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Professor: Evandro Freire da Silva

Dis iplina: Físi a IV


Período: 5o Físi a / 5o Eng. Metalúrgi a
Turma: Turma Espe ial de Inverno 2020

Apostila 4  Interferên ia
Sumário
1 Interferên ia onstrutiva e destrutiva 1
1.1 Interferên ia em uma dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Interferên ia em duas ou três dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Interferên ia em fendas nas 3


2.1 O experimento de Young . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Posição das franjas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.3 Intensidade da gura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

3 Interferên ia em pelí ulas nas 7


3.1 Deslo amento de fase na reexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.2 Diferença de fase devido à espessura da pelí ula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.3 Cál ulo da espessura da pelí ula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.4 Apli ações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

4 Interfermetro de Mi helson 11

1 Interferên ia onstrutiva e destrutiva


O fenmeno de interferên ia é um dos mais importantes dentro do estudo da Ópti a Físi a. Ao ontrário de
outros fenmenos estudamos anteriormente, omo a reexão e a refração, que podem ser estudados a partir de
uma perspe tiva orpus ular ou ondulatória, a interferên ia é um fenmeno de aráter puramente ondulatório.
Interferên ia o orre quando duas ou mais fontes de ondas enviam ondas que al ançam simultaneamente o
mesmo ponto do espaço. Efeitos de interferên ia são per eptíveis em ondas me âni as, quando as fontes possuem:

ˆ A mesma frequên ia, dando origem a uma distribuição espa ial de ventres (pontos de amplitude de os ilação
máxima) e nós (pontos sem os ilação),

ˆ Ou frequên ias similares, dando origem a batimentos, nos quais a amplitudede os ilação res e e diminui
periodi amente, om uma frequên ia propor ional à diferença de frequên ias das duas fontes.

No estudo de interferên ia gerada por ondas eletromagnéti as, supomos que as duas fontes tem a mesma
frequên ia, porque o segundo fenmeno (batimento) é imper eptível quando as frequên ias das fontes são muito
grandes (lembramos que a frequên ia típi a para a luz visível é da ordem de 5 × 1014 Hz).
Vamos onsiderar que as duas fontes possuem a mesma frequên ia, mesma fase e mesmo estado de polarização.
Essas ondições não são muito restritivas: para antenas, podemos dizer que elas são alimentadas pelo mesmo
ir uito e apontam na mesma direção; para a luz, veremos adiante omo garantir que essas ondições sejam
satisfeitas. Como a velo idade de uma onda depende apenas das ara terísti as do meio  no aso de uma onda
eletromagnéti a, dos valores de ε e µ para o meio  as fontes emitem ondas om o mesmo omprimento de onda
λ. Além disso, ondas om a mesma fase passam por máximos e mínimos da onda simultaneamente.

1.1 Interferên ia em uma dimensão


Vamos onsiderar em primeiro lugar uma situação unidimensional. As duas fontes estão posi ionadas no eixo
x̂, separadas por uma distân ia d, emitindo ondas EM om a mesma fase e frequên ia. Como as equações de

1
Maxwell obede em ao prin ípio de superposição, os ampos elétri o e magnéti o resultantes em ada ponto são
iguais à soma dos ampos emitidos por ada fonte. Vamos ver o que o orre om o ampo elétri o.
Se ri é a distân ia entre o ponto de observação e a fonte Fi , então a amplitude resultante depende da diferença
∆r e do omprimento de onda. Os asos mais importantes são dis utidos a seguir:

1. Quando ∆r é igual a um múltiplo inteiro de omprimentos de onda, ou seja:

∆r = m · λ , m∈Z (1)

as duas ondas al ançam o ponto x em fase : máximos da primeira onda oin idem om máximos da segunda
onda e mínimos da primeira om mínimos da segunda. A amplitude resultante é:

A = A1 + A2 (2)

Dizemos que o orre interferên ia onstrutiva.

2. Quando ∆r é igual a um múltiplo semi-inteiro de omprimentos de onda, ou seja:

 
1
∆r = m+ ·λ , m∈Z (3)
2

as duas ondas al ançam o ponto x em oposição de fase : máximos da primeira onda oin idem om mínimos
da segunda onda, et . A amplitude resultante nesse ponto é:

A = |A1 − A2 |, (4)

sendo nula se as amplitudes de os ilação das duas fontes são iguais. Dizemos que o orre interferên ia
destrutiva.

