pela
89
Ver para crer ou crer para ver

fé, vislumbrou aquilo que Deus haveria de fazer ao povo e


a si mesma.
Enoque foi um personagem muito interessante,
pouco mencionado na Bíblia, um homem que foi arreba-
tado, não tendo experimentado a morte natural a todos
nós. A Bíblia fala apenas de duas pessoas que não experi-
mentaram a morte: Enoque e o profeta Elias. São as duas
únicas pessoas mencionadas na Palavra que Deus levou de
outra maneira. A Palavra de Deus diz que enfrentaremos
esse fenômeno chamado morte. Mas, o texto diz que foi
pela fé, não por uma obra feita por Enoque, não porque foi
agraciado por méritos pessoais, mas por ser um homem
que vivia pela fé.
A história de Enoque está registrada no início da
Bíblia em Gênesis 5. É importante saber que o pecado
já havia entrado na humanidade e quando lemos o capí-
tulo 6 vemos um Deus completamente esgotado com a
corrupção humana e que resolve acabar com toda aquela
geração por meio de um dilúvio. No entanto, no capítulo
5 de Gênesis encontramos a descendência de Abraão, uma
genealogia que faz um elo entre gerações e, dentre tan-
tos nomes, encontramos o nome de um homem chamado
Enoque.
“Enoque andou com Deus; e já não foi encontrado, pois
Deus o havia arrebatado” (Gênesis 5.24).
Em toda essa genealogia, há informações do nasci-
mento, descendência, quem gerou, quantos anos viveu e
depois, morreu, algo natural. Em meio a esta descrição
aparece Enoque, que gerou Matusalém, o homem mais

90
5. Andando com Deus

longevo da história e este Enoque não experimentou a


morte física. Alguns podem duvidar da veracidade dessa
informação, quem sabe uma ficção, mas a Palavra de Deus
faz essa declaração e se cremos ser a Palavra de Deus, acei-
tamos como absolutamente verdadeira a experiência de
Enoque. Assim, como eu acredito que Deus enviou seu
Filho Jesus e que seu Filho Jesus foi concebido no ventre
de Maria pelo Espírito Santo, ou seja, um ato miraculoso
de Deus. Creio, com toda a minha convicção, que Jesus
Cristo morreu, mas ressurgiu dentre os mortos e Ele está
assentado a direita do Pai. Creio de todo o meu coração
que um homem chamado Saulo de Tarso, que era um
perseguidor dos cristãos, que odiava os cristãos, é o que a
Bíblia diz, respirava ameaça de ódio e morte contra os cris-
tãos. Eu creio fielmente que Saulo passou por uma expe-
riência com Jesus que mudou de tal forma a sua vida que
ele se tornou o maior pregador do Evangelho de todos os
tempos! E creio piamente que Deus elevou Enoque à sua
presença.
“Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não expe-
rimentou a morte; “ele já não foi encontrado porque
Deus o havia arrebatado”, pois antes de ser arrebatado
recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus”
(Hebreus 11.5).
Não dá para escrever uma biografia de Enoque por-
que não temos tantas informações a respeito dele, aliás na
Palavra de Deus, temos apenas essas duas informações,
embora seu nome seja citado em outros textos, mas infor-
mações sobre ele, somente são encontradas na genealogia
em Gênesis e depois na Galeria dos Heróis da Fé, na carta
91
Ver para crer ou crer para ver

aos Hebreus. Mas, o fato é que alguma coisa aconteceu a


este homem ou alguma coisa aconteceu com este homem
que fez com que Deus o elevasse à sua presença. A Palavra
diz que foi a fé.
“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se
aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa
aqueles que o buscam” (Hebreus 11.6).
“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova
das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1).
Fé é a certeza do que esperamos e a prova do que não
vemos, então para que sejamos salvos, precisamos de fé.
A nossa fé fará com que Deus nos conceda a salvação e
a vida eterna, e necessariamente não precisamos entender
todos os mistérios do mundo. Deus criou e ordenou todas
as coisas e deu a nós homens com inteligência para pes-
quisar os seus mistérios, e aí vem a ciência e, ao longo da
história se desenvolvendo, crescendo algumas vezes para
o bem, outras para o mal, algumas vezes para dizer assim
como o salmista:
“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento pro-
clama a obra das suas mãos”.
Outras vezes para dizer que Deus não existe. Tudo
isso faz parte do livre arbítrio do homem. Deus deu inte-
ligência a mim e a você e nos deu a bênção para conhecer
os seus mistérios. Isso foi Deus quem fez ou é produto do
acaso? Essa lógica maravilhosa foi Deus quem fez ou essa
lógica veio da falta de lógica? A ordem veio da desordem?
Que mistério é esse que é completamente ordenado, mas
veio do que é desordenado?
92
5. Andando com Deus

Deus nos deu evidências na Palavra e podemos acre-


ditar na história de Enoque ou não. Deus não precisa
mandar alguém para nos provar e dizer assim: “Eu estava
lá e vi Enoque ser arrebatado” porque se acreditamos pia-
mente em Deus sabemos que para Ele nada é impossí-
vel. Embora Deus não fique brincando de fazer milagres,
porque não é assim que Deus age, Ele não é um mágico
que fica fazendo sinais para que os homens O reconhe-
çam como Deus. Todas as evidências de Deus já nos foram
dadas e devem ser aceitas pela fé.
“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento pro-
clama a obra das suas mãos” (Salmo 19.1).
Quando a ciência descobriu que o nosso universo
era heliocêntrico, ocorreram perseguições, por exemplo, a
Galileu Galilei, mas foi apenas uma descoberta do que a
Bíblia já afirmava:
“Ele estende os céus do Norte sobre o espaço vazio; sus-
pende a terra sobre o nada” ( Jó 26.7).
Esse Deus poderoso, em soberania elevou Enoque,
decidiu que Enoque não morreria, porém, e que por sua fé,
ele foi justificado. Não se faz necessário saber como iremos
morar com Deus, não é fundamental saber se Deus nos
arrebatará ou que tipo de morte iremos ter, mas a convicção
de que estaremos com Ele, pela fé, essa sim é a convicção
inabalável que devemos ter. Como e quando chegaremos
lá, se partiremos agora, daqui a cinquenta e nove minutos
ou cinquenta e nove anos, isso não fará a menor diferença.
A questão é se a fé que temos nos levará à presença de
Deus no tempo próprio.

93
Ver para crer ou crer para ver

A pequena história de Enoque demonstra que este


Deus que salva é o Deus da vida, é Deus que veio trazer
vida e vida em abundância. Não é um Deus que se agrada
com a morte, não é um Deus que se agrada com o sofri-
mento humano, todas essas coisas acontecem, mas como
resultado da pecaminosidade humana, pois, foi o homem
quem se voltou contra Deus.
Enoque veio nos ensinar que no meio de uma gera-
ção corrompida e perdida, havia alguém que nutria inti-
midade com Deus, uma intimidade construída pela fé. Se
ele tivesse experimentado a morte como nós experimen-
taremos, também seria salvo, no entanto, o exemplo que
a Palavra de Deus nos deixa, e que Enoque nos ensina, é
que quem anda com Deus aqui, viverá com Deus lá. Quem
agrada a Deus aqui viverá com o Senhor para sempre.
“Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não expe-
rimentou a morte; “ele já não foi encontrado porque
Deus o havia arrebatado”, pois antes de ser arrebatado
recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus”
(Hebreus 11.5).
A definição do nosso destino eterno é aqui, agora, em
nosso tempo.
“... Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o
coração, como na rebelião” (Hebreus 3.15).
Hoje é o tempo aceitável, hoje é o dia da salvação.
Esse é o tempo, é a oportunidade que temos, entre o berço
e a sepultura, é a oportunidade que Deus nos dá. Enoque
foi para Deus porque agradara ao Altíssimo antes de ser
arrebatado, enquanto em vida, no seu dia a dia, em seu
94
5. Andando com Deus

cotidiano, na sua profissão, na sua família, em seus negó-


cios, no seu lazer, na sua devoção, no dia a dia ele agradava
a Deus. No livro de Gênesis diz também que ele andava
com Deus. O que significa andar com Deus? Literalmente
como dois amigos andam lado a lado, não é isso? Eno-
que andava com Deus, que é Espírito, pessoal, ele andava
de acordo com Deus. Devemos nos lembrar que antes da
queda, antes do pecado entrar no mundo, Deus dialogava
todos os dias com Adão em intimidade, porque havia um
elo profundo, uma ligação íntima entre o homem e Deus.
O pecado veio romper essa relação, veio fazer com que esse
contato fosse rompido, com a intenção que fosse rompido
para sempre. A intenção de Satanás era romper essa rela-
ção entre o homem e Deus para sempre. Paulo entendeu
essa intenção, e por isso, afirmou:
“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de
Deus” (Romanos 3.23).
O pecado nos separa de Deus, no entanto, o Deus
que nos criou é maravilhoso, Ele não permitiu que esta
separação fosse eterna. Deus sempre quer salvar, não há
nenhum ato de Deus que seja contrário à sua salvação, é
mentira de Satanás quando ele coloca em nossa mente
que “se Deus fosse bom não mandaria ninguém para o
inferno”, mas Deus não manda ninguém para o inferno.
Essa concepção filosófica que afirma que os cristãos dizem
ser Deus poderoso e bom, entendendo ser impossível as
duas afirmações, pois se Ele é bom, não é poderoso, mas se
Ele é poderoso, então não é bom. É uma concepção com-
pletamente humanista. Se Ele é bom, não deixa ninguém
ir para o inferno, mas se Ele é bom e pessoas se perdem
95
Ver para crer ou crer para ver

é porque Ele não tem poder para evitar tal destino. No


entanto, Deus é poderoso e pode fazer todas as coisas, Ele
pode tudo. Então, Ele pode tirar você do inferno, se alguém
vai para o inferno é porque não é bom. Esse é o raciocí-
nio mais ilógico que se pode ter, embora defendidos por
pretensos sábios. Na verdade, ocorre exatamente o con-
trário: Deus é bom e poderoso, Deus fez todas as coisas.
Ao terminar a criação disse Deus que tudo era bom, mas
nos rebelamos contra Deus, contra sua vontade, contra os
Seus princípios divinos, nos dirigimos em lados opostos a
Deus, então é um ato nosso. A nossa natureza sempre nos
leva para direção oposta à de Deus. Desta maneira, como
pecamos e estamos destituídos da glória de Deus, se Ele
não fosse poderoso e bom, cruzaria os braços, mas Ele não
fez isso! O Apóstolo Paulo disse assim:
“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo mor-
reu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”
(Romanos 5.8).
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho
Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça,
mas tenha a vida eterna” ( João 3.16).
“Mas ele foi transpassado por causa das nossas trans-
gressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades;
o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas
suas feridas fomos curados” (Isaías 53.5).
Deus é poderoso, bom e amoroso e deu provas disso
ao nos conceder Seu Filho em um ato voluntário. A sal-
vação começa com um ato de Deus quando oferece seu
Filho para resgatar a humanidade que se rebelou contra
96
5. Andando com Deus

Ele. A humanidade se voltou contra Deus e mesmo assim,


Deus a ama ao ponto de oferecer seu Único Filho. Se você
é pai ou mãe consegue saber como foi que Deus pensou,
consegue imaginar o foi que Deus sentiu quando deu a
vida de seu Filho.
A morte de Jesus pagou e apagou os nossos pecados,
de criaturas destinadas à separação e morte eterna, nos
tornamos criaturas destinadas à salvação.
Toda a doutrina do pecado nos leva à sepultura. Mas,
em compensação, toda a doutrina da graça, todo o plano de
salvação, nos leva à ressurreição dos mortos e nos conduz,
assim, como Enoque, à presença de Deus. Que importa
se chegaremos a Deus com Enoque? Importa é que che-
garemos a Deus, embora o diabo tenha vindo para matar,
roubar e destruir, mas Jesus veio para destruir as obras de
Satanás.
Não adianta querermos ser completamente corretos
ao ponto de sermos merecedores de não experimentarmos
a morte, porque Deus não fará isso. A Bíblia não diz que
Enoque era um homem perfeito, porque ele não era. Deus
nos deixou o exemplo de Enoque para nos mostrar que
aquele que andar com Ele na Terra, andará também com
Ele no céu. Quem vive servindo e adorando a Deus na
Terra, também o fará na eternidade. Quem não se enver-
gonhar de seu Filho na Terra, Deus também não se enver-
gonhará dos seus fiéis. Quem aceita Jesus na Terra será
aceito por Ele no céu.
Deus deixou que fosse registrada a história de Eno-
que para que saibamos que, nossas vidas com o Senhor

97
Ver para crer ou crer para ver

devem que ser definidas aqui na Terra, enquanto estamos


vivos e não depois da morte.
“Da mesma forma, como o homem está destinado a
morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo”
(Hebreus 9.27).
A parábola do rico e Lázaro nos ensina que quem
está no lugar de sofrimento não pode passar para o gozo
celeste, e quem está no gozo celeste não pode passar para
o lugar de tormento. É o que o Senhor Jesus nos ensinou!
Jesus garantiu que quem crer em Nele aqui na Terra terá
vida eterna, não entrará em condenação, mas passará da
morte para vida, é ato contínuo.
A história de Enoque no Antigo Testamento nos
ensina o princípio de que quem anda com Deus na Terra,
andará com Ele eternamente e no Novo Testamento vemos
que aquele que recebe Jesus aqui será recebido pelo Pai.
Mas, quem O rejeita aqui não poderá viver com o Senhor
para sempre. Mas, isso não tem nada a ver com maldade
e falta de poder de Deus. O Altíssimo não nos fez como
robôs, não somos máquinas, fomos feitos à sua imagem
e semelhança e isso não quer dizer semelhança com sua
fisionomia. Temos as características de Deus: sentimento,
razão, vontade, etc. Muitos rejeitam a manifestação do
amor de Deus, que tem nos amado para a salvação.
Certa vez perguntaram a Jesus: Senhor por que são
poucos que se salvam? Jesus respondeu:
“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e
amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os
que entram por ela” (Mateus 7.13).

