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OUTRASPALAVRAS DESIGUALDADES
MAIS:
O texto a seguir é o Resumo Executivo – traduzido por Outras Palavras – do
Relatório Mundial sobre as Desigualdades para 2022. Produzido pela equipe de
Thomas Piketty, na Escola de Economia de Paris, o documento foi lançado nesta
terça-feira, 7/12. A íntegra do documento pode ser baixada aqui. Tradução: Vitor
Costa.
Este relatório apresenta nossa síntese mais atualizada dos esforços de pesquisa
internacional para rastrear as desigualdades globais. Os dados e análises aqui
apresentados baseiam-se no trabalho de mais de 100 pesquisadores localizados em
todos os continentes, ao longo de quatro anos, contribuindo para o World
Inequality Database (WID.world), mantido pelo World Inequality Lab. Esta vasta rede
colabora com instituições estatísticas, autoridades fiscais, universidades e
organizações internacionais para compilar, analisar e divulgar dados comparáveis
de desigualdade internacional.
Um adulto médio ganha, em PPC (Paridade do Poder de Compra), US$ 23.380 por
ano em 2021, e esse mesmo adulto médio possui US$ 102.600. Essas médias
mascaram grandes disparidades entre os países e mesmo dentro deles. Os 10%
mais ricos da população global atualmente respondem por 52% da renda global,
enquanto a metade mais pobre da população ganha 8% dela. Em média, um
indivíduo entre os 10% mais ricos da distribuição de renda global ganha US$
122.100 por ano, enquanto um indivíduo da metade mais pobre da distribuição de
renda global ganha US$ 3.920 por ano (Figura 1).
Interpretação: Os 50% mais pobres possuem 8% da renda total medida pela Paridade do
Poder de Compra (PPC). Os 10% mais ricos possuem 76% do total da riqueza doméstica e
capturam 52% da renda total em 2021. Observe que os maiores detentores de riqueza não
são necessariamente os maiores detentores de renda. Os rendimentos são medidos após a
operação dos sistemas de pensões e de desemprego e antes dos impostos e transferências.
Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology
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FIGURA 2 – A metade mais pobre fica para trás: 50% inferior, 40% intermediário
e 10% superior em todo o mundo em 2021
Interpretação: Na América Latina, os 10% mais ricos possuem 55% da renda nacional, em
comparação com 36% na Europa. O rendimento é medido após as contribuições para
pensões e seguro-desemprego, além de benefícios pagos e recebidos pelo indivíduo, mas
antes do imposto de renda e outras transferências. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology
FIGURA 3 – Dos 10% mais ricos aos 50% mais pobres: gargalos de renda no
mundo, 2021
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Interpretação: No Brasil, os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais
ricos. Este valor é 7 vezes menor na França. O rendimento é medido após as contribuições
para pensões e seguro-desemprego e benefícios pagos e recebidos pelo indivíduo, mas antes
do imposto de renda e outras transferências. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology
Interpretação: Os 10% mais ricos na América Latina ficam com 77% da riqueza total, contra
22% para os 40% intermediários e 1% para os 50% mais pobres. Na Europa, os 10% mais
ricos possuem 58% da riqueza total, contra 38% dos 40% intermediários e 4% dos 50% mais
pobres. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology
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Embora a desigualdade tenha aumentado na maioria dos países, nas últimas duas
décadas, as desigualdades globais entre os países diminuíram. A diferença entre a
renda média dos 10% mais ricos e a renda média dos 50% mais pobres caiu de cerca
de 50 x para um pouco menos de 40x (Figura 5). Ao mesmo tempo, as desigualdades
aumentaram significativamente dentro desses países. A diferença entre as rendas
médias dos 10% mais ricos e dos 50% mais pobres dos indivíduos dentro dos países
quase dobrou, de 8,5x para 15x. Esse aumento acentuado nas desigualdades dentro
dos países significou que, apesar da recuperação econômica e do forte crescimento
nos países emergentes, o mundo continua particularmente desigual hoje em dia.
Isso também significa que as desigualdades dentro dos países são agora ainda
maiores do que as desigualdades significativas observadas entre países (Figura 6).
