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Motricidade © Fundação Técnica e Científica do Desporto

2013, vol. 9, n. 4, pp. 100-111 doi: 10.6063/motricidade.9(4).949

Métodos não invasivos de avaliação postural da escoliose: Uma


revisão sistemática
Noninvasive assessment of postural scoliosis: A systematic review
J.A. Sedrez, C.T. Candotti
ARTIGO DE REVISÃO | REVIEW ARTICLE

RESUMO
A escoliose é um desvio tridimensional da linha vertical da coluna vertebral, muitas vezes de difícil
visualização e quantificação. Por isso, diversos estudos desenvolveram metodologias para a sua
avaliação, mas ainda é incipiente uma discussão aprofundada, a fim de facilitar a escolha do método. O
objetivo dessa revisão sistemática é verificar a existência de evidências científicas sobre os métodos
alternativos para avaliação não invasiva da escoliose. Realizou-se uma busca sistemática nas bases de
dados Scopus, Science Direct e PubMed, com as palavras-chave: Non-invasive Monitoring [OR] Assessing
Postural Assessment [OR] Postural Evaluation [OR] Assessing Postural Evaluation Methods [AND] Scoliosis [OR]
Spinal Curvatures [OR] Spinal Deformity [OR] Spine Curvatures. Adoptou-se os seguintes critérios de
inclusão: abordar pacientes com escoliose e envolver avaliação postural não invasiva; e exclusão: não
descrever o método de avaliação postural, abordar tratamento e não estar redigidos na língua inglesa.
Foram encontrados inicialmente 200 artigos. Após leitura dos títulos e resumos, 8 artigos foram
selecionados e 12 artigos foram incluídos a partir das referências bibliográficas, totalizando 20 artigos.
Desses, 18 estudos foram incluídos por preencher os critérios de qualidade. Os estudos incluídos, em
geral, apresentaram resultados satisfatórios para a avaliação da escoliose, sendo observadas diferenças
entre os métodos no tempo de avaliação, custo do sistema, dificuldade técnica e resultados
apresentados. No entanto, esses sistemas não permitem a substituição da radiografia, podendo ser
utilizados para a redução da exposição à radiação.
Palavras-chave: escoliose, avaliação, postura, métodos

ABSTRACT
Scoliosis is a three-dimensional deviation of the vertical line of the spine, often difficult to visualize
and quantify. Hence, several studies have developed methodologies for its evaluation. Even so, an
incipient discussion exists about which one is the most suitable method. The objective of this
systematic review is to verify the existence of scientific evidence on alternative methods for
noninvasive assessment of scoliosis. It was conducted a systematic search in the databases Scopus,
Science Direct and PubMed, with the key-words: Non-invasive Monitoring [OR] Assessing Postural
Assessment [OR] Postural Evaluation [OR] Assessing Postural Evaluation Methods [AND] Scoliosis
[OR] Spinal Curvatures [OR] Spinal Deformity [OR] Spine Curvatures. Adopting the following
inclusion criteria: addressing patients with scoliosis and involve assessment postural noninvasive, and
exclusion: not describe the evaluation method used or approach treatment and not be written in
English. At the beginning, 200 articles were found. After checking the titles and abstracts, eight
articles were selected and 12 articles were included in the bibliographical references (i.e. an overall
number of 20 articles). Of these, 18 studies were included in the quality criteria. Overall, the studies
showed satisfactory results for the evaluation of scoliosis, being observed differences between the
methods in time needed to perform the evaluation, system cost, complexity of the procedures to be
carried out and data collected. These systems do not replace X-ray as gold-standard, even though it can
be used to reduce the radiation exposure.
Keywords: scoliosis, evaluation, posture, methods

Submetido: 24.07.2012 | Aceite: 06.04.2013

Juliana Adami Sedrez, Cláudia Tarragô Candotti. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.
Endereço para correspondência: Cláudia Tarragô Candotti, Escola Superior de Educação Física, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Rua Felizardo, 750, Jardim Botânico, CEP: 90690-200 - Porto Alegre, RS,
Brasil
E-mail: claudia.candotti@ufrgs.br
Métodos de avaliação postural da escoliose | 101

A escoliose é o desvio comummente encon- físicas, quanto com os fisioterapeutas, no


