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Uma vez que a depressão na adolescência é uma perturba- lidades psicométricas demonstradas pelo BDI-II na amos-
ção relativamente frequente podendo provocar grave inca- tra em estudo e validam a sua utilização como instrumento
pacidade no desempenho individual, familiar, escolar e de avaliação da sintomatologia depressiva em amostras
social, a sua avaliação é crucial. O objectivo da presente não-clínicas de adolescentes.
investigação foi o de avaliar a presença e severidade de
sintomatologia depressiva e as qualidades psicómetricas da Palavras-chave: adolescentes; Inventário de depressão de
segunda versão do Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) Beck; depressão; prevalência.
numa população não-clínica de adolescentes com idades
compreendidas entre os 13 e os 16 anos. Neste artigo, são
dados a conhecer os principais resultados obtidos a partir 1. Introducão
da auto-administração da versão portuguesa do BDI-II a
340 adolescentes, no ano lectivo 2006/2007, na região do Um grande número de trabalhos de investigação tem
Porto. A percentagem de estudantes com depressão estudado a sintomatologia depressiva na adolescên-
«mínima» ou «ligeira» foi comparada com os que experi- cia. Hoje é aceite que os sintomas depressivos nesta
mentaram depressão «moderada» a «severa». A média
fase do ciclo de vida não são apenas aspectos transi-
total de pontuações do BDI-II alcançados mostraram que
tórios do normal desenvolvimento do adolescente.
as raparigas pontuaram 3 pontos mais do que os rapazes e
De facto, os sintomas depressivos na adolescência
foram estatisticamente significativas (p < 0,002). A consis-
tência interna do BDI-II, nesta amostra, foi de 0,89 (Alpha
são correlacionados com baixos níveis de auto-
de Cronbach). Estes resultados suportam as excelentes qua-
-estima e de aptidão social (Devine et al., 1994), uma
maior propensão para a delinquência e consumo de
drogas e de álcool (Piacentini e Pataki, 1993) e sui-
cídio (Lewinsohn, 1991). Os adolescentes com
depressão possuem uma elevada probabilidade de
apresentar um estado depressivo na vida adulta
Fernando Oliveira-Brochado é doutorando em Saúde Mental, Ins- (Harrington et al., 1996). Dadas as consequências
tituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universi- potenciais da depressão na fase da adolescência
dade do Porto. revela-se importante o seu estudo neste grupo etário.
Ana Oliveira-Brochado é assistente, CESUR, DECivil — Instituto Estudos de prevalência da perturbação depressiva
Superior Técnico (IST), Universidade Técnica de Lisboa.
nos adolescentes são essenciais para os profissionais
Submetido à apreciação: 20 de Fevereiro de 2008 que actuam nesta área, pois para além de fornecerem
Aceite para publicação: 15 de Maio de 2008 dados importantes em relação à proporção de adoles-
centes que experimentam sintomatologia depressiva escola pública e de um colégio privado da região do
durante esta fase do ciclo de vida reflectem o «estado Grande Porto e os participantes apresentavam idades
actual» da saúde mental dos jovens. Este tipo de estu- compreendidas entre os 13 e os 16 anos; 138 (40%)
dos facilita a compreensão longitudinal da adolescên- tinham 13 anos, 121 (36%) tinham 14 anos, 51
cia, e permite comparações com outros grupos etá- (15%) tinham 15 anos e 30 (9%) tinham 16 anos.
rios. Adicionalmente, a informação desempenha um A média (M) total de idades foi de 13,92 anos
papel fundamental na determinação dos serviços de (DP = 0,95).
saúde mental que poderão ser colocados à disposição Dos 340 adolescentes que participaram neste estudo,
dos adolescentes perturbados. 179 (52,6%) frequentavam o ensino público e 161
O presente trabalho teve como objectivo: (i) estimar (47,4%) frequentavam o ensino privado, distribuídos
a prevalência da sintomatologia depressiva numa pelos 7. o (9%), 8.o (54%) e 9.o (37%) anos de escola-
amostra de adolescentes dos 13 aos 16 anos e aferir ridade.
