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Kaijū Vampiro: Excentricidade ou Padrão na Arte Oriental?

Shirlei Massapust

Nas artes nipônicas da segunda metade do século XX se tornaram frequentes


as aparições de monstros gigantes engajados na destruição de cenários urbanos. Tais
monstruosidades são combatidas por super heróis vestindo trajes tecnológicos ou por
genuínos robôs internamente controlados pelos defensores da Terra.
No idioma nihongo a palavra kaijū (怪獣) é composta por dois ideogramas que
identificam uma maravilha (怪) animal (獣). Se o organismo for uma maravilha (怪) em
forma humana ou humanoide (人) utiliza-se o termo kaijin (怪人). Geralmente pensamos
o kaijū como monstro irracional, ainda que emotivo, como Kong e Godzilla. Porém as
vezes somos nós que não compreendemos sua forma singular de comunicação, como
no caso da fauna interdimensional do filme estadunidense Pacific Rim (2013), baseado
no padrão estabelecido pelas artes nipônicos. As vezes também o kaijin pode ser
irracional, a exemplo da maioria dos titãs da série Shingeki no Kyojin (進撃の巨人).
Por tudo isso, como regra geral, nos acostumamos a imaginar o super herói kaijin
na forma de kaizō ningen (改造人間) ou humano modificado (um ciborgue, uma mescla
do corpo humano com a essência dum astronauta alienígena, etc.) ou ainda de um ou
mais seres humanos dirigindo um robô mecha (メカ) enquanto combate o monstro.
Todavia, prestando atenção nos detalhes, percebemos que há exemplos de kaijū
mecha. O mais famoso é o Mechagodzilla. Nas Ultra Series todas as muitas variedades
de quirópteros coletivamente chamadas de batto seijin (バット星人) são kaijū mecha.
Na filosofia grega existe o conceito de ēthos (ἔθος) relativo à aquisição de hábitos
ou comportamentos caracterizados pela constante repetição dos mesmos atos. É digno
de nota que a palavra ēthos (ἔθος), com épsilon (ε) inicial, seja diferente da homófona
ēthos (ἦθος), com eta (η) inicial, a qual define o instinto animal no humano.
O ēthos com épsilon representa um comportamento de ocorrência frequente num
grupo de indivíduos que não decorre duma necessidade natural, mas sim da disposição
perene para agir conforme padrões, tornando-se lugar privilegiado de inscrição da práxis
humana. Este é o espaço da formação de hábitos e traços comportamentais que dão
identidade a uma coletividade. Por exemplo, os estilos de vida, os costumes, a reunião
de elementos que constroem e amplificam a cultura dum povo pela constância no agir.
No aristotelismo haviam três modos de persuasão pela comunicação: O ēthos
(ἔθος)1, páthos (πάθος) e logos (λόγος). Nesse sentido, o ēthos não pode decorrer de

1 Não estamos interessados no velho modelo onde o orador persuade um público alvo pela sua conduta moral,
credibilidade ou status social, nem tampouco na supervalorização de lugares de fala que justifica a ojeriza à antropólogos

1
emoções – tais como empatia, comoção ou repulsa, – nem da mera verossimilhança da
informação ou da lógica dos argumentos apresentados. Portanto, o apelo ao ēthos seria
a forma de expressão perfeita para chover no molhado comunicando algo já consagrado
pelo senso comum, como é o caso do folclore e do mitologema (geralmente composto
por um mosaico de elementos extraídos de obras de arte dos gêneros fantasia, ficção
científica, horror, etc., bem como de doutrinas espiritualistas, holísticas e religiosas).
A transmissão de valores morais por meio de representações de lutas marciais
absurdas e mirabolantes tornou-se uma característica do ēthos japonês. Embora haja
passado pouco mais de meia década desde que os monstros se agigantaram, hoje kaijū
(怪獣) é um gênero extremamente popular e lucrativo de tokusatsu (特撮)2, podendo
surgir também em desenhos animados e outras expressões artísticas.
Entretanto não é comum encontrarmos um kaijū ou kaijin que seja equiparável
ao vampiro ocidental. Qualquer kaijū ou kaijin com asas de morcego já é uma agulha no
palheiro. E mesmo assim não são sempre necessariamente quirópteros hematófagos.
Os designers de monstros Teizo Toshimitsu (利光貞三) e Yasuei Yagi (八木 康
栄) criaram dois trajes de ningen kōmori (人間コウモリ) ou homens-morcego utilizados
no filme Latitude Zero (緯度0ゼロ大作戦), com roteiro de Shinichi Sekizawa (関沢新),
produzido no estúdio Toho, lançado em 26/07/1969.3
Posteriormente um dos trajes foi vendido para a Tsuburaya Productions. O outro
permaneceu na posse do estúdio Toho e acabou reaproveitado na produção do seriado
Go! Godman (行け!ゴッドマン), aparecendo no vigésimo episódio “Godman contra o
Homem-Morcego” (ゴッドマン対バットマン), filmado e exibido em 1973.4
Em Latitude Zero um cientista louco chamado Malic transforma pessoas comuns
em monstros e emprega homens-morcego como guardas protetores de sua fortaleza.
Apesar de serem quirópteros bípedes, tais criaturas são definidas como kaizō ningen;
sendo, portanto, kaijin. Já em Go! Godman o mesmíssimo bicho é mais um kaijū com
nome transliterado dum péssimo inglês, Batto Man (バットマン), que surge do nada,
assustando crianças. Por sua vez, o traje vendido à Tsuburaya Productions foi
incrementado pela adição de peças de roupas e detalhes coloridos, passando a

