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Experiências socioculturais em bairros pobres de São Paulo, Guarulhos
Publicação do Conselho Regional de Psicologia
e Campinas ajudam a reduzir vulnerabilidade de crianças e adolescentes. de São Paulo, CRP SP, 6ª Região
Diretoria
Presidenta | Elisa Zaneratto Rosa
UM DIA NA VIDA | ACOLHER PARA TRANSFORMAR
Vice-presidenta | Adriana Eiko Matsumoto
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Trabalho de psicólogo em medidas socioeducativas mostra que a profissão Secretário | Guilherme Luz Fenerich
Tesoureira | Gabriela Gramkow
tem papel relevante na mudança de vida de jovens em conflito com a lei.
Conselheiros
Alacir Villa Valle Cruces, Aristeu Bertelli da Silva,
PSICOLOGIA E COTIDIANO | DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS Bruno Simões Gonçalves, Camila de Freitas Teodoro,
Dario Henrique Teófilo Schezzi, Graça Maria de
12
Especialistas avaliam que o entendimento sobre ato infracional cometido por
Carvalho Camara, Gustavo de Lima Bernardes Sales,
crianças e adolescentes muda conforme a classe social a que pertencem. Ilana Mountian, Janaína Leslão Garcia, Joari Aparecido
Soares de Carvalho, Jonathas José Salathiel da Silva,
José Agnaldo Gomes, Livia Gonsalves Toledo, Luis
PERSPECTIVA DO USUÁRIO | PAPO RETO E CHEIO DE OPINIÃO Fernando de Oliveira Saraiva, Luiz Eduardo Valiengo
Berni, Maria das Graças Mazarin de Araujo, Maria
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Crianças e adolescentes falam sem rodeios sobre como veem e agem diante Ermínia Ciliberti, Marília Capponi, Mirnamar Pinto
das dificuldades no âmbito escolar, familiar e social. E dizem como melhorar. da Fonseca Pagliuso, Moacyr Miniussi Bertolino Neto,
Regiane Aparecida Piva, Sandra Elena Spósito,
Sergio Augusto Garcia Junior, Silvio Yasui.
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O olhar da Psicologia para a subjetividade da criança e do adolescente e como Jornalista responsável Milton Bellintani (MT b 18.122)
Reportagens Adriana Carvalho, Denise Ramiro,
podemos contribuir para que o Estatuto seja efetivamente implementado. Milton Bellintani
Direção de arte Cláudio Franchini
Foto da capa Ilustração CRP SP
ORIENTAÇÃO | REDE DE ACOLHIMENTO CONTRA A VIOLÊNCIA FAMILIAR Revisão Linha Fina
Impressão Rettec Artes Gráficas
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Atuar em situações de agressão física e sexual a crianças e adolescentes Tiragem 89.000 exemplares
exige ação coordenada da Psicologia com outros dispositivos de proteção.
Sede CRP SP
23
Rua Arruda Alvim, 89, Jardim América
Cep 05410-020 São Paulo SP
PROCESSOS ÉTICOS | PENALIDADES ÉTICAS Tel. (11) 3061-9494 | fax (11) 3061-0306
E-mails
SUBSEDES | CONFERÊNCIAS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Atendimento | atendimento@crpsp.org.br
25
Participação dos jovens foi destaque no estado de São Paulo. Conheça Diretoria | direcao@crpsp.org.br
Informações | info@crpsp.org.br
as atividades realizadas em Ribeirão Preto, São Vicente e Bauru.
Centro de Orientação | orientacao@crpsp.org.br
Administração | admin@crpsp.org.br
Comunicação | comunicacao@crpsp.org.br
MURAL
Site
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Confira ações realizadas pelo CRP SP na luta contra a redução da maioridade
www.crpsp.org.br
penal e a série de vídeos do Programa Diversidade sobre os 25 anos do ECA.
Subsedes CRP SP
Assis | tel. (18) 3322-6224, 3322-3932
MATÉRIA ESPECIAL | BRINCAR PRA VALER. VALER PRA BRINCAR Baixada Santista e Vale do Ribeira
tel. (13) 3235-2324, 3235-2441
28
Campanha do CRP SP marca a celebração do 25º aniversário do Estatuto Bauru | tel. (14) 3223-3147, 3223-6020
da Criança e do Adolescente reconhecendo-os como sujeitos de desejos. Campinas | tel. (19) 3243-7877, 3241-8516
Grande ABC | tel. (11) 4436-4000, 4427-6847
Ribeirão Preto | tel. (16) 3620-1377, 3623-5658
São José do Rio Preto | tel. (17) 3235-2883, 3235-5047
ESTANTE | TÍTULOS
Dicas de livros e vídeos sobre temas de interesse da categoria. 31 Sorocaba | tel. (15) 3211-6368, 3211-6370
Vale do Paraíba e Litoral Norte | tel. (12) 3631-1315
Pela ampliação da
idade do brincar
Resgatar o aspecto lúdico no desenvolvimento da criança e do adolescente também é uma forma de
proteger o jovem de uma lógica adulta que, em vez de assegurar, suprime garantias fundamentais
A
história de Peter Pan, o meni- a isso. E a legislação vigente tam- espaços privados que favorecem o
no que se recusava a crescer, bém. A infância tem como fron- isolamento, como os jogos eletrô-
é conhecida. Mas a mágica teira etária a passagem dos 11 para nicos. A rua, nesse contexto, se con-
Terra do Nunca em que ele e outras os 12 anos. E nenhum adolescente funde com um espaço de desaten-
crianças desafiavam as maldades pode trabalhar antes de completar ção, abandono e de perigos.
