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INSTITUTO FEDERAL DO PARÁ - CAMPUS BRAGANÇA

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

JESSICA SILVEIRA DA SILVA

ARTIGO DE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA

BRAGANÇA-PA
2021
INSTITUTO FEDERAL DO PARÁ - CAMPUS BRAGANÇA

CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

JESSICA SILVEIRA DA SILVA

ARTIGO DE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA

Trabalho apresentado como


requisito de avaliação da
disciplina: História Da Amazonia,
ministrada pelo Prof. Raimundo
Castro. No âmbito do Curso de
Licenciatura em Geografia.

BRAGANÇA-PA
2021
A INVISIBILIDADE DA DIVERSIDADE AMAZÔNICA NOS LIVROS DIDÁTICOS

Jessica Silveira Da Silva¹


RESUMO
O presente artigo tem como objetivo trazer reflexões sobre a temática da
representação da Amazônia e sua diversidade nos livros didáticos. Haja vista que os
livros didáticos, serve como ferramenta facilitadora do processo de ensino-
aprendizado, sendo este muito utilizado por alunos e professores da educação básica,
em muitas ocasiões, esse livro é a única ferramenta que o professor utiliza para
elaborar suas atividades em sala de aula. Porém as narrativas dos livros apresentam
essa região de forma homogênea com muitos recortes, no qual não leva em
consideração as especificidades locais, assim contribuindo para que haja uma
desvalorização da história regional e como consequência levando a invisibilidade dos
sujeitos, diferença a qual está diretamente ligada a diversidade humana existente
nessa região. Essa desvalorização reforça uma narrativa de que o povo da Amazônia
é um povo sem história, sugerindo diversas interpretações a respeito dessa região
principalmente em relação ao espaço habitado tudo se refere ao índio como se
somente os índios habitasse nessa região. As reflexões aqui apresentadas foram
embasadas em pesquisas de vários autores que discorre sobre essa região.
Palavras-Chave: Livros Didáticos, Amazônia, Diversidade.
ABSTRACT
This article aims to bring reflections on the theme of representation of the
Amazon and its diversity in textbooks. given that textbooks serve as a tool to facilitate
the teaching-learning process, which is widely used by students and teachers of basic
education, in many occasions, this book is the only tool that the teacher uses to
develop their activities in the classroom. class. However, the narratives of the books
present this region in a homogeneous way with many clippings, in which it does not
take into account the local specificities, thus contributing to the devaluation of regional
history and, as a consequence, leading to the invisibility of the subjects, diversity which
is directly linked. human diversity in this region. This devaluation reinforces a narrative
that the people of the Amazon are a people without history, suggesting different
interpretations about this region, especially in relation to the inhabited space,
everything refers to the Indian as if only the Indians lived in this region. The reflections
presented here were based on research by several authors who discuss this region.
Keywords: Textbooks, Amazon, Diversity.
1.Graduanda em Geografia (Instituto Federal do Pará Campus-Bragança) E-mail: jessicasilveira2407@gmail.com
INTRODUÇÃO

Esse artigo nasce das indagações, porque os livros didáticos não representam
a Amazônia de forma particular? Pois, certas temáticas que envolve a Amazônia nas
narrativas dos livros didáticos são negligenciadas, essa região é apresentada com
muitos recortes de maneira artificial e homogênea. Os livros didáticos dificilmente
dedicam capítulos ou unidades específicas para tratar da região amazônica e sua
diversidade. Sendo assim as narrativas referente a essa região sempre aparecem
entrelaçada a outras temáticas, logo essas narrativas superficiais contribuem para a
desvalorização dessa região. O livro didático é uma ferramenta importante para o
aluno e professor, pois na maioria das vezes é o único material pelo qual o aluno tem
acesso a informações, principalmente nas regiões afastadas dos centros urbanos, por
isso a necessidade de um certo equilíbrio na construção das narrativas que vão
compor esse livro, para não deixar de fora certas temáticas tão necessárias para a
sociedade, pois é através das narrativas que o aluno reconhece seu lugar no mundo.