e outros pesquisadores mediante a falácia do argumentum ad hominem; identificada quando alguém procura negar uma
proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo.
2 Tokusatsu (特撮): Termo nihongo para filmes ou séries live-action (com atores reais) que utilizam efeitos especiais.
3 BAT MEN. Em: Wiki Zilla. Acessado em 25/04/2021. Hyperlink: <https://wikizilla.org/wiki/Bat_Men>.
4 GODMAN VS. BATMAN AND KAPPALGE. Em: Gojipedia. Acessado em 25/04/2021. Hyperlink:
<https://godzilla.fandom.com/wiki/Godman_vs._Batman_and_Kappalge>.

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representar Mechara Seijin (メチャラ星人), um kaijū extraterreno que nutre sentimentos
afetuosos pela mãe do protagonista do seriado infantil Chibira-kun (チビラくん).5
Com isso fica demonstrado que a moralidade não possui critério estético, pelo
menos no que diz respeito a quirópteros kaijū. A mesmíssima fantasia pôde assustar
crianças e divertir crianças, bem como servir a personagens amorais, imorais e morais.
Penso que nada em matéria de kaijū seja mais belo do que os trabalhos da
ilustradora e designer de brinquedos japonesa Konatsuya (小夏屋), que comercializa
livros de arte e bonecos de plástico, onde cada modelo representando uma espécie
fictícia. Ela também comercializa, em vendas locais, impressões de desenhos criados
no Microsoft Paint. Em seu catálogo de personagens Livro Pictórico do Kaijū (小夏屋怪
獣図鑑), tal artista apresentou Docula (ドキュラ) como um kaijū que gosta de frutas,
com aparência de morcego raposa. Ele voa à noite reunindo um bando de muitos
pequenos morcegos proporcionalmente menores em tamanho. Docula ataca emitindo
ondas sonoras. Um segundo quadro Negora versus Docula (ネゴラ対ドキュラ) mostra
o quiróptero combatendo contra seu inimigo natural, o kaijū felino Negora (ネゴラ).

Estes personagens, apesar de belos, são amorais como quaisquer animais. Eles
vivem para lutar disputando territórios e a posição dominante na cadeia alimentar. A
criança que brinca com bonecos não deve torcer por um lado elegendo um favorito, mas
sim compreender que a evolução é intrinsecamente dependente da seleção natural.

5 ALIEN MECHARA. Em: Ultraman Wiki: <https://ultra.fandom.com/wiki/Alien_Mechara>. Acessado em 25/04/2021.

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Não há um método nessa loucura

No início as explicações mais comuns para o fenômeno kaijū foram as invasões


extraterrenas e mutações na fauna terrena provocadas pelo descarte de lixo radioativo,
bem como pelo efeito prolongado da radiação em locais afetados, como Hiroshima,
Nagasaki, Chernobil e em qualquer área usada para testes de bombas atômicas.6
Os filmes Godzilla (2014)7e Godzilla: King of the Monsters (2019)8 recontam a
origem do monstro definindo-o como predador alfa dominante duma fauna titânica que
teria habitado a Terra numa época em que o planeta era dez vezes mais radioativo do
que hoje, milhões de anos antes do surgimento da humanidade. Muitos animais, como
o M.U.TO., se alimentavam de radiação e eram caçados por Godzilla, o qual também
controlava a ação de espécies invasivas vindas do espaço, como Ghidorah.
Quando os níveis de radioatividade na superfície foram gradualmente reduzidos
por causas naturais tais criaturas evoluíram para viver nas profundezas, absorvendo
radiação do núcleo do planeta. Os titãs permaneceram desconhecidos, quietos em seus
habitats, até 1954, quando o primeiro submarino nuclear atingiu as fossas abissais,
chamando a atenção de Godzilla, que emergiu atrás do objeto.
Essa força terrível da natureza não pode ser freada por nenhum armamento de
fabricação humana e não deve ser caçada, pois provê um balanceamento de espécies
essencial para este mundo. O motivo de sempre haver um kaijū atacando as metrópoles
fictícias em tempos recentes é o fato de a ação humana sobre o meio-ambiente fazer-
se tão severa que ameaça causar extinções em massa até na vida real. O retorno dos
organismos originais que povoaram o planeta responde ao desbalanceamento, sejam
eles monstros colossais ou minúsculos vírus e bactérias super-resistentes.
A moral da história, na visão do Dr. Ishirō Serizawa (芹沢猪四郎), interpretado
por Ken Watanabe (渡辺 謙), é que existem certas coisas além de nosso entendimento.