do Capitão Gancho nunca esteve 15. O direito ao lazer, de brincar e No texto Adolescentes em situa-
tão longe da Terra da vida real, em divertir-se, também está previsto. ção de rua, publicado no caderno
que o modelo de competividade do Com isso procura-se garantir à in- Adolescência & Psicologia - Con-
universo dos adultos invadiu sem fância e à juventude proteção para cepções, práticas e reflexão críticas,
cerimônia o espaço infantil e vem um desenvolvimento físico, men- do Conselho Federal de Psicologia
moldando as novas gerações à sua tal e intelectual sadios. em 2002, a psicóloga Silvia Hele-
imagem e semelhança. No dia a dia Cabe à família, à sociedade e ao na Koller e o psicólogo Lucas Nei-
de pouca magia desse mundo em Estado assegurar tais direitos. va afirmam que divertir-se é uma
que as obrigações parecem fazer das formas que o jovem tem de
sombra sobre os direitos, complexo Se essa rua fosse minha relacionar-se. “O ato de brincar é
de Peter Pan virou diagnóstico de Nas grandes cidades, a noção de de grande importância para o de-
imaturidade. Mas quando, afinal, que o espaço público deixou de ser senvolvimento infanto-juvenil,
a criança tem de fazer a passagem seguro para o brincar e socializar-se independentemente do contexto
do reino do brincar para a república vem reduzindo a dimensão social da e apesar dos potenciais riscos que a
do trabalhar? O Estatuto da Crian- diversão como ato coletivo, social, rua apresenta”, dizem. “A atividade
ça e do Adolescente é claro quanto dando lugar a formas lúdicas em lúdica é de especial interesse para
Cultura
é terapia na periferia
Experiências sociais e culturais em bairros pobres das cidades de São Paulo, Guarulhos e
Campinas mostram a força que a construção de vínculos na comunidade tem para a constituição
da identidade e redução da vulnerabilidade de crianças e adolescentes
F
azer poesia é como jogar ca-
“
tividade e de mostrar aos jovens que palestras que faz em escolas públicas.
Foto: reprodução
um evento de jongo, animado com
a dança africana. “Ele estava bem.
Não voltou mais pra rua.”
Michelle Nicolau acredita que a
Psicologia pode aprender com essas
experiências e assim contribuir para
que crianças e adolescentes em sofri-
mento, em conflito familiar ou com
a lei possam superar suas dificulda-
des. Para ela, trabalhos como esse
ensinam a estabelecer vínculos em
situações diferentes da observada
em uma clínica social ou consultório.
Para quem vive em situação de rua,
segundo a psicóloga, o fato de ter um
dia e um horário para realizar uma
atividade ajuda a organizar não só a
rotina como a cabeça. “Uma ativida-
de que consegue sucesso nisso mere-
ce ser olhada com atenção pela Psico- Dia do Joelhaço na Cooperifa: homens pedem perdão às mulheres por preconceito
logia”, afirma. Da mesma forma, ela
defende que é importante notar que uma comunidade de 20 mil famílias vidades são estimulados a refletir so-
oficinas, cursos e palestras são fer- vive no bairro Jardim Santa Edwi- bre sua condição social e sobre aspec-
ramentas que facilitam a expressão ges. Ali, como em outras regiões de tos da sociedade que podem levá-los
de sentimentos, reforçam a valoriza- baixa renda na cidade, faltam sane- a um comportamento destrutivo. “O
ção e autoconfiança dos jovens. “Me amento básico, pavimentação nas consumismo é um ponto muito dis-
lembro de um garoto em situação de ruas, escolas e serviços de saúde. As cutido. Dizemos que eles não preci-
rua que atendi, que com frequência atividades culturais voltadas para o sam da roupa de marca, de cabelo ali-
passava pela Fundação Casa. Ele não desenvolvimento de crianças e ado- sado e de celular bacana para serem
sabia escrever, mas com o tempo foi lescentes acontecem por iniciativa aceitos. Muitos atos infracionais são
se aproximando. Um dia pediu que da Associação Cultural e Educacional cometidos para satisfazer a necessi-
eu escrevesse uma poesia que ele ha- Movimento Hip Hop Revolucionário dade de consumo”, diz.
via criado. Por meio dela conseguiu (MH2R). Bobcontroversista, um dos De acordo com ele, a reflexão em
expressar sua história e a organizar fundadores do movimento, conta grupo produziu efeitos na comunida-
melhor seu pensamento”, conta. que ele começou em 1993, quando de. O escambo vem se tornando uma
um grupo de jovens se reuniu para forma de economia sustentável no lo-
Busca de protagonismo para promover a cultura Hip Hop, cal. Por exemplo, um adolescente que
Em 2012, Leo Lopes levou o traba- com dança, música e artes. Todas produz um vídeo para a cobertura de
lho com crianças e adolescentes em essas formas de expressão, segundo um evento às vezes não é pago em
situação de vulnerabilidade a esco- ele, são maneiras de levar os jovens a dinheiro e sim com uma compra de
las e espaços culturais de Hortolân- fazerem uma leitura crítica do mun- supermercado para sua família. Até
dia, na Região de Campinas. Desde do e a serem protagonistas na defe- uma moeda social circula no local,
então ele também dá aulas na Asso- sa dos próprios direitos. A partir de com validade em outras comunida-
ciação de Moradores do Jardim São 2001, o movimento se tornou uma des ligadas ao Hip Hop: o quilombo,
Sebastião, na periferia da cidade. As organização não governamental e com valor de troca equivalente a um
primeiras atividades culturais com passou a disputar editais públicos real. “Se faço um evento de Hip Hop
a capoeira foram o estopim de um de cultura para ampliar sua capaci- na casa de Bauru, ganho alguns qui-
movimento cultural dos moradores dade de atuação. “Hoje temos ações lombos. Depois posso trocar por um
da região que teve desdobramentos fortes em fotografia, dança, vídeo e serviço da minha escolha.”
políticos. “Antes não havia sequer grafite. Os jovens que abraçam essas Outros resultados desse trabalho
uma praça no bairro. Os moradores atividades têm uma alternativa dife- “de formiguinha”, como ele classifi-
se uniram e conseguiram que fosse rente. Com essas oportunidades eles ca, são expressos na quantidade de
criada. Além da capoeira, também se afastam da criminalidade, do risco jovens que evoluíram nos estudos.
se movimentaram para levar outras de exploração sexual e de pequenos “Muita gente que passou pelas nos-
atividades culturais ao local”, diz ele. atos infracionais”, afirma Bob. sas atividades agora está em cursos
Na periferia de Guarulhos, na Re- As crianças a partir de 7 anos e os técnicos ou na universidade”, conta,
gião Metropolitana de São Paulo, adolescentes que participam das ati- orgulhoso, Bobcontroversista.
