Você está na página 1de 12

Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO

A ANAMNESE E A AFETIVIDADE: REFLEXOS NO ENSINO APRENDIZAGEM

Tiago de Oliveira Ferreira1


Hélia Maria da Silva Campos1

_________________________________________________________________________

¹ Faculdades Integradas IESGO

Autor Correspondente:
Thiago de Oliveira Ferreira
Faculdades Integradas IESGO
Tiago.ferreira@iesgo.edu.br

RESUMO
Apresentando uma proposta pedagógica que busca uma atenção voltada aos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, numa perspectiva afetiva e investigativa, o presente instrumento trata-se do interesse em entrevistar,
usando os moldes do método da anamnese, modelo de investigação histórico-familiar da criança, geralmente
utilizado pelo psicopedagogo, para diagnosticar problemas ou dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento
cognitivo das crianças, porém, sugerindo que essa entrevista seja estabelecida de modo informal, sem a presente
instrumentalização formal da ficha de anamnese. Em segundo plano, estudos e pesquisas nos campos da psicologia
que se destinam a abordagem da educação, onde alguns exemplos da psicogênese e o histórico pessoal psicológico do
aluno são aspectos consideráveis para a compreensão do desenvolvimento escolar, associado à participação da
família, como estratégia pedagógica para o sucesso do ensino-aprendizagem. Por fim, uma pesquisa abrangendo uma
escola pública municipal, com um grupo de trinta alunos, distribuídos do primeiro ao quinto ano, com uma faixa
etária entre seis e dez anos de idade, opinando sobre afirmativas ligadas à pedagogia afetiva e suas projeções
positivas para a educação de qualidade, avaliando as relações interpessoais entre alunos, professores e a família. Os
dados quantitativos destas opiniões estão ilustrados por gráficos e porcentagens que culminam com o objetivo geral
desta produção, a análise da importância da anamnese e a afetividade e seus reflexos profícuos para a educação,
subsidiando a ação pedagógica com vistas à humanização do ensino, considerando a indissociável formação do
indivíduo nos seus aspectos físicos, cognitivos e emocionais, fatores, estes, relacionados a interação e integração
social afetiva, crítica e reflexiva sobre as competências da pedagogia na vida e na sociedade.

Palavras-chave: Educação. Ensino aprendizagem. Afetividade. Anamnese. Pedagogia.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho refere-se à explanação acerca da aprendizagem e suas variações, de acordo com níveis e
dificuldades que fazem de cada uma, total singularidade. Trata-se de uma relação afetiva, que educa, ensina e media
o conhecimento. As relações entre professor e aluno numa perspectiva muito além do âmbito da sala de aula e das
quantidades cronológicas de dias letivos. O trabalho do pedagogo é uma extensão da afetividade educacional
estabelecida no seio da família e, mesmo em situações em que as famílias tenham algum tipo de disfunção, o trabalho
pedagógico assume o papel de mediar essa aproximação, afim de reforçar a garantia de aprendizagem dos alunos.
Traz referências de abordagem na coleta de dados investigativos, na relação professor-aluno e família.
Tais dados são de suma importância para embasarem o trabalho do psicopedagogo e, para além disso, por
não se restringir apenas aos casos de alunos que apresentem dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, a entrevista,
base do conhecimento recíproco, serve de amparo e apoio ao pedagogo para tratar de suas relações cotidianas com
todos os alunos, até mesmos os que se desenvolvem, no quesito aquisição de aprendizagem, de maneira comum.
Este trabalho torna-se relevante, pois através das pesquisas, dos referenciais e das observações realizadas,
pode-se entender que a responsabilidade de educar está associada a aprendizagem significativa. O pedagogo busca

1
Acadêmico em Especialização do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelas
Faculdades Integradas IESGO
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
conhecer, de modo mais proximal, cada aluno e sua família. Cada histórico familiar que condiciona toda a formação
do caráter emocional do aluno e a confiança que nesta relação é depositada garante suporte para o sucesso da
aprendizagem. Refere-se à importância da anamnese e suas contribuições no trabalho docente. De acordo com Barros
(2010) a entrevista é vista como processo de compreensão, muito mais que um simples diálogo, organizado entre
duas ou mais pessoas. Trata-se de interesses em coleta de informações necessárias para o conhecimento do objeto de
trabalho, que, para o caso em específico do pedagogo, é o aluno, o indivíduo educando, inserido no processo de
aquisição de aprendizagem.
Observa-se neste o estudo, como justificativa, tratar de um processo informativo de coleta de dados,
destinados ao trabalho ou ação, neste caso em especial, a atuação do psicopedagogo ou pedagogo em questão, o
objetivo é dividir, didaticamente, a anamnese em fases e, assim, colocá-la a favor da aprendizagem e do
desenvolvimento do aluno, pautando-se numa pedagogia afetiva.
Entender a especificidade do aluno e buscar um quociente comum para estabelecer um plano ou projeto de
aula que elucide de maneira simplificada a construção da aprendizagem é o desafio do professor, usar de uma
abordagem que compreenda como cada um de seus alunos faça se tornar significativo os conceitos do que lhe é
ensinado.
Por isso, a pesquisa quer entender para além do ser aluno e sua relação com a escola, buscando o histórico de
vida de cada aluno, nos seus laços familiares, como a família vê a criança em estágio de desenvolvimento e
aprendizagem e, como elas podem cooperar com a escola, com o pedagogo e o psicopedagogo, quando ocorre
qualquer dificuldade de aprendizagem.

MATERIAL E MÉTODOS

Ao trazer a tona o motivo desta pesquisa, alguns dos envolvidos nos campos de observação dela podem se
questionar sobre suas práticas, o que provocaria uma reflexão positiva de como eles podem ver, sobre uma
perspectiva afetiva, sua ação quanto pedagogo, o que poderia reformular em alguns o agir docente e, a outros,
reforçar com a positividade dos resultados alcançados a relação afetiva que dispensam aos alunos.
Não basta uma qualificação voltada apenas ao conhecimento teórico ou conceitual, o professor pode propor
uma nova maneira em lidar com a docência, de modo que seus resultados sejam ainda mais favoráveis e subjetivos.
Segundo Gil (2002) “como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações
desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas.” (GIL, 2002, p. 19) A elaboração deste
projeto busca explicitar a relação da afetividade como condicionante positivo no ensino aprendizagem e a
investigação, pela anamnese, da vida do aluno, para que o pedagogo conheça com quem está lidando, busque ações
para serem desenvolvidas, ao longo do processo de mediação das aulas, com eficiência, objetivos específicos do ato
de mediar o conhecimento e compreender como seus alunos assimilam esses conhecimentos, tornando-os
significativos à sua vida, com isso garantir o sucesso da aprendizagem e diminuir as dificuldades que possam haver
nesse processo.
Questionar alunos, pais e professores sobre a relação que eles têm no espaço escolar, trazendo uma reflexão
sobre o uso da anamnese e suas contribuições para a aprendizagem do aluno, junto com uma proposta de
humanização nestas relações, com afetividade e interação de todos os envolvidos é o motivo deste trabalho.