6 Neste sentido já foi sugerido que o ser humano é o único monstro real, sendo o kaijū um subproduto da civilização.
Assim falou Steve Martin (Raymond Burr), em Godzilla (1985): “A natureza tem um modo eventual de lembrar o Homem
de quão pequeno ele é. Ocasionalmente, ela lança crias terríveis contra nosso orgulho e descuido para nos lembrar de
como somos, de fato, insignificantes diante de um tornado, um terremoto ou um Godzilla. As ambições irresponsáveis
do Homem são frequentemente ofuscadas por suas perigosas consequências”.
7 Godzilla (2014) é um filme estadunidense baseado nos filmes japoneses do personagem e um reboot da franquia. O
filme é dirigido por Gareth Edwards, com roteiro de Max Borenstein. Trata-se duma coprodução da Legendary Pictures
e da Warner Bros. Pictures, distribuído pela Warner Bros. Pictures em todo o mundo, exceto no Japão, onde foi distribuído
pela Toho. Foi lançado em 16/05/2014 nos formatos 2D e 3D.
8 Godzilla: King of the Monsters (2019) é um filme estadunidense dirigido por Michael Dougherty, com roteiro de
Dougherty, Max Borenstein e Zach Shields, baseado nos personagens da Toho, sendo a sequência de Godzilla (2014),
o terceiro filme do MonsterVerse e o trigésimo quinto filme da franquia Godzilla. Produzido pela Legendary Entertainment
e distribuído pela Warner Bros. Pictures, internacionalmente, e Toho, no Japão.

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Devemos aceita-las e aprender com elas, pois momentos de crise também são,
potencialmente, momentos de fé; momentos em que todos se unem ou se separam.
O mito é nosso compasso. Histórias de monstros e dragões podem auxiliar-nos
a restaurar nossa conexão com a natureza. Segundo a Dra. Ilene Chen, interpretada
por Zhang Ziyi (章子怡), “caçar dragões é um conceito europeu. No oriente eles são
sagrados. Criaturas divinas que inspiram sabedoria, força e até redenção”.
No filme Pacific Rim (2013), dirigido por Guillermo del Toro, com roteiro de Travis
Beacham e do próprio diretor, os personagens partem de premissas muito semelhantes
até que, no final, descobrem que o reino kaijū não é a fauna titânica da era paleoarqeana
evoluída nas fossas abissais. Os monstros saem de outra dimensão, pela abertura dum
buraco de minhoca nas profundezas... E as explicações continuam mudando em cada
fonte consultada. A propósito, alguém já falou a um curioso em Godzilla versus Hedorah
(1971)9: “Isto provavelmente veio de um planeta escuro e pegajoso muito, muito
distante. Agora vá dormir”. O negócio é quebrar dioramas e explodir bichões. E pouco
importa se queixosos como Roger Ebert pensam que “assistir Godzilla no Palais des
Festivals, em Cannes, é como ir a um ritual satânico na Basílica de São Pedro”.

Morcegos-vampiro colossais na arte japonesa

Em 2018, durante um debate sobre vampiros nas artes orientais, o brasileiro


João Renato Poppe declarou sua preferência pelo conceito estabelecido e consagrado
pelas séries tokusatsu (特撮)10 dos super heróis ultra senshi (ウルトラ戦士), conhecidos
no continente americano como Ultraman. Todas as Ultra Séries (ウルトラシリーズ) são
gravadas no estúdio Tsuburaya Productions (円谷プロダクション), no Japão, por mais
de meia década, desde 1966. Atualmente o material canônico soma quarenta e um
seriados regulares mais trinta e seis filmes e uma enormidade de produções conexas.
Encontrar vampiros de rara ocorrência em meio à imensidão é um exercício de
paciência que só um fã dedicado consegue realizar sem arrancar as calças pela cabeça.
Felizmente, para nós, existe mais de um otaku (おたく)11 das Ultra Séries catalogando
miudezas na Ultraman Wiki <https://ultra.fandom.com/wiki/Ultraman_Wiki>.
Na vida real a taxonomia ou classificação biológica dos seres vivos descreve
cada reino constituído por um conjunto de filos; cada filo constituído por um conjunto de

9 Godzilla versus Hedorah (ゴジラ対ヘドラ) é um filme de 1971 produzido pela Toho, decimo primeiro da série Godzilla.
10 Tokusatsu (特撮): Termo nihongo para filmes ou séries live-action (com atores reais) que utilizam efeitos especiais.
11 Otaku (おたく) é uma expressão nipônica utilizada para designar pessoas que são consideradas fãs extremistas de
um determinado assunto (um esporte, um programa de televisão, um hobby, etc.).