Acolher
para transformar
A rotina de trabalho do psicólogo Bruno Rodrigues Campos, que atua como técnico em medidas
socioeducativas na periferia de São Paulo, mostra que a profissão tem um papel relevante na
mudança de vida de crianças e adolescentes em conflito com a lei
U
m sorriso, um aperto de loroso percurso repleto de episódios do dentro dos princípios humanos”,
mão. “Bom dia. Seja bem- de violência, agressão, humilhação diz o psicólogo e técnico em medi-
-vindo. Gostaria de uma e afronta a direitos. O tratamento das socioeducativas do Cedeca Bru-
água ou um café?” Para a maioria cordial desde o contato inicial, por- no Rodrigues Campos. “Aderir a um
das pessoas, ser recebido assim em tanto, é o primeiro passo dado pela processo socioeducativo depois de
um local aonde se chega pela pri- equipe do Centro de Defesa do Direi- ter passado por tudo que ele passou
meira vez pode parecer absoluta- to da Criança e Adolescente (Cedeca) antes de chegar aqui é difícil.”
mente normal. Mas para crianças, Mônica Paião Trevisan para estabe- Formado em 2011 pela Universida-
adolescentes e familiares de jovens lecer vínculos com as crianças e ado- de Cruzeiro do Sul, Bruno fez estágio
que iniciam a rotina de cumprimen- lescentes em conflito com a lei. na ONG Lar Sírio Pró Infância, que
to de medidas socioeducativas uma A população atendida por esta or- atende crianças e jovens expostos a
recepção respeitosa e acolhedora ganização não governamental, cria- situações de risco e vulnerabilidade
geralmente causa surpresa. Afinal, da em 1991, é de moradores do distri- social, antes de começar seu traba-
após a ocorrência do ato infracional, to de Sapopemba, na zona sudeste lho no Cedeca em 2012. “Os jovens
a passagem por delegacias, juizados de São Paulo. “Por mais que o jovem chegam aqui muito fragilizados.
e, algumas vezes, locais de interna- tenha que ser responsabilizado pela Alguns até se esquivam de abraços
ção, se mostra quase sempre um do- infração que cometeu, deve ser trata- por estarem machucados”, conta.
“
oferecer um tratamento diferente. lados no ensino médio – bem aci-
“Temos que desconstruir muita coi- ma da média da cidade, de 17,79%
sa para construir outras. Para come- segundo o Instituto Brasileiro de
çar, dizemos que não precisam nos Geografia e Estatística (IBGE). O ins-
Aprendi no Cedeca
chamar de senhor ou senhora. Que tituto também revela que 16,67%
podem nos chamar pelo nome”, diz dos nascidos vivos na região eram que, em primeiro lugar,
Bruno, que mora no bairro de Arican- filhos de mães com menos de 19 é necessário conhecer o mundo
duva, na zona leste paulistana, e que anos de idade, superando mais uma e a realidade do indivíduo para
todos os dias faz de ônibus o trajeto vez a média paulistana: 12,50%. Em que seja possível entender
de casa ao trabalho. número de leitos hospitalares, Sapo- o que acontece com ele”
A visão que tinha quando entrou pemba também ostenta números Bruno R. Campos
no Cedeca e a que tem hoje são bem preocupantes: 0,98 por mil habitan-
diferentes. “Saímos da faculdade tes, quando a média da cidade é de
com a visão do atendimento clínico. 2,55 por mil habitantes. Equipamen-
Cheguei impregnado pela ideia de tos culturais como museus, salas de
fazer avaliação psicológica e de que show, centros culturais ou cinemas nosso tempo a relatórios do Poder
era preciso entender o que aconte- não haviam sido registrados na Judiciário e a visitas domiciliares e
ce com a pessoa para encaixá-la em mais recente pesquisa do IBGE, de institucionais. Reservamos as terças
um padrão já estabelecido. Depois 2012, e apenas 1,81% dos equipamen- e quintas para os acolhimentos. Às
percebi que isso deixa o processo tos públicos esportivos do municí- quartas fazemos reuniões internas e
de atendimento parecido com uma pio concentravam-se nessa região discussões de casos. Às sextas tam-
receita de bolo”, afirma o psicólogo. da cidade onde a taxa de homicídio bém fazemos visitas domiciliares e
Até fevereiro ele atendia casos de juvenil é de 18,22 óbitos por 100 mil articulações com o Fórum Regional
crianças e adolescentes em conflito habitantes do sexo masculino com de Educação, que acontece uma vez
com a lei. A partir de março passou a idades entre 15 e 29 anos. Esse pano- por mês”, conta Bruno.
atuar no Serviço de Proteção Social a rama dá uma dimensão de quantos
Crianças e Adolescentes Vítimas de direitos são negados às crianças e Acompanhamento
Violência do Cedeca. adolescentes da região e de como Os técnicos em medidas socio-
“Quando estava na faculdade, essa falta de perspectivas influencia educativas do Cedeca fazem visi-
alguns professores diziam que a na ocorrência de atos infracionais. tas, a pé ou utilizando o transporte
formação acadêmica não oferece “Precisamos entender a cabeça e a público, aos jovens e suas famílias.
