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Coleção Cinema para Todos

Apostila
Videointeratividade
Volume II
Coleção Cinema para Todos

Apostila
Videointeratividade
Volume II

julho 2013
Governador Sérgio Cabral INSTITUTO CULTURA EM MOVIMENTO – ICEM
Vice-Governador Luiz Fernando de Souza Pezão Diretora do ICEM Luciana Boal Marinho
Secretária de Estado de Cultura Adriana Scorzelli Rattes Coordenadora do Programa Tatiana Maciel
Secretário de Estado de Educação Wilson Risolia Rodrigues Gerente de Produção Renato Herzog
Comunicação Institucional Flavia Salgado

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO


Subsecretário de Gestão da Rede de Ensino Antonio José Vieira de Paiva Neto APOSTILA VIDEO INTERATIVIDADE
Subsecretário Executivo Amaury Perlingeiro do Valle CONCEPÇÃO Maria Pereira
Subsecretário de Gestão de Pessoas Luiz Carlos Becker Junior DESENVOLVIMENTO E PESQUISA DE CONTEÚDO Julia Bernstein / Maria Pereira /
Subsecretário de Recursos e Infraestrutura Zaqueu Soares Ribeiro Nina Ulup / Paulo Mainhard / Rodrigo Savastano / Tatiana Azevedo
Superintendente Pedagógica Claudia Raybolt REVISÃO Isabel Ostrower
Diretora de Integração Educacional Inês dos Santos da Silva COLABORAÇÃO Adriana Carneiro / Clara Martins / Marcio Pestana /
Coordenadora de Esportes, Cultura, Protagonismo Juvenil e Escola Aberta Rafael Bacelar / Vinicius Azevedo
Cíntia Aparecida Garcia Rodrigues PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Místico Solimões Design

SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA


Subsecretária de Relações Institucionais Olga Campista
Subsecretário de Planejamento e Gestão Mario Cunha
Superintendente do Audiovisual Julia Levy
Coordenadora de Difusão e Acesso Fátima Paes
Gerente de Difusão e Acesso Adriana Carneiro

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Caros alunos e professores,

Quando, em 2008, iniciamos uma parceria entre as Secretarias de Cultura e de Educação apostando no
poder enriquecedor da experiência do cinema no ambiente escolar, a partir da distribuição de vales-ingresso
entre alunos e professores da rede estadual de ensino, apenas intuíamos o quão produtiva poderia ser essa
união de forças.

Cinco anos depois, o PROGRAMA CINEMA PARA TODOS já levou mais de um milhão de alunos, professores e
familiares ao encontro dos múltiplos retratos do Brasil na telona. Além disso, desdobrou a relação cinema-educa-
ção em ações que têm adquirido fôlego cada vez maior e constituído parte essencial do Programa.

Os Encontros Pedagógicos - Cinema e Educação, as Oficinas de VideoInteratividade e, mais recentemente, o


Circuito de Cineclubes nas Escolas são as ações que, ao ampliar o acesso à cinematografia nacional e interna-
cional, têm possibilitado o exercício da cidadania, formando novos hábitos e repertórios culturais entre alunos,
professores e comunidade escolar.

Os Cadernos do CINEMA PARA TODOS são o desdobramento natural do trabalho que desenvolvemos até agora.
Seus três volumes - que podem também ser baixados do site do Programa (www.cinemaparatodos.rj.gov.br) -
pretendem dar condições de aprofundamento da relação entre cinema e educação no trabalho do aluno e do pro-
fessor em sala de aula, contribuir para a relação da comunidade escolar com as novas tecnologias e, finalmente,
estimular o desenvolvimento, em toda sua potencialidade, da atividade cineclubista nas escolas.

Que as informações aqui reunidas tenham o poder de desencadear novas percepções e diálogos entre alunos e
professores, é o nosso maior desejo!

Adriana Rattes Wilson Risolia


Secretária de Estado de Cultura Secretário de Estado de Educação
S u má rio

Apresentação.........................................................................7 [6] Montagem ou Edição.......................................................79

Introdução.............................................................................11 [7] Difusão............................................................................88


[7.1] Festivais e Mostras..................................................90
[1] Seres Audiovisuais...........................................................12
[7.2] Canais de vídeo online.............................................91
[2] A linguagem do cinema....................................................20 [7.3] Cineclubes..............................................................92
[7.4] Ações de guerrilha!..................................................98
[3] Desenvolvendo o tema: a pesquisa no documentário.......34
[8] Pra continuar ligado.........................................................99
[4] O roteiro, ou construindo a narrativa.................................37 [8.1] Filmes...................................................................100
[4.1] Tema.......................................................................39 [8.2] Livros....................................................................107
[4.2] Sinopse...................................................................39
[4.3] Argumento...............................................................40 Anexos...............................................................................109
[4.4] Escaleta..................................................................41
Iconografia.......................................................................... 114
[4.5] Roteiro.....................................................................42

[5] A Filmagem.....................................................................46
[5.1] Produção................................................................46
[5.2] Fotografia.................................................................50
[5.3] A arte, ou criando o visual das cenas ......................69
[5.4] O Som....................................................................71
[5.5] Direção....................................................................76
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Ap r e s e n t a ç ã o

O PROGRAMA CINEMA PARA TODOS foi concebido pela Secretaria de


Cultura em parceria com a Secretaria de Educação. Faz parte dos seus
objetivos: incentivar a formação cultural do público da rede estadual de Mais de 1 milhão
ensino, valorizando e interagindo com suas atividades educacionais re- de vales utilizados!
gulares, a partir do diálogo entre cinema e educação e da ampliação do
acesso ao cinema brasileiro.

Para tanto, uma de suas ações principais é possibilitar, através da distri- vale-ingresso
buição de vales-ingressos, a ida dos alunos e professores da rede pública
800.000
estadual às salas de cinema conveniadas ao Programa para assistir a fil- expectadores
mes brasileiros, possibilitando também a aproximação deste público com previstos
o mundo cinematográfico em debates com diretores e elenco, além de
atividades extras e da distribuição de textos de apoio.
501.607
expectadores
Alunos e professores podem também travar contato com uma série de
filmes estrangeiros selecionados por sua relevância cultural e pedagógica,
em sessões previamente agendadas. 157.000
expectadores
Desde sua primeira edição, em 2008, o CINEMA PARA TODOS levou mais
de um milhão de pessoas, entre alunos, professores e seus convidados,
aos cinemas distribuídos nos 27 municípios do Estado do Rio de Janeiro
1ª edição 2ª edição 3ª edição Soma das
que possuem salas de exibição. Parte expressiva desse público foi ao 3 edições
cinema pela primeira vez.

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Com o objetivo de aumentar os espaços de exibição audiovisual do es-
tado, o CINEMA PARA TODOS deu início, em 2012, ao CIRCUITO DE BOM JESUS
DO ITABAPOANA
CINECLUBES que, realizado nas escolas da rede, representa a expansão
do Programa para mais 23 municípios atendidos diretamente.

LAJE DO MURIAÉ ITAPERUNA


SÃO FRANCISCO
DE ITABAPOANA

Legenda
CARDOSO MOREIRA
CAMBUCI
Com salas de cinema SANTO ANTÔNIO
SÃO FIDÉLIS
DE PÁDUA SÃO JOÃO DA BARRA
27 municípios ITAOCARA

Circuito Cineclubes
30 municípios CAMPOS DOS
GOYTACAZES
CANTAGALO
SAPUCAIA CORDEIRO

TRÊS RIOS
VALENÇA
TERESÓPOLIS NOVA FRIBURGO
MIGUEL MACAÉ
VASSOURAS PEREIRA
BARRA DO PIRAÍ PETRÓPOLIS
CACHOEIRAS
ENGENHEIRO DE MACACU RIO DAS OSTRAS
RESENDE PAULO DE FRONTIN
BARRA
VOLTA MANSA DUQUE DE CAXIAS
NOVA IGUAÇU
REDONDA MAGÉ
QUEIMADOS TANGUÁ
PARACAMBI
SEROPÉDICA BELFORD ROXO SÃO JOÃO DE MERITI
RIO CLARO ARARUAMA IGUABA
ILHA DO GOVERNADOR GRANDE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
ITAGUAÍ NILÓPOLIS SÃO GONÇALO
ANGRA NITERÓI
SANTA CRUZ
DOS REIS MARICÁ
RIO DE JANEIRO

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Outros 40 municípios que não contam com salas de cinema têm parti-
cipado do Programa, seja pela participação em sessões agendadas em
municípios vizinhos, seja pelos ENCONTROS DE CINEMA-EDUCAÇÃO,
voltados à aproximação do professor às inúmeras possibilidades da expe-
riência com o cinema; ou pelas OFICINAS VIDEOINTERATIVIDADE, exercí-
cio coletivo de produção audiovisual a partir das novas tecnologias.

O site www.cinemaparatodos.rj.gov.br é a linha direta entre a equipe que


realiza o programa e os alunos e professores da rede estadual. Lá, você
encontra o detalhamento de cada ação, todos os materiais pedagógicos
produzidos para download, além da programação dos cinemas convenia-
dos. Ficar de fora não está no roteiro!

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10
In t rod u çã o
Bem-vindo e bem-vinda, Sobre a apostila
Estamos aqui para te levar, em tinta e ao vivo, a cores e em imagens em mo- Essa apostila vai te ajudar ao longo da jornada. Nela você vai encontrar dicas
vimento, para o universo dos audiovisuais! e toques para produzir seus filmes e conhecer algumas técnicas e códigos da
linguagem audiovisual usadas por cineastas mundo afora.
Hoje vivemos um momento muito especial dessa história das comunicações
e você está no meio dela - conectando informações e bens culturais em al- Ela foi feita a muitas mãos, numa tentativa de dar espaço para a bagagem e
tíssima velocidade, e com pleno potencial para trocar suas experiências em gostos de todo mundo envolvido com o VideoInteratividade em 2012. Por isso,
imagens, textos e sons com gente do outro lado do mundo! você pode notar que algumas partes puxam mais para um tom e outras se
organizam em estrutura um pouco diferente. Mas a proposta é essa mesmo.
O objetivo do VideoInteratividade é te instigar a falar através de imagens em Afinal, cada um tem seu jeito de escrever, criar e pensar o cinema, e você
movimento usando as ferramentas que estão ao seu alcance, e a ser mais pode se identificar mais com um jeito do que outro.
perspicaz na hora de escolher e assistir a um filme. Esperamos, com isso, que
você ganhe mais autonomia e desprendimento para viajar por aí e consiga Nesse processo colaborativo, acabamos detalhando mais alguns aspectos
botar as suas ideias e sentimentos na roda quando quiser! e deixando outros apenas pincelados, mas o principal para nós foi mostrar
que existem várias formas de fazer e ver o audiovisual. Procuramos focar no
O documentário é o nosso caminho, pois, como você vai ver, o limite do documentário, dado o objetivo do VideoInteratividade, mas falamos também
registro da realidade é a sua imaginação. Pesquisar, questionar, inventar e de ficção, diferenciando os dois quando vimos necessidade. Outra escolha
representar a vida... toma cuidado, isso vicia, hein!? Em breve você vai querer foi desenvolver mais longamente a parte de Fotografia, por considerarmos
sair filmando tudo! E não adianta dizer que não tem meios para produzir, ou especialmente relevante aqui no nosso contexto.
que não tem onde mostrar – o mundo mudou e as tecnologias estão aí para
serem usadas e abusadas. Enfim, esperamos que você embarque na aventura e siga explorando pelos
livros, filmes e cursos indicados!

ar filmes, porque o cinema é para


Fique liga do: a hora é de fazer e pens
do padre!
todos e quem chegar por último é mulher

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vis u a is
1[ ] Seres Au d io

É, caro leitor, a invenção do cinematógrafo, no fim do século XIX, foi o


início de uma complexa relação que criamos com este negócio chamado
audiovisual. Então, vamos rebobinar a fita rapidinho e recapitular as princi-
pais transformações ao longo da história para você entender melhor onde
estamos hoje...

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Vamos explorar esta
linha do tempo?

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1895 – Invenção do cinematógrafo Já nessa época havia pessoas como George Meliés que começavam a
fazer experimentações com esse novo brinquedinho instigante que era a
Em uma das primeiras projeções públicas com o cinematógrafo, realizada produção de imagens em movimento. Meliés pode ser considerado, em
pelos irmãos Lumière, a imagem em movimento de um trem certo sentido, o pioneiro dos efeitos especiais.
seguindo na direção da câmera causou grande surpresa.
Os espectadores acharam que seriam de fato atropelados
e muitos correram para se desviar do trem. Quando 1910/20 - D.W. Griffith
este grande invento foi mostrado, ninguém
sacou as possibilidades revolucionárias da- O cineasta norte-americano D.W. Griffith cria uma gramática que é utilizada
quilo, tratavam mais como uma curiosidade até hoje no cinema e que vai inspirar todas as gerações que vêm depois.
científica e chamavam as experiências au- Ele cria a ideia de subdivisão da cena em planos, utilizando dentro da
diovisuais de “vistas animadas”. mesma cena vários pontos de vista. Essa sacada, como vocês poderão
ver, atravessa o cinema até os dias de hoje. Plano? Cena? O que isso tem
a ver com pontos de vista? Aos poucos a gente chega lá.
1898 – Dia do cinema brasileiro

Rapidinho já estavam no Brasil com uma máquina daquelas! Diz a lenda 1920 – Cinema com música ao vivo
que foi o italiano Afonso Segreto que, em 19 de junho de 1898, fez "Vista
da baia da Guanabara" quando chegava de navio da Europa - sete meses Com o tempo, o cinema foi ficando importante e até con-
depois da primeira exibição do cinematógrafo em Paris. Esta data é consi- quistou um certo glamour. O lugar ou tenda onde se pro-
derada o Dia do Cinema Brasileiro. jetavam os filmes dentro dos parques de diversões
ganhou bastante espaço, muitos assentos fixos
e até um nome, virou Cinema. Bem, mesmo
1900 – Cinema mudo e PB com espaço garantido, os filmes ainda eram
todos mudos e as sessões muitas vezes eram
Poucos anos depois, o cinema começa a se tornar mais uma das diver- acompanhadas por um pianista que tocava ao
sões da época. Os filmes eram mudos, preto e branco, o formato da tela vivo, dando o clima sonoro de cada cena ao
era quadrado e o lugar para assisti-los era nos circos e parques mundo respeitável público. Imagina só!
afora! Ficava naquela tenda logo ali, atrás da barraca do mágico, entre o
homem mais forte do mundo e a mulher barbada.

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1920/30 – Cinema na Rússia 1922 – O primeiro documentário?

E os russos revolucionam o cine- Nessa mesma época, o inglês Robert Flaherty faz o filme Nanook, o Es-
ma mundial! Por um lado, Sergei quimó, considerado por muitos o primeiro documentário. Nele, o esquimó
Eisenstein – considerado até hoje ator Nanook e sua família fazem o papel de si mesmos, encenando para
o pai da montagem –, muito inspi- a câmera de Flaherty o seu dia-a-dia. Flaherty é o autor, junto com John 1950 – TV no Brasil
rado nas descobertas de Griffith, Grierson, do termo documentário.
cria o que chamamos de “monta- Nos anos 50 foram feitas as primei-
gem intelectual”. Essa teoria abre ras transmissões de televisão no
o leque de possibilidades e amplia 1930 – Cinema com som Brasil. No começo da TV, tudo era
os horizontes da gramática cine- produzido como um grande teatro
matográfica, ao propor relacionar Mais tarde, quase ali nos anos 30, o com câmeras ao vivo. Imagens em
imagens através do que elas signifi- som chegou para acompanhar as fil- preto e branco e sons mono iam
cam como símbolo, e não baseado magens e as projeções dos filmes, e das antenas de transmissão das
numa continuidade de espaço e tudo mudou novamente! Foi a época emissoras diretamente para as ca-
tempo. Por outro, Dziga Vertov traz dos musicais e o início de uma gran- sas dos telespectadores e, diferen-
a ideia do Cinema Verdade, inaugu- de tradição de filmes com diálogos. te dos filmes, não ficava registro de
rando uma nova forma de fazer e de nada do que foi transmitido. Ainda
pensar a função do cinema. não era possível gravar as imagens
1945 – Cinema nos EUA da TV, o que era mostrado ou era
visto ou perdido.
A partir de 1945, vemos o começo da afirmação do cinema norte-ame-
ricano sobre o resto do mundo. Afinal, eles ganharam a Segunda Guerra ‘Mono’ significa que o som está apenas
Mundial e agora os aliados e inimigos de guerra os admiravam. Isso não foi em um canal, e não em dois como o estéreo,
a que estamos acostumados hoje.
pouca coisa! Com o cinema, os Estados Unidos exportaram sua cultura,
sua visão de mundo, suas armas, suas marcas! O cinema foi um potente
mecanismo político e econômico, como o audiovisual é hoje, só que
de uma forma bem mais complexa e diluída e inspirou a pro-
cê sa be, mas a ideia qu is
TOQUE : Não se i se vo e sim o rádio, po
do que antes. Como um ex-presidente dos
do in íci o da TV não foi o cinema o pú blic o po r
gramação direta com
EUA disse: “A bandeira norte-americana segue
e teve um a co municação mais s qu e er am a pa rte
atrás dos nossos filmes.” sempr lmente as novela
ao vivo, especia
ser feita tre os ouvintes
s sucesso en
ão que fazia mai . Não é à toa qu
e até
dessa programaç ores da televisão
o e os es pe ct ad as ba sic am ente
do rádi
TV tra zem m uitos program
hoje os canais de 15
música.
falados e/ou de
1960 – Videotape 1970/80 – Video cassete