trado no plano frontal, sendo definida como acompanhamento dos tratamentos, uma vez
um desvio da linha vertical normal da coluna que favorece o conhecimento da evolução clí-
vertebral, que consiste numa curvatura lateral nica de cada caso. Segundo Goldberg, Kaliszer,
com rotação vertebral (Janicki & Alman, Moore, Fogarty e Dowling (2001) os métodos
2007). Para o diagnóstico e acompanhamento não invasivos de quantificação e análise da
desse desvio tradicionalmente se utiliza a deformidade poderiam melhorar a compreen-
radiografia (Jefferson, Weisz, Turner-Smith, são e avaliação do tratamento, fornecendo
Harris, & Houghton, 1988), sendo considerada informações sobre aspetos importantes na ava-
o método padrão-ouro para a avaliação de des- liação da escoliose, como a deformidade visível
vios posturais (Mac-Thiong, Pinel-Giroux, de do tronco.
Guise, & Labelle, 2007). Entretanto, a maior Por isso, ao longo do tempo, diversos estu-
preocupação clínica na utilização desta técnica dos têm dado enfoque ao desenvolvimento de
é que em crianças com escoliose, o acompa- metodologias para a realização da avaliação
nhamento da evolução da doença é frequente, postural de forma não invasiva e, por essa
podendo ser necessária a realização de exame razão, atualmente encontra-se na literatura
radiográfico a cada três ou seis meses, acarre- diferentes metodologias e tecnologias que pos-
tando elevadas doses indesejáveis de radiação sibilitam a avaliação da superfície das costas do
ionizante (Turner-Smith, Harris, Houghton, & indivíduo, com o objetivo de oferecer informa-
Jefferson, 1988). Especialmente se tratando de ções indiretas sobre o posicionamento da
curvas precoces, o período de acompanha- coluna vertebral. Não obstante, apesar da vasta
mento para esses pacientes geralmente é longo oferta de instrumentos e metodologias para a
e, portanto, torna-se necessário reduzir a expo- avaliação da escoliose, ainda é incipiente uma
sição aos raios X, sem prejudicar a avaliação da discussão aprofundada evidenciando suas van-
progressão da doença e seu tratamento (Weisz, tagens, limitações, público-alvo e característi-
Jefferson, Turner-Smith, Houghton, & Harris, cas dos métodos, com o propósito de facilitar a
1988). escolha do método adequado para as diferentes
Nesse contexto, técnicas não invasivas para situações clínicas ou na pesquisa científica.
a avaliação das curvaturas da coluna vertebral Sendo assim, o objetivo desta revisão sistemá-
são altamente desejáveis (Turner-Smith et al., tica é verificar a existência de evidências cien-
1988), uma vez que não oferecem exposição à tíficas sobre os métodos alternativos para ava-
radiação ionizante, possibilitam a redução dos liação não invasiva da escoliose.
efeitos deletérios da utilização frequente das
radiografias e, adicionalmente, apresentam MÉTODO
outros méritos comparados à radiografia, como Para responder ao objetivo desse estudo, foi
o menor custo e a menor dificuldade técnica realizada uma busca sistemática de artigos
(Chen & Lee, 1997). científicos nas bases de dados Scopus, Science
Por esses motivos, essas técnicas podem ser Direct e PubMed. As palavras-chave utilizadas
muito úteis como testes de triagem para esco- na busca pelos estudos foram: Non-invasive
liose, a fim de possibilitar um encaminha- Monitoring [OR] Assessing Postural Assessment
mento médico e diagnóstico precoce, evitando [OR] Postural Evaluation [OR] Assessing Postural
maiores complicações e agravamentos clínicos. Evaluation Methods [AND] Scoliosis [OR] Spinal
Além disso, de posse das informações forneci- Curvatures [OR] Spinal Deformity [OR] Spine
das pelas avaliações posturais não invasivas é Curvatures. A busca foi realizada no mês de
possível realizar aconselhamento de atividades março de 2012, sendo incluídos para análise
físicas adequadas, contribuindo tanto com os inicial todos os artigos encontrados na busca.
treinadores físicos na prescrição das atividades Para integrar a presente revisão sistemática, os
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artigos encontrados deveriam preencher os são usados na prática rotineira?”, pois a inter-
seguintes critérios de inclusão: a) abordar pretação dos resultados dos instrumentos de
pacientes com escoliose e b) envolver avaliação avaliação postural geralmente não dependem
postural não invasiva. Foram excluídos os de outros dados clínicos e, por esse motivo,
artigos que: a) não descreviam o método de esse critério não é aplicável nesses casos (Whi-
avaliação utilizado para a avaliação postural, b) ting et al., 2003). Além disso, a questão “os
tinham como foco algum tipo de tratamento ou resultados do teste em avaliação foram inter-
(c) não estavam redigidos na íntegra na língua pretados sem o conhecimento dos resultados
inglesa. do teste padrão-ouro?” foi adaptada para os
Inicialmente os estudos foram selecionados artigos que apresentavam avaliação da repro-
a partir da leitura dos títulos, sendo excluídos dutibilidade, a fim de avaliar o cegamento
aqueles que não apresentavam relação com as entre os avaliadores.
palavras-chave definidas para a busca. Poste- A escala QUADAS não determina qual o
riormente foi realizada uma leitura dos resu- escore mínimo para determinar a qualidade
mos dos estudos pré-selecionados pelos títu- dos estudos, sendo da responsabilidade do
los. Os artigos que cumpriram com os critérios pesquisador essa decisão (Oliveira, Gomes, &
de inclusão foram lidos e analisados na íntegra, Toscano, 2011). Dessa forma, o cumprimento
sendo finalmente incluídos nesta revisão sis- mínimo de três critérios da escala QUADAS foi
temática. Além disso, foram analisadas as refe- adotado como critério de exclusão dessa revi-
rências bibliográficas de cada artigo incluído são sistemática. Com o objetivo de classificar a
nessa revisão com o objetivo de localizar arti- evidência científica dos estudos foram adota-
gos ainda não encontrados na busca eletrónica. dos os seguintes critérios: a) artigos com três a
Para realizar a avaliação da qualidade dos cinco critérios da escala QUADAS foram clas-
estudos foi utilizada a escala QUADAS (Qua- sificados como “fraca evidência”; b) artigos
lity Assessment of Diagnostic Accuracy Stu- com 6 a 8 critérios da escala QUADAS foram
dies), desenvolvida em 2003, que consiste num classificados como “moderada evidência”; e c)
questionário com 14 critérios, formulados artigos com 9 a 11 critérios da escala QUADAS
como perguntas, sendo que cada pergunta deve foram classificados como “forte evidência”.
ser respondida como “sim”, “não” ou “pouco
clara” (Whiting, Rutjes, Reitsma, Bossuyt, & RESULTADOS
Kleijnen, 2003). Essa escala pode ser utilizada Foram encontrados inicialmente 200 artigos
na íntegra ou não, cabendo ao pesquisador a a partir das palavras-chave utilizadas; desses,
seleção dos itens considerados relevantes ou não foram incluídos 169 estudos, 113 por não
indispensáveis para o teste em análise (Whi- abordarem indivíduos com escoliose e 56 por
ting et al., 2004). não realizarem avaliação postural não invasiva.
Dessa forma, dos 14 critérios avaliados pela Dos 31 artigos restantes, os resumos foram
escala QUADAS, no presente estudo foram analisados e 23 foram excluídos, 14 por não
utilizados apenas 11 critérios. Não foram con- descreverem no resumo o procedimento de
siderados os critérios: a) “o padrão-ouro é avaliação postural utilizado ou por ter como
independente do teste em avaliação?”, por foco algum tipo de tratamento e 9 por não
saber-se que as avaliações posturais não inva- serem redigidos na língua inglesa. Assim, 8
sivas são tecnologias distintas ao padrão-ouro, artigos cumpriram com todos os critérios esta-
não havendo propósito na categorização desse belecidos. Além disso, foram incluídos mais 12
item; b) “os resultados não interpretáveis artigos obtidos por meio da análise das refe-
foram relatados?”, porque este item não é apli- rências bibliográficas, totalizando 20 artigos
cável para instrumentos de avaliação postural; pré-selecionados para comporem essa revisão
e c) “os dados clínicos foram os mesmos que sistemática (Figura 1).
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Busca sistemática
(Scopus + Science Direct + PubMed)
Artigos identificados por meio
das palavras-chave
(n=200)

