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4.

PÓRTICOS PLANOS ISOSTÁTICOS

4.1 INTRODUÇÃO
Pórticos planos são estruturas que se desenvolvem em um plano, com cargas atuando nesse mesmo
plano. Podem também atuar vetores momento orientados de forma perpendicular ao plano da estrutura. As barras
são conectadas entre si por nós elásticos. Por vezes são chamados quadros planos.
Existem quatro tipos fundamentais de pórticos isostáticos planos, aos quais chamamos pórticos simples
ou quadros isostáticos planos, quando ocorrem isoladamente. Quando associados entre si, da mesma forma com
que associamos vigas simples para constituir as vigas Gerber, dão origem aos chamados pórticos múltiplos ou
quadros complexos. São os seguintes os pórticos simples isostáticos:

Bi-apoiado engastado-livre

Triarticulado Bi-articulado com tirante ou escora

A seguir se mostra alguns exemplos de pórticos múltiplos.


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Nem toda associação de pórticos simples leva a um pórtico múltiplo. É necessário que se tenha
estabilidade. E nesta disciplina ainda temos a restrição que o pórtico resultante deve ser isostático. Portanto,
antes de passar ao estudo dos pórticos planos é conveniente que se tenha como determinar a estaticidade das
estruturas planas.

4.2 ESTATICIDADE DAS ESTRUTURAS PLANAS

Antes de iniciar o estudo das linhas de estado dos pórticos simples, trataremos da determinação do grau
de hiperestacidade de estruturas reticuladas planas. Essa será a ferramenta que permitirá classificar as estruturas
reticuladas em hipo, iso e hiperestáticas.
Considere-se uma barra no plano, tratada como corpo rígido. Os movimentos possíveis dessa barra no
plano podem ser descritos por 3 valores para um dado ponto da barra: duas translações em direções
perpendiculares δx e δy e uma rotação Φ em torno de um eixo perpendicular ao plano. Diz-se então que essa barra
apresenta 3 graus de liberdade (GL) de movimento.

Se a estrutura possuir n barras, terá então 3n graus de liberdade. Estes graus de liberdade devem ser
impedidos, para que tenhamos estabilidade, ou seja, capacidade de resistir a carregamentos sem mudança
significativa na forma. Seja N o número de movimentos que a vinculação é capaz de impedir. Classificaremos as
estruturas em função da relação entre N e 3n, chamada de grau de hiperestaticidade. Antes, vamos definir o
chamado grau de hiperestaticidade.

g = N − 3n grau de hiperestaticidade, onde n = número de barras


N = número de GL restringidos

Em função do valor de g, três situações se apresentam. Se g < 0, a estrutura será dita hipostática. A
vinculação não é capaz de restringir todos os graus de liberdade da estrutura, e a estrutura é instável. Quando g =
0, a estrutura é dita isostática, ou seja, a vinculação é tal que consegue restringir todos os graus de liberdade da
estrutura, sem que haja “excesso” de vínculos. As estruturas isostáticas são estáveis, e suas reações de apoio
podem ser determinadas apenas com o uso das equações de equilíbrio da estática. Se g > 0, a estrutura será
classificada como hiperestática, sendo também estável.
Para restringir os graus de liberdade das barras, empregam-se dois tipos de vinculação: uma vinculação
interna, que liga uma barra a outra ou a outras, e uma vinculação externa, que liga barras ao solo ou a outra
estrutura de suporte.
A vinculação interna (ligação entre barras) se dá por meio de nós, que podem ser de dois tipos: elásticos
ou articulados, como se vê na figura a seguir.

Nó elástico Nó Articulado
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Um nó articulado é um nó que garante que todas as barras a ele conectadas experimentam as mesmas
translações. O nó elástico garante que as translações e as rotações das barras a ele conectadas são as mesmas. Do
ponto de vista da transmissão de esforços de uma barra para as outras, o nó articulado transmite forças entre as
barras a ele conectadas. O nó elástico, além de transmitir forças, transmite também momentos.
A vinculação externa mais empregada para estruturas planas é mostrada a seguir, juntamente com a
representação utilizada, reações vinculares associadas e graus de liberdade restringidos.