Diante do exposto, as narrativas construídas nos livros didáticos são capazes


de interferir na maneira como milhares de estudantes irão construir suas leituras de si
e do mundo o qual estão inseridos. Além disso é de extrema importância que as
crianças e os jovens conheçam a Amazônia e suas particularidades, principalmente
quando se trata do espaço habitado pela diversidade humana, essa diversidade que
está relacionado à realidade ribeirinha, indígena e das populações que viveram e
vivem nessa região. A temática sobre a diversidade tem que ser debatida e
compreendidas para que o espaço amazônico não seja visto apenas como um recurso
natural, mais também a partir de sua identidade. Desse modo, o objetivo desse texto
é mostrar como se dá a invisibilidade dos sujeitos nos livros didáticos, e com isso
contribuir para a construção de futuras narrativas que representem a Amazônia de
forma particular, assumindo assim um compromisso com a realidade espacial.
Portanto é de extrema importância que Amazônia ganhe espaço nos livros didáticos,
assim desmistificando a ideia que essa região é menos importante que as demais,
onde só habita índios e animais selvagens, como é rotulada por pessoas que
desconhecem a realidade local.
COMO É PRODUZIDO O LIVRO DIDÁTICO

O livro é de extrema importância para a comunidade escolar pois se tornou um


instrumento pelo qual a maioria dos professores da educação básica elaboram suas
atividades em sala de aula, em alguns lugares distante dos grandes centros urbanos
é o único meio pelo quais os estudantes tem acesso a informações. Para que um livro
seja produzido, muitos agentes são envolvidos no processo de produção, desde o
profissional que escreve as narrativas, até o produto final, também a uma certa
complexidade que envolve à produção, principalmente referente a diversidade do
vocabulário e na estabilidade de uso lexicais pois é difícil encontrar um sistema
linguístico que atenda toda a necessidade do público alvo.

Quando se produz um livro didático é necessário levar em consideração um


conjunto de relações políticas e sociais que criam normas, regras e condições que
determina cada tipo de livro, diante disso vale destacar que, os conteúdos não
aparecem nas páginas dos livros por interesse de uma única pessoa, seja ela do autor,
editora, editor, revisor ou avaliador, entre outros. Além da ordem de hierarquia e
relações políticas interferem em todo o processo de produção do livro didático, daí
surgi a importância do plano nacional do livro didático (PNLD) como política de estado
para garantir a produção de qualidade dos livros, esse órgão tem controle sobre esse
produto, é esse órgão que formula os editais contendo normas e regras a serem
cumpridas, por exemplo referente ao tamanho, capa, avaliação pedagógica, entre
outras, logo, um conjunto de ações é necessário na construção do livro, até ser
distribuídos para todos os estudantes da educação básica. A PNLD avalia os materiais
antes da compra com o objetivo de aperfeiçoamento do mesmo.

No entanto foi o decreto Nº 7.084/2010 que estabeleceu a PNLD como um


programa de estado, sendo competente no aprimoramento e consolidação de todo
processo que envolve a produção, seleção, avaliação e distribuição. No que diz
respeito as ações do plano nacional dos livros didáticos, CAVALCANTI em sua
pesquisa diz que “essas ações têm contribuído, sobremaneira, para a redução de
diversos problemas detectados ao longo dos anos. Por certo, o programa não
solucionou todos os problemas ligados à produção dos livros didáticos, mas conseguiu
desenvolver um conjunto de ações que, sem dúvida, minimizaram muitos problemas
e desafios.” (CAVALCANTI, 2020, p. 294). Haja vista que os livros é uma ferramenta
que tem como objetivo facilitar o processo de construção do conhecimento é
fundamental ter um certo equilíbrio nas construções das narrativas que são
apresentadas para milhares de jovens e crianças de diversas partes do mundo através
dos livros didáticos, logo certas temáticas são necessárias a ser debatidas, afim de
contribuir para a construção do aluno como um ser crítico. Acredita-se que, as
narrativas que se faz presente nos livros didáticos, tem poder de interferir na maneira
como muitos estudantes, irão construir suas leituras de si e da sociedade a qual faz
parte.