OBJETIVO GERAL

Analisar a importância da anamnese e da afetividade e suas contribuições na relação ensino aprendizagem,


numa das escolas públicas da cidade de Formosa – Goiás.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Coletar informações necessárias sobre o histórico de vida do aluno, de sua família e as possíveis relações
deste histórico com problemas de aquisição de aprendizagem e suas relações interpessoais.
Buscar meios, através da investigação, para diagnosticar o histórico pessoal psicológico do aluno, a
anamnese.
Elaborar táticas para que estes problemas sejam solucionados, ou, amenizados, de acordo com as
possibilidades, através da afetividade em educar e ensinar.

O QUE É A ANAMNESE E A SUA CONTRIBUIÇÃO NA RELAÇÃO ENSINO APRENDIZAGEM

O ponto de partida para entender a abordagem dessa temática será através da observação, esta é a premissa
do trabalho do psicopedagogo e pode ser também o princípio do trabalho do pedagogo. Existem alguns eixos
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
norteadores que pressupõem a análise da anamnese como entrevista com a família, serão consideradas, então,
algumas das intenções pelas quais se fará esse procedimento.
De acordo com Barros (2010), em primeiro plano é necessário saber porque motivos existe a consulta, pois
bem, quais foram os fatores determinantes que levaram ao conhecimento e a busca do trabalho do psicopedagogo
para a tal consulta. Este primeiro eixo norteador pode estar associado a uma prévia observação do professor que teve
contato, em primeira mão, com a criança. Através deste, o professor pode ter percebido quaisquer características que
tiveram influência e conotaram a uma possível dificuldade de aprendizagem, lembrando que essa afirmação só terá
validade após ser criteriosamente analisada por um profissional competente, este caso trata-se apenas de uma
observação prévia.
A comunicação efetiva com a família, responsáveis, ou até mesmo diretamente ao aluno, é tratar de
quaisquer assuntos sem barreiras defensivas ou pré-disposição tendenciosa, numa consciência de que não há juízo de
valor em nenhum dado ou momento da entrevista, pois caso haja alguma postura que intimide o entrevistado, o
sucesso da investigação pode estar comprometido e, consequentemente, criará uma barreira para a boa realização da
anamnese. É preciso separar o particular do que é do outro.

A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça, que é o diagnóstico, pois,
por meio dela, nos serão reveladas informações do passado e do presente do sujeito,
juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observamos a visão da família sobre
a história da criança, as suas expectativas desde o nascimento, a afetividade que circule
neste ambiente familiar, as críticas, os preconceitos e tudo aquilo que é depositado sobre o
sujeito. (SAMPAIO, 2010, p. 143).

Existem expressões que também podem remeter a pessoalidade na indução de respostas, por exemplo, até
mesmo o tom de voz usado pelo entrevistador acaba por impor certa autoridade sobre o entrevistado e
comprometendo a comunicação.
A família ou o aluno, seja qual for o entrevistado no momento da anamnese, deve perceber que o
entrevistador é autêntico e sincero, assim, pode expressar com mais confiança e clareza seus históricos vitais, ou
relatos de vida, sabendo que não está sujeito a preconceitos ou julgamentos.
Outras sugestões importantes na anamnese são, segundo Barros (2010) importância de que o psicopedagogo:

Procure falar apenas o necessário, para que possa ouvir com mais atenção o que o
entrevistado tem a dizer; evite interromper o entrevistado durante suas colocações; dê
respostas claras e adequadas às perguntas do entrevistado, isso favorece a compreensão de
ambos, no diálogo. (BARROS, 2010, sp).

Não há como homogeneizar o aprendizado, cada indivíduo por si tem seus mecanismos de aquisição do
mesmo, com as especificidades peculiares a cada um, então, não é possível estabelecer um parâmetro. “Se a
aprendizagem não é uma estrutura, não resta dúvida de que ela constitui um efeito, e nesse sentido é um lugar de
articulação de esquemas” (PAÍN, 1985, p.11).
Este conceito reforça e descreve a dimensão biológica do processo de aprendizagem, onde mais do que pelas
características observáveis, os fatores biológicos possuem correlação com o processo de aquisição de aprendizagem.
Mas qual seria, então, a causa de uma consulta psicopedagógica após a prévia observação do professor em
relação ao aluno e seu desenvolvimento? Segundo Paín (1985), considera-se configuração de algum tipo de
dificuldade na aprendizagem, os alunos que demonstram diferenças ao processo de aprendizagem, em qualquer que
seja o estágio cognitivo do sujeito. Assim, por mais que seja diferente a forma de aprender de um aluno que apresente
dificuldades intelectuais, apenas serão considerados problemas de aprendizagem aqueles que não estejam
dependentes daquele déficit, ou seja, problemas de aprendizagem são os que sobrepõe o baixo nível intelectual,
impedindo o aluno de aproveitar suas capacidades.
Finalmente, é conveniente que estes casos sejam observados pelo psicopedagogo e estabelecido a abordagem
pertinente, seja ela interventiva ou um acompanhamento metodológico didático.
Outro eixo que direciona o acompanhamento psicopedagógico é conhecer a história de vida da criança,
realizando a anamnese e entrevistando o aluno, a partir daí pode se tomar dois caminhos, a anamnese, com
investigação e a história de vida da família da criança ou, a entrevista com a própria criança, usando da reminiscência
de suas memórias de vida.

A entrevista deve ser conduzida de forma que possa deixar à vontade os entrevistados,
para que não se sintam como se estivessem respondendo a um questionário rígido e
formal. O psicopedagogo poderá até ter um questionário nas mãos, para servir de roteiro,
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
preenchendo a medida que a família vai expondo, mas não se deve fazê-lo em forma de
perguntas e respostas. (SAMPAIO, 2010, p. 143).