Para estruturas com apenas uma barra, a determinação do grau de hiperestaticidade é direta, pois o
número de graus de liberdade restringidos será calculado apenas a partir da vinculação externa.

g = N - 3n = 3 - 3 = 0 isostática

g = N - 3n = 3 - 3 = 0 isostáticas
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g = N - 3n = 4 - 3 = 1 x hiperestática

g = N - 3n = 5 - 3 = 2 x hiperestática

g = N - 3n = 6 - 3 = 3 x hiperestática

As estruturas a seguir, apesar de apresentarem g ≥ 0, apresentam uma vinculação cuja disposição é


incapaz de restringir todos os graus de liberdade, sendo portanto instáveis.

g = N - 3n = 3 - 3 = 0 isostática ????

g = N - 3n = 4 - 3 = 1 x hiperestática ????

4.2.1 Estruturas planas abertas constituídas por várias barras: para estruturas com várias barras, é necessário a
consideração dos graus de liberdade restringidos pelas ligações internas entre as barras da estrutura. Considere-se
duas barras

Pode-se dizer que se cada barra possui três graus de liberdade, o sistema acima à esquerda formado por
duas barras possui 6 graus de liberdade. Unindo-se as duas barras através de um nó articulado, como na figura
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anterior à direita, passa-se a um sistema que admite duas rotações e apenas duas translações. Assim, o nó
articulado suprimiu as 2 translações de uma das barras. De maneira genérica, um nó articulado ao qual se
conectem m barras restringirá 2(m-1) graus de liberdade.

Nó articulado - n° de GL impedidos = 2(m-1)

O nó elástico, além de restringir translações, restringe também as rotações. Assim, para um nó elástico
ao qual se conectam p barras, o número de graus de liberdade restringidos é de 3(p-1).

Nó elástico - n° de GL impedidos = 3(p-1)

No caso de estruturas planas abertas constituídas por mais de uma barra, o fator N do grau de
hiperestaticidade g será a soma dos graus de liberdade restringidos pela vinculação externa com os graus de
liberdade restringidos pela vinculação interna, ou seja, pelos nós.

t s
N = [3e + 2 r + a ] + ∑
i =1
2(m − 1) + ∑ 3( p − 1)
j =1
onde
e - número de engastes
r - número de apoios duplos
a - número de apoios simples
t - número de nós articulados
m - número de barras que concorre ao nó articulado em questão
s - número de nós elásticos
p - número de barras que concorre ao nó elástico em questão
O cálculo do grau de hiperestaticidade fica dado então por
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t s
g = [3e + 2r + a] + ∑ 2(m − 1) + ∑ 3( p − 1) − 3n
i =1 j =1

4.2.2 Estruturas planas fechadas constituídas por várias barras: caso a estrutura seja “fechada”, ou seja, apresente
em seu interior triângulos ou quadrados, valem as considerações anteriores, devendo-se ainda analisar a
estaticidade externamente (ligações à base) e internamente (ligações entre componentes). O grau de
hiperestaticidade g será expresso como a soma do grau de hiperestaticidade externo ge mais o grau de
hiperestaticidade interno gi.

g = ge + gi

O grau de hiperestaticidade externo ge é dado por

g e = [3e + 2r + a ] − 3

enquanto que o grau de hiperestaticidade interno será obtido a partir de g e ge.

gi = g − ge

As estruturas poderão então serem classificadas quanto às estaticidades interna e externa. Então,

ge < 0 estrutura externamente hipostática


ge = 0 estrutura externamente isostática
ge > 0 estrutura externamente hiperestática

gi < 0 estrutura internamente hipostática


gi = 0 estrutura internamente isostática
gi > 0 estrutura internamente hiperestática

A seguir, apresentam-se alguns casos, iniciando com estruturas abertas e depois passando às fechadas.

N = 3 + 1 + 3 + 3 = 10
n=3 3n = 9

g = 10 - 9 = 1 x hiperestática
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N=1+2+3+2=8
n=3 3n = 9

g = 8 - 9 = -1 hipostática

N = 1 + 2 + 3 + 2 + 6 = 14
n=4 3n = 12

g = 14 – 12 = 2 x hiperestática

N=1+2+1+3+2=9
n=3 3n = 9

g=9-9=0 isostática ??????

Na estrutura anterior, apesar do resultado obtido para g, o tramo vertical direito é deslocável, pois se lhe
for aplicada uma carga horizontal, haverá movimento em torno da rótula. Portanto, a estrutura é instável. A
seguir, apresenta-se a determinação da estaticidade para algumas estruturas fechadas.

