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Saúde Mental na
Atenção Primária
e na Saúde da
Família
Autor:
Jeferson Camargo Taborda
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 57
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UNIDADE 1 - ENVOLVIMENTO FAMILIAR NA REABILITAÇÃO DO PORTADOR
DE DOENÇA MENTAL
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fechamento dos Hospitais Psiquiátricos mediante novas propostas de atendimento à
saúde mental (MELMAN, 2006).
Segundo Melman (2006), dentre os principais pontos da Lei 180 constam: a
proibição de construir novos hospitais psiquiátricos, a instalação de serviços
territoriais, a abolição do estatuto de periculosidade do doente mental – considerado
agora cidadão de plenos direitos – e a proibição da internação ou tratamento
compulsório.
No Brasil, uma série de movimentos institucionais e políticos constituem a
Reforma Psiquiátrica Brasileira. Efeito tanto das críticas mundiais à ineficácia dos
manicômios quanto da denúncia e constatação de inúmeros casos de maus tratos,
mediante a regulação de leis, diretrizes e o desenvolvimento de novas políticas
públicas possibilitou-se um considerável avanço na desinstitucionalização da
loucura, passando a retirar a família de sua posição periférica em relação ao
tratamento (MELMAN, 2006).
A desinstitucionalização possibilitou assim, uma enorme transformação na
função da família em relação à saúde mental. De um grupo familiar com pouca ou
quase nenhuma participação na reabilitação do membro adoecido, a família tornou-
se objeto central do tratamento.
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protestantes. Se antes, tão logo a criança ganhasse alguma autonomia já era
misturada aos adultos (vizinhos, amigos, amos, criados...) para ofícios de
aprendizagem, é com a escolarização que emerge o sentimento de infância, e
consequentemente o sentimento de família (ARIÈS, 1978).
A princípio a escolarização das crianças se limitava às famílias mais
abastadas da época, as chamadas famílias burguesas. Durante muito tempo ainda,
o ofício da aprendizagem das
crianças pobres conviveu com a
escolarização das crianças ricas.
Posteriormente, proveniente da
consolidação do modo de vida
burguês como modelo de
sociedade, o sentimento de família
torna-se hegemônico perdurando
até os dias atuais (ARIÈS, 1978).
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Não por acaso, proveniente deste sentimento de família, uma intensa culpa
toma a família quando algum membro seu é acometido com transtornos mentais. A
autoestima dos pais é abalada de forma ainda mais intensa, pois estes sentem
como uma denúncia das falhas do sistema familiar (MELMAN, 2006).
Mas não foi somente o modelo de vida burguês que impregnou o atual
sentimento de família dos dias de hoje, conforme Deleuze e Guatarri (2004), boa
parte desta centralização provem do discurso psicanalítico. Ao desenvolver o
Complexo de Édipo como metáfora dos afetos inconscientes dos filhos pelos pais,
os estudos freudianos passam a colocar a família como o centro para o
desenvolvimento da personalidade. Com a aceitação cada vez maior da Psicanálise
pela ciência, e consequente popularização de seus princípios inclusive fora do
circuito acadêmico, as constatações sobre a relação entre as famílias burguesas de
Viena e a subjetividade que emergia, logo passaram a ser generalizadas a todas as
famílias (DELEUZE; GUATARRI, 2004).
O discurso da família burguesa associado ao Édipo psicanalítico enraizaram-
se no imaginário social forjando um modelo ideal de família: alicerçado numa
relação patriarcal, monogâmica, previsto numa união em amor e estabilidade entre
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seus elementos: pai, mãe e filho (os). Isto é, consolida-se a crença de uma família
padrão, calcada na harmonia e na ordem (SZYMANSKI, 2005).
Além disso, importantes transformações durante o século XX provocaram
diversos efeitos na família, principalmente nas últimas décadas. A hegemonia do
modelo burguês de família certamente dura até os dias atuais, contudo, a partir de
meados da década de 60, uma série de transformações sociais, políticas e
científicas (movimentos feministas, política neoliberal e a invenção dos
anticoncepcionais, por exemplo), possibilitaram diversas modificações no modelo
tradicional de família.
Dentre as novas configurações se destacam:
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Figura 1 - Adesivos de carro
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Figura 2 - Modelo Ecológico de Bronfenbrenner
Fonte: http://www.sxc.hu/
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de uma posição opaca e periférica para uma posição central no entendimento de
cuidado da sociedade e, consequentemente, na atenção à saúde mental.
Exercício 1
Uma grave limitação para compreensão das famílias será pensá-las longe de
suas lutas e contradições, correndo-se então o risco de omitir as relações de poder
e de força, implícitas a toda e qualquer relação.