Para esta iniciativa de diagnóstico é necessário partir do conhecimento prévio, a anamnese pode ser dividida
em três etapas diferentes, relacionadas ao histórico de vida da criança. A primeira no período pré-natal, todas as
condições da gestação e os anseios do casal e da família pela espera da criança. O planejamento, a saúde da genitora
no período da gestação e suas condições físicas e emocionais, de modo que expresse seus sentimentos de proteção
afetiva e material das necessidades básicas para a concepção da criança. Se houvera alguma doença durante o período
pré-natal e que tipos de tratamento foram acometidos. Não é necessário que se faça o registro formal da entrevista,
pelo meio da ficha da anamnese, ela pode ser coletada através de um diálogo, desde que seja autorizado pelos
entrevistados.
A segunda etapa do processo de entrevista será no período perinatal, entendendo quais foram as
circunstâncias que envolveram o parto, em especial, aquelas que estão relacionadas a condição do feto lhe acarretam
sofrimento, lesão ou cianose. Qualquer que seja a peculiaridade que fugisse das condições estáveis do período
perinatal pode acarretar em destruição, ou comprometimento, das células nervosas que não se reproduzem e alguns
possíveis transtornos, em especial os que se relacionam a adequação da motricidade e percepções, fatores estes,
diretamente ligados ao desenvolvimento intelectual e de aprendizagem.
Por último, o período neonatal, que se refere ao período posterior ao nascimento da criança e que também
envolve a saúde da mãe e do bebê, tanto nos fatores físicos como emocionais. Se, por ventura, houver neste período
qualquer comprometimento da saúde íntegra dos dois, pode haver relações com problemas de aprendizagem não
patológicos, ou seja, aqueles que não são inatos a criança, decorrem de comprometimento da adaptação da família
com o neonato e influências socioeconômicas em qualquer momento deste período.
Quanto maiores forem os detalhes relatados nessas etapas de entrevista, maiores são as chances de entender
possíveis causas de problemas de aprendizagem.
O modelo descritivo de entrevista de anamnese é amplo em relação as perguntas pertinentes aos períodos
acima referidos, podem ser complementados, de acordo com a necessidade de melhor investigação, a partir das
considerações do psicopedagogo quanto a qualquer observação específica num dado momento.
É importante salientar que, para que haja sucesso nessa entrevista, o entrevistado deve se sentir seguro e
confiante ante ao entrevistador. Trata-se de uma busca de informações cruciais a abordagem psicopedagógica, porém,
que perpassa por momentos de extrema intimidade acerca da vida da criança em questão, mas não apenas dela, a
família também.
A questão da confiança e da segurança na realização da anamnese é assunto que será mais explorado no
objetivo geral deste trabalho.
O processo de ensino e aprendizagem não é um mecanismo linear, estabelecido pela relação existente na
formalidade da educação, ele pode ir muito além dessas significações que exprimem a ideia de escola e educação.
Assegurado por Wallon, o aprendizado é um vínculo que se cria entre as relações existentes no espaço
escolar, para isso, a afetividade é vista como crucial nestes vínculos, pois torna amistosa a relação entre professor e
aluno, logo, ensinar e aprender. Não se pode pensar em professores insensíveis, no seu olhar pedagógico, para com
cada aluno e suas especificidades.
Não apenas instrumentalizada, a anamnese é grande facilitadora para o despertar da sensibilidade do olhar do
pedagogo para cada criança. A busca, a investigação, a entrevista, tanto com a família, quanto com o próprio aluno
reforça o elo entre escola, comunidade e família, elo este que aporta condições facilitadoras no processo de aquisição
da aprendizagem.
Entender o que é a psicogênese é conhecer como se dão os desenvolvimentos dos processos mentais e
psicológicos, uma relação entre a mente e a personalidade, ou, cada uma delas de modo singular. “O papel da
psicologia é investigar as modificações que ocorrem nos processos envolvidos na relação do indivíduo com o mundo
(cognitivos, emocionais, afetivos, etc.)” (DAVIS, OLIVEIRA, 1994, p. 16)
A multidimensionalidade deste processo de compreensão é o que deve ater os cuidados psicopedagógicos.
De acordo, então, com qualquer tendência que seja vista como dificuldade de aprendizagem, deve ser encaminhada,
pelo psicopedagogo, ao profissional que dispões de recursos que subsidiem o trabalho pedagogo no desenvolvimento
da criança e sua aprendizagem. Portanto, como inserção da criança numa amplitude de meios sociais, a escola é sua
socialização. Asseguradora de aprendizagem, mesmo às crianças que tenha dificuldade, o desenvolvimento delas
para que estejam inseridas, também, na sociedade parte de princípios afetivos, esses que são simplesmente facilitados
através do ato de conhecer.
A anamnese é o ponto de partida para esse conhecimento, a família colabora, com a investigação, o estudo da
psicogênese, os relatos de históricos de vida e, diretamente com a criança, tomar conhecimento pela reminiscência de
suas memórias é estabelecer um elo sólido no compromisso da ascensão dessa criança para a cidadania. “No que
concerne aos procedimentos metodológicos para se ter acesso à criança, Wallon elege a observação como
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
instrumento privilegiado[...]” (GALVÃO, 2008, p. 36)
Estabelecendo o primeiro contato entre professor e aluno, adquirindo, assim, confiança nessa relação e
favorecendo o ensino aprendizagem e reforçando o que já fora dito por diversos autores, a inserção da criança no
espaço escolar traz consigo o emprego de emoções adversas, sejam elas em relação ao positivismo desta relação, ou,
o contrário dela. Segundo Wallon, apud Galvão (2008) a relação professor e aluno está muito além de uma relação de
profissionalismo, a afetividade que a cerca é uma sucessão ao seio familiar, embora professores não assumam,
fidedignamente, a projeção dos pais.
Se este, então, é o primeiro contato, entender quem é a criança que o professor recebe neste dado momento é,
paralelamente, entender como lidar com ela e permear por estratégias facilitadoras que lhe desperte a aprendizagem
de forma natural e progressiva. A anamnese é, sobretudo, a apresentação entre as partes e a porta de entrada dessa
relação de descoberta e conhecimento.

