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mais variados apetites. Cada instinto perseguiu um registo. Há quem,
na sua escolha, pretenda fixar em arquitectura literária superior a
fugacidade da vida, há quem, também se fixando nesse desgaste,
aproveite para a festejar (Ferreira Gullar, evocado pelo brasileiro
Antonio Cicero), há quem se sinta confrontado por um poema-soco ou
por um poema que, para falar de amor, traz a sombra da morte. Ou
ainda por um poema que despoja o homem de pulsões que o
diminuem.
Manuel Cintra
“Muriel”, de Ruy Belo
É, desde sempre, não só o meu poema de amor favorito em toda a
literatura portuguesa (que eu conheça) como é, mais do que isso, o meu
poema favorito. Acontece que o tema dominante no que escrevo é o
amor, e dentro do amor, por razões muito pessoais e objectivas, o
desencontro. Este poema fala de ambos, como a meu ver só o Ruy Belo
soube fazer. Para além da música das palavras, como sempre
incomparável, o Ruy consegue aqui uma emoção, uma intensa tristeza,
uma maneira de ir ao encontro do amor tornando-o impossível que me
comove sempre, e que se me entranha de cada vez que o leio, seja para
mim, seja para outrem. Como sempre, a ferramenta certeira é, além
disso, a morte. O Ruy utiliza a morte, seu tema obsessivo, tanto para
falar de amor como para o que quer que seja. Ora fá-lo com uma
profundidade e uma melancolia tais, que sempre, há trinta anos que
leio este poema, ele renasce em mim, e põe-me a chorar por dentro.
São razões muito físicas e emotivas, nada intelectuais.
Inês Lourenço
“Não só quem nos odeia ou nos inveja”, de Ricardo
Reis
Nos tempos que correm, apetece saborear esta ode pessoana, enquanto
desafiante e sabotadora dos actuais estilos de vida e de pensamento.
Vão pela borda fora os empreendedorismos, o ter cada vez mais e
melhores coisas, os hedonismos vários e até os monoteísmos, que
tantas guerras sangrentas proporcionam, seguindo o poema um
paganismo sadio e ético. Claro, que há a questão das influências,
horacianas, epicuristas, estóicas ou heraclitianas. Mas os grandes
poetas são intemporais. Dão-nos sempre capacidade acrescida de
respiração e de aceder a uma total liberdade, anulando as
contingências do mundo.
João do Nascimento
“O pai morava no fim de um lugar”, de Manoel de
Barros
Descobri a poesia de Manoel de Barros em 2001, e não foi preciso mais
do que a leitura breve de alguns dos seus poemas para que me tocasse.
A visão profunda que transpira na sua escrita dos elementos vulgares,
tão quotidianos quanto imensos e desimportantes, é tão grande que
ganha nos seus textos a dimensão harmoniosa daquilo a que alguns
chamarão: alma.
E ainda rimos
e ainda corremos
e ainda nos deitamos
nos botões do amor
mas é mais profundo
e mais tarde
que pensamos
e tudo se gasta
e todas as nossas boias d’amor falham
E bebemos e afogamo-nos
Miguel-Manso
“O Autocarro”, de Leonard Cohen
Não sei explicar bem o porquê de escolher este e não outro. Na verdade
podia ser outro. Mas este tem um sentido aventureiro que me agrada.
Cumprir uma aventura sem sair da secretária.
Margarida Ferra
“O Canto da Chávena de Chá”, de Fiama Hasse Pais
Brandão
Não é a primeira vez que repito este poema quando me pedem um.
Gosto do modo como Fiama chama a poesia e a natureza para
contracenarem além das deixas decoradas. Também porque sou uma
leitora feliz diante do lirismo temperado com ironia. E apesar de
duvidar muito, ainda acho que, a servir para alguma coisa, a poesia
estará aqui para nos trazer à mesa novos sentidos, chamando os
nossos, vivos, e outras explicações. Como esta de que a porcelana e o
osso estão ligadas além da mão que segura a chávena e de que as
palavras de um poema encontram o lugar certo no universo para uma
mesa de verga (imagino-a desfiar-se, a chávena de chá, agora mal
equilibrada, sobre o tampo).
Rui Almeida
“Nem nos defende a ausência”, de José Augusto
Seabra
Dos 21 poetas, nascidos entre 1930 e 1941, incluídos por António
Ramos Rosa no volume que constitui a quarta série das ‘Líricas
Portuguesas’ (1969), José Augusto Seabra (1937-2004) é, tanto quanto
sei, aquele que nunca teve a sua obra poética reunida ou com uma
ampla antologia. E todo o sentido faria, pois trata-se de alguém que,
nos 14 livros de poemas, publicados entre 1961 e 2002, reflecte um
percurso pessoal riquíssimo, que vai desde a experiência do exílio, por
causa da oposição ao Estado Novo, até à carreira diplomática que o
levou a vários países como embaixador, passando pela experiência
académica, em Paris, que o revela como um dos mais importantes
estudiosos de Fernando Pessoa, ou pela profunda reflexão crítica da
relação da cultura com a cidadania. O poema escolhido é do seu
primeiro livro e revela já a marca da «lúcida perscrutação de um
espaço interior», apontada por Ramos Rosa, que acompanhará toda a
sua obra.