Segundo a pesquisadora Caimi, “A PNLD consolidou um conjunto de diretrizes


formuladas ao longo de mais de duas décadas, que podem ser sumarizadas nos
seguintes aspectos, dentre outros: o respeito ao pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas; respeito às diversidades socias e culturais e regionais.” (CAIMI, 2018,
P.33). É perceptível que mesmo com todos os esforços em busca de um livro de
qualidade ainda existe grandes lacunas nesses livros principalmente referente a
realidade espacial, pois é desafiador para os alunos principalmente das comunidades
tradicionais ao ler um texto e perceber que tudo que leu não tem relação com sua
realidade, logo percebe que a realidade fictícia existe somente nas narrativas dos
livros didáticos.
A INVISIBILIDADE DOS SUJEITOS AMAZONICOS NOS LIVROS DIDÁTICOS

Essa visibilidade se dá nos livros principalmente através dos recortes existentes


nas narrativas apresentadas, onde pouco se fala o nome dos sujeitos que envolve o
processo histórico dessa região. Levando em consideração a pesquisa de Cavalcanti
a qual ele faz análise de vários livros didáticos e destaca como a Amazonia é
apresentada e as lacunas existente a respeito das temáticas dessa região, onde
mostra que dos 40 livros analisados por ele apenas 8 desses mencionam a essa
região, com parágrafos curtos sugerindo ao leitor várias interpretações ao cerca dessa
região principalmente ao se tratar do espaço habitado, logo essas lacunas contribuem
para reforçar a ideia estereotipada dos habitantes dessa localidade.

Segundo as narrativas apresentadas nesses livros os sujeitos são invisíveis,


pois segundo Cavalcanti em seu artigo diz que “Em nenhuma das narrativas,
independente da temática vinculada, não aparecem os nomes dos homens e das
mulheres que viveram e vivem na região. As populações continuam sem nome nos
livros didáticos. São apresentadas por categorias como “nativos”, “indígenas” e
“agricultores”; expressões que pouco ou quase nada dizem.” (CAVALCANTI, 2020, p.
302), como se esse território fosse homogêneo, composto por pessoas iguais, com
mesmos hábitos e praticas culturais, essas narrativas não se leva em consideração a
especificidade local. Além disso a linguagem utilizada na construção das narrativas
também contribui para silenciar os sujeitos e suas experiências. Nesse sentido é
notório como os livros didáticos, não discorre a respeito da diversidade dos povos que
habitam esse lugar, como por exemplo: os ribeirinhos, os caboclos da Amazônia, entre
outros, quando se fala em diversidade, tão pouco relata a diversidade existente nas
etnias indígena.

Essa invisibilidade se dá pela maneira de como as narrativas são construídas


e apresentadas ao leitor, por isso é fundamental ter equilíbrio e um certo cuidado ao
construir essas narrativas, para que as ideias sejam compreendidas e repassada de
maneira correta, para que essa região seja reconhecida também pela sua identidade,
peculiaridades e principalmente a diversidade humana que habita esse espaço, assim
contrapondo a ideia de que somente os índios habitam esse território.
COMO DEVERIA SER REPRESENTADA A DIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

Amazônia segundo as narrativas encontradas nos livros didáticos, há uma série


de recorte na história regional havendo uma desvalorização desse território. Diante
disso é necessário que a temática Amazônia ganhe espaço adequado nos livros e
seja representada de forma particular, haja vista que é fundamental que a sociedade
conheça a região amazônica, sua especificidade e diversidade humana existente
nesse espaço.