5
classes; cada classe constituída por um conjunto de ordens; cada ordem constituída por
um conjunto de famílias e subfamílias; cada família ou subfamília constituída por um
conjunto de gêneros e cada gênero constituído por um conjunto de espécies.
Na ficção das Ultra Séries o reino kaijū (怪獣) é composto por uma fauna titânica,
tanto de origem terrena quanto extraterrena. Todos os vampiros originais aparentam
pertencer a um filo análogo aos dos cordatos, classe dos mamíferos, ordem kōmori (こ
うもり) ou quiróptera, família Phyllostomidae, subfamília Desmodontinae, gênero
kyūketsu majū (吸血魔獣) ou “besta hematófaga”, estando divididos entre três espécies
denominadas dráculas (ドラキュラス), batton (バットン)12 e kyuranos (キュラノス).
Os quirópteros dráculas, batton e kyuranos são gigantes bípedes, peludos, com
patágio nos braços e rostos de morcego dotados de um par de dentes exageradamente
longos, usados tanto para a alimentação quanto como mecanismo defensivo. A espécie
dráculas – cujo nome foi obviamente inspirado no romance europeu Drácula (1897), de
Bram Stoker, – é endêmica do planeta Carmilla (カーミラ), – inspirado no conto Carmilla
(1872) de Sheridan Le Fanu. – Enquanto este morcego astronauta chegou à Tóquio a
bordo de sua nave espacial, a espécie extraterrena batton simplesmente voou em bando
para lá, vinda dum lugar incerto e não sabido. Por último, a espécie kyuranos é nativa
da América do Sul, na versão do universo paralelo Neo Frontier Space13.

Kyuranos, no episódio 33 de Ultraman Tiga (ウルトラマンティガ)14, e modelo da espaçonave


de Dráculas utilizado no episódio 36 de O Regresso de Ultraman (帰ってきたウルトラマン).

12 Batton (バットン) é um táxon fictício derivado de bat, palavra do idioma inglês que significa “morcego”.
13 O mundo Neo Frontier Space (ネオフロンティアスペースのワールド) é o universo paralelo onde vivem Ultraman Tiga
e Ultraman Dyna. Este universo é quase igual ao nosso, com poucas variações.
14 Resenha do episódio『ウルトラマンティガ』 第33話 「吸血都市」publicada no blog 今でも見えてる! ウルト
ラの星, em 02/04/2019. Hiperlink: <http://urtranohoshi.blog.fc2.com/blog-entry-363.html?sp>.

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Segunda dados inseridos na Ultraman Wiki, a espécie dráculas atinge cinquenta
metros e vinte e quatro mil toneladas.15 Em sua forma inicial de morcego vampiro, a
espécie batton atinge quarenta centímetros de envergadura e pesa quinhentos gramas;
mas, na última evolução, cresce até sessenta metros de altura e pesa quinze mil
toneladas.16 A espécie kyuranos nunca muda de aparência, mas sim de tamanho. No
início não possui mais de três metros de altura, porém subitamente cresce até atingir
cinquenta e três metros com peso de quarenta e seis mil toneladas.17 Imagino que tais
dados numéricos provenham de materiais de propaganda oficial, pois não os encontrei
detalhados nos episódios onde personagens humanos estudam os espécimes.
Na natureza temperaturas elevadas e clima seco podem ressecar as asas dos
quirópteros, que morrem incapacitados de voar. Por isso eles preferem a noite. Nas
Ultra Series, embora a exposição à luz solar não cause danos instantâneos em dráculas
e batton, ambos preferem ambientes húmidos e escuros. Dráculas bafora uma neblina
tão densa que turva a visibilidade do cenário. Ao voar em bando, em pleno dia, batton
produz uma neblina gélida, causadora de mudanças climáticas tão radicais que
ameaçam a vida na Terra. Por sua vez kyuranos é ultrassensível à radiação ultravioleta
presente na luz solar e na iluminação artificial produzida para essa finalidade. Ele
também evoca nuvens que escurecem o dia. Os humanos infectados pelo patógeno
transmitido por kyuranos são igualmente vulneráveis à radiação ultravioleta e entram
em combustão espontânea, desaparecendo em meio a chamas azuis.
Na natureza, o morcego hematófago Diaemus youngi tem glândulas localizadas
bilateralmente dentro da boca, que lhe dão a habilidade de baforar odor ofensivo. Na
cerâmica Maia há vários exemplos de homens morcego baforando chamas. O livro
europeu Manuale di Spiriti Folletti (1876) narra a história de Giovanni Kanzio, um
vampiro a prova de fogo, que baforava chamas azuis e vermelhas, e virava morcego.
Nas Ultra Series umas das defesas naturais de dráculas é baforar plasma explosivo.
Apesar do aspecto animalesco, dráculas, batton e kyuranos são dotados de
competência cognitiva e coeficiente intelectual alto. Dráculas e kyuranos não possuem
habilidade vocal, mas conseguem se comunicar por telepatia em idioma nihongo. Batton
adquire habilidade vocal quando magicamente18 assume a forma humana.

