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Islamofobia em Belo Horizonte e a transnacionalização do ódio​1

Igor Gonçalves Caixeta (UFMG) e Cristina Maria de Castro (UFMG)

Introdução

Neste artigo, discorremos sobre a circulação, acomodação e transformação de


discursos islamofóbicos, procurando entender como muçulmanas e muçulmanos fora dos
polos brasileiros do islã compreendem estes movimentos e como são afetadas e afetados por
eles. Para tanto, analisamos, na primeira parte, histórias, conceitos e características que
envolvem este fenômeno, sobretudo no Brasil. Acreditamos que o desenvolvimento da
islamofobia, tradição de falseamentos, reducionismos e generalizações sobre o islã e os
muçulmanos, com vias a vilanizá-los e desumanizá-los, é um indício da emergência e
articulação de nacionalismos religiosos. Ao redor do mundo, projetos nacionais que
privilegiam identidades religiosas como elemento de coesão e mobilização despontam em
resposta a instabilidades econômicas e políticas. Nas nações em que esse tipo de ideologia faz
morada, a diferença é recorrentemente retratada não como um convite ao encontro e ao
diálogo, mas como incentivo ao controle e ao governo de um grupo sobre outros (Said, 2007).
Onde comunidades muçulmanas são muito pequenas, o contato direto e consciente da
maioria das pessoas com o islã e seus praticantes é quase nulo. Estimulado por governos e
políticos nacionalistas, o preconceito pode assumir, então, um caráter ainda mais dramático
(Pickel e Öztürk, 2018). A partir desta hipótese, elencamos, na segunda parte do texto, os
pontos de vista sobre a islamofobia dos muçulmanos da região de Belo Horizonte. Na cidade,
onde o islã se faz presente há quase cem anos (Hachem, 2008), muçulmanos são bastante
minoritários e dispersos espacialmente, e seu templo é quase imperceptível. Os dados sobre o
grupo foram coletados pelos autores através de observação participante realizada no Centro
Islâmico de Minas Gerais, entre agosto de 2018 e dezembro de 2019, e de entrevistas
semiestruturadas concedidas por oito mulheres e quatorze homens frequentadores da
mesquita, além do sheikh que lidera a comunidade e gere a instituição.

Islamofobia e política, entre o Brasil e o mundo

Descrevemos, neste primeiro tópico, o desenvolvimento de uma política daninha, que


ultrapassa fronteiras nacionais e, mais que pela ocupação de espaços institucionais, opera pela
1
44º Encontro Anual da ANPOCS GT36 - Religião, política, direitos humanos: reconhecimento e intolerâncias
em perspectiva.

1
proliferação em corações e mentes. O discurso e a prática de negação do “outro” são
apropriados e estimulados por políticos oportunistas ao redor do mundo, e se mostram mais
perniciosos quanto mais habitam a sociedade. Antes que brotem, propriamente, o preconceito
e a discriminação, ódio e medo são propagados por incendiários. Tais afetos mobilizam
apoiadores e paralisam opositores de movimentos ancorados em promessas de limpeza e
refundação da nação, que vez ou outra, tornam-se soluções populares para crises.
Em terras brasileiras, um certo estranhamento depreciativo direcionado a muçulmanos
floresce na forma de aversão e estereotipificação dessas pessoas, nutrido por um substrato
simbólico fornecido, há décadas, por grandes conglomerados midiáticos (Montenegro, 2002;
Gomes, 2014). Narrativas, imagens e identidades mais ou menos fixas são retomadas em
diferentes frequências e intensidades por grandes meios de comunicação, a depender do peso
social conferido a indivíduos, grupos ou ideias por eles representados. Muçulmanos não
figuram popularmente como ameaça primária da nação na imaginação coletiva brasileira,
como ocorre, de distintas formas, em países como Índia, Mianmar, Estados Unidos e ao redor
da Europa (Banaji, 2018; Yusuf, 2018; Kallis, 2018). Por aqui, negros, indígenas, pobres,
mulheres, LGBTs e aqueles percebidos enquanto tais ou como defensores de suas causas, são
alguns dos alvos mais habituais de violências e segregações, que se hoje são mais abertamente
cultivadas, têm raízes profundamente articuladas na história.
A construção de um aparato estatal que tende a preservar seus autoritarismos e
exclusivismos (Avritzer, 2019) e fluxos midiáticos, religiosos e políticos, estimularam o
desenvolvimento de ideias e atitudes de estigmatização de outros indivíduos, geralmente
percebidos como alheios ao país, como judeus e muçulmanos. Processualmente, grupos de
interesses hegemônicos brasileiros, com acesso a meios de disseminação ideológica e a
espaços de poder, buscaram inferiorizar essas minorias religiosas simbolicamente e, se
possível, institucionalmente. Ao longo de séculos, parte das expressões do conservadorismo
brasileiro, articuladas em mapas de sentidos diferentes, mas não necessariamente excludentes,
hierarquizaram praticantes de religiões minoritárias abaixo do que, tradicionalmente,
ideologias mais à direita concebem como indivíduo de direitos: o homem de posses, branco,
cristão, e patriarcal (Almeida, 2018; Avritzer, 2019; Lesser, 2001; Gonçalves et al., 2017).
Muitos dos judeus e muçulmanos que vivem no Brasil são enquadrados em algumas
destas categorias, o que não exclui a possibilidade de que sejam vitimados em decorrência da
fé que professam ou de sua etnia, mas lhes garante, em tese, maior capacidade de adaptação
ou neutralidade frente às maiorias confessionais, se comparados a outros contextos nacionais
(Lesser, 1995; Castro, 2013). Ainda assim, o antisemitismo e a islamofobia são forças que

2
emergem no país, atreladas, historicamente, ao fortalecimento de movimentos políticos e
religiosos reacionários ao redor do mundo. Parte das produções acadêmicas que abordam a
politização do sentimento anti-judaico no Brasil analisa a evolução do fenômeno ao longo da
ditadura de Getúlio Vargas, nos anos 1930, quando foi insuflado por movimentos fascistas
europeus e brasileiros, como o nazismo e o integralismo (Lesser, 1995). Outros pesquisadores
voltam-se, ainda, às suas expressões mais recentes, identificadas no neonazismo e
neointegralismo articulados a partir da década de 1980 (Gonçalves et al., 2017).
Menos discutida enquanto objeto de estudos brasileiros, a islamofobia ainda tem sua
existência questionada. Naturaliza-se como mera questão de opinião, humor, ou reação
espontânea a atributos negativos ditos inerentes à religião islâmica e aos seus praticantes.
Mais identificadas devido ao uso de vestimentas islâmicas, muçulmanas brasileiras
denunciam, há anos, casos de crimes de ódio, principalmente a jornalistas e pesquisadoras
(Castro, 2015). Ameaças, pedradas e cusparadas são algumas das violências registradas por
essas mulheres no Brasil. O questionamento sobre a seriedade com que o tema é tratado no
país é feito por pessoas como S. G., professora pernambucana de 27 anos, agredida verbal e
fisicamente em São Paulo: “Será que uma muçulmana brasileira precisa morrer para
entenderem que existe islamofobia no Brasil?”​2
Muçulmanos estão sujeitos, no Brasil, a depredações de seus templos​3​, a agressões, ao
tolhimento, pelo Estado, de alguns de seus direitos​4​, e a campanhas de inferiorização
veiculadas em produções midiáticas, que servem como justificativa e motor da animosidade a
eles direcionada (Castro, 2015; Montenegro, 2002; Gomes, 2014). O preconceito contra essas
pessoas alcançou novas proporções após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando um
grupo de terroristas, em sua maioria sauditas, destruiu prédios e ceifou milhares de vidas nos
EUA. O que seguiu foi uma atenção midiática globalmente inédita ao islã, representado de
forma sensacionalista, seletiva e acrítica, geralmente alheia à visão dos muçulmanos. A
prática discursiva de criação, reprodução e articulação de bodes expiatórios estrutura tanto
perseguições e discriminações, institucionais ou populares, aos seguidores do islã onde eles