nem 5% de entendimento do que vida desses meninos. Eles estão em Sempre em duplas. “Nosso papel
é a profissão na prática. Avalio que uma região que carece de boas esco- é acompanhar o adolescente para
esse número é ainda menor. Apren- las, de serviços de saúde, de esporte, poder assisti-lo. Se esse menino está
di no Cedeca que, em primeiro lu- de lazer, de espaços de profissiona- fora da escola, temos de verificar o
gar, é necessário conhecer o mundo lização. Eles veem que a mãe ou o motivo e agir para ele retornar aos
e a realidade do indivíduo para que pai têm trabalhos humildes, mas estudos, garantindo sua permanên-
seja possível entender o que acon- são criados em uma cultura social cia e frequência. Se há um problema
tece com ele”, afirma. Para Bruno, que valoriza o consumo. Nesse con- de saúde, precisamos identificar
levar em conta as particularidades texto, muitos acreditam que dentro se a família está na área de atendi-
que envolvem o universo da criança do tráfico terão um caminho de de- mento de uma Unidade Básica de
e do adolescente oferece uma visão senvolvimento pessoal. Fora, não Saúde, se há um agente de saúde
muito diferente de como precisa ser enxergam perspectivas”, diz Bruno. para acompanhar o caso. Também
a intervenção profissional. “Para Para conhecer mais a fundo a reali- verificamos se ele precisa de docu-
esse trabalho precisamos ter uma dade dessas crianças e adolescentes, mentações. Enfim, a gente tem o
atuação mais abrangente que a do o psicólogo e os demais técnicos em papel de averiguar tudo o que diz
acolhimento e um olhar multidisci- medidas socioeducativas não se res- respeito a direitos básicos e quando
plinar para a questão”, afirma. tringem ao acolhimento individual necessário interferir para que o ado-
ou em grupo realizado nos quatro lescente e sua família tenham aces-
A realidade de Sapopemba núcleos do Cedeca localizados em so a eles”, explica Bruno.
A realidade das crianças e adoles- diferentes bairros do distrito. Visitas Ele justifica porque o trabalho
centes que vivem em Sapopemba, às residências dos jovens e também costuma ser feito em duplas tanto
como atestam as estatísticas, não é a escolas, unidades de saúde e a ou- no atendimento em medidas socio-
fácil. Com cerca de 300 mil habitan- tras instituições que os atendem educativas quanto no de crianças
tes, o distrito tem graves carências. fazem parte da rotina de trabalho e adolescentes vítimas de violên-
No que diz respeito à educação, por da equipe de nove psicólogos. “To- cia. “Primeiro porque duas pessoas
exemplo, registra taxa de reprova- das as segundas-feiras dedicamos na intervenção representam duas
Bruno e parte da equipe de psicólogos do Cedeca Sapopemba: Jonas da Silva Almeida, psicólogo e técnico de Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto – Nucleo Sinhá; Danilo Ramos Silva, psicólogo e técnico de Medidas Socioeducativas
em Meio Aberto – Madalena; Heloisa Calemi Tonello, psicóloga e técnica de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto – Nucleo
Sinhá; e Elza Aparecida Calleja, psicóloga e técnica de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto – Pro Juta
Dois pesos
e duas medidas
Especialistas avaliam que visão sobre ato infracional cometido
por crianças e adolescentes muda conforme a classe social a que
pertencem. A lei, que deveria ser igual para todos, na prática não
é interpretada ou aplicada de maneira imparcial
P
ivetes furtaram um carro: pre- há quarenta anos trabalha com a
sos”. O título da notícia, publi- temática de crianças e adoles-
cado em 1961 no extinto jornal centes em situação de vulnera-
carioca Última Hora se referia a uma bilidade, a análise dessas duas
dupla de adolescentes que havia “pu- histórias é um exemplo de
xado” um carro. Os jovens roubaram como a sociedade enxerga
um veículo apenas para dar umas de maneira diversa os atos
voltas e se divertir. Ambos foram de- infracionais dependendo da
tidos e fichados na delegacia. O nome classe social a qual perten-
de um dos pivetes é bem conhecido: cem os indivíduos envol-
Francisco Buarque de Hollanda, que vidos. “Um dos sujeitos é
apenas cinco anos depois se trans- o Chico Buarque, filho de
formaria no menino dos olhos cor família tradicional. O ou-
de ardósia e unanimidade nacional tro poderia ser o ‘meu
como autor de A banda. O cantor e guri’ da canção es-
compositor Chico Buarque tinha, na crita por ele”, diz
época, 17 anos. Em junho, completou Broide, referindo-se
71. A foto usada em sua ficha policial à música que descreve
estampa o álbum Paratodos, de 1993. o menino pobre e anônimo
Menos sorte teve um adolescente que “chega estampado, man-
de 13 anos que em 2010 ganhou des- chete, retrato, com venda nos
taque na mídia ao ser preso pela 13ª olhos, legenda e as iniciais”.
vez por furtar um veículo na zona sul Meninos e meninas, indepen-
de São Paulo. “Estava só ouvindo um dentemente de sua classe social, de-
som alto”, declarou na época o garo- veriam receber o mesmo tratamento
to então mantido na carceragem do da lei. Mas para Broide isso não signi-
98º Distrito Policial, no Jardim Mi- fica que ambos deveriam ser levados
riam, à espera de ser transferido para à detenção. “Tanto os Chico Buarques período de transição no qual o jovem
uma unidade da Fundação Casa. O como os ‘guris’ devem ser verdadei- experimenta modos de estar e de se
destino ou o nome desse menino não ramente escutados. Do ponto de vis- relacionar com o mundo. Além disso,
se conhece e a única imagem que se ta clínico, o ato infracional é o sinto- o adolescente vivencia a necessidade
tem dele foi a publicada na ocasião ma de algo que não pode ser dito por de pertencimento e do encontro de
pelos jornais dentro de um cambu- esse jovem. É sintoma de algo que grupos com os quais se identifique.
rão da polícia. A foto da capa do disco não foi escutado e nem compreendi- Segundo Pereira, falando de forma
e a imagem do garoto estampada do. Uma forma de agredir o outro ou geral, o ato infracional não expressa
no jornal dão a exata medida da di- a si mesmo”, afirma. uma ou outra coisa específicas, mas
ferença de tratamento dispensado a É necessário compreender o ato in- envolve diversos aspectos relacio-
um adolescente residente no bairro fracional como um problema de dife- nados ao universo do jovem como
nobre do pacaembu e outro que nas- rentes causas, explicam em uníssono a ruptura de regras com as quais ele
ceu na quebrada. Rodrigo Pereira, Beatriz Saks Hahne não se identifica ou que não estão
Para o psicólogo e psicanalista Jor- e Danielle Tsuchida, psicólogos do claras para ele. Mais do que isso, o de-
ge Broide, professor do curso de Psi- Instituto Sou da Paz. Para eles, a ado- lito propicia uma sensação de “liber-
cologia da PUC de São Paulo e que lescência deve ser vista como um dade” e de “potência”.