15 DRACULAS. Em: ULTRAMAN WIKI. Acessado em 01/02/2020. Hiperlink: <https://ultra.fandom.com/wiki/Draculas>.


16 BATTON. Em: ULTRAMAN WIKI. Acessado em 01/02/2020. Hiperlink: <https://ultra.fandom.com/wiki/Batton>.
17 KYURANOS. Em: ULTRAMAN WIKI. Acessado em 01/02/2020. Hiperlink: <https://ultra.fandom.com/wiki/Kyuranos>.
18 No episódio 18 de Ultraman Leo os poderes de transformação e habilidades de batton tem origem mágica e procedem
de um colar com pingente de gema vermelha. Esta técnica era conhecida pelo time dos mocinhos. Em Ultraseven, por
exemplo, o patrulheiro Dan Moroboshi coloca seus óculos especiais e se transforma no super herói extraterrestre.

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É digno de nota que, no livro de Bram Stoker, o Conde Drácula tem a habilidade
de se transformar em morcego hematófago. E assim também ocorre em todas as fontes
ocidentais. Porém, nas Ultra Séries, é o morcego batton que assume forma humana –
uma astuciosa e enganadora personagem antagonista muito bem interpretada pela atriz
Tomoko Sakamoto (阪本智子). – O morcego dráculas tem um poder semelhante: Após
matar a cientista japonesa Midori Suzumura (鈴村 みどり), personagem interpretada por
Yūko Tobe (戸部 夕子), a qual acabou sepulta numa caverna, de algum modo o corpo
do extraterrestre titânico sublimou-se para entrar no pequeno cadáver.
Midori ressuscitou, passando a sair à noite para beber sangue alheio, de modo
que a imprensa japonesa classificou a bela mulher capaz de emitir ultrassons como uma
kyūketsuki (吸血鬼), ou seja, uma vampira. Mesmo sem asas, Midori voa com habilidade
antigravitacional. Kyuranos não se transforma em humano e não é capaz de entrar em
cadáveres; mas esse espécime é o organismo hospedeiro dum patógeno transmissível
por mordedura, o qual faculta a transposão genética que provoca mutação na espécie
ningen (人間), o homem moderno (Homo sapiens sapiens), transformando-a na nova
espécie kyūketsu ningen (吸血人間), traduzível como “humano hematófago”.
Em Ufologia chamam isso de panspermia dirigida. Um kyūketsu ningen não vira
um kyuranos, tendo adquirido apenas certos traços de kyuranos. Ou seja, é um ser
híbrido. O kyūketsu ningen não aumenta de estatura nem de peso. É resistente a
disparos de armas de fogo, ao contrário do batton que morre quando alvejado por um
tiro fatal. O kyūketsu ningen desenvolve habilidades sobre-humanas tais como pular do
primeiro andar de um prédio para o segundo. Quando um kyūketsu ningen morde
outrem com objetivo de alimentação, ele mata a pessoa por hematofagia; mas se morde
um Homo sapiens com objetivo de infectá-lo, ele consegue criar outro kyūketsu ningen.
A japonesa Midori Suzumura, possuída por dráculas, usa roupas brancas porque
no Japão o luto é branco. Os primeiros humanos infectados por kyuranos eram sul-
americanos e, no continente americano, o luto é preto. Então eles optaram por trajar
uniformes pretos. São várias vampiras atuando em conjunto com um líder masculino.
Os kyūketsu ningen se referem a kyuranos pelo pronome de tratamento kami (神) e o
reverenciam como deidade. Eles formaram um Clã de Vampiros (吸血鬼一族 Kyūketsuki
Ichizoku) chamado Tribo da Bela Noite (美しき夜の種族 utsukushiki yoru no shuzoku).
O escuro e nevoento Club Heaven é seu esconderijo diurno e local de culto noturno.
Essa subcultura foi criada e organizada pelo próprio kyuranos que hipnotiza
àqueles que fitam seus olhos vermelhos, impondo sua vontade. Ele necessita manter
seus adoradores hipnotizados mesmo depois de transformá-los. Emoções fortes podem

8
interromper o processo. No meio da batalha uma kyūketsu ningen acordou do transe e
preferiu cometer suicídio a continuar lutando contra o homem que ela amou em vida.

Esquerda: O clã de vampiros humanos transmutados Tribo da Bela Noite, trajado à caráter para
uma noite de gala e caça. Direita: O kaijū quiróptero Seiji Komori, interpretado pelo ator Masanori
Mimoto (三元雅芸), vestido discretamente quando integrado à sociedade humana.