AS BARREIRAS EXISTENTES NA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO INFLUENCIAM NA


APRENDIZAGEM

De acordo com Wallon (1968), “o indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em
virtude de uma necessidade interna.” A frase exemplifica a necessidade do relacionamento interpessoal,
fundamentada por teorias cognitivistas que aportam aos âmbitos dos estabelecimentos de ensino, que, depois da
família, é o primeiro contato social estabelecido pela criança. De acordo com essa relação, a afetividade é
estabelecida como amparo à criança, que terá no professor um facilitador de suas aquisições de aprendizagem.
O pedagogo aprende com seu aluno, conhecendo-o, o aluno conhece o professor e aprende a confiar,
socializar e exprimir sua identidade de aprendiz e, quanto a família, conhece a quem dará continuidade no processo
educativo de seus filhos, se mostra no seu histórico de vida, quais as condições, de modo geral, que estão essas
crianças em processo de aprendizagem e o professor faz com que seja respeitado e considerado esse histórico,
adaptando para a teoria, ou os conceitos, a prática do conhecer e do conhecimento
Então, havendo qualquer impedimento para que ambos possam relacionar-se, isso implica no surgimento de
barreiras que causam dificuldade de desenvolvimento e aprendizagem. Para a criança é fundamental que haja no
professor a confiança, bem como para o professor.
A criança precisa se sentir segura, principalmente nos anos iniciais da vida escolar, pois ela romperá toda a
única ligação social que está acostumada, com a família e a ampliará num convívio mais abrangente.
As atribuições da escola, na sociedade são proporcionar o desenvolvimento e a formação integral do aluno,
intelectual, afetiva e social, deve ser proposta de forma singular, se uma das partes dessa tríade não estiver em
consonância com as demais, as outras podem ser comprometidas.
Quais as mudanças percebidas no convívio escolar entre professor e aluno quando há um prévio
conhecimento de vida desse aluno pelo professor?
Para Goulart (1999), a partir dessa problemática é que se pode perceber, com mais objetividade, os motivos
da investigação e da anamnese. Sem que haja a troca de conhecimentos pessoais entre professor e aluno, não se
estabelece vínculos afetivos. Há uma amplitude ainda maior na condição de conhecer uma escola, além do contexto
em que está inserida histórica e socialmente, que é a subjetividade de seus integrantes, ou seja, seus alunos e
professores.
O que a anamnese contribui na promoção do vínculo afetivo entre professor e aluno, dentro do espaço
escolar?
A dimensão social do processo de aprendizagem parte das dimensões biológicas e cognitivas.

No nível social considera-se a aprendizagem como um dos polos do par ensino


aprendizagem, cuja a síntese constitui o processo educativo. Tal processo compreende
todos os processos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os objetivados como
instituições que, especifica (escola) ou secundariamente (família) promovem a educação.
Através dela o sujeito histórico exercita, assume e incorpora uma cultura particular, na
medida em que fala, cumprimenta, usa utensílios, fabrica e reza segundo a modalidade
própria de seu grupo de pertencimento. (PAÍN, 2010, p. 17).

O trecho reforça a necessidade do autoconhecimento para que seja proposto o conhecimento. A partir do
conhecimento como facilitador da aquisição da aprendizagem é que se reforça a posição social do indivíduo dentro
de seu grupo pertencente.
Se a criança toma conhecimento da escola em que está, bem como conhece o professor que a acompanha, ela
estará segura de articular nesse meio e por ele estabelecer meios de aprender. Do mesmo modo o professor que
conhece seu aluno e o histórico-social de vida dele propõem, significativamente, o ensino.
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
Como exercer as atribuições profissionais docentes pautando-se, previamente, das análises da anamnese com
cada aluno? De acordo com Galvão (2008), quando se tem conhecimento do seu aluno, o professor passa a lidar com
ele de modo muito mais diretivo e pessoal.
A relação de afetividade estabelece maior confiança. A anamnese é o advento dessa relação proximal entre
os dois, através dela é que será possível entender os mecanismos condicionantes que favorecem o desenvolvimento
do aluno.
Ela também garante que, aos alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem, possa ser dispensado
ensino harmônico com suas especificidades, dentro das possibilidades que cada um possui e buscando meios de
intervenção eficaz, que traga melhorias da aprendizagem e reforcem o vínculo de confiança do aluno para com o
professor.
Segundo Wallon, apud Galvão (2008), o desenvolvimento psicológico das crianças tem relação ao seu
desenvolvimento como um todo, em consonância ao desenvolvimento intelectual e físico, estão divididos em estágios
formando o caráter da personalidade, integrado a afetividade. Esses estágios são: impulsivo-emocional, sensório-
motor projetivo, personalismo – crise de oposição – idade da graça – imitação, categorial e a adolescência.
“O caráter representa o comprovante afetivo, de ordem simultaneamente biológica e psicológica, da
personalidade.” (WALLON, 1934, apud BERLINER, 2007, p. 17) A relação que o professor pode perceber no
caráter afetivo da criança, no seu primeiro contato escolar, é uma impressão biológica que está nela. A proposta da
anamnese como entendimento observatório desse caráter facilita a predisposição psicológica que também o compõe.
Tendo sido respeitado e considerado o histórico pessoal de vida desse aluno, o professor terá respaldo afetivo
para condicionar aprendizagem, para além do previsto no currículo formal de educação. Abre as portas para uma
perspectiva de aprendizagem social, ou seja, a plenitude do desenvolvimento para a exercer a cidadania, em qualquer
variável de condição, mesmo que haja dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem.
O modelo de análise estabelecido pela anamnese, segundo Wallon, apud Berliner, deve contemplar os
seguintes aspectos, de modo investigativo avaliativo pelo psicopedagogo:

Histórico da vida do aluno; Histórico do desempenho escolar (caso haja); Histórico


família; Hábitos diários; Vida família, antecedentes maternos; Antecedentes gestacionais;
Parto e período neonatal; Desenvolvimento neuropsicomotor; Interações sociais;
Preferências pessoais (WALLON, 1934, apud BERLINER, 2007, p. 17)

Para Wallon, “o desenvolvimento da criança é fortemente influenciado pelo tipo de adulto que a sociedade
deseja formar, dado que as potencialidades psicológicas existentes são, crucialmente, dependentes da ideologia, da
cultura e do contexto social onde se desenvolve essa criança.” (VASCONCELOS, VALSINER, 1995, apud
OLIVEIRA, 2014, p. 118)
Esta referência traduz a importância da relação efetiva, embasada numa concepção dialética de busca e
conhecimento da vida do aluno inserido na escola, pois, a culminância entre conhecer e criar afeto pode ser exemplo
de como inserir o aluno num ambiente de aprendizagem afetiva. Ao conhecer seu histórico de vida e como é a
constituição familiar deste aluno, o pedagogo pode preparar uma prática que projete, de forma afetiva, este aluno na
sociedade, sendo assim, a influência de que ele precisa para compor o contexto social ao qual pertence e pertencerá.
A teoria waloniana propõe a compreensão do ser humano como um indivíduo constituído de cognição e
afetividade, essas são formadoras de personalidade. A ação pedagógica influencia diretamente nesta constituição de
ser humano, proposta por Wallon, pois é pela escola que a criança inicia seu convívio social, se projeta para a
sociedade e desenvolve seu cognitivo e o coloca à disposição da transformação social.
O professor tem no seu trabalho também a função social de promoção da construção de sujeitos. Garantir
que essa construção seja acompanhada de uma relação harmônica, através da afetividade, é uma garantia de tornar a
aprendizagem, não só de conteúdos ou conceitos teóricos disciplinares, mas também do autoconhecimento e da
relação existente entre os componentes da comunidade escolar. Todas as relações estabelecidas entre os envolvidos
neste processo de formação, ou construção, do eu.
Na construção de uma relação afetiva, o professor deve considerar a existência da personalidade do aluno,
percebendo que ele tem sua própria maneira de ser e estabelece conexão com os outros a partir dela.

PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE: O ENSINAR E O APRENDER EMOCIONAL

Para Wallon (1968), estudar e compreender a criança não é um mero instrumento de cunho do psiquismo
humano, é uma maneira de conhecer o que é a educação. A infância é o momento mais fecundo para o
desenvolvimento e o atendimento à educação. Desde recém-nascido, o indivíduo descobre sua capacidade de
relacionar-se com o meio social e a dependência dessa relação entre eles, que vai se aprimorando e dinamizando ao
longo do tempo.
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
A pedagogia afetiva traz um novo olhar sobre os moldes rígidos e mecânicos da educação. Permite que haja
um pensamento reflexivo e móvel, multifacetado para compreender a relação entre aluno, professor, escola e família.
Respeita o nível psicológico em que se encontra cada etapa do desenvolvimento infantil, implica em um processo de
humanização da educação e produção intelectual ativa-emocional da sociedade.
Wallon considerava que “entre a pedagogia e a psicologia deveria haver uma relação de contribuição
recíproca.” (GALVÃO, 2008, p. 23)

A ideia de uma personalidade que se forma isolada da sociedade é inconcebível para a


perspectiva walloniana, segundo a qual é na interação e no confronto com o outro que se
forma o indivíduo. Wallon considera, portanto, que a educação deve, obrigatoriamente,
integrar à sua prática e aos seus objetivos, essas duas dimensões, a social e a individual:
deve, portanto, atender, simultaneamente, a formação do indivíduo e da sociedade.
(GALVÃO, 2008, p. 91)

Ao se aplicar à prática da pedagogia afetiva as relações interpessoais na escola serão vistas como parâmetro
para uma sociedade afetiva, de fato. A escola é a instituição formadora de pessoas, de cidadãos que serão composição
social. Pensar nessa perspectiva apenas como prática futura, visando que as crianças que hoje compõem o espaço
escolar serão capazes de futuramente modificar a formação social que existe é um pensamento que limita em mudar a
prática adotada e vivida hoje. Por isso a importância destacada aqui desde o primeiro ponto de abordagem deste
trabalho entrelaça a relação para além da escola, no alcance da família.
A família é a componente agente da sociedade atual. A criança como membro pertencente dela projeta
perspectiva futura, mas, a expectativa mais presente da ação da pedagogia afetiva pode ser vista e realizada com a
participação da família.
O pedagogo que alcançar a mediação da pedagogia afetiva de aprendizagem significativa será agente
responsável pela transformação social imediata. A criança contextualizada num convívio afetivo terá como referência
e estímulo o princípio da afetividade de ações.
Isso é uma dinâmica que possibilita a instalação de relações e determinações recíprocas, onde cada uma das
culturas presentes e manifestas na sociedade são aspectos de interação e relação entre os sujeitos, recursos, esses, que
são formadores de sociedade diversificada e em constante desenvolvimento, ou seja, a abrangência da pedagogia
afetiva passa dos muros ou limitações físicas do espeço escolar e alcança a dimensão e extensão da sociedade.
Não há como pensar em educação sem pensar em afetividade. Essa é a base da relação estabelecida entre a
escola e educação, sendo assim, entre professor e aluno.
Para Wallon (1968), o desenvolvimento do sujeito é dado numa alternância progressiva de predominância de
cognição e afetividade. Não há como interferir nessa oscilação e instaurar na criança uma vertente totalmente
cognitiva, quando presente no espaço escolar e deixar que sua expressão afetiva seja manifestada apenas nas outras
relações que estabelece com a família e a sociedade. É por isso que o exercício da pedagogia afetiva tem como pauta
para o sucesso da aprendizagem e do desenvolvimento o respeito por essa alternância. Há momentos presentes na
escola em que a criança está pré-disposta a aprender, ou seja, desenvolver seu cognitivo e outros momentos em que
ela está exercitando suas emoções, o momento afetivo.
A criança também aprende pela interação corporal, gestos e atitudes, que vão fazendo do desenvolvimento
uma total integração entre o cognitivo, emocional e biológico, ambos indissociáveis. A compreensão das emoções
vistas pelo pedagogo é um exemplo de demonstração de prática dialética, onde o conhecer o aluno e sua família
permite uma observação afetiva de suas ações e suas capacidades desenvolvimentais.

As emoções podem ser consideradas, sem dúvida, como a origem da consciência, visto
que exprimem e fixam para o próprio sujeito, através do jogo de atitudes determinadas,
certas disposições específicas de sua sensibilidade. Porém, elas só serão o ponto de partida
da consciência pessoal do sujeito por intermédio do grupo, no qual, elas começam por
fundi-lo e do qual receberá as fórmulas diferenciadas de ação e os instrumentos
intelectuais, sem os quais lhe seria impossível efetuar as distinções e as classificações
necessárias ao conhecimento das coisas e de si mesmo. (WALLON, apud GALVÃO,
2008, p. 64)