Papo reto
e cheio de opinião
Crianças e adolescentes do interior e do litoral paulista falam sem rodeios sobre
como veem e agem diante das dificuldades no âmbito escolar, familiar e social.
E dizem o que é preciso fazer para melhorar
Q
uem cai na conversa vazia de de opinião sobre o tema. “Eu era a fa- diz que não estudamos. Aí eu respon-
que criança e adolescente não vor. Depois de discutir o assunto na do que ela não deu conteúdo para ti-
tem o que dizer é porque anda palestra passei a ser contra”, diz Bian- rarmos nota melhor.”
conversando com gente que perdeu ca. “O que o jovem precisa é de mais
a pista de onde anda o pensamento educação, não de prisão.” Professores
da juventude. As novas gerações es- A escola é motivo de muitas crí- Stephani fala com convicção. “Os
tão aprendendo a comunicar o que ticas. Os jovens reclamam especial- professores têm que aprender mais
querem a públicos de todas as idades mente de professores e da infraestru- para ensinar melhor.” Sua xará Stefa-
e lugares. E têm suas próprias estra- tura escolar. “Tem professor que fica ni Xavier Ribeiro de Andrade, 16 anos,
tégias para conseguir. Em outras pa- a aula toda mexendo no WhatsApp”, também moradora de São Vicente,
lavras, estão fazendo política. E des- diz Kayo Melo de Santana, 11 anos, faz uma proposta para aproximar
de cedo, como revela o papo reto de aluno do 7º ano do Ensino Médio da professores e alunos. “Criar projetos
jovens ligadíssimos que costumam Escola Estadual Prof. Alcides Correa, que envolvam quem ensina e quem
participar de conferências, palestras também de Ribeirão Preto. “Quando aprende ajudaria a melhorar o conví-
e ações que tratam de seus direitos. a gente tira nota baixa, a professora vio entre a gente.” Ela se queixa que
Essa garotada fala com desenvoltura
sobre a capacidade de seus profes-
Kamilly Rodrigues Amorim criou um grupo para “melhorar a escola”
sores e das instalações nas escolas,
sobre o subemprego ou desemprego
dos pais e vizinhos e das poucas op-
ções de cultura e lazer existentes nos
bairros onde vivem.
Nesse processo de formação que
retoma a pegada dos jovens con-
testadores dos anos 1960 e 1970 no
Brasil, França e Estados Unidos, a pri-
meira lição que aprendem é que têm,
sim, direitos – independentemente
de classe social, cor da pele e orienta-
ção sexual. “Antes não sabia de nada
sobre isso. Agora sei que tenho direi-
to à cultura e ao lazer”, diz Stephani
Barbosa, 11 anos, moradora de São Vi-
cente, no litoral Sul de São Paulo.
Foto: Progen - Projeto Gente Nova
Filhos da
era de direitosAprovado em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente se tornou a referência
de profissões que atuam na atenção à infância e juventude, como a Psicologia, e entra
na plenitude da idade adulta sob o desafio de ser efetivamente implementado
O
trabalho infantil e na ampliação da
s brasileiros que no dia 13 de Balanço destaca avanços oferta de educação. “De 1992 a 2013,
julho completaram 25 anos A socióloga Denise Cesario, geren- a exploração do trabalho de crianças
pertencem à primeira gera- te executiva da Fundação Abrinq – e adolescentes foi reduzida em 59%
ção nascida sob a promessa de que Save the Children, avalia que o ECA nas cadeias produtivas formais. E se
o país lhes garantiria viver cada fase é um grande divisor de águas na conseguiu a quase universalização
de suas vidas de acordo com a idade. promoção dos direitos das crianças do acesso ao Ensino Fundamental.”
Como crianças, teriam assegurado o e adolescentes brasileiros. A insti- Os desafios para a implementação
direito de brincar e se divertir. Antes tuição, criada meses antes da apro- do ECA passam, segundo ela, pela
de terem autonomia para fazerem vação do Estatuto, tem como estra- garantia desses direitos. “Hoje, cerca
isso sozinhos, na primeira infância, tégias o “estímulo e pressão para de 3,2 milhões de crianças e adoles-
o direito a uma família, que nos implementação de ações públicas, centes continuam sendo utilizados
anos seguintes os acompanharia e fortalecimento de organizações não em redes ilegais, na agricultura e no
cuidaria – assim como a escola e o governamentais e governamentais trabalho infantil doméstico. Na edu-
Estado, na qualidade de principal para prestação de serviços ou defe- cação, o desafio é equacionar a oferta
zelador desses direitos e de outros: o sa de direitos, estímulo à responsa- de creches na faixa até 3 anos e atuar
direito à saúde, ao desenvolvimento bilidade social, articulação política na passagem para o Ensino Médio,
pessoal, ao trabalho digno e à igual- e social na construção e defesa dos onde há grande evasão escolar. Te-
dade de oportunidades. Em resumo, direitos e conhecimento da realida- mos de priorizar o investimento para
um claro horizonte apontando para de brasileira quanto aos direitos da aumentar a qualidade do sistema
o direito a se construírem como ci- criança e do adolescente”. educacional, melhorando a infraes-
dadãos plenos. Denise destaca entre os principais trutura e a formação docente com
N
o dia a dia, psicólogas/os são clínica é essencial para quem cada um deve ser capaz de resolver
que atuam isoladamente atua em situações de agressão a sozinho suas questões de trabalho e
em consultórios, empresas, direitos de crianças e adolescentes, as dúvidas são vistas como sinais de
instituições e também no Judiciá- especialmente as que envolvem fraqueza”, diz ela.