N = 3 + 3+ 2*(4) + 2*(2) = 18

n=6 3n = 18

g = N - 3n = 18 - 18 = 0 isostático ??????????

ge = (3e+2r+a)-3 = 3 + 3 - 3 =3x ext. hiperestático

gi = g - ge = 0 - 3 = 3x hipostático internamente

INSTÁVEL !
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Na estrutura anterior, apesar do g resultar igual a zero, o que indicaria uma estrutura isostática, a
estrutura será dita instável. Com efeito, percebe-se que o quadro superior é deformável. O valor nulo obtido para
g deve-se ao fato de numericamente a hiperestaticidade externa ter compensado a hipostaticidade interna.
Algumas vezes a hiperestaticidade externa consegue realmente compensar a hipostaticidade interna levando a
uma estrutura estável. Observe o caso a seguir, semelhante ao caso anterior. A diferença é que a vinculação foi
alterada, de forma a eliminar a deformabilidade do quadro superior. Os cálculos não são alterados, e no entanto
agora a estrutura é estável, pois não se identifica nenhum trecho deformável. Fica então a conclusão que não
basta a determinação da estaticidade através das expressões vistas, sendo necessária ainda uma análise no sentido
de identificar a presença ou não de regiões deformáveis na estrutura.

N = 3 + 2 + 1+ 2*(4) + 2*(2) = 18

n=6 3n = 18

g = N - 3n = 18 – 18 = 0 isostático

ge = (3e+2r+a)-3 = 3 + 2 + 1 – 3 = 3x ext. hiperestático

gi = g - ge = 0 - 3 = 3 x hipostático internamente

N = 3 + 3+ 2*(3) + 4*(6) = 36

n=9 3n = 27

g = N - 3n = 36 - 27 = 9x hiperestático

ge = (3e+2r+a) - 3 = 3 + 3 - 3 = 3x ext. hiperestático

gi = g - ge = 9 - 3 = 6x hiperestático internamente

N = 3 + 3+ 2*(6) + 4*(2) = 26

n=8 3n = 24

g = N - 3n = 26 - 24 = 2 x hiperestático

ge = (3e+2r+a)-3 = 3 + 3 - 3=3x ext. hiperestático

gi = g - ge = 2 - 3 = -1 x hipostático internamente
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N = 2 + 1+ 3*(2) + 2*(6) = 21

n=7 3n = 21

g = N - 3n = 21 - 21 = 0 isostático

ge = (3e+2r+a) - 3 = 2 + 1 - 3 = 0 ext. isostático

gi = g - ge = 0 – 0 = 0 isostático internamente

É possível tratar a mesma estrutura fazendo o cálculo de uma forma um tanto diferente, conforme
abaixo. Claro, o resultado deverá ser o mesmo.

N = 2 + 1+ 3*(2) = 9

n=3 3n = 9

g = N - 3n = 9 - 9 = 0 isostático

ge = (3e+2r+a)-3 = 2 + 1 - 3 = 0 ext. isostático

gi = g - ge = 0 – 0 = 0 isostático internamente

N = 3 + 3 + 3*(2) + 2*(3) = 18

n=5 3n = 15

g = N - 3n = 18 - 15 = 3 x hiperestático

ge = (3e+2r+a)-3 = 3+ 3 - 3 = 3 x ext. hiperestático

gi = g - ge = 3 – 3 = 0 isostático internamente
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4.3 TRAÇADO DAS LINHAS DE ESTADO (DIAGRAMAS)

Para resolver um pórtico simples usamos as mesmas equações de equilíbrio empregadas na solução das
vigas, ou seja:

∑ Fx = 0

∑ Fy = 0

∑ Mz = 0

Ao contrário das vigas, quase que invariavelmente nos pórticos o esforço normal estará presente, devido
à geometria não retilínea. O roteiro de solução de um pórtico simples passa então por:

• determinação das reações de apoio (via equações de equilíbrio)


• montagem do diagrama de cargas
• determinação dos esforços seccionais N, V e M
• traçado dos diagramas de N, V e M