Interferên ia Construtiva Interferên ia Destrutiva

Quando variamos x em uma dimensão (na reta que liga as duas fontes), vemos que IC e ID o orrem alter-
nadamente: quando deslo amos x para a direita, r1 aumenta e r2 diminui, de modo que ∆r aumenta. Quando
∆r varia em λ/2, saímos da ondição de IC e vamos para ID.

1.2 Interferên ia em duas ou três dimensões


Quando onsideramos pontos fora da reta que liga as duas fontes (ou seja, vamos para o aso 2D), vemos que
existem linhas nas quais ∆r permane e onstante, e que permane em no mesmo estado de interferên ia:

ˆ O aso ∆r = 0 orresponde à linha normal à reta que liga às duas fontes, na metade do aminho entre as
fontes. Vemos interferên ia onstrutiva nessa linha.

ˆ Todas as demais linhas tais que ∆r = mλ, m 6= 0 são hipérboles (de fato, uma possível denição de hipér-
bole é o onjunto de pontos ujas distân ias a dois pontos xos (as fontes) têm uma diferença onstante).
Dependendo do valor de k, visualizamos IC (nas linhas anti-nodais) ou ID (nas linhas nodais).

Na gura a seguir, mostramos duas fontes de ondas om mesma frequên ia e fase, os máximos das ondas
geradas por ada fonte (linhas heias) e as linhas anti-nodais, onde a amplitude de vobração é máxima. Linhas
nodais lo alizam-se entre ada par de linhas anti-nodais.

2
3 -3
2 -2
Valores de m: 1 0 -1

2 Interferên ia em fendas nas


2.1 O experimento de Young
Quando produzimos padrões de interferên ia om ondas eletromagnéti as emitidas por antenas, é simples atender
as restrições de mesma frequên ia, fase e estado de polarização. Além disso, omo o omprimento de onda
envolvido pode ser da ordem de metros, é simples lo alizar os máximos (IC) e mínimos (ID) de intensidade.
Existem várias di uldades que devem ser ontornadas, por meio de um design mais espe í o do experi-
mento, para que onsigamos ver interferên ia entre feixes de luz:

1. Fontes de luz típi as, omo lâmpadas ou velas, tendem a ser in oerentes, apresentando fases e estados de
polarização aleatórios;

2. O omprimento de onda da luz visível está na faixa dos 500 nm, de modo que uma distân ia muito pequena
separa pontos de interferên ia onstrutiva e destrutiva.

No iní io do sé ulo XIX, T. Young elaborou a seguinte experiên ia: uma fonte de luz mono romáti a emite
luz que in ide em um pequeno orifí io; a luz que passa por esse orifí io foi emitida por uma pequena região
da fonte, sendo aproximadamente oerente. Após passar por esse orifí io, a luz en ontra uma superfí ie opa a,
om dois orifí ios separados por uma distân ia d, da ordem de fração de milímetro: a luz que sai desses orifí ios
omporta-se omo a onda EM que sai de duas antenas em fase, separadas por uma distân ia d. Finalmente,
essa luz é projetada sobre um anteparo opa o a uma distân ia x muito maior que d: assim, os raios que saem
de ada orifí io per orrem quase a mesma distân ia ( om uma diferença de per urso da ordem de 500 nm) até
hegar ao anteparo.
Para pontos y distintos do anteparo, o valor de ∆r muda, de modo que a intensidade da luz em ada ponto
pode orresponder a máximos ou mínimos: a gura observada onsiste na alternân ia de franjas laras e es uras,
formando o padrão de interferên ia de fenda dupla. Podemos ver essa alternân ia no desenho a ima, notando
que os pontos C, D, E e F orrespondem a
Atualmente, usamos uma fonte laser omo fonte oerente de luz, de modo que não ne essitamos do primeiro
orifí io para realizar o experimento de fenda dupla. Usamos, em vez de um par de orifí ios, que transmite pou a
luz, um par de fendas retangulares, om a largura bem menor que o omprimento. O experimento é realizado
numa sala es ura, e a gura é projetada numa parede situada a alguns metros de distân ia.
Vemos na gura a seguir que são projetados pontos brilhantes, de intensidades diferentes: o ponto entral é
mais laro, e os demais pontos estão espaçados de forma periódi a de um lado e do outro. Nesta Apostila, vamos
obter a posição de ada ponto laro, e uma fórmula para estimar a variação de intensidade entre um ponto laro
e o espaço ao redor desse ponto. Entretanto, vemos que a intensidade dos pontos laros não é a mesma, e que
quando nos afastamos muito do ponto entral, a gura perde intensidade e desapare e: estes efeitos o orrem
devido à largura nita de ada fenda, o que veremos em maiores detalhes na Apostila de Difração.

