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A Pré-história - as sociedades sem Estado: a educação difusa

Compreender a educação difusa como característica das sociedades


tribais.

A Pré-história é aquilo que antecede a escrita. Mas quando se dá a passagem de um


tempo cronológico para outro? Com o surgimento da escrita. E por que surgiu a
escrita? A escrita não foi fruto da criatividade de uma ou algumas pessoas, ela
surgiu como uma necessidade de controlar e ordenar as funções cada vez mais
complexas com que se revestiam as relações sociais. O Estado, a política, o
comércio e a religião chegaram a um ponto de complexidade que exigiram uma
forma de anotação da palavra, dando origem a um código gráfico que tornasse
possível a organização da vida. Mas, como já vimos, antes disso os homens já
transmitiam às novas gerações seus saberes, suas crenças e seus valores.
Nas sociedades pré-históricas, não havia Estado, religião, propriedade privada ou
escrita, que denominaremos sociedades sem Estado ou sociedades tribais, embora
alguns autores prefiram a denominação de "sociedades primitivas". Preferimos não
utilizar esse termo pelo sentido preconceituoso e etnocêntrico que carrega. Essas
sociedades não se restringem à Pré-história, pois ainda hoje existem grupos que
vivem em tribos sem contato com a civilização, como o caso de algumas tribos
isoladas na Amazônia.
Nas sociedades sem Estado, dizemos que a educação é difusa, ou seja, não possui
um foco, um direcionamento, pois ela ocorre a todo o momento, em todos os
lugares. Nessas sociedades, a educação se dá por meio da imitação das atividades
cotidianas, nas cerimônias e nos rituais. As crianças aprendem imitando os adultos
nas atividades como a caça, a pesca, a agricultura, a coleta, a fabricação de
utensílios, a elaboração dos alimentos etc., assim como nas cerimônias e rituais,
seja em celebração de vida, da morte, casamento, passagem da infância para a
idade adulta, festejos das épocas da colheita, da caça ou da chuva.
Assim como a imitação das atividades cotidianas, essas cerimônias e
rituais possuem caráter pedagógico, ou seja, trazem em seu bojo algum
tipo de ensinamento.
Dizemos que a educação difusa é universal e integral, pois TODOS os integrantes
da sociedade (universalidade) têm acesso a TODO o saber (integralidade). Como
as sociedades tribais são sociedades de iguais, ninguém é melhor que ninguém,
ninguém possui mais que ninguém (pois sequer existe a propriedade privada),
todos possuem o mesmo saber.
A educação difusa se fundamenta, também, no saber mítico. Essa forma do saber
humano procura explicar o mundo por intermédio dos mitos, que são atemporais,
pertencem ao "início dos tempos". São lendas que dão sentido à existência do
próprio grupo, já que essas sociedades tribais não possuem o que chamamos de
História; dão sentido aos fenômenos naturais, atribuindo-os à vontade dos mitos
(deus da chuva, deus da colheita, deus Sol, deusa Lua, e assim por diante), e
possibilitam a compreensão da própria vida, fornecendo uma explicação para o
nascimento e para a morte. Nas sociedades tribais, portanto, a cultura é de tradição
oral, ou seja, os saberes são transmitidos oralmente, tendo em vista a inexistência
da palavra escrita.
Como uma das principais características das sociedades humanas é o seu
dinamismo, esse estado de coisas tende a mudanças e transformações. Essa
sociedade homogênea e indivisível, na qual todos são iguais e não existe
propriedade privada, vai se transformando: de nômades e coletores passam ao
sedentarismo, à pecuária e à agricultura; as técnicas se sofisticam com a descoberta
do fogo, da roda e da metalurgia. A adoção de novas tecnologias na agricultura e
na criação de animais possibilitou a produção de excedentes que passaram a ser
utilizados no comércio. A produção de bens que era social numa sociedade em que
nada faltava e nada sobrava, com o advento dessas transformações, transformou-a
numa sociedade estratificada, ou seja, uma sociedade em que alguns possuem mais
que outros.
A divisão da sociedade em estratos sociais – pois a riqueza passou a ser apropriada
por uma parte dela, paralelamente ao surgimento do comércio –, levou a uma
sofisticação maior da organização social. Se antes o poder era exercido por todos,
passa a ser monopólio de uma minoria, que detêm o poder político, econômico,
militar e religioso. Nesse contexto, a escrita surgiu como instrumento de
organização do comércio, por meio da contabilidade; como meio de manutenção do
poder, com as leis escritas; como forma da instituição de uma religião oficial, com
seus textos sagrados; como manutenção de uma burocracia estatal, sustentada por
um sistema de impostos; com o surgimento da História, como meio de perpetuação
da memória das classes dominantes. A escrita, portanto, surgiu como um
instrumento de saber e poder nas mãos de uma elite dominante.
SAIBA MAIS
Pierre Clastres (1934-1977), antropólogo e etnógrafo francês da segunda metade do século XX,
é conhecido por seus trabalhos de Antropologia e por sua pesquisa sobre os índios Guayaki do
Paraguai. Filósofo de formação, se interessou pela Antropologia e especificamente pela
América do Sul sob influência dos famosos antropólogos Claude Lévi-Strauss e Alfred
Métraux. Publicou as obras Crônica dos índios Guayaki (1972), A sociedade contra o
Estado (1974) e A fala sagrada – mitos e cantos sagrados dos índios Guarani (1974). Morreu
prematuramente aos 43 anos.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Clastres>

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MATERIAL COMPLEMENTAR

Referências
ARANHA, Maria Lúcia de. História da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna,
2003.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Piracicaba: UNESP, 1999.
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de Antropologia
Política. 4. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil e História da
Província de Santa Cruz. Belo Horizonte; São Paulo; Itatiaia: Edusp, 1980.

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