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EM DEFESA

D0 SOCIALISM0
CIENTÍFIC0
J. Stálin
PODE 0 PARTIDO
DEGEMRAR?*
(Extrato de "Perguntas e respostas", na
palestra proferida na
Universidade Sverdlov, 9 de junho de 1925)

Pcrgunta - Quais são os perigos de dcgenerescência do nosso


Pmdo caso a cstabilização do capitalismo se prolongue?
Resposta - Existcm rcalmentc esscs perigos?
Sim` é indiscutívcl quc existcm c são bcm rcais. Elcs cxistem
=dcpcndcntcmcnte da estabilização, que apenas os torna mais palpá-
TCL<. Eis` em minha opinião, os três perigos principais:

a) o pcrigo dc pcrdcrmos a pcrspcctiva socialista no trabalho


dc cdificação do nosso pa'i`s c, em conseqüência, o perigo de aparccer
•|im tcndência dc liqridação das conquistas da rcvolução;
b) o perigo de perdcr a perspectiva revolucionária internacional
c. portanto, o perigo de aparecimcnto do nacionalismo;
c) o pcrigo de enfraquccer a direção do Partido c, portanto, a
pmçibilidadc de o Partido se transformar num apêndice do aparclho
cstatal.
Comeccmos pclo 4#.%Gj.ro desscs perigos.
Ele caractcriza-sc pela fdta dc confiança nas forças internas da
nossa revolução; pela fdta dc confiança na aliança entre os opcrários
c os camponcses e no papel dirigcnte do prolctariado ncssa aliança;
*la falta dc confiança na transformação da "Rússia da NEP" em
iússia socialista; pcla falta de confiança na vitória da construção socia-
iis{a no nosso país.
Esta é a via do liquidacionismo e da degenc[ação, porquc leva
à liquidação dos princípios c objctivos da Revolução de Outubro, à
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dcgeneração do Estado proletário num Estado dcmocrático-burguês.


A origem desta mcntalidade, o terrcno que Lhc permite desen-
volvcr-sc dentro do Partido, é o rcforço da influêncja burgucsa sobre
o Partido nas condições da Nova Política Econômica e da luta descs-
perada cntrc os elementos capitalistas c os elcmentos socialistas no
scio da nossa cconomia. Os clementos capitalistas não lutam apenas
no domínio econômico; tcntam transpor a luta para o domírio da
ideologia prolctária, procuram inuoduzif nos nossos destacamcntos
mcnos firmcs a fdta dc confiança na possibilidadc dc construir o so-
cialismo, o ccticismo em rclação às perspectivas socialistas do nosso
trabalho dc cdificação; c não sc podc dizer quc os scus esforços te-
nham sido completamcnte estércis.
` `Como podc um país atrasado como o nosso cdificar o socialis-
mo integral" , dizcm alguns dcsses comuristas contaminados. "0 cs-
tado das forças produtivas no nosso país não nos permite aspirar a
objctivos tão utópicos. Procurcmos mantcr-nos no podcr como puder-
mos c dcixcmos de sonhaJ com o socialismo. Façamos o que é possÍ-
vcl dc momcnto c dcpois sc vcrá. ' '
Dizem outros: ``/á cumprimos a nossa missão rcvolucionária
ao fazcr a Revolução de Outubro. Agora tudo dcpendc da revolução
intcmacional,porquc scm a vitória do prolctariado do Ocidentc não
podcremos construir o sociàLismo. Para dizcr a vcrdade, um rcvolucio-
nário já não tcm mais nada a fazer na Rússia..." Como se sabc, em
1923, às vésperas da revolução na Alcmanha, uma parte da juvcntu-
de das nossas escolas cstava disposta a abandonar os livros c par[ir pa-
ra a Alemanha, considerando que um revolucionário já nada tinha a
fazcrnaRússiacqueoseudevcrcrairfazcrarcvoluçãoparaaAlcmanha.
Como vêcm, tanto um como outro destcs dois grupos dc comu-
nistas negam as potcncialidades socialistas do nosso trabalho dc cons-
trução, adotam uma posição liquidacionista. A difercnça cntrc elcs
consiste em quc os primeiros cobrem o scu liquidacionismo com a te-
oria pseudocicnt'fica das "forças produrivas" (não foi por acaso que
Miliukov os clogiou, há dias, no seu "Poslicdnie Novosti", como
``marxistas sérios"), ao passo quc os scgundos cobrcm o seu liquida-
cionismo com frases de csqucrda e "terrivclmente revolucionárias"
accrca da revolução mundial.
Com cfcito, admitamos quc um rcvolucionário nada tenha a
fazcr na Rússia; admitamos quc seja inconccbívcl e impossívcl cdifi-
car o socialismo no nosso pai`s antcs da vitória nos outros paíscs; ad-
mitamos quc a vjtória do socialismo nos países avançados só surja da-
qui a dcz ou vintc anos. Podc-se acrcditar que, ncstas circunstâncias,
com o pai`s ccrcado por Estados burguescs. os elcmentos capitalistas
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da nossa economia consíntam cm parar a sua luta sem tréguas contra