A mordida do morcego batton também contamina humanos, e distorce nossa


personalidade, de modo que se faz necessário coletar uma amostra de sangue do
espécime antes de mata-lo, para produzir uma vacina contra o vampirismo.
O primeiro táxon fictício, dráculas (ドラキュラス), consta na série O Regresso
de Ultraman (帰ってきたウルトラマン), especificamente no episódio 36, de título “Na
Escuridão da Noite” (夜を蹴散らせ), dirigido por Masanori Kakei, com roteiro de Toshiro
Ishido, exibido pela primeira vez pela Tokyo Broadcasting System, em 10/12/1971.
O segundo táxon, batton (バットン), aparece na série Ultraman Leo (ウルトラ
マンレオ), no episódio 18, de título “Vampiro! A mulher-morcego” (吸血鬼! こうもり少
女), dirigido por Masataka Yamamoto, com roteiro de Bunpei Ai, exibido pela primeira
vez pela TBS Holdings Inc (TBS), em 08/09/1974.
O terceiro táxon, kyuranos (キュラノス), foi apresentado na série Ultraman Tiga
(ウルトラマンティガ), no episódio 33, de título Cidade de Vampiros (吸血 都市), dirigido
por Hirochika Muraishi, com roteiro de Keiichi Hasegawa, exibido pela primeira vez pela
TBS Holdings Inc (TBS) e pela Mainichi Broadcasting System (MBS), em 19/04/1997.

Guerra entre mundos

Quirópteros dráculas aparecem também nos episódios 97, 98, 120, 123 e 125
do seriado Redman (レッドマン), sendo que no 123 um dentre eles se alia a um batto

9
seijin (バット星人), outra espécie de morcego kaijū alienígena endêmica do planeta
Batto (バット) que guerreia contra a humanidade em vários títulos das Ultra Series.
Estes parecem morcegos robôs ou morcegos usando armaduras compostas de
peças vividamente coloridas. Todos estão mais preocupados com política exógena e
com o estado de guerra intergaláctica do que com a pratica de atos que os definam
inequivocamente como vampiros.19 Contudo, merece menção a ocorrência de um batto
seijin que assumiu forma humana e adotou a identidade de Seiji Komori (小森セイジ),
nome homófono de seijin (星人), que significa alienígena, e koumori (蝙蝠), que significa
morcego.20 No início ele era um personagem infiltrado, politicamente neutro, vivendo
discretamente numa comunidade pacífica, até cansar-se da opressão e tabu contra a
vivência alienígena na Terra. Então entrou na guerra contra os humanos.21
No episódio 36 de O Regresso de Ultraman o invasor dráculas intenta erradicar
a população humana caçando uma a uma todas as mulheres em idade fértil,
inviabilizando a reprodução da nossa espécie. A primeira atitude deste personagem, ao
se deparar com Hideki Go, é tentar dialogar questionando por que, sendo Ultraman Jack
um extraterrestre, ele deveria escolher proteger os humanos invés de formar uma
aliança com os demais extraterrestres. Pois, para ele, não faz sentido um kaijin (怪人)
trair a causa alienígena rebelando-se contra um kaijū (怪獣).
Ultraman Jack não parou para pensar no problema nem um minuto. A prioridade
dos super heróis, em maioria kaijin, era travar lutas marciais contra os super vilões, de
maioria kaijū, apesar do combate não ser dirigido contra raças ou espécies e sim contra
atitudes hostis de indivíduos; havendo margem de tolerância em favor da minoria kaijū
que optou pela neutralidade ou pelo posicionamento político favorável à humanidade.
Talvez não seja inútil destacar que o conflito entre raças extraterrenas contra e
a favor da humanidade, na arte nipônica, antecede as Ultra Series. No seriado National
Kid (ナショナルキッド)22 os principais personagens antagonistas, Incas Venusianos,

19 ALIEN BAT. Em: ULTRAMAN WIKI. Hiperlink: <https://ultra.fandom.com/wiki/Alien_Bat>; FOR THE NEW WORLD.
Em: ULTRAMAN WIKI. Hiperlink: <https://ultra.fandom.com/wiki/For_the_New_World>. Acessados em 24/04/2021.
20 Na série de animação japonesa anterior Diabolik Lovers (ディアボリックラヴァーズ), dirigida por Shinobu Tagashira
e produzida pelo estúdio Zexcs, que foi ao ar no Japão de 16/09/2013 à 08/12/2013, o nome do pai adotivo da
personagem protagonista, que a envia à mansão dos vampiros, também é Seiji Komori (小森 セイジ). A animação
Diabolik Lovers derivou dum jogo de videogame homônimo e não tem relação com as Ultra Series.
21 Considerando a semelhança poderíamos pensar que um batton seja um batto seijin despido. Porém um batton só pode
beber sangue e este batto seijin é capaz de ingerir bebida da culinária humana. Seiji Komori (小森セイジ) foi apresentado
na série Ultraman Taiga (ウルトラマンタイガ), no episódio 18, de título “Para um Novo Mundo” (新しき世界のために),
dirigido por Takanori Tsujimoto, com roteiro de Shinichiro Ashiki, exibido pela primeira vez no Japão em 11/02/2019.
22 National Kid (ナショナルキッド) é uma série dirigida por Nagayoshi Akasaka e Jun Kaoike, com roteiros de Nagayoshi
Akasaka e Takashi Tanii, produzida pela Toei Company, que foi exibida pela TV Asahi, no Japão, de 04/08/1960 a
27/04/1961. O herói protagonista, National Kid, levava o nome da empresa patrocinadora National Electronics Inc., atual