2
Disponível em:
https://ceert.org.br/noticias/liberdade-de-crenca/6167/islamofobia-no-brasil-muculmanas-sao-agredidas-com-cus
pidas-e-pedradas. Acesso em 30 out. 2020.
3
Disponível em:
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/03/vandalismo-em-mesquita-do-df-foi-intolerancia-religiosa-di
z-governo.html. Acesso em 28 out. 2020.
4
Disponível em:
https://theintercept.com/2016/10/05/muculmanos-sao-perseguidos-pelas-autoridades-e-preconceito-no-brasil/.
Acesso em 28 out. 2020.

3
são minoritários, quanto violações da soberania e dos direitos humanos, por parte de potências
econômicas e militares, em países de maioria islâmica (Said, 2007).
Aos ecos da paranoia bipolar da Guerra Fria, intelectuais, lideranças políticas e figuras
midiáticas anunciam o embate inevitável entre o Ocidente e seu oposto - no imaginário do
“choque de civilizações”, o islã (Qureshi e Sells, 2003; Said, 2007). Em 16 de setembro de
2001, o então presidente George Bush adiantava no gramado da Casa Branca: “Esta cruzada,
esta guerra ao terrorismo, vai levar um tempo.” (tradução nossa)​5 Em algumas semanas,
agências de notícias internacionais afirmavam, sem evidências, que as comunidades árabes da
tríplice fronteira, formada por Brasil, Paraguai e Argentina, eram monitoradas por suspeitas
de envolvimento com terrorismo (Karam, 2009).
Cultura e interesses políticos, militares e econômicos refletem uns aos outros (Said,
2007). Negados continuamente a humanidade e o direito à compaixão de um grupo,
especialmente pela mídia, inibições a atos de violência são destituídos (Steuter e Wills, 2008).
Além da vigilância estatal de cidadãos muçulmanos - que, no Brasil, já havia sido denunciada
em 2000 (Karam, 2009), o que se repetiu em 2016​6 -, a profecia autorrealizável da guerra
entre dois grandes blocos culturais homogêneos promoveu desde assentamentos ilegais em
Israel, até o genocídio de muçulmanos bósnios na Sérvia e na Croácia (Qureshi e Sells, 2003).
O terrorismo estatal dos que se proclamam “defensores do Ocidente”, sejam europeus,
norte-americanos, republicanos ou democratas, é responsável por perdas, em duas décadas, de
uma a três milhões de vidas, no Iraque, Afeganistão e Paquistão (War on Muslims, 2020).
A lingugem anti-islâmica que estimula estes massacres começou a ser formada na
Baixa Idade Média, quando a Europa passou a se reconhecer, pela oposição ao islã que crescia
ao redor do Mediterrâneo desde o século 7, enquanto uma comunidade fechada em si (Said,
2007). “Sua identidade continental era inicialmente cristã, pois era mais frequentemente
chamada de Cristandade do que de Europa.” (MANN, 1988, p.10-15 apud HALL, 2016, p.
329) Assim grafados pela primeira vez no século 8, numa referência à vitória, em Tours, do
exército cristão franco contra guerreiros muçulmanos de Al Andalus​7​, os “europeus”
conceberam, durante séculos, o Oriente e o islã como os grandes opostos, negativos mas
complementares, do Ocidente e da cristandade (Hall, 2016; Said, 2007).

5
“This crusade, this war on terrorism is going to take a while.” Disponível em:
https://georgewbush-whitehouse.archives.gov/news/releases/2001/09/20010916-2.html​. Acesso em 29 out. 2020.
6
Disponível em:
https://theintercept.com/2016/10/05/muculmanos-sao-perseguidos-pelas-autoridades-e-preconceito-no-brasil/.
Acesso em 28 out. 2020.
7
Nome árabe dado à Península Ibérica do século 8 ao 13, quando a região fez parte de impérios islâmicos, como
o Califado Omíada (Vidal, 2020).

4
Se a ideia de um mundo hostil, bárbaro, a ser dominado ao Leste - um Oriente - já era
construída desde a Grécia e Roma clássicas, o “inimigo muçulmano” é o resultado de um
projeto político transcontinental que emergiu nas cruzadas e se consolidou no período
renascentista (Said, 2007). Tradições de discurso e poder centrados no mito de um Ocidente
pretensamente superior, e de um “Resto”, dito inferior pois racializado e adepto a
espiritualidades estigmatizadas, multiplicaram-se e expandiram-se para além da Europa (Said,
2007; Hall, 2016). A islamofobia é parte daquilo que Hall (2016) denominou uma “história
global”, quando diferentes partes do mundo se entrelaçaram num sistema cultural, social e
econômico interdependente. É uma engrenagem na organização internacional do trabalho
racista e orientalista que atravessou o mercantilismo e o capitalismo (Grosfoguel, 2012).
Sistemas de hierarquização de pessoas, lugares e de suas culturas foram centrais para a
edificação das nações modernas (Said, 2007; Hall, 2016). A modernidade teve início, segundo
Hall (2016), no século 13, a partir da expulsão de Portugal dos mouros, muçulmanos vindos
do norte do continente africano no século 8. No crepúsculo do século 14, judeus e
muçulmanos eram perseguidos na Península Ibérica, e a Europa proclamava o seu
renascimento (Qureshi e Sells, 2003). O ímpeto pela “reconquista” se arrastou durante séculos
através da crença na pureza de sangue e dos movimentos inquisitoriais que a difundiram não
só na Europa, mas em terras em processo de colonização. Propagava-se, então, o racismo
tradicional, a hierarquização de raças com fundamentos teológicos, expressa pela
diferenciação de indivíduos “limpos”, “seletos” - os adeptos da “verdadeira” fé católica - dos
de “sangue infecto”, “povos com a religião errada” (Carneiro, 2005; Grosfoguel, 2012).
Por um lado, cruzadas em nome da limpeza étnica eram pregadas, e por outro,
buscava-se apagar a presença cultural judaica e islâmica na Europa (Carvalho, 2005; Vidal,
2020). A conservação e tradução que árabes fizeram de textos de filósofos gregos, e suas
inovações na biologia, física, astronomia, matemática e ciências da navegação, foram
ocultadas pelos europeus durante o período renascentista. Construiu-se, então, o mito do
Ocidente derivado da cultura ateniense, que, num curso civilizacional “limpo” de influências
árabes, teria gerado a cristandade (Qureshi e Sells, 2003; Grosfoguel, 2012; Hall, 2016;
Vidal, 2020). A identidade cristã e o senso de superioridade se reforçavam na medida em que
europeus, na figura da Igreja e de impérios cristãos, exploravam “outros mundos”. Nas
Américas e na África subsaariana, os nativos, entendidos pelos colonizadores como “povos
sem Deus”, foram racializados e desumanizados, como os judeus e muçulmanos de outrora:
Os primeiros portugueses instalados no Brasil participavam dessa mesma atmosfera intelectual.
Disseminaram um complexo lendário gestado no Velho Mundo e reproduziram os padrões de
conduta medievais. [...] Nesses dois primeiros séculos, a elite colonial distinguia-se dos