as (ii) propriedades psicométricas da BDI na identi- A média do peso dos alunos foi de 56,08 kg
ficação dos sintomas depressivos em adolescentes. (DP = 10,67 kg) e a altura média foi de 1,65 m
(DP = 0,09 m). Os alunos do sexo masculino pesam
mais e são mais altos que os do sexo feminino
2. Métodos (p < 0,003 e p < 0,001, respectivamente).
tologia depressiva; valores superiores a 13, com sin- das diferenças. Foi ainda utilizada a análise factorial
tomatologia depressiva, o que coincide com o ponto para uma avaliação do número de factores presente
de corte de «13» referido por Beck et al. (1996), na nos dados.
avaliação das suas amostras com o BDI-II. Utilizou-se como suporte informático de análise de
dados o Statistical Package for the Social Sciences,
versão 14.0 para Windows (SPSS). O nível de signi-
2.4. Procedimento estatístico ficância considerado foi p < 0,05.
Quadro I
Estudos de prevalência da depressão em populações não-clínicas adolescentis
Kaplan et al. (1980) Dos 14 aos 18 anos 1180 BDI Média total = 6,23; 6% pontuaram acima de
16 no BDI.
Teri (1982) Dos 14 aos 17 anos 1568 BDI Média total = 8,47; 32% com sintomatolo-
gia depressiva de moderada a severa;
género não significativo.
Baron e Perron (1986) Dos 13 aos 17 anos 1291 BDI Média total = 10,30; a pontuação das rapari-
gas foi significativamente maior.
Ehrenberg et al. (1990) Dos 13 aos 19 anos 1366 BDI Média total = 8,45; 20,5% com sintomatolo-
gia depressiva média; 10,9% pontuaram
17 ou mais.
Connelly et al. (1993) Dos 13 aos 19 anos 2698 BDI Média total = 8,29; 14% com sintomatolo-
gia depressiva de moderada a severa; as
raparigas pontuaram significativamente
mais que os rapazes (9,58 vs. 6,93).
Baron e Campbell (1993) Dos 14 aos 16 anos 1153 BDI Média total = 9,39; 10,66 para as raparigas e
7,16 para os rapazes (p < 0,001).
Beck et al. (1996) Média de idades: 19,58 1120 BDI-II Média total = 12,55; 21% com sintomatolo-
(DP = 1,84) gia depressiva de moderada a severa.
Steer e Clark (1997) Média de idades: 18,76 1160 BDI-II Média total = 11,86; 15% com sintomatolo-
(DP = 2,04) gia depressiva de moderada a severa.
Steer et al. (1998) Dos 12 aos 18 anos 1210 BDI-II Média total = 18,23; 20,63 para as raparigas
e 15,83 para os rapazes.
Krefetz et al. (2002) Dos 12 aos 17 anos 1100 BDI-II Média = 24,70.
Coelho et al. (2002) Dos 15 aos 19 anos 1775 BDI-II Média total = 10,31; 11,48 para as raparigas
e 8,45 para os rapazes (p < 0,001).
Osman et al. (2004) Dos 13 a 17 anos 1408 BDI-II Média total = 17,75; 20,49 para as raparigas
e 15,02 para os rapazes (p < 0,001)
Osman et al. (2008) Dos 14 aos 18 anos 1414 BDI-II Média total = 12,50
tra, no global, não se apresenta deprimida, segundo o Como se pode verificar no Quadro IV, as raparigas
ponto de corte de «13» referido por Beck e colabo- obtiveram pontuações médias totais (M = 13,43;
radores (1996). DP = 10,92), significativamente superiores às dos
Nos Quadros II e III apresenta-se a distribuição das rapazes (M = 10,00; DP = 8,04), segundo o teste t de
pontuações globais dos jovens, diferencialmente, por Student realizado (t = 3,18; gl = 248; p < 0,002). As
Género e Idade. pontuações médias totais do sexo feminino diferem,
No Quadro II pode-se verificar que 86% dos adoles- em três pontos, das do sexo masculino. Todos os
centes participantes têm depressão mínima ou ligeira resultados posteriores tiveram que ser sistematica-
e 14% dos 340 jovens encontram-se moderada ou mente ajustados para a variável independente, sexo.