Para ampliar nosso entendimento sobre o relacionamento familiar com o
portador de doença mental e com as políticas públicas, analisemos o entendimento
de poder em Foucault (1979).
Para este autor, o poder não existe, o que existe são relações de poder, e
parte dos seguintes pressupostos: a) não existe poder pelo fato de que o poder não
é algo que se possua em detrimento de um outro que não “teria” poder; b) o poder
é capilar, isto é, só existe em rede entre outras relações de poder; c) não existe
nem antes nem depois do ato, visto que aplica-se a pessoas livres2; e d) ao invés
de um poder repressor, ele defende que antes de tudo, o poder é produtivo
(FOUCAULT, 1979).
2Uma condição intrínseca do poder é que só ocorre entre sujeitos livres. Portanto, toda relação de
poder, inevitavelmente produz focos de resistência. Quando não há liberdade o que há são relações
de violência (FOUCAULT, 1979).
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Entendendo as relações de poder também como sinônimo de relações
políticas, dentre os efeitos da centralização da família está a despolitização de suas
outras muitas conexões com o mundo que lhe cerca.
Neste sentido, as políticas públicas de saúde mental seriam vistas apenas
como paliativas, já que a principal responsável seria a própria família: “A nossa
sociedade ocidental investiu e idealizou intensamente o núcleo familiar. Já que a
família é tudo, também é responsável por tudo. Se tudo remete à família, tudo é
culpa da família”. (MELMAN, 2006, p. 38).
É necessário, portanto, avançarmos para além de concepções individualistas
para noções mais ampliadas sobre o campo da família. Porém, não parece ser
tarefa fácil transpor um modelo de família como núcleo primário, visto que na
própria Constituição Federal de 1988 há uma evidência muito forte deste
pensamento, no Art. 227:
O mundo não começa nos pais, afirmam Deleuze e Guatarri (2004), visto que
estes também fazem parte de outros inúmeros processos. Segundo estes autores, a
família deve ser concebida como uma agência, como uma dentre tantas outras
formas de conexão com a existência (DELEUZE; GUATARRI, 2004).
Um modo para compreender os efeitos múltiplos e contraditórios na qual a
família se encontra está em partir de uma perspectiva “arborescente” para uma
perspectiva “rizomática”.
Na perspectiva tradicional e, portanto, a mais comum, há o modelo
arborescente, se baseando na metáfora das árvores. Tendo como pressuposto uma
origem primordial, a família seria uma semente ou raiz, que ao evoluir constituiria a
grande árvore chamada sociedade. Trata-se de um modelo transcendental que
durante séculos perdura no modo de compreensão no ocidente (DELEUZE;
GUATARRI, 2000). Além disso, dentro de um discurso universal, este seria um
modelo válido para todas as famílias.
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1.4 Família como território de agenciamentos
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Partindo da realidade como sendo composta por linhas, o pensamento
deleuziano pode facilitar este entendimento do território familiar como um território
vivo e em constante transformação, mas que se confunde com um território
homogêneo e pouco variável. O mesmo pode ser afirmado para a doença mental,
pois possibilita sair de um sentido estático, para um novo campo de possibilidades.
Conforme Romagnoli (2006), o sentido homogêneo que se tem dos objetos –
seja da família ou do diagnóstico de alguma doença mental, por exemplo –, advém
da insistência e da repetição dos elementos heterogêneos que compõem os
processos de subjetivação de cada pessoa. E justamente pelo fato de serem
heterogêneos, isto é, de se originarem de múltiplas fontes, não há como estabelecer
modelos universais, visto que os processos de subjetivação são completamente
variáveis conforme cada pessoa e cada momento sócio-histórico (FOUCAULT,
1979).
Tendo esclarecido melhor este ponto sobre a necessidade de descentralizar
o foco exclusivo sobre a família, fica mais fácil compreendermos a importância da
melhor capacitação de profissionais na área de saúde mental, bem como a melhoria
das políticas públicas neste campo.
Além de centralizar a família como um núcleo sólido, outro efeito negativo
das concepções arborescentes é a centralização do cuidado na doença, omitindo a
pessoa doente.
Voltando ao estudo das linhas deleuzianas, além das supracitadas linhas
duras e flexíveis, há também, por vezes, a possibilidade da emergirem linhas de
fuga e que dão condições de possibilidade a novos territórios. As linhas de fuga
seriam como as pontas soltas desta longa trama formada pelas linhas duras e pelas
linhas flexíveis, ou seja, trata-se de fissuras capazes de formar novas tramas,
trazendo consigo a possibilidade de imprimir novos sentidos.