5
homens comuns – índios, negros e mestiços – por pertencerem à nobreza lusa na condição de
fidalgos cavaleiros ou fidalgos escudeiros, e por pertencerem às ordens de cavalaria – a Ordem
de Avis, a Ordem de Calatrava e, sobretudo, a Ordem de Cristo. Cultuavam Santiago de
Compostela, principal ícone da luta contra os mouros. O grito de guerra da ​reconquista ibérica
era: “​A eles, com Santiago!​ ”, seguido por vezes da invocação da Virgem Maria. Foi com esse
grito de guerra que o Capitão Francisco de Frias conduziu seus guerreiros contra os indígenas
por ocasião da conquista do Maranhão, no princípio do século XVII. (MACEDO, 2004, p.
140-141)

Pinto (2011) afirma que dentre os primeiros portugueses que chegaram ao Brasil havia
mouriscos, muçulmanos convertidos ao catolicismo que professavam o islã em segredo, ou o
mantinham como uma herança cultural familiar. A partir do século 17, desembarcaram do
Oeste da África muçulmanos de diferentes etnias, trazidos para o Brasil à força para trabalhar
como mão de obra escrava. Chamados de malês, tiveram papel decisivo em uma série de
insurreições contra a escravidão no início do século 19. A mais conhecida delas, a Revolta dos
Malês, realizada na Bahia em 1835, resultou numa dura perseguição a esses povos, na sua
dispersão para outras regiões e repressão contra sua religião por parte do Estado (Reis, 2003).
No final do século 19, as comunidades muçulmanas de origem africana entravam em declínio
no país. Nesse mesmo período, para a surpresa das elites brasileiras, que almejavam fazer do
Brasil uma nação branca e cristã, começavam a chegar no país milhares de imigrantes árabes,
alguns dos quais muçulmanos, originários de países como Síria e Líbano (Lesser, 2001;
2015).
Os “povos sem Deus” ou “com a religião errada”, agora, eram colocados em
categorias: selvagens, primitivos, incivilizados, “biologicamente” e “geneticamente”
não-brancos (Grosfoguel, 2012; Carneiro, 2005). As elites brasileiras vislumbravam um país
pós escravista “higienizado”, “melhorado” pela eliminação de seus “outros”, num processo
jamais concretizado de embranquecimento por miscigenação e imigração (Lesser, 2015;
2001). Segundo Lesser (2015), desde 1748, os governantes e as elites tentavam atrair
imigrantes para o Brasil. Na medida em que a ideia de nação começava a ser construída no
século 19, a imigração de europeus e norte-americanos era cada vez mais urgente para as
classes dominantes, que sonhavam em construir um país neoeuropeu. O embranquecimento da
sociedade, majoritariamente negra, transformaria o Brasil em uma terra “civilizada”.
Territórios indígenas, povoados há milênios, seriam vendidos como inabitados, sob discursos
de progresso da nação e segurança das fronteiras.
Muitos europeus vieram. Chegaram também árabes, japoneses e judeus, povos nem
brancos, nem negros, nem ameríndios (Lesser, 2001; 2015; 1995). Com fenótipos, línguas e
religiões diversas, esses novos brasileiros eram encaixados no imaginário brasileiro a partir de
um conjunto de sentidos que circulavam pelo país, em parte influenciados pela mediação dos

6
próprios imigrantes e de seus descendentes, em parte por fluxos culturais transnacionais. O
racismo secularizado disseminava-se (Carneiro, 2005), e se fundia a outras tradições
intelectuais, como o que Edward Said (2007) denominou orientalismo. Este repertório de
clichês sobre o que europeus definiam como Oriente - que cobria das suas paisagens às suas
populações - embasava a colonização de um número crescente de partes da África e Ásia.
O orientalismo também foi incorporado pelo universo cultural brasileiro (Pinto, 2016).
Instrumentalizados por políticos e intelectuais que discursavam sobre as origens e os rumos
da nação, islã e Oriente foram retratados de diferentes formas do século 19 ao 20. Das
análises bíblicas de Pedro Segundo aos estudos culturalistas de Gilberto Freyre, essas
representações, geralmente, derivavam do orientalismo europeu, sobretudo de sua versão
portuguesa (Pinto, 2016). Após a Primeira Guerra, os discursos islamofóbicos e orientalistas
no Brasil já não se voltavam, como antes, a um Oriente e um islã distantes e lendários, mas às
experiências islâmicas brasileiras recentes, sobretudo aos imigrantes “orientais”, cada vez
mais visíveis no espaço público. Nos anos 1930, com a ascensão do desemprego urbano, de
“ideias racistas de regeneração nacional” e do nacionalismo varguista, muçulmanos
tornavam-se alvos do nativismo brasileiro (Pinto, 2016; Lesser, 2015).
Concepções sobre religião, etnia e nacionalidade se mesclavam num projeto de nação
essencialmente branca e católica (Lesser, 2001; 2015). Imigrantes do Oriente Médio,
majoritariamente cristãos, eram chamados genericamente de “turcos”, termo que despertava
uma alteridade negativa. Eram difamados, por políticos e imprensa, como gananciosos,
dissimulados, fanáticos, polígamos e até mesmo canibais (Pinto, 2016; Lesser, 2001). Muitos
destes imigrantes eram confundidos com “maometanos”, termo pejorativo utilizado para se
referir a muçulmanos (Said, 2007). Árabes cristãos preocupavam-se em demarcar a diferença
em relação aos seus conterrâneos, para evitar o ônus gerado por tal associação (Truzzi, 1997).
Em 1932, um plano da Liga das Nações e de uma empresa britânica de colonização - trazer
refugiados assírios do Iraque para o Brasil - foi rejeitado pelo governo brasileiro. Cristãos, os
assírios eram descritos como “nômades e maometanos inassimiláveis” por nativistas que
pressionavam Vargas por restrições à imigração (Lesser, 2001).
O Departamento de Ordem e Política Social (DOPS), que funcionou de 1924 a 1983,
classificava todos os seus investigados com sobrenome árabe, judeu ou japonês como pessoa
“não brasileira” (Lesser, 2015). Do estabelecimento do Estado Novo, em 1937, até um ano
após seu fim, em 1946, a Escola Militar do Realengo (EMR), instituição que formava os
oficiais do Exército Brasileiro, observava as seguintes qualificações para aprovar seus
candidatos: “1. ser brasileiro nato e filho legítimo de brasileiros também natos; 2. pertencer a