severamente deprimidos, o que equivale a 48 sujeitos Pela análise de variância (One-Way ANOVA) efec-
na amostra em estudo. tuada verificou-se que a distribuição da depressão
No Quadro III verifica-se que 11% dos adolescentes pelas várias idades se faz de forma estatisticamente
do sexo masculino (n = 197) e 18% das raparigas significativa, mas apenas no sexo feminino
adolescentes (n = 143) pontuaram nos níveis de [F(3,982) = 3; p < 0,009]. Como as fontes de variân-
depressão moderada a severa. cia dos resultados apresentaram valores significati-
Na Figura 1 apresentamos a distribuição dos adoles- vos, recorremos ao teste Post-Hoc de LSD (Fisher’s
centes que participaram neste estudo, segundo o Least Significant Differences), para uma análise mais
ponto de corte (cut-off point = 13). A percentagem precisa das diferenças. Os resultados são apresenta-
de adolescentes da nossa amostra com sintomatologia dos no Quadro V.
depressiva é de 29% (n = 98), 13% no sexo mas- Para uma melhor visualização e compreensão da dis-
culino e 16% no sexo feminino. tribuição das pontuações médias totais na BDI-II, por
Quadro II
Percentagem de adolescentes por idade; com depressão mínima, ligeira, moderada e
severa
Mínima 75% (103) 65% (79) 73% (37) 77% (23) 71% (242)
Ligeira 14% 1(19) 17% (20) 12% 1(6) 16%1 (5) 15% 1(50)
Moderada 18% 1(12) 17% 1(9) 16% 1(3) 17% 1(2) 18% 1(26)
Severa 13% 11(4) 11% (13) 19% 1(5) 10% 1(0) 16% 1(22)
Total (138) (121) (51) (30) (340)
Quadro III
Frequência e percentagem de adolescentes por género e idade; com depressão mínima,
ligeira, moderada e severa
Sexo masculino
Mínima a ligeira 67 67 24 17 175 (89%)
Moderada a severa 17 10 14 11 122 (11%)
Sexo feminino
Mínima a ligeira 55 32 19 11 117 (82%)
Moderada a severa 19 12 14 11 126 (18%)
Nota: n = 340.
Figura 1
Distribuição da sintomatologia depressiva por sexo, segundo o cut-off point = 13
(n = 340)
160
152
140
120
Frequência
100
80 90
60
Sexo
53
40 45 Feminino
20 Masculino
Sem sintomatologia Com sintomatologia
Depressão
Quadro IV
Médias totais no inventário de depressão de Beck-II: sexo e idade
Nota: n = 340.
Quadro V
Análise de variância (One-Way ANOVA) em função da idade, por sexo
Idade
13 14 15 16 F gl p LSD
Sexo M DP M DP M DP M DP
Feminino 11,14 8,73 17,84 13,32 13,17 11,10 9,92 6,50 3,982 3 0,009 13 < 14; 14 > 16
Masculino 19,50 6,94 10,83 8,40 10,46 10,31 7,78 6,66 0,858 3 0,464 –
Nota: n = 340.
sexo e idade, apresenta-se a figura seguinte (Figura seja, parecem avaliar consistentemente o constructo
2). Verifica-se que as adolescentes pontuam sempre de forma homogénea.
de forma superior em relação aos rapazes em todas as
idades. Observa-se, também, a existência de uma
diferença de 7 pontos entre as pontuações médias Validade factorial do BDI-II
totais das raparigas (17,84) e dos rapazes (10,83), aos
14 anos. Para se estudar a validade de constructo recorreu-se
à análise factorial dos itens. No sentido da identifica-
ção da estrutura factorial subjacente ao inventário,
3.2. Estudo das qualidades psicométricas do procedeu-se, numa primeira fase, ao teste de
Inventário de Depressão de Beck-II esfericidade de Bartlett e à análise da matriz de cor-
relações, através do teste de Kaiser-Meyer-Olkin
As características psicométricas do BDI-II foram lar- (KMO).
gamente investigadas e testadas, ao longo dos anos, O valor do teste de Bartlett para o BDI-II altamente
numa grande variedade de populações clínicas e não significativo (2224,453; p < 0,0001) e o valor de
clínicas de adolescentes (ver Quadro 1). KMO para o inventário de depressão (0,909) revelam
haver uma excelente adequação da amostra para a rea-
lização da análise factorial (Pestana & Gageiro, 1998).
Fidelidade — Consistência Interna A extracção dos factores foi submetida ao critério de
análise do scree plot de variâncias explicadas pelos
Segundo Almeida e Freire «a fidelidade dos resulta- valores próprios de cada variável (Cattell, 1966),
dos numa prova diz-nos algo sobre o grau de con- igual ao procedimento efectuado por Beck e colabo-
fiança ou de exactidão que podemos ter na informa- radores (1996).