3
2.2 Posição das franjas
Consideramos a seguinte situação: duas fendas delgadas em um anteparo opa o separadas por uma distân ia
d (na verti al) são iluminadas por luz oerente de omprimento de onda λ, que se propaga na direção x (na
horizontal). Uma tela opa a, estendida na verti al, se en ontra a uma distân ia x das fendas, om x ≫ d.
Forma-se uma gura de interferên ia na tela, om franjas brilhantes e es uras: queremos determinar a posição
de ada franja, assumindo que a largura de ada fenda é desprezível.

Anteparo
Fendas
r1 y
r2
d d θ ∆r θ

Pelo prin ípio de Huygens, as fendas se omportam omo fontes de luz se undárias e emitem luz em todas
as direções possíveis, em vez de apenas na direção horizontal. O ponto da tela ontido na mediatriz entre as
duas fendas re ebe luz que per orre exatamente o mesmo aminho saindo de ada fenda: omo ∆r = 0, o orre
IC nesse ponto. Vamos tomar y=0 para esse ponto: ele será o entro da gura de interferên ia, que se estende
de forma simétri a a ima e abaixo dele.
Podemos traçar raios saindo de ada fenda, que atingem a tela no ponto y 6= 0: omo x ≫ d, os raios são
prati amente paralelos. Seja θ o ângulo que esses raios formam om a horizontal; do diagrama a seguir, podemos
al ular a diferença de aminhos entre os raios da seguinte forma:

ˆ Traçamos uma ir unferên ia entrada no ponto da tela, de raio igual ao menor aminho (que passa pela
fenda mais próxima);

ˆ O ar o de ir unferên ia entre as interse ções om os dois raios é prati amente um segmento de reta
perpendi ular ao raio mais longo, de modo que existe um triângulo retângulo de hipotenusa d e ateto
igual a ∆r .

ˆ O ângulo oposto ao ateto ∆r é θ, de modo que:

∆r
sin θ = → ∆r = d sin θ (5)
d

Usamos agora as ondições de IC e ID para espe i ar os ângulos θ para os quais o orre IC e ID:


 d sin θ = mλ, m ∈ Z
 → franjas brilhantes (IC)
 
1 (6)
 d sin θ = m +
 λ, m ∈ Z → franjas es uras (ID)
2

A relação a ima pode ser usada para qualquer valor de θ.


Para obter a posição y na tela onde são projetadas as franjas, em prin ípio, é ne essário es rever:
 
m λ
θ = arcsin to y = x tan θ (7)
m + 1/2 d

4
Entretanto, estamos supondo que y ≪ x, de modo que o ângulo θ é pequeno, e podemos usar a aproximação:

y
sin θ ≈ tan θ = → y = x sin θ (8)
x
para obter as posições das franjas brilhantes e es uras na tela:


 ybr = x d , m∈Z →

franjas brilhantes


(9)
 (m + 12 )λ
 yesc = x , m∈Z →

 franjas es uras
d
Observações:

ˆ A extensão da gura de interferên ia é propor ional ao omprimento de onda (maior para luz vermelho,
menor para luz violeta), e inversamente propor ional à distân ia entre as fendas.

ˆ Uma vez que sin θ ∝ λ/d, vemos que a ondição de ângulos pequenos deixa de ser satisfeita quando a
distân ia d entre as fendas não é muito maior que o omprimento de onda da luz (menor que 10 vezes).

ˆ As franjas brilhantes são lassi adas pela ordem (pelo valor de m). Para m = 0, temos o máximo
prin ipal; para m 6= 0, temos os máximos de ordem |m|, de um lado e de outro do máximo entral.

ˆ Na fórmula a ima, não existe limite para os valores de m. Entretanto, devido à abertura nita das fendas,
a intensidade das franjas diminui à medida que m aumenta, até que as franjas brilhantes passam a ser
imper eptíveis. Na apostila de Difração, veremos que, quanto menor a abertura da fenda, maior é o número
de franjas visíveis.