rio podem sentir falta de espaços de violência na própria família – sofri- Algumas vezes são as próprias
discussão em que tenham a oportu- da ou cometida por eles. “A equipe organizações que atuam na defesa
nidade de apresentar suas indaga- clínica é o lugar em que todos co- dos direitos de crianças e adoles-
ções sobre como escutar jovens em locam seu trabalho em discussão e centes que têm dúvidas pontuais
atendimento e, então, receber ques- têm o compromisso de opinar sobre sobre como atuar em determina-
tionamentos de colegas que pode- o trabalho dos colegas.” Segundo dos quadros. Angela cita o exemplo
riam contribuir para uma eventual ela, o ganho evidente que se tem de um equipamento da periferia da
reavaliação do caminho escolhido. ao contar com um espaço de troca zona norte de São Paulo, cuja técni-
Para a psicóloga Maria Angela San- profissional é desafiado pela prática ca procurou o Nuraaj para buscar
ta Cruz, psicanalista e coordenadora de muitas organizações em que a orientação quanto à situação de
do Núcleo de Referência em Aten- visão de trabalho em equipe é me- um adolescente em medida socioe-
ção à Adolescência e à Juventude ramente retórica. “Nada disso cos- ducativa (mse) em meio aberto. “À
(Nuraaj) da Clínica Psicológica do tuma acontecer em ambientes em medida que ouvia as dúvidas dela,
Instituto Sedes Sapientiae, a discus- que prevalece a expectativa de que achei que extrapolavam o caso es-
“
pecífico apresentado”, conta. Ao tervenção e acompanhamento do
questioná-la sobre isso, confirmou Conselho Tutelar.
sua intuição. Depois de colocar a “Atuar em situações de violên- Realizar atendimento
demanda em análise na Clínica cia contra crianças e adolescentes em grupo com crianças
Psicológica, decidiu-se por oferecer costuma ter respostas melhores e adolescentes tem vantagens
à organização apoio caso quisesse quando se trabalha em rede”, sobre sessões individuais.
redesenhar o atendimento. “Aca- afirma Angela Santa Cruz. “Mas O jovem tem o impulso
bamos desenvolvendo um traba- funciona melhor com redes vivas, de se integrar
lho de dois anos com toda a equipe quentes, que inserem esse jovem
Maria Angela Santa Cruz
de mse, contribuindo para que o em dinâmicas sociais dentro e fora
serviço se reconfigurasse.” dos espaços de terapia.”
Em se tratando de crianças e Angela conta que, em geral,
adolescentes, Angela acredita que crianças e adolescentes respon-
o atendimento em grupo apresen- dem bem à orientação quando No caso do jovem que tentou se
ta vantagens na comparação com percebem que existe comprome- matar, a psicóloga que procurou
sessões individuais. “O jovem tem timento da equipe clínica. “Eles o Conselho Tutelar inicialmente
o impulso natural de se integrar. Na tendem a sair de situações de compartilhou sua leitura com esta
vida social busca aqueles com quem risco mais rapidamente do que instância. A forma de conduzir a
se identifica”, explica. Assim, estar adultos”, diz ela. “Mas para isso orientação se baseia na articulação
em um grupo cuja identidade é ter é preciso que haja três coisas: in- com outros dispositivos de prote-
tido direitos fundamentais atingi- vestimento, desejo de ajudar esse ção da infância e juventude e, fun-
dos pelos próprios familiares pode jovem e capacitação. Não se ajuda damentalmente, na discussão clí-
facilitar a evolução da psicoterapia ninguém sem estar bem prepara- nica. “Recebemos muitos pedidos
de cada um. Esse espaço coletivo e do quanto à formação e conhecer de atendimentos de juízes de Va-
potente muitas vezes é encontrado exemplos concretos de situações ras, particularmente via Centro de
nas dinâmicas grupais em organi- análogas.” Referência às Vítimas de Violência
zações que aplicam medidas socio- Para atuar com jovens e adoles- (CNRVV) do Sedes Sapientiae, que
educativas, Conselhos Tutelares e centes, diz, é essencial entender o também atua em casos de violên-
Varas de Família e da Infância. potencial das redes de proteção, cia familiar”, conta.
As incertezas que costumam como funcionam os Conselhos Tu- De acordo com ela, a resistência
surgir em quadros de violência fa- telares, as Varas de Família e da In- ao trabalho em rede parte muitas
miliar se referem a estratégias de fância, as políticas públicas e a le- vezes de onde menos se esperaria: a
envolvimento da família para tra- gislação. “A começar do Estatuto da escola. “Entender como chegamos a
tar e superar o problema e, quando Criança e do Adolescente”, afirma. isso abre outra discussão. Em muitas
ela se recusa ou as tentativas não Segundo Angela Santa Cruz, o ocasiões tanto a direção como pro-
dão resultado, sobre o momento trabalho em rede não exige ne- fessores não quiseram se envolver,
em que se deve apresentar o caso cessariamente o estabelecimento porque entendem que o comporta-
ao Conselho Tutelar. Muitas vezes prévio de procedimentos formais, mento daquele estudante é um pro-
sequer é preciso que a violência como assinatura de protocolos. blema que não lhes dizia respeito.”
seja atuada de maneira concreta,
física, pois a tensão psicológica
gerada por uma dinâmica fami- Maria Angela Santa Cruz e equipe do Nuraaj realizam discussão clínica sobre atendidos
liar destrutiva pode afetar esse jo-
vem a ponto de colocá-lo em risco.