A interessante pesquisa de Denise Morel (1990) (apud MELMAN, 2006),
exemplifica bem a construção de novos territórios a partir da doença mental. Sua
hipótese parte de que as terapias tradicionais, mediante os sintomas, tendem a
focar exclusivamente no aspecto doentio das pessoas. Contudo, estudando grupos
parentais, alguns de pessoas reconhecidas mundialmente como Camille Claudel4,
chegou à conclusão de que o que difere uma família criadora de uma não criadora,
4Camile Claudel (1864-1943) foi uma fabulosa escultora e reconhecida como a maior discípula de
Rodin, sendo-lhe inclusive atribuída autoria de várias obras deste. Confira em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Camille_Claudel>. Acesso em: 13 set. 2018.
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seja ela portadora de alguma doença mental ou não, refere-se, sobretudo à
possibilidade de explorar territórios incomuns (MOREL, 1990 apud MELMAN, 2006).
No Brasil, um caso exemplar é o de Arthur Bispo do Rosário, diagnosticado
com Esquizofrenia paranoide, considerado atualmente um dos maiores gênios das
artes plásticas brasileiras, utilizando como matéria-prima o lixo do hospital
psiquiátrico no qual estava internado.
Fonte: https://goo.gl/ps332C
7O conceito de felicidade utópica é desenvolvido pela filósofa Viviane Mosé a partir de sua leitura de
Nietzsche: https://www.youtube.com/watch?v=wszgKT2zS-c.
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De um modo geral, a atividade do cuidado é caracterizada tanto por questões
de cunho material quanto afetivas. A dimensão material diz respeito aos cuidados
tangíveis, ou seja, são os apoios instrumentais oferecidos: financeiros ou atitudinais
como levar e buscar a pessoa, acompanhar ao médico, etc. Já a dimensão afetiva
condiz com as relações socioafetivas que são estabelecidas pelo vínculo entre os
membros (PEIXOTO, 2005).
Por se tratar de um evento não esperado, o adoecimento mental de um
familiar demanda um reposicionamento de todos os demais membros, terminando
quase sempre com a eleição de um cuidador.
O cuidador pode ser entendido como a pessoa com ou sem vínculos
familiares que, remunerada ou não, é capaz de fornecer ajuda às necessidades e
afazeres cotidianos – podendo ir desde a administração financeira até a higiene
pessoal (BRASIL, 2012).
Conforme o Guia Prático do Cuidador (2008):
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Perceba que até aqui, em nenhum momento foi dito o “papel do cuidador”, e
isto merece um maior esclarecimento. Podendo ser uma atividade temporária ou
por toda a vida. Quando digo o “papel do cuidador” realço um aspecto estático e
natural desta atividade, ao mesmo tempo em que nego que tal função está imersa
em relações de poder e de resistências. Em certos casos, os portadores de doença
mental abandonados nas instituições, mais do que negar o papel dos cuidadores,
podem revelar dificuldades econômicas, emocionais ou sociais pelas quais as
famílias estão passando.
O termo posicionamento procura então substituir algumas limitações
referentes ao uso da noção de papel social (SPINK, 2004). Há duas formas básicas
de posicionamento: “o posicionamento interativo, onde o que uma pessoa diz
posiciona o outro; e pode haver posicionamento reflexivo, no qual nos
autoposicionamos”. (SPINK, 2004, p. 51).
Se afirmamos antes que a família se constitui em constante transformação,
também a noção de cuidador precisa acompanhar este entendimento.
Visto que as interações cotidianas são absolutamente fluidas, a posição de
cuidador garante maiores possibilidades a estas pessoas, e consequentemente,
uma melhor qualidade de vida: hoje posso estar posicionado como o cuidador
principal, amanhã pode ser outro.
De certa forma, entender o cuidador como alguém posicionado nesta função,
abarca a capacidade dinâmica e transformadora que os sujeitos possuem, além de
facilitar a compreender as paradoxais e contraditórias situações cotidianas. (SPINK,
2004). Ou seja, se compreendermos o cuidador como produto de suas interações
sociais, não há como os enxergarmos com um papel fixo, pronto e acabado.
Fonte: http://www.sxc.hu/
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Todas estas precauções tomadas aqui em relação aos conceitos utilizados
não dizem respeito apenas a uma melhor forma de se expressar, a um modo
“politicamente correto”. Antes, a atenção ao se referir à família, àquele que cuida e
ao portador de doença mental, deve-se ao fato de que a linguagem é matriz da
produção de novos sentidos (SPINK, 2004). E é justamente a linguagem que
usamos sobre a família e o cuidado ao portador de doença mental que possibilitam
ou não a produção de novos sentidos.
Seja no meio acadêmico ou mesmo em conversas do cotidiano, ao produzir
sentidos mediante a linguagem, não nos encontramos neutros, mas estamos
posicionando as pessoas, podendo inclusive nos encontrar reforçando posições de
exploração ou submissão.
