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Unid 1
Unid 1
Possui graduação em Letras pela Universidade do Vale do Paraíba, graduação em Pedagogia pela Faculdade
Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena, Mestrado em Educação: História e Filosofia da Educação pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorado em Educação: Didática e Teorias da Instrução e do Ensino
pela Universidade de São Paulo. Atualmente é supervisora de ensino da Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo e professora titular da Universidade Paulista. É pesquisadora associada do CIERs‑ED – Centro Internacional de
Estudos em Representações Sociais da Fundação Carlos Chagas (SP). Tem experiência na área de Educação, atuando
principalmente nos seguintes temas: formação de professores, avaliação educacional, currículo e práticas escolares,
metodologia e prática de ensino de língua portuguesa e pesquisas e estudos de representações da formação para a
docência. Possui experiência como coordenadora de curso de Pedagogia e atua como docente na área de Didática e
de Avaliação Educacional. Desenvolveu tese de doutorado sobre representações de professoras dos anos iniciais da
avaliação da aprendizagem e possui produção bibliográfica na área de estudo e atuação.
CDU 37.048
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
VirgíniaBilatto
Lucas Kater
Sumário
Avaliação Educacional
Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 Avaliação formativa, avaliação mediadora e teorias do
desenvolvimento e da aprendizagem.............................................................................................. 15
2 Por que avaliar? O que avaliar? Que etapas considerar? Como
avaliar? A quem informar?..................................................................................................................... 31
2.1 Avaliação de conteúdos conceituais............................................................................................. 40
2.2 Avaliação de conteúdos procedimentais..................................................................................... 41
2.3 Avaliação de conteúdos atitudinais.............................................................................................. 42
2.4 A quem informar?................................................................................................................................. 43
3 Técnicas e instrumentos de avaliação....................................................................................... 47
3.1 Elaboração de questões objetivas................................................................................................... 49
3.2 Elaboração de questões dissertativas............................................................................................ 51
4 Observações e registros....................................................................................................................... 51
Unidade II
5 Avaliação nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e na Educação
Infantil.................................................................................................................................................................. 63
6 Avaliação para além das formas tradicionais.................................................................... 70
7 Avaliação de sistemas e avaliação institucional............................................................... 90
7.1 Aspectos políticos implicados na avaliação externa de escolas........................................ 93
7.2 Avaliação institucional e de sala de aula..................................................................................100
7.3 Avaliação do aluno em relação ao trabalho do professor..................................................109
8 Avaliação e pesquisa educacional: dados quantitativos e qualitativos.........112
Apresentação
• realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos sobre os alunos e sua realidade sociocultural e
sobre os processos de ensinar, aprender e avaliar, considerando a diversidade e a multiculturalidade
da sociedade brasileira;
Introdução
Observação
7
Figura 1
Partindo da aceitação da tese de que, para cumprir sua função social, a escola deve garantir a todos
a apropriação do conhecimento elaborado e historicamente construído, vários desafios conceituais e
metodológicos estão postos à escola, no que diz respeito à pedagogia que orienta as práticas escolares
e aos modelos de avaliação da aprendizagem, no contexto da diversidade de culturas.
Nesse contexto de diversidade de saberes e experiências, não há mais lugar na escola para um
tratamento pedagógico homogeneizante que desconsidera que nem todos estão, no ponto de partida
do ensino, à mesma distância dos objetivos educacionais pretendidos, tendo em vista a preparação do
cidadão para atuar e intervir transformadoramente na prática social. Trata‑se de desafio ainda maior
quando se considera que, historicamente, a função básica da escola tem sido seletiva e propedêutica, ou
seja, centrada na seleção dos alunos para estudos futuros (ZABALLA, 1995).
Reconhece‑se uma importante evolução nas taxas de atendimento escolar. Esse fato é importantíssimo
para o enfrentamento do caráter historicamente seletivo da educação escolar, que é a primeira exigência
para a democratização do conhecimento e, portanto, para a própria democratização da sociedade. No
entanto, a possibilidade de democratização do conhecimento assenta‑se em um tripé: garantia de acesso
à escola, aumento da permanência e qualidade de ensino (LUCKESI, 1996). A garantia de acesso depende
de variáveis externas relativas às políticas públicas de atendimento educacional, mas o aumento da
permanência e a qualidade de ensino tem relação com o atendimento pedagógico e com a instituição
de práticas inovadoras que eliminem variáveis pedagógicas que determinam o fracasso escolar e a
evasão e aumentem o grau de terminalidade escolar, que é historicamente baixo, garantindo a todos um
ensino de qualidade. Os desafios são imensos, considerando os dados de fluxo escolar contidos na tabela
a seguir, na qual se observa ainda uma elevada taxa de reprovação e abandono escolares no ano de 2011.
8
Tabela 1 – Taxas de aprovação, abandono, evasão, promoção,
repetência, reprovação e distorção idade‑série (Brasil)
Ens.
Ens. Fundamental Ensino
Tabela Fundamental –
–anos iniciais Médio
anos finais
Taxa de distorção idade‑série (2010) 18,5 % 29,6 % 34,5 %
Taxa de evasão (2005) 7,4 % 14,1 % 3,4 %
Taxa de promoção (2005) 78,3 % 68,5 % 81,8 %
Taxa de repetência (2005) 14,3 % 17,4 % 14,8 %
Taxa de abandono (2010) 1,8 % 4,7 % 10,3 %
Taxa de reprovação (2010) 8,3 % 12,6 % 12,5 %
Taxa de aprovação (2011) 91,2 % 83,4 % 77,4 %
Região Norte (2011) 87,0 % 81,7 % 75,4 %
Região Nordeste (2011) 87,5 % 77,7 % 76,3 %
Região Sudeste (2011) 94,6 % 87,6 % 78,7 %
Região Sul (2011) 93,8 % 83,5 % 77,7 %
Região Centro‑oeste (2011) 92,8 % 85,3 % 75,6 %
Reafirmando, o alcance das funções sociais da escola depende da sua capacidade em democratizar o
conhecimento para o conjunto da população, como mediação, senão suficiente, necessária a uma prática
cidadã. Nesse sentido, a par das políticas de atendimento escolar, assumem particular importância as
concepções e práticas de ensino‑aprendizagem‑avaliação que estejam a serviço dessa democratização
e não apenas da seleção dos considerados mais aptos, não se concebendo que a reprovação seja ainda
utilizada para fins de seleção dos alunos.
Observação
Ainda é frequente no discurso pedagógico o entendimento da reprovação
escolar como estratégia didática que supostamente estimularia o aluno a
estudar mais, embora esta ideia não tenha sustentação teórico‑prática.
Para Zaballa, a função social do ensino abarca outras dimensões da personalidade do aluno,
sendo a formação integral a sua finalidade principal. Se entendermos que o objetivo do ensino é o
desenvolvimento de todas as capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas, temos que considerar
que a avaliação não pode ter como objeto apenas os conteúdos valorizados em exames para o ingresso
na universidade, o que implica uma transformação no paradigma de avaliação classificatório que ainda
é característico dos sistemas educacionais. Defendemos que se levem em conta os conteúdos que
promovam as capacidades motoras, de equilíbrio e de autonomia pessoal, de relação interpessoal e de
inserção social, sob uma perspectiva que não seja meramente seletiva, conforme propõe o autor.
9
Tudo isso envolve mudanças substanciais nos conteúdos de avaliação e no caráter e na forma
das intervenções pedagógicas a partir do conhecimento que se tem das aprendizagens realizadas,
considerando as expectativas previstas. Trata‑se da obtenção de informações complexas que não
combinam com um tratamento estritamente quantitativo; referem‑se a valorações e indicadores
personalizados que raramente podem se traduzir em notas e qualificações clássicas (ZABALLA, 1995).
Essa forma de entender a relação da avaliação com a função social da escola coloca a necessidade
de discutir, em um primeiro momento, a avaliação como parte do trabalho didático do professor, sob
a perspectiva de que os conceitos de avaliação, qualidade e educação só podem ser compreendidos no
contexto das práticas escolares ou da forma de organização da escola. A escola, por sua vez, faz parte de
uma organização social mais ampla que envolve concepções de homem, de sociedade, de trabalho e de
educação, concepções estas que foram se transformando no decorrer da história (BIANI; BETINI, 2010).
Figura 2
10
Saiba mais
MARIA Antonieta. Dir. Sofia Coppola. Estados Unidos, 2006. 123 minutos.
A escola surge, então, como instituição à qual caberia o papel de transformar súditos em cidadãos
para corresponder aos objetivos da nova ordem social instituída pelo capitalismo. Essa nova ordem
social necessitava, para se consolidar, difundir o conhecimento e preparar para o trabalho dentro dessa
nova lógica, convertendo a escola em um lugar apropriado para que os indivíduos se acostumassem às
relações do processo de produção capitalista.