Foi o caso de um adolescente de 16
anos com histórico de agressões
físicas entre os pais, que em co-
mum o desqualificavam sistema-
ticamente. Ele tentou o suicídio
por, segundo contou, não supor-
tar esse lugar de atravessamen-
to entre os dois. Num ambiente
com este nível de desintegração,
Foto: Linha Fina Imagens
Os 25 anos do ECA e
a Ética profissional
N
o caso em análise, uma atitudes de uma pessoa que não vez, se torna um local de produção
psicóloga foi procurada foi avaliada pela profissional. de provas para o processo judicial.
por uma mãe para emi- Diante do exposto, ficou com- Em avaliações psicológicas, cabe
tir atestado psicológico da filha provado que a psicóloga infringiu: a análise crítica do profissional
de 4 anos e sua relação com a sobre quais as demandas que lhe
figura paterna. A profissional Resolução CFP 010/2005 são feitas (mas nem sempre ex-
realizou duas sessões com a Código de Ética Profissional plicitadas), além dos efeitos e im-
genitora e oito sessões com a do Psicólogo: pactos daquilo que lhe é pedido.
criança, utilizando caixa lúdica Considerar o contexto em que se
e material gráfico. O trabalho Art. 1º - São deveres fundamen- dão tais demandas ajuda a delimi-
se estendeu pelo período de tais do Psicólogo: tar o alcance do trabalho realiza-
três meses e ela alega que não ... do e das conclusões a que se pode
se ateve a uma abordagem teó- c) Prestar serviços psicológicos chegar. Nesse sentido, o trabalho
rica específica. de qualidade, em condições de tra- da/o psicóloga/o não deve apenas
O pai, por sua vez, queixa- balho dignas e apropriadas à na- cumprir o solicitado, mas, com tal
-se que a psicóloga elaborou tureza desses serviços, utilizando análise crítica, ser também inter-
‘Parecer Psicológico’ para ser princípios, conhecimentos e técni- ventivo naquilo que produz as
anexado em processo de regula- cas reconhecidamente fundamen- condições psicológicas da crian-
mentação de visitas, contendo tados na ciência psicológica, na ça avaliada, afastamento entre
julgamento sobre seu estado ética e na legislação profissional. pais e filhos, conflitos e disputas,
psicológico e índole. visando o bem-estar familiar e a
No documento consta que foi Art. 2° - Ao psicólogo é vedado: construção de encaminhamentos
realizada a avaliação psicológi- ... pertinentes ao cuidado de todos.
ca da “menor” e diagnosticada g) Emitir documentos sem fun- Essa é uma lógica de trabalho
dificuldade no relacionamento damentação e qualidade técnico- que também considera o Estatuto
pai-filha. A relação tem sido espo- -científica. da Criança e do Adolescente (Lei
rádica, por não residirem na mes- 8.069/90), que prioriza a convivên-
ma casa, e tumultuado. A profis- Resolução CFP 007/2003 cia familiar e estabelece que, em
sional considerou que o pai expõe Manual para elaboração uma eventual dificuldade de rela-
a criança a riscos, além de causar de documentos escritos cionamento, outras medidas po-
prejuízos psicológicos e morais à pelo psicólogo. dem ser adotadas, como a reapro-
criança. Em razão disso, recomen- ximação gradual do convívio entre
dou a suspensão das visitas. É importante extrair deste pai e filha, quando não representar
caso a reflexão sobre aquilo que situação de risco ou violação de di-
Após analisar os autos, a Co- é solicitado às/aos psicólogas/os reito à proteção.
missão de Ética ponta que o nos serviços prestados, sobretu- É importante destacar também
documento carece de funda- do em situações de litígio como que o termo “menor”, muitas ve-
mentação técnico-científica a disputa pela guarda e regu- zes utilizado por psicólogas/os,
que sustente suas conclusões. lamentação de visitas. Nessas remete ao paradigma do antigo
Este não menciona os indícios situações, é comum que psicó- Código de Menores, de 1979. Desde
levantados em sua análise para logas/os deparem apenas com a publicação do ECA, em 1990, foi
chegar à conclusão de prejuízos uma das partes envolvidas no abandonado o uso do termo “me-
provocados pelo pai. Destaca, processo, que frequentemente nor”, substituído por “criança e
ainda, que as afirmações sobre está tomada pelo conflito ins- adolescente”, anteriormente con-
o pai não foram apresentadas taurado, fazendo a lógica judi- siderados “em situação irregular”,
em forma de hipótese, mas sim ciária extrapolar para o atendi- e agora como “sujeitos de direitos”,
conclusivas sobre as intenções e mento psicológico, que, por sua inclusive à proteção integral.
O
Conselho Regional de Psi- conferências convencionais. Este lescentes; Proteção e Defesa dos
cologia de São Paulo (CRP ano, o tema central instituído pelo Direitos; Protagonismo e Partici-
SP) participou das Confe- Conselho Nacional dos Direitos da pação de Crianças e Adolescentes;
rências Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conde- Controle Social e Efetivação dos
Criança e do Adolescente, realiza- ca) foi a Política e Plano Decenal Direitos e Gestão da Política Na-
das entre os meses de abril e maio dos Direitos Humanos de Crianças cional dos Direitos Humanos de
no estado. Como destaque, a parti- e Adolescentes: Fortalecendo os Crianças e Adolescentes.
cipação de crianças e adolescentes Conselhos dos Direitos da Criança As conferências se realizaram no
nas conferências lúdicas superou e do Adolescente. Foram debati- contexto das comemorações dos
a dos adultos (profissionais mul- dos os seguintes eixos: Promoção 25 anos de criação do Estatuto da
tidisciplinares e familiares) nas dos Direitos de Crianças e Ado- Criança e do Adolescente (ECA).
Fotos: divulgação
nos da Criança e do Adolescente de São Vicente, adultos, 7 adolescentes e 2 crianças para participa-
realizada no dia 30 de abril de 2015 no salão da As- rem das etapas seguintes das conferências.
sociação Comercial, Industrial e Empresarial, reuniu
328 participantes. A Conferência Convencional so-
mou 81 pessoas, que no final do encontro aprovaram
duas moções: uma de apoio à greve dos professores
da rede pública de São Paulo e a outra de repúdio à
redução da maioridade penal.