98
5. Andando com Deus

Quando alguém morre perdido o faz por escolha pró-


pria. O Evangelho está sendo pregado, anunciado e Deus
continua dizendo que nos ama de uma forma tão extra-
ordinária que nos ofereceu seu Filho Jesus e fez com que
Jesus morresse em nosso lugar. Não seremos arrebatados,
como Enoque, mas teremos à vida eterna. A Palavra de
Deus nos fala da ressurreição que é algo maravilhoso; fala
do arrebatamento, que acontecerá com os que estiverem
vivos por ocasião da volta de Cristo, estes não morrerão,
mas serão transformados. Os cristãos de Tessalônica esta-
vam sendo perseguidos e suas famílias tinham perdido
muitos dos seus queridos por estes serem fiéis a Jesus.
A igreja vivia tempos de muita apreensão. Paulo então os
orienta para que possam perseverar.
“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes
quanto aos que dormem, para que não se entristeçam
como os outros que não têm esperança. Se cremos que
Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus
trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles
que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do
Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficar-
mos até a vinda do Senhor, certamente não precede-
remos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz
do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio
Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressusci-
tarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos
seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens,
para o encontro com o Senhor nos ares. E assim esta-
remos com o Senhor para sempre” (1 Tessalonicenses
4.13-17).

99
Ver para crer ou crer para ver

Deus é poderoso e bom. Jesus irá voltar, mas enquanto


Ele não volta as pessoas nascem e morrem, cumprindo a
ordem natural do ciclo da vida terrena. Os que morreram
em Cristo, aqueles que, como Enoque andaram com Deus,
estão e estarão com o Senhor. Não quero que vocês igno-
rem isso e não tenham compreensão: aqueles que morre-
ram com Cristo voltarão com Ele, ou seja, ressuscitarão
primeiro. Haverá ressurreição dos perdidos para recebe-
rem condenação e a sentença final. Mas, aqueles que mor-
reram em Cristo ressuscitarão e voltarão com Ele. Para os
vivos, os que estarão vivos na volta, a promessa é de que
serão transformados. Aqueles que estiverem vivos no dia
da volta de Jesus deixarão seu corpo físico e receberão um
corpo celestial e serão arrebatados e elevados a se encon�-
trarem com o Senhor nos ares e, com os nossos irmãos que
morreram com o nosso Senhor Jesus, e a Bíblia diz que
com Ele estaremos para sempre.
O que nos fará termos uma experiência de íntima
comunhão com Deus, será a nossa fé. Assim como Enoque
teve comunhão íntima com o Senhor de tal maneira que
foi elevado à presença de Deus. Enoque está na presença
de Deus e nós poderemos estar também. Enoque vive com
Deus, nós também poderemos viver com o Senhor para
sempre. Andamos com Deus quando procuramos fazer a
sua vontade, confessando Jesus como Salvador, na certeza
de que Ele é o meio que nos conduz à salvação.
“Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus” (1 Timóteo 2.5).
Não chegamos à presença de Deus por causa de igre-
jas; não vamos a Jesus por causa de religião; não vamos a
100
5. Andando com Deus

Jesus por sermos pessoas muito boas, mas só vamos a Jesus


se reconhecermos que somos pecadores e que esse pecado
nos conduziria à morte, não fosse o sacrifício de Jesus na
cruz. Quando reconhecemos isso, começamos a andar com
Deus aqui. Quando aplicamos os ensinamentos bíblicos e
temos uma vida de oração, quando vivemos em santidade
de maneira a agradar a Deus, estamos andando com Ele.
Na leitura da Palavra, Deus fala conosco e quando ora-
mos, nós falamos com Deus. Deus ouve as nossas orações.
A Bíblia diz que a oração de um justo pode muito em
seus efeitos, Deus dialoga conosco. Quando procuramos
viver longe do pecado e nos arrependemos, não querendo
mais ser escravos do pecado, estamos andando com Deus.
Quando abrimos o coração e confessamos com a nossa
boca que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai,
estamos andando com Deus. Quando, ainda que pecamos,
confessamos os nossos pecados, estamos andando com
Deus. Quando testemunhamos de Deus para outras pes-
soas e encaminhamos outras pessoas a Jesus, falando do
seu amor, estamos andando com Deus.
Se andarmos com Deus aqui, andaremos com Jesus
pelas ruas da Jerusalém Celestial. Essa é a promessa do
Senhor, e a nossa oração é que possamos começar a nossa
caminhada com Deus. Façamos isso pela fé porque, pela
fé Enoque foi elevado a presença de Deus, ele andou com
Deus, pois mesmo antes de ser elevado à presença de Deus,
ele agradou o coração do Pai e o fez pela fé, a mesma fé
que nos conduzirá à eterna presença do Senhor.

101
Ver para crer ou crer para ver

Ilustração:
Confiança
Diante do Sultão Saladino, no tempo das Cruzadas,
estava como prisioneiro o oficial inglês Ricardo Coração
de Leão. Segurando a espada do grande rei da Inglaterra
pelas extremidades, o sultão a arqueou até que, num estalo,
ela se partiu em dois pedaços. Dirigindo-se ao oficial inglês
com ironia, disse o poderoso sultão: “É isso aí a espada de
Ricardo, Coração de Leão?”
E o inglês: “É essa mesma! Não importa a têmpera do
aço quando o punho que a segura é o de Ricardo, Cora-
ção de Leão! O que tem importância é o braço de quem
empunha a espada!”
Quando dispomos nossos talentos a serviço de Deus,
não importa quão pequenos ou modestos eles sejam; nas
mãos de Deus serão maravilhosos.

102
103
Capítulo VI

OFERTANDO COMO ABEL

© 2004-2017 Stockvault.net/Kate Towers


“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam”
(Hebreus 11.6).

“Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício


superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido
como justo, quando Deus aprovou as suas
ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé
ainda fala” (Hebreus 11.4).
106
A realidade de Raabe, uma mulher do pecado, uma
prostituta que foi usada por Deus para que os espias fizes-
sem o reconhecimento em Jericó. Ela acreditou que seria
salva da destruição da cidade. Enoque não experimentou a
morte, andou com Deus. Entendemos que, pela fé, foram
abençoados com o derramar da misericórdia de Deus
sobre eles.
Vamos falar de Abel. Mas, começaremos pela história
de seu irmão Caim. José Saramago, famoso escritor por-
tuguês, prêmio Nobel de literatura, escreveu um livro, cujo
título é Caim, o escritor o coloca como vítima, e Abel seu
irmão, como alguém soberbo, que debocha de seu irmão,
chegando a dizer que o culpado pela morte de Caim foi o
próprio Deus. Faz uma abordagem da história dos filhos
de Adão, colocando Caim como vítima, filho renegado,
e Deus como um pai cruel que, por puro prazer, aceita a
oferta de um e rejeita a do outro. O que é pior, tem muita
gente com a mesma linha de pensamento. Por que Deus
não aceitou a oferta de Caim e aceitou a de seu irmão Abel?
Será que isso justifica a revolta de Caim? Até quanto, se
justifica o assassinato de Abel, e a transferência da culpa
para o próprio Deus?
Essa atitude não é nova, esse é o primeiro homicídio
relatado na Palavra de Deus. Antes disso, o próprio pai de
Caim, Adão, ao pecar, coloca a culpa na mulher criada por
Deus, que por sua vez coloca a culpa na serpente que tam-
bém havia sido criada por Deus, ou seja, a culpa neste caso
também fora transferida para o próprio Deus. Na verdade,
essa é uma tendência da nossa natureza, sempre somos
inclinados a transferir a culpa do nosso pecado. Se acon-
107
Ver para crer ou crer para ver

tece um adultério transferimos a culpa para o cônjuge,


se furtamos, transferimos a culpa para crise financeira, se
sonegamos impostos, a culpa é do governo, e assim suces-
sivamente. Nosso pecado é sempre transferido, e não assu-
mimos nossa responsabilidade, não tomamos a atitude do
filho pródigo quando em Lucas 15.21:
“O filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti.
Não sou mais digno de ser chamado teu filho”.
Ou quem sabe fazermos a oração de Davi no Salmo
51:
“Contra ti, só contra ti, pequei...”
Sempre transferimos a culpa do nosso pecado, que-
remos justificar a nossa culpa. Foi isso que Adão fez, foi
o que Eva fez, é isso que José Saramago faz, é isso que,
muitas vezes, você e eu fazemos.
Essa história nos ensina que:
“Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao
de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando
Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja morto, por
meio da fé ainda fala” (Hebreus 11.4).
Encontramos o registro desta história no capítulo 4
do livro de Gênesis:
“Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engra-
vidou e deu à luz Caim. Disse ela: “Com o auxílio do
Senhor tive um filho homem”. Voltou a dar à luz, desta
vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ove-
lhas, e Caim, agricultor. Passado algum tempo, Caim
trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel,
108
6. Ofertando como Abel

por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras


crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado
Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta.
Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou.
O Senhor disse a Caim: “Por que você está furioso? Por
que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não
será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o
ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve
dominá-lo” (Gênesis 4.1-7).
A primeira coisa que o texto nos informa é que cada
irmão, tinha uma profissão, uma aptidão específica. Um
trabalhava com agricultura, plantio e colheita, a o outro
cuidava do rebanho, criava ovelhas, bois, carneiros. Os dois
exerciam um trabalho digno, do suor de seus rostos.
Outra informação importante é que ambos mani-
festaram o desejo de cultuarem a Deus, ou seja, desde
pequenos, havia o desejo de cultuar a Deus no coração dos
homens. Isso não é algo posterior, mas algo que carrega-
mos em nosso ser, em nosso coração desde a nossa criação.
O escritor, filósofo, psicólogo e jornalista Russo, Fiódor
Dostoiévski escreveu:
“Existe no homem um vazio do tamanho de Deus.”
Existe uma sede de Deus, inerente ao ser humano,
bem anterior ao povo de Israel, dos profetas, e de Jesus.
É, por isso, que a ideia de Deus ao longo dos tempos é
combatida de todas as formas, por isso, que pessoas como
o famoso filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirma que
Deus está morto; o líder revolucionário russo Lenin afir-
mava que dentro de poucos anos nunca mais se falaria de