A convenção a ser empregada no traçado dos diagramas é semelhante à empregada no caso das vigas,
com algumas adaptações. O momento fletor será graficado sempre do lado tracionado da peça. O esforço normal
será definido pelo sinal, se positivo tração, se negativo compressão. Pode ser traçado de um lado ou de outro da
barra. O esforço cortante nas barras horizontais e com mediana inclinação segue a convenção das vigas, com
esforço cortante positivo desenhado acima da barra e negativo abaixo. Para barras verticais é conveniente
considerar um observador situado à direita do pórtico, para quem a “parte inferior” corresponde ao lado direito
das barras verticiais. Então os esforços cortantes negativos serão desenhados à direita da barra e os positivos à
esquerda. Essa é a convenção empregada por Süssekind, não sendo a única. Outros autores (Oliveira e Gorfin)
adotam a chamada convenção do “boneco de Kleinlogel”, que consiste em considerar um observador no interior
do pórtico. Para esforço normal e cortante, os valores negativos serão desenhados no interior do pórtico. O
momento fletor continua sendo desenhado do lado das fibras tracionadas. Recomenda-se o emprego da
convenção adotada por Süssekind. A seguir, apresenta-se alguns casos resolvidos.

EXEMPLO:

a) Reações de apoio:

ΣFx=0 Ax=0

ΣFy=0 Ay + Dy - 10kN/m*3m = 0

ΣMzA=0 3m*Dy - 1,5m*10kN/m*3m = 0

Dy = 15 kN Ay = 15 kN
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b) Diagrama de cargas:
c) Cálculo dos esforços:

Trecho AB
NAB = -15 kN (compressão)
VAB = 0
MAB = 0

Trecho BC
NBC = 0
VBC = 15 kN - 10 kN/m * x
MBC = 15kN * x - 10kN/m * x2 / 2

Trecho DC
NDC = -15 kN (compressão)
VDC = 0
MDC = 0

d) Traçado dos diagramas:


Trecho AB: NA = -15 kN; NB = -15 kN; VA = 0; VB = 0; MA = 0; MB = 0
Trecho BC: NB = 0; NC = 0; VB = 15 kN; VC = - 15 kN; MB = 0; MC = 0
Mmax = 10 kN/m * 3,0 m * 3,0 m / 8 = 11,25 kNm em x = 1,5 m.

Trecho DC: ND = -15 kN; NC = -15 kN; VD = 0; VC = 0; MD = 0; MC = 0


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4.4 PÓRTICOS MÚLTIPLOS

Os pórticos múltiplos são obtidos por associação de dois ou mais pórticos simples, de forma que a
estrutura resultante seja estável e isostática. Na sua solução, o primeiro passo é a determinação das reações de
apoio. Duas formas possíveis de determinação de reações de apoio se apresentam.
A primeira, através da decomposição do pórtico múltiplo, isolando os pórticos simples que lhe dão
origem. Após a identificação de que pórticos servem de apoio a outros, calcula-se primeiro os que se apóiam
sobre outros, fazendo a transferência de cargas, de forma completamente análoga à empregada na solução das
vigas Gerber.
A outra possibilidade é, analisando as rótulas, identificar os possíveis movimentos relativos entre as
partes da estrutura, e impor a condição para que tais movimentos de corpo rígido não ocorram, como também se
podia proceder nas vigas Gerber. A diferença é que no caso dos pórticos nem sempre é fácil ou mesmo possível
identificar os movimentos de corpo rígido que levam às equações adicionais de equilíbrio.
Como sugestão, sempre que o pórtico apresentar algum trecho “fechado”, é conveniente empregar a
decomposição. Tal procedimento facilita a determinação dos esforços em cada uma das barras pertencentes ao
trecho fechado, que podem então serem cortadas sem interferir nas demais.
Assim, para resolver um pórtico (determinar suas linhas de estado), sugere-se o seguinte roteiro:

• Calcular o grau de hiperestaticidade g. Três situações surgem:

g < 0 – hipostático, não deve ser empregado com função estrutural


g > 0 – hiperestático. Deve-se empregar métodos de solução para estruturas hiperestáticas.
g = 0 – isostático, prosseguir.

• Verificar a estabilidade.
• Determinar as reações de apoio. Como regra geral sugere-se empregar decomposição sempre
que o pórtico apresentar alguma região “fechada”.
• Determinar os esforços nas barras. Sugere-se determinar os esforços nos pontos onde houver
mudança da carga, rótula ou mudança de orientação das barras, e unir pontos subsequentes com
linhas dependentes do tipo de carregamento atuante no trecho.