No fim dos anos 50 e início dos 60, foram desen- No fim dos anos 70, veio o VHS
volvidos gravadores de fitas magnéticas capazes de (Video Home System, ou siste-
armazenar as imagens e o áudio produzidos. Foi o início ma de video caseiro) trazendo
do vídeo! Mas esses equipamentos eram caros, grandes os filmes em fitas eletromagné-
e pesados, por isso eram restritos às emissoras de televisão. ticas para a casa das pessoas.
O formato de gravação/reprodu-
ção profissional das televisões
1950/60 – Cinema de autor era o U-matic, com suas câme-
ras e vídeos imensos. No início
Em resposta à investida norte-americana, surgiu uma série de movimentos dos anos 1980, foi gradualmente
que se contrapunham ao formato do cinema como entretenimento. Para 1970 – Transmissão da TV em sendo substituído pela Betacam,
esses novos cineastas não fazia sentido contar uma história na ordem cores o suprassumo dos sistemas até
linear, ou seguir regras ‘de sucesso’ usadas pela indústria de Hollywood. algum tempo atrás.
A palavra de ordem era inovar e desconstruir as velhas formas. Alguns Nos anos 70, a Copa do México
dos principais movimentos foram a Nouvelle Vague na França e o Neo- em que o nosso Brasil foi tri-cam-
Realismo na Itália. peão mundial com Pelé, Jairzinho, 1980 – Computador pessoal
Tostão, Gérson e companhia já
pôde ser vista e gravada ao vivo e a Na década de 80, uma nova te-
1960/70 - Cinema Novo cores! O televisor começa a se tor- linha entra em nossas vidas: o
nar um produto mais acessível às computador. Diferentemente da
Muito influenciados pelos cineastas da Nouvelle Vague famílias brasileiras e cada vez mais TV, que apenas retransmite um
e do Neo-Realismo, mas buscando uma expressão ci- cobiçado, marcando a era da co- sinal de ondas elétro-magnéticas,
nematográfica brasileira, cineastas como Nelson Pereira municação de massa. Nesse con- ele foi projetado para ser intera-
dos Santos, Glauber Rocha, Leon Hirzman e Joaquim texto, milhões de pessoas em todo tivo e multifuncional. O usuário
Pedro de Andrade criam um movimento chamado Cine- planeta começavam cada vez mais participa, molda, completa e
ma Novo. A forma do Cinema Novo ficou marcada por a compartilhar as mesmas imagens aprofunda o seu computador
uma fotografia que aproveitava a luz natural, a utilização e informações... para uma determinada di-
de não-atores nas encenações e o foco em temáticas reção, alterando peças e
brasileiras e de forte crítica social. programas (hardwares e
softwares), dependendo

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do que faz ou trabalha. E é bem possível que essas particularidades 2000/2012 – Web 2.0 e as novas mídias
sejam as causas da projeção e importância que ele conquistou ao
longo dos últimos anos: a interatividade e a autonomia de nos trans- Bom, e aí chegamos no nosso o computador pessoal vira ilha de
formarmos no que inventamos. tempo, momento atual! As tecno- edição e a máquina fotográfica fil-
logias digitais continuaram avan- ma em full hd! Tudo isso tem aju-
çando cada vez mais rápido e, dado, é claro, no surgimento de
1990 – Tecnologias digitais hoje, encontramos uma quantida- muitos cineastas – profissionais
de enorme de possibilidades para e amadores -, inspirando novos e
Nos 90, a linguagem digital, ba- produzir, distribuir e ver filmes. A variados experimentos com a lin-
seada na combinação de zeros e Internet ganha novos sistemas, guagem, que sempre acham um
uns, inaugura outra revolução nas vira 2.0, e permite que qualquer espacinho para serem mostrados.
formas de se produzir e mostrar pessoa com uma conexão razoá-
filmes. As mídias óticas, como o vel e conhecimento de causa pos-
DVD, chegam com uma qualida- sa trocar músicas, vídeos, fotos,
de de imagem muito superior a do textos e o escambau, com gente
VHS caseiro. do outro lado do mundo. E ainda,
o telefone vira câmera de vídeo,
Já as câmeras digitais abriram novas possibilidades para a edição de ima-
gens e sons. E, ao trabalhar com a mesma linguagem do computador – a
unicações esteja mu-
tal combinação de zeros e uns –, o procedimento da montagem ficou TOQUE : Ainda que o mundo das com
cont inuam detendo muito
muito mais fácil. Isso foi uma grande coisa! Começamos a não depender dando, as grandes corporações
Pra você ter ideia , em 2008 , os Estados
mais de super ilhas de edição lineares. O material gravado podia ser todo poder nessa história!
das troca s de pro-
guardado no computador e não precisava mais ficar gravando Unidos ficaram com 55% do lucro que veio 5%.
Amé rica Latin a com
dutos audiovisuais no mundo, e a esta -
cada sequência de imagens numa fita. ém, 70% das págin as que
Na Internet, em 2008 tamb rar
os. Se quise r explo
vam na rede vinham dos Estados Unid
Foi também na década de 1990 que a internet, esse s dado s, cons ulte a UNE SCO (United Nations for
mais
Cultu re - www .unesco.org), foi
surgida em 1945, conquistou os computa- Educational, Scientifics and
de lá que os troux emo s pra você .
dores do mundo, transformando-se numa
imensa rede labiríntica, organizada atra-
vés dos bits.

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Cada período acima pode parecer simples, mas os passos dessa
estrada significaram uma transformação grande. Ao longo da
história, as pessoas foram construindo preferências, hábi-
tos, memórias e diversas relações com os tantos gêneros
e formatos de filmes, jornais e programas audiovisuais.
Afinal, eles falam da vida e apresentam outras formas de
ser e perceber o mundo, provocam identificação e ins-
tigam a imaginação. Agora, com a transmissão digital, a
Internet, os videogames, a telefonia celular e outros siste-
mas de transmissão de dados super velozes, o audiovi-
sual está cada vez mais dentro das nossas vidas, num
grande número de espaços, telas, formatos, dura-
ções e usos. O poder de comunicação das imagens
– e principalmente das imagens em movimento - ficou
tão grande que talvez tenhamos chegado ao ponto
de duvidar de fatos que não se revelem por essa lin-
guagem. É como se a imagem representasse o compro-
vante da verdade, do que existe. Hoje somos praticamente
seres audiovisuais, e nossos avós com certeza não viram o
mundo com tantos olhos...

que
da televisão,
vé s do ci ne ma, e depois tiv es se sido
r qu e foi atra an tes, talv ez
r di ze e an os r
Creio po de mundo. Vi nt essar-m po e
ec i a vi da e descobri o tiv es se es colhido expr be ça .
conh lvez eu ens na ca
a música, e ta ci com imag
a literatura ou ou do s so ns. Mas cres
lavras
meio das pa ng K ar Wai
Wo

18
Ainda, no ponto em que a tecnologia chegou hoje, você consegue lançar
seus olhares em audiovisual sem tanto investimento e fazer eles rodarem
por aí, mesmo sem o apoio de uma grande empresa de mídia. O principal
passa a ser a criatividade. Ter uma boa ideia e acreditar nela o suficiente
para encarar toda a viagem de botar um filme na rua. Na verdade, não
basta só a ideia: parceiros que partilhem do seu sentimento e estejam
dispostos a embarcar contigo também é fundamental. Afinal, fazer filme,
fazer audiovisual é jogar num time de futebol especial, porque é trabalho
em equipe para contar e mostrar.

Existem várias formas de se conceber um filme. Pode começar por uma


sensação, uma imagem, uma causa, uma trama, uma música... As vezes
parte de uma ideia que se quer defender, outras de imagens que afron-
tam nossos sonhos, outras de mundos que instigam nossa curiosidade...
Enfim, cada um tem seu processo criativo e cada filme pode começar de
uma forma. O que mobiliza a fazer um filme, e a galera que está envolvida,
vai guiar também o processo de brincar com a linguagem do cinema.

ntes autores que você gosta. Então, escolha uma


Exercite! Procure ouvir ou baixar músicas de difere
históri a difere nte para o que está escutando, seguindo os
música de cada autor e tente imaginar uma
re especialmente músicas instrumentais, elas sol-
sons dos instrumentos e o ritmo da bateria. Procu s,
autores de jazz e música clássica: Charles Mingu
tam mais a nossa imaginação... Algumas dicas de to Gismo nti, Bach, Beeth oven,
Vasco ncelos , Egber
John Coltrane, Miles Davis, Hermeto Paschoal, Naná
Mozar t, Lizst, Debussy.

E meus
não sei falar.
Filmo porque uma ponte
rmitem criar
filmes me pe undo.
o resto do m
entre mim e
John Woo Oficina Videointera
tividade

19
e m d o c in e m a
[ 2] A li n g u a g

As imagens em movimento podem se parecer muito com a realidade e provocam uma estranha conexão com Para fazer seus filmes, Méliès de-
nosso imaginário. Conhecemos várias ruas de Nova York sem nunca ter ido lá, sentimos saudades de coisas senvolveu diversas técnicas como
que nunca vivemos, temos imagens até do que nunca veremos de perto - como, sei lá, uma cadeia de DNA, as o stop-motion, a sobreposição, o
crateras da Lua, o fundo do oceano... Mas, para embarcarmos em todos esses mundos, é preciso que o filme fade-in/ fade-out, a fusão, a exposi-
encontre mecanismos e técnicas capazes de nos levar até lá. Esse é o estudo da Linguagem Cinematográfica, ção múltipla de imagens, o uso de
nome pomposo que quer dizer isso: os códigos e técnicas usados para o filme se comunicar com o público, ou maquetes, os truques óticos e de
bem, as formas de se criar e combinar sons e imagens em movimento gerando um sentido. Os jeitos de se falar montagem, além de apropriar-se de
nessa linguagem – filmar, criar soluções narrativas, montar, etc. – geram estilos, estéticas que ao mesmo tempo uma técnica narrativa baseada em
representam e influenciam a cultura de cada um. grandes cenários e figurinos de
ópera. As experiências de Méliès
Um dos primeiros sujeitos a perceber as possibilidades de truques e ilusões do cinema foi Georges Méliès, um foram desenvolvidas depois por
mágico, ilusionista de Paris, que logo comprou um cinematógrafo e construiu o primeiro estúdio cinematográfico David Wark Griffith, cineasta norte-
da Europa. Chaplin o considerava um "alquimista da luz". Suas produções de incríveis curtas mágicos começa- americano, considerado o pai da
ram em 1896 e só acabaram em 1913, com a Primeira Guerra Mundial. linguagem cinematográfica.

clarar sobr e Méliès:


Griffith chegou a de
“a ele tudo de vo”.

A produção mais conhecida de Mél


iès, A viagem à lua, talvez
seja o primeiro filme de ficção cien
tífica da história... No site
www.archive.org você pode encontr
ar uma cópia para down-
load, sob a licença “Creative Com
mons license: Public Domain”.

20
A viagem à lua, de Georges Méliès
Griffith foi autor do primeiro longa-me- cortes, ou seja, não há necessida-
tragem norte-americano, datado de de de mostrar uma cena apenas
1915 – O Nascimento de uma Nação com uma imagem, mas cortando
–, refinando as técnicas de filmagem, de um plano para outro.
montagem e métodos narrativos. Ele
marcou o nascimento da indústria À parte a ideia de planos e cor-
de cinema norte-americana. Neste tes – beabá da linguagem audio-
longa-metragem encontra-se tudo visual – as tais montagem paralela
o que é exaustivamente repetido por e montagem invisível mostram a
milhares de cineastas até hoje: as força das criações de Griffith. A
técnicas de criação de suspenses, montagem paralela, muito familiar
sustos e surpresas; a ideia de pla- a nós, espectadores do século
nos e cortes; a montagem parale- XXI, consiste basicamente na in-
la; e a montagem invisível. terrupção de uma cena para mos-
trar outra, apresentando duas ou
O plano, menor unidade de um mais situações ao mesmo tempo.
filme, foi uma percepção incrível, Já a montagem invisível se sus-
que virou base da linguagem au- tenta numa série de técnicas apli- D.W. Griffith, 1922.
diovisual. A possibilidade de mudar cadas na filmagem e na edição,
a posição da câmera para mostrar capazes de disfarçar os cortes. A
detalhes da cena – por exemplo, proposta aqui é fazer a história fluir
,
dar mais atenção ao rosto daquele sem parecer que o filme foi feito Nação (1915)
ascim ento de uma G rif fith.
ator numa hora, e à grandiosidade a partir de diversos pedaços des- Car ta z de O N de D. W.
do cenário em outra - tirou a câme- contínuos. Considerada uma das
ra do lugar do espectador do teatro marcas da gramática que Holly-
e fez o mundo ganhar uma visão to- wood acaba desenvolvendo, a
As ideias de Grif fith são fruto tam
talmente nova. Vejam só, agora po- montagem invisível força o espec- bém de influências e experiências
neastas, principalmente Edwin S. de outros ci-
dia-se assistir a uma cena a partir tador a se concentrar na história, Porter, com seus curtas-metragen
bombeiro americano e O grande s A vida de um
assalto ao trem. Nestes filmes já
de vários ângulos diferentes! A ideia como se acompanhasse a vida dos elementos explorados por Grif podemos ver alguns
fith, como a montagem paralela.
de planos vem junto com a ideia de em movimento.

21
As inovações técnicas e estéticas
indianos, chineses, ameri-
do cinema foram aparecendo aos Exerci te! Procure ver filmes
ano s do Oriente Medio etc. Tente
poucos, em paralelo à ampliação canos, nigerianos, afric
uadramento, a fotografia, a
dos espaços de exibição e ao hábi- perceber até que ponto o enq
am de acordo com o lugar
to que as sociedades foram criando forma de contar uma história vari
uzid os.
e a cultura em que foram prod
de assistir a produtos audiovisuais.
E se essa experiência de ver ima-
gens “reais” se movimentando a
partir de um feixe de luz ainda é um
tanto mágica, imagina só quando
não era uma experiência que se po-
dia vivenciar com tanta frequência. beabá da linguagem cinematográ- Bom, no início do XX, os russos também se lançaram em diversas ex-
Segundo contam as pesquisas, fica apontado por Griffith, o nosso periências de linguagem importantes para a historia do cinema. Esses
existem, por exemplo, relatos de entendimento de um filme, ou qual- cineastas buscavam uma nova forma de fazer filmes, diferente dos
espectadores do início do século quer produto audiovisual, tem a ver norte-americanos, que pudesse também servir para divulgar os ideais
XX que, ao ver na tela apenas o ros- com a forma que compreendemos da revolução russa de 1917.
to do ator, acharam que ele estava determinadas técnicas. Conside-
decepado! Isso décadas depois da rando que ninguém nos ensina a Entre as inovações, uma que ficou muito conhecida foi o efeito Kuleshov.
primeira experiência com o cinema- ser espectador, acabamos apren- Kuleshov provou que o sentido dos planos dependem de uma conexão
tógrafo, que você conheceu lá na dendo as técnicas a partir do que subjetiva que o espectador cria entre imagens que não têm nenhum sen-
linha do tempo. Embora hoje as so- vemos, se, de repente, nos depa- tido sozinhas. Ele fez a seguinte experiência: filmou um plano de um ator
ciedades já tenham incorporado o ramos com um filme que foge muito com o rosto neutro e depois intercalou com imagens de um prato de sopa,
audiovisual no dia a dia, e não seja ao que já vimos, tendemos a estra- de uma menina dentro de um caixão, e de uma mulher num sofá. Com
difícil para uma criança perceber o nhar e não embarcar tanto... isso, criou a impressão de que o ator muda de expressão a cada momen-

es sobre a qual se
cin em a ten ha sid o a única das sete art tencial
É curioso qu e o Com alto custo e po
ou um a es tra tég ia para formar público. no s de dif ere ntes
pens rte-america
nte, profissionais no um
para divertir muita ge dé cada de 20, possi bilida de s de faz er
o vir am , lá pe la pa ra iss o.
setores log am tomadas
he iro co m aq uil o. Algumas medidas for é, um gru po de
bom din trelas” - ist o
de um “sistema de es cura
Entre elas, a criação ia, mi tos , pa ra a sociedade -, e a pro
se m ref erê nc de film es
atores que fos ra o conjunto
ce rto pa drã o de códigos e técnicas pa
de um tria...
22 cio de toda uma indús
produzidos. Era o ini
to, embora a imagem do rosto seja sempre a mesma. O grande lance que
conseguiu perceber foi, então, que os planos, ao serem relacionados, se
influenciam, criando um significado que é diferente da soma dos significa-
dos de cada imagem.

+ = tristeza

+ = fome
Sergei M. Eisenstein (1898-1948)

A partir dos estudos de Kuleshov, Serguei Eiseinstein, um dos primeiros


grandes teóricos do cinema, percebe na montagem o momento mais
mágico no processo de fazer um filme. Ele mostra que a montagem é o
nervo do cinema, pois é a colisão entre os planos que faz o espectador
= desejo
construir o sentido da cena. As teorias e experimentos de Eisenstein
+
não se limitam, porém, ao campo da montagem. Imbuído dos ideais
socialistas, ele procurou também formas narrativas capazes de colocar
um grupo de pessoas, uma sociedade, como protagonista. Diferente
dos filmes norte-americanos, esse autor procurar fazer do povo russo
o herói da história.

