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Direito Constitucional Positivo I

Poder Executivo

Aquisição de mandato presidencial


A aquisição de mandato presidencial é resultado do sufrágio universal e voto direto, igual, obrigatório e
secreto, pelo sistema eleitoral majoritário por maioria absoluta. (Arts. 14, caput, 60, §4º, inc. II, e 81,
§§1º e 2º, da CRFB)

- Existe alguma exceção, caso de eleição indireta? Sim. Há a possibilidade de a eleição presidencial
ser realizada pelo Congresso Nacional, na hipótese de vacância dos cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República nos últimos dois anos do mandato, devendo os eleitos completar o período
de seus antecessores. (Art. 81, §§1º e 2º, da CRFB)

- Qual é a distinção entre substituição presidencial e sucessão presidencial? Pelo art. 81, §1º, da
CRFB, a substituição é a ocupação temporária do cargo e a sucessão é a ocupação definitiva. A
Constituição só estabelece o Vice-Presidente como sucessor; assim, se houver vacância de seu cargo,
será necessária uma nova eleição porque mais ninguém está apto ao ato. No caso da substituição, há
estabelecido o Vice-Presidente, o Presidente da Câmara, o Presidente do Senado e o Presidente do
Supremo, respectivamente.

- Havendo eleição indireta, ocorrerá novo mandato ou apenas complemento do mandato já


iniciado? Pelo art. 81, §2º, da CRFB, em qualquer dos casos de vacância (ocorrendo nos primeiros ou
últimos dois anos) não haverá novo mandato, mas a complementação daquele já em curso. Este é o
chamado "mandato tampão". Isso ocorre até para que se tenha coincidência entre os mandatos
estaduais e federais, já que uma eleição demanda muitos gastos.

- No direito comparado, essa situação pôde ser vista na Argentina em 2001, o sistema mais
próximo ao brasileiro em tal temática. Qual é a diferença entre o sistema argentino e brasileiro? A
eleição indireta na Argentina é feita pelo Congresso, mas com escolha de candidatos para
substituição sem a exigência de que estes façam parte do Congresso. Já no Brasil é realizado no
Congresso e entre seus pares, candidatos que façam parte dele. Ademais, a Argentina aceita eleição
presidencial sem necessidade de alcance da maioria dos votos.

A elegibilidade do Presidente da República é condicionada à nacionalidade brasileira primária ou


originária, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral no território
nacional, filiação partidária e idade mínima de 35 anos. (Arts. 12, §3º, inc. I, e 14, §§3º, 5º, 7º e 9º, da
CRFB)

Duração do mandato presidencial


A duração do mandato presidencial é de quatro anos e tem início em 1º de janeiro do ano seguinte ao
da eleição. (Art. 82, da CRFB)

O Presidente da República e quem o houver sucedido ou substituído no curso do mandato poderão ser
reeleitos para um único período subsequente. (Art. 14, §5º, da CRFB)

- O artigo 14, §5º, da CRFB, prevê um caso raro em que a Constituição pondera explicitamente dois
valores. De um lado o Princípio da República (todo poder político deve ser temporário), e do outro o
Princípio da Eficiência (pelo qual se pode exigir continuidade). Há, então, tempo para se demonstrar
eficiência e se merecer a reeleição.

- No artigo 14, §5º, a Constituição fala em sucessão e substituição Como essas expressões devem
ser interpretadas? O Supremo Tribunal Federal interpreta que para fins de reeleição os períodos de
substituição não são contabilizados, somente os de sucessão (independente de quanto tempo dure,
o período de sucessão será considerado como um mandato completo).

- Para que Presidente, Governador ou Prefeito sejam reeleitos, é necessário renúncia ou pode-se
concorrer à reeleição estando no exercício do cargo? A candidatura ao mesmo cargo, durante seu
mandato, não requer renúncia. Mas caso trate-se de cargo diferente àquele em exercício no
momento, será necessária a descompatibilização. Trata-se esta da renúncia do cargo seis meses
antes da eleição; não se confunde com licença, o vínculo é realmente cortado.

- A norma brasileira é similar à estadunidense, mas há uma diferença. Qual? Nos Estados Unidos, o
Presidente pode ser eleito várias vezes (vários mandatos diversos de quatro anos), mas reeleito
somente uma única vez em sua vida. No Brasil, em tese, é possível que uma mesma pessoa tenha
vários duos de mandato, por várias vezes em sua vida.

Perda de mandato presidencial


A perda é gênero, sendo cassação e extinção suas espécies.