109
Ver para crer ou crer para ver

Deus na União Soviética e que nem mesmo se encontra-


ria uma Bíblia naquela República. Não ouvimos mais faar
da União Spviética, pois ela acabou! Mas, Deus continua
vivo, pois é eterno! Desde 1961, em Cuba, prega-se a não
existência de Deus e a religião como o ópio do povo, repe-
tindo as palavras de Marx. Enquanto isso, a igreja cresce,
as pessoas se convertem e estão adorando a Deus. E tantas
outras tentativas de tirar Deus do ser humano, frustradas
porque existe no homem um vazio do tamanho de Deus. E o
Pai Celestial está para o homem como alguém indispensá-
vel, mesmo que tantos insistam em sua inexistência.
E assim os irmãos Abel e Caim fizeram a oferta de
sacrifício, e Deus aceitou uma e rejeitou a outra. Isso parece
complicado? No entanto, ao olharmos o texto não é com-
plicado vejamos o versículo 3:
“Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra
uma oferta ao Senhor.”
“Uma oferta”, algo indefinido, ou seja, “uma oferta qual-
quer”. Temos a tendência de quando vamos ofertar a Deus,
ver aquilo que não serve mais para nós, ou que já está bem
desgastado, às vezes, com nenhuma ou em péssimas con-
dições de uso e doamos como oferta. Pegamos as roupas
rasgadas, surradas e dizemos: “Meu Deus estou tocado a
ofertar”. Caim não entregou o que tinha de melhor como
seu irmão.
“Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primei-
ras crias do seu rebanho” (Vs.4).
O melhor! Não um bezerro esquelético que está
caído em um buraco cheio de carrapatos. Ele pegou o mais
110
6. Ofertando como Abel

gordo, o mais bonito, pegou o que havia de melhor. Assim


Abel foi cultuar a Deus e Caim foi cumprir uma obrigação
religiosa. Abel foi agradar e adorar a Deus, Caim foi tirar
um peso da coincidência. Abel foi com seu coração diante
de Deus, Caim foi cumprir uma exigência religiosa, por
esse motivo a oferta de Abel foi aceita e de Caim não.
Deus conhece nosso coração e sabe da qualidade da
nossa oferta, sabe que estamos lhe ofertando o que sobra
do nosso tempo, o que sobra de nossos recursos, o que
sobra de nossa saúde, o que sobra dos nossos dons. Então,
Deus aceitou Abel e não aceitou a oferta de Caim. Abel
não pegou uma oferta, ele se preparou, escolheu a melhor,
e esperou ansioso, pois: “hoje tem culto ao meu Deus, hoje
é dia de adoração e de louvor, pois hoje eu me apresentarei
diante do Senhor e levarei o melhor que tenho e sou”. Pela
fé Abel entregou o que tinha de melhor, esperando que
Deus se agradasse e aceitasse a sua oferta. Sem fé, Caim
esperava que Deus aceitasse seu mérito pessoal.
O texto diz: “O Senhor aceitou com agrado Abel e sua
oferta”. O Senhor aceitou Abel “e” sua oferta, mas não acei-
tou Caim “e” sua oferta. Deus não precisa contar as nossas
ofertas, Ele olha o coração. Por isso, Jesus diz em Lucas
21.1-4:
“Jesus olhou e viu os ricos colocando suas contribuições
nas caixas de ofertas. Viu também uma viúva pobre
colocar duas pequeninas moedas de cobre. E disse:
“Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou mais do que
todos os outros. “Todos esses deram do que lhes sobrava;
mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para

111
Ver para crer ou crer para ver

viver”. Os ricos ofertaram o lhes sobrava, e a viúva


tudo que tinha, ou seja, ela deu a vida.
Deus aceitou o culto de Abel e rejeitou o culto de
Caim. Deus não rejeitou pelas ofertas, ou que ele gostasse
mais de carnes do que legumes. Deus rejeitou o culto de
Caim, mas aceitou o coração do adorador.
Abel fez aquilo que Deus mais tarde faria na figura de
Cristo. Deus não nos deu um anjo qualquer, não nos deu
mais uma criatura. Ele nos deu o que tinha de melhor, o
Seu Filho unigênito, o Cordeiro mais puro, mais bonito,
sem mancha e sem mácula, e isso faz toda a diferença!
Deus não aceita nosso culto, quando nos dirigimos
à sua casa motivados por obrigações religiosas, como que
fazendo um favor ao Deus de toda a Terra, ou para quem
nos convidou, dessa forma não adianta nada ter se dirigido
à igreja, pois Ele sonda os corações, conhece os pensamen��-
tos, necessidades, desejos e motivações. Deus conhece sua
fé.
Então, o Senhor disse a Caim:
“E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que
descaiu o teu semblante?” (Gênesis 4.6).
O fato de Caim ter ficado enfurecido, já demonstra
que seu culto não foi sincero. Isso acontece quando servi-
mos a Deus, ou ajudamos em algo na igreja esperando ser-
mos reconhecidos, recebermos os agradecimentos e se isso
não ocorre, deixamos de adorá-lo. Deus conhece o nosso
coração e não adianta, dessa forma Ele rejeita nossa oferta.
Caim se enfureceu por não estar cultuando de verdade.
Deus continua no versículo 7:
112
6. Ofertando como Abel

“Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não


fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu
desejo, mas sobre ele deves dominar”.
Deus fez um alerta a Caim, avisa-o antes para que
ele não viesse a cair. “Domine esse mal desejo. Cuidado!
Você está com inveja, está cheio de rancor. Você não pode
se deixar levar, senão fará algo tremendamente impensado.
Calma! Da próxima vez que vier faça da maneira correta,
em espírito e em verdade, com o coração aberto e receberei
a sua oferta”. Deus estava disposto a dar uma nova chance
para Caim, pois Ele sempre nos dá uma nova chance. Mas,
Caim não ouviu Deus! Ele chamou Abel para o campo,
e assassinou seu irmão. O pecado estava à sua porta e
ele se deixou dominar. É assim quando o pecado bate à
nossa porta, quando permitimos que um desejo diabólico
domine nosso coração. O pecado do sexo fora do casa-
mento, do adultério, da mentira, da corrupção, dos vícios
das drogas, nos rodeiam, mas devemos dominá-lo ou sere-
mos dominados. Não podemos nos deixar escravizar por
nenhum deles.
O que motivou Abel a oferecer o melhor a Deus,
não foi ele saber mais que seu irmão, não foi porque era
mais crente ou que Deus preferisse carne a legumes. O que
motivou Abel foi a Fé. Abel esperava a aceitação de Deus
e embora ainda não visse essa aceitação, pela fé, deu o
melhor para o Senhor.
“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se
aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa
aqueles que o buscam” ( Hebreus 11.6).

113
Ver para crer ou crer para ver

O que levou Abel a fazer parte da seleta Galeria dos


Heróis da fé foi sua fé e não sua oferta. E, por isso, embora
morto, ainda fala, por meio de sua fé, pois a oferta de Abel
prefigura a oferta que Deus faria através de Jesus, não uma
oferta qualquer, mas a melhor.
Deus quer o nosso melhor, Ele quer a nossa vida.
Deus quer a nossa obediência, que a sua vontade se cum-
pra em cada um de nós. Pela fé, Deus aceitará a oferta que
temos a lhe oferecer, a nossa própria vida, um culto agra-
dável ao Senhor.
Quando não ofertamos como Abel, a alternativa será
ofertamos como Caim. Deus muitas vezes se mostra eno-
jado e cansado de nossos encontros, nossas cerimônias,
que, não são acompanhados de vida, não passam de rituais
religiosos sem nenhuma eficácia. A oferta como a de Caim
Deus sempre desprezará.
“Para que me oferecem tantos sacrifícios?”, pergunta o
Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e
da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum pra-
zer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes! (Isa-
ías 1.11).
Quando entregamos a oferta de Abel, Deus a recebe
com alegria, não importando seu valor monetário, nem a
nossa capacidade, pois conhece o mais profundo do nosso
ser e sabe da sinceridade do nosso coração:
“... um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não des-
prezarás” (Salmos 51.17).
Deus não rejeitou a oferta da viúva pobre. Também
recebeu o reconhecimento e a disposição de Zaqueu de
114
6. Ofertando como Abel

corrigir seus erros. Deus aceitou a confissão do ladrão que


ladeava Jesus na cruz. Deus recebe a nossa oferta se ofere-
cermos de todo o nosso coração.
“Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade” ( João 4.24).
Caim ou Abel: como dedicaremos a nossa vida a Deus?
Precisamos nos oferecer ao Senhor, sabendo que Ele nos
aceitará, apesar de nossa miséria espiritual, porém, regene-
rados e justificados pelo sangue de Jesus, entregamo-nos
como oferta ao Senhor, e o fazemos unicamente pela fé.

Ilustração:
Fé e ação
Em uma determinada escola, certa aluna se destacava
nas aulas por saber perfeitamente as lições. Um dia, uma
colega, que não primava pela aplicação, disse-lhe:
– Como é que você sempre sabe tão bem as lições?
Ela respondeu:
– Eu sempre oro para que eu me saia bem.
– É mesmo? Pois eu também vou orar!
Respondeu a primeira.
Mas, aí! No dia seguinte ela não sabia nada das lições!
Muito confusa, correu para a colega e a censurou por tê-la
enganado.
– Eu orei, disse ela, mas nada soube da lição!
– Talvez, respondeu a outra, você não se esforçasse
quando estava estudando...
115
Ver para crer ou crer para ver

– Estudar! Estudar!
Retorquiu a primeira.
- Não estudei coisa alguma. Pensei que não precisasse
estudar, pois orei para que a soubesse de cor!
Na vida cristã, igualmente, precisamos juntar à nossa
fé às obras. Deus está disposto a nos ajudar, mas temos que
fazer a nossa parte. Se assim não fizermos, nossa suposta fé
não passará de presunção.

116
117
Capítulo VI

OLHANDO PARA JESUS


Hebreus 11

Projetado por Ijeab - Freepik.com


“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem
dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam.”
Hebreus 11.6

“Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem


receber o que tinha sido prometido; viram-nas de
longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram
estrangeiros e peregrinos na terra. Os que assim
falam mostram que estão buscando uma pátria. Se
estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam
oportunidade de voltar. Em vez disso, esperavam eles
uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa
razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus
deles, pois preparou-lhes uma cidade”.
Hebreus 11.13-16

“Que mais direi? Não tenho tempo para falar de


Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e
os profetas, os quais pela fé conquistaram reinos,
praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento
de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram
o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da
fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na
batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros.
Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram
de volta os seus mortos. Alguns foram torturados e
recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma
ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria
e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados
na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à
prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes,
vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados,
afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles.
Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas
e grutas. Todos estes receberam bom testemunho
por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o
que havia sido prometido. Deus havia planejado
algo melhor para nós, para que conosco fossem eles
aperfeiçoados”. Hebreus 11.32-40

120
Poderíamos nessa hora citar vários personagens
bíblicos: Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel,
Jacó, José, e muitos outros grandes exemplos de fé, con-
tudo, neste capítulo falaremos sobre pessoas simples como
eu e você, pessoas que fazem parte da igreja de Cristo hoje,
algumas com toda a liberdade, outras, com restrições ao
exercício de sua fé, como por exemplo, a igreja cubana,
mas todos vivendo pela fé. Pessoas distintas que vivem de
maneiras diferentes. Algumas conseguirão respostas rápi-
das de suas orações, outras enfrentarão por causa da fé,
tribulações, dores, perseguições. O fato é que a fé não deve
existir somente para cremos nas coisas que queremos, mas
a fé é a absoluta convicção que, apesar de circunstâncias
contrárias, de ventos contrários, de dificuldades, Deus é
fiel e nos concederá a recompensa eterna.
E o que é fé? Fé é a certeza daquilo que esperamos e
prova das coisas que não vemos.
O texto nos conta que os Heróis da Fé viveram e
morreram, sem receber o que esperavam, e isso parece uma
contradição visto que foram exemplos de fé. Porém, eles
não colocavam sua esperança nesta pátria terrena, no aqui
e agora, não colocavam sua esperança em coisas mate-
riais, nem mesmo em sua boa saúde física, não colocavam
sua esperança na sociedade, na política, na economia, não
colocavam sua esperança em coisas temporais, passageiras
e perecíveis, mas numa Pátria Celestial Eterna e, por essa
razão, Deus não se envergonhava deles, ao contrário, tinha
grande alegria e satisfação de ser chamado de seu Deus.
Teria Deus orgulho e satisfação de dizer ou ouvir-nos
dizer que Ele é nosso Deus? A nossa fé, a nossa conduta
121
Ver para crer ou crer para ver