23
Outro russo que marcou seu nome na história do cinema foi Dziga Vertov. Na mesma época, a Alemanha vivia o auge de um movimento chamado
Vertov traz a ideia do Cinema-Verdade, rejeitando as encenações e bus- Expressionismo Alemão, realizando filmes góticos, retorcidos, como os
cando captar a vida de improviso, numa tentativa de usar o cinema como quadros de Van Gogh (aquele pintor holandês, do século XIX - sabe?).
ferramenta de reflexão sobre o mundo. Em suas produções, empregava Como Van Gogh, essa escola alemã explorava a ideia de distorção
técnicas de distanciamento para evitar que as pessoas fossem influencia- da imagem, procurando as sombras na fotografia e nos temas, a ma-
das pela câmera. No filme O Homem com uma câmera, um clássico do quiagem carregada, e uma cenografia grandiosa, fantástica, capaz de
cinema, assistimos a essa proposta com maestria. recriar o imaginário de uma sociedade desolada com o fim da Primeira
Guerra Mundial.

s
sinfonia de horrore
), de Ro be rt W ien e e Nosferatu, uma lin gu ag em.
ligari (1919 s desta
O gabinete do Dr. Ca bastante marcante
ied ric h W ilh elm Murnau, são filmes
(1922 ), de Fr

Mikhail Kaufman em Um Homem com uma Câmera (1929).


24 Quadro A Noite Estrelada, de Van Gogh (1889).
Bom, até então, a experiência do ci- mento que queremos passar com ricana e a forma de se fazer cinema a ela associada, surgiram uma série
nema estava centrada na imagem, uma imagem. Então, se temos a de movimentos nacionais - principalmente na Europa - que recusavam a
como vimos lá na nossa linha do imagem de um carro numa linda velha gramática de Griffith e questionavam, dentre outras regras, a linea-
tempo. Mas eis que chega os anos estrada montanhosa e colocamos ridade narrativa. A partir dessas correntes, toda essa ideia de montagem
30 e o som torna-se uma realidade! uma música sinistra, todo mundo invisível e cinema como entretenimento, difundidas pela escola estadu-
Muitos cineastas não gostaram da vai achar que vai acontecer algu- nidense, começa a ser revista e o filme passa a ser encarado como o
ideia. Charles Chaplin, por exem- ma coisa com aquele carro. É um olhar de alguém – o diretor, cineasta - sobre determinada história. Nasce
plo, achava que o som iria matar o exemplo muito simples, mas pode aí uma tradição que influenciou várias escolas de cinema até os dias de
cinema. E até que ele não estava ser aplicado de milhares formas. hoje, o cinema de autor. Os cineastas desse contexto chutaram mesmo
totalmente errado. Afinal, o cinema as regras do cinema tradicional, rompendo não só com aquela estética
que era feito antes do som nunca No início, quando foi inventado, toda que falamos, mas também com a ideia de que para fazer cinema
mais foi visto nas telas. o equipamento de gravação de precisava-se investir rios de dinheiro e agradar muita gente. O pessoal
som era pesado e difícil de se que defendia o Cinema de Autor colocava ainda que o diretor deveria
Pela capacidade de transportar. Além disso, a própria ser considerado o verdadeiro autor do filme – e não o produtor ou o
atingir o espectador câmera era bastante barulhenta, roteirista, como era até então. Pois, além de defenderem que o filme
de um jeito quase o que complicava a gravação do deveria nascer de uma vontade de expressão artística - e não de uma
inconsciente, o som durante a cena e fazia com demanda de mercado -, argumentavam que a autoria tampouco podia
som inaugura que os filmes tivessem que ser so- ficar com quem escreveu o roteiro já que um filme é feito de imagens e
uma dimensão norizados na hora da edição, com sons e não de palavras. Logo, a marca do autor tem muito a ver com a
completamen- ruídos, trilhas e dublagem. Até que forma de transpor a história escrita para os códigos cinematográficos.
te nova no ci- nos anos 1950 inventaram um
nema. É claro gravador de som portátil, chama-
que a ima- do Nagra, criando bases para ex-
gem mostra, periências de linguagem bastante
escancara, revolucionárias.
arrasa! Mas
o som... não Com o fim da Segunda Guerra
é percebido, Mundial, a hegemonia cultural das
ele é sentido. produções de Hollywood era um
É como se o fato. O cinema era caro e estava
som “pintas- na mão de poucos. Em resposta
se” o senti- a essa predominância norte-ame-
NAGRA 4.2 mono reel to reel field recorder
25
Vamos olhar rapidinho então para hoje), chamada Cahiers Du Cinéma, que reunia vários artistas, estudiosos Inspirado no Neo-Realismo Ita-
movimentos e autores que se inspi- de cinema e integrantes de cineclubes parisienses. Depois, mesmo com liano e na Nouvelle Vague fran-
raram na ideia do Cinema de Autor: poucos recursos, esses cineastas botaram a mão na massa e começaram cesa, surge no Brasil o Cinema
a criar várias formas inusitadas para contar suas histórias. Novo, lá entre 1960 e 70. Os jo-
Na Itália, no final da Segunda vens cineastas cariocas e baia-
Guerra, apareceram Roberto Ros- nos queriam fazer um cinema
selini, Vittorio De Sica, Luchino Vis- diferente dos “caríssimos e alie-
conti e outros, fazendo um cinema nantes” filmes produzidos pelo
sem estúdios, nem atores profis- grande estúdio paulista, a Vera
sionais, misturando gravações na Cruz. Como coloca Saraceni,
rua e cenas não ensaiadas, mes- queriam “fazer um cinema anti-
mo em filmes de ficção. A propos- -industrial, aberto, sem nenhum
ta era mostrar a vida como ela é dogma, nenhum preconceito,
e revelar a sociedade italiana des- (...) autoral, sincero, criativo, re-
truída com a guerra e se libertan- volucionário, e que olhasse a
do do regime fascista. Foi o Neo- realidade social e econômica do
Realismo Italiano. Brasil com vontade de analisá-
la, transformá-la num mundo
Já na França, esse movimento foi melhor para todos.” (Saraceni,
batizado de Nouvelle Vague (que 1993:118). O filme Rio 40
em português, podemos traduzir graus (1955), de
como “nova onda”). François Nelson Perei-
Truffaut e Jean-Luc Godard, ra dos Santos,
cineastas mais expoentes da marca o surgi-
Nouvelle Vague, mostraram um mento do Cine-
cinema bem pessoal, com uma ma Novo. A fra-
montagem inesperada, sempre se "Uma câmera
quebrando a linearidade da cena. na mão e uma
Esse movimento começou com a ideia na cabeça",
publicação de resenhas e críticas de Glauber Rocha,
de filmes, principalmente para uma se torna o lema do
revista importante na época (e até movimento.

26
(1955 ) e Vidas
m ne ss e co ntexto : Rio 40 graus de
que mais se desta
ca ra e Os Fuzis (1963 ),
Alguns dos filmes do s Sa nto s, Os cafajestes (1962 ) ), de Gl au be r
Nelson Perei ra Transe (1967
Secas (1963 ), de o na Te rra do So l (1964 ) e Terra em
e o Diab
Ruy Guerra, Deus dro de Andrade.
Ma cu naím a (19 69 ), de Joaquim Pe
Roch a,

Nesta mesma época, nos EUA, Havia também um grande grupo de cineastas nos EUA que não trabalha-
alguns cineastas, apesar de esta- va dentro do esquema de Hollywood. Eram conhecidos como indepen-
Cinema Novo rem inseridos na indústria de Holly- dentes, um termo usado até hoje para diferenciar modelos de produção
Gilberto Gi wood, criaram artifícios para que a no cinema (cinemão X independente). Naquele época, John Cassavettes
l
produção não interferisse tanto na foi um dos principais autores desse movimento. Seus filmes – em grande
“O filme quis di sua forma de fazer o filme. Alfred parte financiados com o dinheiro que ganhava como ator em produções
zer: "Eu sou o
samba" Hitchcok, por exemplo, para bur- de Hollywood – contavam com a própria equipe como atores (todos seus
A voz do morro
rasgou a tela
do
lar o controle dos produtores de amigos). Sua forma de filmar instigou mais liberdade ao improviso e per-
cinema
E começaram Hollywood, filmava as cenas sem mitiu toda uma nova dinâmica de atuação, na qual a câmera que se
a se configura sobras, isto é, não fazia a mesma colocava em função dos atores, e não estes que se posicionavam em
Visões das co r
isas grandes e
pequenas cena várias vezes, de diferentes função dela.
Que nos form formas. Filmava exatamente como
aram e estão
formar a nos
tinha planejado e, quando acabava aprox. 3 a 4 minutos entre
Todas e muita Exerci te! Planeje uma cena de
s: Deus e o Dia a filmagem, só restava ao montador transição emocional em um
Vidas Secas, O bo duas pessoas que envolva uma
s Fuzis colar os planos, não havendo muita a irritação ou vice-versa.
Os Cafajestes, dos personagens, da alegria para
O Padre e a margem para que o produtor inter- ótim o drama, mas sim experi-
Moça, A Grand
e Feira, O objetivo não é produzir um
essa história.
O Desafio ferisse. Hitchcock e Orson Welles mentar como você pode contar
Outras conver foram figuras que se destacaram
sas, outras
conversas nesse contexto. Eles conseguiram
Sobre os jeito espaço para imprimirem suas mar-
s do Brasil Influenciado por todo esse movimento de cinema independente e ampa-
Outras conver
sas sobre os je cas nas produções que dirigiam e rado pela tecnologia de gravação de imagem e som portáteis, o cinema
do Brasil itos
(...)” revelaram-se mestres da constru- documentário foi ganhando importância como gênero. Os gêneros são a
ção dramática. Desenvolveram téc- forma que encontramos para dividir e organizar os diferentes tipos de
nicas de filmagem e narrativa ca- cinema. Essas classificações não são fixas e podem variar a cada momen-
pazes de trabalhar as emoções do to e lugar. Estamos trabalhando até aqui com dois gêneros basicamente,
espectador de maneira fantástica. a ficção e o documentário. A ficção, ao contrário do que alguns podem

27
pensar, não é só a ficção científica Vertov e seu Cinema Verdade, em preocupados em usar o cinema maior naturalidade possível, a tal mon-
do Guerra nas Estrelas ou Matrix, é que o cinema é talvez utilizado como como instrumento para pensar a tagem invisível de que falamos. Dá pra
toda história que, tendo acontecido reflexão pela primeira vez, sem o ele- sociedade. Além deles, alguns ci- ver que apesar de documentaristas,
ou não, seja dramatizada. O foco aí mento da encenação, quase como neastas de movimentos como a como os colegas do Cinema Verité, a
é contar uma história, uma narrativa. pesquisa... Não podemos esque- Nouvelle Vague, o Neo Realismo e forma aqui é bem diferente, né?
cer tampouco a “escola” britânica o Cinema Novo fizeram documen-
O documentário é um gênero bas- de Grierson e Flaherty, onde a vida tários e filmes que brincam com as No Brasil, alguns documentaristas,
tante difícil de definir, pois permite das pessoas era encenada por elas fronteiras entre esses dois gêneros. influenciados pelo forte tom de críti-
o uso de muitos recursos - como a mesmas para as lentes da câmera. ca social que marca as décadas de
encenação vinda da ficção -, mas Nos EUA também existiu um movi- 60 e 70, tentavam técnicas – como a
sua característica fundamental é que Na década de 1960, Jean Rouch mento que ficou conhecido como Ci- narração com imagens - para provar
ele tem um compromisso ético com e Edgar Morin (um sociólogo, que nema Direto. Esse movimento, assim uma tese previamente elaborada.
a realidade que pretende filmar. Ele até hoje publica livros importantes) como acontecia no Cinema Verité, se São os documentários sociológi-
busca construir/revelar uma ou mais saem pelas ruas de Paris pergun- caracteriza por ser contra o planeja- cos, como classificou Jean Claude
visões sobre um tema ou persona- tando: O que é felicidade? Eles mento prévio do documentário em Bernadet. Nesses filmes, a “voz de
gem e, desta forma, faz afirmativas buscam a “verdade do cinema” no um roteiro. Cada filme é uma em- Deus”, do narrador, procurava con-
e questionamentos sobre o mundo conteúdo e na forma, se colocando preitada de risco, onde o diretor não vencer o espectador do discurso do
em que vivemos. Mesmo que seja em quadro junto com os persona- tem controle e é obrigado a dialogar o filme enquanto as imagens serviam
através de algo tão pequeno como gens, sendo eles mesmos per- tempo inteiro com os acontecimentos para reforçar os argumentos apre-
a história de uma rua, por exemplo. sonagens de seus filmes. A partir que vão rolando. No Cinema Direto, sentados. Aruanda, de Linduarte
de experiências como essa, inau- porém, a equipe nunca aparece no Noronha, e Viramundo, de Geraldo
Os movimentos que revolucionaram guram na França o movimento do filme nem intervem na filmagem. É o Sarno, são dois exemplos clássicos
a linguagem cinematográfica têm Cinema Verité (cinema verdade, em cinema de observação. A ideia deles deste tipo de documentário.
seus reflexos no documentário. Eles português). Notou a semelhança era trazer para a tela “a novela da vida
inspiraram vários cineastas! Dziga com Vertov? Eles também estavam real”, portanto a montagem visava a Influenciado pelo Cinema Verité e re-
tornando do exílio depois da ditadu-
ra, Eduardo Coutinho começa a criar
documentários no Brasil bastante
baseados na fala. Ele desenvolve
uma forma de se colocar nos filmes
ia vale ver
Para ter uma ide de maneira sutil e natural, como se
rão, de Jean
Crônica de Um Ve pode ver em Babilônia 2000, onde
rin, e Caixeiro-
Rouch e Edgar Mo
s Maysles.
28 Viajante, dos irmão
a equipe é vista em cena e até o deseja com o espectador. Não tem história. Os filmes desse modo adotam o Vertov.(...) Esse tipo de cinema é chamado de
processo do filme é muitas vezes um jeito certo de fazer documentá- comentário com voz de Deus (o orador é kinopravda, cinema verdade, a ideia enfatiza
revelado. Colocando-se em cena e rio. As possibilidades são muitas, o ouvido e sua voz é grave, séria e conhecedo- que essa é a verdade de um encontro em vez
ra de tudo, mas ele jamais é visto) da verdade absoluta ou não manipulada.(...)”
interagindo com os personagens, que acaba tornando o documentá-
(...) Elas ilustram, esclarecem, evocam
ele inaugurou toda uma tradição de rio, como dissemos, um gênero às ou contrapõem o que é dito. Na verdade, o O modo reflexivo
documentários que se apoiam na vezes difícil de definir. comentário representa a perspectiva ou o “(..) São os processos de negociação
entrevista como método de busca. argumento do filme. Seguimos o conselho entre cineasta e espectador que tomam
Coutinho acabou por influenciar O estudioso de cinema norte- do comentário e vemos as imagens como o foco da atenção. Em vez de seguir o
grande parte da produção de docu- americano, Bill Nicholls, criou uma comprovacão ou demonstracão do que é dito.” cineasta em seu relacionamento com outros
atores sociais, nós agora acompanhamos o
mentários que se faz hoje no Brasil. classificação interessante e bastan-
O modo observacional relacionamento do cineasta conosco, falando
te difundida, onde coloca os docu- “Todas as formas de controle que um do seu mundo histórico como também dos
Tentando se afastar desse mode- mentários em seis modos. Ela pode cineasta poético ou expositivo poderia problemas e questões da representacão.
lo, alguns cineastas imprimiram na nos ajudar a fixar melhor algumas exercer na encenação, no arranjo ou na É o modo de representacão mais
forma de seus documentários uma possibilidades de brincar com a lin- composição de uma cena, foram sa- consciente de si mesmo e aquele que mais
forte influência da poesia e recusa- guagem olhando especificamente crificadas à observação espontânea da se questiona. (...) O documentário reflexivo
ram o artifício da entrevista ou do para o gênero documental. Vamos experiência vivida. O respeito a esse espír ito tenta reajustar as suposições e expectativas
de observação, tanto na montagem pós- de seu público e não acrescentar conheci-
depoimento direto para a câmera. dar uma olhada, com as palavras
produção como durante a filmagem, resultou mento novo a categorias existentes. Por essa
Esse é o caso de filmes como An- mesmo do grande Nicholls: em filmes sem comentário com voz-over, razão, os documentários podem ser reflexivos
darilho, de Cao Guimarães, e Aboio, sem música ou efeitos sonoros complemen- tanto da perspectiva formal quanto política.
de Marília Rocha. Outros, como o O modo poético tares, sem legendas, sem reconstituições (...) Um instrumento importante desse modo
Terras, de Maya Da-Rin, e o Rocha “(...) O documentário poético se concen- históricas, sem situações repetidas para a é o ‘estranhamento’. Isso se parece com a
tra em explorar associações e padrões que câmera e até sem entrevistas.” tentativa surrealista de ver o mundo cotidiano
que Voa, de Eryk Rocha, mesclam
envolvem ritmos temporais e justaposições de maneiras inesperadas.”
momentos de depoimentos com espaciais.(...) Esse modo enfatiza mais o O modo participativo
cenas de pura poesia sensorial. estado de ânimo, o tom e o afeto do que as “Quando assistimos a documentários O modo performático
demonstrações de conhecimento ou ações participativos, esperamos testemunhar o “ (...) é dar desvio da ênfase que o
Enfim, as formas que o filme-docu- persuasivas. O elemento retórico continua mundo histórico da maneira pela qual ele é documentário dá à representacão realista
mentário foi revelando ao longo da pouco desenvolvido.“ representado por alguém que nele se engaja do mundo histórico para licenças poéticas,
história mostram como a escolha ativamente, e não por alguém que observa estruturas narrativas menos convencionais e
O modo expositivo discretamente. (...) O cineasta torna-se (...) formas de representação mais subjetivas. (...)
das técnicas de construção nar- “(...) O documentário expositivo dirige-se um ator social (quase) como qualquer outro. Um tom autobiográfico compõe esses filmes.”
rativa, fotografia, som, montagem, ao espectador diretamente, com legendas O modo participativo pode enfatizar o en-
etc., de cada um tem a ver com a ou vozes que propõem uma perspectiva, contro real, vivido, entre cineasta e tema no Nicholls, Bill. Introdução ao Documentário
proposta e comunicação que se expõem um argumento ou recontam a espírito de ‘O homem da câmera’, de Dziga (2001).