Artigos não incluídos Leitura dos títulos Artigos não incluídos


por não abordar por não envolver
pacientes com avaliação postural não
escoliose invasiva
(n=113) (n=56)
Artigos potencialmente
selecionados
(n=31)
Leitura dos resumos
Artigos excluídos por
Artigos excluídos por
não descreverem o
não estarem redigi-
procedimento de
dos na língua inglesa
avaliação postural
(n=9)
(n=14)
Artigos
Artigos selecionados para este
encontrados nas
estudo de revisão
referências
(n=8)
(n=12)
Estudos que
preencheram os
critérios de inclusão
desta revisão (n=20)

Artigos excluídos por não


obterem escore mínimo de 3
pontos na escala QUADAS
(n=2)

Estudos incluídos nesta


revisão sistemática
(n=18)

Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos

O fluxograma da estratégia adotada para a apresentaram fraca evidência científica, 10


inclusão dos artigos e os motivos de exclusão estudos apresentaram moderada evidência e 2
para os artigos não inseridos são apresentados estudos apresentaram forte evidência.
na Figura 1. Na Tabela 2 são apresentados e descritos os
Os 20 estudos pré-selecionados foram ava- 18 estudos selecionados e incluídos nesta revi-
liados quanto à sua qualidade metodológica, são, os quais apresentaram algum tipo de ins-
considerando os critérios da escala QUADAS trumento desenvolvido para a avaliação postu-
(Tabela 1). Dos 20 artigos avaliados, dois ral não invasiva da escoliose. São apresentados
foram excluídos por não preencherem o crité- aspetos relacionados aos objetivos, instru-
rio mínimo de 3 pontos, o que resultou em 18 mento utilizado, metodologia do estudo e os
artigos incluídos nesta revisão sistemática. resultados.
Observando a Tabela 1 nota-se que 6 estudos
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Tabela 1
Resultados da avaliação da qualidade dos estudos por meio da Escala QUADAS
Critérios Escala QUADAS Total Classificação da
Estudos
1 2 3 4 5 6 8 9 10 11 14 (n° de ) evidência
Furlanetto et al. (2012) ×        ? ? — 7 Moderada
Saad et al. (2012)   — —  —  —  —  6 Moderada
Fortin et al. (2010)    ×    ×   — 8 Moderada
Berryman et al. (2008) × ×  ? ×   × ? ? × 3 Fraca
Zubovic et al. (2008)  ×  ? ×  × × ? ? — 3 Fraca
Ajemba et al. (2008) × × — — — —  — — — — 1 —
Döhnert et al. (2008) ×   ?     ? ? — 6 Moderada
Ajemba et al. (2007) × × × ?    × ? ? — 3 Fraca
D’Osualdo et al. (2002) ×  — — — —  —  — — 3 Fraca
Berg et al. (2002) ?  × ?    ×   — 6 Moderada
Goldberg et al. (2001)    ?     ? ?  8 Moderada
Lou et al. (1999) × × — — — —  — — — — 1 —
Theologis et al. (1997)    ?   × × ? ?  6 Moderada
Korovessis et al. (1996)    ?     ?   9 Forte
Silvano et al. (1996) ×   ?        9 Forte
Drerup et al. (1994)         ? ? — 8 Moderada
Amendt et al. (1990) × ×  ?     ?  — 6 Moderada
Turner-Smith et al. (1988)  ×  ?    × ? ? — 5 Fraca
Bunnell et al. (1984)  ×  ?    × ? ? — 5 Fraca
Cooke et al. (1980)  ×  ?    ×  ? — 6 Moderada
Nota - Critérios da escala QUADAS: 1) O espectro de pacientes foi representativo dos pacientes que receberão o teste na
rotina? 2) Os critérios de seleção foram claramente descritos? 3) É adequado o padrão de referência para classificar
corretamente a condição de alvo? 4) O período entre a aplicação do padrão-ouro e o teste em avaliação foi curto o suficiente
para que se tenha segurança de que não houve mudanças no estado de saúde do indivíduo testado? 5) A amostra total ou
uma subamostra randomizada realizou o diagnóstico pelo padrão-ouro? 6) Os pacientes receberam o mesmo teste como
padrão-ouro, independente do resultado obtido pelo teste em avaliação? 8) A execução do teste em avaliação foi descrita
com suficientes detalhes, permitindo a sua replicação? 9) A execução do teste padrão-ouro foi descrita com suficientes
detalhes, permitindo a sua replicação? 10) Os resultados do teste em avaliação foram interpretados sem o conhecimento
dos resultados do teste padrão-ouro? 11) Os resultados do teste padrão-ouro foram interpretados sem o conhecimento dos
resultados do teste em avaliação? 14) As perdas do estudo foram explicadas? Respostas aos critérios:  = Sim; × = Não;
?= Pouco clara; — = Não se aplica.