cristã, o nosso testemunho, o nosso comportamento, as


nossas palavras, a nossa dedicação ao Senhor, fazem Deus
ter satisfação de ser chamado nosso Deus?
A grande realidade é que esses Heróis da Fé, com
experiências distintas, mas por terem esperança de uma
pátria melhor, da recompensa espiritual eterna, tiveram
uma vida digna, de testemunho, de comunhão com o
Senhor, eles foram exemplos de comportamento, prática
e obediência, e Deus não se envergonhava deles, mas lhes
tinha grande satisfação.
Isso parece ser exatamente o que Deus disse a Sata-
nás, a respeito de seu servo Jó, quando permitiu a Satanás
tocar em tudo que ele tinha, seus bens, sua família, sua
saúde, pois tinha confiança que a fé de Jó não estava atre-
lada a momentos ruins, ou a quando as coisas lhe eram
favoráveis, mas a uma confiança incondicional na recom-
pensa eterna. Deus tinha confiança que Jó não iria negá-lo
independente das circunstâncias que pudesse passar e Jó
não decepcionou Deus.
A marca desses heróis era exatamente o fato de não
barganharem com Deus, como hoje tem acontecido no
meio evangélico, onde as pessoas O procuram esperando
serem curadas, obter sucesso em suas vidas. A Galeria dos
Heróis da Fé era diferente, pois era composta por homens
e mulheres fiéis em quaisquer circunstâncias, pois confia�-
vam em Deus de todo o coração e sabiam que Deus era
irremediavelmente fiel, e criam que mesmo que passassem
pelo vale da sombra da morte, não precisariam temer mal
algum porque podiam confiar na presença e no cuidado
de Deus. Eles não se achavam mais crentes que os outros,
122
7. A caminhada da fé

não batiam no peito prometendo cura, nem que eram mais


poderosos, não se achavam super-crentes, mas sua con-
fiança estava em Deus. Eles reconheciam que dependiam
de Deus e confiavam Nele em todos os momentos.
Muito diferente de hoje, onde as pessoas estão
fazendo das igrejas grandes negócios, prometendo ser fiéis
a Deus se Dele receberem, se conseguirem, se ganharem,
se tiverem isso ou aquilo, e o que é pior: existem igrejas e
líderes “espirituais” que prometem isso. Essa galeria nos
mostra o contrário, eram incondicionalmente fiéis.
O texto diz de forma clara que suas experiências eram
bem distintas:
“Pela fé conquistaram reinos,” e isso é bom, “pratica-
ram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas,” e isso
é agradável, “fecharam a boca de leões, apagaram o poder do
fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força,
tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos
estrangeiros...”, o que é maravilhoso, mas o texto também diz
que pela fé, “Alguns foram torturados e recusaram ser liberta-
dos, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros
enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorren-
tados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos
à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos
de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltra-
tados”.
Porém, apesar de experiências distintas, eram movi-
dos pela mesma fé. Do mesmo modo, alguns viram mui-
tos milagres e outros passaram por tremendas tribulações,
chegando a perderem suas vidas, mas em tudo isso man-
tiveram a fé, não abandonaram ao Senhor, não negaram
123
Ver para crer ou crer para ver

a fé, não duvidaram de Deus. Sem fé é impossível agra-


dar a Deus, sem fé é impossível servir ao Senhor, sem fé é
impossível ser um cristão comprometido.
Similar a isso é o que tem acontecido, com diferente
intensidade, na igreja em Cuba. Perseguida, com fome,
oprimida, proibida de entregar simples folhetos, proibida
de evangelizar na rua, de fundar templos, seu culto cheio
de privações e regras e, apesar de tudo isso, estão glori-
ficando a Deus, dizendo que Deus é maravilhoso e que
a esperança para Cuba é Jesus Cristo. Isso nos mostra
que ainda existem pessoas assim, Heróis da Fé. Poderia
citar circunstâncias e lugares muito piores, cito Cuba, por
conhecer a realidade da igreja.
E nós? Será que não somos daqueles que só ado-
ram a Deus se tivermos bem-estar pessoal? Temos ques-
tionado Deus a cada problema que nos aflige? Será que
pensamos que Ele se esquece de nós? Qual a pátria que
estamos esperando? Onde deve estar nossa esperança, aqui
com homens pecaminosos, arrogantes, sistemas políticos
falidos, sistemas econômicos cruéis, gente sem amor, sem
compaixão? Os Heróis da Fé colocavam sua esperança em
Deus e nas recompensas eternas, se as coisas lhes eram
boas, eram fiéis a Deus, se as coisas lhes eram ruins eles
permaneciam fieis a Deus e, por isso, a Palavra nos diz no
versículo 38:
“O mundo não era digno deles...”
Essa é uma afirmação que particularmente admiro no
texto, porque às vezes parece que pensamos que ser humi-
lhados, achincalhados, ironizados, taxados de ignorantes,

124
7. A caminhada da fé

nos fazendo crer que é um alto preço a ser pago, quando


na verdade, é o mundo que não merece as pessoas fiéis.
Não são os fiéis que têm que ter vergonha de permanece�-
rem fiéis, não são os fiéis que devem ficar constrangidos,
pelo mundo que está morto no maligno, não são os fiéis
que têm que ficar preocupados em como agir enquanto
cristãos em meio a esse mundo de trevas. Saiba que em
Cuba, nas faculdades, onde são proibidas expressões de fé,
existem jovens fazendo estudos bíblicos escondidos. É o
mundo que não os merece.
Frequentemente pensamos que temos que ser crentes
menos radicais, para estarmos bem com todos. Pensamos
que a sociedade precisa nos admirar, nos achar pessoas
maravilhosas, e que ao adotarmos um comportamento
diferente, cheio de fé e temor a Deus, sendo minoria, sere-
mos desprezados e que, por isso, talvez não valha a pena.
Os Heróis da Fé foram apedrejados, humilhados, despre-
zados, mas o mundo não os merecia. O grande problema
é que queremos agradar mais as pessoas do que a Deus.
O apóstolo Pedro quando proibido de falar de Jesus disse:
“Mas Pedro e João responderam: “Julguem os senhores
mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senho-
res e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do
que vimos e ouvimos”. (Atos 4.19,20).
Pedro e João estavam convictos de que era melhor ser-
vir e agradar a Deus que aos homens que podiam feri-los e
prendê-los. Eles não hesitaram em sua escolha. Queremos
buscar o merecimento do mundo, mas a Palavra diz que o
mundo não nos merece, e essa certeza nos leva para perto
de Deus, pela fé.
125
Ver para crer ou crer para ver

Essa Galeria composta por pessoas como Elias, que


a Bíblia diz ter sido sujeito às mesmas provações que nós;
Davi, que não foi perfeito, pecou como nós pecamos; Moi-
sés, que matou um egípcio e fugiu; Raabe, uma prostituta,
pecadora, mas a diferença que essas pessoas tinham era sua
confiança em Deus, entregaram suas vidas à Ele, preferi-
ram a Pátria Celestial.
“Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé”
(versículo 39).
Eles davam testemunho. A maior crise do Evangelho
hoje no Brasil não é de número, as igrejas estão cheias, a
maior crise do evangelho no Brasil é de testemunho. Vidas
que professam Jesus, mas não vivem transformadas por
Jesus. Eles deram testemunhos, embora a Palavra afirme
que:
“Nenhum deles recebeu o que havia sido prometido”
(versículo 39).
Porém, qual era a promessa?
“Deus havia planejado algo melhor para nós, para que
conosco fossem eles aperfeiçoados” (Vs.40).
Esse texto foi escrito para um povo que viveu nos pri-
mórdios da Igreja, eles não saíram ilesos das prisões, não
viveram 100 ou 200 anos, não estiveram sempre tranquilos
financeiramente, nem com boa saúde. A grande promessa
era a vinda do Messias, o Prometido de Deus. Essa era
a promessa que impulsionava o coração deles, acredita-
vam que Deus tinha preparado um plano, era o Messias
que salvaria a todos, e embora ainda não O tivessem visto,

126
7. A caminhada da fé

esses Heróis da Fé, do Antigo Testamento, creram que


Deus tinha programado algo muito melhor para todos.
E embora não O tivessem visto, creram e foram salvos por
Ele por meio da fé. Eles esperavam pela fé na promessa,
essa promessa que já recebemos, pois nascemos com essa
promessa cumprida, mas existe uma outra promessa: Jesus
garantiu que voltará. Jesus veio, pagou pelos nossos peca-
dos, ressuscitou e isso é fato. Ele disse que voltará nos tra-
zendo uma recompensa eterna. Deus quer que tenhamos a
mesma fé desses nossos irmãos, quer que vivamos, seja nos
momentos de alegria, nos momentos de tristeza, sendo
admirados ou sendo envergonhados, recebendo coisas
boas ou ruins, quer que em tudo mantenhamos a nossa fé.
Esperamos a volta de Cristo, e Ele virá para julgar o
mundo. Porém, muitos podem duvidar: será que Ele vai
voltar; será que vai nos julgar? Mas, como Pedro, devemos
ter a consciência de que Deus não retarda a sua promessa:
“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa,
como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com
vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos
cheguem ao arrependimento”. (2 Pedro 3.9)
Deus retarda o seu julgamento, por amor aos perdidos.
Jesus não voltou ainda por ser misericordioso. Ele espera
pacientemente que todos cheguem ao arrependimento,
quer dar a mim e a você a oportunidade de, pela fé, crer e
nos entregarmos a Ele como Senhor e Salvador de nossas
vidas. Os heróis do Antigo Testamento esperavam a vinda
de Jesus, que não veio no tempo deles, eles não chegaram
a ver, mas continuaram a crer e por isso foram salvos. Nós
aguardamos a sua volta, mas muitos têm abandonado
127
Ver para crer ou crer para ver

Jesus no meio do caminho, muitos têm abandonado Deus,


a Igreja, muitos, por enfrentarem tribulações abandonam
Deus, mas o exemplo da Galeria dos Heróis da Fé mostra
que esse povo enfrentou perseguições, humilhações, foram
rejeitados, açoitados, presos, e mortos, porém, não aban-
donaram a fé, pois esperavam a vinda do Messias. Essa é a
nossa chance de mostramos nossa fé, essa é a oportunidade
da nossa geração mostrar que Jesus ainda encontrará nesse
tempo heróis da fé.
O capítulo 12 é uma aplicação prática do capitulo 11
e diz assim:
“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados
por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de
tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve,
e corramos com perseverança a corrida que nos é pro-
posta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consuma-
dor da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta,
suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se
à direita do trono de Deus” (Hebreus 12.1,2).
Não nos adiantará nada, ouvirmos sermões sobre
Hebreus 11, não adiantará nada lermos esse ou qualquer
outro livro sobre o assunto, se não resolvermos o que ire-
mos fazer da nossa vida depois tudo isso. O propósito do
capítulo 11 é mostrar, que existiram pessoas que enfrenta�-
ram muitas dificuldades, com os mais diversos problemas,
mas não abandonaram sua fé.
E agora, o que Deus espera de nós? Visto que esta-
mos rodeados de tantas testemunhas, não apenas as do
Antigo Testamento, mas também as do Novo Testamento,

128
7. A caminhada da fé

como Pedro, Paulo, João, e tantos outros que foram fiéis


até a morte, exemplos de fidelidade, apesar das circuns-
tâncias, nos perguntamos: o que Deus espera de nós? Que
nos livremos de tudo o que nos atrapalha. O que nos têm
atrapalhado? O que têm impedido de entregarmos a vida
a Jesus e confiarmos Nele? O que nos têm atrapalhado a
dizer assim: “Eu sou de Jesus, aleluia! Quero colocar minha
esperança Nele, e não em coisas perecíveis, em instituições
falidas”. “Quero, apesar das circunstâncias que possa pas� -
sar, manter a fé no Senhor Jesus, que voltará e me dará uma
Pátria Eterna”. Mas, o quem nos tem atrapalhado? Mui� -
tos têm sido impedidos pelo dinheiro, outros por tradições
religiosas, outros ainda por sua intelectualidade, outros por
gozar de segurança e conforto, outros preocupados com o
que as pessoas poderão falar, ou o que família vai pensar,
mas o texto diz categoricamente, livremo-nos de tudo o
que nos atrapalha”. Como o poema intitulado No Meio do
Caminho, do famoso poeta brasileiro Carlos Drummond
de Andrade, no qual mostra que sempre existe um empe-
cilho, uma desculpa, uma pedra. Temos que retirar essa
pedra do meio do nosso caminho ou ela nos impedirá de
vislumbramos, pela fé, a nossa salvação.
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que nomeio do caminho tinha
uma pedra

129
Ver para crer ou crer para ver

Tinha uma pedra no meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra.
Para aqueles que são crentes a palavra diz ainda no
versículo 1, livremo-nos:
“Do pecado que nos envolve, e corramos com perseve-
rança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos
em Jesus, autor e consumador da nossa fé”.
Deus abomina pecado no seio da igreja e na vida dos
crentes, Ele quer que enfrentemos nossa vida, a carreira
proposta, olhando para Jesus. Não podemos olhar para as
pessoas, pastores e líderes, nem mesmo para qualquer um
dos apóstolos e nem podemos dizer “que na igreja tem
gente pior”, pois Jesus nos assegura em Lucas 17.1 que:
“É inevitável que venham os escândalos, mas ai daque-
les que os causarem”.
Assim nosso único foco de esperança de fé é Jesus,
Autor e Consumador de nossa fé. Jesus é o único que não
cometeu pecado algum.
Os heróis da Galeria dos Heróis da Fé creram Jesus
que viria, e somos convidados a esperar a volta do Senhor.
Para isso devemos, pela fé, nos livrar de tudo o que nos
atrapalha e do pecado que nos envolve, tendo olhos fitos
em Jesus. Temos que entender que Jesus não veio para
viver a teologia da prosperidade.
“Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz,
desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de
Deus”.