Ocorre a extinção do mandato presidencial nos seguintes casos: 1) morte; 2) renúncia; 3) suspensão ou
perda dos direitos políticos; 4) não comparecimento para a investidura no cargo eletivo, salvo motivo de
força maior, no prazo de dez dias; e 5) ausência do País, sem licença do Congresso Nacional, por período
superior a 15 dias. (Arts. 15, 78, parágrafo único, e 83, da CRFB)

Ocorre a cassação do mandato presidencial por condenação por crime comum (decisão irrecorrível do
Supremo Tribunal Federal) ou crime de responsabilidade (por deliberação majoritária do Senado
Federal, tendo a acusação sido admitida por dois terços dos membros da Câmara dos Deputados). (Arts.
52, inc. I e parágrafo único, 86 e 102, inc. I, b, da CRFB)

- O impeachment se refere ao processo de investigação e julgamento do Presidente por crime de


responsabilidade. Há crime, é imputado ao Presidente, há o julgamento e ele responde por isso; em
sentido amplo, é o mecanismo processual de responsabilização dos agentes políticos no sistema de
governo presidencialista. (Arts. 50, §2º; 51, inc. I; 52, incs. I e II e parágrafo único; 85; 86, caput, in
fine, §§1º, inc. II e 2º, 102, inc. I, c; e 167, §1º, da CRFB)

- O impeachment é processo bifásico aproximado do júri:

Juízo de prelibação - Trata-se do juízo de admissibilidade da acusação. É realizado pela


Câmara dos Deputados, onde se admite ou rejeita a acusação. Caso aceita, submete-se o
Presidente a julgamento no Senado Federal (segunda fase); caso rejeitada, há arquivamento
do processo. A votação nominal no Plenário da Câmara exige dois terços dos votos dos
membros da Casa para a aprovação da propositura.

Juízo de deliberação - Trata-se do juízo de mérito da causa, desencadeado pelo recebimento


da denúncia. É realizado no Senado Federal, onde se absolve ou não o Presidente. A última
seção, a de julgamento, é dirigida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal; o Presidente
do Senado vota, evitando empate. Se o juízo for negativo, a consequência é a absolvição; se
for positivo, por dois terços dos votos, incidem as sanções de perda do cargo e inabilitação.

- Qual é a natureza jurídica do impeachment? É processo estritamente político ou é processo


político-penal? Na doutrina, existem posições divergentes. Carlos Maximiliano e Paulo Brossard
salientam que o impeachment seria processo estritamente político, uma vez que não seria
provocado por causas penais; logo, não cabe controle judicial. Já Miguel Reale sinaliza que o
impeachment seria processo político-penal, pelo qual a causa é política mas a consequência é
penal; logo, cabe controle judicial sobre sua legalidade. Esta última posição é majoritária na
doutrina atual e corresponde ao entendimento do Supremo Tribunal Federal
- O impeachment não deve ser confundido com recall, que também é modo de perda do
mandato por cassação mas por motivo de perda de confiança política. Existe no Direito
estadunidense a nível estadual e municipal e corresponde a uma votação popular. Há sistema
parecido na Venezuela e já há proposta de sua inclusão no Brasil.

- Qual é a condição de procedibilidade do impeachment? A condição é prevista no art. 12 da Lei


do Impeachment: o Presidente deve estar no desempenho do cargo para que seja admitido o
processo. Afinal as sanções do impeachment são: perda de cargo e inabilitação por oito anos para
desempenho da função pública. Quando há exoneração ou renúncia antes do recebimento da
denúncia, o processo por crime de responsabilidade não pode ser instaurado.

- O processamento continua ainda que o Presidente renuncie após a denúncia? Trata-se da


condição de prosseguibilidade. A professora Denise Freitas Fabião Quasque sustenta que estar no
cargo presidencial também é condição de prosseguibilidade, de modo que se o Presidente
reunciar ao cargo após o recebimento da denúncia, o processo se extingue. Já Luís Roberto
Barroso tem parecer onde aponta que estar no desempenho do cargo não seria uma condição
imposta para o prosseguimento do processo; uma vez admitida a denúncia, o processo seguiria,
mesmo que para apenas a inabilitação da função pública. Esta última posição corresponde ao
entendimento atual do Supremo Tribunal Federal.

- O Senado Federal é obrigado a abrir o processo de impeachment após aprovação da


admissibilidade na Câmara dos Deputados? Guilherme Peña entende que por interpretação
expressa da Constituição (art. 86), o Senado Federal é obrigado a abrir o processo e não haveria
que se falar em subordinação entre as Casas, uma vez que as funções são diferentes; o Senado
Federal é vinculado à Câmara dos Deputados e em vários casos há a imposição de uma Casa
sobre a outra. No entanto, o Supremo Tribunal Federal entende que o Senado Federal pode ou
não aceitar a decisão de admissibilidade da Câmara, conforme conveniente e oportuno, por
maioria simples. Surge, assim, um juízo de admissibilidade de admissão (ato político), sendo
possível falar em arquivamento anômalo.

- Pode o Presidente reeleito responder sobre os fatos pretéritos ao atual mandato


(impeachment tardio)? Na doutrina, existem posições divergentes. Erival Silva e Guilherme Peña
entendem que o impeachment tardio seria inconstitucional, pois não se acusa neste processo por
crime de responsabilidade a pessoa, mas o ato que ela praticou. Já Gustavo Badaró afirma que se
acusa a pessoa em si, sendo possível o Presidente reeleito responder sobre fatos pretéritos ao
atual mandato.

O Presidente da República poderia ser responsabilizado por enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e
atentado contra os princípios da administração pública, uma vez que a ação de improbidade
administrativa, provida de natureza cível não se confunde com a ação por crime comum, recoberto de
natureza penal, nem com a ação por crime de responsabilidade, revestido de natureza político-
administrativa.