DISCUSSÃO sua avaliação, provavelmente associada à sua


A partir da análise dos 18 estudos encon- configuração tridimensional, que termina
trados, apresentados na Tabela 2, encontrou- impondo limitações aos métodos que se pro-
se a descrição de 11 métodos distintos para a põe avaliar a partir da superfície das costas
avaliação da escoliose, sendo que 7 deles apre- (D’Osualdo, Schierano, Soldano, & Isola,
sentam avaliações tridimensionais e os demais, 2002).
avaliações bidimensionais. Essa aparente preo- No que se refere aos sistemas bidimensio-
cupação no desenvolvimento de métodos tri- nais de avaliação postural foi possível observar
dimensionais para a avaliação da escoliose que não existe uma grande variedade de ins-
pode ser explicada pela dificuldade inerente à trumentos que possibilitam a avaliação bidi-
Métodos de avaliação postural da escoliose | 105

Tabela 2
Síntese dos 18 estudos incluídos nessa revisão sistemática
Sistema
Estudo Objetivo Metodologia Resultados
utilizado

Investigar a validade Correlações significativas encontradas


n= 24. Comparados os
Furlanetto no plano frontal e a Fotogrametria entre o DIPA e os ângulos de Cobb nas
resultados obtidos com
et al. reprodutibilidade computado- regiões dorsal e lombar. Correlações
o protocolo DIPA e raio
(2012) intra e inter-avaliador rizada significativas para reprodutibilidade intra
X.
do software DIPA e inter-avaliador.
n= 20. Utilizado o
Software Corel DRAW Alto índice de reprodutibilidade inter e
Investigar a
Fotogrametria para análise postural. intra-observador. Fotogrametria mostrou
Saad et al. reprodutibilidade da
computado- Avaliação em um dia ser um método confiável para a avaliação
(2012) avaliação da
rizada por 2 avaliadores, e de alterações posturais em indivíduos com
fotogrametria
após 15 dias, por um escoliose estrutural.
avaliador.
Verificar a validade n= 70. Foram Correlação entre os índices 2D e 3D foi
concorrente da realizadas fotografias boa ou ótima para a maioria dos índices
Fotogrametria
Fortin et fotogrametria com um digitais com 2 câmeras. avaliados. Houve boa correlação negativa
computado-
al. (2010) sistema de topografia A imagem 3D foi entre 2D e índices do raio X para escoliose
rizada
de superfície (3D) e realizada com 4 torácica e cifose torácica e boa correlação
com radiografias digitadores ópticos. para inclinação de tronco.
Desenvolver um n= 168. Pacientes
Sistema de O sistema ISIS2 realiza medida
sistema automatizado avaliados, 28 deles em
Berryman Topografia tridimensional da superfície do dorso em
para medir a forma 2 ocasiões e 2 em 3
et al. Integrated Shape pacientes com escoliose com uma precisão
3D do dorso em ocasiões. Comparação
(2008) Imaging System de ± 1 mm. Apresentou boa comparação
pacientes com entre ISIS2 e raio X
(ISIS2) com o ângulo de Cobb.
escoliose (n=2).
520 exames foram
Não foi encontrada nenhuma diferença
realizados em 242
Zubovic Verificar a validade do estatisticamente significativa entre os
Sistema de pacientes. Comparados
et al. ISIS2 em pacientes resultados das radiografias e do sistema
Topografia ISIS2 os dados do raio X com
(2008) com escoliose ISIS2. O ISIS2 apresenta uma excelente
os do ISIS2 em 111
repetibilidade.
pacientes.
Investigar a Sensibilidade variou de 21.4% a 50%,
Döhnert sensibilidade da Fotogrametria n= 224 escolares. enquanto que a especificidade total foi de
et al. fotogrametria na computado- Comparação entre 88.8%. Obteve-se um valor preditivo
(2008) detecção precoce da rizada fotogrametria e raio X. positivo relativamente baixo e um valor
escoliose preditivo negativo extremamente alto.
Teste com 361 modelos
de computadores com
A precisão da classificação do novo
parâmetros conhecidos
instrumento foi de 100% nos modelos de
Apresentar uma e avaliação de 8 sujeitos
computadores. A precisão do sistema em
Ajemba et técnica para classificar Mapas sem escoliose e de 22
humanos foi de 95.5%. Os mapas
al. (2007) a escoliose por meio ortogonais com escoliose. Foram
ortogonais mostraram-se viáveis para uso
mapas ortogonais comparados os resulta-
em clínicas de escoliose para monitorar a
dos dos mapas ortogo-
progressão da escoliose.
nais com a classificação
médica da deformidade.
Para as avaliações, 4
Sistema BACES Erros de medição para escoliose geral-
Verificar a observadores
D’Osual- (Braço articula- mente abaixo de 3°. As rotações mostra-
reprodutibilidade realizaram 3 séries de 8
do et al. do para medição ram uma variabilidade abaixo de 2º. O
intra e inter- medições em 1
(2002) computadoriza- sistema BACES identificou com boa
observador manequim e em 2
da da superfície) precisão a escoliose e rotações de tronco.
voluntários.
n= 51 pacientes. Ava-
Determinar se os
liou-se as mudanças do
mapas de diferença Sistema de
tronco por mapas topo- Os mapas topográficos demonstraram
Berg et al. podem detectar e escaneamento
gráficos e por dados clí- uma boa concordância (78% específico)
(2002) descrever as topográfico a
nicos. Em 2 pacientes com os parâmetros clínicos.
alterações do tronco laser
foram obtidas 10
escoliótico
imagens no mesmo dia.
106 | J.A. Sedrez, C.T. Candotti