130
7. A caminhada da fé

Jesus com alegria e fé morreu na cruz por mim e por


você. Ele sofreu e foi humilhado, torturado, açoitado, mas
pagou o preço de nossos pecados. Como filho de Deus. Ele
se humilhou e suportou a vergonha da cruz, tornando-se
maldito. Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se
tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito:
“Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”
(Gálatas3.13) .
Sem fé é impossível agradar a Deus. Sem fé na pes-
soa de Jesus é impossível ser salvo. De que nos adiantará
ganhar o mundo inteiro se perdermos a nossa alma?
Removamos a pedra do pecado que nos têm impe-
dido de aceitar Jesus como Senhor e Salvador de nossa
vida, removamos a pedra que tem servido de obstáculo
para vermos o que Deus tem preparado para seus filhos,
olhemos para Jesus, o Autor e Consumador da nossa fé!

131
Ver para crer ou crer para ver

Ilustração:
Não sentimentos, mas fé!
Dwight L. Moody encontrou uma vez um deter�-
minado homem em Manchester, na Inglaterra. Depois
de uma reunião evangelística, certa noite, Moody procu-
rava explicar a salvação a um pequeno grupo na galeria.
Dirigindo suas observações diretamente a esse homem, o
grande evangelista perguntou:
– Amigo, você é um cristão?
– Não, mas gostaria de ser.
Moody apresentou uma ou duas ilustrações mais,
esforçando-se para tornar claro o caminho da salvação, e
depois, perguntou:
– Você entende agora?
– Não. Não me é claro. Não serve ao meu caso.
Como Moody apresentasse várias ilustrações mais, o
homem interrompeu:
– O caso é que não posso sentir que estou salvo.
– Foram os sentimentos de Noé que o salvaram ou a
arca?”, perguntou Moody.
Qual uma seta esta verdade penetrou no coração do
homem.
– Está tudo claro, disse ele.
Vários dias mais tarde, aconteceu que Moody encon-
trou outra vez o homem, e o novo convertido comentou
o incidente de algumas noites antes. “Tenho procurado a
salvação através de meus sentimentos, tentando fazer de
meus sentimentos uma arca, mas no momento em que o
132
7. A caminhada da fé

Senhor falou na arca, tudo ficou claro. A salvação é por


meio da fé!

Ilustração:
Gelo nos trópicos
Uma pobre mulher pagã tornou-se cristã, e era notá-
vel pela simplicidade de sua fé. Ao aceitar a Cristo ela O
pegou literalmente pela palavra. Alguns meses depois de
sua conversão, seu filhinho adoeceu. Seu restabelecimento
era duvidoso. Precisava-se de gelo para o pequenino, mas
naquele país tropical, longe das grandes cidades não era
possível consegui-lo. “Vou pedir a Deus que mande gelo”,
disse a mãe ao missionário. “Oh! mas a senhora não pode
esperar que Ele faça tal coisa”, foi a resposta imediata.
“Por que não?”, replicou aquela crente de coração
simples. “Ele tem todo o poder e também nos ama. Assim
o senhor nos ensinou. Vou pedir-Lhe, e creio que Ele
vai me ouvir.” Pediu a Deus e Ele lhe respondeu. Logo
veio uma forte trovoada, acompanhada de uma chuva de
pedras. A senhora pôde assim encher uma vasilha grande
com pedrinhas de gelo. A aplicação fria era justamente o
que a criança precisava, e recobrou a saúde.” – Publicada
originalmente no Sunday School Times.

133
Capítulo VIII

ANDANDO PELA FÉ NOS


DIAS ATUAIS

Projetado por Jcomp - Freepik.com


Mas em todas estas coisas somos mais que
vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois
estou convencido de que nem morte nem vida,
nem anjos nem demônios, nem o presente nem
o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura
nem profundidade, nem qualquer outra coisa
na criação será capaz de nos separar do amor
de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
(Romanos 8.37-39)
136
As histórias bíblicas nos edificam e incentivam a
buscar uma vida baseada na fé, que tenha Jesus como nossa
Rocha, na certeza de que nossa casa não cairá ainda que
caia a chuva, batam os ventos e corram os rios, pois alicer-
çada na Rocha Inabalável que é Jesus, pela fé, jamais ire-
mos sucumbir. No entanto, será que hoje podemos encon-
trar homens e mulheres que ousaram ou ousam viver pela
fé, acreditar enquanto tudo está escuro, no tempo em que
não há nenhum sinal de que a bênção chegará?
Se olharmos a história de missões, da igreja perse-
guida, encontraremos pessoas maravilhosas que, pela fé,
desistiram do mundo e de tudo o que ele pode oferecer
para entrar pela porta estreita, crendo que, por intermédio
dela, alcançarão a promessa. Mesmo assim, tudo isso pode
parecer distante, muito além do que podemos imaginar
que aconteça a pessoas reais e fracas como eu e você. Por
isso, quero lhe apresentar algumas histórias de fé de pes-
soas que enfrentaram dificuldades e que não estão longe
de nós, da nossa realidade, experiências que você poderá
identificar, talvez em sua vida, família ou igreja. Histórias
reais de pessoas fracas que acreditaram no Deus real, no
mesmo Deus dos “Heróis da Fé” descritos em Hebreus 11,
descritos em toda a Bíblia.

NÃO VIU, MAS CREU


Dentre as muitas experiências ministeriais, ao logo
desses mais de trinta anos, a vida do Ítalo me marcou
profundamente. Fazendo parte de uma família que não

137
Ver para crer ou crer para ver

conhecia Jesus, sua mãe muito religiosa, seu pai dedi-


cado a uma vida de pecado, seus dois irmãos criados sem
o conhecimento da Palavra, embora o mais velho tenha
sido o primeiro a ter um encontro pessoal com Jesus, Ítalo
nos marcou. Em 30 de janeiro de 2010 se casou e cinco
meses depois foi diagnosticado com um sarcoma sinovial,
e o médico lhe deu apenas três meses de vida, o que mudou
sua vida drasticamente e o desafiou a permanecer fiel,
sendo ainda um novíssimo convertido. Viveu ainda por
três anos com grandes lutas, porém, sem nunca reclamar.
A tragédia se abateu sobre sua família, pois ainda
jovem, recém-casado, bonito, ótimo profissional e tudo o
mais que possamos imaginar, sua vida mudou vertiginosa-
mente com os dolorosos tratamentos, cirurgias de ampu-
tação, primeiro do pé, depois de toda a perna, sofrendo
muitas dores. O Ítalo ganhou sua família para Jesus com o
seu sorriso clássico diante da dor, suas piadas com as pró-
prias limitações e, sobretudo, seu ardor evangelístico que o
levou a viver os últimos anos de sua vida ganhando pessoas
para Cristo. Sua fidelidade e falta absoluta de reclamação,
atrelado ao contínuo espírito de louvor e gratidão fizeram
com que todos que o conheciam percebessem o amor de
Deus em sua vida e a manifestação de uma fé contagiante.
Quantos retornaram à igreja por conta disso, quantos
se dobraram diante do senhorio de Jesus por seu testemu-
nho, quantos foram consolados no leito de dor, no INCA,
por sua palavra doce, calma e confiante? Não podemos
mensurar o resultado deixado por Ítalo, mas sabemos que
ele teve fé suficiente para crer no que não podia ver, ele não
foi curado, não teve suas dores terrenas saradas, mas hoje,

138
8. Andando pela fé nos dias atuais

muitos são os frutos colhidos dessa semente que morreu,


mas afinal, se a semente não morrer, não poderá fazer com
que nasça uma linda, frondosa e frutífera árvore.
No dia em que o Ítalo iria passar pela cirurgia de
amputação de sua perna, me dirigi ao Instituto Nacional
do Câncer para dar apoio à família. Antes de ser levado à
sala de cirurgia o Ítalo estava inquieto porque a caixa de
novos testamentos que ele havia mandado comprar ainda
não tinha chegado e ele queria distribuir antes da cirurgia,
pois se preocupava em não voltar. Sim, essa era a sua preo-
cupação.
Tudo correu bem com o Ítalo, ele distribuiu os novos
testamentos, passou com tranquilidade pela cirurgia e dez
dias depois, deixou o seu repouso necessário, ainda no
Rio de Janeiro, contrariando a opinião de todos, inclusive
a minha, para estar em nossa igreja, a duzentos e setenta
quilômetros da capital, afim de participar do culto da noite
para entregar o certificado de batismo a um grande amigo
de infância, que por sua influência e testemunho voltou
para a igreja e aceitou Jesus como seu Salvador. Sim,
naquela noite, sendo carregado por seu pai numa cadeira
de rodas, dez dias depois de uma cirurgia tremendamente
invasiva, o Ítalo entregou o certificado de batismo a Antô-
nio de Pádua, o nosso “Pádua”, emocionando a todos os
que ali estavam.
Seu estado de saúde foi piorando, suas dores foram
aumentando e no dia 28 de junho de 2013 , aos 33 anos,
segundo relato de sua mãe, “o Ítalo foi para o céu”, tendo
falecido na cidade de Macaé, onde morava. No dia ante-
rior estive com ele que com dores me disse: “Pastor, cuide
139
Ver para crer ou crer para ver

dos meus pais e dos meus irmãos, não se esqueça da minha


esposa. Eles precisam se fortalecer na fé, cuide da minha
mãe”. Ítalo faleceu e hoje seus pais são líderes de célu-
las na igreja, um casal abençoado e abençoador que têm
levado, através de suas vidas e de sua casa, muitas pessoas
ao encontro de Cristo Jesus. A casa do Selito e Marilene
é uma extensão de nossa igreja. O Thiago, seu irmão, é um
obreiro dedicado, juntamente com sua esposa Franciscarla,
na Assembleia de Deus Vitória em Cristo em Macaé,
Amanda sua irmã e Vítor seu cunhado, constituíram uma
família com três filhos maravilhosos, Samuel, Saulo e Sara,
crianças adoráveis e amadas por todos, e nessa casa, o nome
de Jesus é exaltado. Amigos, muitos amigos se achegaram
a Jesus por intermédio de sua vida. Na vida de Ítalo cabe
muito bem essa palavra: “Todos estes receberam bom
testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles
recebeu o que havia sido prometido. Deus havia pla-
nejado algo melhor para nós, para que conosco fossem
aperfeiçoados”.
Não podemos deixar de ver na vida e na morte desse
jovem a poderosa mão de Deus, agindo em todo o tempo,
em todas as circunstâncias, de forma cristalina para nós
hoje, embora no passado muitas vezes nos tenha parecido
nebuloso. Olhando agora, podemos afirmar que assim
como Abel, Ítalo “depois de morto ainda fala”.