A RELAÇÃO COM SEU MEIO SOCIAL, A ESCOLA

No que diz respeito à criança em seu meio sócio educacional, o desenvolvimento físico, cognitivo e
emocional pressupõe que sejam estabelecidas relações biológicas e sociais, segundo Wallon (1968), que possibilitem
transformações significativas e qualitativas da aprendizagem. Isso quer dizer que mesmo a influência primária da
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
vida da criança, a família, trazendo impressões características para a sua personalidade na escola, a criança inserida
no meio social escolar pode atuar de forma adaptativa, mostrando-se atenta a sua atuação neste meio e exercendo
uma postura social diferente da que vira em casa.
Partindo deste conceito, vale reforçar a importância da influência da escola na vida da criança e,
consequentemente, da relação afetiva que o professor pode dispor o receber esse aluno no ambiente escolar. O aluno
estará receptivo a uma mudança de comportamento, ou seja, um aprendizado psicológico que o influenciará no
desenvolvimento emocional.
Wallon (1975), “não determina um limite de desenvolvimento para a criança, uma vez que este acontece de
acordo com a interação dela com o ambiente, consentindo, ou não, que haja condições para aquisição do
conhecimento.” (OLIVEIRA, 2014, p. 118)
Cada etapa de desenvolvimento da criança na escola está ligada à intensidade de relação afetiva e estímulo
cognitivo que fora enfatizado e marcado por ela. A criança em interação com seu meio, na escola, aprende e torna
significativa a aprendizagem em ordem cognitiva e afetiva associadas.
“No momento em que predomina o afeto, as atividades da criança voltam-se a construção do Eu.”
(WALLON, 1968, apud OLIVEIRA, 2014, p. 119). Este trecho reforça a grande contribuição do professor afetivo em
sua prática pedagógica na construção, ou seja, na formação e aprendizagem do eu no aluno. Baseado na relação de
afeto estabelecida na mediação do professor, o aluno tende a tornar-se um eu afetivo, concomitantemente, faz uso da
afetividade em suas relações com o meio, isso reflete no convívio social, uma vez que tratado de modo afetivo, o
aluno buscará manter essa relação de tratamento para com os demais, não apenas com o professor.
Nessa proposição de interação, o aluno estabelece como premissa a afetividade nas suas relações
interpessoais. Isso garante um ambiente propício para que sejam agregados valores como o respeito e o altruísmo
social, valores estes que são significativamente associados a aprendizagem.

A entrada da criança no universo escolar marca o início do período categorial, quinto


estágio do desenvolvimento, segundo Wallon (1995). Nesse estágio prevalecem os
processos cognitivos. A criança passa a interessar-se pelas coisas, pelo conhecimento e
pela conquista do mundo externo a ela. Isso só é possível devido a consolidação das
funções simbólicas e da linguagem, que possibilitam à criança organizar as informações e
os conhecimentos do mundo, a partir das definições de suas próprias características. Nesse
estágio a criança aprenderá a conhecer-se como uma personalidade polivalente e o
aumento no conhecimento preciso de si própria irá permitir que ajustes suas condutas às
circunstâncias particulares. (OLIVEIRA, 2014, p. 121)

Contextualizar a criança como um ser de natureza social, que se faz individual e único nas suas relações e
interações sociais, bem como entender que sua totalidade se dá numa dimensão intelectual, afetiva, motora e social, é
o significado de valorização da prática pedagógica que, sobretudo, vê a criança como potencialmente construtora de
aprendizagem significativa e apoiada nas contribuições da perspectiva de Wallon sobre o desenvolvimento humano.
Para Wallon (1968), as emoções são a base da inteligência. Convém que o ato de mediar o conhecimento
seja pautado por uma emoção despertada no professor de estimular a aprendizagem de forma afetiva na criança.
Através das emoções é que o indivíduo se relaciona com o mundo, sendo, uma delas, a base da inteligência.
Se no aluno é tida como base da inteligência a emoção, para o professor isso não se difere.
Esse é um fator contribuinte no processo de aprendizagem. A escola é um ambiente em que as emoções são
constantes para a criança e para o professor. Elas são meios de expressão e comunicação, aos quais os professores
devem estar sempre atentos para que conheçam seus alunos. A escola lida, diariamente, com essas emoções
expressivas, ora precisam intervir nelas, outrora precisa intensificá-las. “O professor precisa estar ciente, também, das
suas próprias reações emocionais frente ao aluno, compreendendo que o desenvolvimento da pessoa atravessa
grandes variações e emoções adversas.” (OLIVEIRA, 2014, p. 124)
O professor afetivo constrói o aluno numa perspectiva de mundo. Media o ensino-aprendizagem através de
uma prática pedagógica que permite o desenvolvimento da expressão verbal, corporal e emocional de cada um.
Conduz, com maestria, a prática docente, como pedagogo, interessado e comprometido com os maiores
objetivos da educação, transformando a realidade social de cada aluno, no sentido em que ele se sinta responsável
pela manutenção da sociedade a qual integra e interage.