os elcmentos socialístas e esperem, de braços cruzados, o triunfo da
revolução mundial.? Basta colocar esta suposíção para ver todo o seu
absurdo. Mas, ncsse caso, o que resta para fazer aos nossos "marxís-
tas sérios" e aos nos5os "tcrríveís rcvolucionários? Obviamcntc, não
lhes resta senão scguir a corrente c degcnerar pouco a pouco em vul-
garcs democratas burgucscs.
Das duas uma: ou nõs considcramos o nosso país como a basc
da revolução mundíal, possu'imos. como dísse Lênin, tudo o que é
necessário à constmção dc uma socíedade socialísta íntegral - e, nes-
se caso, podemos e dcvcmos construir cssa sociedade, na perspectíva
de uTa vítõria complcta sobre os clementos capítalistas da nossa eco-
nomia; ou então não consíderamos o nosso país como a base da revo-
1ução mundíal, não temos as condíções neccssárias à construção do
socialismo, e'-nos impossível construí-lo - e, nesse caso, se a vítória
do socialismo nos outros paíscs demorar, tercmos que nos resignar
com a perspectíva de os elemcntos capitalistas da nossa cconomia lc-
vantarem a cabeça, dc o fcgime dos sovietes entrar em dccadêncía,
de o Partjdo degenerar.
Ou uma coisa ou a outra.
É por isso quc a fàlta de confiança nas potencialídades socialís-
tasdonossotrabaJhodeconstruçãolcvaàlíquidaçãoeàdegcnerescêncía.

fa.meÉd,pa::.âsoonqous:oaíu=a.á:::roab:epmeàigon,:qpue.rdí:à.:na.ts:adcí:nmqau;:,c;
durar a estatízação tcmporária do capitalismo.
Passemos ao JGg##Jo Perigo.
Ele caractcrizaft pela fálta de confiança na revolução proletária
mundial, na sua vitória; frita de confiança no movimento dc liberta-
ção nacíonal das colônías e nações depcndcntcs; pcla incomprcensão
dc que, sem o apoio do movimento revolucionário internacional, o
nosso país não teria podido rcsistír ao imperialismo mundial; pela in-
compreensão de quc a vítória do socialísmo num país ísolado não po-
de ser definitíva porquc está à mcrcê dc uma intcrvenção cnquanto
a revolução não tíver triunfado pelo menos em vários outros países;
pcla incompreensão da base do internacíonalísmo, que exíge quc o
triunfo do socíalismo num pai's não scja um fim cm si, mas um meío
de dcscnvolver ç apoiar a rcvolução noutros países.
Essa c` a via que lcva ao nacionalismo. à dcgenercscência, à li-
quidaçãototstdapolíticaintemacionddoproletariado,porqueaque-
lesquesãoafctadospor.essadoençaconsideramonossopaís,nãoco-
mo uma parte do movimento revolucíonário íntcrnacional, mas co-
mo o príncípio c o fm desse movimento, considcram que os íntcres-
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ses de todos os outros países devem ser sacrificados aos interesses do