Tabela 2 (cont.)
Sistema
Estudo Objetivo Metodologia Resultados
utilizado

Analisar em que n= 103 pacientes avali- A correlação entre o ângulo Cobb e


medida as alterações ados 8 vezes. Correla- Quantec foi de .812. O coeficiente de
Goldberg nos parâmetros de Sistema de cionou-se ângulo Cobb e determinação Quantec foi de .66. Para a
et al. superfície topográfica Topografia o ângulo Quantec em avaliação das mudanças da curva escolió-
(2001) permitem detectar Quantec 155 pacientes. 59 crian- tica obteve-se r = .549 e r2 de .301. O
mudanças no ângulo ças observadas quanto a Quantec demonstrou ser útil para o moni-
de Cobb mudanças escolióticas. toramento de pacientes com escoliose.
Testar a confiabilidade n= 77. Exame inicial: Houve diferença significativa na
do ISIS na detecção da ISIS e raio X. Para progressão da assimetria lateral entre o
progressão da acompanhamento: ISIS grupo de maior gravidade e os demais. A
Theologis
escoliose. Testar o Sistema de a cada 3-6 meses e raio progressão da severidade da gibosidade foi
et al.
valor preditivo dos Topografia ISIS X a cada 6 meses. 3 diferente entre os três grupos no exame de
(1997)
dados de superfície grupos foram criados 6 meses de seguimento. Três dos
para a evolução da de acordo com a gra- parâmetros ISIS foram capazes de detectar
curva vidade da deformidade. progressão da deformidade em 6 meses.
n= 442. Utilizou-se A reprodutibilidade inter-observador
escoliómetro, ângulo apresentou concordância entre boa a
Desenvolver uma Cobb e ângulo de rota- muito boa, e a reprodutibilidade intra-
fórmula matemática ção de Perdriolle. 349 observador foi muito boa. A sensibilidade
Koroves-
que possibilite sujeitos examinados e o valor diagnóstico do escoliómetro
sis et al. Escoliómetro
predizer o ângulo de por 3 cirurgiões ortopé- foram 1.0 e .95, respectivamente (conside-
(1996)
Cobb com a utilização dicos e 65 examinados rando miniar de 7º no escoliómetro). Os
do escoliómetro com um intervalo de 2 resultados do escoliómetro apresentaram
semanas pelo mesmo correlação significativa com o ângulo Cobb
observador. e com rotação vertebral lombar.
n= 31. Avaliados com A reprodutibilidade intra-observador do
Determinar a
radiografias ântero- eletrogoniómetro apresentou valores de
reprodutibilidade
posteriores (AP) e 4 ICC .71 e de .83. A reprodutibilidade
Silvano et intra e inter- Eletrogonió-
exames com eletrogo- inter-observador foi de .58. A correlação
al. (1996) observador e a metro
niómetro por 2 avalia- entre os ângulos Cobb e eletrogoniómetro
validade do
dores (um experiente e foi de .60. O instrumento não possui
eletrogoniómetro
outro treinado). exatidão clínica para substituir o raio X.
Validação por O desvio RMS entre as curvas radiográ-
Validar o método Vídeo comparação entre 478 ficas e da estereografia Raster foram cerca
Drerup et
vídeo estereografia estereografia dados radiográficos e de 4 mm e o desvio de rotação vertebral
al. (1994)
Raster Raster de estereografia de 113 foi de cerca de 3º. Essa precisão deve ser
pacientes suficiente para o uso clínico deste método.
Os valores de correlação foram altos e sig-
Verificar a validade e n= 65. Realizadas
nificativos para a reprodutibilidade intra
Amendt reprodutibilidade do radiografias AP e 3
(r=.86−.97) e inter-observador (r=.86−
et al. escoliómetro em Escoliómetro medidas com o
.96). As correlações com os dados radio-
(1990) pacientes com escoliómetro por cada
gráficos variaram de .32−.46 para a rota-ção
escoliose idiopática um dos 2 avaliadores.
do pedículo e .46−.54 no ângulo de Cobb.
Realizada uma análise Correlações de assimetria lateral entre
de três grupos de indi- ISIS e ângulo de Cobb variaram de .77 a
Turner- Descrever uma análise
Sistema de víduos com escoliose .94. A análise com o sistema ISIS
Smith et computadorizada da
topografia ISIS (n=119) testando a demonstrou quantitativamente e com
al. (1988) superfície das costas
correlação entre o siste- total segurança a assimetria lateral e
ma ISIS e ângulo Cobb. deformidade no plano transversal.
Testar o escoliómetro
52% teste falso-positivos e 23% testes
na medição da defor- n= 1065. Avaliações
Bunnell et verdadeiros positivos. Coeficiente de
midade e determinar o Escoliómetro com escoliómetro e
al. (1984) correlação entre o ângulo de Cobb e o
valor mínimo para com radiografia.
ângulo de rotação do tronco foi de .88.
indicar escoliose
A precisão preditiva da termografia para a
Verificar a capacidade
presença de escoliose foi de 95.8% e de
Cooke et da termografia de n=154. Avaliações com
Termografia 75% para a direção da curva. A termo-
al. (1980) avaliar a escoliose em raio X e termografia.
grafia caracteriza-se como um relevante
adolescentes
método de triagem de escoliose.
Métodos de avaliação postural da escoliose | 107