29
Viu quantas opções já foram criadas e pensadas? Então, o documen- mostra cenas claramente construídas (fictícias), e vai dando explicações
tário é interessante porque suas fronteiras são muito amplas e você irônicas para cada coisa que apresenta. O espectador fica meio perdido
pode contar a história usando vários recursos. Um personagem prin- entre a ficção e o jornalismo sem entender bem do que se trata o filme, até
cipal ou alguns personagens. Criando cenas de ficção para conversar a última cena, onde ele revela a imagem do lixão Ilha das Flores e fica claro
com cenas captadas no real. Usando imagens de arquivo, isto é, feitas que se trata de um documentário que faz uma crítica social.
por outras pessoas. Jogando músicas e efeitos sonoros. Você pode
assumir o entrevistador como guia, dando um tom de reportagem ou
de busca. Pode fazer uma ficção que parece um documentário (como
aquele curta que circulou muito na internet, o Tapa na pantera – conhe-
ce?). Você pode decidir que é interessante a equipe aparecer ou pode
achar melhor gravar as cenas do seu documentário como se fosse uma
ficção pedindo para os seus personagens encenarem sua própria vida
(como faziam Flaherty e Jean Rouch). Pode ainda inserir outras lingua-
gens: cenas feitas com computação gráfica, teatro de sombras, teatro
de bonecos, marionetes, animação em stop motion....

Ainda, o seu discurso (isto é, o que você está querendo dizer com o filme),
pode ser construído na narrativa de várias formas: voz do narrador, voz
do apresentador, voz de personagens, voz do entrevistador e dos diver-
Eduardo Coutinho
sos entrevistados. Pode mesmo ser construído sem voz alguma,
Tinha um filme difícil
apenas com imagens e músicas... Depende do que você quer que eu queria fazer,
que ia ser caro e res com mil atores,
provocar com o filme. olvi não fazer dois me
que mudar e achar um ses antes. Tinha
troço fácil. E um troço
quis fazer na vida era que eu sempre
filmar gente cantand
Vamos olhar para alguns exemplos con- antes com o Roberto o. Eu queria fazer
Carlos, há vinte, dez
resolvi: o cara tinha qu anos atrás. Daí eu
cretos: e ser suficientemente
acompanhar e, ao me afinado para você
smo tempo, cantor de
que cantou maravilh banheiro. Gente
No curta-metragem Ilha das Flores, osamente saiu do film
eles contavam tinha e. E a história que
criado no início dos 90 pelo diretor que ter sentido em ter
Foram 42 pessoas e mos da vida e tal.
em seis dias estava tud
gaúcho Jorge Furtado, um narra- o filmado.
dor em off (que não se vê) vai nos Eduardo Coutinh
em entrevista sobre o,
seu filme Canções (20
guiando ao longo do filme. A par- 11)
tir da trajetória de um tomate, ele

30
Já no documentário Cabra Marcado para Morrer, dirigido por Eduardo fale como ele foi e é importante; apenas mostrando as imagens de pes-
Coutinho, apesar da narração ser um dos elementos fundamentais, a soas cantando em diversas línguas e lugares a música dele o espectador
construção e o resultado são totalmente diferentes. Coutinho, que estava entende a mensagem.
fazendo um filme de ficção sobre as Ligas Camponesas com os próprios
personagens da história como atores, tem suas filmagens interrompidas
pela ditadura militar em 1964, e só consegue retornar vinte anos depois
para tentar encontrar as pessoas que participaram do filme e concluir o
então nunca tive
processo. Diferentemente de Jorge Furtado em Ilha das Flores, Coutinho ador de histórias,
Sou um bom cont lar para você.
o tem que se reve
não parte de uma tese que pretende demonstrar mas de uma busca e medo [...] O mund isa s que as outras
nseguir ver co
por isso o inesperado ganha importância. Neste caso, não importava E você tem que co profissão.
m. É essa a minha
para ele que a equipe aparecesse e a instrução era chegar filmando. Ao pessoas não veria
longo do processo do filme, Coutinho foi se tornando cada vez mais um Werner Herzog
personagem pois partilhava da experiência do primeiro filme interrompido
com os personagens. Através de uma série de elementos como a narra-
ção do próprio diretor, a projeção das imagens filmadas em 64 para os Contudo, como você pode perce- fórmula de sucesso, e a comunica-
personagens e sua reação a elas, além de entrevistas onde podemos ber, a abordagem que se escolhe ção que vai gerar depende muito
perceber o que aconteceu com alguns deles ao longo dos anos que tem reflexo direto nas informações e também de quem está assistindo,
se passaram, Eduardo Coutinho consegue dar uma noção do impacto sensação que o filme vai provocar. de sua bagagem audiovisual e sua
profundo que estes acontecimentos políticos tiveram - não apenas nos Mas... colocar a câmera naquele cultura de maneira geral. Então, o
intelectuais, como o próprio diretor, mas principalmente na vida de pes- ângulo de cima pra filmar o perso- lance é mesmo ter segurança da
soas comuns, como os personagens do filme. Ou seja, falando apenas nagem ou fechar no rosto dele? E ideia central do filme, e não perdê-la
do filme que não conseguiu terminar e da vida de cada uma dessas pes- se filmar a cena com um plano só, de vista durante o processo. Pode
soas, Coutinho consegue falar de algo muito maior que é um momento bem longo, vai ficar legal? Vai pas- ser só você a pensar tudo isso ou
político da História do Brasil. sar a sensação que eu quero? Em- ter mais pessoas nessa função. De
bora ao longo da história tenham toda forma, é preciso ter alguém que
Assim como Coutinho, muitos documentaristas utilizam como recurso a sido criados vários experimentos e conceba, planeje e acompanhe o
fala, seja como narração ou na forma de entrevista, mas o cineasta Nelson teorias que revelam a funcionalida- processo do início ao fim para dar
Pereira dos Santos – figura importante lá no Cinema Novo - fez diferente de de certas técnicas e códigos da o conceito do filme, sua motivação,
em seu último filme A Música Segundo Tom Jobim, realizado em parceria linguagem, vimos como o cinema seu tom. E, depois dos movimentos
com Dora Jobim. Eles abriram mão do recurso da entrevista e construíram pode ser reinventado por cada au- que vimos lá a partir do Cinema de
o documentário inteiro apenas com as músicas do compositor. Desta for- tor, cada movimento, cada contex- Autor, na maioria dos contextos é o
ma, mostram o alcance da obra do maestro sem precisar que ninguém to. Tudo pode ser revisto, não tem diretor que faz essa função.

31
Em Hollywood, porém, os produtores continuam tendo muito peso e não Mas, para além do cinema de au- mentos se tornaram muitos e varia-
é raro participarem de decisões importantes do filme, definindo os atores tor e do cinema comercial, existem dos, e se renovam a cada dia, mas
e orientando a montagem. muitas outras formas de fazer cine- as telas também. E cada uma pro-
ma. Existem coletivos de cinema voca uma comunicação com o es-
e casos onde assinam a direção pectador. Ver um longa-metragem
duas ou mais pessoas, pois todas na televisão, com seus 90/120 mi-
conceberam o filme do início ao nutos nem sempre é tão atraente.
fim. Uma das consequências das Já uma história em 30/40 minu-
Nas escolas de cinema, pelo men
os no Japão, ensina- transformações tecnológicas que tos pode prender completamen-
se sempre que o que a câmera
filma deve representar vimos lá atrás foi justamente faci- te. Mas na internet provavelmente
o ponto de vista de alguém. Ora
, às vezes filmo certos litar o acesso aos equipamentos seja tempo demais. Claro que não
personagens em plongée, isto
é, vistos de cima, e no
entanto não há ninguém em cim de captação de imagem e som e é só questão de duração do filme.
a. Mas funciona.
permitir, com isso, que novos gru- A linguagem propriamente também
Takeshi Kitano
pos reivindicassem o audiovisual se reinventa e readequa de acordo
como forma de expressão, para com o meio. Por exemplo, um filme
além das indústrias audiovisuais. curtinho mas com uma fotografia
Esse processo acabou trazendo à que presa pelos escuros e grandes
tona experimentos muito variados cenas em geral não funciona bem
no fazer cinema, que se refletem na telinha pequena de um site que
na forma como a linguagem é tra- disponibiliza vídeos online, como
balhada. Não podemos esquecer o youtube. Já um filme engraça-
número de
é uma espécie de que a televisão, desde que foi in- do e simples parece que funciona
Realizar um filme er a oscilar
você deve aprend ventada, também teve (e tem) um – ganhou até nome, viral, pela ca-
equilibrista no qual e é possível
me nt e en tre o que deseja e qu
o
papel importante na criação de pacidade de encantar as pessoas,
permanen te é preciso saber,
) no fin al das contas o que novas formas e padrões estéticos estimular e “contagiar” o outro com
ob te r. (... a ideia motriz do
perder de vista é
controlar e jamais de fa zer o filme. para a linguagem audiovisual. a obra. Por tudo isso, hoje, a classi-
e lhe deu vontade
filme. Essa ideia qu ficação em gêneros, sub-gêneros,
Ethan Cohen Mas hoje em dia, com as tecnolo- formatos e linguagens é uma tarefa
gias digitais, são tantas variações um tanto complexa - a cada hora
de obras audiovisuais que o pró- cria-se um nome novo, uma regra
prio conceito de cinema está em nova, e novas soluções são des-
debate. Afinal, não só os equipa- truídas e reinventadas.

32
O legal, no final das contas, é assistir a muitos filmes com lingua- Mãos à obra!
gens diferentes para te ajudar a criar a sua própria maneira de en-
xergar através das lentes do cinema. Lá no final da Apostila você vai Então...tem uma ideia para seu filme?
encontrar uma lista grande de documentários e ficções para come- Acha que sim? Comece se perguntando:
çar suas explorações.
O que esse tema significa para mim?

a (...), mas hoje os


a gramática básic Se quero fazer um documentário sobre a situação ambiental do meu bair-
É claro que há um re novar e fa zem o
se nt em que precisam se r ro, a pergunta é: por que quero fazer isso? O que eu realmente gostaria de
cin ea sta s linguagem a parti
scobrir uma nova descobrir fazendo esse filme?
que podem para de pla no s pr óx im os ,
Utilizam sempre os
dessa gramática. no s ab er to s etc., mas não
no s mé dio s, os pla
os pla . Podemos mostrar exemplos visuais das questões em discussão ou pre-
da mesma maneira
necessariamente cisaremos de muitas entrevistas para chegar na ideia? Que atividades e
se
Martin Scorce personagens estão relacionadas ao tema?

Essas pessoas aceitariam ser filmadas?

Existem imagens já feitas sobre o mesmo tema? Existe algum filme rela-
cionado ao tema?

Quão longe eu posso ir no aprofundamento da questão?

E com quais técnicas quero brincar?

Você tem claro na cabeça a resposta para a maioria dessas perguntas?


Nem tanto? Então, vamos à pesquisa!

e quer
daria a alguém qu
O conselho que eu sm en te. (...)
filmar, simple
se tornar diretor é Se qu ise r filmar
por quê.
Mas pergunte-se na mo ra da , mas
e su a
sua namorada, film
faça-o de verdade.
rd
Je an-Luc Goda 33
e n d o o t e m a :
[3] Dese nvoislva n o d ocu me n t á rio
a pesq u

No documentário a pesquisa é em questão, quem são os perso- Falar sobre a história do cineclube
etapa fundamental do processo, nagens principais. É isso que vai Sobre a programação do cineclube
já que precisamos de dados con- definir o seu foco. Sobre o público do cineclube
cretos para basear o que quere- Sobre a relação do cineclube com a região onde ele fica
mos falar/mostrar e para construir Às vezes acontece de termos interes- Sobre as pessoas que fazem o cineclube
o filme propriamente. se em um tema que é muito amplo Sobre o porquê da existência do cineclube
e, principalmente no caso do curta- Sobre algum acontecimento específico, como uma noite de estreias
É claro que somos nós os autores metragem, fazer um recorte, con-
da obra e o interessante é mostrar centrar a discussão a partir de uma
nossa visão sobre o assunto que micro-realidade, pode ser bem mais
escolhemos (não procurar uma enriquecedor. Afinal, além de contar-
verdade única sobre ele!). Mas, mos com pouco tempo para nossa
para o filme sair legal é importan- história, temas grandes em geral já
te aprofundarmos o conhecimento foram abordados por muita gente en- Você tem um monte de temas dentro
sobre o assunto. Não se trata de tão fica difícil de inovar se não apro- de um tema principal, percebeu? Então,
chegar a uma opinião formada so- fundarmos em algum aspecto. depois de escolher o(s) que mais te
bre o tema necessariamente - você interessa(m), o segundo passo é seguir
pode seguir a linha dos documen- Vamos lá, escolha aí um tema que te a pesquisa olhando nessa direção.
tários de busca, como apresenta- interessa... o cineclube do seu bair-
mos lá no capítulo de Linguagem -, ro! Nesse caso você já tem o assun-
mas de ter muito claro quais são as to bem delimitado, quer falar de um
suas questões, o que te mobiliza espaço cultural e um espaço cultural
a fazer o filme, quais são os prin- específico. Mesmo assim você po-
cipais conflitos presentes no tema deria escolher, por exemplo:

34
Por exemplo, se queremos focar na história do cineclube podemos: Esse processo de pesquisa para o documentário é importante não só
para conhecer melhor as questões em jogo e fundamentar nossa opinião
Visitar os lugares e conhecer melhor as pessoas que têm a ver com sobre o assunto, mas também para colher elementos a serem usados no
o assunto: Quem criou o cineclube? Quantos anos tem? Como sur- filme - isto é, entender os materiais, personagens e lugares com os quais
giu o cineclube na sua cidade? poderemos contar para revelar a história em imagens e sons. O que pode
ser captado no contato direto com o ‘mundo real’? O que existe em ma-
Trocar ideia com o público: Quem frequenta o cineclube? Já vai há teriais já produzidos por outras pessoas – arquivos de foto, vídeo, etc? O
muito tempo? Quais histórias já ouviu sobre ele? que precisaremos dizer de outra forma, criando cenas, por exemplo, ou
criando uma fala nossa (uma narração em off)?
Discutir com pessoas mais velhas da região, seus pais, professores
e outros adultos: Eles viram o cineclube ser criado? Já frequentaram
o cineclube? Conhecem histórias sobre ele? TOQUE : Se quiser levantar dados
estatísticos sobre, por exem-
plo, a população da sua cidade,
ou o número de jovens no Bra-
sil, o IBGE (www.ibge.gov.br) é uma
Procurar pesquisas sobre o tema em bibliotecas, livrarias, sítios da boa fonte. Se for um dado
da sua cidade é possível que você
ache na prefeitura.
internet: O que é um cineclube? Existem estudos sobre esse cine-
clube que quero usar no meu filme? Qual a história de cineclubes
importantes criados em outras cidades e países?
imagine um acontecimento
Exerci te! Sente numa praça e
santes que vê. Quem são
Xeretar em jornais e revistas: Saíram notícias sobre a inauguração diferente para cada um dos pas
tam? Como vivem? Um por
do cineclube? E notícias sobre a programação? Alguém já deu uma eles? O que fizeram? O que gos
ona gem até chegar aos detalhes
entrevista para falar do cineclube? um, mastigue cada pers
e agora tente desenvolver
mais pessoais. Anote suas ideias
io ou ficção a partir do perfil
Buscar vídeos sobre o tema na locadora, internet e meios que você a estrutura de um documentár
desses personagens.
tiver à disposição: Existem filmes sobre cineclubes? Como cada um
aborda o tema? E filme sobre esse cineclube da minha cidade, al-
guém já fez? Vídeos sobre a história de um espaço cultural, como
um bar, um clube, um cinema, também podem ser boa fonte de Para fazer essas escolhas é importante que durante a sua investigação você
pesquisa para pensar o filme. registre o que vai encontrando. Fotografe os locais que você visita, grave
depoimentos de potenciais personagens (em voz ou em vídeo), salve em
uma pastinha aqueles vídeos e fotos que você pegou da internet, anote ou-
tros que você descobriu que existem e onde pode encontrá-los, xeroque as
páginas que te interessam de um jornal, revista, livro ou documento...