nosso país.
Apoiar o movimcnto de libcrtação nacíonal da China? Para quê?
Não scrá isso perigoso? Não nos trará complícações com outros países?
Não será mclhor estabeleccr ` `esfcras de influência' ' na China de acor-
do com outras potências "civilízadas" e apanharmos uma partc des-
se país? Isso traria vantagens e não arriscaríamos nada... Apoiar o
movimento de emancipação na Alemanha? Valerá a pena? Não seria
melhor entrar cm acordo com os Aliados accrca do tratado de Vcrsa-
lhes e obtcr uma compensação? Manter a amizade com a Pérsia, Tur-
quia, Afeganistão? Não nos scria mais vantajoso abdicarmos dela?
Não seria melhor restabelcccr as "csferas de influência" de acordo
com uma ou outra das grandcs potências? E assím por diantc.
Esta é uma mentalidade nacionalista dc novo tipo que tenta li-
quidar a polítíca externa da Revolução de Outubro e onde sc desen-
volvem à vontade os elcmentos de degcnercscência.
Enquanto o primeiro pcrigo, o perigo de liquidacionismo. sur-
ge da influência burguesa sobrc o Partido no terreno da política intcr-
na, no terrcno da luta entre os elementos capítalistas e socialistas na
nossa economia, a origcm do scgundo perigo, do perigo de naciona-
lismo, cstá no reforço da influência burguesa sobre o Partido no tcrrc-

:oonã:zpcoáít;:à,c,:t:rÊ::aà:àe.rrá.::ddu:alàt.apq.::c::..Fasá:doÉsfc.a.:itda:iàtu=
vída que a prcssão dos Estados capitalistas sobre o nosso Estado é enor-
me, que os fimcionários do nosso Comissariado dos Negócios Estran-
gciros nem sempre lhe conscgucm resistir e, pelo reccio de complica-
ções internacionais, são tentados muitas vezes a seguir o camínho da
mcnor resistência, o caminho do nacionalismo.
É evidentc que, só na base do intcrnacionalismo conseqüente,
da política cxterna da Rcvolução de Outubro, pode o primeiro Esta-
do prolctário continuar scndo o porta-bandcira do movimento revolu-
cionário mundial; c é claro que a linha da mcnor rcsistência e do na-
cionalismo em política cxtcrna significa o isolamento e a decomposi-
çãodoÉPpaoí:fs:opáíu:eír:urseêvnocl|paçàoevui:o:í:scar.spectiv-evo|ucionáriain-

tcrnacional leva ao pcrigo do nacionalismo e da dcgcnerescência.


É por isso que a luta contra o perígo do nacionalismo na políti-
ca extcma é uma das tarcfas imediatas do Partido.
Passemos finalmcntc ao /é7rcG;.ro perigo.
0 scu traço caracteristico é a fdta de confiança nas forças inter-
nas do Partido e o seu papcl dirigcnte; a tcndência do aparelho de
Estado para enfraqueccr a dircção do Partido, para se emancipar dc-
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1a; a incompreensão dc quc, sem a dircção do Partido Comunista,


não pode exístir ditadura do proletariado.
Esse perigo ameaça-nos de três lados.
Primciro, as classes quc tcmos de dirígír modificaram-sc. Os
opcrários c os camponeses já não são os mesmos do período do comu-
nísmo de guerra. Antes, a classe opcrária estava desorganizada e dís-
persa, os camponeses estavam dominados pclo medo do rcgrcsso dos
senhores da terra em caso dc dcrrota na gucrra civil, e o Partido, úni-
ca força centralízada, governava em estilo mílitar. Agora a situação é
outra. já não há guerra. Portanto, o perigo cminente que agrupava
as massas trabalhadoras à volta do nosso Partido já não existe. 0 pro-
Ictariado recompôs-se e elevou o scu nível matcrial e cultural. Os cam-
poncses também se desenvolveram e cducaram. A atividade política
de ambas as classes cresceu e continuará a crescer. Já não podcm scr
governadas em cstilo militar. Em primeiro lugar, é necessária a maior
flcxibilídade nos métodos de dircção. Em segundo lugar, é preciso
dar extrema atenção às necessidades e aspirações dos operários e cam-
poneses. Em terceiro lugar, é preciso saber chamar ao Partido os ope-
rários e camponeses que surgem na vanguarda devido ao desenvolvi-
mento da atividade política destas classes. Mas, como sabemos, essas
qualídades e condiçõcs não se adquircm de um dia para o outro.
Daí o desnívcl cntrc o que se exige do Partido e aquilo que elc po-
de dar neste momcnto. Daí também o perigo de cnfraquecimento
da atividade dirigente do Partido, o perigo de o Partido perdcr o pa-
pel dírigente.
Em segundo lugar, é de notar que ncstcs últimos tcmpos, du-
rante o período dc desenvolvimento econômico, os aparclhos das or-
ganjzações estatais e públícas se alargaram consideravelmentc e se for-
taleceram. Os trusts e sindicatos, os organismos de comércio e crédi-
to, as organizações administrativo-políticas, culturais c cducativas e,
por último, as cooperativas de todos os gêncros, cresceram e alargaram-
se ipuito, recrutando centenas de milhares de novos trabalhadores, a
maior partc deles sem par[ido. E esses aparelhos não aumentaum sõ
numeTicamcnte;oscTpodereinfluênciaaumentamtambém.Equan-
to mais cresce a sua importância, maís sensível se torna a sua pressão