4.5 PÓRTICOS COM BARRAS CURVAS

É relativamente freqüente em pórticos a presença de barras curvas, como se vê nas figuras a seguir.

Através do exemplo na figura acima à direita se mostra o equacionamento dos esforços em um pórtico
semi-circular sujeito a uma carga vertical centrada.

P
N s = − Ay cos θ = − cos θ
2

P
Vs = Ay senθ = senθ
2
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PR
M s = Ay (R − R cos θ ) = (1 − cos θ )
2

As equações anteriores são válidas para 0 ≤ θ < 90º, ou seja, imediatamente à esquerda do ponto C.
Devido à simetria de carregamento e da estrutura, os diagramas de esforço normal e momento fletor são
simétricos e o diagrama de esforço cortante é anti-simétrico.

É comum a representação do diagrama de momentos fletores em barras curvas utilizando-se como


referência uma reta horizontal que une o início e o fim do trecho curvo. Assim, para o caso anterior, resulta
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Observa-se que o diagrama de momento fletor de uma barra circular sujeita a carregamento vertical,
quando referido a uma linha horizontal, é idêntico ao de uma viga reta de vão igual à projeção da barra curva. Tal
característica somente se observa no caso do diagrama de momento fletor.
O exemplo a seguir mostra o traçado do DMF, usando como referência uma linha horizontal, para uma
barra curva genérica cujo eixo segue a equação y = f(x), quando sujeita a um par de forças horizontais nos
apoios.

M s = −1.y

O diagrama de momento fletor referido a uma linha horizontal coincide com o eixo da estrutura. Seja a
estrutura a seguir, sujeita a um carregamento genérico, composto de momentos nas extremidades do trecho curvo,
cargas horizontais nos mesmos pontos e carga vertical ao longo do trecho curvo.
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Aplicando o princípio de superposição dos efeitos, pode-se separar o carregamento em duas parcelas:
uma com o carregamento vertical e os momentos aplicados e a outra com os esforços horizontais impostos.

Determinado o momento fletor para cada parcela, soma-se essas contribuições para obter o momento
fletor final. Utilizar-se-á o diagrama de momentos fletores referido a uma linha horizontal.

Somando-se os diagramas parciais, obtém-se

O procedimento de empregar a linha horizontal como referência para o traçado de DMF em barras
curvas é reportado como sendo o mais simples. Salienta-se que tal artifício somente apresenta benefícios no caso
do traçado do DMF.
Tal procedimento é aplicável a um grande número de casos onde ocorrem barras curvas. Às vezes não
diretamente, mas sim após isolar o trecho curvo.
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4.6 ARCOS TRIARTICULADOS

O estudo dos arcos triarticulados sujeitos unicamente a cargas verticais pode ser feito recair no estudo
de uma viga bi-apoiada de substituição.
Seja o arco triarticulado da figura a seguir, submetido ao carregamento vertical indicado, para o qual
desejamos determinar as reações de apoio e os esforços atuantes.

Como A e B são apoios do segundo gênero, teremos 4 reações de apoio. Consideraremos em cada apoio
não duas reações de apoio ortogonais entre si, mas uma reação vertical e uma outra que se situa na direção da
linha que une os dois apoios A e B, como se vê na figura anterior. Passemos a seu cálculo.

ΣFx = 0 AX’cos α - BX’cos α = 0 e portanto AX’ = BX’ = H’.

As reações H’ na direção da linha que une os apoios são iguais nos dois apoios. Fazendo o somatório de
momentos no apoio B para toda a estrutura, obtém-se o valor da reação vertical no apoio A.

n
ΣM B
z =0 AY (L1 + L2 ) − ∑ P (L
i =1
i 1 + L2 − x i ) = 0

Verifica-se que as reações verticais AY e BY no arco são iguais às reações verticais Ay e By na viga de
substituição. O cálculo da reação H’ é feito considerando-se apenas os momentos das forças à esquerda da rótula
G. Assim,
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l
ΣM zG,esq = 0 AY L1 − ∑ P (L
i =1
i 1 − x i ) − H ' f cos α = 0

Observa-se que o termo que envolve as forças verticais é igual ao momento Mg no ponto g da viga de
substituição.

l
Ay L1 − ∑ P (L
i =1
i 1 − xi ) = M g

Assim, as reações de apoio no triarticulado são dadas em função de grandezas calculadas na viga de
substituição