Figura 3
11
Assim, recoloca‑se em questão a função social da escola, sob uma perspectiva dialética que requer,
por um lado, a superação da visão não crítica de que a escola é em si mesma fator de superação das
desigualdades sociais, ou seja, fator de equalização social, conforme concepção liberal burguesa; por
outro lado, significa superar uma visão reprodutivista segundo a qual a escola cumpriria apenas o
papel de reproduzir as relações sociais capitalistas baseadas na divisão social das classes, mantendo a
desigualdade social, conforme apontam as chamadas teorias crítico‑reprodutivistas (SAVIANI, 2008).
Significa, portanto, entender a escola e a sociedade como espaços de contradição onde existem diferentes
possibilidades de ação que podem tornar a escola capaz de influenciar a sociedade e não apenas ser
determinada por esta, ou seja: há uma relação dialética e não determinista entre escola e sociedade.
Saiba mais
Sob uma perspectiva dialética, o professor deve se ver como sujeito histórico, ou seja, como aquele
que faz opções e escolhas em sua prática profissional, que atua a favor da transformação das estruturas
geradoras de injustiças e a favor da apropriação do conhecimento sistematizado pelas crianças das
classes mais desfavorecidas que mais precisam da escola. Ao fazerem escolhas, estarão contribuindo
para a transformação ou para a preservação das desigualdades. A tarefa de formação do ser social,
que promova as transformações sociais desejadas, exige que os professores vejam‑se como sujeitos
históricos coletivos capazes de, em conjunto, fazer a crítica à escola e à sociedade que temos e agir
a partir da realidade existente, não apenas por meio de uma luta pedagógica, mas também por meio
de uma luta por transformações sociais mais amplas em direção à escola e à sociedade que queremos
(BIANI, 2010).
Tais transformações sociais passam pela oferta de escola de qualidade social para todos e para cada
criança, considerando as diferenças, sejam de classe ou de limites pessoais. Escola de qualidade social é
“uma escola que ofereça oportunidade de acesso, permanência, aprendizagem e que desenvolva valores
de solidariedade e de trabalho coletivo para todos os seus alunos” (BIANI, 2010, p. 6), considerando
variáveis socioculturais e econômicas que exigem um tratamento didático diferenciado. Essa seria uma
forma de romper com o círculo vicioso que sustenta a desigualdade social, o qual se dá da seguinte
forma: a desigualdade educacional gera desigualdade de renda que, por sua vez, pode gerar distribuição
desigual de poder político que poderá reproduzir a desigualdade educacional (BIANI, 2010).
A discussão sobre a relação entre desigualdade educacional e desigualdade social coloca no centro
do debate o problema da qualidade da educação cujo significado foi se alterando historicamente.
Com base em Biani e Betini (2010), apresentamos no quadro a seguir a variação de significado nas
últimas décadas:
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Quadro 1
De acordo com Freitas et al (2011), o modelo classificatório separa a avaliação em três dimensões:
13
• da instrução, com foco nos conteúdos e nos aspectos quantitativos;
• das atitudes, por meio de juízo de valor do professor sobre as atitudes e valores dos alunos.
Dessa forma, a avaliação se dá também por meio de um processo informal que torna arbitrária a
avaliação da aprendizagem, porque é atravessada por julgamentos de valor sobre dados irrelevantes que
nada revelam sobre as aprendizagens realizadas pelo aluno. Para promover uma prática de avaliação
justa, a serviço do progresso intelectual e social do aluno, o desafio é tornar oficial a prática da abordagem
formativa e não apenas uma forma de enfrentamento individual (FREITAS et al, 2011).
Diante dessa crença no poder da avaliação com funções formativas, para se propiciar a progressão
do aluno na aprendizagem com sucesso, é necessário um entendimento dos fundamentos conceituais,
legais, éticos e técnicos que embasam esta abordagem para (re)orientar as práticas. Estes fundamentos
serão abordados nas unidades 1 e 2. Além dos aspectos relativos à avaliação entendida como parte do
trabalho didático do professor em sala de aula, consideraremos, na unidade 3, a avaliação de sistemas
e a avaliação institucional, pelo impacto que esse âmbito da avaliação pode provocar na melhoria dos
processos escolares, o que se constitui tema relevante no atual contexto em que se luta pela melhoria
dos resultados educacionais e da qualidade do ensino.
14
Avaliação Educacional
Unidade I
Avaliação do ensino‑aprendizagem: fundamentos conceituais e técnicos
No estudo de representações de professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre avaliação
no interior da organização do ensino em ciclos de aprendizagem, Silva (2005) apoiou‑se na revisão de
diversas pesquisas feitas por Black e Wiliam (1988). Essa revisão tenta mostrar até que ponto se justifica
a crença de que a melhoria da aprendizagem depende da melhoria da avaliação, com base na ênfase no
valor da interação entre esses dois aspectos na sala de aula.
Nessa revisão, a avaliação formativa é considerada um processo que engloba “todas as atividades
desencadeadas pelo professor e/ou alunos, que proveem informações a serem usadas como realimentação
para modificar as atividades de ensino e aprendizagem nas quais estes estão engajados” (BLACK;
WILLIAM, 1988, apud SILVA, 2005).
Quem gera as
informações?
Figura 4
Uma das seções do estudo citado por Silva (2005) destaca resultados baseados nas evidências sobre a
natureza de intervenções, observações, comentários ou respostas escritas aos alunos, de cuja qualidade
depende a efetividade da avaliação formativa.
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Unidade I
Silva faz referência a um estudo que teve como foco a autoavaliação diária feita pelos alunos.
Esse estudo mostra que, por meio da autoavaliação, é possível ensinar os alunos a compreenderem os
objetivos da aprendizagem e os critérios de avaliação. Dessa forma, os alunos aprendem a escolher e
usar as tarefas com a finalidade de acessar os resultados da sua própria aprendizagem.
A relação entre metacognição e sucesso escolar foi evidenciada em Davis et al (2005): o aluno deve
ter consciência do que sabe e do que não sabe, aprendendo a analisar e avaliar como se conhece. Os
autores discutem esse conceito apoiados nas formulações de Flavell, segundo o qual metacognição
refere‑se:
• ao conhecimento que se tem sobre os próprios processos cognitivos, e produtos ou qualquer coisa
relacionada a eles, isto é, o aprendizado das propriedades relevantes da informação ou dos dados;
Assim, Davis et al chamam a atenção para o fato de que, ao fazer uso da metacognição, o sujeito:
• observa seus próprios modos de pensar e as estratégias que emprega para resolver problemas e
busca identificar como aprimorá‑los;
Quadro 2
O sujeito sabe que já domina certos conceitos, O sujeito compreende como o pensamento e as funções
práticas e habilidades, enquanto outros ainda não, e superiores – atenção, memória, raciocínio, compreensão –
reconhece o que é ou não capaz de alcançar. atuam na resolução de um problema.
16
Avaliação Educacional
Resumindo, processos metacognitivos são os processos pelos quais o sujeito exerce controle e
auto‑regulação durante a tarefa de resolução de um problema, permitindo‑lhe tomar consciência do
desenrolar da sua própria atividade. Esses processos são favorecidos por atividades de autoavaliação,
por meio das quais o aluno aprende a gerir uma tarefa, corrigi‑la e regulá‑la, caminhando em direção
ao pretendido, mas não apenas isso, conforme explicam Davis et al:
No estudo de Silva (2005), encontramos relatos de pesquisas que deram evidências rigorosamente
construídas dos ganhos de aprendizagem, considerando dois elementos (um ou outro ou a combinação
dos dois): o foco na autoavaliação e sua implementação em um contexto construtivista de sala de aula.
Isso sugere que é preciso mais do que apenas adicionar alguns exercícios de avaliação e técnicas de
ensino, mas uma mudança radical na pedagogia da sala de aula porque a avaliação é um componente
do processo pedagógico.
Um ambiente construtivista favorece processos metacognitivos por meio dos quais o aluno aprende
a pensar, transformando culturas voltadas ora para a informação, ora para a formação, de maneira
dicotomizada, em uma cultura do pensamento (DAVIS et al, 2005). De acordo com esses autores, a
metacognição é aspecto central na produção de uma cultura do pensamento, uma vez que permite ao
sujeito:
Outro aspecto a ser considerado na produção de uma cultura avaliativa voltada para a promoção
intelectual humana e social do sujeito é a crença de que todos os alunos podem ter sucesso. Esse
pressuposto, já bastante apontado pela literatura, aparece na revisão sobre avaliação formativa citada
por Silva (2005), em um estudo que mostra que, embora a excelência pessoal do professor do estudo
em questão seja determinante para o sucesso da aprendizagem, o próprio professor aponta, como parte
importante de sua abordagem de ensino, o seu sentimento de que todos os alunos podem ter sucesso. O
mais importante é que o estudo referido confirma a importância desta crença, principalmente quando
17
Unidade I
o ensino por ciclos, com progressão continuada, requer que sejamos capazes de propiciar uma trajetória
ótima para todos os alunos de acordo com suas reais possibilidades, o que implica, em um primeiro
momento, acreditar que todos podem aprender e se desenvolver.
