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O novo mapa da desigualdade global


Equipe liderada por Piketty lança relatório-2022. Os 10% mais ricos capturam 78%
da riqueza. Restam, a metade da população, 2%. Distorções devastam sociedades e
planeta. Há alternativas: impostos redistributivos e políticas sociais potentes

OUTRASPALAVRAS DESIGUALDADES

por Relatório Mundial sobre as Desigualdades-2022


Publicado 07/12/2021 às 20:10 - Atualizado 31/12/2021 às 00:50

MAIS:
O texto a seguir é o Resumo Executivo – traduzido por Outras Palavras – do
Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022. Produzido pela equipe de
Thomas Piketty, na Escola de Economia de Paris, o documento foi lançado nesta
terça-feira, 7/12. A íntegra do documento pode ser baixada aqui. Tradução: Vitor
Costa.

Dados confiáveis de desigualdade como bens públicos globais

Vivemos em um mundo com muitos dados e, no entanto, carecemos de


informações básicas sobre a desigualdade. Os números do crescimento econômico
são publicados todos os anos por governos em todo o mundo, mas não nos dizem
muito sobre como esse crescimento é distribuído entre a população: sobre quem
ganha e quem perde com as políticas econômicas. O acesso a esses dados é
fundamental para a democracia. Além da renda e da riqueza, também é
fundamental melhorar nossa capacidade coletiva de medir e monitorar outras
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dimensões das disparidades socioeconômicas, incluindo as desigualdades de


gênero e as ambientais. Informação sobre desigualdade com acesso livre,
transparente e confiável é um bem público global.

Este relatório apresenta nossa síntese mais atualizada dos esforços de pesquisa
internacional para rastrear as desigualdades globais. Os dados e análises aqui
apresentados baseiam-se no trabalho de mais de 100 pesquisadores localizados em
todos os continentes, ao longo de quatro anos, contribuindo para o World
Inequality Database (WID.world), mantido pelo World Inequality Lab. Esta vasta rede
colabora com instituições estatísticas, autoridades fiscais, universidades e
organizações internacionais para compilar, analisar e divulgar dados comparáveis
de desigualdade internacional.

As desigualdades contemporâneas de renda e riqueza são muito grandes

Um adulto médio ganha, em PPC (Paridade do Poder de Compra), US$ 23.380 por
ano em 2021, e esse mesmo adulto médio possui US$ 102.600. Essas médias
mascaram grandes disparidades entre os países e mesmo dentro deles. Os 10%
mais ricos da população global atualmente respondem por 52% da renda global,
enquanto a metade mais pobre da população ganha 8% dela. Em média, um
indivíduo entre os 10% mais ricos da distribuição de renda global ganha US$
122.100 por ano, enquanto um indivíduo da metade mais pobre da distribuição de
renda global ganha US$ 3.920 por ano (Figura 1).

As desigualdades de riqueza global são ainda mais pronunciadas do que as


desigualdades de renda. A metade mais pobre da população global mal possui
alguma riqueza, tem apenas 2% do total dela. Em contraste, os 10% mais ricos da
população global possuem 76% de toda a riqueza do planeta. Em média, a metade
mais pobre da população possui PPC US$ 4.100 por adulto e os 10% mais ricos
possuem US$ 771.300 em média (Figura 4).

FIGURA 1 – Renda global e desigualdade de riqueza

Interpretação: Os 50% mais pobres possuem 8% da renda total medida pela Paridade do
Poder de Compra (PPC). Os 10% mais ricos possuem 76% do total da riqueza doméstica e
capturam 52% da renda total em 2021. Observe que os maiores detentores de riqueza não
são necessariamente os maiores detentores de renda. Os rendimentos são medidos após a
operação dos sistemas de pensões e de desemprego e antes dos impostos e transferências.
Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