140
8. Andando pela fé nos dias atuais

PELA FÉ, ENTREGOU O


QUE ERA DE DEUS
Projetado por Xb100 - Freepik.com

No dia 10 de abril de 1961 nasceu meu irmão mais


velho Rafael. Foi motivo de grande alegria para os meus
pais, ainda mais pelo fato da minha mãe ter perdido dois
filhos antes do seu nascimento. Tudo seria maravilhoso se
na época, meu pai, funcionário do Estado (DNER), não
ganhasse tão pouco, passando, algumas vezes. meses sem
receber. Um domingo pela manhã ele saiu de casa para ir
à igreja, no bairro do IPS em Campos dos Goytacazes e
deixou minha mãe em uma Casa de Repouso devido a sua
imensa dificuldade em segurar o bebê até a ocasião certa
para o nascimento. Rafael foi o único entre oito filhos que
meus pais deveriam ter que nasceu no tempo devido, mas
mesmo assim, aquele não seria um bom dia para ele nascer.

141
Ver para crer ou crer para ver

Antes de sair de casa, meu pai disse à minha mãe que


o único dinheiro que tinha era o que estava separado para o
dízimo e teve dúvida se o entregaria naquele dia, visto que
se acontecesse algo à minha mãe, não teria recurso para
nada. Pois bem, mesmo assim, minha mãe lhe falou que
deveria entregar o que era do Senhor e, assim, ele se dirigiu
à igreja. Passado o momento da EBD, o culto começou,
até que chegou o momento da entrega dos dízimos e ofer-
tas, com grande desejo de reter consigo o que era de Deus,
em virtude de tudo o que poderia passar, com grande luta
interior, meu pai entregou a Deus o que lhe pertencia e
voltou ao seu lugar, mas em seguida, um jovem o cha-
mou e lhe disse que deveria ir correndo para casa porque
a minha mãe estava em trabalho de parto e até parteira já
tinham chamado. Meu pai saiu depressa em sua bicicleta,
mas agora sem o dinheiro que tinha levado com ele. Teria
minha mãe se equivocado? Faltou a eles prudência? Foram
meus pais inocentes naquele momento? Imagino eu o que
deve ter passado pela cabeça do meu querido pai naquele
instante! Por que não o chamaram dois minutos antes e
assim ele poderia ter guardado com ele o dinheiro para
cobrir as justas e necessárias despesas, para honrar com sua
responsabilidade de chefe de família?
Enfim, chegou em casa e tudo estava acontecendo,
mas não havia um centavo em casa para a farmácia, os
medicamentos, os produtos necessários para depois do
parto. Não havia nenhum recurso! Pois bem, ao chegar em
casa, uma amiga de minha mãe, Dalva, entregou um enve-
lope a meu pai, que havia sido enviado por seu esposo, o
professor Manoel Gonçalves, do Colégio Batista, que não

142
8. Andando pela fé nos dias atuais

era crente em Jesus. Era uma oferta para possíveis despesas


que meu pai teria, dizendo ser um presente para a chegada
do meu irmão Rafael, oferta que incrivelmente, era o exato
valor que ele havia acabado de entregar no momento do
culto, por saber que o dízimo pertencia e pertence a Deus.
Ele não via solução, minha mãe tão pouco, mas tinham a
certeza de que Deus iria prover o necessário, no momento
certo, embora ainda não houvesse lhes mostrado a saída.
Por esse ato de fé, nós, eu, meu irmão Rafael e minha
irmã Jerusa, aprendemos com os nossos pais a dizimar
ao Senhor, não por obrigação, nem por tristeza, mas com
alegria, entendimento e confiança no Deus provedor, no
Deus que é infalivelmente fiel e que busca adoradores que
decidam confiar Nele, sobretudo nos momentos mais difí-
ceis.
Hoje, Rafael é um pastor abençoado, pregador do
Evangelho, visionário, fiel a Deus, e nós podemos ver o
quanto Deus tem aberto as janelas do céu e abençoado a
fidelidade dos nossos pais num dia de tamanha dificul-
dade. O valor que o meu pai entregou ao Senhor naquele
dia eu não sei, nem ele mesmo sabe mais, mas tenho a
certeza de que o que representa vida do Rafael e o minis-
tério que ele tem exercido nos mostra que esse valor já se
multiplicou até a enésima potência. A fé realmente é “a
certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que
não vemos”.

143
Ver para crer ou crer para ver

ALMAS VALEM MAIS


DO QUE FLORES

Projetado por Valeria_aksakova - Freepik.com


No dia 16 de abril de 2012 veio a falecer a irmã Maria
de Sousa Blanc, aos 82 anos de idade, dos quais 53 dedica-
dos a Cristo Jesus, servindo-o em nossa igreja.
Uma vida totalmente marcada pelo amor. Amou a
Deus sobre todas as coisas, amou a sua família, ensinando
seus filhos o caminho do Senhor, tendo alegria de ver seu
esposo confessando Jesus no final de sua vida. Amou sua
igreja, pois falava da Primeira Igreja Batista de Pádua como
se tivesse mel em seus lábios. Serviu a Deus ali, evangeli-
zou, orou, ajudou até não poder mais frequentar, quando
então ficava em sua casa orando e sempre perguntando
sobre tudo oque tinha a ver com sua amada igreja, de
forma muito intensa. Amou seus pastores. Orava por eles,
perguntavas pela família pastoral, se interessava por tudo o

144
8. Andando pela fé nos dias atuais

que dizia respeito a eles. Amou as almas perdidas. A obra


de missões falava alto ao seu coração, sempre orando, man-
tendo-se informada sobre o que estava acontecendo nos
campos.
Momentos antes de falecer, na Unidade de Tra-
tamento Intensivo, deixou os últimos conselhos a cada
um de seus queridos. A seus neto Rafael ela disse: ”Meu
filho, Deus o abençoe na mensagem que irá pregar hoje”.
A igreja, os pastores e as almas perdidas faziam parte da
vida da irmã Maria.
Momentos antes de falecer, Maria Blanc deixou uma
recomendação a respeito de seu funeral: “Não coloquem
flores sobre o meu corpo quando estiver na urna, não com-
prem flores para o meu funeral”. Claro que sem entender,
os filhos se calaram. Foi quando ela concluiu: “Invistam o
dinheiro das coroas e das flores em missões”.
No culto fúnebre da irmã Maria Blanc não havia flo-
res, nem coroas de flores, mas havia muitas almas que tive-
ram a oportunidade de ouvir sobre sua vida, seu amor a
Deus, à sua família, sua igreja, seus pastores, seu amor aos
perdidos, que puderam perceber o quanto eram amados
pelo Senhor e que suas vidas valiam infinitamente mais do
que as flores.
Maria Blanc amou mais as almas do que as flores e
por isso, pela fé, está agora nos jardins do Senhor para todo
o sempre.

145
Ver para crer ou crer para ver

CUBA PARA CRISTO

© 2004-2017 Stockvault.net / Clever Ricardo Chinaglia


Após a revolução cubana que teve início em primeiro
de janeiro de 1959, um período obscuro se abateu sobre a
Igreja de Jesus naquele país. Ao pender definitivamente
para o modelo soviético, o governo cubano começou a cer-
cear a liberdade e a dificultar a propagação do Evangelho
por entender ser contrarrevolucionário. Simples proibições
como evangelismo pessoal, distribuição de qualquer tipo
de literatura, até começar a dificultar acesso ao trabalho
e a entrada na universidade por quem declarasse alguma
fé religiosa, culminando com o encarceramento de pasto-
res, missionários e seminaristas, que eram conduzidos às
Unidade Militares de Ajuda à Produção (UMAP), que
na verdade não passavam de disfarçados campos de tra-
balhos forçados, onde os servos de Deus eram considera-
dos, como o próprio regime os chamava de “latrina social”,
comparados a todo o tipo de criminosos, contraventores
146
8. Andando pela fé nos dias atuais

e gente considerada pervertida. Muitos são os relatos e os


fatos inquestionáveis de irmãos nossos que sofreram todo
o tipo de humilhação.
Com a queda do Muro de Berlin em 1989, o mundo
soviético ruiu, a Cortina de Ferro se rasgou e a grave crise
econômica fez com as repúblicas soviéticas, bem como
a ilha de Cuba, sofressem grande abandono. O açúcar
cubano, que anteriormente era comprado a preços altíssi-
mos toda a safra, agora ficara abandonado pelos soviéticos,
que inclusive deixaram o país. Começa então, em 1990 o
chamado “Período Especial”, um tempo de total escassez,
de fome e miséria. O desencanto com a utopia socialista
havia chegado. O povo começou a ter sede espiritual,
começou a buscar consolo em toda a parte e as igrejas ser-
viram como bálsamo para muitas vidas. Eu mesmo, tive a
oportunidade de estar ali no ano de 1995, num tempo de
fome, onde um pedaço de pão seco e uma pequena xícara
de café alimentavam o povo por quase todo o dia. Algumas
vezes, almoçávamos uma bata e um pouco de arroz e nada
mais. Açougues sem carne, farmácias sem medicamentos,
padarias sem pão. Um tempo muito duro!
As igrejas começaram a ficar cheias, algumas super-
lotadas, com culto que começava às nove da manhã encer-
rando por volta das duas da tarde e o povo ainda com sede
de Deus. Acontece que os templos estavam caindo aos
pedaços e não havia autorização para construir novos tem-
plos, nem mesmo para reformá-los ou ampliá-los. O trans-
porte era escasso e horrível, as pessoas eram transportadas
em caminhões como se não fossem seres humanos, espera-
vam longas horas por uma condução que poderia não vir.

147
Ver para crer ou crer para ver

Aliás, a fila era uma especialidade cubana para tudo o que


fosse necessário, ainda que as necessidades fossem básicas.
Em 1975, o governo revolucionário havia celebrado
o primeiro Congresso do Partido Comunista. O resultado
foi a produção de uma Constituição Cubana que declarou
oficialmente a liberdade religiosa em Cuba, algo que na
verdade jamais saíra do papel. Com a visita do pastor norte-
-americano Jesse Jackson a Cuba, em 1984, as mudanças
começaram a acelerar e Fidel Castro pela primeira vez, fez
uma visita a um igreja protestante.
Em janeiro de 1985, com a publicação do livro Fidel
e a Religião, resultado de uma longa entrevista concedida
pelo Comandante em Chefe ao sacerdote brasileiro Frei
Beto, passou-se a impressão de que finalmente haveria uma
convivência harmoniosa entre a religião e o Estado, desde
que essa se enquadrasse no pensamento do comandante.
Com o agravamento da crise, a própria saúde de
Cuba se deteriorou, com o aparecimento de enfermidades
advindas de uma alimentação deficiente e pela escassez
de medicamentos. Sim, um longo período de dificuldades
havia chegado e com isso, as igreja se fizeram presentes e
atuantes para ajudar a todos os aflitos, inclusive os muitos
que a abandonaram e entregaram seus irmão ao regime
quando do auge do avanço do ateísmo na ilha.
Com o crescimento impressionante da igreja, o povo
encontrara dificuldade de se dirigira aos cultos por falta
de transporte, os templos tornaram-se pequenos e inade-
quados para receber tanta gente que não parava de chegar.
Sendo assim, a igreja pediu autorização para construir ou
ampliar seus templos, o que lhe foi negado veementemente
148
8. Andando pela fé nos dias atuais

e nem mesmo a solicitação para a melhora do transporte


fora considerada. Então, durante esta época, uma reunião
fora solicitada junto ao chefe do escritório de Atenção a
Assuntos Religiosos do Partido Comunista Cubano, o
Dr. José Felipe Carneado, que depois de negar todas as
alternativas apresentadas pelos pastores, lhe sugeriu: “Por
que vocês não se reúnem nas casas como fazem os pente-
costais? Não podemos por hora autorizar a construção de
templos, no entanto podemos autorizar que se reúnam nas
casas, desde que cumpram os requisitos exigidos”.
Daí começou um movimento que deu origem a um
grande avivamento cubano, pois casas de culto e depois
casas de oração, embora duramente reguladas pelo
governo, se multiplicaram em todo o país e ninguém mais
pôde segurar.
Assim como Ciro, o rei da Pérsia, foi usado por Deus
para permitir e providenciar meios para que o povo retor-
nasse do cativeiro e reconstruísse o templo, o culto e os
muros de Jerusalém, assim Deus usou um ministro ateu
para preparar o caminho que iria promover o avivamento
tão esperado por aqueles que durante muitos anos estive-
ram orando pelo agir de Deus naquela ilha. Sim, eles não
podiam ver enquanto oravam, mas creram, eles não conse-
guiam vislumbrar o que iria acontecer, pois estavam sendo
perseguidos, vendo muitos de seus membros abandonado
a igreja, filiando-se ao Partido, sendo a ele devotos como
se fora sua religião. Pela fé a igreja acreditou sem ver e por
isso viu Deus fazendo coisas maravilhosas, a igreja invadiu
as casas, os pequenos grupos, as células, os PGM’s, seja
qual o nome que queiramos dar, dessa forma, pela ideia de