10
são alienígenas que decidiram atacar a Terra porque os humanos estavam construindo
bombas atômicas ao mesmo tempo em que planejavam viagens espaciais, podendo vir
a ocupar outros planetas. Teriam razão? Parecem que não. E parecem literalmente pois
os Incas Venusianos são pessoas muito brancas usando trajes pretos com capuzes de
orelhas pontudas animalescas, que saúdam a deusa Auíca representada pela suástica.

Assim são todos os vilões de séries tokusatsu que seguem a mesma linha de
produção e conceito. Eles são maus porque são ruins e são ruins porque são maus.
Funcionam como commodity adjacente ao ato heroico, pois o protagonista não encontra
oportunidade de usar suas habilidades sem o antagonista para lutar e destruir cenários.

Interação com o ocidente e apropriação cultural

O episódio 36 de O Regresso de Ultraman não poderia terminar doutro modo


senão com a morte de dráculas onde Ultraman Jack materializa uma cruz de cabo longo
e fino, como uma lança, a ultra cruz, para estaquear o coração do vampiro gigante.
O problema é que cruzes cristãs não combinam com xintoísmo. Os japoneses
não estavam acostumados com o simbolismo ocidental. Sendo assim, fez-se necessário
explicar aos telespectadores o que diabos era aquilo.
Ao longo do seriado o super herói enfrenta mais alguns problemas com outros
alienígenas até que ele próprio acaba crucificado. Seu martírio foi uma interpretação tão
bem sucedida que um texto da página Deus no Gibi a recomendou para o catecismo:

Aqui no Brasil o seriado foi exibido entre os anos 1970 e 1980, para
delírio de uma geração. Pergunte para alguém com mais de 40 anos,
que foi criança naquela época, qual o impacto que o Ultraman original,

Panasonic, uma importante fábrica de eletrodomésticos. Este personagem era um alienígena benéfico, vindo da galáxia
de Andrômeda, que vivia entre nós, disfarçado de humano, e trabalhava como professor de nihongo.

11
o UltraSeven e o segundo Ultraman (Jack) tiveram na infância. (...)
Quando esse gênero de aventura surgiu, a televisão tinha pouca
programação para a criançada. E nesse ‘cardápio’ estavam disponíveis
alguns seriados japoneses, com heróis lutando contra monstros que
queriam destruir o planeta. (...) Todos abnegados, dispostos a morrer
para salvar a Terra. “Meu destino é lutar contra os inimigos da
humanidade que ameaçam a felicidade do mundo”, dizia o Ultraman
(...), numa época onde os inimigos só queriam esmagar casas e
prédios (...). Muitos episódios do Ultraman se tornaram clássicos. Tem
um, em especial, que ganhou o status de cult. Foi na segunda série,
chamada também de Ultraman Jack ou “O Regresso de Ultraman”.
Produzida em 1971, passou no Brasil entre 1974 e 1975, na TV Tupi,
e depois a partir de 1981, no SBT (TVS naquela época).
O tal episódio, duplo, era: “Ultraman Morre ao Entardecer” (parte
1) e “Quando Brilha a Estrela de Ultra” (parte 2). Quer entender o
drama? Veja só. Era para ser mais uma invasão alienígena, mas dessa
vez o Ultraman leva a pior. Não consegue vencer dois monstros que
aparecem simultaneamente e é derrotado. (...) Não duvide que muitas
crianças ficaram sem dormir direito naquela noite! A trama prossegue
no segundo episódio, onde os alienígenas transportam Ultraman, pelo
espaço. Ele vai ser morto. Até que (...) se reúnem as formas humanas
do UltraSeven e do primeiro Ultraman. Os dois se transformam nos
heróis e partem para um glorioso salvamento do ‘irmão’. Os três Ultras
estão juntos e destroem os inimigos. E a criançada ficou de boca
aberta, vendo aquela união tão sonhada acontecer.
Alguns detalhes desses episódios são interessantes. Primeiro, a
tristeza e o temor que recai sobre todo um país ao ver seu herói
crucificado. Não dá para deixar de lembrar de Jesus. (...) Outro detalhe
é ver o herói, já desfalecido, voltar à vida. A sua “ressurreição”
acontece graças à intervenção de um Ultra mais antigo e de outro mais
poderoso. Juntos, formam uma trindade capaz de exterminar o mal. 23

De uma certa forma a coletividade de vilões também ressuscitou amalgamada.