Leonardo
“IX”, do “Discurso sobre a reabilitação do real
quotidiano”, Mário Cesariny
Por (e para) altura do nosso tempo imediatista, que, por milagre ou
paradoxo, consegue estagnar nas coisas mais velhas do mundo, surgir-
nos-ia Cesariny. Os seus versos, aqui, não deixam de me lembrar uma
cabeça de que se derramasse uma cascata. À superfície temos a
imprevisibilidade dos lados para que se derrama, o ritmo estrondoso
das águas a bater em si próprias. Depois, são as imagens que se riem
ruidosamente de nós, «homens só até aos joelhos», «lindas lindas
raparigas só até ao pescoço», «poetas até à plume», riem-se que
permitamos que nos fechem o caminho para a «noite Cadillac
obsceno». E quem diria que voltaríamos ao tempo (ou nunca saímos?)
em que «o joelho está tão barato»? Já no fundo de tanto riso, acredita-
se, há-de haver alguma amargura. E, portanto, esperança. Pelo que a
maravilha da poesia está aqui: quando as palavras se conseguem
alimentar de um tempo e de um espaço posteriores, corroendo-os.
Muito mais estará nestes que pisamos, em que se diz muito pouco, ou
em que aquilo que se pode dizer tem os seus respectivos estágios de
afogamento.
Cláudia R. Sampaio
“Homens que são como lugares mal situados”, de
Daniel Faria
Poema que confirma o génio de Daniel Faria e de uma maturidade
assombrosa para um jovem poeta. Revelador da sua visão mística e
visceral, é ainda de um perfeito domínio formal aliado a uma poesia
que ilumina, numa incessante busca e contemplação e numa serena
exaltação dos mistérios do homem, intensificando-os, deixando-os no
lugar.
Pedro Mexia
“A de Sempre, Toda Ela”, de Paul Éluard
Lembro-me do tempo em que comecei a ler seriamente poesia, e em
que «a poesia» se identificava quase por completo com este poema de
Paul Éluard (traduzido por António Ramos Rosa): aspiração,
celebração, invenção, espanto. Comecei por encontrar uma tradução de
Hölderlin, clássico-romântico, poeta de grandes exaltações e grandes
odes, mas logo depois descobri Éluard, mais acessível, mais
contemporâneo, um dos surrealistas franceses, talvez o maior poeta
francês do seu tempo. E até encontrar um estilo que fosse mais ou
menos meu, este era o estilo eu imitava: a de um intimismo comovido,
reiterativo, agradecido, poemas sobre a grande alegria de ter ou não
ter, a candura de esperar, a inocência de conhecer. Mas Eliot refreou-
me essa tendência, tal como os disfóricos Hardy e Larkin, e Álvaro de
Campos, e a vida também. De modo que hoje vejo Éluard como uma
recordação de um momento em que a poesia era uma evidência, uma
omnipresença. Já não acredito nisso, mas estou grato por essa ficção de
juventude
eu não quero morrer outra vez essa frase fá-lo muito feio.
Acredite que vi gente morrer porque era maior que o corpo
tenho a impressão que o corpo não sabe o que tem dentro
colher
dos ramos altos
sem saltar
o fruto sereno
da tua passagem
— como?
Carlos Bessa
“Desculpas não faltam”, de José Miguel Silva
Entre os muitos poemas de que gosto escolho “Desculpas não faltam”
(do livro Serém, 24 de Março. Averno, 2011), de José Miguel Silva, pelo
tom e pelo modo como, em poucos versos, se mostra que a poesia que
realmente importa seduz, emociona e deslumbra, podendo mesmo
brincar prosaicamente com topos e temas clássicos e transfigurar, com
algum humor, pequenos aspectos do quotidiano, que ganham assim
outra claridade.
Rui Cóias
“The Hollow Men”, de T.S. Eliot (excerto)
Ler e pensar este poema de Eliot é como escolher o fim de um mundo,
o início de um tempo agonizante, acompanhar uma mão que vai
esculpindo, com o seu rigor, crueza formal e limpidez absolutamente
inebriantes, as lamentações de ideais perdidos do primeiro quartel do
século XX, que são, na sua essência, como que uma estrela crepuscular
na história que nos dirige através do desmoronamento e da
ambiguidade sombria.
Juntos sussurramos
Os que cruzaram
De homens vazios
Homens de palha.