35
s (foto, texto, vídeo, desenho, seja lá o que
TOQUE : Se for usar no filme materiais feitos por outras pessoa
pedir autorização para o responsável. Nos ma-
for), tem que checar se pode usar à vontade ou se precisa
dar um confere se tem o selinho CC, de creative commons. Se não
teriais disponíveis na internet você pode
os direitos para uso da obra e seguir essas
tiver, tem que ver no site se consta alguma informação sobre
sempre referenciar, dar o crédito, a quem pro-
orientações. De toda forma, independente do caso, é legal
que no final dessa Apostil a fazemos isso com a maioria das
duziu o material que você escolher usar (veja
legal que indicamos pra você no final desse
fotos que constam aqui! Elas foram tiradas de um site muito
créditos dos materiais de arquivo que usam.
capítulo ) e você também pode ver como outros filmes dão os

Bom, e depois de bisbilhotar diferentes fontes e anotar as coisas que te Alguns sites onde você pode encontrar materiais para usar no seu vídeo:
interessaram, é hora de se debruçar sobre os registros que fez. Esse es-
tudo te levará a pensar melhor como quer abordar o assunto e a visualizar
os elementos que o filme pode ter, preparando o meio de campo para Fotos e vídeos
elaborar a narrativa.
http://www.archive.org/

www.sxc.hu

www.pond5.com

http://alpha.publicvideos.org/

www.dominiopublico.gov.br

Documentos
Listar e categorizar
Dica : Classifique as informações em grupos.
pois ajuda m a revela r outras histórias http://www.mis.rj.gov.br/
são atividades essenciais,
histór ia que tamb ém podem ser abord adas no docu-
dentro da sua
ar com mais facilidade
mentário. O computador vai te ajudar a arquiv http://www.arquivonacional.gov.br/
pesqu isand o por priori dade ou por
os documentos e depois achá-los
ordem específica.

36
lo roteiro, in d o a n a rra t iva
it u] O
T[4
o u co n stru

O que seria uma boa abertura e um bom fechamento considerando o O roteiro é a organização da sua duração. Afinal, tendo um plane-
discurso, e a comunicação de forma geral, que você quer para o filme? história no papel. É o guia para jamento mais preciso de todas as
Quem são os personagens principais? Por quê? Quais dados são impor- toda a equipe que vai trabalhar cenas, pode se pensar a filmagem
tantes mostrar e quais não são importantes? Quando vamos responder para que o vídeo seja realizado agrupando-as de acordo com o
cada uma das perguntas que colocamos ao longo do filme? Também e precisa estar claro para que to- local e os personagens de cada
podemos deixar perguntas em aberto! Também podemos dar apenas dos o entendam. Para chegar até uma. Assim, ao gravar a cena 1,
respostas, depende do que você quer falar e do tom que pretende dar lá costuma-se escrever primeiro já aproveitamos e gravamos tam-
ao filme. Falando em documentário, vamos fazer entrevistas? Se for, é textos mais simples, uma sinop- bém a cena 5 e a 9, por exem-
bom elaborar uma lista de questões para cada personagem que vai ser se, um argumento, uma escaleta, plo, tornando o processo mais
entrevistado. Que informações você quer deles? E quais lugares e situa- um tratamento... Mas todo esse rápido e mais barato. Além dessa
ções seriam os melhores para filmá-los? processo é só pra facilitar a tua vantagem na parte operacional,
jornada, te dar ferramentas para percebeu-se que fazer um rotei-
amadurecer a estrutura da nar- ro era importante também para o
rativa e ajudar a visualizar o filme, processo criativo. Pois, guardar
não uma prisão na qual deve se um filme de longa-metragem, com
is com imagens encerrar. A verdade é que, lá no todas as suas tantas cenas na ca-
es cr evo um filme, escrevo ma
Quan do sas imagens início do cinema, trabalhava-se beça, não é tarefa simples. Assim,
ras, e para que es
do que com palav história se
r os locais onde a apenas com uma sinopse bem o roteiro era uma forma de dividir o
nasçam, preciso ve -m e inspirar
verdade, deixo simples. O roteiro surge mais pra filme com outras pessoas.
desenrola. (...) Na a do s lug ares.
atmosfer
enormemente pela frente – nas primeiras décadas do
Wong Kar Wai século XX, lá no início dos longas- Por outro lado, traduzir imagens,
-metragens - como uma forma sons e ações em palavras tinha e
para facilitar a realização de filmes tem lá os seus imbróglios. Planejar
em grande escala e com maior muito também pode ter. Então, o

37
negócio, novamente, é você enten- Como falamos na parte de Lin- pré-definida e não faz sentido fa-
der como funciona o seu proces- guagem, existem diversas “esco- lar em roteiro. Mas mesmo esses
so e ajustar essa ferramenta a seu las” de documentário, quer dizer, filmes não são feitos sem prepa-
favor. Na ficção o roteiro pode ser grupos de pessoas que partilham ração. Em geral, são amparados
levado mais à risca. Já no docu- das mesmas ideias sobre a for- por muita pesquisa. Alguns docu-
mentário, fica mais difícil imaginar e ma do filme e seu processo. Al- mentaristas, ao pensarem seus
conseguir exatamente o que que- gumas defendem a elaboração filmes, utilizam como recurso
remos, pois a ideia é justamente de um roteiro como num filme de a imposição de certas regras
estar aberto para a realidade... De ficção, com previsão de imagens, ou se colocam limitações,
todo jeito, nos dois casos o exer- ordenamento das cenas e até es- seja filmar num único local, como Passos do
cício de colocar a história em pa- colha de planos. Outras, como o é o caso de Edifício Master, de roteiro, hora
lavras pode ser legal para exercitar
a imaginação, te dar uma melhor
Cinema Verdade e o Cinema Dire-
to têm nas suas próprias propos-
Eduardo Coutinho, ou realizar um
filme em 33 dias, como é o caso
de estruturar o
visão de como o filme vai se de- tas uma busca de diálogo com o da obra 33, de Kiko Goifman. A filme e colocar no
senrolar e tudo o que será preciso que vai ser filmado. Desta forma, essa forma de fazer damos o papel!
descolar para botar a coisa de pé. a estrutura do filme não deve ser nome de dispositivo. Este recurso
ajuda a criar os limites do docu- Vamos dar uma olhada agora em
mentário sem precisar de um pré- alguns instrumentos básicos que
-conceito, isto é, uma concepção costumam ser usados nesse mo-
o do real,
o brotam do coraçã pré-determinada do filme. mento de desenvolver a história e
Documentários nã pessoas e
rais, recheados de preparar o filme. Como sempre,
espontâneos, natu s pelo mais
s; são, sim, gerado têm cineastas que trabalham com
situações autêntica ra l da pa lavra :
acepção lite
“puro” ar tifício, na do qu al se ob tém eles de um jeito e de outro, uns
através
“processo ou meio gu nd oo que usam aquele, uns que pre-
objeto ar tístico”, se
um ar tefato ou um . ferem outros, depende da forma
Dicionário Aurélio
que funciona o processo criativo
Consuelo Lins
sé de cada um, depende do contexto
de contar história
(...) nossa vontade o qu e se jam os de produção do filme... Mas é legal
e me sm
puramente visual, an to você experimentar passar por eles
minuciosos qu
muito exigentes e
es cr ita, vemos o roteiro no início para exercitar e ir encon-
ao trabalho da ria
ferramenta transitó trando a forma que melhor funcio-
apenas como uma su lta do do film e.
e o re
entre nossas ideias na pra você.
Joel Cohen
38
[4.1] Tema lhe dado a boneca. Sem saber a posse da boneca. Os dois Ma- de fato é importante :) Na ficção, em
a quem devolver, doou-a para o racatus querem a boneca, mas as geral, a narrativa já está definida antes
O primeiro passo é definir o Tema, museu. Hoje os dois Maracatus evidências do passado são pou- da filmagem. Mas atenção, isso não
o recorte dentro desse tema, e reivindicam a posse da boneca. cas e não há provas definitivas. é uma regra, é apenas uma conven-
colocar isso no papel. Sobre o ção, ou seja, como se costuma fazer.
que vai tratar o seu filme? Lem- Tente começar desenvolvendo sua Lembra que John Cassavestes, por
bre-se que estamos pensando [4.2] Sinopse ideia se perguntando sobre estes exemplo, construiu toda sua cinema-
num curta-metragem e, portanto, elementos. Quem é o sujeito da sua tografia em cima da improvisação na
sua ideia deve caber em no máxi- Já a Sinopse é um resumo mais história? Qual a transformação que interpretação dos atores?
mo quinze minutos. Para ter mais desenvolvido da história, vai além ele passa no filme? Quais são seus
claro esse recorte, a ideia é resu- de apresentar o objeto e o enredo, obstáculos? Isso que falamos até
mir em um parágrafo a proposta pois aponta também o persona- agora vale tanto para ficção como
do filme. Nele já são apresenta- gem e os “porquês” ou, em outros para documentário.
dos os personagens principais, termos, contextualiza e desenvolve
os conflitos e outros elementos o tema que nós já escrevemos. Você consegue imaginar quais as
que sejam essenciais. Por exem- diferenças de uma sinopse de do-
plo, o tema do documentário Se fôssemos continuar a desen- cumentário e uma de ficção? No do-
de 26 minutos Dona Joventina volver o tema da boneca Joven- cumentário, como quase sempre se
(2010) poderia ser escrito assim: tina, precisaríamos contextualizar está dialogando com algo real, vivo, a
primeiro o que consiste as Nações própria situação da filmagem é me-
Dona Joventina é uma boneca de Maracatu e o que são as bo- nos controlável e a postura da equipe
de madeira preta, que pertenceu necas dentro do Maracatu, para deve ser a de estar sempre aberta a
ao Maracatu Estrela Brilhante de entendermos qual a importância dialogar com os personagens e seus
Recife e hoje se encontra no Mu- da nossa personagem. Depois, contextos. Já falamos antes, mas vol-
seu do Homem do Nordeste. Foi explicaríamos como ela foi parar tamos de novo a esse ponto porque
doada à pesquisadora americana na mão da pesquisadora e qual a
Katarina Real, que antes de mor- relação dessa pesquisadora com
também de sinopse o
rer voltou a Recife para devolver os Maracatus. Neste caso, o Mu- TOQUE : Algumas pessoas chamam
para um patrocinador
a boneca, mas encontrou duas seu onde está a boneca também texto escrito para a apresentar o filme
is, na hora que o filme
é um personagem, assim como e, também, o que escrevemos depo
nações de maracatu chamadas iste num pequeno parágrafo
está pronto. Nesse caso, cons
Estrela Brilhante e nenhuma de- cada uma das Nações de Maraca- de um jeito atra ente /vendável, jun-
apresentando a produção
tu Estrela Brilhante. O Museu tem sobre o produto. No capí-
las era exatamente quem havia to com outras informações básicas
uma palhinha sobre isso.
tulo sobre Distribuição você vai ter
39
uém
a com os seus colegas. Alg
Ex erc ite ! Monte uma rod
[4.3] Argumento escolhe uma foto e mostra
a todos. Um alu no cria
and o
o iníc
out
io
ros
alunos vão em end
de uma história e os outros
O Argumento já é um texto mais hos de his tóri a na out ra até o fim da roda.
trec
corpulento, do início ao fim da
trama. Aqui vamos descrever a
proposta do filme, os persona-
gens e seus mundos, e como O Argumento do filme Dona Joventina ficou assim:
se desenrola a história. É uma
versão resumida do roteiro, mas Filme: DONA JOVENTINA
muito mais detalhada que a si- Argumento: Clarisse Kubrusly
nopse, escrito na forma de um Era uma feira mercado leilão, sem começo nem fim, onde se comercializavam afetos, cheiros, sons e sentidos Era um cortejo com Reis, Rainhas,
conto, com poucas ou nenhuma Damas do Palácio e Bonecas de madeira. Era um panteão africano na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos na Zona Portuá-
indicações de diálogo. Elaborar ria de um Recife antigo. Era um baque virado de tremer a terra, um cheiro de incenso doce e um gosto de cuscuz com leite na boca...
o argumento é um exercício im- Os maracatus nação ou maracatus de baque virado são uma manifestação carnavalesca da capital pernambucana que tem como mito
de origem as Instituições dos Reis do Congo, associada às Irmandades que prestavam assistência aos negros no Recife colonial. As bonecas
portante para você amarrar bem
ou calungas de maracatu são esculturas em madeira, artefatos, tecnologias de proteção utilizadas ainda hoje pelos maracatus e exibidas em
a ideia do filme. É a sua defesa, bailado forte pelas Damas do Paço nas ruas do carnaval de Recife.
os seus fundamentos. No do- Dona Joventina, a escultura de madeira escura, provavelmente ébano, de aproximadamente 65 cm de altura, passa de ‘totem roubado’ de
cumentário, o argumento é uma um maracatu muito antigo no município de Igarassu à protagonista e protetora do antigo maracatu Estrela Brilhante de Campo Grande. Em se-
peça realmente primordial, o es- guida e em forma de um presente mágico, passa a compor a coleção particular de Katarina Real. Trinta anos mais tarde, Joventina é novamente
paço para desenvolver o tema, re-classificada como objeto etnográfico na coleção do Museu do Homem do Nordeste (MHNE) em Casa Forte. Nesse meio tempo a boneca é
replicada e passa a assumir a função de protetora do maracatu do Alto José do Pinho.
justificar a importância de fazer a
Hoje existem duas nações de maracatu que se denominam Estrela Brilhante e que de formas distintas reivindicam a posse da escultura. Uma
discussão que se propõe e ex- fica localizada no Alto José do Pinho, Avenida Norte da cidade do Recife, cuja rainha é Maria Marivalda dos Santos e a outra, em Igarassu, antigo
plicar os elementos que vão ser município pesqueiro dos arredores da capital, cuja matriarca é Olga Santana Batista. Para os integrantes dos maracatus que hoje reivindicam a
usados para construir o filme. É, escultura, Joventina é vista como detendo forças “totais”, cosmológicas e práticas. Joventina é compreendida como entidade espiritual, ora um
muitas vezes, o instrumento que orixá (Iansã Gigan, explicação de Marivalda), ora uma preta velha (explicação de Dona Olga), mas de todo modo, um verdadeiro sujeito de ação.
vai dar origem ao plano de fil- Ambas as nações, apesar das discordâncias e das diferenças estéticas, sonoras e visuais, argumentam que no museu a escultura perde sua
magem e a muitas decisões que capacidade de agência e “morre”.
Segundo Katarina Real, Dona Joventina era a boneca do maracatu do bairro de Campo Grande que representava o “mestre Cangarussu”, um
devem ser tomadas na realização
dos “mestres de catimbó” do “centro espírita” localizado na casa do dono do maracatu Cosme Damião Tavares. Em um momento de extrema
do filme. Ele vai ser o seu guia e dificuldade para a nação, após a morte de Cosme, a pesquisadora estrangeira foi escolhida pelo próprio “mestre Cangarussu” para ser a guardiã
por isso merece toda atenção. Já da boneca. Trinta anos mais tarde, resolve trazer a calunga de volta ao Brasil, mas confusa por não reconhecer em nenhum dos dois maracatus
na ficção, o argumento é mais um Estrelas de hoje a nação que pesquisou na década de 60, entrega a boneca ao Museu responsável pelo incentivo, manutenção e divulgação da
passo na organização do roteiro. cultura nordestina em Recife.

40
A abordagem etnográfica proposta consiste em acompanhar os dois grupos de maracatu nos preparativos para o carnaval de 2010, nos
ensaios, nos desfiles mais significativos –noite dos tambores silenciosos - e nos rituais direcionados às calungas. Os maracatus serão retrata-
dos inseridos nos seus contextos nativos, filmaremos os ambientes, as pessoas e suas relações de envolvimento com o maracatu. Serão feitas
entrevistas com Dona Olga, Maria Marivalda e um representante do MHNE. Também utilizaremos imagens do acervo de iconografia e vídeo da
Fundação Joaquim Nabuco. Realizaremos uma visita acompanhada dos maracatuzeiros e das rainhas que nunca foram ao MHNE. Assim, o en-
contro das distintas narrativas no museu e com a boneca também será filmado, propiciando a etnografia de um encontro “multicultural” no qual o
“povo do maracatu” invadirá as galerias do bairro das casas grandes de Casa Forte.
O documentário propõe uma reflexão sobre os processos de patrimonialização de cultura através da etnografia de um objeto sagrado e dos
seus distintos usos. A linguagem cinematográfica valorizará cores, texturas, tecidos, saias rodadas, corpos em movimento e sobreposições de
imagens. A experiência etnográfica participativa e continuada das diretoras com as nações de maracatu permite que a natureza das relações ali
presente também apareça. A originalidade da proposta consiste em ampliar e complexificar o debate sobre documentação e difusão do patrimô-
nio imaterial brasileiro, já que um mesmo objeto é descrito a partir de diferentes memórias e usos imateriais.