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O Oriente Médio e o norte da África são as regiões mais desiguais do mundo,


enquanto a Europa tem os níveis de desigualdade mais baixos

A Figura 2 mostra os níveis de desigualdade de renda entre as regiões. A


desigualdade varia significativamente entre a região mais igualitária (Europa) e a
mais desigual (Oriente Médio e Norte da África, na sigla MENA). Na Europa, a riqueza
dos 10% mais ricos é de cerca de 36% do total, enquanto no Oriente Médio e no
norte da África esse valor chega a 58%. Entre esses dois níveis, vemos uma
diversidade de padrões. No Leste Asiático, os 10% mais ricos possuem 43% da
riqueza total e na América Latina, 55%.

FIGURA 2 – A metade mais pobre fica para trás: 50% inferior, 40% intermediário
e 10% superior em todo o mundo em 2021

Interpretação: Na América Latina, os 10% mais ricos possuem 55% da renda nacional, em
comparação com 36% na Europa. O rendimento é medido após as contribuições para
pensões e seguro-desemprego, além de benefícios pagos e recebidos pelo indivíduo, mas
antes do imposto de renda e outras transferências. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

A renda média nacional nos diz pouco sobre a desigualdade

O mapa mundial da desigualdade (Figura 3) revela que os níveis de renda média


nacional são indicadores ruins para a desigualdade: entre os países de alta renda,
alguns são muito desiguais (como os EUA) enquanto outros são relativamente
igualitários (por exemplo, Suécia). O mesmo vale para países de renda baixa e
média, com alguns exibindo desigualdade extrema (por exemplo, Brasil e Índia),
níveis um tanto elevados (China) e níveis moderados a relativamente baixos (por
exemplo, Malásia e Uruguai).

FIGURA 3 – Dos 10% mais ricos aos 50% mais pobres: gargalos de renda no
mundo, 2021

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Interpretação: No Brasil, os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais
ricos. Este valor é 7 vezes menor na França. O rendimento é medido após as contribuições
para pensões e seguro-desemprego e benefícios pagos e recebidos pelo indivíduo, mas antes
do imposto de renda e outras transferências. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

FIGURA 4 –A concentração extrema de capital: Desigualdade de riqueza no


mundo, 2021.

Interpretação: Os 10% mais ricos na América Latina ficam com 77% da riqueza total, contra
22% para os 40% intermediários e 1% para os 50% mais pobres. Na Europa, os 10% mais
ricos possuem 58% da riqueza total, contra 38% dos 40% intermediários e 4% dos 50% mais
pobres. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

A desigualdade é uma escolha política, não uma inevitabilidade

As desigualdades de renda e de riqueza aumentaram em quase todo o mundo


desde a década de 1980, após uma série de programas de desregulamentação e
liberalização que assumiram diferentes formas em diferentes países. O aumento
não foi uniforme: alguns países experimentaram aumentos espetaculares na
desigualdade (incluindo os EUA, Rússia e Índia), enquanto outros (países europeus e
China) experimentaram aumentos relativamente menores. Essas diferenças, que
discutimos longamente na edição anterior do Relatório Mundial sobre as
Desigualdades, confirmam que a desigualdade não é inevitável. É uma escolha
política.

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As desigualdades globais contemporâneas estão próximas dos níveis do início do


século XX, no auge do imperialismo ocidental

Embora a desigualdade tenha aumentado na maioria dos países, nas últimas duas
décadas, as desigualdades globais entre os países diminuíram. A diferença entre a
renda média dos 10% mais ricos e a renda média dos 50% mais pobres caiu de cerca
de 50 x para um pouco menos de 40x (Figura 5). Ao mesmo tempo, as desigualdades
aumentaram significativamente dentro desses países. A diferença entre as rendas
médias dos 10% mais ricos e dos 50% mais pobres dos indivíduos dentro dos países
quase dobrou, de 8,5x para 15x. Esse aumento acentuado nas desigualdades dentro
dos países significou que, apesar da recuperação econômica e do forte crescimento
nos países emergentes, o mundo continua particularmente desigual hoje em dia.
Isso também significa que as desigualdades dentro dos países são agora ainda
maiores do que as desigualdades significativas observadas entre países (Figura 6).