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Interpretação: A parcela da renda global que vai para os 10% mais rico em nível mundial
flutuou em torno de 50-60% entre 1820 e 2020 (50% em 1820, 60% em 1910, 56% em 1980,
61% em 2000, 55% em 2020), enquanto a parcela que vai para os 50% mais pobre geralmente
tem sido em torno ou abaixo de 10% (14% em 1920, 7% em 1910, 5% em 1980, 6% em 2000,
7% em 2020). A desigualdade global sempre foi muito grande. Ele cresceu entre 1820 e 1910 e
mostra pouca tendência de redução a longo prazo entre 1910 e 2020. Fonte:
wir2022.wid.wolrd/methodology e Chancel e Piketty (2021)
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O aumento da riqueza privada também foi desigual dentro dos países e em nível
mundial. Os multimilionários globais auferiram uma parcela desproporcional do
crescimento da riqueza global nas últimas décadas: o 1% do topo ficou com 38% de
toda a riqueza adicional acumulada desde meados da década de 1990, enquanto os
50% da base ficou com apenas 2% dela. Essa desigualdade origina-se de uma séria
desigualdade nas taxas de crescimento entre os segmentos superior e inferior da
distribuição da riqueza. A riqueza dos indivíduos mais ricos do planeta cresceu de
6% a 9% ao ano desde 1995, enquanto a riqueza média cresceu 3,2% ao ano (Figura
9). Desde 1995, a parcela da riqueza global em mãos de bilionários aumentou de 1%
para mais de 3%. Este aumento foi exacerbado durante a pandemia do coronavírus.
Na verdade, 2020 marcou o aumento mais acentuado na participação dos
bilionários globais na riqueza já registrado (Figura 10).
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FIGURA 11 – Riqueza do 1% mais rico versus riqueza dos 50% mais pobres na
Europa Ocidental e os EUA, 1910-2020
Lidar com grandes desigualdades nas emissões de carbono é essencial para enfrentar
as mudanças climáticas
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A Figura 15 mostra que essas desigualdades não são apenas uma questão de país
rico versus país pobre. Existem grandes emissores em países de baixa e média renda
e baixos emissores em países ricos. Na Europa, os 50% mais pobres da população
emitem cerca de cinco toneladas por ano por pessoa; os 50% mais pobres no Leste
Asiático emitem cerca de três toneladas e os 50% mais pobres na América do Norte,
cerca de 10 toneladas. Isso contrasta fortemente com as emissões dos 10% mais
ricos nessas regiões (29 toneladas na Europa, 39 no Leste Asiático e 73 na América
do Norte).
Este relatório também revela que a metade mais pobre da população dos países
ricos já está dentro (ou perto) das metas climáticas para 2030 estabelecidas pelos
países ricos, quando essas metas são expressas em uma base per capita. Este não é
o caso da metade mais rica da população. Grandes desigualdades nas emissões
sugerem que as políticas climáticas devem visar mais os poluidores ricos. Até agora,
as políticas climáticas, como os impostos sobre o carbono, têm frequentemente
impactado, de forma desproporcional, os grupos de baixa e média renda, ao mesmo
tempo em que não alteram os hábitos de consumo dos grupos mais ricos.
Interpretação: Em 2021, havia 62,2 milhões de pessoas no mundo possuindo mais de US$ 1
milhão (medido a partir de taxas de câmbio de mercado). Sua riqueza média era de US$ 2,8
milhões, representando um total de US$ 174 trilhões. Em nosso cenário tributário 2, um
imposto global progressivo sobre a riqueza geraria 2,1% da receita global, levando em
consideração a depreciação e evasão do capital. Fonte: wir2022.wid.wolrd/methodology
Ressaltamos, desde o início, que enfrentar os desafios do século XXI não é possível
sem uma redução significativa das desigualdades de renda e riqueza. A ascensão
dos Estados de bem-estar modernos no século XX, que foi associada a um grande
progresso na saúde, educação e oportunidades para todos (ver Capítulo 10), estava
associada ao forte aumento de impostos progressivos. Isso desempenhou um papel
fundamental para garantir a aceitabilidade social e política do aumento da
tributação e da socialização da riqueza. Uma evolução semelhante será necessária
para enfrentar os desafios do século XXI. Algumas mudanças recentes na tributação
internacional mostram que o progresso em direção a políticas econômicas mais
justas é de fato possível, tanto em nível global como também dentro dos países. Os
capítulos 8, 9 e 10 do relatório discutem várias opções para combater a
desigualdade, aprendendo com exemplos em todo o mundo e ao longo da história
moderna. A desigualdade é sempre uma escolha política e aprender com as
políticas implementadas em outros países ou em outros momentos é fundamental
para projetar caminhos de desenvolvimento mais justos
TAGS
AMÉRICA LATINA, CAPA, CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA, DESIGUALDADES GLOBAIS, GÊNERO, PEGADA DE CARBONO,
POBREZA, RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE AS DESIGUALDADES 2022, RENDA, SUL GLOBAL, TAXAR OS SUPER-RICOS
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