Também o modo de cuidar não pode ser generalizado. Embora já existam
guias e cartilhas procurando auxiliar a vida dos cuidadores – cada vez mais útil e
necessário –, cada sujeito constrói sentidos únicos nas relações que o cercam,
tanto para quem cuida, quanto para quem é cuidado.
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1.6 Cuidadoras: desvalorizadas, mas sobrecarregadas
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Figura 7 - Relações de gênero
Exercício 2
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UNIDADE 2 - ESTRATÉGIA DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA E
O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
“O poder, na verdade,
não se exerce sem que custe alguma coisa”.
Michel Foucault
8 Paralelo aos textos atuais, utiliza-se aqui o conceito de Atenção Básica e de Atenção Primária
como equivalentes.
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Tendo início como um programa governamental em 1994, o ESF ancora-se
no princípio de universalidade do SUS, isto é, busca colocar em prática a cobertura,
o atendimento e o acesso universal ao Sistema Único de Saúde, garantidos pela
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2005b).
Fonte: http://migre.me/dXYyd
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identificar os principais problemas de saúde e as situações de risco
existentes;
elaborar planos e programações de enfrentamento a estes;
desenvolver ações educativas relacionadas aos problemas de saúde;
prestar assistência às famílias de sua responsabilidade por meio da
atenção básica (BRASIL, 2005b).
A seguir, veremos em detalhes como estes objetivos são executados.
Fonte: http://www.sxc.hu/
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concentração, queixas somáticas sem especificação, insônia, irritabilidade e
esquecimento (MARAGNO et al, 2006).
Estudos sobre saúde mental têm constatado que a prevalência dos TMC
encontra grande associação em variáveis sociodemográficas (MARAGNO et al,
2006). De um modo geral, quanto maiores as dificuldades econômicas e sociais,
maiores as probabilidades do desenvolvimento dos TMC.
Tais análises vão ao encontro dos resultados da Pesquisa sobre os
Determinantes Sociais da Saúde (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007) que dentre
outras questões, aponta que o processo saúde-doença se encontra associada não
apenas à pobreza, mas à produção de situações evitáveis ocasionadas pela
injustiça social.
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Neste sentido, cabe aos profissionais da área de saúde mental o
desenvolvimento de uma excelente capacidade diagnóstica. Para Baptista (2009, p.
62), duas perguntas devem nortear o processo de avaliação das famílias: “‘o que
realmente deve-se avaliar?’ e ‘Como avaliar?’”.
Lembrando que para maior eficácia, orienta-se conciliar o uso de entrevistas,
métodos observacionais, com ao menos dois instrumentos na avaliação, visto que
os instrumentos são apenas um complemento ao diagnóstico.
Além dos TMC que podem acometer pessoas de qualquer faixa etária, dois
elementos do grupo familiar merecem atenção especial na identificação da saúde
mental: crianças e adolescentes e a população idosa.
Embora boa parte do atendimento em saúde mental no ESF constitua-se de
população adulta, outro grave problema na identificação dos transtornos mentais se
refere às crianças e adolescentes, visto que em certos casos a identificação
precoce do transtorno pode minimizar a evolução da doença.
Tradicionalmente no Brasil, a saúde mental de crianças e adolescentes foi
relegada a instituições filantrópicas e privadas, sendo que a criação de uma política
de saúde mental específica para esta população data somente de 2005 (BRASIL,
2005; FRIAS; MULLACHERY; GIUGLIANI, 2009).
Conforme Brasil (2005), estima-se que até 20% da população de crianças e
adolescentes possuam transtornos mentais, dos quais até 4% necessitam de
tratamento intensivo. Autismo, deficiência mental, transtornos de ansiedade e
psicose infantil estão entre os principais transtornos, mas observa-se também entre
adolescentes um crescente aumento do abuso de substâncias psicoativas e de
suicídio (BRASIL, 2005).
Situações graves como violência doméstica, abuso sexual, maus tratos,
abandono, perda, rompimento ou ausência de vínculos familiares próximos e outras
situações críticas devem igualmente ser objeto de identificação da equipe do ESF
(ESPIRITO SANTO, 2008).
Percepções de sinais de sofrimento psíquico e a escuta clínica estão entre as
principais ferramentas na identificação do nível de saúde mental desta clientela. A
anamnese detalhada junto ao histórico familiar e social, assim como o
acompanhamento pela Unidade de Saúde (US) e o possível encaminhamento a
serviços especializados constituem os procedimentos subsequentes (ESPIRITO
SANTO, 2008).