FIGURA 5 – Desigualdade de renda global

Interpretação: A desigualdade global, medida pelo cálculo T10/B50 entre o rendimento


médio dos 10% mais ricos e o rendimento médio dos 50% mais pobres, mais do que duplicou
entre 1820 e 1910, de menos de 20x para cerca de 40x, e se estabilizou em torno de 40x entre
1910 e 2020. É muito cedo para dizer se o declínio na desigualdade global observado desde
2008 vai continuar. O rendimento é medido após as contribuições para pensões e seguro-
desemprego e benefícios pagos e recebidos pelo indivíduo, mas antes do imposto sobre o
rendimento e outras transferências. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

FIGURA 6 – Desigualdade de renda global: desigualdade entre versus dentro do


país (índice de Theil) 1820-2020

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Interpretação: A importância da desigualdade entre os países, medida pelo índice de Theil,


aumentou entre 1820 e 1980 e diminuiu fortemente desde então. Em 2020, a desigualdade
entre os países representava cerca de um terço da desigualdade global entre os indivíduos. O
resto se deve à desigualdade dentro dos países. O rendimento é medido per capita após as
transferências de pensões e seguro-desemprego e antes dos impostos sobre o rendimento e
o patrimônio. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology e Chancel e Piketty (2021)

As desigualdades globais parecem ser tão grandes hoje quanto no auge do


imperialismo ocidental no início do século XX. Na verdade, a parcela da renda
atualmente auferida pela metade mais pobre da população mundial é cerca de
metade do que era em 1820, antes da grande ruptura entre os países ocidentais e
suas colônias (Figura 7). Em outras palavras, ainda há um longo caminho a percorrer
para desfazer as desigualdades econômicas globais herdadas da organização muito
desigual da produção mundial entre meados do século XIX e meados do século XX.

FIGURA 7 – Desigualdade de renda global, 1820-2020

Interpretação: A parcela da renda global que vai para os 10% mais rico em nível mundial
flutuou em torno de 50-60% entre 1820 e 2020 (50% em 1820, 60% em 1910, 56% em 1980,
61% em 2000, 55% em 2020), enquanto a parcela que vai para os 50% mais pobre geralmente
tem sido em torno ou abaixo de 10% (14% em 1920, 7% em 1910, 5% em 1980, 6% em 2000,
7% em 2020). A desigualdade global sempre foi muito grande. Ele cresceu entre 1820 e 1910 e
mostra pouca tendência de redução a longo prazo entre 1910 e 2020. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Chancel e Piketty (2021)

As nações ficaram mais ricas, mas os governos se tornaram mais pobres

Uma maneira de entender essas desigualdades é observar a lacuna entre a riqueza


líquida dos governos e a riqueza líquida do setor privado. Nos últimos 40 anos, os

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países tornaram-se significativamente mais ricos, mas seus governos tornaram-se


significativamente mais pobres. A parcela da riqueza detida pelos atores públicos é
próxima de zero ou negativa nos países ricos, o que significa que a totalidade da
riqueza está em mãos privadas (Figura 8). Essa tendência foi ampliada pela crise de
covid, durante a qual os governos tomaram emprestado o equivalente a 10-20% do
PIB, essencialmente do setor privado. Hoje, a pouca riqueza dos governos tem
implicações importantes para a capacidade do Estado de enfrentar a desigualdade
no futuro, bem como para os principais desafios do século XXI, como as mudanças
climáticas.

FIGURA 8 – A ascensão do setor privado versus o declínio da riqueza pública nos


países ricos, 1970-2020

Interpretação: A riqueza pública é a soma de todos os ativos financeiros e não financeiros,


além de saldos de dívidas, detidos pelos governos. A riqueza pública caiu de 60% da renda
nacional em 1970 para -106% em 2020 no Reino Unido. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Bauluz et al. (2021) e atualizações.