A Conferência Lúdica, que contou com a presença
de 247 crianças e adolescentes, surpreendeu o estu-
dante de Psicologia Guilherme Guedes Reis, 20 anos,
estagiário da Prefeitura de São Vicente. Ele monito-
rou a conferência das crianças, a maioria entre 7 e
11 anos de idade, que tinha como meta a proposição
de ao menos sete propostas. “Achei que seria difícil
atingir essa meta, mas os participantes foram além:
criaram 12 propostas”, conta. Entre os temas debati-
dos, questões ligadas à escola (falta de professores
substitutos e de merenda de qualidade) e comunida-
de (problemas com coleta de lixo e segurança). “Foi
um evento muito rico. As crianças estão fazendo po-
lítica desde cedo. Aprendi muito com elas”, diz Reis.
Diversidade
mostra ECA - 25
Anos de História
No mês em que o Estatudo da
Criança e do Adolescente comemora
25 anos de existência, o CRP SP, em
parceria com a TV PUC, apresenta
uma série de quatro vídeos sobre a
importância do ECA.
Os dois primeiros episódio podem
ser vistos no Canal do CRP SP no You
Tube: Acesse: www.youtube.com/
user/crpspvideos. Compartilhe.
Assista sempre ao Programa Diver-
sidade, o espaço da Psicologia na TV.
O futuro do Brasil
não merece cadeia Carta Contra Criminalização
Veja também o documentá-
rio O Futuro do Brasil não merece da Infância e Adolescência
cadeia, produzido pela então Co-
missão de Criança, Adolescente e Em agosto de 2014, o CRP SP divul- das medidas de responsabilização já
Família do CRP SP, na gestão 1998- gou carta alertando sobre a crimi- previstas, mas, garantir que em seu
2001. Assista, baixe, compartilhe. nalização dos jovens. Em uma das cumprimento não lhes sejam avilta-
www.crpsp.org.br/portal/ passagens, o texto afirma: “No to- dos direitos, sobretudo, à dignidade”.
comunicacao/O_Futuro_do_ cante aos atos infracionais – mesmo Acesse a íntegra deste importan-
Brasil_nao_merece_cadeia/O_ os graves – entendemos que refutar te documento no site: www.crpsp.
Futuro_do_Brasil_nao_merece_ quaisquer proposições que evoquem org.br/portal/comunicacao/artes-
cadeia.html. a redução da maioridade penal não -graficas/arquivos/2014-carta_cri-
significa alienar as/os adolescentes minalizacao.pdf.
Confira a exposição
virtual, completa,
no site do CRP SP:
www.crpsp.org.br/
portal/comunicacao/
exposicoes.aspx
Sujeitos de desejos
A singularidade da contribuição
da Psicologia no debate provoca-
do pela celebração do 25º aniver-
sário do Estatuto da Criança e do
Adolescente está na gênese de sua Temática dos direitos da infância
atuação, que entende as pessoas e da adolescência é um dos eixos de
como sujeitos de desejos antes até atuação da Psicologia a que o CRP SP
de serem sujeitos de direitos. É o dá visibilidade permanentemente
FILMES
De Menor
(Brasil, 2014) Caru Alves de Souza, Drama, 67 minutos.
Vencedor do Festival do Rio 2013, o curta-metragem coproduzido
pela diretora e Tata Amaral conta a história de Helena (Rita
Batata), uma advogada recém-formada que divide sua rotina
como defensora pública de crianças e adolescentes no Fórum
de Santos e os cuidados com o jovem Caio (Giovanni Gallo). O
relacionamento dos dois é colocado à prova quando Caio comete
um delito. Parte do elenco é formada por jovens de Santos que
tiveram sua primeira experiência com o cinema.
LIVROS
Joaquim Toco e amigos Crianças Como Você - Uma
na Terra do Gãr: crônicas emocionante celebração
do cotidiano Kaingang da infância no mundo
Hilda Beatriz Dmitruk e Leonel Barnabas Kindersley e Anabel
Piovezana, com ilustrações de Gina Kindersley, Editora Ática, 2014.
Zanini, Ministério Público Federal, 2015. Celina, do Brasil; Ji-Koo, da Coreia do Sul;
Joaquim Toco e seus amigos na Terra do Houda, do Marrocos; Meena, da Índia;
Gãr, de forma fresca e bem humorada, Esta, da Tanzânia... Neste livro infantil
introduzem os leitores no mundo da em forma de relatos com ares de repor-
atual geração de Kaingang. Por meio das tagem, as crianças não só são os perso-
aventuras de Toco, Luar, Kusé e Cesário, nagens das histórias como as próprias protagonistas. Em depoi-
somos convidados a conhecer aspectos da vida cotidiana nas mentos reais, elas falam e escrevem sobre sua vida e seu jeito de
comunidades indígenas da região Oeste de Santa Catarina. O ser em diferentes culturas ao redor do mundo. Através da obra,
livro, que está sendo distribuído nas escolas públicas da cidade o leitor conhece o cotidiano da infância a partir do próprio olhar
de Chapecó e região, será disponibilizado pela Procuradoria da infantil. Editado em associação com o Unicef, o Fundo das Nações
República em Santa Catarina para download. As histórias foram Unidas para a Infância, o livro apresenta as situações da infância
colhidas e elaboradas nas próprias comunidades indígenas, em em sua diversidade, unidas pelo traço comum da relação lúdica
pesquisa da UnoChapecó em parceria com o MPF. Participaram da criança com a escola, a família e a vida em sociedade. Ensina
do processo, para que a obra fosse construída de forma que a vida das crianças tem cores, sabores e hábitos diferentes,
transdisciplinar, antropólogos, historiadores e educadores. mas que meninas e meninos são iguais em qualquer parte.
e-mail: prsc-prmchapeco@prsc.mpf.gov.br www.atica.com.br
| Tel.: (49) 3313-1200 | Tel.: (11) 4003-3061