2.3 Intensidade da gura


É possível determinar a intensidade I em qualquer ponto da gura de interferên ia ao longo do eixo y. Para isso,
é ne essário obter o ampo elétri o resultante das duas fendas no ponto y e, a seguir, al ular a intensidade.
Supomos novamente que as duas fendas emitem ondas mono romáti as de mesma amplitude Ee mesmo
estado de polarização. Desprezamos a diminuição de amplitude de um dos raios em relação ao outro, devido ao
aminho maior per orrido (anal, essa diferença é de alguns omprimentos de onda, o que é muito pequeno no
aso da luz visível), e a diminuição de amplitude devido à distân ia entre a fonte e a tela.
Os ampos que hegam à posição y da tela onde é projetada a gura estão defasados entre si por uma fase
φ (ou seja, o argumento da função seno é diferente para ada onda), uma vez que o aminho que um deles
per orreu é maior. Assim, podemos representar o ampo elétri o que vem de ada fonte omo:

E1 (t) = E cos(ωt + φ), E2 (t) = E cos(ωt) (10)

e o ampo resultante omo:


E(t) = E (cos(ωt + φ) + cos ωt) (11)

É possível rees rever a expressão dentro dos parênteses omo um produto de funções trigonométri as. Co-
meçamos lembrando as fórmulas para osseno da soma e da diferença de dois ângulos:

cos(a + b) = cos a cos b − sin a sin b (12)

cos(a − b) = cos a cos b + sin a sin b (13)

Somando as duas equações a ima, temos:

cos(a + b) + cos(a − b) = 2 cos a cos b (14)

Sejam c e d duas novas variáveis, denidas omo:

c = a + b, d=a−b (15)

Podemos obter a e b em função de c e d, resolvendo o sistema a ima. Temos:

c+d c−d
a= , b= (16)
2 2

5
de modo que:
c+d c−d
cos c + cos d = 2 coscos (17)
2 2
Agora, podemos rees rever a equação (11), tomando c = ωt + φ, d = ωt):
 
2ωt + φ φ
E(t) = E 2 cos cos (18)
2 2
Notamos que o ampo orrespondente possui amplitude (o termo que não varia om o tempo) igual a:

φ
Emax = 2E cos
(19)
2
Analisando a expressão a ima, vemos que:

1. Quando as duas ondas estão em fase, φ = n · 2π rad e cos φ = ±1. Assim, a amplitude do ampo resultante
é Emax = 2E , que é o valor para interferên ia onstrutiva;

2. Quando as duas ondas estão em oposição de fase, φ = (n + 1/2) · 2π rad e cos φ = 0, de modo que a
amplitude do ampo resultante é nula.

A seguir , al ulamos a intensidade do ampo resultante, usamos a fórmula abaixo:

εc 2 εc φ
I= E = · 4E 2 cos2 (20)
2 max 2 2
Essa fórmula é normalmente es rita em função da intensidade no máximo entral da gura interferên ia (ou
seja, para φ = 0). Temos:

φ
I0 = I(φ = 0) = 2εcE 2 → I = I0 cos2 (21)
2
Vemos ainda que I0 é igual a quatro vezes a intensidade do ampo elétri o de uma das fendas. Entretanto,
isso não quer dizer que existe geração de energia na formação de uma gura de interferên ia. Como a função
cos2 (φ/2) os ila entre os valores de 1 e 0, seu valor médio é igual a 1/2, de modo que a intensidade média que
atinge uma posição da tela é igual a 2If enda , igual à soma das intensidades emitidas por ada fenda.