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Outro cuidado especial na identificação da saúde mental da família diz
respeito à pessoa idosa. O aumento desta população nas últimas décadas traz
novos desafios às políticas públicas. Abaixo o fluxo de atendimento na saúde
mental do idoso:
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A perda do seu papel na família e na sociedade em função do
reordenamento familiar (casamento de filhos, mudanças de casa),
aposentadoria, incapacidade física, etc., perda de suas relações
sociais por falecimento de seus conhecidos coetâneos, sentimento
de solidão e dificuldade de comunicação decorrente do que foi
anotado anteriormente; dificuldade de construção de novas
relações; sentimento de rejeição, etc.; sentimento de fracasso,
consciência de ser explorado e desconsiderado (ESPIRITO SANTO,
2008, p. 94).
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tratos e abuso sexual; Crise de ansiedade; Transtornos depressivos
leve e moderado (ESPIRITO SANTO, 2008, p. 44).9
9Para maiores esclarecimentos sobre definições: Diretrizes da Saúde Mental (ESPÍRITO SANTO,
2008).
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É importante, por exemplo, que as equipes discutam e definam
(mesmo que provisoriamente) o modo como os diferentes
profissionais participarão do acolhimento. Quem vai receber o
usuário que chega; como avaliar o risco e a vulnerabilidade desse
usuário; o que fazer de imediato; quando encaminhar/agendar uma
consulta médica; como organizar a agenda dos profissionais; que
outras ofertas de cuidado (além da consulta) podem ser
necessárias, etc. (BRASIL, 2011, p. 22).
10 De início a composição do ESF era constituída por um médico(a), um(a) enfermeir(o)a, um(a)
auxiliar de enfermagem e até seis agentes comunitários de saúde. A partir de 2000, foram
incorporados também um(a) odontólogo(a) e um(a) atendente de consultório dentário (BRASIL,
2008b).
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Pautado no modelo do Apoio Matricial, mais do que uma nova forma de
encaminhamento, o NASF visa ampliar a resolubilidade dos serviços prestados.
Portanto, não se trata de um serviço de entrada dos usuários, mas um apoio às
equipes de saúde da família.
Existem duas modalidades do NASF que variam conforme a demanda
populacional atendida. O NASF I visa atender no mínimo oito e no máximo vinte
equipes de saúde da família e pode ser composta de no mínimo cinco profissionais
da saúde de áreas distintas, podendo ser:
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mais variadas questões sociais em problemas puramente médicos. Obsessão no
controle de “riscos”, massivas recomendações a “estilos” de vida saudáveis,
utilização excessiva de exames e diagnósticos duvidosos, abuso na prescrição de
medicamentos assim como a automedicação, são alguns dos efeitos do
reducionismo medicalizante que visa favorecer indústrias farmacêuticas,
corporações profissionais e empresas biotecnológicas (CAMARGO Jr., 2005).
Fonte: http://www.sxc.hu/
11 O higienismo é uma doutrina que nasce com o liberalismo, na primeira metade do século
XIX quando os governantes começam a dar maior atenção à saúde dos habitantes das cidades.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Higienismo>. Acesso em: 14 set. 2018.
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Neste modelo, a educação em saúde atua de modo preventivo, visando
substituir e prescrever regras de condutas individuais, considerada principal
etiologia das doenças (NUNES, 2006). Ignorando totalmente fatores sociais e
políticos, este modelo de educação em saúde consiste basicamente na
retransmissão de orientações que visam substituir comportamentos nocivos por
comportamentos saudáveis (ROECKER; MARCON, 2011; NUNES; 2006).
Visando preencher as lacunas da perspectiva preventivista, uma ação
educativa no campo da saúde mental bastante disseminada foi o modelo
psicoeducativo. Conforme Melman (2006), este modelo propõe as seguintes
intervenções familiares: fornecer informações em linguagem acessível sobre o
transtorno mental como possibilidades de recaída e a importância da medicação;
melhorar a qualidade da comunicação entre familiares, assim como clarificar
desejos e necessidades e; reconhecer sinais e sintomas que antecipam as
recaídas, intervir em situações de crise assim como resistência ao tratamento
(MELMAN, 2006, p. 76).
Para ampliar as ações educativas e contornar as perspectivas
medicalizantes, o ideal é que a equipe do ESF possua um amplo leque de ofertas
de cuidado: grupos variados, oficinas, práticas corporais e de autocuidado,
atividades lúdicas, educativas e laborais, etc. (BRASIL, 2011).
Das diversas possibilidades de atuação, Melman (2006), exemplifica o
trabalho com oficinas, afirmando inclusive que os usuários aderem mais fácil do que
o trabalho “terapêutico” em si. Segundo o autor, na postura clínica ou mesmo em
grupos terapêuticos, espera-se que as pessoas relatem problemas e suas aflições,
contudo, familiares e usuários podem evitar encontros desta natureza, visto que
muitas vezes não desejam reviver seu sofrimento. Nesses casos, a clínica acaba se
associando a um espaço do adoecimento.