Partes de dráculas, batton, kyuranos, batto seijin e de todos os outros espécimes de
todas as raças kaijū previamente mortos pelos super heróis ultra senshi foram coletadas
e combinadas pelo antagonista Ultraman Belial (ウルトラマンベリアル) na intenção de

23 MEU DESTINO É LUTAR: ULTRAMAN. Publicado em Deus no Gibi. Acessado em 22/04/2021. Hiperlink:
<https://www.deusnogibi.com.br/os-herois-e-a-biblia/meu-destino-e-lutar/>.

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criar um novo corpo para si, o Belyudra (ベリュドラ), no filme Mega Batalha de
Monstros: Lendas da Ultra Galáxia (大怪獣バトル ウルトラ銀河伝説 THE MOVIE).

Belyudra, figura de ação nº 117 da Serie Ultra Monstros, da BANDAI.

Aparente escassez de referências externas

Quando João Renato Poppe recomendou-me as Ultra Séries eu fazia uma vaga
ideia sobre o que ele estava falando pois, em outubro de 1987, assisti à última exibição
brasileira de Ultraman Jack e Spectreman, no programa do Bozo, nas tardes do SBT.
Esses gigantes tecnológicos eram tão parecidos que o personagem da P-
Productions poderia muito bem ser um membro perdido da enorme equipe criada pela
Tsuburaya Productions. A principal diferença é que enquanto o primeiro Ultraman
sublimou seu corpo para vivificar o cadáver de um hospedeiro humano, o Spectreman
tinha habilidade de mudança de forma robótica para humana. Em todo caso, ambos
lutavam contra a invasão duma fauna extraterrestre de aspecto muito tosco, gigantesco,
que destruía cidades aos golpes e pisoes. Você percebia que eram miniaturas.
Havia vampiros nas Ultra Séries, Changeman e Kamen Rider Kiva, mas não no
seriado do Spectreman, como não havia em nenhuma das séries em live-action das
franquias Jaspion, Jiraya, Power Rangers, Cybercop, Flashman, Gavan, Esquadrão
Espacial Winspector, National Kid, Jiban: O Policial de Aço, Os Defensores da luz
Maskman, Metalder: o homem maquina, etc.

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A propósito, convenhamos que a inclusão de vampiros nas Ultra Séries não
começou nos arcos dirigidos por Eiji Tsuburaya (円谷英二).24 Foi desde o ano seguinte
à sua morte que aqueles que deram prosseguimento ao seu trabalho gravaram os três
episódios temáticos. Ou seja, as series com episódios contendo vampiros são minoria
entre as séries tokusatsu de gênero kaijū (isto é, onde aparece pelo menos um kaijū).
E mesmo assim os vampiros só aparecem em um dos cinquenta e um episódios
de O Regresso de Ultraman, em um dos cinquenta e dois episódios de Ultraman Leo,
em um dos cinquenta e dois episódios de Ultraman Tiga, em um dos cinquenta e cinco
episódios de Changerman, etc. Portanto, seria tal informação um fato isolado, pequeno
demais, desprezível (apesar de vampiros kaizō ningen, trajes de morcego e design de
objetos tecnológicos inspirados em quirópteros aparecerem copiosamente nas séries
da franquia Kamen Rider, especialmente em Kamen Rider Kiva)?
Certa vez o historiador italiano Carlo Ginzburg pesquisava numerosos volumes
de autos de processos da Inquisição, em busca de padrões, quando encontrou menções
a um pensador blasfemo com ideias tão inéditas quando cabelo em ovo.
Aquilo pareceu interessantíssimo, embora aparentemente imprestável para seu
propósito. Ele afastou o processo esdrúxulo – o julgamento do moleiro italiano Domenico
Scandella, conhecido por Menocchio, – fez o que tinha de fazer com o resto e publicou
o livro I Benandanti (1966). Porém, Carlo Ginzburg não dormiu em paz até dedicar uma
obra exclusiva àquele caso singular de modo que Il formaggio e i vermi (1976) se tornou
sua obra mais famosa e um dos mais importantes estudos da microhistória.
Nós nunca sabemos quando estamos peneirando o barro, recolhendo a argila e
deixando os diamantes para traz. Fuxicando bem, Carlo Ginzburg acabou descobrindo
que Menocchio não era assim tão solitário. Teve um discípulo confesso, um orientador
condenado e um circulo de amizades com o qual compartilhava livros. Essas pessoas
apenas não eram tão brilhantes e ousadas quanto ele. No fundo Menocchio fala mais
para o nosso tempo do que para o seu. Ele foi um anarquista. Tinha algo como o carisma
do condottiere de Michel Onfray e o mesmo desprezo pela ordem estabelecida.

24 Eiji Tsuburaya (円谷英二), nascido em 07/07/1901, falecido em 25/01/1970, foi um diretor japonês, especializado em
efeitos especiais, responsável por inúmeros filmes de ficção científica, incluindo filmes de Godzilla. Também é conhecido
por ser o principal autor das primeiras Ultra Séries (ウルトラシリーズ).

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