Cál ulo da diferença de fase


Dissemos que a diferença de fase φ entre os ampos emitidos por ada fenda está ligada à diferença de aminho
até a tela. Vamos fazer esse ál ulo.
Quando a diferença de aminho ∆r é igual a um omprimento de onda, a diferença de fase é igual a 2π rad.
Estabele endo uma regra de três, temos:

∆r φ 2π∆r
= → φ= (22)
λ 2π rad λ
Assim, podemos rees rever a fórmula para a distribuição angular da intensidade na gura e interferên ia de
fenda dupla:
 
2πd sin θ 2 d sin θ
∆r = d sin θ → φ= → I(θ) = I0 cos π (23)
λ λ
E a fórmula para a intensidade em função da posição y no anteparo:

 
y dy
2
sin θ = → I(y) = I0 cos π (24)
x λx

O grá o de I(y), mostrado a seguir, estende-se eternamente para ambos os lados do máximo entral.
Entretanto, se montarmos o experimento de Young numa situação real, veremos que rapidamente a intensidade
das franjas brilhantes diminui, até que elas deixam de ser visíveis. Além disso, vemos que algumas das franjas
brilhantes previstas pela fórmula a ima, a intervalos periódi os que dependem da largura das fendas, podem ter
intensidade muito menor que o esperado. Ambos os omportamentos podem ser expli ados levando em onta a
largura de ada fenda, o que será feito na apostila de Difração.

6
3 Interferên ia em pelí ulas nas
Faixas brilhantes multi oloridas podem ser vistas quando a luz solar é reetida em bolhas de sabão, man has de
óleo molhadas na rua, ou nas asas de borboletas e outros insetos. Essas ores são o resultado de interferên ia
quando a luz solar é reetida em uma pelí ula ou lme no, tanto na superfí ie quanto no fundo do lme.
Isso o orre porque o raio reetido na primeira superfí ie e o raio reetido na segunda superfí ie passam a ter
uma diferença de fase, devido à distân ia extra per orrida pelo segundo raio. Dependendo da profundidade da
pelí ula, os raios podem sofrer interferên ia onstrutiva ou destrutiva: quando o orre ID, a intensidade do feixe
reetido é nula.

Quando luz bran a in ide na pelí ula na, ada omprimento de onda sofre interferên ia onstrutiva ou
destrutiva para profundidades diferentes da pelí ula. Assim, quando uma pelí ula possui profundidades diferentes
em diferentes pontos, as ores reetidas pela pelí ula (ou seja, que não sofrem interferên ia destrutiva) são
diferentes em ada ponto da pelí ula: assim, urvas de nível orrespondentes a profundidades diferentes da
pelí ula reetem ores diferentes. Por outro lado, se iluminamos esses orpos om luz mono romáti a, vemos
uma alternân ia de franjas brilhantes e es uras.
Para que esse efeito possa ser observado usando luz natural, devemos usar pelí ulas nas, nas quais a
distân ia extra per orrida pela luz ao atravessar a pelí ula seja de alguns pou os omprimentos de onda. Isso
o orre porque fontes de luz natural emitem luz om estados de fase e polarização que variam aleatoriamente
om o tempo, permane endo no mesmo estado de fase e polarização enquanto per orrem uma distân ia média
hamada de omprimento de oerên ia. Quando a distân ia per orrida pela luz dentro da pelí ula é maior
que esse omprimento de oerên ia, o efeito de interferên ia é perdido. Assim, não é possível ver franjas de
interferên ia apoiando uma pla a de vidro de uma janela numa superfí ie plana.
Além da diferença de fase entre os feixes reetidos em ada superfí ie devido à distân ia extra per orrida,
existe um segundo fator que deve ser levado em onta para determinar o apare imento de franjas: a variação de
fase de uma onda durante a reexão.
Neste apítulo, vamos ver em primeiro lugar uma pelí ula de espessura onstante, na qual um feixe de luz
mono romáti a reetido sofre interferên ia onstrutiva ou destrutiva: omo resultado, podemos ver uma reexão

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mais intensa, ou não ver a reexão do feixe. Depois, veremos rapidamente alguns asos onde a alternân ia de
IC e ID, devido à mudança de espessura da pelí ula, dá origem a um onjunto de franjas.
Um exemplo de situação que vamos en ontrar: a gura abaixo indi a uma situação onde o orre mudança de
fase no feixe reetido no topo da pelí ula, e não o orre mudança de fase no fundo da pelí ula; além disso, o feixe
que entra na pelí ula per orre uma distân ia igual a dois omprimentos de onda (um na ida, outro na volta).
Como resultado, os raios se reen ontram fora de fase, e o orre interferên ia destrutiva.