7
família organizada e de bom conceito; 3. ser física e mentalmente sadio; 4. não ser de cor; 5.
não ser – nem seus pais – judeu, maometano ou ateu confesso.” (RODRIGUES, 2008, p. 467)
A pluralidade religiosa do Oriente Médio era e é desconsiderada por muitos brasileiros.
Fernando Rodrigues (2008) observa que sírios, turcos, libaneses e seus descendentes eram
considerados pela EMR como muçulmanos, independentemente de sua religião.
Algumas das principais tendências reacionárias brasileiras do século 20, o integralismo
e o tradicionalismo católico, sobretudo ultramontano, uniram forças pontualmente, e se
articularam com os regimes de Vargas e dos militares de 1964 a 1985. Tocavam, contudo,
projetos próprios de “recristianização da nação” (Caldeira, 2005; Gonçalves e Caldeira Neto,
2020). A Ação Integralista Brasileira, maior expressão do fascismo clássico na América
Latina, aceitava não católicos em suas fileiras, desde que obedecessem à moral cristã e ao
líder do grupo, Plínio Salgado. Membros de outras instituições, como o Centro Dom Vital e o
Tradição, Família e Propriedade (TFP), negavam a liberdade religiosa a não católicos. Se
aproximavam do ultramontanismo, uma interpretação anti-modernista do catolicismo que se
difundia desde o século 19 no Brasil, propondo o retorno de cultos, da hierarquia social e da
relação Estado-Igreja do período medieval. Apesar das diferenças, lideranças integralistas e
ultramontanas compartilhavam o respeito às determinações da Igreja Católica, a inspiração
em regimes fascistas europeus, o antiliberalismo e o anticomunismo. Em diferentes níveis, se
aproximavam, ainda, de perspectivas e grupos monarquistas, ruralistas, e antissemitas
(Gonçalves e Caldeira Neto, 2020; Caldeira, 2005).
A ofensiva contra o islã e os muçulmanos também dava forma ao nacionalismo cristão
destes grupos. Em um de seus livros, Plínio Salgado urgia a união das “nações católicas,
como outrora se reuniram em face do fiel muçulmano e das heresias que na mesma altura,
ameaçavam a unidade espiritual da civilização cristã.” (SALGADO, 1945, p. 77). Enquanto
Salgado propagava seu cristianismo social, Gustavo Barroso, chefe das milícias integralistas,
difundia, principalmente, o antissemitismo (Gonçalves e Caldeira Neto, 2020). Um texto que
traduziu para o português, “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, forjava a conspiração da
dominação mundial pelas mãos de judeus e maçons. A obra, originalmente russa, circulou ao
redor do mundo, popularizando-se em países como os EUA e a Alemanha nazista (Hanebrink,
2018). Atualmente, “Os Protocolos” fundamentam outras teorias da conspiração de extrema
direita, como a noção de “Eurábia” e de “islamização do Ocidente”, que dão destaque ao
suposto papel de muçulmanos no “projeto de dominação global".
Se a islamofobia, mais que o antisemitismo, conecta forças transnacionais da nova
direita radical (Kallis, 2018), a propaganda em torno da ameaça conjunta do islã, judaísmo e

8
comunismo já despontava nos imaginários dos primeiros fascistas (Hanebrink, 2018). Em
alguns de seus livros, lidos ainda hoje por neointegralistas, Barroso (1935; 1937) promovia
uma série de revisionismos conspiratórios acerca do islã. Articulada com a filosofia e ciência
árabes, a religião islâmica seria, para ele, uma criação nestoriana/judaica, que visava “deter a
expansão do Cristianismo no Oriente.” (BARROSO, 1935, p. 84) Os malês que se revoltaram
no século 19, por sua vez, formariam uma “maçonaria negra” e teriam sido armados por
judeus (Barroso, 1937). Plinio Corrêa de Oliveira, uma das principais lideranças do
movimento ultramontano brasileiro no século passado, assinou, de 1937 a 1956, mais de trinta
textos discutindo a “questão islâmica”​8​. Em jornais e revistas católicas voltados às classes
altas, Oliveira se opunha da construção de mesquitas no Brasil à expansão do islã pelo
mundo, que vinculava ao avanço do comunismo.
Hoje, os ideólogos da direita cristã, que desde os anos 1970 cresce na Europa e nas
Américas, anunciam “guerras culturais” transnacionais entre o “Ocidente judaico-cristão”​9 e
as “elites globalistas” (Hanebrink, 2018; Kallis, 2018). O terrorista que, em 2011, na
Noruega, assassinou 77 pessoas, identificadas por ele como apoiadores da “islamização da
Europa”, dedicou cerca de 100 páginas de seu manifesto a grupos hindus indianos,
defendendo o combate coletivo de nacionalistas religiosos contra uma suposta conspiração de
muçulmanos e “marxistas culturais globalistas” (War on Muslims, 2020). A teoria do
“marxismo cultural” nasceu num artigo norte-americano dos anos 1990, referenciado pelo
extremista norueguês e plagiado por um “olavista” alocado no Ministério da Educação do
governo de Jair Bolsonaro (sem partido)​10​. Quase um mês após outro massacre, numa
mesquita na Nova Zelândia, em 2019, o poema que abre o manifesto de um segundo terrorista
de extrema direita, desta vez australiano, tornou-se capa do Twitter do assessor internacional
de Bolsonaro​11​. Como Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, Felipe Martins faz
parte do grupo de tradicionalistas católicos indicados ao governo por Olavo de Carvalho.