ANÁLISE DE DADOS

Gostar da escola significa que o aluno atribui importância à educação e mais, acredita que a afetividade é um
fator que propicia o gostar. Segundo Carl Rogers (1977) “Em certa medida, a entrevista preliminar visa, portanto, um
diagnóstico, mais amplo e provisório, do sujeito.” (ROGERS, 1977, p. 91). Esse fragmento remete ao início da
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
proposta deste trabalho, que fala sobre o uso da anamnese, como objeto de entrevista entre os sujeitos e traz a noção
do que a presente pesquisa propõe para que se chega ao termo conhecer. Inseridos numa pedagogia considerada
afetiva, o primeiro gráfico traz uma grande parcela de alunos que, estando presentes nessa pedagogia, concordam
totalmente que gostam da escola. Há empatia entre as relações aluno-professor, consequentemente, vistas de modo
mais amplo, denominando no geral, a escola.
Para demonstrar, consequentemente, o resultado positivo do primeiro gráfico exposto, a afirmativa tenho
colegas na escola é uma representação do gostar da escola, por exemplo, as relações que são estabelecidas entre os
agentes envolvidos têm importante representação no campo emocional e afetivo. Na mesma perspectiva em que os
alunos gostam da escola, ter colegas é uma consequência da boa relação que eles mantêm com ela. 80% dos alunos
entrevistados nesta escola concordam totalmente que têm colegas. Segundo Rogers (1977) uma boa ação didática
procede de um ponto de referência de uma abordagem empática.
Em consonância ao pensamento de Rogers, Weiss garante que problemas e dificuldades de aprendizagem
escolar podem estar associadas às relações interpessoais que a criança vive na escola. No caso dos colegas implica
uma questão de aproximação, comparação, referência e aceitação, o convívio da criança com os colegas é importante
para que o desenvolvimento seja estruturado num parâmetro em que elas se sintam pertencentes deste espaço e
sintam-se acolhidas e envolvidas por ele.
O trabalho da pedagogia afetiva tem essa meta de promover, através da aprendizagem emocional, o bom
convívio, a positividade das relações, o coleguismo, fator este tão considerável e que prima pela boa relação entre
gostar da escola e, na mesma medida, a escola gostar do aluno.
Para Oliveira (2014) o professor tem papel explícito de interferir no desenvolvimento do aluno, as crianças
desenvolvem com a ajuda de parceiros habilitados – mediadores – e a mediação, em termos genéricos, é o processo
de intervenção de um elemento intermediário numa relação, a relação deixa então de ser direta, ou seja, a relação do
professor mediador afetivo com a criança reflete no seu desenvolvimento. O pedagogo habilitado media
positivamente neste desenvolvimento e o gráfico acima demonstra que, entre os entrevistados na pedagogia afetiva,
53% concordam totalmente que gostam de seus professores mediadores afetivos.
A distribuição das dificuldades, com o desempenho da pedagogia afetiva, é diversificada, portanto, manter o
parâmetro dos conceitos, currículos e teorias é sempre a prioridade da escola e do ensino, mesmo quando de modo
afetivo, que não desconsideraram os fatores físicos e emocionais. Ainda assumem uma concordância totalmente em
44% dos entrevistados que, mesmo sendo considerados como relações de mediação, afetividade e a participação da
família, os alunos encontram dificuldades nas tarefas ou lições. De acordo com Oliveira (2014) novas aprendizagens
vão se efetivando junto a processos psicológicos superiores, contar com a pedagogia afetiva, a família e a mediação
do pedagogo é a segurança para avançar frente a essas dificuldades.
O reflexo da família no desenvolvimento do aluno e na aprendizagem é ilustrado por este gráfico que
sinaliza 73% dos entrevistados concordando totalmente com a ajuda dos pais em tarefas ou lições de casa. Para
Rogers (1977) este reflexo vai mais além, favorecendo uma evolução do indivíduo no sentido de uma amplificação,
de uma diferenciação ou de uma correção, com respostas empáticas na vida de todos. Esse trecho reforça a
necessidade de trabalho conjunto entre a pedagogia e a família, pois os alunos consideram importante essa ajuda dos
pais e os professores contam com o estímulo positivo ao desenvolvimento do aluno, através dos pais.
Essa é a justificativa de buscar a entrevista com a família, pelo professor, tornar próximas essas relações e
mostrar que o resultado dessa aproximação é positivo.
43% dos alunos inseridos na pedagogia afetiva concordam totalmente em buscar ajuda para a realização de
tarefas e lições que lhes apresentam dificuldades, ou seja, uma das formas que já se diminuem essas dificuldades, a
busca por ajuda. Esses dados reforçam a participação, a interação e a relação interpessoal que assegura a busca dessa
ajuda, os alunos da pedagogia afetiva sentem-se à vontade e bem recebidos por colegas e professor nas dificuldades e
sabem que encontrarão suporte para elas. Segundo Rogers (1977) “...nessa interação, o pedagogo não se detém nas
contingências materiais, mas se interessa em deduzir o sentimento que impregna na sua comunicação...” (ROGERS,
1977, p. 34) a reciprocidade da comunicação estabelecida na pedagogia afetiva faz com que 43% dos alunos
entrevistados concordam totalmente que sentem confiança em seu professor e o professor os trata com carinho e
atenção.
Carl Rogers (1977) descreve a preocupação entre as relações das pessoas “...bem como da análise das
condições que podem levar o relacionamento a se deteriorar ou a se desenvolver num sentido mais sadio e mais
fecundo.” (ROGERS, 1977, sp.), na mesma vertente, a exposição do gráfico revela essa deterioração da relação entre
aluno e professor, onde 44% do total dos alunos entrevistados discordaram totalmente com a afirmativa que
estabelece ligação dialógica entre eles e seus professores.
Pode se esperar que para o desenvolvimento sadio desta relação, onde os sujeitos envolvidos não estão pré-
dispostos à conversa, como uma base de relacionamento educacional, parta do professor essa aproximação, não se
limitando apenas aos interesses cognitivos, que serviriam, restritamente, à análise de conhecimentos sobre
especificidades conceituais, ou dos conteúdos curriculares, mas numa amplitude de conhecimentos abrangentes de
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
vida, mundo, relações extraescolares, entre outros, busque o diálogo.
O professor afetivo engaja-se dessa ação, como uma aliada pedagógica, conhecer seu aluno, seu mundo e sua
família. É importante para ambos, no estreitamento das relações interpessoais, uma preocupação que é reconhecida
falha pela parte dos alunos e pode ser contribuinte para seu desenvolvimento.
Conseguinte à situação descrita no gráfico anterior, esta ação cíclica de diálogo entre os agentes em destaque
deste trabalho – família, escola e aluno – foram avaliadas em total concordância, pelos entrevistados, num total de
77%, alunos que conversam com seus pais sobre a ação do pedagogo, quanto à sala de aula, enfatizando se há, nessa
ação, uma afetividade no tratamento recebido.
Esse feitio é interessante para os casos de alunos com algum tipo de dificuldade de aprendizagem pois, a
abordagem do profissional pedagogo ou psicopedagogo conta, absolutamente, com a participação da família como
parte crucial dessa mediação construtora. (OLIVEIRA, 2014)
Seguindo parâmetros de uma ação pedagógica construtivista, com vistas a aprendizagem significativa, na
prática reflexiva crítica dos conteúdos, embasada numa relação de afetividade, 73% dos alunos entrevistados
concordaram totalmente que o carinho que recebem da família e da escola, neste caso representada pelo professor,
ajuda e estimula a aprender mais e a gostar do ambiente escolar.
De acordo com Oliveira (2014) a interação do sujeito com seu meio, respeitando, previamente, as estruturas
existentes nele, asseguram melhores resultado de como o aluno aprende. O papel do estudante, nesta perspectiva, é
participar ativamente do próprio aprendizado, mediante às experimentações, ou seja, ao analisar sua relação com a
escola e a família, numa consideração positiva de carinho como estímulo de aprendizagem, o aluno experienciou
como aprender dentro de seus conhecimentos preexistentes, sendo considerado como a parte interessante do processo
de ensino.
O papel do professor “...é visto tanto como um apresentador do conhecimento como um facilitador de
experiências. Sua tarefa é criar situações de aprendizagem que facilitem a construção individual do conhecimento.”
(OLIVEIRA, 2014, p. 112). Notoriamente, este papel ganha destaque se considerado afetivo, preocupado na
investigação pessoal do seu alunado e com respeito à diversidade de estruturas emocionais presentes na sala de aula.
A estratégia pedagógica afetiva orienta-se pelo propiciar de um ambiente que leve os alunos a confrontarem
com problemas repletos de significados para eles, vinculando-os aos seus contextos pessoais, reais, a abordagem visa
compreender e buscar a realidade dos alunos, partindo do ponto de vista do interior de cada um deles e focados no
conhecimento. A conexão inicial entre essa estratégia e sua funcionalidade é partida da anamnese individual, na
busca das informações pessoais que podem ser alcançadas através do próprio aluno e da participação da família.
Oliveira (2014) condena, nessa proposta, a rigidez de qualquer procedimento de ensino e das relações entre
os agentes envolvidos. A pedagogia afetiva é humanista e eficaz, aplicada com adotes que estejam, completamente,
voltados à aprendizagem e ao desenvolvimento físico, cognitivo e emocional do aluno, priorizando, absolutamente, o
sucesso da analogia entre o ensino e a aprendizagem.