raio
incidente
ID: não vemos
luz refletida
meio 1

pelı́cula

meio 2

3.1 Deslo amento de fase na reexão


A mudança de fase que uma onda sofre devido à reexão é um fenmeno geral, que o orre om vários tipos de
onda. Assim, vamos introduzir esse on eito analisando a propagação de ondas me âni as em ordas tensas.
Quando os ilamos uma extremidade de uma orda, estamos introduzindo uma onda me âni a, que se propaga
na orda om velo idade
p v, em direção ao outro extremo. A velo idade de propagação de ondas numa orda
é v= T /µ, onde T é a tensão (que não muda quando one tamos duas ordas) e µ é a densidade linear da
orda (a massa de uma unidade de omprimento da orda).
Vamos one tar duas ordas de densidades lineares diferentes, e ver o que a onte e om a onda que se propaga
na orda, ao hegar ao ponto de junção. Existem duas possibilidades:

ˆ Se a onda se propaga numa orda mais leve, e en ontra a orda mais pesada, a velo idade da onda diminui
ao passar ao segundo meio. Durante a reexão, a orda mais pesada atua omo um obstá ulo para a
propagação da onda: um pulso apontando para ima é empurrado para baixo pela orda mais pesada, e o
pulso é reetido om inversão de fase (mudança de fase de 180°).

ˆ Se a onda se propaga na orda pesada, e en ontra a orda leve, a velo idade da onda aumenta no segundo
meio. Durante a reexão, a orda leve não atua omo obstá ulo para a propagação da onda: a onda
reetida reverte seu sentido sem sofrer mudança de fase.

Em ambos os asos, a onda transmitida ao segundo meio não sofre mudança de fase.
Situação análoga o orre quando uma onda eletromagnéti a sofre reexão e refração ao en ontrar a superfí ie
de separação entre dois meios de índi es de refração diferentes. A velo idade de propagação da luz em um meio
é v = c/n, de modo que a velo idade diminui quando n aumenta. Quando um raio de luz se propaga do meio
de índi e de refração n1 para um meio de índi e de refração n2 , podem o orrer duas situações:

ˆ Quando n2 > n1 , a velo idade da luz diminui e a onda reetida pela superfí ie sofre uma mudança de fase
de 180°, ou de π rad.

ˆ Quando n2 < n1 , a velo idade da luz aumenta no segundo meio e a onda reetida pela superfí ie não sofre
mudança de fase (0 rad).

Em ambos os asos, a onda refratada (que vai para o meio 2) não sofre mudança de fase. A demonstração dessas
armações é feita resolvendo as Equações de Maxwell na fronteira entre os dois meios, e não será feita aqui.
Quando um feixe de luz en ontra uma pelí ula, devemos onsiderar 3 meios: o meio 1, onde o feixe total
aminha antes de en ontrar a pelí ula, de índi e de refração n1 ; a pelí ula, de índi e de refração np , e o meio 2
(substrato), de índi e de refração n2 . Pre isamos al ular a diferença de fase ∆φr entre o raio que sofre reexão
na superfí ie da pelí ula, e o raio que sofre reexão apenas no fundo da pelí ula:

∆φr = φ2 − φ1 (25)

É ne essário analisar 4 asos separadamente, omo mostra a tabela abaixo:

8
Reexão na frente da pelí ula
Caso n1 < np n1 > np
Reexão no Caso ↓ φ2 φ1 → π rad 0
fundo da np < n2 π rad ∆φ = π − π = 0 ∆φ = π − 0 = π rad
pelí ula np > n2 0 ∆φ = 0 − π = −π rad ∆φ = 0 − 0 = 0
Notem que obtemos ∆φ negativo em um dos asos. Entretanto, omo estamos analisando o omportamento
de funções de onda periódi as, um atraso de π rad e um avanço de π rad são equivalentes. Assim, podemos
resumir o fenmeno de mudança de fase devido à reexão da seguinte maneira:

ˆ Quando os índi es de refração são res entes ou de res entes (ou seja, ou n1 < np < n2 , ou n1 > np > n2 ),
a mudança de fase relativa é ∆φr = π rad .

ˆ Quando o índi e de refração da pelí ula é o maior ou o menor dos três índi es, a mudança de fase relativa
é ∆φr = 0 .