8
Os documentos analisados foram encontrados em coletâneas de textos do autor, disponíveis em:
www.pliniocorreadeoliveira.info​. Acesso em 08 nov. 2020.
9
Como na Europa e nos EUA, no Brasil, expressões de extrema direita divergem sobre a rejeição ou ocultação
do antissemitismo (Gonçalves e Caldeira Neto, 2020). Sua substituição pela islamofobia é uma alternativa
recorrente, que disfarça os vínculos destes grupos com tradições fascistas dos anos 1930 (Kallis, 2018). A
aliança do antissemita Viktor Orbán com o judeu Benjamin Netanyahu, respectivamente primeiro-ministro da
Hungria e de Israel, indica que o antissemitismo pode ser palatável se associado ao sionismo (Kingsley, 2019).
Parceiros de Bolsonaro, as lideranças de direita se unem pela oposição a muçulmanos em seus países,
defendendo mutuamente seus estados étnicos - cristão, no caso húngaro, judaico, no caso israelense.
10
Disponível em:
https://complemento.veja.abril.com.br/pagina-aberta/plagio-politicamente-correto-e-paranoia-no-inep-de-bolsona
ro.html. Acesso em 10 nov. 2020.
11
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/04/assessor-da-presidencia-publica-poema-que-abre-manifesto-de-a
tirador-da-nova-zelandia.shtml. Acesso em 10 nov. 2020.

9
O fundamentalismo e o “racismo cultural” da extrema direita (Carneiro, 2005)
apresentam-se como retaliação justa àqueles que, em seu entender, ameaçam sua identidade,
tradição, família e nação. Através da instrumentalização de mídias virtuais e da oposição ao
progressismo que emergia do governo brasileiro ao Vaticano, conservadores católicos
introduziram a estética e o pensamento ultramontano na política do século 21. Desde o início
dos anos 2000, Olavo e dissidências do antigo TFP, que se multiplicaram após a morte de
Plinio Corrêa de Oliveira, oferecem embasamento ideológico ao projeto nacionalista
anti-secular em desenvolvimento no Brasil (Patschiki, 2012; Caldeira, 2005). Frente a um
novo cenário nacional, no qual católicos já não gozam da hegemonia política e religiosa de
outrora, muitos dos tradicionalistas católicos adotam o fundamentalismo cristão e o sionismo,
que lhes permite tecer parcerias com evangélicos e judeus conservadores.
Um ano antes de migrar para os EUA, em 2004, Olavo de Carvalho realizou a palestra
“Totalitarismo islâmico: herdeiro do comunismo e do nazismo”, no clube judaico A Hebraica,
em São Paulo (Patschiki, 2012). Em 2011, em debate com o tradicionalista russo Alexander
Dugin​12​, Carvalho definia a retórica de amigos e inimigos imaginários que anos mais tarde se
tornaria política de Estado. Em seu pensamento conspiratório, o “nacionalismo israelense”,
junto ao “nacionalismo americano” e ao “cristianismo católico-protestante”, são as únicas
forças que se opõem à “Nova Ordem Mundial”, formada pela união de três “projetos
globalistas” - “russo-chinês”, “ocidental” e “islâmico”. A “aliança judaico-cristã” contra um
suposto avanço do islã, abraçada por diferentes setores do conservadorismo brasileiro, tem
bastante afinidade com fundamentos teológicos de evangélicos de direita (Grin et al. 2019).
A islamofobia surge como um dos elementos unificadores dos cristãos brasileiros, e o
discurso de defesa da “civilização judaico-cristã” dá legitimidade tradicional e internacional à
extrema direita do país. No primeiro episódio da série “Brasil - A Última Cruzada”​13​,
realizada pela produtora Brasil Paralelo em 2017 e exibida na TV Escola em 2019​14​, o islã e
os muçulmanos são apresentados como a principal ameaça ao Ocidente. Com milhões de
visualizações no YouTube, o vídeo revisionista, que inclui entrevistas do deputado federal
Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL) e de Olavo de Carvalho, narra a história brasileira
em continuidade a “guerras santas” e aos “heróicos descobrimentos portugueses”. No fim, os

12
Disponível em: https://olavodecarvalho.org/debate-com-duguin-ii/. Acesso em 11 nov. 2020.
13
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TkOlAKE7xqY. Acesso em 10 nov. 2020.
14
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/criticada-por-bolsonaro-por-ser-de-esquerda-tv-escola-exibiu-docu
mentario-com-olavo-de-carvalho-24130625. Acesso em 20 set. 2020.

10
espectadores são conclamados à defesa do “Ocidente”, numa “cruzada” contra todo tipo de
“infiel”, evocando um cristianismo mítico, combativo e anterior à Reforma Protestante.
No Brasil, onde a direita prospera em seus ecossistemas midiáticos e o WhatsApp é a
principal fonte de informação da população​15​, eventos recentes foram enquadrados a partir de
pânicos morais envolvendo o islã e os muçulmanos. O discurso da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) na abertura da Assembleia Geral da ONU em 2012, repudiando a "escalada de
preconceito islamofóbico em países ocidentais" e expressando apoio ao Estado Palestino, foi
recebido com indignação pelo pastor magnata Silas Malafaia, em seu programa na TV Band​16​.
Em 2015, seria a vez de Jair Bolsonaro expressar sua xenofobia. Após participar do I
Workshop da Justiça Criminal em Goiânia (GO), o então deputado afirmou para um jornal
local que refugiados que chegam ao Brasil, como senegaleses e sírios, são a “escória do
mundo”​17​. Em meio ao processo eleitoral de 2018, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL)
sugeriu em um evento, sem apresentar qualquer evidência, que “havia células do Hezbollah
[organização islamista libanesa] no meio do povo” na passeata em Juiz de Fora (MG), onde
Bolsonaro sofreu um atentado no período inicial das campanhas​18​.
Três semanas antes do então presidente Michel Temer (MDB) sancionar a Lei de
Migração, em maio de 2017, membros da Direita São Paulo, num ato “contra a islamização”,
pediam o veto ao que chamaram “estatuto do terrorista”​19​. Três semanas depois da assinatura
da lei, o deputado Victório Galli (PSL), membro da Frente Parlamentar Evangélica, replicou,
no plenário da Câmara Federal, uma notícia falsa que circulava em redes sociais, alegando
mais de um milhão de refugiados muçulmanos a caminho do Brasil​20​. No dia seguinte, o
governo de Goiás teve que negar a existência de treze navios com muçulmanos enviados pela
Europa, assim como a construção de uma cidade próxima a Anápolis para recebê-los​21​. Em

15
Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-12/whatsapp-e-principal-fonte-de-informacao-do-brasileiro-d
iz-pesquisa​. Acesso em 12 nov. 2020.
16
​Disponível em: ​https://www.youtube.com/watch?v=aW77sdRGHaY​. Acesso em 11 nov. 2020.
17
Disponível em: https://exame.com/brasil/bolsonaro-chama-refugiados-de-escoria-do-mundo/. Acesso em 12
nov. 2020.
18
Disponível em:
https://paulosampaio.blogosfera.uol.com.br/2018/09/28/mulheres-da-elite-de-sp-se-reunem-em-cabeleireiro-para
-evento-pro-bolsonaro/​. Acesso em 12 nov. 2020.
19
Disponível em:
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/ato-anti-imigracao-na-paulista-foi-contra-a-lei-dizem-especialistas.ghtml.
Acesso em 12 nov. 2020.
20
Disponível em:
https://www.hnt.com.br/politica/deputado-imita-trump-e-quer-vetar-imigracao-de-arabes-e-muculmanos-no-bras
il/75810. Acesso em 12 nov. 2020.
21
Disponível em:
https://g1.globo.com/e-ou-nao-e/noticia/brasil-vai-receber-13-navios-com-refugiados-muculmanos-e-esta-criand
o-cidade-para-abriga-los-nao-e-verdade.ghtml. Acesso em 12 nov. 2020.