[4.4] Escaleta
Falta ainda a escaleta, o esqueleto do filme com as cenas que deverão ser Veja um exemplo de escaleta de Se você quiser filmar um documen-
filmadas. Esse documento normalmente contém o cabeçalho e a síntese cena ficcional: tário sobre retirantes que se esta-
de cada cena e permite que você possa visualizar a história toda. Na fic- beleceram no seu bairro ele pode-
ção ela vai servir de base para montar a estrutura do roteiro, pois contém Cena 1 – Arnaldo, um arqueólogo, ria ter uma escaleta assim:
todas as cenas e seu ordenamento. No documentário a escaleta não é tão se aproxima da entrada da caverna. Ele foi
atraído pelo rastro de fumaça que subia Cena 1 – Chegada na casa de Dona
rígida e pode ser substituída por um plano de filmagem, dependendo da
alguns metros.
 Maria.
sua ideia e da forma escolhida para abordá-la. A escaleta pode ser uma Cena 2 – Um pássaro sobrevoa a ilha e Cena 2 – Entrevista com Dona Maria
ferramenta importante na hora de decidir as cenas que pretende filmar, corta o rastro de fumaça. enquanto ela prepara um cuzcuz de milho e
mesmo que a ordenação delas não esteja fechada e que novas cenas Cena 3 – Arnaldo chega à entrada da fala de sua terra natal.
sejam criadas durante o processo de filmagem. Não se esqueça que em caverna e encontra uma pessoa que vive Cena 3 – Imagens de Arquivo de
documentários fatos novos podem surgir. Então não faça da sua escaleta lá há alguns anos, Estevão. Estevão explica retirantes no sertão.
algo que possa limitar sua criatividade e sim uma forma de organizar e para Arnaldo como foi parar ali e deixa claro
que Arnaldo terá muitas supresas quando
viabilizar sua criação.
começar a explorar a caverna e que não
poderá retornar.
Dica: Você pode espalhar suas ideias sobre uma mesa, em Cena 4 – Arnaldo entra na caverna e se
post-its, e depois começar a organizá-las de forma a ter mais depara com o primeiro desafio, 50 ossadas
clara a ideia do filme e o que você precisa para realizá-lo. de uma tribo desconhecida.

41
Agora vamos ver um exemplo de plano de filmagem daquele filme Dona [4.5] Roteiro como está escrito. Comentamos
Joventina. aqui só para te dar, desde já, uma
O roteiro pode ser estruturado em visão geral da coisa.
1ª diária: cenas ou sequências.
Dia 26 de Maio, Quarta – Comissão Pernambucana de Folclore
A junção das cenas constitui o que
10:00 hs – Entrevista com Roberto Benjamin na Comissão Pernambucana de Folclore.
Filmar ele andando pela rua da Aurora e chegando na Comissão Pernambucana.
Uma cena se refere a uma ou mais se chama de sequência. E se uma
E a tarde.... ações que acontecem dentro de cena é uma frase, uma sequência
Visitar Mauricio e fazer imagens de cobertura uma mesma situação e espaço. Por seria um parágrafo, um conjunto de
Imagens Tempo – Música Tempo exemplo, se Joãozinho está no seu frases que juntas exprimem uma
Locações - Pátio do Terço, Pontes do centro, Igreja São Pedro, etc quarto jogando videogame e con- ideia mais complexa.
versando com uma amiga, depois
Deu para ter uma ideia? Agora vamos à última ferramenta usada para nos se levanta e sai de casa, no momen- Então, vamos lá, como seria pas-
ajudar a tirar a ideia da cabeça e organizar no papel. to em que ele saiu de casa acabou sar a ideia de um argumento para
essa cena. Na verdade ele não pre- o Roteiro?
cisa nem sair de casa. Se foi jantar
cussão
um roteiro coletivo, a dis
TOQUE : Para trabalhar em al par a que os
na sala com a família já temos aí ou- Imagine que você tem a seguinte
aleta é fundament
da história em cima da esc esc revend o e pos sam tra cena, pois mudou a situação e frase no seu argumento:
que estão
autores definam o roteiro mudou também o cenário. Sacou?
o de cen as.
dividir as tarefas de redaçã “Márcia vive triste depois da se-
A cena pode ser formada por um paração e não para de pensar em
plano ou um conjunto de planos. seu marido.”
É como se o plano estivesse para
uma cena assim como uma palavra Uma possibilidade de cena para
está para uma frase. De toda for- construir essa ideia, poderia ser:
ma, os planos não precisam estar
descritos no roteiro. Tem gente que “Márcia chega em casa com uma ex-
deixa esses pontos bem indicados pressão triste. Anda até a estante da
porque são importantes para definir sala. Podemos ver uma fotografia no
o clima que quer passar, a forma porta retrato. Ela pega a fotografia e
que a história deve ser contada. encosta no seu peito. Depois olha a fo-
Tem outros que apenas sugerem tografia, enquanto chora. O casal apa-
como deve ser filmado pela forma rece na fotografía em sua lua de mel.”

42
Outro exemplo: Vamos dar uma olhada agora na forma de escrever um roteiro. Pegamos É fácil notar que este pedaço de ro-
como exemplo o filme Ilha das flores, escrito e dirigido por Jorge Furtado. teiro nos diz exatamente tudo o que
Se escrevemos: Ricardo é tímido. Repare como ele estrutura o roteiro com base nas cenas e já dá orientações será dito e mostrado na tela em seis
Como representar a timidez em de movimento de câmera e efeitos de edição. cenas. E repare que as cenas do
imagens? Para visualizar a timi- agricultor são claramente encena-
dez ou qualquer outra caracterís- das, como em um filme de ficção,
tica de uma pessoa precisamos ILHA DAS FLORES como falamos lá em cima, e o fil-
criar ações. roteiro de Jorge Furtado me não deixa de ser considerado
março/1989 um documentário mesmo assim. O
Solução 1 ************************************************************** grau de desenvolvimento do roteiro
Renata sorri para Ricardo e ele vai depender então do tipo de filme
(1) Sobre fundo preto surgem, em letras brancas, sucessivamente,
abaixa a cabeça, sem graça. as seguintes frases: que você queira fazer.
ESTE NÃO É UM FILME DE FICÇÃO
É importante pensar sempre em ESTA NÃO É A SUA VIDA
traduzir as emoções para ima- DEUS NÃO EXISTE
gens. Se, por exemplo, tivéssemos
(2) GLOBO: as frases desaparecem em fade e surge um globo
escrito assim:
girando, como no início de "Casablanca". Sobre e sob o globo,
aparece o título do filme:
Solução 2 ILHA DAS FLORES
Renata sorri para Ricardo e ele se
intimida. (3-5) MAPAS:
fusão, ou corte, para mapas do Brasil, do Rio Grande do Sul, até se ler "Belém Novo" no mapa.
FUSÃO PARA Cena do filme Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado
A primeira opção é mais clara, pois
exprime a emoção em uma ação (6) PLANTAÇÃO DE TOMATES: Câmera na mão avança numa plantação de tomates em Belém Novo, em direção a um agricultor japonês,
característica de alguém tímido, parado no centro do quadro, olhando para a câmera. A partir daí, a câmera mostra exatamente o que o texto diz, da forma mais didática, óbvia e
que é abaixar a cabeça. Na solu- objetiva possível. Quando o texto fala em números eles são mostrados num quadro negro ou em gráficos.
ção dois, se você reparar, o roteiro
não indica qual a ação de Ricardo Narrador
que nos diz que ele está intimidado, “Estamos em Belém Novo, município de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, mais precisamente na latitude
30 graus, 2 minutos e 15 segundos Sul e longitude 51 graus, 13 minutos e 13 segundos Oeste. Caminhamos neste momento numa planta-
portanto, ele não dá base para a vi-
ção de tomates e podemos ver a frente, em pé, um ser humano, no caso, um japonês.”.
sualização da cena.

43
Esse aqui é um outro exemplo de NO RASTRO DO CAMALEÃO
documentário em que a filmagem é de Eric Laurence
menos controlada. Note que essa Roteiro utilizado como base para a filmagem do documentário
opção gera um roteiro mais aber- (não corresponde à versão final do filme)
to e repare que o diretor/roteirista
(neste caso é a mesma pessoa,
SEQUÊNCIA 1 – EXT/ CHAPADA DO ARARIPE / DIA
como no Ilha das Flores) tomou o
cuidado de escrever no cabeçalho O sol se põe na Chapada do Araripe, berço natural dos músicos-agricultores da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. A sequência será
que é o roteiro de filmagem, e não o composta de um único plano: uma roça com a Chapada ao fundo, de onde vemos seus altos babaçus e a terra vermelha. Bandos de pássaros
do filme pronto. cortam o vermelho e azul do céu e, ao longe, podemos perceber o movimento de um vaqueiro tangendo bois. Podemos também ouvir o canto
dos pássaros da região, assim como de outros animais.

SEQUÊNCIA 2- INT/ CASA NO CRATO / NOITE

Familiares e amigos reunidos em uma típica casa do interor do Ceará celebram a festa da Renovação do Sagrado Coração de Jesus, uma
tradição religiosa característica da região do Cariri, ritual onde a “música de couro” das bandas cabaçais serve de elemento e base para a
festa. Apesar de ser uma festa primordialmente religiosa, quando se sela todos os anos uma espécie de dívida com o mestre religioso em
preparo para um novo ano de plantação e colheita, a Renovação da estampa do Cristo é um momento de muita animação, música e dança.
Os “Irmãos Aniceto” entram na sala da residência cantando e dançando.
Logo depois, seus membros se separam para a louvação, um a um, sem que seja interrompida a tocada. Um de cada vez faz a reverência
com a cabeça, ajoelha-se, beija os pés do santo e sai da frente para que o próximo se aproxime. Após a homenagem individual, voltam a fazê-la
de dois em dois, com o mesmo cerimonial: a música a vibrar estridente e melódica.

SEQUÊNCIA 3 – INT / CASA DE RAIMUNDO / DIA

Almoço em família, na casa do pifeiro Raimundo, bairro do Seminário, cidade do Crato.


A casa de Raimundo é simples, com um santuário na parede, com várias imagens sacras dispostas como quadros.
O dono da casa mostra a foto de Véi Aniceto, seu pai, e o apresenta à câmera.
Em seguida, todos se dirigem à mesa, na cozinha. Uma mesa de madeira coberta com toalha de plástico, pratos e talheres dispostos, comi-
da, e as típicas cadeiras de couro de cabra.
Mestre Antonio será requisitado para apresentar a família: cada músico e sua respectiva família e a relação parentesca de cada um com José
Lourenço, o Véi Aniceto. A partir dessa apresentação, serão puxadas narrativas próprias dos Irmãos, uma história oral de como a banda surgiu,
como os artistas se comportam entre si, nos seus cotidianos, em que espaço eles vivem, e como isso tudo perpassa sua produção cultural.

44
Reparou como tem a descrição dos locais das cenas? E que ele tenta É legal começar com perguntas mais gerais, não muito profundas. Isso
fazer a descrição criando imagens do lugar e das situações? E as indica- permite também ir aquecendo a entrevista e fazer com que o entrevistado
ções de música, você viu? Esses exemplos são só para te dar uma ideia, vá se envolvendo pouco a pouco. Depois, as perguntas podem ir ficando
mas como já dissemos, o importante do roteiro é que ele seja uma ferra- mais pontuais e precisas, cercando o assunto aonde você quer chegar.
menta para te ajudar a tomar as suas decisões.
Mais algumas recomendações legais pra você elaborar as pautas:
Quando se trata de cenas com entrevistas, temos que indicar no roteiro
quem é o personagem, em que situação ele será filmado e o que se es- As piores perguntas são aquelas que convidam respostas curtas ou do
pera desse depoimento. tipo sim/não, especialmente no início da entrevista. Ex.: Qual dia você
encontrou o Sr. Mendes? – Na sexta-feira. / Você gosta de azul? – Sim.
uma
agem enquanto ele faz alg
a: Mu itas vez es é interessante filmar o person o dá ma is dinâm ica
Dic r, etc. Iss
ar louça, cozinhar, passea Um método bom é você se imaginar representando os espectadores,
atividade como dirigir, lav Depen den do do que se esp era
revistado a relaxar mais. fazendo as perguntas diretas que eles fariam, porque depois de ter
à imagem e ajuda o ent ual iza o filme é importante colocar no
roteiro
ista e de com o voc ê vis (e se) o per- pesquisado um assunto profundamente você sabe tanto sobre ele que
da ent rev emos decidir o que
m. Em outros casos, pod
essa ação do personage de filmar, enquanto gra vam os o dep oim ent o. pode se esquecer das perguntas que um espectador comum faria.
ará fazend o na hora
sonagem est
Enfim, como falamos, o roteiro é a etapa final desse processo de tentar tirar
o filme da nossa cabeça e colocar em palavras que representem imagens
Para indicar as informações que você espera colher dos entrevistados e sons. Com a história desenhada a hora é de partir para a filmagem!
terá que desenhar, em um outro documento, uma pauta de perguntas
para cada personagem. A pauta nos faz definir o que queremos daquele
entrevistado e permite que nós organizemos a estrutura informativa do fil- Sites que falam mais sobre roteiro:
me. Então, quando for fazer a pauta, o exercício é imaginar as respostas
do seu entrevistado e elaborar suas perguntas de acordo com o resultado http://www.roteirodecinema.com.br http://www.storytouch.com
que você espera. Claro que você não precisa, nem conseguirá, saber http://dicasderoteiro.com
exatamente o que ele dirá.
arem no
o sabem, ao cheg
cia ou ço dir eto res dizerem que nã A ma ior ia do s planos é
Dica : Lembra lá do que falamos sobre o Com frequ ên igo fa zer assim.
co ns o
Cinema-Verdade e o Do-
set, como vão film
ar a ce na . Nã o situação e poss
qu
cumentário Sociológico? Então, ao pensar
as perguntas você pode film ag en s co me çarem. (...) A única me nt ar es , qu e
s filmo cenas suple
tentar confirmar informações que você já concebida antes da en te é qu an do os do
tem e embasam o teu isar visualm devemos nos torn
ar escrav
discurso, ou levantar questões que permitam considerar improv ) Mas nem por isso
o entrevistado te sur- o no ro te iro . (... afa r” pa lav ras.
preender, revelar outra visão sobre o assu não estã “fotogr
ntentaríamos em
nto. roteiro, ou nos co
se
Martin Scorce
45
[5] A Fil ma g e m

No momento da filmagem várias que mobilizou a galera pra botar a


questões precisam ser pensadas. coisa de pé. Mas, mesmo se não for
Organizamos aqui os pontos indis- o caso, é importante ter alguém (ou
pensáveis: a produção, a fotografia, o mais de uma pessoa) acompanhan-
som, a arte (ou a cenografia, figurino do e orientando todas as etapas do
e maquiagem) e a direção. Os atores filme pra que ele tenha uma cara.
ou entrevistados também são funda-
mentais. Mas como aqui estamos
falando de documentário, incluímos [5.1] Produção
essa parte no tópico sobre direção.
A produção é a parte responsável
Você pode ter uma ou mais de uma por providenciar toda a infra-estru-
pessoa responsável por cada coisa, tura necessária para realização do
ou pode ter uma equipe pequenini- filme. A partir do roteiro ou do pla-
nha que se divide entre as funções. no de filmagem, a produção checa
Mas como são muitos elementos a a disponibilidade das locações e
serem planejados para tirar o roteiro personagens e, também, os ins-
do papel, pensar na combinação trumentos necessários - câmeras,
deles e dividir as tarefas é fundamen- lentes, iluminação, figurino etc. - em
tal, senão vira uma bagunça imensa. cada área para fazer a gravação.
A direção é responsável por fazer Com tudo isso em vista, monta o
esse elo e, por isso, tem que estar planejamento, procurando sempre
muito por dentro da ideia do filme. concentrar a filmagem no mínimo de
Em muitos casos, o diretor é o cara dias pra ficar mais fácil de organizar
que está desde o início do filme, o e mais em conta.