Funcionamento do Poder Executivo


As atribuições do Presidente são enumeradas no art. 84 da CRFB, em vinte e sete incisos.

- O termo "privativamente" no caput é um erro, fazendo crer que as funções seriam delegáveis. O
parágrafo único do art. 84 especifica três situações passíveis de delegação (incs. VI, XII e XXV, initio).

- O rol de atribuições enumeradas não é exaustivo, mas exemplificativo. O inc. XXVII prevê o a
existência de outras atribuições previstas na Constituição (por exemplo, art. 130-A).

- O decreto autônomo seria uma quebra da Separação dos Poderes? Antes da Emenda 32/01, a
escola brasileira de origem francesa defendia que não haveria nenhum obstáculo a este instituto no
Brasil, pois não geraria nenhum empecilho à Separação dos Poderes, conforme podia ser visto na
França; já a escola de origem americana afirmava o contrário, tendo como referência os Estados
Unidos, que nunca admitiu. O Supremo Tribunal Federal seguia este último entendimento. A partir
da Emenda 32, no entanto, a doutrina majoritária passou a entender o decreto autônomo como uma
situação permissiva. Sávio Carvalho Filho e Justen Filho afirmam que o inciso 6 do art. 84 não inovou
em nada, trazendo simplesmente exemplificações do que está expresso no inciso 4º; no entanto, a
interpretação literal da Constituição demonstra o contrário.

- O decreto autônomo é limitado à organização e funcionamento da Administração Federal e não


deve implicar em aumento de despesas, criação ou extinção de órgãos públicos. Pode abordar
ainda extinção de funções ou de cargos públicos quando vagos.

- Há atecnia no art. 84, inc. II, b, da CRFB. Um cargo vago, criado por lei, ao ser extinguido por
decreto autônomo, incide em caso de desrespeito à simetria de forma, segundo a qual os modos
de criação devem ser os de extinção.

Garantias do Poder Executivo


Foro especial por prerrogativa de função - O crime comum (ilícito penal) tem foro no Supremo Tribunal
Federal e o crime de responsabilidade (ilícito político-administrativo) tem foro no Senado Federal. (Arts.
52, inc. I, e 102, inc. I, b, da CRFB)

- O juízo de admissibilidade de processo pela Câmara dos Deputados ocorre frente a qualquer tipo
de acusação contra Presidente, inclusive na hipótese de crime comum. O Supremo Tribunal Federal
não recebe a denúncia diretamente. (Art. 51, inc. I, da CRFB)

Imunidade temporária à prisão provisória - O Presidente tem imunidade à prisão provisória (seja em
flagrante, preventiva ou temporária); ou não é preso, ou é preso definitivamente após trânsito em
julgado da decisão. Esta imunidade é temporária porque se restringe ao mandato. (Art. 86, §3º, da
CRFB)

Imunidade temporária à persecução criminal - O Presidente não pode ser investigado, acusado, nem
julgado por atos estranhos a sua função durante seu mandato; refere-se apenas à persecução por crime,
de modo que não inibe aquela por ilícito administrativo, tributário, civil, etc. A implicação dessa
imunidade se refere somente ao mandato, após o término deste começa a correr o prazo prescricional e
pode haver julgamento em caso de acusação penal.

Em relação aos níveis estaduais e municipais, é possível a extensão dessas garantias a Governador e
Prefeito? Com relação ao foro especial não há discussão da extensão da garantia, pois que a
Constituição o prevê em ambos os níveis (para o primeiro no Superior Tribunal de Justiça e para o
segundo no Tribunal de Justiça). A questão debate recai sobre o juízo de admissibilidade.

Norma de Constituição Estadual que prevê juízo de admissibilidade na Assembleia Legislativa é


inconstitucional? O STF diz que este tipo de disposição é válida e serve para evitar a “destituição
indireta” – aquela que ocorre sem que, no mínimo, um órgão legitimado faça um juízo sobre a questão.
O STJ deve então tomar o cuidado de verificar a Constituição do Estado quando se encontrar nessa
situação, tendo em vista evitar que o processamento nasça com vícios. Assim o Estado pode estabelecer
norma sobre juízo prévio de admissibilidade da acusação pela Assembleia Legislativa.

- A Lei do Impeachment para Governador determina inabilitação para exercício de cargo público para
cinco anos somente.

- O mesmo pode acontecer na esfera municipal, através da Câmara dos Vereadores, devendo ter
previsão na Lei Orgânica, o que é bem comum. Sublinhe-se que isso pode ocorrer mesmo que não
exista a disposição no âmbito do respectivo Estado.

As imunidades temporárias são extensíveis aos Governadores? No Estado do Rio de Janeiro estas
imunidades estão presentes, porém o STF pacificou que, em qualquer caso, estas normas são inválidas,
pois são garantias do Chefe de Estado, o Presidente. Assim, o Governador terá assim sempre foro
especial, e talvez o juízo prévio, a depender da previsão constitucional expressa e simétrica da
constituição estadual, mas nunca as imunidades temporárias. Os Prefeitos também não as detém.

Anotações:
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