11
outubro, a Liga Cristã Mundial, o ex-candidato a presidente e líder do partido do
vice-presidente da república, Levy Fidelix (PRTB), e centenas de pessoas vestidas em verde e
amarelo, marchavam contra a “islamização” e pela intervenção militar na Avenida Paulista​22​.
Popularizada por algoritmos de redes sociais devido a seu apelo emocional (War on
Muslims, 2020), a islamofobia segue circulando da internet às ruas brasileiras, mesmo que
muçulmanos pareçam distantes do imaginário do país. Em reação ao comentários de
Emmanuel Macron sobre incêndios na Amazônia em 2019, o deputado federal Carlos Jordy
(PSL) publicou em seu Twitter que o presidente francês deixara a “cultura muçulmana”
destruir seu país​23​. No mesmo ano, membros da Igreja Geração Jesus Cristo foram presos por
distribuir panfletos difamatórios sobre o islã, na porta de uma escola, na cidade do Rio de
Janeiro​24​. As generalizações e caricaturas de muçulmanos chegavam na Câmara dos
Vereadores de Belo Horizonte em 2020, na figura de Jair Di Gregório (PSD). Em referência
aos atentados de Paris em 2015, o vereador afirmou que “vereadores da esquerda não atacam
os muçulmanos porque ​eles passam o cerol”​ 25​
​ .

Comunidade muçulmana de Belo Horizonte, entre o preconceito e a adaptação

Majoritariamente católico, o estado de Minas Gerais é lar de pouco mais de mil


muçulmanos, de acordo com o último Censo. A comunidade muçulmana mineira é a quinta
maior do país, dispersa em dezenas de municípios. Segundo informantes de diferentes regiões
de Minas Gerais, há mussalas ou salas de oração em Juiz de Fora, Varginha, Uberlândia e
Uberaba. Na capital, onde vivem pouco mais de duzentos muçulmanos (IBGE, 2010), foi
erguido o único templo islâmico com arquitetura de mesquita tradicional do estado, o Centro
Islâmico de Minas Gerais. Inaugurado em 1992, sedia a Sociedade Beneficente Muçulmana
de Minas Gerais, fundada por imigrantes sírios e libaneses em 1962 (Sena, 2007).
Os primeiros imigrantes muçulmanos chegaram na cidade por volta da década de 1930
(Hachem, 2008), e buscavam viver próximos uns dos outros (Real, 2014). A comunidade
atual, que desde a abertura da mesquita ganha cada vez mais membros brasileiros, vive

22
Disponível em:
https://epoca.globo.com/sociedade/noticia/2017/10/marcha-crista-tem-pouco-de-religiao-e-muito-de-intervencao
-militar.html. Acesso em 12 nov. 2020.
23
Disponível em: ​https://twitter.com/carlosjordy/status/1166030419390849026​. Acesso em 12 nov. 2020.
24
Disponível em:
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/11/21/homens-sao-presos-quando-distribuiam-panfletos-que-i
ncitam-estupro-e-decapitacao-de-nao-muculmanos-no-rio.ghtml. Acesso em 12. nov. 2020.
25
Disponível em:
https://www.otempo.com.br/politica/aparte/vereador-de-bh-ataca-muculmanos-em-reuniao-na-camara-1.237082
7. Acesso em 10 nov. 2020.

12
dispersa em Belo Horizonte e região metropolitana. Afastada do centro da cidade, a mesquita
é sunita, mas há xiitas que também oram ali. Num grupo diverso, sem predominâncias étnicas
- apesar do grande número de senegaleses, paquistaneses e brasileiros - mulheres são minoria.
É principalmente sobre elas que recai a islamofobia que discutiremos a seguir, tendo como
base as percepções de muçulmanas e muçulmanos que conhecemos em celebrações da
Jumu’ah, ou oração de sexta-feira, na discreta mesquita de Belo Horizonte.
Uma das principais formas de atacar a religião islâmica é apontá-la como opressora do
gênero feminino, ainda que esta não se diferencie em muitos aspectos de outras religiões
tradicionais, no que tocam aos papéis sociais de gênero defendidos ou ao lugar da mulher nos
rituais e práticas (Castro, 2013). Inclusive, culpa-se o islã por comportamentos e ações
desfavoráveis às mulheres existentes em diversas localidades e culturas antes de seu próprio
surgimento (Keddie e Beck, 1980). A relação entre gêneros em sociedades majoritariamente
muçulmanas e minorias mundo afora se encontra em meio a uma fortíssima disputa política e
ideológica. Talvez nenhuma outra questão capture tão bem a controvérsia envolvendo a
integração muçulmana como o véu islâmico, dizem Read e Bartoswki (2007).
O hijab, quando usado em um contexto minoritário, coloca em evidência a identidade
muçulmana ou simplesmente traz à tona uma série de interpretações e sentimentos que nem
sempre fazem jus ao significado original da peça ou ao que ela representa para as crentes
(Castro, 2015). A partir da análise de dados primários e secundários coletados por diversos
pesquisadores, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Brasília, Castro
traça um padrão de como as muçulmanas se sentem percebidas ao trajarem o véu no Brasil.
Para estas mulheres, o véu seria a) “interpretado à luz dos costumes ou religiosidades locais,
muitas vezes em detrimento de sua identificação com a religião islâmica” (2015: 368). Por
exemplo, como um acessório para esconder a cabeça raspada por uma pessoa em tratamento
de câncer, ou por alguém que acabou de ser iniciada no candomblé; b) o véu seria visto como
símbolo da opressão feminina, o que tornaria as muçulmanas de nascimento vítimas e as
convertidas, traidoras do gênero que escolheram se submeter a uma religião que apregoaria o
machismo; c) a vestimenta religiosa seria concebida como incompatível com a “identidade
cultural brasileira”, em outras palavras, seria um traço cultural estrangeiro; e por fim, d) o véu
seria o símbolo de uma religião que defenderia o terrorismo e o fanatismo.
Quando o hijab é compreendido como parte da religiosidade islâmica, portanto, tal
associação se faz de forma negativa, como símbolo da opressão feminina, do fanatismo, do
terrorismo ou mesmo como algo incompatível com a cultura brasileira. Todos estes aspectos
apareceram nos relatos coletados pelos autores entre muçulmanas residentes em Belo