3.2 Diferença de fase devido à espessura da pelí ula


Seja um feixe de luz que atinge a superfí ie de uma pelí ula om espessura t e índi e de refração np , e é separado
em dois feixes. O feixe 1 é reetido na superfí ie superior da pelí ula, enquanto o feixe 2 penetra na pelí ula,
aminha até o fundo, onde é reetido, per orre a espessura da pelí ula no sentido reverso, e reen ontra o feixe
1. Vamos onsiderar o aso de in idên ia normal dos feixes de luz.
O aminho extra per orrido pelo segundo raio dentro da pelí ula é ∆r = 2t. Asso iamos a essa diferença de
aminho uma diferença de fase ∆φp :

∆φp = kp ∆r = · 2t (26)
λp
onde λp é o omprimento de onda do feixe de luz dentro da pelí ula.
Normalmente, temos o omprimento de onda do feixe no vá uo (ou no ar) λ0 , de modo que:

λ0 2tnp
λp = → ∆φp = 2π (27)
np λ0
Invertendo essa equação, obtemos uma expressão par ial para a espessura da pelí ula:

λ0 ∆φp
t= (28)
2np 2π

3.3 Cál ulo da espessura da pelí ula


Para ontinuar, pre isamos rela ionar ∆φp om o tipo de interferên ia que desejamos ter. A diferença de fase
total, que determina o tipo de interferên ia entre os raios, é igual à soma das diferenças de fase ausadas por
ada efeito, de modo que vale:

∆φtotal = ∆φp + ∆φr → ∆φp = ∆φtotal − ∆φr (29)

sendo que ∆φr pode assumir dois valores diferentes, dependendo dos índi es de refração de ada meio.
Vamos analisar ada possibilidade separadamente:

ˆ Índi es de refração do meio 1, da pelí ula e do meio 2 são res entes ou de res entes, de modo que
∆φr = π rad. A espessura da pelí ula é:

λ0 ∆φtotal − π
t= (30)
2np 2π
Agora, impomos as ondições de interferên ia:

 IC: o orre quando ∆φtotal = 2mπ rad (ou seja, um múltiplo par de π rad. Temos:

∆φtotal − π 2mπ − π 1
= =m− (31)
2π 2π 2
e a espessura da pelí ula é:
 
1 λ0
t= m− (32)
2 2np

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 ID: o orre quando ∆φtotal = (2m − 1)π rad (ou seja, um múltiplo ímpar de π rad. Temos:

∆φtotal − π 2mπ − π − π
= =m−1 (33)
2π 2π
Como m é um número inteiro qualquer, mas a espessura não pode ser nula (se fosse nula, não haveria
pelí ula e não haveria o fenmeno de interferên ia), podemos substituir m−1 por m no ál ulo da
espessura da pelí ula:
λ0
t=m (34)
2np

ˆ Índi e de refração da pelí ula é o maior ou o menor de todos, de modo que ∆φr = 0. A espessura da
pelí ula é:
λ0 ∆φtotal
t= (35)
2np 2π
Impomos as ondições de interferên ia:

 IC: o orre quando ∆φtotal = 2mπ rad. A espessura da pelí ula é:

λ0 2mπ λ0
t= → t=m (36)
2np 2π 2np

 ID: o orre quando ∆φtotal = (2m − 1)π rad. A espessura da pelí ula:

 
λ0 (2m − 1)π 1 λ0
t= → t= m− (37)
2np 2π 2 2np

Nas fórmulas a ima, lembramos que λ0 é o omprimento de onda do feixe usado no vá uo (ou no ar). Se for
dada a frequên ia em vez de λ0 , tomamos c = λ0 f para obter λ0 .

3.4 Apli ações


Em exer í ios, podemos tratar revestimentos reetores ou não-reetores omo pelí ulas nas. Um revestimento
não-reetor apli ado em uma lente, que diminui a intensidade da luz reetida, é uma apli ação de ID para
os raios reetidos pela lente. Por outro lado, um revestimento reetor pode ser apli ado a um espelho, para
melhorar a qualidade da luz reetida, ou a uma superfí ie que deve ser mantida a uma temperatura onstante,
reetindo a radiação infravermelha: ambas as situações são apli ações de IC na pelí ula.
Pode-se perguntar qual a menor espessura da pelí ula que promove o efeito desejado: al ulamos o menor
valor de t não-nulo, tomando m=0 ou m − 1, dependendo da situação.
Outras situações:

ˆ A espessura da pelí ula res e linearmente om a distân ia a uma linha. Essa situação pode ser obtida,
por exemplo, apoiando uma pla a de vidro sobre uma superfí ie sólida, e olo ando em um dos lados uma
folha de papel entre o vidro e a superfí ie: a pelí ula orresponde à  unha de ar que se forma entre o
vidro e a superfí ie sólida.