mensional da escoliose, sendo descritos apenas tem a sua utilização em substituição ao exame
o escoliómetro, eletrogoniómetro, fotograme- radiográfico da escoliose.
tria e termografia. No que se refere à fotogrametria, a litera-
Segundo Turner-Smith, Harris, Houghton e tura tem descrito que a partir de fotografias
Jefferson (1988), o escoliómetro é uma ferra- são realizados cálculos de ângulos e distâncias
menta simples, que pode ser facilmente ensi- dos segmentos corporais (Fortin et al., 2010).
nado e padronizado; seu dispositivo é de fácil No estudo de Furlanetto, Candotti, Comerlato,
utilização e de baixo custo. Além disso, o for- e Loss (2012), ao investigarem a validade e a
necimento imediato do resultado angular é reprodutibilidade de um software de avaliação
outra vantagem descrita desse método (Bun- postural, que utilizou a fotogrametria, foi
nell & Delaware, 1984). Por outro lado, como observado que essa técnica se mostrou válida e
desvantagem, pode-se citar a exigência de que reprodutível (inter e intra-observador), além
o paciente permaneça em uma postura contro- de ser uma técnica simples e de baixo custo.
lada por um extenso período de tempo e a Não obstante, embora vários estudos apontem
dependência crítica dos resultados da habili- para a validade da fotogrametria, parece que
dade do operador (Turner-Smith et al., 1988). ainda não há um consenso sobre os resultados
Por fim, outra desvantagem dessa ferramenta desta técnica. Como exemplo disso cita-se o
relaciona-se a medição da magnitude da gibo- estudo de Döhnert e Tomasi (2008), no qual a
sidade, que é apenas um índice de postura. fotogrametria computadorizada não se mos-
(Fortin, Feldman, Cheriet, & Labelle, 2010). trou sensível e específica o suficiente para ser
Em relação à reprodutibilidade do instru- recomendada isoladamente como triagem
mento escoliómetro, Korovessis e Stamatakis escolar da escoliose. Dessa maneira, é impor-
(1996) apresentaram uma concordância tante salientar que existem diferentes meto-
variando de boa a muito boa para reprodutibi- dologias que utilizam a técnica da fotograme-
lidade intra-observador (k de .64 a .97) e uma tria, e por esse motivo, ao optar-se por deter-
concordância muito boa para a reprodutibili- minado protocolo de avaliação postural é fun-
dade inter-observador (k de .88 a .93). No damental atentar-se aos requisitos de valida-
estudo de Amendt et al. (1990) foram encon- ção, como a validade concorrente e a reprodu-
trados coeficientes de correlação altos e signifi- tibilidade intra e inter-observador.
cativos para a reprodutibilidade intra (r= Dessa forma, o escoliómetro parece ser
.86−.97) e inter-observador (r= .86 −.96). mais adequado para a triagem da escoliose, por
Entretanto, nesse mesmo estudo, as correla- ser um instrumento de baixo custo, que pode
ções com os dados radiográficos variaram de ser facilmente ensinado e por fornecer resulta-
.32−.46 para a rotação do pedículo e .46−.54 dos imediatos. Podendo ser considerado útil
com o ângulo de Cobb, demonstrando que o para avaliações físicas, seja no ambiente escolar
escoliómetro apresenta boa reprodutibilidade ou para treinadores. Por outro lado, o eletro-
da medição, mas a validade do método não foi goniómetro não parece ser um instrumento
suficiente para a sua utilização isolada no diag- adequado para a avaliação da escoliose. Já a
nóstico da escoliose. fotogrametria fornece resultados mais abran-
Em relação ao eletrogoniómetro, os resulta- gentes sobre a postura corporal, não estando
dos do estudo de Silvano, Kopansky-Giles, limitada apenas à avaliação da magnitude da
Crowther e Wright (1996) demonstram pouca gibosidade e, por esse motivo, pode ser útil em
precisão para a identificação de curvas de ambiente clínico, auxiliando fisioterapeutas em
menor magnitude, além de apresentar apenas avaliações e acompanhamentos de pacientes,
razoável reprodutibilidade intra-observador. fornecendo maior riqueza de informações.
Além disso, as grandes diferenças encontradas A termografia, método pouco difundido
em comparação ao ângulo de Cobb não permi- para a avaliação postural, se propõe a avaliar a
108 | J.A. Sedrez, C.T. Candotti