13
Horizonte e região metropolitana. A totalidade da nossa amostra afirmou fazer uso do véu
para além do momento da oração.
Antes de prosseguirmos, é interessante esclarecer que, d​e acordo com o Alcorão e a
Sunnah, há quatro requerimentos fundamentais concernentes à vestimenta islâmica feminina:
1) A vestimenta deve cobrir todo o corpo, exceto rosto e mãos; 2) A vestimenta não deve
marcar as formas do corpo; 3) A vestimenta não pode ser transparente; 4) Por fim, a
vestimenta não deve chamar a atenção do homem para a beleza da mulher. Em um país
marcado pelo culto ao corpo como o nosso, tais requisitos de fato não poderiam passar
despercebidos. ​Agressões verbais, discriminação no mercado de trabalho ou ambiente de
estudo e até mesmo agressões físicas foram mencionadas pelas informantes, ao trajarem o
véu.
A convertida A. foi espancada por um senhor na porta de um posto de saúde. O
homem a indagou se era uma freira. Quando respondeu que não, que se tratava de uma
muçulmana, apanhou na frente de várias testemunhas. Chamando a polícia, não conseguia
prestar queixa porque o policial alegava não haver provas. Foi preciso muita insistência para
que ela fosse ouvida. Ainda assim, ao chegar na delegacia, o agente da lei checou primeiro
sua ficha e depois a do acusado. Contou que foi parada pela polícia inúmeras vezes, com a
justificativa de conferir se se tratava de uma imigrante ilegal. Nas ruas, também já sofreu
agressões verbais como “mulher bomba” e “terrorista” e ouviu diversas vezes a frase “volta
para seu país”, apesar de ser brasileira.
A. trabalhava no ramo de estofamento de colchonetes e caneleiras para academia e
pedia ao marido para atender pessoalmente os clientes, porque quando a viam de véu,
desistiam de fazer negócio. Uma cliente chegou até a se esconder quando a viu com o hijab.
Antes de atuar no negócio de estofados, trabalhava em um restaurante. Ainda solteira e única
responsável por seu sustento, se viu obrigada a tirar o véu para manter o emprego. Já
autônoma e empresária, só podia atender os clientes por telefone, sob risco de perder o
negócio ao ser avistada com a vestimenta religiosa.
A confeiteira L., por sua vez, traz o seguinte relato, igualmente comovente:
... eu perdi 80% dos meus clientes [ao me converter e usar o véu]. [...] começaram a me
humilhar, me agredir, até falar coisas que eu ficava horrorizada. Que eu ia passar fome […]
Eram poucas pessoas, quando era amigo mesmo, que vinha até a mim, e fazia um bolo comigo.
[...] as pessoas tinham bolo já marcado, desmarcavam. Tinham festa já marcada comigo, eles
desmarcavam. Ainda chegava perto de mim, explicava: “ah, porque eu não vou fazer esse
mês”, aí quando eu ficava sabendo, tinha pegado com outra pessoa…

O problema do desemprego entre as mulheres que trajam o véu e não são autônomas é
universal entre a nossa amostra. Ao fazerem entrevistas, são indagadas se usarão “aquilo” ao

14
trabalhar. Ao afirmarem positivamente, perdem suas oportunidades de trabalho, como nos
mostra a jovem M., filha de imigrantes marroquinos:
Assim que eu me formei no design de interiores, eu me apliquei pra n vagas, inúmeras. Fui
aplicando, aplicando, fui chamada pra muitas entrevistas. Assim, a princípio as pessoas, né,
elas antes da entrevista elas não te conhecem, elas não sabem como que você é, você veste, e
tal. Então eles chamavam pras entrevistas e quando eles viam, né, sempre vinha aquela
pergunta: “ai, mas cê vai trabalhar com essa coisa?”, né, eles não chamavam nem de… nem
davam um nome ideal, enfim, era sempre com aquela entonação de… sabe, coisa? E aí isso
acabava limitando, acabei não… não consegui né, obviamente, ingressar em nenhum desses
empregos que eu tava buscando, e depois eu acabei ingressando na [graduação em] arquitetura,
né? Mas todos eles, além desse questionamento, né, tinha aquela questão de, “ai, mas você vai
tirar?” Teve um que inclusive me perguntou, “caso algum dos nossos clientes se sinta ofendido
pela sua vestimenta, será que tem como você tirar?”

Outro exemplo vem da convertida V. que já está desistindo de tentar trabalhar fora de
casa:
...já tentei procurar e ninguém me deu emprego por causa do véu, do diferente, né? Aí é
complicado. Eu penso em fazer alguma coisa dentro de casa mesmo pra não ter que ficar
saindo muito, sabe? Eu faço pra não ter que ficar saindo muito porque sei que as pessoas vão
me olhar diferente. Isso é muito ruim, de certa forma.

Escolas, cursos técnicos e faculdades representam mais um ambiente desafiador para


as mulheres e meninas trajando o véu. T., uma criança de 10 anos, filha da convertida A.,
ouviu de uma professora ao trajar o véu, “desenrola esse trem da cabeça”, na frente de todos
os colegas. S., convertida enfermeira e biotecnóloga, foi perseguida pela coordenadora do
curso de extensão em química que realizou. Foi chamada diversas vezes para responder
porque usava o hijab e para ouvir que não era uma vestimenta compatível com a área de
química, que poderia encostar em alguma coisa... “Sempre criava uma desculpa”. “Chegou a
gritar comigo”. A perseguição foi tanta que seus colegas quiseram fazer uma mobilização em
protesto pela falta de respeito da coordenadora.
A conversão ao islã não costuma ser bem recebida pelos familiares e, em geral, as
mulheres se convertem sozinhas. Constrangimentos, incompreensões e mesmo rompimentos
são comuns. A islamofobia influencia familiares incrementando o sofrimento daquelas que
escolheram abraçar a religião islâmica.
A minha família mesma se afastou de mim. Minha mãe, minhas irmãs têm um preconceito, elas
fingem que está tudo bem, mas no fundo você sabe que não está. Então assim, as minhas
meninas também, a minha filha de 18 anos também ela se afastou um pouco. Então tudo isso
devido a religião. Então já tem momentos que eu já pensei em tirar [o véu], sabe? (V.,
convertida)

Não há, entre os homens entrevistados, o uso generalizado de alguma vestimenta que
os torne tão visíveis e execrados quanto o hijab torna as muçulmanas. A taqiyah, um tipo de
chapéu característico de muçulmanos, está longe de possuir o mesmo sentido que o véu, para
os que utilizam e para os que julgam. A maioria dos imigrantes opta por não utilizá-la. G., 34

15
anos, que se define como egípcio-brasileiro e vive no Brasil há uma década, vê a taqiyah
como uma expressão cultural, não religiosa. Contou ter utilizado uma vez na faculdade, para
provocar de volta seus colegas que estavam “zoando muito” sua religião. Para M., cozinheiro
que mora em Lagoa Santa, tanto a taqiyah quanto o kanzu brancos, que utilizava na Tanzânia,
são peças obrigatórias. Não as utiliza, contudo, para evitar ser alvo de perseguição. O
entrevistado senegalês O., professor de francês, contou que raramente usa a taqiyah, mas já
vestiu, no trabalho e na rua, outras roupas de sua terra, como kaftan ou boubou. O. vê na falta
de contato com muçulmanos, como muitos outros entrevistados, a fonte do estranhamento:
As pessoas perguntam se eu sou padre. Porque é bordada aqui, às vezes na frente, assim, sabe?
Igual as roupas que os padres usam pra celebrar missa. Então as pessoas acham, aí eu explico,
“não, sou muçulmano”. E na rua também quando você anda com ele… Eu pego o ônibus, cê vê
que o olhar é diferente. Mas, pra mim, é curiosidade. Eles não sabem do que se trata essa
roupa, por que essa roupa, e ninguém se aproxima pra perguntar também. [...] Eu acho,
também, que isso é mais voltado pra tradição, sabe? Pra conservar nossa tradição. Porque,
antes de ter a colonização, de ser colonizado pelos europeus, essa roupa que a gente conhecia.