Outro relato, também com foco na ideia de aprendizagem para o domínio, ao mostrar o resultado da
prática de dois professores – um excepcional e experiente, outro com avaliação média e novato – coloca
em questão a validade do uso frequente de testes nos ganhos de aprendizagem, levando Black e Wiliam
a questionar: até que ponto a testagem frequente constitui avaliação formativa? A questão parece
residir na qualidade das respostas e da interação entre professor e aluno, conforme explicam os autores:
A falta de uma rotina rigorosa de avaliação formativa leva a diagnósticos sentenciosos, rotulando
crianças como sem sucesso, o que prejudica seu futuro.
Outros aspectos importantes apontados por Black e William sobre a efetividade da avaliação
formativa dizem respeito:
• à necessidade de dar constante atenção aos efeitos diferenciais de qualquer tipo de informação
do professor nos alunos de rendimento alto e baixo.
18
Avaliação Educacional
Vejamos no quadro a seguir os principais componentes a serem observados para o sucesso de uma prática
de avaliação formativa, apontados por Silva (2005), com base nos estudos de Black e William (1998):
Quadro 3
Outra fonte importante neste esforço de melhor precisar o conceito de avaliação formativa,
encontramos em Perrenoud (1999), que discute a avaliação formativa no contexto de uma
“concepção global da regulação das aprendizagens” (PERRENOUD, 1999, p. 88). O autor entende
a avaliação formativa como fonte de uma regulação intencional das aprendizagens, levando o
professor a observar mais metodicamente os alunos e a compreender melhor como funciona seu
processo de aprendizagem, de modo que possa ajustar de maneira mais sistemática e individualizada
suas intervenções pedagógicas e as situações didáticas que propõe, com a finalidade de otimizar as
aprendizagens (PERRENOUD, 1999, p. 89).
Perrenoud (1999, p. 11) adverte que uma melhoria na avaliação depende de mudanças no conjunto
do sistema didático e do sistema escolar ao mesmo tempo em que sugere que uma mudança é
possível quando se tem como âncora uma visão bastante realista das restrições e das contradições do
sistema educativo.
Dentro desta perspectiva, inclui‑se também uma didática realista que considera a heterogeneidade
dos aprendizes e que parte dos conhecimentos reais, princípio amplamente defendido para tornar o
processo de ensino‑aprendizagem significativo. Trata‑se de lutar contra o fracasso escolar fazendo com
que a escola volte seu foco para os alunos que realmente precisam dela, já que
19
Unidade I
Partir dos conhecimentos reais significa promover a “regulação de base” (PERRENOUD, 1999, p.
96), ou seja, considerar que nem todos estão à mesma distância do objetivo pretendido e que não
dispõem dos mesmos recursos para investir no caminho a ser percorrido para atingi‑lo. Coloca‑se então
a necessidade de se instituírem práticas de diferenciação do ensino a partir da ideia de que um ensino
homogêneo tende a favorecer os já favorecidos, aqueles que se encontram mais próximos da cultura
valorizada pela escola. Para diferenciar o ensino e atender a distintas necessidades de aprendizagem, é
necessário que se considere os conhecimentos efetivos do aluno e os recursos que consegue mobilizar
para se engajar em uma atividade nova. Significa colocar a avaliação no contexto de uma pedagogia de
diferenciação, sob uma perspectiva de que o professor pode se antecipar ao fracasso.
É o que Allal classificou como “avaliação formativa proativa, que sobrevém no momento de engajar
o aluno em uma atividade ou situação didática nova” (1988, apud PERRENOUD, 1999, p. 96, 100 e
106), mudando a tônica de remediação da avaliação formativa realizada sob uma lógica a posteriori,
que ainda é a mais característica nas práticas escolares. A lógica a posteriori sobrevive de regulações
retroativas que fazem parte das regulações cotidianas da aprendizagem.
O problema das regulações retroativas é seu caráter mais curativo do que preventivo, pouco
contribuindo para intervir bem antes do fracasso escolar, embora possam ser úteis a esse propósito.
Isso se deve ao fato de que, por seu caráter de remediação, em geral retrabalham noções e habilidades,
mesmo com novas explicações, com mais tempo e com material diferente. Às vezes, é mais grave:
são as mesmas instruções e as mesmas atividades, inclusive aquelas sobras que ficaram no armário
aguardando a vez de serem utilizadas e que já não se mostraram eficientes para promover a
aprendizagem, em um primeiro momento, como constatou Silva (2005) em pesquisa na qual analisou
representações de professoras do ciclo I da avaliação da aprendizagem no sistema de ciclos com
progressão continuada.
Allal também distinguiu outro tipo de regulação: as regulações interativas, que sobrevêm ao
longo de todo o processo de aprendizagem (PERRENOUD, 1999, p. 106). Com base nas contribuições
de Allal, Perrenoud caracteriza “a regulação interativa como uma observação e uma intervenção em
situação, quando a tarefa não está terminada, sendo o professor capaz de assumir o risco de interferir
nos processos de pensamento e de comunicação em curso” (PERRENOUD, 1999, p. 100). Esse tipo de
regulação atinge o coração da atividade formativa, o qual
As ações anteriormente descritas implicam a existência daquele processo de “regulação interativa das
aprendizagens, isto é, de uma observação e uma intervenção em tempo real, em situação” (PERRENOUD,
1998, p. 100‑101). Talvez, nisso residam as principais dificuldades encontradas pelos professores em
promover a avaliação formativa.
No caso de uma das professoras do estudo de Silva, existe um momento específico para promover
avaliação formativa, associado à introdução de conteúdos novos, aquele no qual ela “vai vendo um por
um”, e outro momento em que ocorre mais a possibilidade de se obter informações sobre as dificuldades
do aluno. Quando? Assim explica a professora:
Na prova. Acontece isso mais na prova porque, como no dia a dia às vezes é
muito corrido, muitas coisas passam, a gente tenta atender individualmente,
mas é mentira se eu falar pra você que todo o dia eu atendo individual.
Desta forma, conforme explica Silva, reduz‑se o espaço de interação por meio do qual seria possível
fazer o aluno tomar consciência das lacunas entre o objetivo desejado e o estado atual em que se
encontra e aprender a empreender esforços para superação das dificuldades. No entanto, a professora
pratica um tipo de intervenção no momento da prova que poderia ser valorizado no cotidiano escolar,
que é a chamada dica sobre a resposta correta, assim explicada pela professora:
Mas o que a gente mais consegue ver onde eles estão errando é na prova,
porque daí eles estão sozinhos, eles levantam de vez em quando para
perguntar e eu nunca dou a resposta, mas, de vez em quando, se eu vejo
que ele está precisando só de uma diquinha, eu faço ele raciocinar em cima
daquilo (SILVA, 2005, p. 59).
A justificativa para a validade desse procedimento pode ser encontrada em um relato de Black e
Wiliam (1998, apud SILVA, 2005) que mostrou como estudantes da Inglaterra tornaram‑se insaciáveis
21
Unidade I
em sua busca por dicas do professor sobre a resposta correta. Outro aspecto importante, que pode ser
valorizado pelos professores, é que os estudantes responderam a dificuldades trabalhando em aspectos
menos importantes da tarefa, evitando o problema principal. Este pode ser um fator relevante quando
se trata de evitar a perda de autoestima que ocorre em caso de fracasso. Outro estudo citado por Black
e Wiliam relata que alguns estudantes tentam evitar os riscos envolvidos em tarefas desafiadoras, não
apenas porque relutam em se envolver seriamente com o trabalho de aprendizagem devido a um mero
desejo de esforço mínimo, mas por causa daquele medo do fracasso.
Mesmo sempre alertando para a necessidade de procedimentos e de instrumentos próprios, “que vão
desde a observação in loco dos métodos de trabalho, dos procedimentos, dos processos intelectuais no
aluno” (PERRENOUD, 1999, p. 15), Perrenoud afirma que o essencial continua sendo a disponibilidade do
professor para promover as regulações interativas que serão inúteis se aleatórias e episódicas.
O grande desafio é mudar o sistema de trabalho na sala de aula de forma a permitir uma observação e uma
intervenção em tempo real, que são constitutivas das interações didáticas propriamente ditas. Não se trata apenas
de dar atenção individual, o que se sabe ser impraticável em muitas situações, mas de diferenciação das práticas.