Tipi amente, queremos rela ionar quantas franjas brilhantes existem dentro de uma distân ia x paralela à
superfí ie da pla a om o ângulo θ entre as duas pla as. Para resolver esse problema, seja ∆x a distân ia
sobre a pla a entre duas franjas laras onse utivas (ou duas franjas es uras onse utivas): o aumento da
espessura da pelí ula é ∆t = ∆x · sin θ , e esse aumento ausou a introdução de um omprimento de onda
no per urso do raio que atravessou a pelí ula. Lembrando que o raio deve per orrer a pelí ula duas vezes
(ida e volta), temos:
2λp
∆t = 2λp → ∆x = (38)
sin θ
Finalmente, tomamos x = N ∆x para introduzir o número N de franjas observadas em toda a extensão da
pla a.

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vidro
ar
substrato

θ ∆t
∆x

ˆ A pelí ula é formada quando uma superfí ie esféri a onvexa é apoiada em ima de uma superfí ie plana:
no ponto de tangên ia, a espessura da pelí ula é nula, e ela aumenta om a distân ia do ponto de observação
ao ponto de tangên ia. As franjas de interferên ia tomam a forma de uma série de anéis ao redor de um
dis o entral, hamados anéis de Newton.

Esta situação pode ser usada por um fabri ante de lentes para avaliar a urvatura da lente: se a lente tem
a urvatura orreta então os anéis de Newton são ir ulares, aso ontrário eles são distor idos.

4 Interfermetro de Mi helson
O interfermetro de Mi helson é um dispositivo usado para medir distân ias muito pequenas, da ordem do
omprimento de onda de um feixe de luz, usando o fenmeno de interferên ia. Foi riado por volta de 1885.
Histori amente, esse dispositivo é importante, por ter providen iado uma das primeiras provas experimentais
de que a velo idade de um feixe de luz no vá uo não depende do movimento relativo entre a fonte de luz e o
observador, diferentemente do que previa a Físi a Clássi a. Eventualmente, esse e outros resultados abriram
aminho para a Teoria da Relatividade Restrita de Einstein.
Vejamos omo o interfermetro de Mi helson fun iona. Um feixe de luz mono romáti o in ide em um divisor
de feixe, no ângulo de 45°: parte do feixe é reetido e parte do feixe é transmitido. Os feixes aminham em
direções perpendi ulares: o feixe 1 per orre a distân ia L1 até in idir em um espelho xo, sendo reetido de volta
ao divisor de feixe; e o feixe 2 per orre a distân ia L2 até in idir em um espelho móvel ( uja posição e orientação
podem ser alteradas), e se espelho móvel está na posição padrão, o feixe 2 também volta para o divisor de feixe,
e reen ontra o feixe 1. Os dois feixes interagem novamente om o divisor, e um feixe re onstruído segue em
direção a um observador.
Na posição padrão, os dois feixes per orrem distân ias diferentes, havendo uma diferença de per urso ∆r =
2(L2 − L1 ) que pode dar origem a um padrão de interferên ia onstrutiva ou destrutiva. A seguir, o espelho
móvel é girado de um ângulo muito pequeno, de forma que o per urso total de ada porção do feixe 2 que in ide
em uma fatia diferente do espelho é diferente: uma situação análoga ao padrão ausado pelos blo os de vidro
er ando uma unha de ar, dis utida na seção anterior. O observador passa a ver um onjunto de franjas de
interferên ia, onde um par de franjas laras está separado pela distân ia x.
Finalmente, é possível mover o espelho móvel para trás, aumentando ou diminuindo a distân ia per orrida
pelo feixe 2 antes de se reen ontrar om o feixe 1. Se o espelho é deslo ado de λ/2, de modo que o omprimento
per orrido elo feixe 2 aumenta de λ, todas as franjas vistas pelo observador per orrem a distân ia de uma
franja. Assim, se o espelho móvel per orre a distân ia d, e observamos que o onjunto de franjas per orrem uma
distân ia igual a N franjas, podemos armar que:

λ
d=N (39)
2
A partir desse resultado, podemos medir λ ou d, se temos a outra grandeza.

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