O uso da taqiyah é mais comum entre os brasileiros convertidos. Algumas reações


negativas, segundo brasileiros que utilizam a vestimenta o tempo todo, podem ser o deboche,
o riso, o afastamento e xingamentos, como “homem bomba”, “terrorista” ou “bin Laden”. J.,
de 34 anos, utiliza a taqiyah na mesquita e em locais públicos, mas não no trabalho, pois ele
precisa do dinheiro para sobreviver e “pode haver repulsa” por parte das outras pessoas. Para
ele, a taqiyah é “como um capacete”, fonte de proteção e identificação. Apesar de geralmente
notar reações de curiosidade ao vestí-la, já foi repreendido uma vez:
Eu tive uma breve experiência assim, mas foi com a minha mãe. Ela me viu, não foi só com a
taqiyah, ela me viu com a roupa e ela falou assim “não, não dá pra você viajar assim”. Quer
dizer, tava dentro do carro, eu falei “ah, vou como muçulmano”, pensei né, cogitei. Aí ela não
concordou, aí eu peguei e obedeci ela. Eu falei, “constrangi ela”, pensei que não tava fazendo
nada de ruim. Deixar de constranger ela já é uma caridade da minha parte, é um papel islâmico,
entendeu?

Nenhum dos homens reportou casos de agressões físicas, apenas verbais, vindas de
desconhecidos na rua e em mídias digitais, ou mesmo de professores, colegas e da família. Na
maioria dos casos, no entanto, a religião pouco afeta relações mais próximas. É quando têm
que realizar, em público, alguma das cinco orações diárias do islã, que muitos notam
discriminação por parte de não muçulmanos. V., médico sírio convertido, sempre leva um
tapete em sua pasta, e costuma ignorar provocações ao orar em público. Acredita que a
distância, muitas vezes estratégia de defesa, pode contribuir ao preconceito:
O muçulmano, ele não consegue transmitir pra opinião pública de uma forma geral, toda a
opressão, toda a pressão, todo o extermínio que é causado e é transformado nas atitudes que as
pessoas vêem e que a mídia publica. [...] Quando as mentalidades tacanhas do mundo islâmico
começarem a se abrir pra mostrar pras pessoas que as atitudes são respostas a coisas que… ao
massacre físico e psicológico praticado contra o mundo muçulmano, e ele responde dessa
maneira, aí eu acredito que essa visão se modifique um pouco. Infelizmente filho, hoje em dia,

16
as grandes… as lideranças do mundo islâmico, essas lideranças se preocupam tanto em
segurar… em não perder as rédeas do mundo islâmico, que eles esquecem que nós poderíamos
ter uma visibilidade maior, melhor, se nós nos abríssemos mais.

S., brasileiro convertido, escolhe bem onde fazer suas orações: “Pra me proteger,
dependendo do local, eu evito. Por exemplo, em casa, com os meus familiares, eu não faço.
Salvo com alguns familiares que eu confiei em contar.” Durante muito tempo, orava atrás de
uma pista de skate, onde nunca foi incomodado. Teve menos sorte em outros lugares: “...eu
cheguei a terminar a oração mas depois eu fui obrigado a me retirar e não fazer novamente
naquele local. Foi no Museu Público da Lagoa da Pampulha, por um guarda municipal.”
Depois de sofrer represália semelhante, G. desistiu de orar em público:
Cara, pra ser sincero, agora eu tô evitando isso. No início, eu tava na prefeitura, ano de 2012,
alguma coisa assim, 2011. Bem recente quando eu vim. Eu fui pra fazer oração, porque não
tinha tempo pra chegar em casa pra rezar. O tempo da outra oração ia chegar, então falei, não,
eu vou rezar aqui. Então eu comecei a rezar, depois o guarda municipal chegou, eles tavam
muito alterados. Então, depois eu comecei a rezar, eu parei, conversei com eles, “tô fazendo
oração, sou do Egito, não sei o que e tal”. Falou, “oh, aqui não é lugar de oração, não”. É... não
quis discutir com ele mas eu fiquei muito chateado. Fui na delegacia, fiz ocorrência, mas
depois eu deixei por isso mesmo, sabe? Deixei pra lá. Mas eu sei que num lugar público você
pode fazer qualquer coisa que não seja prejudicando os outros. Então eu achei a reação desse
policial, ela era policial, dessa mulher lá, bem… Às vezes tem algumas pessoas estranhas aqui
no meio, sabe? Depois, realmente, depois deixou marcado comigo pra eu evitar rezar na frente
das pessoas.

L., que vive em Vespasiano e sempre se veste de forma tradicional, diz que o
preconceito “acaba acontecendo muito porque é muito evidente, eu vou num supermercado
vestido desse jeito sofro muitos olhares, muitas piadinhas”. Ele não se vê, contudo, como o
único alvo do ódio que se prolifera no Brasil, afirmando que o brasileiro é historicamente
preconceituoso em termos raciais, de gênero, de orientação sexual, e que “o radicalismo das
pessoas tem aumentado muito”. C., tradutor autônomo de 47 anos, convertido, diz sentir falta,
em Belo Horizonte, de uma junta de advogados muçulmanos, como existe em São Paulo. Ele
também chama atenção para o crescimento, historicidade e abrangência do ódio no país:
Hoje tá virando moda odiar, quer dizer, nós estamos num tempo bem sinistro, a gente entrou
numa era sinistra, né? [...] A lava tava lá, concentrada, então entrou em erupção um vulcão, as
pessoas tão mostrando o que elas são. A gente é um país extremamente racista, xenófobo, se
diz caridoso, mas não é caridoso ovo nenhum, nada, bulhufas, certo? É pelo contrário, bem
egoísta o nosso país, individualista. Mas isso daí tem explicação social… isso aí é construção
de anos, né? Mas que tá aumentando? Sim, sim, porque tá na moda mostrar, mostrar aquilo que
tu é. Então tá aumentando sim, pra todos, todos, não é só pra nós, pra todos.

Referências

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