As desigualdades de riqueza aumentaram no topo da distribuição

O aumento da riqueza privada também foi desigual dentro dos países e em nível
mundial. Os multimilionários globais auferiram uma parcela desproporcional do
crescimento da riqueza global nas últimas décadas: o 1% do topo ficou com 38% de
toda a riqueza adicional acumulada desde meados da década de 1990, enquanto os
50% da base ficou com apenas 2% dela. Essa desigualdade origina-se de uma séria
desigualdade nas taxas de crescimento entre os segmentos superior e inferior da
distribuição da riqueza. A riqueza dos indivíduos mais ricos do planeta cresceu de
6% a 9% ao ano desde 1995, enquanto a riqueza média cresceu 3,2% ao ano (Figura
9). Desde 1995, a parcela da riqueza global em mãos de bilionários aumentou de 1%
para mais de 3%. Este aumento foi exacerbado durante a pandemia do coronavírus.
Na verdade, 2020 marcou o aumento mais acentuado na participação dos
bilionários globais na riqueza já registrado (Figura 10).

FIGURA 9 – Taxa média de crescimento anual da riqueza, 1995-2021

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Interpretação: As taxas de crescimento entre a metade mais pobre da população estavam


entre 3% e 4% ao ano, entre 1995 e 2021. Como esse novo grupo começou com níveis de
riqueza muito baixos, seus níveis absolutos de crescimento permaneceram muito baixos. A
metade mais pobre da população mundial ficou com apenas 2,3% do crescimento geral da
riqueza desde 1995. O 1% do topo se beneficiou de altas taxas de crescimento (3% a 9% ao
ano). Este grupo auferiu 38% do crescimento total da riqueza entre 1995 e 2021. A riqueza
líquida das famílias é igual à soma dos ativos financeiros (por exemplo, ações ou títulos) e
ativos não financeiros (por exemplo, imóveis ou terras) pertencentes a indivíduos, e saldo de
suas dívidas. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

FIGURA 10 – Desigualdade extrema de riqueza: o aumento dos bilionários


globais, 1995-2021

Interpretação: A parcela da riqueza detida pelos bilionários do mundo aumentou de 1% da


riqueza total das famílias em 1995 para quase 3,5% hoje. A riqueza líquida das famílias é igual
à soma dos ativos financeiros (por exemplo, ações ou títulos) e ativos não financeiros (por
exemplo, imóveis ou terras) pertencentes a indivíduos, e saldo de suas dívidas. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Bauluz et al. (2021) e atualizações.

As desigualdades de riqueza dentro dos países diminuíram durante a maior parte do


século XX, mas a parte dos 50% mais pobres sempre foi muito baixa

A desigualdade de riqueza foi significativamente reduzida nos países ocidentais


entre o início do século XX e a década de 1980, mas a metade mais pobre da
população nesses países sempre possuiu muito pouco, entre 2% e 7% do total
(Figura 11). Em outras regiões, a participação dos 50% mais pobres é ainda menor.
Esses resultados mostram que ainda há muito a ser feito, em todas as regiões do
mundo, se quisermos reduzir as desigualdades extremas de riqueza.

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FIGURA 11 – Riqueza do 1% mais rico versus riqueza dos 50% mais pobres na
Europa Ocidental e os EUA, 1910-2020

Interpretação: o gráfico apresenta as médias decenais das principais porções de patrimônio


pessoal do 1% mais rico na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Entre 1910 e 2020, o 1%
do topo foi de 55% em média, na Europa, contra 43% nos EUA. Um século depois, os EUA
estão quase de volta ao nível do início do século XX. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