46
a-feira”,
chamado “Cabo-frio, segund
TOQUE: Um documentário aty num dom ing o, né...
ado em Par
a princípio, não pode ser film títu lo, afinal,
produzido e todas as pessoas que retor da escola que pode ajudar a
a brincadeira com o
Mas até pode ser, se for um se quiser rea lme nte vão aparecer têm que assiná-las. conseguir a liberação para a entra-
io livre! Mas
o documentário é um territór de gra vação des se víde o É importante que o produtor en- da em algum lugar que se queira
s e loca is
seguir o título a risca: os dia film ar em tregue esse documento para os filmar, etc...
do conceito do vídeo: só
estão dentro da proposta, entrevistados assinarem antes de
seg undas-feiras.
Cabo Frio e apenas nas
começar a gravar. Caso contrá- É necessário montar também
rio, pode acontecer de se perder uma lista de todos os equipa-
A produção também cuida dos gens ou atores. Se a cena 3 deve um tempo grande filmando a cena mentos e objetos que serão uti-
gastos do filme e de todos os do- ser gravada na mesma locação com aquela pessoa e depois não lizados nas gravações para que
cumentos que ajudam no dia-a-dia que a cena 7, agrupamo-as no poder usar o material porque ela nada se perca. Muitas vezes são
da filmagem: ordem do dia, crono- mesmo dia. Com os entrevistados não topa assinar. Quando apre- alugados ou emprestados e de-
grama, autorizações de imagem a mesma coisa. sentar o documento é legal falar de vem voltar aos donos da mesma
e voz, plano de filmagem, lista de novo qual é a ideia do filme e onde forma que foram entregues para
contatos e inventário de objetos e Para cada dia da filmagem se faz se pretende mostrá-lo para deixar a produção.
equipamentos. É legal contar com uma ordem do dia, que nada mais o entrevistado mais tranquilo.
instrumentos como esses antes de é do que uma organização do tem- Tá tudo organizado? Mas e se algo
sair para gravar, para que no mo- po, prevendo a sequência de tudo Todas as pessoas da equipe, ato- der errado... você marcou a externa
mento tão importante não precise- que acontecerá naquele dia de gra- res e personagens devem ter seu e no dia seguinte chove...Desespe-
mos parar tudo preocupados com vação, ou seja, um passo a passo nome e telefones na lista de con- ro? Desmarca tudo? Por isso é le-
coisas pequenas - como o fato do para guiar a equipe. Horários do tatos. Caso haja algum problema, gal a produção sempre pensar em
entrevistado de repente não apare- transporte, de chegada da equipe, como atraso, a produção terá tudo um plano B. A entrevista que seria
cer, ou não podermos gravar uma de chegada de entrevistados em a mão para saber o que está acon- na externa pode ser feita em outro
entrevista porque esquecemos a cada locação, listagem dos equi- tecendo e tentar contornar a situa- lugar? Sim? Então muda a locação
autorização de imagem. No final pamentos necessários, listagem ção. É bacana colocar nessa lista e grava! Mas a cena posterior tem
da apostila a gente colocou alguns dos profissionais envolvidos no mo- também o contato de pessoas que que ser na praça? Adia para outro
exemplos dessas ferramentas de mento da gravação, naquela cena podem substituir alguém da equi- dia e tenta colocar algo no lugar.
trabalho que citamos aqui. Adapte específica, enfim, toda a logística pe numa emergência, tipo aquele Enfim, lembra que falamos dos
e use à vontade! desse dia de trabalho. amigo de todas as horas que vai imprevistos dos documentários lá
poder segurar o microfone, o pai no capítulo de roteiro? Pois é, isso
O cronograma normalmente é As autorizações de imagem de- show de bola de um colega que afeta diretamente a produção e ela
montado a partir da disponibilida- vem ser preparadas com o nome pode usar seu carro para levar a pode e deve ajudar muito a equipe
de das locações e dos persona- e detalhes do filme que está sendo equipe de um lado pro outro, o di- neste momento.

47
Exercite ! A gravação está marcada para come
çar às 8 da manhã na principal praça do bairro
uma igreja. Vamos entrevistar o Padre dessa , onde tem
igreja. É o único dia e horário que o padre pode
trevista, essencial para o nosso filme. Temo dar essa en-
s duas horas para realizar essa gravação.
- E se estiver chovendo muito no dia?
- E se a praça estiver cheia de gente?
- E se o despertador do cinegrafista não tocar
e ele se atrasar?
- E se o padre não aparecer?
Tente montar um plano B para todas essas opçõe
s.

Vamos organizar então as dicas para o dia anterior à filmagem:

Antes do dia da filmagem, há bastante coisa a ser feita para preparar É importante também ligar para todos os envolvidos na gravação
tudo direitinho: para confirmar o recebimento da ordem do dia e checar o horário
de chegada no set de gravação.
Sobre o equipamento: checar com cada membro da equipe se ele
revisou seu equipamento e se já tem tudo de que vai precisar. As Veja a previsão do tempo caso a locação seja externa. Se a previsão
baterias dos celulares e câmeras estão totalmente carregadas? Car- for de chuva tenha sempre um plano B de onde gravar. Converse
tões de memória estão vazios? Headfone está à mão? Vai precisar com o diretor para definir se é melhor mudar a locação ou remarcar
de pilhas? Essa é a hora de deixar tudo certo para a gravação! a entrevista.

Sobre os atores (se forem utilizar cenas de ficção): conferir o figurino Sobre todo e qualquer tipo de combinação: Produtor, você é o cara
(roupa que o ator vai usar) e eventual maquiagem. que garante que tudo corra bem, e para chegar o mais perto possível
dessa certeza, lembre-se que a produção é o lugar da redundância,
Sobre horário e transporte: combinar bem cedo com a equipe, o que queremos dizer com isso? Que nunca é demais deixar claro
já prevendo que toda filmagem atrasa em seu começo, que há para as pessoas os combinados que foram feitos. “Então vamos pe-
o momento da preparação, e que tem almoço no meio do dia, gar o tripé na sua casa às 15hs, ok?”, “Nos encontramos às 14hs
interrompendo novamente o fluxo das atividades. Numa produção em frente à Igreja Matriz, tá?” Repetir os combinados para as pes-
profissional, uma Kombi ou van passa para pegar o equipamento soas nunca é demais, porque quanto menos mal-entendido, melhor.
e cada membro da equipe, assim o controle do tempo de cada Aliás, um bom produtor tem plano A e plano B para tudo, se algum
um fica na mão da produção, o que garante que todos estarão à combinado não rolar, ele já tem uma carta na manga para resolver o
disposição quando for preciso. Outra coisa boa a se fazer é enviar problema na hora mesmo.
o cronograma, a ordem do dia, o plano de filmagem e o contato
de toda equipe para o email de todos, com alguma antecedência.
ão é bem feita a equipe de
cinema que diz que quando a produç
Há um a má xima em tudo fluirá como planejado :)
r no dia da filmagem, porque
48 produção não precisa trabalha
A produção é a primeira a sair de casa e providenciar tudo e a última a retornar. Quando a gravação acaba, a
equipe arruma e reorganiza todo o equipamento para ir a uma nova locação ou concluir o trabalho do dia. Esse é
o momento de usar o tal inventário de tudo que foi levado para a locação, para que nada fique pra trás.

relaxados e ao mesmo tempo


TOQUE: O clima da equipe é algo muito importante. É bom que todos estejam
que vão fazer. E lembre-s e, a pior coisa que pode acontece r numa gravação é uma briga ou
concentrados no
o clima e espalha uma energia que só tem
discussão entre membros da equipe na frente de todos, isso quebra
a gravação é a pior hora para isso, ainda mais com todos as-
a atrapalhar. Discutir pode até ser saudável, mas
a falar para alguém, espere um momento tranquilo para levá-lo para um canto ou fale
sistindo. Se você tem algo
depois das filmagens.

Só um lembrete, a produção de um filme pode ser feita por uma ou mais


pessoas. Se tiver uma equipe grande, várias pessoas podem trabalhar Ex ercit e! Escolha
uma imagem de uma
juntas na produção, que dá bastante trabalho e é essencial para que tudo e tente perceber todos cena de um filme
seus elementos, enten
comece e termine bem. Se a equipe for pequena, pode ser uma opção necessário para produ dendo o que foi
zi-la. Você pode come
cio por essa aqui. çar este exercí-
legal dividir as tarefas entre todos os membros da equipe e, assim, todos
serão produtores e terão outras funções no filme também.

49
[5.2] Fotografia [5.2.1] A LUZ
Não basta a imagem ser boa, tem que ter impacto - Edgar Moura É ela quem invade as lentes e imprime sua marca no planeta. É a luz que
pinta as telas pelo mundo a fora.

Quando você estiver filmando um documentário, tente tirar o melhor proveito


da luz que já existe no local para criar contrastes, volumes, sombras e climas
mesmo sem mexer em nada na casa ou ligar refletores. Muitas vezes, basta
posicionar bem a câmera, afinal, um dos pontos fundamentais para conse-
guirmos uma boa iluminação é criar sombras! A sombra é tão necessária para
a fotografia quanto o silêncio é para a música, pois a imagem só se forma
pelo contraste. As câmeras digitais estão cada vez melhores na captação
com pouca luz, e aí, o que fazer com isso?

Dica: Não deixe tudo iluminado ou com uma forte fonte de luz
em cima da câmera (como nos flashs) porque, fazendo isso,
Cena do filme Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho elimina-se o volume da imagem.
No cinema, o termo Fotografia precisa se diferenciar entre suas duas gran-
des vertentes - a foto parada e a foto em movimento. Apesar de serem
quase a mesma coisa, são coisas completamente diferentes! Antes de mais nada, vamos ver a luz com outros olhos! Você sabe como
é a luz? E quais de suas particularidades são as mais importantes para o
A fotografia mesmo, a foto “parada” - ou “foto still” para usarmos o termo cinema? Vamos entendê-la olhando, basicamente, para três pontos: Dire-
técnico -, é um trabalho fundamental e bastante divertido. A função do fo- ção da Luz; Temperatura da Luz; Intensidade da Luz.
tografo de cena é conseguir as melhores imagens dentro de um set, tanto
da cena, quanto das pessoas trabalhando em volta. Uma coisa importante
é tentar imitar o quadro que a câmera do filme está fazendo, para se usar
em cartazes e peças de divulgação em geral. Quando for fazer um filme,
não esqueça das fotos still!!

E a foto em movimento é o cinema, propriamente dito! Ou seja, a luz, a


câmera e... a ação! Com vocês, a fotografia de cinema:

50
Direção da luz

De onde vem a luz?

Uma coisa óbvia, quando é dita, muitas vezes acende caminhos em nossa cabeça, veja só esta lista:

De cima ou de baixo; Da esquerda ou direita;

De frente ou de trás.

Não lhe parece óbvio? Mas isso nos abre para as únicas possibilida-
des de posicionamento de uma fonte de luz. E cada uma vai nos dar
efeitos diferentes. Experimente com um abajour ou até mesmo com
a lanterna do celular! Muitos climas podem ser conseguidos pela po-
sição dos refletores ou pela posição da câmera em relação à nossa
fonte de luz primária que é o sol.

51
da câmera,
ort ante apr end erm os a ver com os olhos
TOQUE : É imp te. Temos uma noção
de um jeito bem diferente da gen A Compensação
por que ela vê erga o mundo fatiado
não tem, já que ela enx
espacial que a câmera parável em termos de
e o nosso olho é incom
e em duas dimensões pa ra a cena, veja pela Já a luz de Compensação serve para atenuar as sombras causadas pelo
tão qu an do se examina uma luz
qua lidade. En o a câmera está lendo
o. O que importa é com Ataque. Geralmente, é bem difusa e mais fraca. A iluminação feita com o
câmera e não pelo olh gem que a câmera
ntre-se no visor, na ima rebatedor produz a luz esperada aqui.
as luzes do lugar. Conce o, mas que não apa-
Nã o adi ant a um cenário perfeit
está cap tan do. res, a arrumação do
luz, a encenação dos ato
rece na câmera. Toda a era está vendo.
tadas para o que a câm
cenário tem que ser vol Contra-luz

A Contra-luz talvez seja o grande diferencial numa imagem. A luz que vem
Em uma filmagem de grande estilo – uma novela, uma propraganda de TV, por trás e ilumina as costas dos personagens ou atores parece não servir
um longa-metragem de ficção super produzido, etc. – usa-se muito uma pra nada, mas ela é quem recorta e destaca as figuras do fundo, faz os
técnica chamada Luz de Três Pontos. A proposta é usar três fontes de cabelos brilharem e as folhas ganharem um verde bonito! É importante que
iluminação ao mesmo tempo, cada qual com suas características e fun- essa fonte seja posicionada de frente para câmera, mas de forma que sua
ção. Existem diferentes nomes para esses três pontos de luz, aqui vamos luz não atinja a lente para não criar o que chamaos de bolas e riscos de luz,
chamá-los por: Ataque; Compensação; e Contra-luz. ou, no termo técnico, “flare”. A não ser que você goste do efeito e resolva
usar como linguagem...
A luz de ataque

A luz de ataque é a luz principal.


Escolha bem a posição dela. Ge-
ralmente se usa numa altura de 45
graus (como o sol às quatro horas da
tarde). Essa posição projeta a sombra
do nariz do personagem ou ator, for-
mando um triângulo de luz que res-
salta a maçã do rosto. Repare agora
quantas vezes você consegue ver
isso num mesmo capítulo de novela.

52
Intensidade da Luz (e das sombras): Já adivinhou então a luz suave ou difusa, né? O termo Luz difusa ilustra
bem o que é: uma luz dispersa, espalhada. É quando a sombra fica “fora
Dura ou Suave de foco”. Isso acontece quando a luz vem de diversos pontos ao mesmo
tempo, por exemplo, num dia nublado! As nuvens se encarregam de espa-
Uma sombra dura é aquela bem desenhada, onde a gente vê bem os con- lhar a luz do sol, então, em vez de ser pontual, a luz do sol se espalha por
tornos. Ela é formada por causa da chamada “luz dura”, que é um ponto de toda a abóbada. Por isso os dias nublados não têm sombras.
luz único, uma luz pontual como a luz do sol, uma lâmpada ou mesmo a
lua cheia. Ela vem de um único pontinho.

Repare que a sombra projetada é bem nítida. Isso é a luz dura!


a área
r sua iluminação, ampliando
TOQUE : Você pode suaviza sed a pod e ser vir de difu-
pap el de
da fonte de luz. Como? Um a sala
sperado está em fren te de um refl eto r. Ou se estiver dentro de um
e, o ve rd ad eiro interesse do ine nte,
sor na
cima, a luz vai se esp alh ar pel o teto
(...) pens o qu o em que, justame basta virar o refletor para
e ele en tre em uma situaçã ex terna, biente . Out ra ide ia é est end er um
pe rm itir qu
ex em plo, se filmo um a ce na e cair suave por todo o am refl eto r par a
tudo já estava pr ev ist o. Po r
vens chegam e a fininho na frente do
uma tomada, as nu “varal” com um lençol bem o efe ito da luz que
me io de m çol. É o mesm
sob o so l, e, no a prever, aí, para mi a luz vir espalhada pelo len
co me ça a mu da r sem que se poss du ra te mp o o pel a cor tina da casa.
luz , a tomada entra suave
). E, se além disso e...
é o êx tase...( risos bo ra e o so l re to rn
as nuvens vão em
bastante para que
olucci
Bernardo Bert 53
No filme Ensaio Sobre a Cegueir
a, de Fernando Meirelles, vemos
exatamente o branco. E se você que foi procurado
assistir, vai ver que casa muito
bem com a história !
Direta ou Rebatida

Praia, verãozão. As setas cintilantes do sol batem diretamente em sua Bom, e se nos deparamos com a situação contrária, isto é, se a câmera
pele. A luz direta não pode ser mais clara. estiver vendo uma luz escura demais, sem cor nem detalhes, dizemos que
está sub-exposto. Também podemos regular essa situação mexendo na
Note que nesta imagem do longa brasileiro “À Deriva”, de Heitor Dhalia, o sol própria câmera e fazer com que a luz entre com mais força, até ficar na...
bate de um lado, mas o outro lado da atriz não está no escuro. Existe uma luz exposição “correta”! Isto é, o momento em que a luz está ótima na cena.
bem difusa vindo do lado esquerdo. Esta é a luz rebatida. É para chegar nela
que os cineastas sempre andam acompanhados de uma placa de isopor - o
refletor mais barato do mundo! A parte da luz que não bateu em quem está Natureza da Luz
sendo filmado pode ser rebatida e ajudar a cobrir as áreas de sombra causa-
das por essa mesma luz. Lâmpada, fogo, sol, seres bioluminescentes: as nossas fontes de luz!

Cada fonte emite luz do seu jeito. A luz do fogo é muito mais vermelha que
a da lua. O sol da manhã é mais azul que o sol da tarde. Mesmo as lâm-
padas variam muito entre si. Observe os postes: uns são brancos e outros
amarelos, quase vermelhos. Uma lâmpada incandescente é mais vermelha
que a fluorescente, que algumas vezes é lida pela câmera como verde. Você
pode tirar proveito disso, iluminando o cenário com uma fluorescente e as
pessoas com incandescente, por exemplo. Mas pode querer deixar todas
as lâmpadas iguais. Para isso, tem o filtro!

No cinema podemos usar a “gelatina”, uma folha de plástico resistente ao


calor dos possantes refletores. Como ela é fabricada em todas as cores
e vários tons, consegue provocar vários efeitos bacanas, como igualar as
lâmpadas ou criar diversas combinações de cores pelo cenário.
Olhando agora rapidamente para a intensidade de luz. Se a luz é forte
ou fraca no ambiente não importa tanto, mas sim como a câmera está
TOQUE: O papel celofane é bem legal para usar como filtro.
vendo essa luz. Se estiver tudo branco, dizemos que está estourado ou
Coloca ele em frente da lâmpada e pronto, você já pintou a
super-exposto. E aí, ou enfraquecemos a luz, ou regulamos a câmera. Em luz! Tem um macete bem legal: antes de mais nada, amas-
alguns casos, deixa-se como está porque o efeito pode ser interessante e se toda a folha do celofane, assim ele fica mais resistente
ter a ver com a proposta estética. ao calor e não derrete com o calor da lâmpada ! Também se
encostar ele na lâmpada ou no bocal, vai derreter na certa.
54
[5.2.2] A CÂMERA
Bom, e então chegamos na câmera! Para começar a explorá-la, vamos lá,
pergunte aí: O que é uma câmera?

A câmera é uma câmara! Escura! Na verdade uma caixa toda vedada com
um furo por onde a luz entra e é projetada do outro lado, onde tem algum
tipo de material sensível à luz para imprimi-la. Este é o princípio básico da
fotografia, tanto a digital quanto aquela do velho rolinho de filme.