As mudanças sugeridas por Perrenoud implicam dotar o processo avaliativo de um caráter metódico,
instrumentado e constante, como parte integrante de uma pedagogia diferenciada, o que requer uma
ruptura com as atuais práticas que centram sua ação em função da dinâmica de conjunto do grupo: é
necessário que o professor regule sua ação em função da trajetória dos alunos, sob uma perspectiva de
individualização de seu percurso e, ao mesmo tempo, de diferenciação do ensino.
Uma diferenciação sistemática do ensino implica condições de ensino compatíveis com essa
perspectiva, entre as quais se incluem: 1º) novas formas de organização do ensino como as atualmente
tentadas no sistema brasileiro, por meio de ciclos de aprendizagem; 2º) liberdade para criar novas
alternativas de agrupamentos que atendam a necessidades reais e locais de aprendizagem. Implica ainda
a flexibilização de horários e do programa de ensino e superação da avaliação normativa tradicional que
continua pesando sobre as práticas escolares (SILVA, 2005).
É verdade que a avaliação formativa está presente em algum grau nas práticas dos professores, ainda
que de forma rudimentar ou ”selvagem”, como diz Perrenoud. Ou seja, o professor faz intervenções
corretoras baseadas em uma apreciação dos progressos e do trabalho dos alunos. Há professores que se
preocupam com os efeitos de suas ações e procuram modificá‑las para melhor atingir seus objetivos.
Essa forma “selvagem” de avaliação formativa continua prevalecendo e, para sair desse plano, seria
necessário enfrentar os obstáculos de uma efetiva avaliação formativa, assim descritos por Perrenoud
(1999, p. 82‑85):
3º) a falta de tempo do professor e a dispersão entre problemas de diversas ordens que fazem com
que inúmeras intervenções reguladoras não tenham efeito, porque permanecem inacabadas ou
muito descosturadas;
4º) a prioridade dada pela maioria dos professores, muitas vezes involuntariamente, à regulação
das tarefas e ao controle do trabalho mais do que à aprendizagem, o que Perrenoud chama de
cumprimento do ofício de aluno.
Outro estudo citado por Silva evidencia que os estudantes relutam em pedir ajuda devido ao fato de
não ficarem felizes quando recebem assistência pessoal, porque isso é interpretado como evidência de
sua baixa habilidade. A professora entrevistada por Silva confirma isso quando diz que seus alunos de
desenvolvimento baixo reagem de modo diferente. Ela diz ainda notar que eles são mais inseguros, por
considerarem que este rendimento os torna menos valorizados na sala (SILVA, 2005, p. 61).
Essas reações podem ser explicadas pelo fato de que as crenças dos colegas e dos pais também
afetam a maneira pela qual o autoconceito do estudante é desenvolvido. A prática de encorajar os
alunos é uma abordagem que faz diferença na aprendizagem, e é necessário instituir ou reforçar essa
prática do aluno pedir mais ajuda na sala de aula.
Todos esses esforços deveriam dar conta de contribuir para a autopercepção do aluno. Vários
estudos relatados por Silva mostram a importância do autoconceito e a necessidade de se promover
situações desafiadoras com intenso e extenso provimento de informações sobre o processo e
aprendizagens realizadas ou a realizar, o que levaria a um maior engajamento dos alunos e um
maior rendimento.
Saiba mais
COL, C. (Org.). O construtivismo na sala de aula. 6. ed. São Paulo: Ática, 2006.
23
Unidade I
Para contribuir para a autopercepção do aluno, a avaliação deve focalizar a melhoria individual
e o domínio, mas antes há a necessidade de que o professor proponha tarefas que ajudem os
estudantes a estabelecer suas próprias metas, oferecendo‑lhes desafios interessantes e possíveis de
serem realizados.
O estudo de Silva mostrou que a questão, essencial ao sucesso do ensino por ciclos, de modificar as
atividades de ensino e aprendizagem mediante as informações que se obtém em situação, é delegada
em um primeiro momento ao chamado reforço. Silva observou, em uma das turmas de ciclo I, que
o reforço era dado pela própria professora somente para os alunos que, de acordo com a avaliação
desta, estavam distantes do conjunto da classe. Estes eram informados e deveriam comparecer todo dia
meia hora antes da aula normal. Em um segundo momento, os alunos que apresentavam dificuldades
de aprendizagem e defasagens sérias eram encaminhados para a recuperação paralela, em período
alternativo ao da aula normal, com outro professor.
Um dos grandes desafios da escola tem sido romper com um ensino frontal e homogeneizante,
adotando pedagogias de diferenciação do ensino para atender a necessidades distintas de aprendizagem.
Para isso, além de certas condições organizacionais, é necessário que os professores tenham uma
compreensão mais elaborada a respeito de como o indivíduo se desenvolve aprendendo e do papel da
avaliação e da ajuda do professor nesse processo.
Observação
sem a sua ajuda. É nesta perspectiva que se encaixa o conceito de avaliação formativa que considera
toda situação ou atividade como fonte de informações para que o professor conheça o aluno para
ajudá‑lo, sendo a avaliação uma dimensão inseparável do ato de ensinar e aprender.
Vygotsky (apud SILVA, 2005, p. 126) desmistificou a ideia segundo a qual o desenvolvimento da
criança se dá por um processo regulado biopsicologicamente, a partir apenas de sua iniciativa e interesse.
Mostrou o caráter histórico‑social desse processo, demonstrando que o bom aprendizado é aquele que
se antecipa ao desenvolvimento, evidenciando a importância da ajuda do adulto ou de colegas mais
experientes neste processo de interação social. Com Vygotsky, compreendemos porque o aprendizado
intencional e sistemático de conceitos científicos é fator de desenvolvimento do pensamento conceitual.
Na escola, no entanto, o aprendizado tem vindo à reboque do desenvolvimento, com sérias implicações
para a capacidade de síntese e abstração, para a formação do pensamento generalizante necessário à
compreensão da realidade (SILVA, 2005).
Quadro 4
• Indícios de potencial.
• Suposição de ajuda.
• Suposição de intervenção.
25
Unidade I
Davis e Esposito (apud SILVA, 2005) afirmam a respeito da função do erro no processo de avaliação
que, para resolver uma situação‑problema, a criança necessita, de um lado, compreender o problema
e, de outro, escolher os procedimentos que, no seu entender, melhor resolvem a tarefa, dentro de um
conjunto de possibilidades de ação, determinado pelo nível estrutural de pensamento.
Observação
Davis e Espósito apontam o papel do professor diante do erro da criança de forma que fica evidente
a importância de sua intervenção e a função reguladora da avaliação sob a perspectiva formativa. Se a
criança erra, o professor deve investigar a origem do erro e, conforme sua natureza, poderá:
• criar um ambiente propício ao diálogo, que pressione a criança a justificar e demonstrar as razões
pelas quais adotou um padrão de ação;
• valorizar a cooperação como caminho para discutir hipóteses individuais de modo que
a troca de pensamento possibilite a apreensão de perturbações e acione o processo de
equilibração majorante;
• fazer com que o erro do aluno se torne observável para a criança, ou seja, fazer com que ela tome
consciência do erro e busque superá‑lo;
• encarar o erro como desafio, como resultado de uma postura de experimentação, em que a criança
levanta hipóteses, planeja uma estratégia de ação e a põe à prova;
Uma prática de avaliação formativa requer uma transformação na forma tradicional de correção
de testes e tarefas de aprendizagem. Alguns princípios de uma ação avaliativa mediadora, propostos
por Hoffmann (1993), encaixam‑se nesta perspectiva formativa, coerentes com uma concepção
construtivista do erro, referencial a partir do qual elaboramos o seguinte quadro:
Quadro 5
27
Unidade I
Em face das dificuldades que os professores alegam para promover uma avaliação mediadora,
Hoffmann levanta a seguinte hipótese:
A autora defende, então, que seja investigada a compreensão que os professores possuem dos termos
acompanhamento e diálogo. No seu entender, tais termos podem receber definições diferenciadas,
podendo significar simplesmente conversa, o que não é garantia de entendimento entre as pessoas que
conversam, gerando um sentimento de impossibilidade nos professores de usar o princípio do diálogo
como linha norteadora de uma avaliação mediadora.
Propõe, assim, que o diálogo seja entendido em um sentido mais amplo: não apenas como conversa
no sentido de comunicação verbal com o estudante, ou como uma técnica para conseguir bons
resultados; ou, ainda, como uma tática para o professor ficar amigo do aluno. O diálogo deve servir
à iluminação das dúvidas dos alunos e não à manipulação; deve ser um momento de reflexão sobre
a situação atual do aluno, sobre suas produções, ajudando‑os a se posicionarem criticamente sobre
as tarefas, não apenas ao final de determinados períodos já concluídos, mas como parte das rotinas
didáticas (HOFFMANN, 1991).