à:rbi:ec:tep#dpoi:::=::::e:sisut:nrcelsais:::::ama:¥ràqiàcoc.erÉopfcac:seo|
proccdcr a um rcagrupamcnto das forças e a uma distribuição dos ele-
mcntos dirigcntes por esscs apafelhos, de forma a assegurar a dircção
do Paftido na situação nova em quc nos encontramos. Mas isso não
se conscguc dc repcnte. Daí o perigo de que o aparelho de Estado
se desligue do Panido.
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Em tercciro lugar, o prõprio trabalho se tornou mis complica-


do c variado. Falo do nosso trabalho atual de cdificação. Setorcs in-
teiramcnte novos dc atividadc surgiram nas cidadcs c nos campos,
obriga.ndo a dircção a tornar-sc maís concrcta. Antcs cra habitual fa-
lat-sc dc di[cção ``cm gcral". Agora, a dircção "cm gcral" não pas-
sa dc palavrcado quc nada dirigc. Hoje exigc-sc uma dircção concrc-
ta, espccífica. 0 período antcrior criou uma espécic de militante do
tipo sabe-tudo, pronto a rcspondcr a qualqucr qucstão teórica ou prá-
tica. Agora, csse tipo dc militante dcvc ccder o lugar a um novo ti-
po dc militantc, capaz de se tornar conhcccdor dc um dado ramo
da atividadc. Para dirigir efetivamente é preciso conhccer a fi]ndo o
seu sctor dc trabalho, cstudá-lo conscienciosamcnte, com paciência c
perscvcrança. Não se pode dirigir no campo scm conhcccr a agricultu-
ra. as cooperativas, a política de preços, scm tcr cstudado as lcis que
respcitam dirctamcnte ao campcsinato. Não se podc dirigir na cida-
dc sem conhecer a indústria, as condiçõcs de vida dos opcrários, as
suas rcivindicaçõcs c aspirações, scm conhecer tudo o que se relacío-
na com os sindicatos, as cooperatívas c associaçõcs. Infclizmcnte. to-
dos esscs conhecimcntos não sc adquirem num abrir e fcchar dc olhos.
PaJa elevar a ação dírigcnte do Partido ao nível exigido, é necessário
antcs dc tudo clcvat a prcparação dos militantes do Partido. Mas não
é fácil clevá-la rapidamcnte. Ainda pcrsistem nas orgarizações do
Parçido os antigos hábitos dc dar ordcns a torto e a dircito em vcz
dc. cstudar as qucstões. É por isso que a chamada ação dirigcntc do
Partido degencra por vczcs num ridículo arnontoado dc ordens pcr-
fcitamentc inúteis, numa "dircção" vcrbal, puramcntc imaginária.
Essc é um dos pcrigos mais sérios de cnfraquccimcnto e dcsaparição
da dircção do Partido.
São estas, de modo gcral, as razões por quc o pcrigo de o Parti-
dopcrÉc;;r¥sc;ã:j=::::íra::ur:cs#uetn.to.:ndterãc:scsrc=::icgi::-oupm¥áo±
tarcfas imediatas do nosso Partido.

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