As desigualdades de gênero permanecem consideráveis em nível global, e o


progresso dentro dos países é muito lento

O Relatório Mundial sobre as Desigualdades 2022 nos fornece as primeiras


estimativas da desigualdade de gênero nos rendimentos globais. No geral, a
participação das mulheres na renda total do trabalho se aproximava de 30% em
1990 e é de menos de 35% hoje (Figura 12). A atual desigualdade de renda de gênero
continua muito alta: em um mundo com plena igualdade de gênero, as mulheres
ganhariam 50% de toda a renda do trabalho. Em 30 anos, o progresso foi muito
lento em nível global e a dinâmica foi diferente entre os países, com alguns
registrando progresso, mas outros observando reduções na participação das
mulheres nos rendimentos (Figura 13).

FIGURA 12 – Participação feminina na renda global do trabalho, 1990-2020

Interpretação: A participação da renda feminina na renda global do trabalho era de 31% em


1990 e de 35% em 2015. Hoje, os homens representam 64% da renda total do trabalho. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Neef e Robillard (2021)

FIGURA 13 – Participação feminina na renda no mundo, 1990, 2020


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Interpretação: A parcela do trabalho feminino aumentou de 34% para 38% na América do


Norte entre 1990 e 2020. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology e Neef e Robillard (2021)

Lidar com grandes desigualdades nas emissões de carbono é essencial para enfrentar
as mudanças climáticas

As desigualdades globais de renda e riqueza estão intimamente ligadas às


desigualdades ecológicas e às desigualdades nas contribuições para a mudança
climática. Em média, os humanos emitem 6,6 toneladas de dióxido de carbono
(CO2) per capita, por ano. O nosso novo conjunto de dados sobre as desigualdades
nas emissões de carbono revela importantes desigualdades nas emissões de CO2
em nível mundial: os 10% dos principais emissores são responsáveis por cerca de
50% de todas as emissões, enquanto os 50% menos emitem 12% do total (Figura 14)

FIGURA 14 – Desigualdade global de carbono, 2019 – Contribuição por grupo


para as emissões mundiais (%)

Interpretação: As pegadas de carbono pessoais incluem emissões de consumo doméstico,


investimentos públicos e privados, bem como importações e exportações de carbono
incorporado em bens e serviços comercializados com o resto do mundo. Estimativas
modeladas com base na combinação sistemática de dados fiscais, pesquisas domiciliares e
tabelas de insumo-produto. As emissões são divididas igualmente dentro das famílias. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Chancel (2021)

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A Figura 15 mostra que essas desigualdades não são apenas uma questão de país
rico versus país pobre. Existem grandes emissores em países de baixa e média renda
e baixos emissores em países ricos. Na Europa, os 50% mais pobres da população
emitem cerca de cinco toneladas por ano por pessoa; os 50% mais pobres no Leste
Asiático emitem cerca de três toneladas e os 50% mais pobres na América do Norte,
cerca de 10 toneladas. Isso contrasta fortemente com as emissões dos 10% mais
ricos nessas regiões (29 toneladas na Europa, 39 no Leste Asiático e 73 na América
do Norte).

FIGURA 15 – Emissões per capita em todo o mundo, 2019

Interpretação: As pegadas de carbono pessoais incluem emissões de consumo doméstico,


investimentos públicos e privados, bem como importações e exportações de carbono
incorporado em bens e serviços comercializados com o resto do mundo. Estimativas
modeladas com base na combinação sistemática de dados fiscais, pesquisas domiciliares e
tabelas de insumo-produto. As emissões são divididas igualmente dentro das famílias. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Chancel (2021)

Este relatório também revela que a metade mais pobre da população dos países
ricos já está dentro (ou perto) das metas climáticas para 2030 estabelecidas pelos
países ricos, quando essas metas são expressas em uma base per capita. Este não é
o caso da metade mais rica da população. Grandes desigualdades nas emissões
sugerem que as políticas climáticas devem visar mais os poluidores ricos. Até agora,
as políticas climáticas, como os impostos sobre o carbono, têm frequentemente
impactado, de forma desproporcional, os grupos de baixa e média renda, ao mesmo
tempo em que não alteram os hábitos de consumo dos grupos mais ricos.