ção obtida». Uma das formas de a avaliar é através Uma análise factorial em componentes principais do
da consistência interna ou da homogeneidade dos BDI-II após rotação Promax, aplicando a regra de
itens. Para avaliar a consistência interna do BDI-II, Kaiser (valores próprios iguais ou superiores a um) e
na presente amostra, recorreu-se ao coeficiente alpha sem pré-definição do número de factores, revelou a
de Cronbach. O valor de 0,89 sugere uma boa con- existência de quatro dimensões que explicam, no seu
sistência interna para os 21 itens do inventário, ou conjunto, 50,5% da variância total dos resultados,
Figura 2
Distribuição das médias totais do BDI-II, por sexo e idade (n = 340).
19
17
15
13
11
7
13 14 15 16
Masculino Feminino
para os 21 itens. Os quatro valores próprios maiores Os coeficientes estandardizados de regressão mais
que a unidade de cada factor extraído foi, respectiva- salientes do primeiro factor foram os dos itens
mente, 6,88, 1,40, 1,21, 1,10 e a análise do scree plot «Pessimismo», «Fracassos Passados», «Sentimentos
indica que uma estrutura factorial de duas ou três de Culpa», «Sentimentos de Punição», «Auto-Depre-
componentes poderá ser possível. ciação», «Auto-Criticismo», «Choro», «Indecisão»,
A determinação da estrutura factorial final foi reali- «Sentimentos de Inutilidade». Este factor parece
zada após comparação entre soluções de três e duas representar uma dimensão Cognitivo-Afectiva,
dimensões pré-determinadas, com o objectivo de se como aliás, é descrito por Beck et al. (1996). Os
verificar qual seria a que iria permitir uma melhor itens «Cansaço ou Fadiga» e «Perda de Interesse
interpretação dos dados do inventário. Foi decidido Sexual» parecem não ter significado nesta dimen-
reter a estrutura factorial de três factores pois é a que são, apesar de isolados representarem sintomas
oferece maior coerência ao nível dos itens expli- importantes na expressão da sintomatologia depres-
cando, no global, 45,3% da variância total dos resul- siva.
tados (Factor 1 = 32,8%, Factor 2 = 6,7%, Factor O segundo factor, muito mais limitado na explicação
3 = 5,8%). No Quadro VI apresenta-se a matriz dos da variância da amostra é saturado pelos itens «Tris-
coeficientes estandardizados de regressão que contri- teza», «Perda de Prazer», «Pensamentos ou Desejos
buem para as soluções de dois e três factores, após Suicidas», «Perda de Interesse», «Perda de Ener-
rotação Promax. Os coeficientes estandardizados são gia», «Irritabilidade» e «Dificuldades de Concentra-
apresentados e distribuídos com destaque, no terceiro ção» parecem reflectir uma dimensão Afectiva, do
factor. tipo anedónico.
Quadro VI
Estrutura factorial, após rotação Promax, do Inventário de Depressão de Beck-II
Número de factores
2 factores 3 factores
Nome dos itens 1 2 1 2 3
Por último, o terceiro factor está representado pelos prevalência sintomatológica depressiva, estatistica-
itens «Agitação», «Alterações no Padrão de Sono» e mente significativas, diferem em três pontos (13,43
«Alterações no Apetite», o qual aparenta reflectir para as raparigas e 10,00 para os rapazes, p < 0,002
uma dimensão somática, da expressão da sintomato- vs. 11,48 para as raparigas e 8,45 para os rapazes,
logia depressiva. p < 0,001, respectivamente).