149
Ver para crer ou crer para ver

um ateu, Deus abençoou e tem abençoado sua igreja na


ilha caribenha.
A Convenção Batista Ocidental e a Convenção Batista
Oriental foram organizadas em 1905 com 20 igrejas. No
ano 1960 tinham crescido para 210 igrejas. Desse modo,
nos primeiros cinquenta e cinco anos, as convenções plan-
taram 190 igrejas, uma média de 3,4 novas igrejas por ano.
Em 1990 a quantidade de igreja cresceu a um total de 238,
por tanto, nos primeiros trinta anos da Revolução Cubana,
1960-1990, fundaram apenas 28 igrejas, pouco menor de
uma igreja por ano, o que mostra os efeitos sufocantes da
Revolução sobre o crescimento dos batistas cubanos.
De 1990 a 2000, as convenções reconheceram 153
novas igrejas, alcançando um total de 391, uma média de
15,3 novas igrejas durante a década de 1990. Nesses anos,
os batistas plantaram 4,4 vezes mais igrejas por ano que
em qualquer outro ponto da história. Desde 2000 a 2010,
as convenções alcançaram 792 igrejas, atingindo a incrível
uma média de 40,1 novas igrejas por ano entre os batis-
tas cubanos. Fica claro que os batistas cubanos estavam
experimentando o maior crescimento entre as igrejas tra-
dicionais nesse período de vinte anos. (Esses dados estatís-
ticos foram extraídos do MPI (Movimento de Plantação
de Igrejas), encontrados no extraordinário livro El Gran
Avivamiento de Cuba, de Kurt Urbanek).

150
8. Andando pela fé nos dias atuais

A impressionante EBD Cubana


1. Em 1990, havia 941 pessoas a mais na EBD do que
membros da igreja.
2. Em 1995, havia 8.061 alunos da EBD a mais do que os
que eram membros.
3. Em 2000, o número de frequentadores da EBD era de
17.824 a mais do que os membros da igreja.
4. Em 2005, havia 8.659 a mais do que os membros da
igreja.
5. 2010, contava com 10.995 a mais do que os membros
da igreja.
O número de batismos entre os batistas cubanos,
entre 1990 e 2010, aumentou dramaticamente de 1.054
em 1990 para 6.426 em 2010. Mesmo que tenha flutu-
ado o número anual durante esses anos, o crescimento e
aumento da membresia das igrejas foi assustador e por essa
o Dr. José Felipe Carneado não contava.
O fenômeno do surgimento das igrejas nas casas se
deveu a uma combinação de fatores: a crise econômica,
social, política e espiritual do “Período Especial” que fez
com que os cubanos corressem em massa para as igrejas
existentes. Mas, bem sabemos, que foi a fé de irmãos que
pela fé, vislumbraram o dia em que Deus iria agir de forma
tremenda, soprando sobre eles o avivamento e até mesmo
o Chefe ou Ministro para Assuntos Religiosos foi usado
para que a soberana vontade de Deus se cumprisse. Temos
que concordar com o fato de que “sem fé é impossível
agradar a Deus”.

151
Ver para crer ou crer para ver

OBRIGADO POR NÃO TER


DESISTIDO DE MIM

Projetado por Jcomp - Freepik.com


No ano de 1988, Deus nos presenteou, a mim e a
minha esposa Raquel, com a bênção do nascimento de
nosso primeiro filho. Demos a ele o nome de Danilo (Deus
é meu Juiz). Na gravidez, no início do quarto mês, foi aco-
metida de rubéola, com febre de quarenta graus. A médica
nos disse que seria uma irresponsabilidade não agirmos
para que ela provocasse a retirada do bebê, correndo o
risco de que viesse à vida como uma série de deformidades.
Ficamos desesperados, minha esposa chorava muito, pois
além de tudo estava muito debilitada. Fomos para casa e
ao nos ver naquela situação, meu pai nos desafiou a con-
fiarmos em Deus e a crer que ele podia todas as coisas.
Naquela noite oramos e decidimos descansar no Senhor
e de maneira maravilhosa, não tocamos mais no assunto

152
8. Andando pela fé nos dias atuais

durante toda a gestação, que por sinal, foi maravilhosa.


Raquel ficou uma grávida linda, saudável, animada e com
isso, nos preparamos para a chegada do nosso (a) filho(a).
Quando na madrugada do dia dezessete de maio de
1988 a bolsa de Raquel estourou (sempre de madrugada),
corremos para o hospital e, devo confessar, após Raquel
entrar na sala de cirurgia, meus medos voltaram, tive medo
de ver meu filho, ou filha, nascer com os terríveis resulta-
dos decorrentes da rubéola. Ainda no corredor do hospi-
tal, o médico, nosso amigo Dr. Marcelo, apareceu e gritou
da porta do centro cirúrgico: “É um menino, mais um pas-
torzinho”. Claro que fiquei feliz, mas imediatamente per-
guntei: Doutor, ele nasceu perfeito?” Ele disse: “O menino
é perfeito e lindo, será mais um pastorzinho”. Ele será mais
um pastorzinho, com certeza era uma alusão ao fato de em
nossa família termos muitos pastores, tanto por parte do
meu pai, como da minha mãe.
O menino cresceu saudavelmente, e à medida que
crescia era imerso na Palavra de Deus, nos louvores e
muito amado pelos irmãos da igreja, era na verdade, filho
de todos, de tão amado que era, além claro, do amor dos
primos, tios e avós. A igreja era uma alegria na vida de
Danilo e da nossa, pois participava de tudo, dos ensaios, da
EBD, depois dos Embaixadores do Rei, aprendeu a tocar
violão e se tornou um exímio guitarrista.
Em 1995, chega a nossa maravilhosa e linda filha
Gabriela, o que nos trouxe uma alegria imensa, pois agora
estava completo: um lindo e saudável casal de filhos. Mas,
veio a adolescência do menino.....

153
Ver para crer ou crer para ver

Como qualquer adolescente, Danilo começou a dei-


xar de ver no pai um herói, algo absolutamente natural
e esperado, mas juntamente com isso, veio a rebeldia, a
desobediência, que com o decorrer do tempo passou da
normalidade à preocupação. Anos difíceis nos esperavam.
O amor aos pais existia, mas não conseguíamos percebê-
-lo nas atitudes, o prazer de cultuar, de estar na igreja, de
servir a Deus, de ler a Palavra, práticas anteriormente rega-
das de prazer, tornaram-se enfadonhas e escassas, e por
fim, motivo de discórdia, brigas e tristezas. Sim, chegaram
anos difíceis, de desentendimento, especialmente quanto
ao fato de ser ele o “filho do pastor”, o que nos ocasionou
muitas dificuldades, pois a possibilidade de se cumprir a
“profecia” do médico, parecia impossível de se tornar rea-
lidade, embora, nunca tenha sido nosso projeto incentivar
que isso ocorresse por conta de sermos uma família de pas-
tores. Em nossa casa nunca houve essa cobrança.
O esfriamento, a proximidade com o mundo e suas
ofertas, as amizades, algumas boas com pessoas que não
conheciam Jesus e outras, nem tanto, começaram a levar
o nosso filho para um caminho diferente do que sonhá-
vamos.
O meu amor pela igreja, pela Palavra de Deus e por
missões não pareciam dizer nada ao “pastorzinho” e isso
me doía muito. Mas, com certeza, nada nos machucava
mais do que ver sua vida trilhar um caminho nublado,
quando poderia ser um caminhar de céu de brigadeiro.
Minha esposa e eu orávamos e chorávamos, às vezes nos
desentendíamos quanto as atitudes que tomávamos ou que

154
8. Andando pela fé nos dias atuais

cada um tomava de forma diferente que o outro pensava.


Dias difíceis, anos difíceis!
O ápice de nossa dor foi quando, na sala de nossa casa
ele me disse: “Pai, ser seu filho pra mim é um inferno”.
Confesso que ouvir aquelas palavras fez com que me sen-
tisse um fracassado, pois um pai que coloca tanto peso
sobre a vida de seu filho, não soube ser pai, ser esposo, ser
pastor. Confesso que chorei e não foi pouco. Num deter-
minado domingo, depois de um grande desentendimento,
cheguei à igreja, por ocasião de um congresso de jovens, a
igreja absolutamente lotada de jovens como o meu filho
e eu, comecei a chorar no gabinete, sem condições de me
levantar e me dirigir ao templo. O culto havia começado e
minha esposa, sentindo minha falta e conhecendo minha
dor, foi ao gabinete e orou comigo. Me levantei e quase
me arrastei ao templo, mas Deus foi tão maravilhoso que
aquela noite muitos jovens aceitaram Jesus como Salva-
dor e outros tantos foram à frente dedicando suas vidas ao
Senhor, mas o meu filho não estava lá, no entanto, naquele
dia eu disse a minha esposa: “Meu bem, nós vamos vencer,
pela fé, nós iremos vencer”.
Um dia, fazendo o culto doméstico com minha
esposa e filha eu disse a elas: “Eu não aguento mais, eu
não suporto mais!” Chorando muito disse a elas: “de hoje
em diante não faço mais nada, se minha angústia será a de
ter meu filho longe do Senhor eu aceitarei, mas a partir de
hoje eu entrego tudo isso totalmente nas mãos de Deus”.
Nós choramos juntos. A Gabriela, ainda muito nova nos
serviu como um bálsamo, mas sofria e chorava por muito

155
Ver para crer ou crer para ver

amar seu irmão, o que diga-se de passagem, ele também a


amava muito.
Após longos seis anos de luta, em uma das viagens
que faço a Cuba, pregando o Evangelho, fazendo missões,
Danilo foi comigo, já agora pela segunda vez. Foi uma expe-
riência maravilhosa juntamente com mais quatro irmãos
da igreja. Danilo estava diferente, aliás, em Cuba ele pare-
cia outro. Absolutamente envolvido, participando e lide-
rando os jovens da igreja, admirado por todos. Os irmãos
que conosco estavam me diziam: “Pastor, o Danilo que
está aqui é outro”, embora ele fosse querido por todos, pois
sempre muito educado e principalmente caridoso com as
pessoas humildes.
Muito bem, retornamos e como de costume, dei
oportunidade para que os quatro dessem um testemunho
à igreja sobre o que viram em Cuba. Sinceramente não
acreditava que o Danilo fosse falar, pois nunca tinha ido
à frente, nunca dera uma palavra ao microfone. A igreja
estava superlotada, domingo à noite, transmissão do culto,
ou seja, nada contribuía para que ele falasse. Quando per-
guntei a ele se falaria, me disse que sim. Confesso que
experimentei um misto de alegria e apreensão. Falei com
Raquel e pedi para que ela orasse. Não sei exatamente o
porquê, mas meu filho foi o último a falar. Ao tomar o
microfone, um silêncio sepulcral tomou conta da congre-
gação. Quando ele começou a falar que estava vivendo por
longo tempo longe dos caminhos do Senhor, desobede-
cendo a Deus, disse também algo tremendamente triste
para todos, especialmente para um jovem: “Eu tranquei
a matrícula da faculdade, não queria fazer nada, não que-