Redistribuindo riqueza para investir no futuro

O Relatório Mundial Sobre as Desigualdades 2022 analisa várias opções de políticas


para redistribuir a riqueza e investir no futuro, a fim de enfrentar os desafios do
século XXI. A Tabela 1 apresenta os ganhos de receita que viriam de um modesto
imposto progressivo sobre a riqueza dos multimilionários globais. Dado o grande
volume de concentração de riqueza, impostos progressivos podem gerar receitas
significativas para os governos. Em nosso cenário, descobrimos que 1,6% da receita
global poderia ser gerada e reinvestida em educação, saúde e transição ecológica. O
relatório vem com um simulador online para que todos possam projetar seu
imposto de renda preferido em nível global ou em sua região.

TABELA 1 – Milionários e bilionários no mundo


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Interpretação: Em 2021, havia 62,2 milhões de pessoas no mundo possuindo mais de US$ 1
milhão (medido a partir de taxas de câmbio de mercado). Sua riqueza média era de US$ 2,8
milhões, representando um total de US$ 174 trilhões. Em nosso cenário tributário 2, um
imposto global progressivo sobre a riqueza geraria 2,1% da receita global, levando em
consideração a depreciação e evasão do capital. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology

Ressaltamos, desde o início, que enfrentar os desafios do século XXI não é possível
sem uma redução significativa das desigualdades de renda e riqueza. A ascensão
dos Estados de bem-estar modernos no século XX, que foi associada a um grande
progresso na saúde, educação e oportunidades para todos (ver Capítulo 10), estava
associada ao forte aumento de impostos progressivos. Isso desempenhou um papel
fundamental para garantir a aceitabilidade social e política do aumento da
tributação e da socialização da riqueza. Uma evolução semelhante será necessária
para enfrentar os desafios do século XXI. Algumas mudanças recentes na tributação
internacional mostram que o progresso em direção a políticas econômicas mais
justas é de fato possível, tanto em nível global como também dentro dos países. Os
capítulos 8, 9 e 10 do relatório discutem várias opções para combater a
desigualdade, aprendendo com exemplos em todo o mundo e ao longo da história
moderna. A desigualdade é sempre uma escolha política e aprender com as
políticas implementadas em outros países ou em outros momentos é fundamental
para projetar caminhos de desenvolvimento mais justos

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profundidade: OUTROSQUINHENTOS

TAGS
AMÉRICA LATINA, CAPA, CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA, DESIGUALDADES GLOBAIS, GÊNERO, PEGADA DE CARBONO,
POBREZA, RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE AS DESIGUALDADES 2022, RENDA, SUL GLOBAL, TAXAR OS SUPER-RICOS

RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE AS DESIGUALDADES-2022

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7 comentários para "O novo mapa da desigualdade global"


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8 de dezembro de 2021 às 19:44
Argemiro Garcia disse:
Gostaria de dar uma pequena contribuição a um deslize da tradução. Está escrito: “Um adulto médio ganha, em PPC (Paridade
do Poder de Compra), US$ 23.380 por ano em 2021, e esse mesmo adulto médio ganha US$ 102.600.” No entanto, se formos
buscar o texto original, a tradução deveria ser: “Um adulto médio ganha, em PPC (Paridade do Poder de Compra), US$ 23.380
por ano em 2021, e esse mesmo adulto médio POSSUI US$ 102.600.”

RESPONDER

8 de dezembro de 2021 às 21:01


Rôney Rodrigues disse:
Olá, Argemiro! Trabalho no Outras Palavras. Muito obrigado pela observação e obrigado por acompanhar nossos
textos =)

RESPONDER

9 de dezembro de 2021 às 18:04


Maria Valdely Costa disse:
Bem observado. Obrigada.

RESPONDER

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