Em relação às variáveis em estudo, os resultados
relativos ao Género mostram que a prevalência de
4. Discussão sintomatologia depressiva é significativamente
maior nas raparigas o que confirma a literatura e os
4.1. Discussão dos resultados relativos estudos existentes (e.g., Garrison e Jackson, 1990;
à prevalência de sintomatologia depressiva Barron e Perron, 1986; Connely et al., 1993; Baron
e às variáveis estudadas e Campbell, 1993; Coelho et al., 2002). Uma expli-
cação possível é-nos dada por Nolen-Hoeksema e
Comparando com os estudos mencionados no Qua- Girgus (1994) quando fazem alusão ao maior
dro I, existem semelhanças e diferenças a mencio- número de factores de risco para o aparecimento da
nar. Nesta amostra de adolescentes, a média da pon- depressão que as raparigas parecem ter, ainda antes
tuação total no BDI-II foi de 11,44. Este valor está da adolescência. Estes factores de risco (biológicos
muito próximo dos que foram obtidos em três dos e sociais) são maiores nas raparigas que nos rapa-
estudos referidos, em que os autores utilizaram o zes, e aumentam na adolescência devido ao con-
BDI-II em amostras não clínicas (Beck et al., 1996; fronto com os novos desafios das tarefas
Steer e Clark, 1997; Coelho et al., 2002). No desenvolvimentais desta fase do ciclo vital, predis-
entanto, as amostras destes estudos apresentam pondo os adolescentes do sexo feminino para a
média de idades superiores à dos participantes do depressão.
presente trabalho. Num estudo efectuado por Nolen-Hoeksema e
De acordo com as pontuações globais referidas por Girgus (1994) com rapazes e raparigas do 6.o ao
Beck et al. (1996), 242 (71%) adolescentes da pre- 10.o ano de escolaridade, num total de 703 sujeitos,
sente amostra apresentam-se com depressão verificou-se que das 14 situações ou áreas de preo-
mínima, 50 (15%) com depressão ligeira, 26 (8%) cupação dos jovens (e.g., relação com os pares e
moderadamente deprimidos e 22 (6%) com depres- família ou realização/rendimento escolar) só uma não
são severa. foi pontuada como sendo a mais preocupante para as
Na amostra de 160 sujeitos de Steer e Clark (1997), raparigas — o rendimento desportivo.
89 (56%) apresentaram-se com depressão mínima, 46 Os resultados obtidos na variável «Idade» mostram
(29%) com depressão ligeira, 21 (13%) com depres- que existe um «pico» bastante pronunciado de pre-
são moderada e 4 (2%) severamente deprimidos. valência de sintomatologia depressiva aos 14 anos,
No estudo efectuado com 120 sujeitos por Beck e nas raparigas, ao contrário do referido em Connelly
colegas (1996), 76 (64%) apresentavam depressão et al. (1993) que indicaram os 16 anos como sendo
mínima, 18 (15%) estavam com depressão ligeira, a idade em que as raparigas pontuam mais do que os
16 (13%) com depressão moderada e 10 (8%) com rapazes. No entanto, outros autores referem que por
depressão severa. volta dos 13/14 anos, as raparigas começam a mos-
Por último, são perceptíveis diferenças substanciais trar maiores níveis de depressão do que os rapazes
na percentagem de sujeitos que obtiveram pontua- (Nolen-Hoeksema e Girgus, 1994). Num estudo lon-
ções totais ao nível da depressão moderada e severa. gitudinal efectuado por Petersen, Sarigiani e
Enquanto que neste estudo 14% dos adolescentes Kennedy (1991) o mesmo foi constatado.
pontuaram nestes níveis de depressão, outros estudos Outros estudos encontraram, frequentemente, maio-
referem outros valores: a) 32% dos adolescentes com res níveis de depressão nas raparigas antes dos
sintomatologia depressiva de moderada a severa 13 anos, mas foi aos 14 anos que essa diferença foi
(Teri, 1982); b) 21% de sujeitos com sintomatologia referida de forma bastante consistente (Allgood-
depressiva de moderada a severa (Beck et al., 1996). -Merten, Lewinsohn e Hops, 1990; Kandel e Davies,
No entanto, o valor encontrado neste estudo é muito 1986, Harrington, Rutter e Fombonne, 1996).
semelhante a outros (Connelly et al., 1993; Steer e Estes dados necessitam de futura confirmação empí-
Clark, 1997). rica, no entanto pode-se especular acerca deles.
No presente estudo, os resultados obtidos no BDI-II, Parece-nos que as raparigas adolescentes, aos
pelas raparigas e pelos rapazes são semelhantes aos 14 anos, experienciam um aumento de desafios, quer
que são apresentados por Coelho et al. (2002), na físicos, quer sociais, como reacção a uma adaptação
medida em que as médias das pontuações totais da às novas exigências escolares, relacionais e familia-