Quanto ao termo acompanhamento, a autora entende que “acompanhar pode ser definido por
favorecer, e não simplesmente por estar junto a” (HOFFMANN, 1991) e explica:
28
Avaliação Educacional
• reformular as hipóteses;
• promoção do aluno.
Para que o professor guie sua prática por pressupostos da teoria construtivista é necessário:
• partir dos conhecimentos que os alunos já possuem, ou seja, de seus sistemas de significações;
• aceitar soluções “erradas” como pertinentes, desde que indicadoras de progressos na atividade
cognitiva (erros construtivos);
• fazer com que alunos tomem consciência dos erros cometidos, percebendo‑os como problemas a
serem enfrentados (HOFFMANN, 1991).
29
Unidade I
Figura 5
Observação
Quanto às intervenções pedagógicas para o avanço da criança, Silva (2005) descreve uma situação,
que ainda é bastante comum nas salas de aula, em que não se verifica nenhum tipo de ação que pudesse
tirar o aluno da condição em que se encontrava ao deixar o exercício em branco:
Além disso, a autora constatou que as representações da avaliação estão intimamente vinculadas ao
modelo de regulação que predomina e que se capta das ações e das falas das professoras e das decisões
e ações que envolvem a progressão do aluno no ciclo, ou seja, há o predomínio do apoio pedagógico
retroativo e em separado das condições de aula (SILVA, 2005).
30
Avaliação Educacional
reforço, com toda a conotação negativa de que se revestiram esses termos, sinônimo que são de castigo
e, principalmente, porque se caracterizam pela repetição de práticas mal sucedidas no contexto da sala
de aula (SILVA, 2005).
Ainda de acordo com Silva, a separação dos alunos para o chamado reforço acaba por não produzir os
efeitos desejáveis em decorrência do equívoco que consiste considerar que para atender às necessidades
de aprendizagem dos alunos basta adotar estratégias individualizantes de ensino, considerando que,
mesmo com poucos alunos, se a regulação da aprendizagem não se encaixar em dispositivos de
diferenciação do ensino, de acordo com as necessidades reais de aprendizagem, não importará muito a
quantidade de alunos.
A importância da avaliação e a forma que é utilizada pelos professores têm sido alvo de estudos de
vários autores, alguns dos quais já discutidos neste estudo. Dentre outros trabalhos relevantes, merecem
destaque as reflexões de Zaballa (1995), por apontar não só os equívocos mais comuns no processo
de avaliação, mas principalmente por indicar alguns caminhos possíveis para tornar a avaliação um
instrumento útil ao professor, que poderá utilizar seus resultados no aprimoramento das técnicas
de ensino, e ao aluno, para que, por meio dela, consiga encontrar o seu jeito próprio de aprender e
desenvolva suas potencialidades.
Zaballa discute o fato de que a avaliação é vista pelos professores, gestores, pais e pelos próprios
alunos como um instrumento para avaliar o grau de alcance de cada estudante em relação aos objetivos
determinados nos diversos níveis escolares e, dessa forma, visa sancionar e qualificar o aluno, considerado
como único sujeito da avaliação, cujo objeto são as aprendizagens realizadas segundo certos objetivos
mínimos para todos.
Sobre essa visão tradicional da avaliação, o autor lembra que há muito tempo se vem discutindo
outras formas mais coerentes de enxergar e utilizar a avaliação que não se limitam à valoração
dos resultados obtidos pelos alunos. Cita como exemplo concreto as declarações de princípios das
reformas educacionais empreendidas em diferentes países e ideias progressistas defendidas por
educadores cujo alcance do processo avaliativo vai muito além da valoração dos resultados obtidos
pelos alunos. O propósito da avaliação não é, portanto, detectar o sucesso ou o fracasso dos alunos
para classificá‑los, mas o de diagnosticar suas dificuldades para então selecionar metodologias e
técnicas mais apropriadas de ensino, bem como planejar atividades que os ajudem a elevar‑se a
estágios superiores de aprendizagem, ou ainda ajudar na recuperação das aprendizagens necessárias
ao seu desenvolvimento. Tal processo inclui não só o progresso pessoal, mas também o processo
coletivo de ensino/aprendizagem.
31
Unidade I
O autor explica que há diferentes definições de avaliação e algumas delas são ambíguas, nas quais
os sujeitos e objetos de estudo se confundem, uma vez que
Zaballa (1995) utiliza um quadro de dupla entrada no qual separa, por um lado, o processo de
ensino/aprendizagem individual que cada aluno segue e, por outro lado, os possíveis objetos e sujeitos
da avaliação, dessa forma:
Quadro 6
Avaliação
r
esso Com
o prof o
apreo aluno
o a
Com ensin nde
Figura 6
Assim como está posto, identificamos dois sujeitos na avaliação, ou seja, há uma dupla dimensão,
que se aplica também ao processo que todo o grupo/classe segue. Mas é a pergunta “por que temos
32
Avaliação Educacional
que avaliar?” que torna coerente todo o processo de avaliação, uma vez que “a partir da resposta a esta
pergunta surgirão outras, por exemplo, o que se tem que avaliar, a quem se tem que avaliar, como se
deve avaliar, como temos que comunicar o conhecimento obtido a partir da avaliação etc.” (ZABALLA,
1995, p. 196).
Para problematizar esse assunto, Zaballa discute a oposição entre a avaliação que visa à formação
integral do estudante e a avaliação seletiva cujo objetivo durante os anos escolares é a preparação
para o vestibular. Reafirma que o sujeito da avaliação seletiva é sempre o próprio aluno e o objeto são
as aprendizagens alcançadas em relação às necessidades futuras para ingresso na universidade. Sendo
assim, a escola prioriza a função de rotular e sancionar desde pequenos os alunos que podem triunfar
na carreira para a universidade.
O autor aponta‑nos outro horizonte da avaliação, muito mais vasto e complexo do que
selecionar os “mais aptos” para a universidade; defende a formação integral do aluno como
a finalidade principal do ensino e esclarece que seu objetivo é o desenvolvimento de todas as
capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas. Dessa forma, a avaliação cumpre outro papel
que não apenas o de avaliar os conteúdos que caem no vestibular, como os conceituais, mas
deve levar em conta, também, os conteúdos procedimentais e “atitudinais” responsáveis pelo
desenvolvimento das capacidades motoras, de equilíbrio e de autonomia pessoal, de relação
interpessoal e de inserção social.
Ao optar pela avaliação integral do aluno, a escola deve estar preparada para uma mudança total
no modo de conceber o ensino e a avaliação, uma vez que seu objetivo não é mais selecionar os mais
aptos e separá‑los daqueles que não podem superar os diferentes obstáculos, mas o de oferecer a cada
estudante a oportunidade de ampliar ao máximo todas as suas capacidades. O sujeito da avaliação nesta
concepção passa a ser múltiplo: o aluno, o professor, o grupo/classe e a equipe de professores; o objeto
passa a ser o processo de aprendizagem e o processo de ensino. Para justificar este olhar pedagógico
amplo, o autor acrescenta:
33
Unidade I
Dentro dessa perspectiva, Zaballa descreve quatro etapas da avaliação, conforme a figura a seguir:
Inicial Reguladora
Final Integradora
Figura 7
Quadro 7
Avaliação inicial: consiste em conhecer o que cada um dos alunos sabe, sabe fazer e é, e
o que pode chegar a saber, saber fazer ou ser, e como aprendê-lo. Nesta avaliação cabe ao
educador responder às perguntas: o que sabem os alunos em relação ao que quero ensinar? Que
experiências tiveram? O que são capazes de aprender? Quais são seus interesses? Quais são seus
estilos de aprendizagem?
Avaliação reguladora: é o conhecimento de como cada aluno aprende ao longo do processo de
ensino/aprendizagem, para se adaptar às novas necessidades que se colocam.
Avaliação final: são os resultados obtidos e os conhecimentos adquiridos ao longo do processo de
ensino/aprendizagem.
Avaliação integradora: refere-se ao informe global da trajetória seguida pelo aluno, as medidas
específicas que foram tomadas, o resultado final e as previsões sobre o que é necessário continuar
fazendo ou o que é necessário fazer de novo.
O autor ressalta que, ao optar por um ensino cujo modelo é centrado na formação integral da pessoa,
a escola precisa realizar mudanças essenciais, de maneira especial nos conteúdos e no sentido da avaliação.