Mg
H' =
f cos α

AY = Ay

BY = B y

onde as letras e índices minúsculos referem-se a valores da viga de substituição e as letras e índices maiúsculos
referem-se a valores do arco. Conhecidas as reações de apoio, é possível passar ao cálculo dos esforços.
Escolhendo uma seção S, definida pela abscissa horizontal x, medida a partir do apoio da esquerda, e
por uma abscissa vertical y, medida a partir da linha de fechamento AB, temos

j
N S = −(AY − ∑ P ) sen ϕ − H
i =1
i
'
cos( ϕ − α)

j
V S = ( AY − ∑ P ) cos ϕ − H
i =1
i
'
sen( ϕ − α)

j
M S = AY x − ∑ P (x − x
i =1
i i ) − H ' y cos α

onde j refere-se à última carga à esquerda do ponto onde se está considerando o cálculo de esforços.
Considerando os esforços na seção s da viga de substituição, correspondente à seção S do arco

j
V s = Ay − ∑P
i =1
i

j
M s = Ay x − ∑ P (x − x
i =1
i i )

ficamos com os esforços no arco dados por

N S = −V s sen ϕ − H ' cos(ϕ − α )

V S = V s cos ϕ − H ' sen(ϕ − α )

M S = M s − H ' y cos α
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sendo que todas as expressões permanecem válidas se ocorrerem cargas verticais distribuídas.

4.6.1 - Linha de Pressões: antigamente os materiais disponíveis (alvenaria, ferro fundido, pedras) resistiam muito
pouco à tração. A existência de momento fletor implica na existência de tração em algumas fibras da peça fletida.
A pergunta que surge então é a seguinte: Como vencer um determinado vão resistindo a um carregamento
vertical sem a presença de momento fletor, ou de forma que este seja o menor possível? Os arcos fornecem a
resposta.
Seja o seguinte problema: dado um carregamento vertical, a posição dos apoios e da rótula com relação
a estes (L1, L2, f e α), determinar a forma do arco para que não exista momento fletor. Tomando a equação de
momento fletor para um arco triarticulado e igualando seu valor a zero, temos que

Ms
y=
H cos α
'

é a solução para o problema, com y medido a partir da linha que une as duas rótulas externas do triarticulado.
Esta então é a equação da linha de pressões do carregamento, ou seja, da forma que um triarticulado deve ter
para que fique sujeito unicamente a esforços normais. Calculemos os demais esforços solicitantes para esta
configuração do triarticulado. Derivando a equação que define a linha de pressões do carregamento, temos que

dy V
= ' s
dx H cos α

Considerando a figura anterior, têm-se que

y = Y − y*

o que faz com que seja válida a relação

dy
= tan ϕ − tan α
dx

Vs
tan ϕ − tan α =
H cos α
'

e introduzindo este valor na equação do esforço cortante para o arco triarticulado

VS = H ' cos α (tan ϕ − tan α ) cos ϕ − H ' sen(ϕ − α )


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VS = H ' cos αsenϕ − H ' senα cos ϕ − H ' sen(ϕ − α ) = 0

ou seja, na ausência de momento fletor, o esforço cortante também é nulo, como era de se esperar.

O único esforço presente será o esforço normal. E como é o único, deve ser o vetor resultante da soma
vetorial dos esforços horizontais (H’cosα) e verticais (Vs + H’senα) de um lado da seção em estudo. Assim,

N S = (V s + H ' sen α ) 2 + ( H ' cos α ) 2


com

Mg
H' =
f cos α

sendo que o sentido, se tração ou compressão também pode ser obtido por análise vetorial. A tangente ao arco
pode ser obtida também da análise de vetores, resultando

V s + H ' sen α
tan ϕ =
H ' cos α
Observações:

a) No caso de os dois apoios se encontrarem no mesmo nível, as expressões ficam bastante simplificadas,
resultando

Mg
H' =
f

Ms
y=
H'
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Vs
tan ϕ =
H'

N S = Vs + H ' 2
2

b) Quando a rótula está acima dos apoios, para carga vertical de cima para baixo, o arco resulta comprimido.

c) Outra situação possível de análise é quando o arco se desenvolve abaixo dos apoios, resultando então
tracionado. É o caso dos cabos.

d) A linha de pressões corresponde à forma mais econômica de trabalho da estrutura.

e) A linha de pressões para carga uniformemente distribuída é uma parábola do segundo grau.

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