As oficinas, que podem ir do artesanato a até mesmo a dança acabam se
tornando uma importante ferramenta educativa em saúde, pois exercitam a
liberdade, trabalhar de um modo solto e descontraído diversas questões como
autonomia e autoestima, por exemplo.
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Fonte: Elaboração própria.
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Exercício 3
Medicalização significa:
a) Automedicação, isto é, o uso de remédios sem receita médica.
b) Medicina focada apenas na prevenção.
c) Termo utilizado para definir as ações médicas.
d) Discursos reducionistas que transformam a saúde e questões sociais em
problemas puramente médicos.
Até meados do século XX, de um modo geral, a saúde mental era apenas
tomada num sentido negativo como anormalidade e desrazão, ainda dentro de um
discurso de saúde como ausência de doenças.
A obra “Princípios de Psiquiatria Preventiva” de Gerald Caplan, lançada nos
EUA em 1964, constitui-se numa referência ao trazer novos pressupostos nas
práticas psiquiátricas, passando a enfocar a prevenção da saúde mental das
coletividades realizada por equipes comunitárias (PENIDO, 2007).
Por outro lado, a doença mental passa a ser vista como um desvio que pode
ser detectado precocemente via intervenção em ambientes possivelmente
patogênicos: as famílias. Ou seja, um dos efeitos negativos destas práticas foi
contribuir aos discursos que culpabilizam exclusivamente os familiares pela doença.
De qualquer forma, muitas das atuais práticas dos profissionais de saúde
como o atendimento domiciliar e o controle da saúde da população, provêm, isto é,
têm influências dos enunciados de Caplan (PENIDO, 2007).
As críticas formais ao modelo de saúde como ausência de doenças se
consolidaram somente em 1977, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS)
definiu: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
apenas a ausência de doenças” (BRASIL, 1977).
Concomitantemente, o modelo biopsicossocial emerge em 1977 com George
Engel, considerado o primeiro teórico a sistematizá-lo. Ao inserir o aspecto
“psíquico” e “social” no campo da saúde, ampliou suas possibilidades (DE MARCO;
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CÍTERO; MARTINS, 2007). Dentre outros efeitos, tanto o conceito da OMS quanto
o modelo biopsicossocial constituíram importantes contribuições ao campo
epistemológico das políticas de saúde mental.
A perspectiva psicossocial se consolidou nas políticas públicas brasileiras no
ano de 1987, com o surgimento do primeiro Centro de Atenção Psicossocial em São
Paulo (PORTAL DA SAÚDE, 2013). O avanço da Reforma Psiquiátrica fez possível
que os CAPS se transformassem em uma estratégia de substituição definitiva ao
modelo hospitalocêntrico.
Entendido como os ordenadores da rede de saúde mental, os CAPS
constituem-se como referência e tratamento aos portadores de transtornos mentais
e outros casos que justifiquem cuidados intensivos, bem como aos seus familiares
(PORTAL DA SAÚDE, 2013).
Pautando-se numa perspectiva comunitária e aberta, a equipe dos CAPS é
responsável por realizar atendimento, acompanhamento e reinserção social dos
usuários da saúde mental.
Consoante aos princípios da atenção básica e as diretrizes do ESF, as
funções do CAPS incluem:
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como CAPS I, CAPS II, CAPS III, álcool e drogas (CAPS ad) e infanto-juvenil
(CAPSi).
12Para informações sobre o Serviço Residencial Terapêutico, o Programa De Volta Para Casa e
demais iniciativas confira: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/mentaldados10.pdf
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Contudo, mesmo com diversos avanços nas políticas de saúde mental, várias
limitações precisam ser vencidas ainda.
No campo teórico houve o desenvolvimento e a consolidação da perspectiva
biopsicossocial trazendo novas possibilidades
às práticas de saúde mental. Contudo, ao
mesmo tempo que emerge como condição de
novas possibilidades a este campo,
possibilitou forjar discursos que ao invés de
ampliar, fragmentam o sujeito, agora em
corpo-mente-ambiente. Nas práticas iniciais,
os médicos ficaram com o “bio”, psicólogos e
psiquiatras com o “psi” e os assistentes
sociais com o “social” (SPINK, 2007).
Fonte: elaboração própria
Não apenas no campo da saúde mental, mas em várias áreas da saúde, o
modelo biopsicossocial ainda se encontra dentro de um discurso medicalizante, que
ao invés de integrar, passou a hierarquizar e delimitar as fronteiras profissionais de
atuação (SPINK, 2007).