escoliose a partir da assimetria térmica, utili- sita de um operador experiente (Berryman,


zando a radiação infravermelha para avaliar as Pynsent, Fairbank, & Disney, 2008). Ao anali-
diferenças na temperatura corporal (Cooke, sar as questões referente à validade do sistema
Carter, Phil, & Pilcher, 1980). Nesse mesmo ISIS2, Zubovic et al. (2008) não encontraram
estudo de Cooke et al. (1980) a precisão nenhuma diferença estatisticamente significa-
preditiva da termografia para a presença de tiva entre os ângulos do ISIS2 e os ângulos
uma curva escoliótica foi de 95.8% e de 75% Cobb. Do mesmo modo, Berryman et al.
para a direção da curva, podendo dessa forma (2008) também encontraram boa comparação
ser utilizada como um método de triagem para entre os resultados do sistema ISIS2 e os
a escoliose. É importante salientar que não ângulos Cobb. Entretanto, estes resultados não
foram encontrados estudos que descrevessem a apresentam validade, pois a concordância não
validade e a reprodutibilidade dos resultados foi apresentada e os resultados foram referen-
obtidos com o sistema de termografia. Dessa tes a apenas dois sujeitos, o que não permite a
forma, ainda são necessários estudos que veri- extrapolação desses resultados. Além disso,
fiquem esses parâmetros, a fim de possibilitar nesse mesmo estudo foi sugerido que a relação
a utilização dessa técnica para avaliações da entre os resultados do ISIS2 e ângulo Cobb
coluna vertebral, seja em ambiente clínico radiográfico poderá ser limitada aos pacientes
como laboratorial. que são extremamente obesos ou têm massa
No que tange a avaliação tridimensional do musculatura desenvolvida, devido à dificuldade
tronco, os sistemas conhecidos diferem entre si de identificar e marcar os pontos ósseos para a
no método de aquisição de dados de imagem, realização do exame (Berryman et al., 2008).
no grau de automação e na sofisticação da aná- Cabe ressaltar que esta interferência não foi
lise de dados (Drerup & Hierholzer, 1994). Os mensurada até o presente momento, restando
sistemas tridimensionais encontrados nessa inúmeras questões a serem investigadas em
revisão sistemática podem ser classificados em: futuras pesquisas.
a) topografia de superfície e b) sistema BACES. No estudo que avaliou a correspondência de
Em geral, os sistemas de topografia utilizam exames radiográficos e o exame topográfico de
uma projeção de luz na superfície das costas do Quantec foi encontrado um elevado coeficiente
paciente e a partir de uma fotografia digital de correlação, além de demonstrar que 66% da
estimam uma linha dos corpos vertebrais e curva topográfica pode ser explicada pela curva
realizam cálculos em três dimensões. Dentre da coluna vertebral isoladamente, podendo o
esses sistemas, pode-se citar o sistema ISIS, restante ser devido a outras variáveis como o
ISIS2, Quantec, Vídeo Stereografia Raster, erro de medição de ambos os ângulos de Cobb
Mapas ortogonais e sistema de escaneamento a e topográficos, assim como à não correspon-
laser, os quais apresentam algumas caracterís- dência entre a curvatura da coluna e a forma da
ticas distintas entre si, como por exemplo, a superfície das costas (Goldberg et al., 2001).
necessidade de marcação de pontos anatómicos No estudo de Drerup e Hierholzer (1994),
e a velocidade de processamento, entre outros. utilizando o sistema Raster, foi observado uma
O sistema ISIS foi substituído pelo sistema diferença de aproximadamente 4 mm entre as
ISIS2, pois necessitava de marcação manual de curvas radiográficas e da estereografia Raster, e
pontos, apresentava baixa resolução espacial e uma diferença de 3º na avaliação da rotação
longo tempo de escaneamento (Drerup & Hie- vertebral. Segundo os autores, essa precisão
rholzer, 1994; Turner-Smith et al., 1988). O deve ser suficiente para a utilização clínica
ISIS2 ainda necessita marcação manual dos desse método, entretanto, a determinação de
pontos anatómicos, mas permite avaliação parâmetros comparáveis com o ângulo de Cobb
rápida e fácil. No entanto, como os demais ainda não foi possível, limitando a sua utiliza-
sistemas tridimensionais, esse método neces- ção clínica, já que o parâmetro Cobb é nor-
Métodos de avaliação postural da escoliose | 109