156
8. Andando pela fé nos dias atuais

ria ser nada”. Mas no decorrer do seu testemunho ele nos


narrou a conversa que o pastor Rubén, da Primera Iglesia
Bautista de San Cristóbal, em Cuba. O pastor o chamou
para uma conversa e lhe disse: “Danilo, eu estou te obser-
vando desde a primeira vez que você veio a Cuba no ano de
2010, e agora, em 2012, da mesma forma. Você devia estar
pastoreando os jovens da igreja, você tem um chamado de
Deus, Deus te quer”. Claro que o Danilo saiu daquela con-
versa atordoado, pois ele me disse algumas vezes que não
queria ser como eu, não queria fazer o que eu fazia, e que
não haveria a menor possibilidade de ser pastor e a própria
menção das pessoas à essa possibilidade o irritava.
Sim, naquela noite inesquecível ele disse diante
de todos: “Eu não vou mais fugir do chamado de Deus.
O Senhor me quer, não sei se como pastor de jovens, se
como músico ou missionário, eu sei que Ele me quer e
eu não vou fugir mais disso. Eu vou para o seminário”.
A igreja se pôs em pé e explodiu em alegria e aplausos,
porque na verdade, todos sabiam que era exatamente esse
o obstáculo, essa era a luta, entre desobedecer e obedecer a
Deus. Meu coração parecia que ia explodir, eu não sabia se
ria, chorava, aplaudia, pulava.
Após todo aquele momento de comoção, ele disse
que queria fazer alguns agradecimentos. Agradeceu ao
nosso pastor de jovens, Manoel Luiz Teixeira, pois foi a
mensagem pregada por ele em Cuba que o jogou no chão,
agradeceu ao apoio incondicional do nosso amigo, irmão
e diácono Joaquim Peixoto por sua absoluta ausência
de condenação em todo o tempo e ao amado Everaldo,
pelo fato de, ainda lá em Cuba e sem saber de nada,

157
Ver para crer ou crer para ver

tê-lo chamado à parte para dizer-lhe que Deus tinha um


chamado para ele. No entanto, ele terminou suas palavras
dessa forma se dirigindo a mim: “ Agora, ao meu mestre,
ao meu amigo, ao meu amor, obrigado por não ter desistido
de mim, você sabe que eu te amo”. Aleluia! A ofensa que
recebi na sala da minha casa, sem que ninguém de fora
ouvisse, mas que meu coração ainda sentia, transformou-
-se numa tremenda declaração de amor diante da igreja,
do povo da cidade que acompanhava a transmissão do
culto. Como bem diz o título do livro de Henri Nouwen:
“Transforma meu pranto em dança”, foi o que aconteceu,
literalmente. A igreja mais uma vez explodiu de alegria e
eu o abracei, minha esposa e minha filha se dirigiram a
nós, porque sabiam mais do que qualquer outra pessoa o
que aquele momento significava. Uma noite que podia não
mais acabar!
Sim, daquele dia em diante tudo mudou, Danilo foi
para o seminário, começou a estudar. Sua vida na igreja
e na cidade passou por uma verdadeira metamorfose. Ele
deixou aflorar o líder que havia dentro dele, os jovens
começaram a segui-lo em suas visitas nas casas de pessoas
pobres, fazendo faxina, subindo os morros da cidade, acu-
dindo mendigos, embriagados, dependentes químicos e os
conduzindo a Jesus e à igreja. Gente estragada pelo pecado
hoje glorifica o nome de Deus na igreja e tudo começou
apenas com um abraço, um sorriso, um serviço do menino
que se tornara homem e que ao nascer sobre ele tinha-se
dito que havia nascido “mais um pastorzinho”.
Do Seminário Batista do Sul do Brasil, hoje ele está
estudando no Southwestern Baptist Theological Semi-

158
8. Andando pela fé nos dias atuais

nary, um dos maiores e mais conceituados do mundo, por


obra e graça do nosso Deus, tendo seu nome respeitado e
admirado por mestres e alunos, tendo participado de pro-
jetos missionários, pregando e ajudando na igreja de fala
hispana, bem como se envolvendo num lindo projeto de
plantação de igrejas. Deus é bom, Deus é fiel, vale a pena
crer para ver, pois, “a fé é a certeza daquilo que espera-
mos e a prova das coisas que não vemos.” Hoje sentimos
saudade, mas estamos agradecidos a Deus porque a alguns
anos atrás tínhamos nosso filho perto, porém longe do
nosso coração, hoje no entanto, o temos longe, mas perto
do nosso coração. Louvado seja o Senhor!
Na vida cristã muitas são as experiências de fé, muito
além dessas relatadas, outras tantas poderiam estar aqui,
inclusive a sua experiência com Deus, de algum momento
em sua vida em que você precisou decidir se esperaria ver
para crer, abrindo mão do maravilhoso exercício da fé, ou
se aceitaria o desafio de crer mesmo não podendo ver a
resposta de suas orações. O seu nome pode muito bem
fazer parte de uma galeria de heróis da fé, não por conta
de fama ou realizações espetaculares, mas pela humildade
de viver na dependência Daquele que sabe e pode todas
as coisas, aceitando sua limitação, porém crendo em um
Deus cujo poder é ilimitado.
Os anônimos do presente poderão ser os heróis do
futuro sem que no entanto, venham a saber disso, o que
torna suas experiências mais valiosas, pois ficarão como
um legado à geração seguinte, sem que corra o risco de
envaidecimento. Toda honra e glória sejam dados a nosso
Deus! “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus

159
Ver para crer ou crer para ver

Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação,


que nos consola em todas as nossas tribulações, para
que, com a consolação que recebemos de Deus, pos-
samos consolar os que estão passando por tribulações.
Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam
sobre nós, também por meio de Cristo transbordava
nossa consolação” (2 Co 1.3-5).

160
Conclusão

© 2017 GETTY IMAGES/ Asif Akbar

Chegamos ao fim de uma verdadeira epopeia de fé,


histórias emocionantes e estimulantes que nos fazem ver
que há pessoas tão próximas de Deus que o mundo cor-
rompido não as merece. O mundo não é digno de quem
vive pela fé. A leitura do capítulo onze de Hebreus nos leva
imaginar o quão forte teriam sido essas pessoas, mas elas
não eram diferentes de mim e você enquanto seres huma-

161
Ver para crer ou crer para ver

nos frágeis, caídos em seus delitos e pecados, homens e


mulheres sujeitos às mesmas paixões que nós.
Quando vamos adiante, no capítulo doze, vemos
que as testemunhas do Antigo Testamento servem como
exemplo para nós de que vale a pena viver pela fé e que, por
isso, somos desafiados a abandonar o pecado, nos livrar de
tudo o que possa atrapalhar no prosseguimento do projeto
de Deus para nossa vida. Mais do que isso, somos chama-
dos a elevar os nossos olhos para olhar para a Testemunha
Perfeita, para Aquele que enfrentou todo o tipo de humi-
lhação e tentação para abandonar sua caminhada, mas que
ao invés de sucumbir, suportou a oposição dos pecadores,
suportou a vergonhosa morte de cruz, para que hoje, não
desanimássemos quando nossa fé for colocada à prova.
Nossa luta ainda não nos levou à morte, nossas tribu-
lações, especialmente as que são motivadas por nossa fé,
ainda não nos levaram a oferecer a nossa vida, portanto,
suportemos possíveis dificuldades para permanecermos
fiéis, aceitemos as afrontas e as ironias e quando Deus
achar por bem nos disciplinar, que recebamos a disciplina
como um bem e não como um mal, pois se Ele nos dis-
ciplina é porque nos ama. Fortaleçamos a nossa fé, firme-
mos os nossos passos, nossas mãos enfraquecidas e nossos
joelhos vacilantes. Por fim, sejamos semeadores da paz, e
busquemos a santidade, pois:
“Sem santidade ninguém verá a Deus” (Hebreus
12.14).
Ver para crer ou crer para ver? Os “Heróis da Fé”
nos deixaram o legado da esperança naquilo que não se

162
Conclusão

vê, porém se crê, mas sobretudo, olhar para Jesus nos fará
fortes o suficiente para perdermos, se essas perdas nos
levarem à vitória em Cristo. Jesus é a nossa esperança, Nele
colocamos a nossa fé, ainda que não posamos vê-lo agora,
um dia o veremos face a face e baseados na Palavra do
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo podemos crer:
“... Felizes o que não viram e creram” ( Jo 20.29).
Crer para ver é demonstração de que a fé, uma con-
fissão de que temos a certeza de que nossa vitória está em
Jesus, em suas promessas e que pela fé, receberemos a nossa
herança eterna. No entanto, isso será possível somente a
quem abrir mão de ter que ver para crer, mas que alegre-
mente se dispor a crer para ver.
O que é nascido de Deus vence o mundo; a nossa fé.
Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê
que Jesus é o Filho de Deus (...) E nós estamos naquele
que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 João 5.4-5;20b).

163
164
Agradecimentos

Não posso deixar de agradecer ao meu Deus por


ter me chamado para o honroso ministério da Palavra e
por usar esse vaso de barro para transmitir a inigualável
e valiosa Palavra De Deus. Tenho a convicção de que ao
longo desses 30 anos de ministério, que se completarão
em 26 de marco de 2018, Ele me deu as mensagens, e eu
apenas fui um frágil mensageiro.
Agradeço às amadas igrejas: Primeira Igreja Batista de
Cantagalo, onde por dez anos tive o privilégio de pastorear
e pela Primeira Igreja Batista de Pádua, que por já quase
20 anos tem me dado o privilégio de pregar a maravilhosa
Palavra de Deus e me apoiado de maneira impressionante,
com um amor tão grande que enche o meu coração de
alegria, gratidão e contentamento.
Agradeço aos meus pais por sua influência definitiva
em minha vida. O amor, o sacrifício, e as orações de vocês
são uma riqueza de valor inestimável. Amo vocês!
Agradeço à minha amada esposa Raquel por seu
companheirismo fiel e por meus filhos Danilo e Gabriela,
pois o fato de vocês servirem a Jesus, me proporciona uma
alegria inestimável e a paz que tanto preciso para cumprir
com o ministério que me foi proposto. Vocês são um pre-
sente Deus na minha vida!

165
Ver para crer ou crer para ver

Agradeço imensamente ao incansável Luciano Cam-


panário e a minha dedicada secretaria Lília Duarte pela
dedicação e amor com que me ajudaram na disposição
dessa simples obra.
Por fim, agradeço o estímulo e a confiança da que-
rida Priscila Laranjeira, grande incentivadora para que eu
tivesse coragem de transformar sermões em livro e pela
A. D. Santos Editora por me conceder o privilégio de ter
meu primeiro livro publicado. Obrigado pela confiança!

166
Como Tudo Começou

O sonho que deu origem a esse livro nasceu quando


no ano de 2001 comecei uma pós-graduação em Teolo-
gia no então Seminário Teológico Batista de Curitiba,
hoje FABAPAR, e tive o privilégio de me hospedar na
casa daqueles que viriam a ser grandes amigos, depois ove-
lhas e por fim ele, um companheiro de ministério. Refiro-
-me ao Marcão (Marco Antônio de Almeida Ferreira) e
Tata (Noemi Lira Ferreira) que abriram as portas de sua
casa para me receber, todas as vezes que ia à Curitiba para
as semanas de aula. Nesse tempo, eles me levaram para
conhecer a AD Santos e consequentemente me apresen-
taram à Priscila Laranjeira, quando tive o primeiro contato
com alguém que me desafiou a pensar na possibilidade de
escrever um livro.
Tempos depois, o Marcão, hoje Pr. Marco Antônio,
já morando em nossa cidade, Santo Antônio de Pádua, me
desafiou a enviar por ele uma série de mensagens grava-
das para que entregasse à editora afim de que as escutasse.
E assim tudo começou. Resisti por vários anos, até que o
dia chegou, e este é o momento em que o sonho se trans-
formou em realidade.
Não posso deixar de agradecer a esse casal querido
pelo incentivo e por ter sido canal de Deus para que as por-
tas se abrissem para mim, para que hoje você recebesse esse
livro, que passou por uma longa gestação, mas que enfim
nasceu para a glória de Deus.

167
Bibliografia

Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional. 2 ed. Sociedade


Bíblica Internacional, São Paulo, 2000.
Bíblia Sagrada King. James. Trad. E rev.: Comitê Inter-
nacional e permanente de tradução e revisão KJA. Abba
Press, São Paulo, 2007.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento.
Editora Atos, Belo Horizonte, 2008.
PINTO, Carlos Oswaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento
no Novo Testamento, V.10. Hagnos, São Paulo, 2008.
BEACON Comentário Bíblico, v.10. CPAD, Rio de Janeiro,
2006.
MUÑHOZ, Alberto I. González. Dios no entra em mi ofi-
cina. 2 ed. Editora Bautista, La habana, Cuba, 2008.

SUA OPINIÃO É MUITO IMPORTANTE PARA NÓS.


Escreva para:
verparacrer@adsantos.com.br e compartilhe
conosco suas impressões e sugestões.
Será um prazer trocar ideias com você.
Se desejar, acompanhe-nos nos seguintes endereços eletrônicos:

   facebook.com/adsantoseditora    @AdsantosEditora

youtube.com.br/adsantoseditora10

168

Você também pode gostar