Defende uma concepção construtivista do ensino e da aprendizagem como referencial psicopedagógico,
em que o objeto da avaliação situa‑se mais no processo de ensino/aprendizagem, tanto do grupo/classe
como de cada um dos alunos, do que nos resultados obtidos. Sendo assim, o sujeito da avaliação é tanto
o aluno como a equipe que intervém no processo. Não cabe, nesta concepção, a tradição uniformizadora
que usa a avaliação para selecionar os melhores alunos, ou seja, aqueles que se adaptam a um ensino igual
para todos. Mas cabe ao ensino adaptar‑se às diferenças dos alunos, uma vez que
que cada vez é mais difícil estabelecer propostas universais que vão
além da constatação destas diferenças e singularidades. O fato de
que as experiências vividas constituam o valor básico de qualquer
aprendizagem obriga a levar em conta a diversidade dos processos
de aprendizagem e, portanto, a necessidade de que os processos de
ensino, e especialmente os avaliadores, não apenas os observem, como
os tomem como eixo vertebrador. [...] Quando o ponto de partida é a
singularidade de cada aluno, é impossível estabelecer níveis universais
(ZABALLA, 1995, p. 198).
Tal afirmação, argumenta o autor, baseia‑se no fato de que cada aluno ao chegar à escola traz uma
bagagem determinada pelas experiências que viveu em seu ambiente sociocultural e familiar e por suas
características pessoais. É em razão desta diversidade que
Zaballa alerta que esse conhecimento inicial que o professor consegue obter do aluno não é
algo estático e imutável, mas apenas uma hipótese de trabalho, dada a complexidade do universo
educacional, posto que os alunos são diferentes em cada período, assim também as experiências
educacionais são díspares e não se repetem. Dessa forma, ressalta que um bom plano de intervenção deve
adaptar as variáveis educativas (tarefas, conteúdos, tempos, formas de agrupamento) às necessidades
e possibilidades dos alunos. Uma boa forma de ensinar é introduzir as novas atividades a partir das
respostas positivas dos estudantes ao que lhes está sendo proposto no plano de ensino, para que os
novos desafios sejam adequados ao seu ritmo, de forma que a necessidade de intervenção individual
seja mais contingente. Ou seja, quando há um desafio adequado às possibilidades do aluno, ele não
necessita de um atendimento individual constante, mas tem condições de seguir com intervenções
mais ocasionais. Por isso é fundamental que o professor conheça como cada aluno aprende ao longo
do processo de ensino/aprendizagem, para que ele possa adaptar o ensino às novas necessidades que
se colocam, ou seja, para que promova a avaliação reguladora, conforme proposição de Zaballa e de
outros autores já abordados.
35
Unidade I
Observação
Vê‑se assim que uma abordagem formativa não dispensa a análise de resultados; pelo contrário, esta
análise fornece informações preciosas sobre as aquisições dos alunos e sobre a distância que os separa
das expectativas de aprendizagem para a etapa em que se encontra, de modo a reorientar o ensino.
Observação
36
Avaliação Educacional
Figura 8
Então, podemos concluir que avaliar é necessário para o aperfeiçoamento da prática educativa, cujo
objetivo principal é proporcionar ao aluno meios para que consiga atingir o máximo de competências,
de acordo com suas reais possibilidades. E para melhorar a qualidade do ensino é preciso
Lembrete
37
Unidade I
todo o processo para chegar a determinados resultados (avaliação final). E essa sequência termina com
a avaliação integradora que é uma forma de compreender e estabelecer um juízo de valor do processo
seguido, que continuará com o estabelecimento de novas propostas de intervenção.
As reuniões de conselho de classe são um momento precioso para promover a avaliação integradora
e planejar os encaminhamentos didáticos necessários, para além da mera culpabilização do professor,
do próprio aluno ou da família pelo mau desempenho do aluno.
Zaballa destaca que o ponto de partida para uma boa avaliação formativa é que professores e
alunos compartilhem o mesmo objetivo, que é aquele pelo qual ambos estão na escola: ensinar e
aprender, ou melhor, ensinar a aprender conceitos, procedimentos e atitudes, o que, em sua opinião,
só será possível em um clima de respeito mútuo e colaboração. O autor insiste que, para que se tenha
uma boa informação do grau de aprendizagem e competência dos estudantes, torna‑se necessária
uma observação sistemática de cada um deles enquanto realizam suas atividades. E para reforçar a
importância desta observação lembra que
O autor faz um apanhado histórico do caráter que a avaliação incorporou na prática escolar e
utiliza‑se de uma analogia com o diagnóstico médico para exprimir algumas diferenças fundamentais
nas duas visões. Vejamos:
nós. O peso de um ensino orientado para a seleção contribuiu para uma série
de hábitos, de maneiras de fazer, que configurou a forma de atuar e pensar da
maioria do professorado e, seguindo esta trajetória, o pensamento dos pais e
mães e inclusive dos próprios alunos (ZABALLA, 1995, p. 209).
Essas ponderações do autor sobre os motivos da avaliação levam‑nos a refletir sobre o papel exercido
pela educação escolar ao longo de sua história, principalmente no Brasil. Tal papel não se encaixa mais
com o perfil atual da escola pública de ensino básico, visto que não há mais necessidade de selecionar
para incluir, pois há vagas. Ou seja, o acesso está garantido na maioria das unidades da federação, o que
falta é garantir a permanência com educação de qualidade onde a avaliação representa um meio para
descobrir como melhorar o ensino e a aprendizagem e não um fim em si.
Lembrete
Observação
Zaballa lembra que o referencial básico do processo de ensino e de avaliação são as competências
e habilidades definidas nos objetivos educativos, ressaltando que os alunos serão avaliados pelos
conteúdos de aprendizagem. O autor apresenta então uma tipologia de conteúdos que pode ser útil
para orientar as atividades de ensino‑aprendizagem‑avaliação, conforme descrição a seguir:
O autor lembra ainda que a escola sempre privilegiou os conteúdos conceituais e os factuais, que são
aqueles de conhecimento enciclopédico, e tem como instrumentos de avaliação mais usuais as provas
escritas à mão. Tais instrumentos, ressalta, podem ser adequados aos conteúdos factuais, mas não têm
eficácia quando se trata de conteúdos conceituais ou procedimentais e muito menos quando se referem
aos conteúdos atitudinais (ZABALLA, 1995).
Observação
Avaliar conceitos é uma tarefa que, segundo Zaballa, implica muito mais elaboração didática por
parte do professor. O autor lembra que ainda é comum encontrarmos nas escolas os mesmos modelos de
provas utilizadas nos conteúdos factuais para os conteúdos conceituais, o que leva o aluno a respostas
mecânicas e estereotipadas. Ou seja, é possível que ele memorize uma definição e a repita numa prova
objetiva sem, entretanto, compreender o que está dizendo e muito menos aplicar este conceito em uma
situação real. Um bom exemplo do qual o autor lança mão são os problemas matemáticos que, se não
forem bem elaborados, levam o aluno a utilizar recursos estratégicos para resolvê‑los, como identificar as
variáveis que existem e buscar a forma que as relaciona, sem precisar se esforçar para compreendê‑los.
Na verdade, o que se realiza, neste caso, é a avaliação de uma situação de aprendizagem que não se
sustenta na vida prática em que os problemas são reais como, por exemplo, ao encontrar‑se diante de
um circuito elétrico em que intervêm muitas variáveis, caberá ao aluno compreender primeiro em que
consiste o problema, que variáveis deve levar em conta e quais tem que ignorar. E, infelizmente, nestes
casos, a falta do domínio de um conceito poderá provocar sérios problemas.
O autor deixa claro que realmente não é fácil avaliar a aprendizagem de conceitos pelo simples fato
de que o grau de compreensão de um conceito pode ser, em muitos casos, limitado, pois o conhecimento
que se tem dele pode ser mais profundo ou superficial, o que torna difícil dizer se a aprendizagem
neste caso foi concluída. Portanto, é necessário que o professor determine o grau de conceitualização
que espera do aluno, o que implica a necessidade de elaborar atividades que possibilitem aos alunos
demonstrar o que entenderam e utilizar adequadamente os conceitos aprendidos. Neste sentido, vale
enfatizar que a definição literal de um conceito não garante o seu domínio, uma vez que
[...] num trabalho culto, todos nós somos capazes de utilizar termos de
grande complexidade conceitual, corretamente [...]; mas se tivéssemos que
defini‑los, nos encontraríamos diante de uma situação bastante complicada.