malmente o escolhido como referência para o 3°, e uma variabilidade inferior a 2º para as
acompanhamento das curvaturas. rotações (D’Osualdo et al., 2002). Não obs-
O sistema de mapas ortogonais ao avaliar tante, esse estudo realizou avaliações apenas
indivíduos com escoliose apresentou precisão em um manequim e em dois voluntários, o que
na classificação de alterações posturais de não permite assegurar a reprodutibilidade do
95.5% (Ajemba, Durdle, Hill, & Raso, 2007). sistema BACES para a população em geral e,
Entretanto, os resultados do sistema de mapas além disso, questões referentes à validade con-
ortogonais foram comparados ao exame corrente ainda necessitam ser investigadas.
médico clínico e não com o exame radiográfico, Segundo Turner-Smith et al. (1988) e Dre-
fragilizando esses resultados. Além disso, não rup e Hierholzer (1994), diferentes métodos de
foram apresentados resultados referentes à avaliação da postura corporal por meio da
reprodutibilidade do sistema. superfície das costas têm sido descritos, com o
No que se refere ao sistema de escanea- objetivo de reduzir o elemento subjetivo da
mento a laser, foi possível observar uma boa avaliação postural. Entretanto, até o momento,
concordância com os parâmetros clínicos em os autores parecem concordar que qualquer
detetar a mudança, indicando que os mapas de medição de superfície deve ser considerada
diferença podem detetar e descrever as altera- como um complemento ao exame clínico e de
ções nas curvas escolióticas, entretanto, em raios-X, pois a relação entre a superfície do
alguns casos o instrumento apresentou desa- dorso e alinhamento do corpo vertebral não
cordo com o exame clínico, o que impossibilita está totalmente estabelecida (D’Osualdo et al.,
a sua utilização isolada para fins de diagnóstico 2002). Além disso, para a utilização desses
(Berg et al., 2002). Além disso, questões rele- instrumentos é necessário primeiramente aten-
vantes sobre a validade do sistema ainda preci- tar-se aos aspetos de validade, optando por
sam ser investigadas. instrumentos que preencham os requisitos
Em suma, percebe-se que há uma carência básicos de reprodutibilidade e validade, além
na literatura no que se refere aos aspetos de de selecionar o instrumento que melhor se
validade dos sistemas de avaliação postural por adapte às necessidades, como os custos, prati-
meio da topografia, não sendo possível assegu- cidade, número de operadores necessários,
rar a confiabilidade dos dados gerados por tempo de realização do exame, entre outros.
esses sistemas, tornando limitada a sua utiliza-
ção por profissionais da saúde, como médicos, CONCLUSÕES
educadores físicos e fisioterapeutas. A partir desta revisão sistemática foi possí-
Outro sistema que busca avaliar a questão vel observar que, em geral, os métodos de ava-
tridimensional da escoliose também descrito liação da coluna vertebral apresentaram resul-
na literatura é o sistema BACES, que é descrito tados satisfatórios para a avaliação não invasiva
como um “braço articulado”, o qual é deslizado da escoliose, sendo observadas diferenças entre
sobre a superfície das costas, permitindo o os métodos utilizados no que tange: o tipo de
processamento computadorizado da projeção instrumento, o tempo necessário para a avalia-
das curvaturas da coluna vertebral sobre a ção, a dificuldade técnica para a avaliação, o
superfície do dorso. Esse sistema foi capaz de custo do sistema e os resultados apresentados,
detetar a rotação da superfície com boa preci- se bidimensionais ou tridimensionais. Não
são, de modo que a escoliose verdadeira pode obstante, considerando que somente dois
ser facilmente identificada através da deteção estudos forneceram fortes evidências científi-
de seu componente rotacional. Além disso, a cas sobre os métodos não invasivos de avalia-
reprodutibilidade intra e inter-observadores do ção da coluna vertebral, entende-se que os
sistema BACES apresentou pequenos erros na resultados apresentados até o momento não
medição de escoliose, geralmente inferiores a são robustos o suficiente para permitir a subs-
110 | J.A. Sedrez, C.T. Candotti

tituição da radiografia, mas podem ser utiliza- ing three-dimensional difference maps to as-
dos como ferramentas importantes para a sess changes in scoliotic deformities. Medical &
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Berryman, F., Pynsent, P., Fairbank, J., & Disney, S.
para avaliação da escoliose, o que facilita o
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zação das evidências científicas no que tange os s00586-007-0581-x
instrumentos de avaliação para escoliose, com Bunnell, W. P., & Delaware, W. (1984). An objec-
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vou-se que os aspetos de validação, como a
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e inter-observador são ainda pouco investiga- Cooke, E. D., Carter, L. M., Phil, M., & Pilcher, M.
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