Mesmo de início emergindo como uma crítica aos modelos da época, a
inserção dos aspectos psicológicos e sociológicos, antes mesmo de trazerem uma
maior integração de fatores conforme se propunha, o discurso biopsicossocial se
essencializou como a “unidade” de trabalho no campo da saúde (PENIDO, 2007;
SPINK, 2007).
A revisão de literatura empreendida por Souza et al (2012), detectou alguns
obstáculos na efetividade dos CAPs. De acordo com estes autores, o pequeno
número de profissionais, a falta de integração entre estes, a baixa remuneração e a
falta de capacitação, tornam a estratégia do apoio matricial pouco efetiva. Camuri e
Dimenstein (2010), corroboram igualmente com estas constatações afirmando que
a proposta de interlocução entre os profissionais mediante o matriciamento se
encontra num estado precário.
É possível encontrar serviços fragmentados e dispersos na relação entre a
atenção básica e os CAPS, além disso, a posição deste último no SUS não está
ainda bem definida (SOUZA et al, 2012).
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Ultrapassar os discursos medicalizantes e fragmentados, assim como investir
na capacitação dos profissionais e na integração entre os setores constituem alguns
dos obstáculos impostos às políticas de saúde mental.
Neste sentido, o grande desafio ao ESF e aos profissionais da saúde está em
transformar o cuidado em saúde mental não um fardo, mas entender que cada
pessoa assim como cada familiar atendido constitui uma forma de subjetivação
singular (CAMURI; DIMENSTEIN, 2010).
Exercício 4
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UNIDADE 3 - A SAÚDE MENTAL EM DIFERENTES CONTEXTOS
(ESCOLA, TRABALHO, COMUNIDADE)
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Figura 10 – Promoção da saúde
13Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenia>. Acesso em: 14 set. 2018.
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XX, a busca pelos “desvios” de normalidade tornou-se um mercado fértil para
especialistas como psiquiatras e psicólogos (SCHECHTMAN, 2005).
Movimentos como o da Reforma Psiquiátrica a partir dos anos 70,
denunciaram o quão ineficaz e cruel podem ser as práticas higienistas, limitando
boa parte de suas ações. Contudo, Schechtman (2005), alerta que, sob novas
roupagens, diagnósticos como “problemas de aprendizagem” ou “hiperatividade”
constituem ainda hoje, tentativas de culpabilizar e capturar sujeitos ditos
“desviantes”.
Outro capítulo da saúde mental e da infância, diz respeito a sua relação com
a filantropia. Historicamente no Brasil, na ausência de políticas públicas, instituições
filantrópicas, em especial as APAEs e as Pestalozzis, durante muitos anos foram as
principais instituições no cuidado à saúde mental infanto-juvenil (BRASIL, 2005).
Donzelot (1986), afirma que a filantropia emerge na sociedade ocidental
justamente para sanar o grande paradoxo capitalista: o livre mercado e a liberdade
individual coexistindo com a extrema pobreza e a desigualdade social. Neste
sentido, até pouco antes da Reforma Psiquiátrica na década de 70, eram as
entidades filantrópicas que respondiam de modo quase exclusivo pela saúde mental
de crianças e adolescentes brasileiros (FRIAS; MULLACHERY; GIUGLIANI, 2009).
Em 1986, a Carta de Ottawa constituiu-se numa nova estratégia de borrar as
fronteiras entre saúde e educação, trazendo inclusive novas possibilidades para a
área da saúde mental. O território da educação passou assim, a constituir-se num
dos pré-requisitos para que os países sejam capazes de promover saúde (WHO,
1986).
A VIII Conferência Nacional de Saúde (BRASIL, 1990) também trouxe novas
possibilidades ao campo da saúde mental ao incluir a educação como um de seus
vetores. Passa-se a compreender saúde como o resultado das condições de
“alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de
saúde” (BRASIL, 1990).
Mesmo a Carta de Ottawa e a VIII Conferência Nacional de Saúde apontando
para a necessidade de ampliar a sinergia entre saúde mental e contexto escolar,
será fundamental para a construção destes laços não apenas legislações, mas a
transformação dos discursos cotidianos.
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Para tanto, é preciso que, assim como mencionado sobre a família no
primeiro capítulo, a escola seja concebida para além de instituição de ensino alheia
às discussões políticas da sociedade, para além de um setor estanque das
necessidades de sua comunidade, mas que passe a ser considerada como território
de agenciamento, como território de promoção da saúde.
Alguns princípios de práticas de promoção da saúde nas escolas são
apontados por Gonçalves et al (2008, p. 183):
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responsável pelo afastamento do trabalho dos professores (ANDRADE; CARDOSO,
2012).