40
Avaliação Educacional
As considerações feitas pelo autor sobre a complexidade de se avaliar os conteúdos conceituais são
acompanhadas de algumas sugestões de tipos de atividades que podem ser mais adequadas para se
conhecer o grau de compreensão destes conteúdos, tais como:
• propor a resolução de problemas (no caso de disciplinas como matemática e física) de temas
anteriores e outros que ainda não tenham sido trabalhados e acrescentar mais informação do que
a necessária para resolver o problema de forma que se assemelhe a uma situação real na qual o
aluno terá que se esforçar para solucioná‑lo. Isso porque nas situações reais os problemas nunca
aparecem identificados como nos enunciados dos livros didáticos;
• observar o uso dos conceitos em trabalhos de equipe, debates, exposições e, sobretudo, diálogos
para avaliar o verdadeiro domínio do termo e buscar o meio mais adequado para oferecer a ajuda
de que cada aluno precisa;
• pedir ao aluno que explique o que entendeu do tema ou conceito, com suas próprias palavras e
exemplos pessoais, e depois que faça o mesmo utilizando os termos científicos;
• propor exercícios que consistam na resolução de conflitos ou problemas a partir do uso dos conceitos.
Para Zaballa, só é possível avaliar a aprendizagem dos conteúdos procedimentais por meio da
aplicação destes conteúdos em atividades práticas, nas quais o aluno possa demonstrar o que sabe fazer,
preferencialmente em atividades abertas, que permitam um acompanhamento atento e sistemático do
professor.
Algumas competências dos alunos só podem ser avaliadas durante a ação, como verificar em
geografia se o aluno sabe se orientar no espaço, ou, em português, se ele possui competência linguística,
que pode ser avaliada em situações práticas como um seminário, um debate, a encenação de uma
peça teatral ou a produção escrita respeitando os diferentes gêneros textuais, ou quando demonstra
conhecer as etapas na realização de um trabalho de pesquisa (ZABALLA, 1995).
41
Unidade I
Para se avaliar os conteúdos atitudinais, explica Zaballa, há uma complexidade maior do que em
relação aos conteúdos conceituais e procedimentais. O autor lembra que, historicamente, a escola
tendeu a menosprezar estes conteúdos uma vez que a avaliação escolar tradicional sempre teve uma
função de sancionar o aluno, por meios quantitativos, convencendo‑nos a acreditar na veracidade de
suas afirmações por serem matematicamente comprovadas.
O autor ressalta que as dificuldades que os professores têm em realizar a avaliação dos conteúdos
atitudinais derivam da falta de instrumentos científicos, objetivos. Cita a questão da subjetividade
para exemplificar que esta afeta também a avaliação dos demais conteúdos, o que faz com que dois
professores possam atribuir valores diferentes em relação às competências do mesmo aluno. Um bom
exemplo disto é quando são avaliadas as produções textuais dos alunos. Tais considerações levam‑nos à
seguinte questão: é realmente possível e necessário que uma instituição de ensino avalie os conteúdos
atitudinais?
Observando que os princípios e fins da educação nacional, presentes na LDBEN, pregam que a
educação deve ser inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana e que
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho, cabe à instituição escolar zelar pelo desenvolvimento da autonomia,
da ética e da cidadania. Assim sendo, fica claro que os conteúdos atitudinais devem ser avaliados de
forma que o educador possa descobrir se está realmente cumprindo sua missão de ensinar a aprender,
a conviver e a ser, ou seja, conceitos, procedimento e atitudes.
observação
No trecho a seguir, Zaballa mostra a importância de, antes de avaliar os conteúdos atitudinais
desejáveis nos estudantes, prever situações de aprendizagem que possibilitem a aquisição desses
conteúdos. Para ele,
Com estas considerações, o autor lembra o importante papel que têm os conteúdos atitudinais na
formação da pessoa, em suas várias dimensões, e da sociedade que se deseja para o país. Oportunizar
momentos para que o menino e a menina possam se posicionar e confrontar seu ponto de vista com o dos
outros, nas diversas áreas do conhecimento, certamente contribuirá para formação de sua identidade.
Para se avaliar os avanços nas aprendizagens de conteúdos atitudinais, Zaballa propõe a observação
sistemática do estudante quanto às suas opiniões, atuações no grupo de trabalho, na distribuição das
tarefas e responsabilidades, nos debates, nas visitas, excursões, nos momentos de lazer, nas atividades
esportivas, entre outras.
• a informação tem que ser igual para todos? Ou seja, é necessário passar uma informação de um
único modo, independente de seu destinatário e do uso que será feito dela?
Para Zaballa, essas perguntas são necessárias para entendermos a real importância do conhecimento
dos resultados da aprendizagem. Diferentemente, na tradição escolar, essas informações são feitas da
mesma forma tanto para o aluno, como em classe, para os pais ou para a administração, com uma
função de seleção. Enfocaremos a seguir a visão do autor em relação ao que interfere, neste processo
informativo, para responder às questões mostradas anteriormente.
De acordo com o autor, a resposta à pergunta sobre o que se deve informar depende da concepção
que temos da aprendizagem e da função social que atribuímos ao ensino. São essas concepções que
irão determinar o papel que os informes devem ter segundo os destinatários da avaliação. No quadro a
seguir identificamos os pontos principais de cada concepção de avaliação.
43
Unidade I
Quadro 8
A preocupação do autor com os informes e seus destinatários tem como pano de fundo o sentido do
trabalho educacional, que deve guiar as ações do ensinar e aprender, não sendo, portanto, contrário à
informação do desempenho escolar para a sociedade em geral, desde que essa não seja utilizada como
filtro que seleciona os alunos desde o início da sua escolarização. O autor argumenta que
44
Avaliação Educacional
Zaballa propõe que os informes dos resultados educacionais não se limitem aos resultados, mas
que também abordem o processo seguido pelo aluno. Os informes devem atender ao interesse dos
destinatários, ou seja, o que, por que e como o aluno precisa ficar sabendo do seu desenvolvimento
educacional, e isso se aplica aos seus familiares, à escola e à administração. Para o autor, é necessário
compreendermos que o ato de informar o estudante sobre suas aprendizagens é um exercício de ensino/
aprendizagem com mais incidência na sua formação.
Quadro 9
45
Unidade I
Sobre os informes à administração, Zaballa expõe sua preocupação quanto às incoerências entre as
orientações à escola para uma avaliação formativa e como são interpretados e utilizados os resultados
em larga escala pelos órgãos centrais.
Observação
Quanto ao que fazer com as informações, algumas iniciativas governamentais utilizam os resultados
das avaliações externas (SAEB, Prova Brasil, SARESP) como único indicador para bonificação dos
profissionais da educação, por exemplo. Tal uso funciona, de fato, como prêmio e castigo e, o mais
preocupante, não se levam em conta outros fatores como resultados das avaliações institucionais,
internas e externas, assiduidade dos professores e equipe escolar, entre outros, utilizando assim, um dado
numérico como síntese de todo o trabalho educacional. Pode‑se considerar essa sistemática um contra
exemplo às ações do professor em sala de aula, que podem investir, por homologia, na recompensa
como principal recurso pedagógico, e isto é contrário a toda e qualquer iniciativa de formação e
desenvolvimento de uma autonomia responsável e da participação ativa do aluno.
Saiba mais
46
Avaliação Educacional
Zaballa conclui esse trabalho com uma síntese das questões mais importantes, a serem consideradas
pelo professor na condução de uma avaliação formativa. São elas:
• definição de objetivos específicos que atuam como referencial concreto da atividade avaliadora,
que a façam menos arbitrária, mais justa e útil;
• auxílio aos alunos para que alcancem os critérios que lhes permitam a autoavaliação.
Além de considerar estas questões, o autor aponta a dimensão subjetiva da avaliação, tão presente
e tão importante na relação pedagógica. Para ele é necessário ter presente que
Para que o professor possa conhecer o que aluno aprendeu, é necessário que planeje e aplique
instrumentos que lhe permitam a obtenção de dados a serem considerados para tomar decisões quanto
ao ensino e para orientar o aluno.
Observação
• deve recair sobre amostras dos resultados alcançados (as amostras devem ser extensas e
representativas);
• exige técnicas variadas e instrumentos diversos adequados aos objetivos propostos para garantir
a validade dos dados obtidos;
47
Unidade I
Para se obter dados que evidenciem as aprendizagens realizadas pelos alunos, é necessário
(HAYDT, 1995):
• selecionar o instrumento que se preste à coleta dos dados referentes ao objetivo proposto.
Ainda de acordo com Haydt a seleção das técnicas e dos instrumentos depende:
• do número de alunos;
Para que a avaliação seja útil ao levantamento de informações sobre as aprendizagens realizadas
pelo aluno e sobre suas dificuldades, é necessário rigor técnico na elaboração de instrumentos de forma
que apresentem as seguintes características (HAYDT, 1995):
• Objetividade: embora não se possa eliminar a dimensão subjetiva, o instrumento deve ser
elaborado de forma que reduza a interferência do ponto de vista do avaliador, recomendando‑se
que as questões sejam apresentadas de forma clara e precisa e que o avaliador organize previamente
uma chave de correção.