As narrativas que se faz presente nos livros didáticos sugeri várias


interpretações ao leitor a cerca dessa região, principalmente quando se fala do espaço
habitado tudo é relacionado ao índio, como se somente o indígena habitasse esse
espaço. Segundo Mendes “A parte social amazônica também é diversa, por isso,
utiliza-se o conceito de socio biodiversidade, a fim de revelar que além dos indígenas,
da população branca, e da população negra, todos entendidos aqui por
autodeclaração segundo o critério do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE), deve-se destacar como população regional os ribeirinhos e os povos da
floresta” (MENDES, 2020, p. 345), essa diversidade relacionado a realidade dos
ribeirinhos, dos indígenas, e das outras populações que vivem nesse local que na qual
não é relatada nos livros, com isso invisibilizando os sujeitos.

Sujeitos esses que são tão importantes para a sociedades, então fundamental
que haja a valorização da história local e fazer o elo entre o passado e o presente
dessa região para mostra que a sociedade passa por constantes mudanças sendo ela
social, econômica ou cultural. Pouco se sabe da história da região amazônica e os
papeis dos sujeitos no processo de formação desse território, haja vista que tudo é
atrelado ao indígena e aos colonizadores e esquecem dos outros sujeitos que foram
e são importantes para a região, a exemplo disso é que não se relata os papeis das
mulheres na história da Amazônia, segundo o escritor Tiese Junior em seu livro sobre
estudos amazônicos diz que essas mulheres “ eram grande guerreiras, tinham parte
de seus seios amputados, para facilitar o uso de arco e flecha e nadarem com rapidez.
Foi por causa dessas mulheres que Carvajal batizou a região com o nome rio das
mulheres amazônicas” (TIESE, 2010, p.113). Histórias como essas das mulheres, são
tão importantes quanto a dos colonizadores e merece destaque nas narrativas
referente a história da Amazônia.

Portanto é preciso mencionar as diversidades nas temáticas debatidas nos


livros didáticos, principalmente assumir responsabilidade com a realidade espacial,
pois o livro didático é uma ferramenta que facilita a construção do conhecimento,
sendo ele acessado por inúmeras pessoas, que a partir dele obtém informações a
respeito de sua história e do mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das reflexões aqui apresentadas é notório a complexidade do processo


de produção e construção das narrativas do livro didático. A partir das analises
observasse-se que, a uma certa desvalorização da região amazônica, assim fazendo
com que os sujeitos sejam apagados de seu processo histórico. Narrativas essas que
a região é espremida e apresentada de maneira homogeneizadora.

Os livros didáticos sendo umas das ferramentas facilitadora do processo de


construção do conhecimento é necessário que faça uma abordagem minuciosa em
relação as especificidades de cada região, pois é através dos livros que a maioria dos
estudantes vão construir sua visão a respeito da sociedade. Logo certas ideias
precisam ser assimiladas, para que haja socialização com as pessoas que são
excluídas da sociedade. Acredito que seja fundamental situar essas diversidades nas
narrativas dos livros didáticos, desse modo o objetivo desse texto não é refutar o livro
didático, mais afim de contribuir com futuros trabalhos acerca das narrativas
apresentadas nos livros didáticos, para que os agentes envolvidos na construção dos
livros assumam com promisso com a realidade espacial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CAIMI, Flávia Eloisa. Sob nova direção: o PNLD e seus desafios frente aos contextos
político-educativos emergentes. Revista História Hoje, São Paulo, v. 7, n. 14, p. 21-
40, 2018.

CAVALCANTI, Erinaldo. A Amazônia representada nos livros didáticos. Revista


História e ensino, Londrina, v. 26, n. 2, p. 287-312, 2020.

RODRIGUES, Tiese júnior. Estudos amazônicos ensino fundamental. Belém: Paku-


tatu,2010.

SOARES, Luís Augusto. O lugar da diversidade no ensino de geografia da Amazônia.


Revista educação e cultura contemporânea, Rio de janeiro, v.17, n. 48, p. 342-
361,2020.

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