Na revisão de literatura realizada por Andrade e Cardoso (2012), constatou-
se que, dos estudos realizados sobre a Síndrome de Burnout entre professores, há
um forte predomínio de pesquisas descritivas, com poucas ou quase nenhuma
apontando intervenções ou programas de enfrentamento, o qual revela a carência
da promoção da saúde desses profissionais.
Não é difícil perceber que a realidade escolar ainda se encontra muito
distante de efetivas intervenções no sentido da promoção da saúde, tanto na
perspectiva dos professores quanto dos alunos.
Exercício 5
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inferior a ¼ do salário mínimo per capita (por pessoa), possuem o direito de receber
até um salário mínimo, chamado de “Benefício de Prestação Continuada” – BPC
(BRASIL, 2008).
Previsto pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e integrando o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), trata-se de um direito garantido por lei
e pago pelo governo federal como forma de auxílio.
Dentre as pessoas que podem receber o BPC constam:
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Com o nascimento da Psiquiatria no século XIX, o trabalho emerge para as
pessoas confinadas com o chamado tratamento moral, objetivando disciplinar os
devaneios e controlar os comportamentos, sem qualquer conotação subjetiva ou
material (FOUCAULT, 1972).
Não por acaso, o trabalho como um direito de cidadania aparece somente
com a emergência da Reforma Psiquiátrica. Um dos eixos norteadores dos CAPS
está na inserção social que, além da cidadania, do lazer e do fortalecimento dos
laços familiares, possibilitou a inclusão social pelo trabalho tendo em vista tanto a
reabilitação quanto a autonomia dos sujeitos.
Neste sentido, junto à Reforma psiquiátrica, emerge a economia solidária14
como uma das estratégias de inclusão social. Segundo Paul Singer:
14 O site Saúde Mental - Rede Nacional de Empreendimentos contém inúmeros links para
experiências de geração de renda: http://www.cooperativismopopular.ufrj.br/saudemental/index.php
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Como se percebe, ao invés de centralizar a família unicamente pelo suporte
social aos usuários, esta pode e deve constituir-se como agência de interconexão
entre o usuário e o mundo do trabalho.
Além disso, conforme salientado sobre a Síndrome de Burnout, o tipo de
trabalho ao qual a pessoa se encontra submetida pode ser um elemento
extremamente nocivo à sua saúde mental.
É neste sentido que o trabalho se constitui tanto como um dispositivo da
saúde mental quanto estratégia de promoção da saúde.
Exercício 6
Paul Singer (BRASIL, 2006b), afirma que a luta contra a exclusão social e
econômica é a matriz da economia solidária e do Movimento anti-
manicomial. Por quê?
I. A matriz comum de ambos são as situações de extrema pobreza, pois
constituem fortes indícios para os Transtornos Mentais Comuns.
II. O movimento da economia solidária e o Movimento antimanicomial são o
mesmo.
III. A matriz comum de ambos é uma sociedade que fabrica pobres e loucos
de modo casual e inconsciente.
a) Apenas o enunciado I está correto.
b) Apenas o enunciado II está correto.
c) Apenas o enunciado III está correto.
d) Nenhum enunciado está correto.
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A Portaria nº 1886/GM, de 18 de dezembro de 1997, que aprova as normas e
diretrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do ESF possui as
seguintes adequações destes às práticas em saúde mental na comunidade:
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como processo facilitador da restauração do indivíduo com limitações, no melhor
nível possível, da autonomia e do exercício de suas funções na comunidade.
Mas acontecem também casos de pessoas com graves transtornos mentais
que devido ao asilamento perderam totalmente seus vínculos familiares e sociais.
Uma estratégia na desinstitucionalização e reabilitação e inserção social destas
pessoas com longo histórico de internação é o Serviço Residencial Terapêutico
(SRT).
Os SRTs são casas vinculadas aos CAPS ou algum serviço ambulatorial,
dentro do espaço urbano, construídas para atender esta clientela (BRASIL, 2012).
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Exercício 7
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REFERÊNCIAS
______. Ministério da Saúde. Saúde Mental em Dados - 10, ano VII, nº 10.
Informativo eletrônico. Brasília: março de 2012. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/mentaldados10.pdf> Acesso em: 05
mar. 2013.
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CARVALHO, S.R.; CUNHA, C.T. A gestão da atenção na saúde: Elementos para se
pensar a mudança da organização na saúde. In: CAMPOS, G.W.S. et al.
(Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec, 2006.
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MELMAN, J. Família e doença mental: repensando a relação entre profissionais de
saúde e familiares. São Paulo: Editora Ensaios Transversais, 2006.
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ROMAGNOLI, R. C. Famílias na Rede de Saúde Mental: um breve estudo
esquizoanalítico. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 2, p. 305-314, mai./ago.
2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n2/v11n2a08.pdf>. Acesso
em: 14 set. 2018.
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