48
Avaliação Educacional
Mesmo com todo o rigor na elaboração dos instrumentos, há fatores que interferem na fidedignidade
ou precisão de um instrumento (HAYDT, 1995). A saber:
• as condições físicas e psicológicas do indivíduo;
• as condições inerentes ao próprio instrumento de medida;
• número de itens (extensão do teste);
• a natureza da amostra (qualidade de cada pergunta ou item).
Observação
• Método das formas paralelas ou equivalentes: repetição do mesmo teste, de outra forma,
mas equivalente à primeira (os testes podem ter questões diferentes, mas devem ser sobre as
mesmas áreas abordadas na primeira aplicação e com o mesmo grau de dificuldade para se obter
o coeficiente de equivalência).
Observação
As questões objetivas são aquelas que não admitem múltiplas interpretações, devendo o aluno
escolher uma das alternativas propostas como sendo a resposta correta. Devem ser elaboradas de forma
contextualizada, podendo ser de diferentes tipos, conforme descritos a seguir:
1 – Questões de lacunas:
Trata‑se de questão de resposta curta que apresenta uma proposição incompleta, a qual o aluno
deverá completar corretamente. Serve para avaliar conteúdos factuais.
49
Unidade I
Deve‑se evitar:
• muitas lacunas na mesma questão (deve‑se deixar lacunas apenas para palavras significativas
da afirmação);
• sinais que possam ser indicadores da resposta como artigos e pronomes, bem como o tamanho do
espaço em branco;
2 – Questões de falso/verdadeiro:
Observação
Deve‑se evitar:
• certos termos indicativos, como nunca, sempre, todos, geralmente, possivelmente, às vezes;
• afirmações ambíguas;
• afirmações tão óbvias que não precisem ser trabalhadas ou que não exijam nenhum tipo de
raciocínio do aluno;
• linguagem complexa;
50
Avaliação Educacional
Complementação simples:
As questões podem ser formuladas por meio de uma pergunta ou de uma sentença incompleta. As
escolhas devem vir no fim, ou quase no fim, da sentença incompleta.
Saiba mais
As questões dissertativas servem para avaliar a área afetiva e cognitiva. Avaliam a capacidade de
síntese (seleção, relação, organização das ideias em torno de um tema).
Recomendações:
• Limite e defina a liberdade do aluno ao responder à questão de dissertação, de acordo com critérios
prévios.
Questões do tipo “o que pensa você sobre” ou “em sua opinião” servem para avaliação da área afetiva
(atitudes, ideais e preferências do aluno).
4 Observações e registros
51
Unidade I
propósito, é necessário que o professor se guie por uma pauta de observação previamente organizada
de acordo com os conteúdos, habilidades e competências que deseja identificar.
É importante considerar que cabe ao aluno selecionar que momentos e trabalhos são representativos
de seu percurso, estabelecendo relações entre esses trabalhos, avaliando sua própria aprendizagem, por
meio do registro de suas reflexões sobre a relevância de cada trabalho e sobre o que foi possível aprender
com sua realização, configurando um processo de metacognição que responsabiliza o aluno por sua
aprendizagem e avaliação.
lembrete
A avaliação do portfólio permite não só aos alunos mas também aos professores que reflitam sobre
o progresso dos estudantes, possibilitando a introdução de mudanças durante o desenvolvimento do
projeto ou das unidades de ensino de forma contextualizada.
• deve ser organizado em ordem cronológica para permitir que o aluno se compare com ele, por
meio de uma análise que considera o ponto de partida, o percurso e o ponto de chegada;
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Avaliação Educacional
Por último, ressaltamos a importância dos comentários do professor sobre as produções constantes
do portfólio, com informações que (re)orientem o processo de aprendizagem e informem possíveis
lacunas dos alunos para que se mobilizem para aprender.
Resumo
Abordagem formativa
Abordagem mediadora
Princípios:
Erro construtivo
Etapas da avaliação
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Avaliação Educacional
Instrumentos de avaliação
Exercícios
Questão 1. Leia a descrição da prática da professora Rosa sobre reprodução de formas planas e
relações entre formas e responda à questão 1:
Inicialmente, a professora Rosa entregou aos alunos uma folha de papel quadriculado e uma cópia
da figura abaixo. Em seguida, propôs que a garotada reproduzisse individualmente o modelo fornecido
na folha quadriculada de tal maneira que, ao terminar, o original e a cópia coincidissem ao serem
sobrepostos. Enquanto os alunos resolviam a questão, circulou pela sala para observar e anotar as
estratégias que eles utilizavam. Na etapa seguinte, selecionou alguns trabalhos, dando preferência
àqueles que representavam uma dificuldade generalizada da turma, para analisar com ela o que ocorreu
durante a reprodução do modelo. Propôs uma discussão sobre as características da figura-modelo e
como eles reconheciam os elementos que deviam ser considerados na cópia. Deu especial atenção
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Avaliação Educacional
à maneira como os estudantes se comunicavam, vendo se eles utilizavam as palavras “lados”, “lados
iguais” ou “quatro pontas”, pois essa linguagem pode ser aproveitada como ponto de partida para a
produção de novos conhecimentos.
A) Classificatória - comportamentalista;
B) Mediadora – construtivista.
C) Somativa – construtivista.
D) Informal – tradicional.
E) Propedêutica – tradicional.
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Alternativa A: incorreta.
Justificativa: a alternativa A não está coerente com as características da prática da professora Rosa
porque a avaliação classificatória tem a finalidade de apontar a posição que o aluno ocupa em relação
à aprendizagem do grupo classe e decidir sobre sua promoção ou reprovação, sob uma perspectiva
tradicional de avaliação segundo a qual aprender significa reproduzir o conhecimento de acordo com
algum modelo.
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Unidade I
Alternativa B: correta.
A professora solicitou tarefas individuais que não permitem entender as razões das respostas dos alunos.
Alternativa C: incorreta.
Justificativa: a alternativa C não está coerente com as características da prática da professora Rosa
porque a avaliação somativa tem a finalidade de aferir apenas os resultados da aprendizagem, sendo
esta uma finalidade incoerente com a abordagem construtivista que considera todo o processo de
construção de conhecimento pelo aluno.
Alternativa D: incorreta.
Justificativa: a alternativa D não está coerente com as características da prática da professora Rosa
que ocorre em um contexto formal de aprendizagem e apresenta características construtivistas.
Alternativa E: incorreta.
Justificativa: a alternativa E não está coerente com as características da prática da professora Rosa
porque a descrição mostra uma preocupação com a construção do conhecimento pelo aluno e com o
significado da aprendizagem e não apenas uma preocupação propedêutica de preparação para estudos
futuros como em uma abordagem tradicional.
Questão 2. A análise das relações entre escola e sociedade, sob uma perspectiva dialética, requer o
entendimento:
I - De que a escola é fator de equalização social, ou seja, de superação das desigualdades sociais.
II - Da escola e da sociedade como espaços de contradição com diferentes possibilidades de ação que
podem tornar a escola capaz de influenciar a sociedade e não apenas ser determinada por esta.
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Avaliação Educacional
III - De que a escola cumpre o papel de reproduzir as relações sociais capitalistas baseadas na divisão
das classes, mantendo a desigualdade social.
IV - De que a sociedade determina a escola, que se torna impotente diante das desigualdades sociais.
Alternativa A: incorreta.
Justificativa: a alternativa A diz respeito ao item I que apresenta uma visão liberal da escola e sociedade
que considera que a escola em si mesma é fator de superação de desigualdade, não considerando os
determinantes sociais e econômicos que interferem no destino social do indivíduo.
Alternativa B: correta.
Justificava: uma perspectiva dialética das relações entre escola e sociedade rejeita uma visão
reprodutivista segundo a qual a escola apenas reproduz as desigualdades, bem como rejeita uma visão
não crítica de que a escola em si tem o poder de transformar as estruturas geradoras das desigualdades.
Essa perspectiva reconhece os limites da escola como fator de transformação social, mas também as
possibilidades de se constituir em espaço formador capaz de influenciar a sociedade em direção à justiça
social.
Alternativa C: incorreta.
Justificativa: a alternativa C, além do item I, apresenta o item III e IV que afirmam uma concepção
reprodutivista da escola que não reconhece qualquer influência da escola na transformação das
estruturas geradoras de desigualdade social.
Alternativa D: incorreta.
Justificativa: a alternativa D apresenta o item II correto, mas também o item IV que contém uma
visão reprodutivista tornando esta alternativa incoerente.
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Unidade I
Alternativa E: incorreta.
Justificativa: a alternativa E apresenta apenas o item IV que afirma uma concepção reprodutivista
da escola que não reconhece qualquer influência da escola na transformação das estruturas geradoras
de desigualdade social.
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