CONCLUSÃO

Depois de discorrer a respeito de todo o conceito de anamnese e refletir que trata-se não apenas de uma
investigação clínica, onde são formalizadas através de modelos fixos e padronizados de perguntas, fichas afim de
obter um diagnóstico preciso sobre o individuo e propor que essa mesma anamnese possa ocorrer em moldes simples
de entrevista informal para estreitar conhecimentos sobre as pessoas e instituir uma aproximação afetiva entre os
envolvidos, identificando, também, características peculiares ao conhecimento do aluno, da família, e outras
especificidades mais, este trabalho busca compreender como ambas, anamnese e afetividade, são contribuintes para
uma pedagogia eficaz, pautada no aluno, com o enfoque de aprendizagem significativa, pelo ensino.
Reforçado, então, por conceitos e estudos também no campo da psicologia, que se compromete em entender
o ser humano e sua formação como ser social, a proposta de humanização do ensino traz ao pedagogo uma reflexão
sobre a prática pedagógica, onde os conteúdos e conceitos podem ser explorados, ou trabalhados, numa proposta
afetiva, respeitando em primeiro plano as emoções dos alunos e compreendendo como eles vivem no seio familiar e
como eles podem melhor assimilar os conceitos e estudos.
Nas questões da pesquisa onde são mencionadas afirmativas referentes aos reforços e estímulos da família, é
grande a parcela de alunos que consideram importante a relação da família com a escola, não apenas dentro do
espaço escolar, onde seriam melhores representadas em comparecimento dos pais na escola em circunstâncias de
reuniões de pais, mas também no dia a dia da criança na escola e nas situações em que envolve a escola para além
dela, ou seja, em casa, na realização de tarefas para casa, no ato de dar atenção às ocorrências que os filhos relatam
da rotina escolar e como ocorrem suas relações com todos os membros da escola, professores, gestores, colegas,
colaboradores, dentre outros.
O presente estudo sugere que a pedagogia, principalmente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental, trate o aluno como ser composto pela tríade de cognição, físico e emocional e esses três aspectos
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
precisam ser considerados extremamente importantes e relacionados para assegurar o desenvolvimento íntegro dos
alunos.
Refletir a respeito da constante mudança social recorrente na sociedade e imprimir no aluno a busca,
também, pela reflexão a sua participação social como ser integrante e integrador da sociedade, que a transforma e a
compõe simultaneamente.
Os princípios de convívio entre os grupos sociais da criança devem propor a ela fundamentos humanistas,
através da afetividade, incutindo valores sociais solidários, de proximidade, respeito, diversidade e inclusão. Valores
estes que são primordiais para o convívio social, em qualquer que seja sua faixa etária e são observados na pessoa do
professor, como uma das primeiras referências pessoais para mediação de conhecimentos e exemplos formativos de
pessoas.
A família faz parte desse combinado, pois educa, ensina, aporta positivamente a pedagogia, numa
perspectiva além da escola e da institucionalização da educação e sua formalização, responsabilidades da escola.
Portanto, analisar os gráficos que representam a positividade da pedagogia afetiva, em permanente
construção em prol do desenvolvimento do aluno, é a oportunidade de creditar que essa é sim a prática de sucesso da
aprendizagem, por meio da humanização do ensino, numa relação proximal entre família, escola e aluno, para uma
representação de melhoria responsável da sociedade.
Objetivamente, a criança vê a escola como a porta de entrada da vida social, tem no professor a idealização
de exemplo de mediador do conhecimento, que inspira confiança, carinho e afetividade. O professor busca no seu
aluno o norte para o seu planejamento de aula e realização de atividades pedagógicas, investiga e entrevista alunos e
pais afim de compreender como eles aprendem e solucionar as possíveis dificuldades de aprendizagem, traçando
meios em que o ensino seja pautado pela qualidade e afetividade.
Atender as expectativas das crianças, através da escola, numa projeção de integração social afetiva é o
desafio da formação do pedagogo que busca, incessantemente, o sucesso da relação ensino-aprendizagem, em
consonância com a família.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. MAHONEY, Abigail Alvarenga. Afetividade e Aprendizagem: Contribuições de
Henry Wallon. São Paulo – SP. Edições Loyola. 2007

BARROS, Alba Lúcia Bottura Leite de. Anamnese e Exame Físico: avaliação diagnóstica de enfermagem no adulto.
2ª ed. Porto Alegre – RS. Editora Artmed. 2010.

BASTOS, Lília da Rocha. [et al] Manual Para Elaboração de Projetos e Relatórios de Pesquisas, Teses, Dissertações
e Monografias. 6º ed. Rio de Janeiro – RJ. 2004.

DAVIS, Cláudia. OLIVEIRA, Zilma. Psicologia na Educação. 2ª ed. São Paulo – SP. Cortez Editora. 1994.

GALVÃO, Izabel. Henry Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 18ª ed. Petrópolis – RJ.
Editora Vozes. 2008.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4º ed. São Paulo – SP. Editora Atlas. 2002.

GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da Educação. Fundamentos teóricos e aplicações a prática teórica. 6ª ed.
Petrópolis – RJ. Editora Vozes. 1999.

GUENTHER, Zenita Cunha. Educando o Ser Humano. Uma Abordagem da Psicologia Humanista. Campinas – SP.
FCA Gráfica. Universidade Federal de Lavras – MG. 1997

OLIVEIRA, Fernanda Germani. Psicologia da Educação e da Aprendizagem. Indaial – SC. Uniasselvi. 2014

PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre – RS. Editora Artmed. 1985.

ROGERS, Carl. Psicoterapia e relações humanas: teoria e prática da terapia não-diretiva. 2ª ed. Belo Horizonte – BH.
Editora Interlivros. 1977.
SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. Rio de Janeiro – RJ. Editora WAK.
2010.
Revista Ciências da Saúde e Educação IESGO
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. 17ª ed. São Paulo – SP. Editora Cortez. 2009.

WALLON, Henry. A Evolução Psicológica da Criança. São Paulo – SP. Editora Martins Fontes. 2007.

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem
escolar. 10ª ed. Rio de Janeiro – RJ. Editora DP&A. 2004.

Você também pode gostar