Sabe esse rolinho de filme que a gente comprava para colocar nas câ-
meras antes do digital? Então, o cinema surgiu quando decidiram adaptar
uma câmera de fotografia pra usar um rolo bem grande, que pudesse tirar
várias fotos num segundo. A ideia era criar a ilusão de movimento a partir
The Allegory of Painting -or- The Art of Painting da sucessão de fotos.
(1666), Jan Vermeer
O cinema surge da fotografia. Diz a lenda que a primeira fotografia con-
seguida no mundo foi tirada pelo francês Joseph-Nicéphore Niépce em
Johannes Vermeer foi um pintor holan- 1826, uns setenta anos antes dos irmãos franceses Clóvis e Auguste Lu-
dês genial que procurou entender como f/16
mière inventarem uma das mais incríveis engenhocas do mundo: a câmera
era a luz que entrava pela janela. Ele fez
f/4
muitos quadros onde se tem uma grande de cinema.
janela lateral como fonte de luz principal f/11
da cena. É legal observar suas obras com O cinematógrafo era uma câmera de fotografia adaptada. Em todas as câ-
cuidado. Através delas podemos perce- meras, seja fotográfica, de cinema, de vídeo, de foto digital, da webcam ou
f/2.8
ber como a luz criava todos os volumes do celular, temos os mesmos recursos de regulagem da luz (a webcam e o f/8
necessários para se ter uma grande ri-
celular também têm, mas estão no automático). f/2
queza de detalhes.
f/5.6
O diafragma é igual a íris do nosso olho. Fica dentro de cada lente, bem
no fundo. Podemos fechá-lo para entrar menos luz e abrir quando tem
pouca luz. Interessante notar que quanto mais fechado, tudo fica no foco
e, quanto mais aberto, mais o foco é crítico.

55
Obturador ou Shutter é como uma janela que se- Mas a câmera inventada pelos Lumiére é mesmo uma máquina bem doi-
para a lente do material sensível. Fica protegendo e da: ela tira a foto, fecha a janela pra não entrar mais nenhuma luz, puxa o
só abre a fração de segundo necessária para a luz filme pra baixo, para o filme bem firme na frente da janela pra não borrar a
imprimir, sem queimar o filme! Essa velocidade de imagem, abre a janela só a fração de segundo necessária pra imprimir a
abertura você controla e se chama Tempo de Ex- imagem no filme, e puxa o filme pra baixo de novo – tudo isso pelo menos
1 2
posição: quanto tempo a janela vai ficar aberta, dei- quinze vezes por segundo! Como não tinha motor ainda, eles rodavam a
xando o material sensível exposto. Para tirar fotos em máquina na manivela. Então a velocidade de fotos por segundo dependia
locais escuros, o ideal é deixar um longo tempo de do cansaço do operador da câmera e depois do braço do operador da
exposição, a pouca luz (como a luz da lua) vai entran- projeção. Por isso que as imagens da época parecem mais rápidas, com
do aos poucos e imprimindo bonito. Para fotografar o movimento variável. Com o motor, ficou estabelecido 24 fotos por segun-
3 4 coisas que se movem rápido, você tem que acelerar do. Este é o sistema das câmeras de cinema até hoje.
esse tempo, para a imagem não borrar. Quanto mais
rápido, menos luz entra. As câmeras de vídeo usam uma tecnologia bastante diferente: em vez de
um filme, elas tem uma chapa de metal toda furada, conhecida como CCD.
A luz passa pelos furos e atinge um sensor que transforma em sinais elétri-
cos (sim, esses são os famosos pixels), que depois são traduzidos como
amarelo, azul, etc. A imagem é formada por vários pontinhos luminosos.

ver que
Exercite! Veja! Aproxime-se da televisão. Dá pra
que cada quadr adinho acend e uma cor.
a tela é uma rede e
parece uma bela mulhe r, mas de perto são vários
De longe
quadradinhos com cores diferentes.

No entanto, estas duas tecnologias fazem basicamente a mesma coisa:


registram a luz fechada num quadro bidimensional. Pode até parecer malu-
quice, mas não é verdade? A imagem é bidimensional, ou seja, ela só tem
altura e largura, mas não tem profundidade, é uma folha. A profundidade
na fotografia, assim como no desenho e na pintura, é ilusória, formada por
linhas diagonais. E essa imagem bidimensional está fechada num quadro,
Imagem nítida (adequada) Imagem em baixa velocidade (borrada) que pode ser retângulo ou quadrado.

56
Balanço de Branco O Compositor de imagens

Vale lembrar que as câmeras de vídeo têm um recurso chamado White O que você quer dizer ou provocar? Tudo parte deste princípio, sempre.
Balance (ou Balanço de Branco, traduzindo literalmente) que serve para Busque as técnicas que vão te levar ao sentimento, clima, raciocínio, per-
ajustar as cores. Ele é necessário para podermos dizer para a câmera o cepção e dramaticidade esperada. As possibilidades são infinitas. Veja al-
que é o branco. Estranho isso, né? Mas lembra da parte sobre as diferen- gumas das técnicas mais conhecidas para compor imagens:
ças entre as fontes de luz? Então, a luz de uma lâmpada incandescente
quando bate num lugar branco, vai refletir amarelo, assim como a luz difusa 1 - Enquadramentos
que vem de toda a abóbada azul (quando o dia está sem nuvens) ao bater
num lugar branco vai refletir azul, é claro. E a câmera vê o que está acon- Segundo a Wikipédia, “Enquadramento é a ação de selecionar determinada
tecendo. O ser humano tem um mecanismo automático no cérebro que porção do cenário para figurar na tela”. É isso, fatiar a realidade. Tudo vai
equaliza as cores naturalmente. E a maioria das câmeras também! Você depender da posição da câmera e se a lente deixa tudo aberto ou fechado.
pode usar no automático, mas é muito mais interessante ter o controle dis-
so. Até porque, se você deixar no automático, pode variar no meio da cena. Para ajudar a escolher aonde apontar a câmera e como compor os ele-
Basta fechar o quadro num lugar branco e apertar o botão WB (White Ba- mentos de maneira harmônica ou desarmônica dentro desta folha plana
lance). Chamamos isso de “bater o branco”. Ela vai apagar tudo e recalcular que é o quadro, existem técnicas centenárias utilizadas pelos grandes
todas as luzes colocando no tom que você indicou. mestres da pintura e da fotografia ao longo dos anos. Vamos a elas!

Dica: As câmeras já vêm com umas regulagens pré-estabele- a) Regra dos terços e Pontos áureos
cidas, são aqueles símbolos de lâmpada, sol, nuvem... Mas uma
coisa interessante : experimente bater o branco no amarelo, no Esta não é precisamente uma “re-
vermelho e outras cores para ver o que acontece! gra”, mas uma técnica para fazer
enquadramentos, ou, um de seus
conceitos mais básicos. Inclusive
A câmera é uma máquina de fatiar a realidade! algumas câmeras digitais vêm com
a opção de colocar uma “grade” no
Então, mãos à obra! visor: duas linhas verticais e duas
horizontais que dividem o quadro
era cuide do seu corpo! Para
Dic a: Quem quiser operar a câm em nove partes. Os pontos de cru-
, você prec isa estar numa posição con-
fazer uma boa imagem zamento são tidos como lugares de
ência ou caimbra, tampouco
fortável, de forma a não dar dorm destaque dentro do quadro (são os
movimentar-se, o cuidado do-
futuros problemas na coluna. Ao Pontos áureos).
a aten ção do visor.
bra, mesmo sem desviar
57
Linhas Horizontais

Dica: Nunca é bom centralizar as coisas. Para filmar uma praia,


por exemplo, seria melhor colocar a linha do horizonte em uma
das duas linhas horizontais, e não no centro. Da mesma forma,
ao filmar uma pessoa, o ideal é não centralizar o rosto dela e Foto: Flávio Damm
sim escolher um dos quadrados em volta, ou colocá-la em cima
das linhas verticais.
Linhas Curvas Linhas Verticais

b) Linhas de Força

As linhas de força são as linhas principais da imagem, aquelas que guiam


o olhar de quem está vendo. Tudo pode ser linha na tua imagem: o hori-
zonte, o batente da porta, a junção das paredes, etc. Tente buscá-las, é
um exercício de ver somente o esqueleto das imagens, ver o mundo “ve-
torizado”, ou seja, apenas as linhas principais das coisas. E conforme você
muda o ângulo da câmera, essas linhas se relacionam de jeitos diferentes.
Perceba e aproveite isso para montar seu quadro...
Foto: Henri Cartier Bresson

58
Foto: Sebastião Salgado
Linhas Diagonais A Câmera: geralmente as câmeras amadoras têm uma janela bem peque-
na. Na câmera digital é o tamanho do CCD. Quanto menor o tamanho da
área do CCD, mais as coisas vão ficar no foco. Então, quanto maior
o tamanho dele, mais teremos o foco “crítico”, ou seja, só uma
pequena área em foco. Atrás e na frente dela tudo vai apare-
cer naquele borrado bonito.

áREA DE NITIDEZ
fORA
DE FOCO

Foto: Paul Outerbridge

As linhas diagonais funcionam também para nos dar a ilusão de profundi-


dade! Note na foto como parece até que a gente vai cair dentro dela!

c) Profundidade de campo

Para regular o tamanho da área da imagem que está no foco existe uma
junção de fatores: a câmera que você está usando, a lente, a abertura
do diafragma e, é claro, as condições de luz do ambiente. Passemos
por cada um deles rapidinho:

59
As Lentes: são os bebezinhos do fotógrafo. Muitas vezes custam mais Já a lente zoom tem várias lentes velocidade. Mas às vezes isso não
caro que uma câmera. Estas lentes que vêm com as câmeras, geralmente em uma! Ela vai de grande angu- é suficiente, então você pode ape-
são ruins, porque são de plástico - a luz não passa tão desimpedida assim lar à tele-objetiva. Na câmera está lar para deixar a câmera mais lon-
como nas pesadas lentes de vidro. simbolizada por W ________ T - ou ge e usar uma lente mais fechada;
seja, vai de Wide (grande angular) à pode mudar o ISO ou colocar filtros
A distância entre o vidro mais externo e a película – ou CCD - é chamada de T (Tele-objetiva). Então, ao chegar na frente da lente para escurecer a
“distância focal”. Ela é medida em milímetros. As menores lentes são as gran- o zoom para frente, é como colo- imagem e abrir mais o diafragma.
des angulares e as maiores são as tele-objetivas. Cada uma provoca um efeito: car mais uma lente Tele. Saculejo?
(Zoom é o nome desse movimento
de aproximação ou de afastamento).

Quanto mais a lente for A Abertura do diafragma: quan-


grande angular mais to mais fechado o diafragma, mais
aberto será o quadro e tudo fica no foco e, quanto mais
mais as coisas vão dis- aberto, mais o foco é crítico, ou
torcer e ficar no foco. seja, tem uma amplitude menor.

As condições de luz: se você es-


tiver numa praia ensolaradíssima
e quiser tirar uma foto, vai precisar
Se você usar uma tele-objetiva, vai ser mais difícil de estabilizar a câmera fechar todo o diafragma porque
na mão e o foco fica mais crítico. Costuma-se filmar os closes com a tem muita luz, certo? Fazendo isso,
câmera longe e uma tele-objetiva fechada no rosto do ator, desfocando o automaticamente você deixa tudo
fundo e a frente para criar a ilusão de profundidade. no foco. Se quiser criar o efeito de
deixar apenas uma área no foco,
será preciso abrir o diafragma e
compensar na velocidade do obtu-
rador, porque você abre de um lado
e acelera o tempo que o filme vai fi-
car exposto, recebendo menos luz.
Assim, o que estragou na abertura
do diafragma foi consertado pela

60
d) Planos audiovisuais
Descreve o cenário e o contexto onde os perso-
Grande Plano nagens estão. É tão aberto que é praticamente
Para de facilitar o trabalho nas pro-
Geral impossível perceber a ação ou identificar os
duções audiovisuais, os planos personagens. Utilizado para impressionar o
recebem nomes de acordo com a público com o tamanho de um local ou evento.
forma que recortam a paisagem ou
Plano Geral Plano descritivo. Percebe-se a figura humana,
o objeto que estão retratando.
porém é difícil reconhecer os personagens e
a ação.

Plano Conjunto Apresenta o personagem ou um grupo de


pessoas no cenário e permite reconhecer os
atores e a movimentação em cena. É um plano
com função descritiva e narrativa.

ISO (ou ASA) é a indicação do quão sen-


o
sível é o filme para a luz - quanto menor Plano Médio
número do ISO, menor a sens ibilid ade do Plano narrativo. É aquele que enquadra o
filme para a luz. Em situações de muita luz, personagem em toda a sua altura.
procura-se usar baixos valores de ISO.

Plano O plano americano é aquele que enquadra o


Americano personagem acima dos joelhos ou acima da
cintura.

Primeiro Plano
Plano mais psicológico e também narrativo.
Mostra o personagem do ombro até a cabeça

Primeiríssimo
Plano Tem caráter emocional. O rosto ou uma parte
do rosto do personagem ocupa toda a tela.

Plano detalhe Gera impacto emocional. Destaca um detalhe


do rosto, do corpo do ator ou de algum outro
objeto dentro da cena.

61
e) Posições de câmera
Câmera na altura normal,
Câmera Lateral ou plano neutro Plongée (mergulho em francês) Contra-plongée

Câmera Frontal Câmera Zenital Câmera Contra-Zenital

dê uma
Dica: Para compor um quadro, além da figura principal,
al ao fundo da cena. Objeto s que estão estra-
atenção especi
didades,
nhos, luzes que podem ser melhor aproveitadas, profun
cores, formas, linhas de força.
62
2 - Movimentos de câmera Travelling (ou carrinho): é quando a câmera sai do lugar usando o movi-
mento de algum objeto de rodas. Normalmente é um carrinho com rodas
As panorâmicas ou pans: é quando a câmera gira em torno do próprio de rolamento posto sobre um trilho especial ou cano de PVC, mas pode
eixo horizontalmente. Esses movimentos costumam ser usados para des- ser improvisado com um carrinho de supermercado, um carro, uma bici-
crever ambientes, de monumentais paisagens aos menores quartos. cleta, skate, patinete, etc.

vellings . (...)
As tilts: são panorâmicas também, só que verticais. Para apresentar a
mu ito pa rticular de fa zer tra
Tenho uma ma ne ira velling com vários
roupa nova da personagem, por exemplo, começa nos pés e sobe até a
ca rre ga r o carrinho de um tra são
Ele consist e em se tenha a impres
cabeça. Este é um clássico “tilt para cima”.
de pe so e sa co s de areia, até que ce ss ár ias vá rias
tipos então, ne
s toneladas. São, m,
de que ele pesa trê ca rrinho, e ele co me ça a an da r be
Os zoom in (zoom para dentro) e zoom out (zoom para fora): são os ra em pu rra r o vim en to .
pessoas pa um trem que se põ
e em mo
movimentos de aproximação ou afastamento feitos com a lente zoom. Se o va ga rzi nh o, co mo ao co nt rá rio , é
bem de locidade e, aí,
câmera se aproximar, não é mais zoom, é travelling. No zoom, a imagem se po is de alg um tempo ele toma ve O int er es sa nt e de sse
De retê-lo.
da a energia para incríveis.
aproxima sem o câmera sair do lugar. Foi uma revolução nos anos 60 para necessário usar to llin g um a gr aça e uma fluidez
é qu e dá ao tra ve .
a reportagem, porque evitava ter que trocar de de lente (imagina trocar de método toso e muito forte
É algo muito majes
lente no meio da guerra!). A lente zoom dominou as câmeras de vídeo. David Lynch
Todos temos zoom hoje em dia, mesmo que o horrível zoom digital. Se for
ver, a maioria dos grandes cineastas preferem as lentes fixas, rejeitam o Câmera na mão: costuma ser um recurso usado quando se pretende agili-
zoom (isso não quer dizer que estejam certos...) dade, nervosismo, ou dar a sensação de vida, respiração ao plano, mesmo
em planos estáticos. Por estar perto do corpo, te permite tanto locomoções
ágeis como gravações semi-estáticas. A câmera na mão foi consagrada
inquedinho
po rq ue pa ra mi m, é apenas um br nos filmes do Cinema Novo e da Nouvelle Vague e é muito usada hoje
Jamais utilizo o zo
om , a mudança da
qu e qu an do se move a câmera principalmente em documentários, reportagens jornalísticas e videoclipes.
óptico. Ao pa ss o espaço do filme.
pe cti va no s pr oje ta fisicamente no
pers
rg
David Cronenbe encaixar o quadril, em
Dica : Flexionar levemente os joelhos e
e à imag em.
geral ajuda a dar mais estabilidad

Plano sequência: não é um movimento de câmera. É quando a cena


inteira é feita de uma vez, sem cortes. Ela pode ficar parada o tempo intei-
ro, mas geralmente a câmera se move, na mão ou em traquitanas, o que
enriquece muito a narrativa.

63
Uma regrinha básica para o operador de câmera: quando for realizar qual- Filma-se o diálogo todo de um lado e depois repete-se tudo com a câ-
quer destes planos em movimento, sempre comece com a câmera parada mera do outro lado, algumas vezes deixando um pedaço do ator que está
por alguns segundos, inicie o movimento, vá até o fim e, ao terminar, espe- de costas fazendo uma moldura no quadro. É claro que você já viu isso.
re mais alguns segundos parado antes de cortar. Este recurso facilita e barateia e, mesmo nas produções mais modernas e
arrojadas, repare que em algum momento vai aparecer um plano e contra-
Existem outros movimentos possíveis a partir de steadycams, gruas, trilhos plano, principalmente nas cenas românticas.
– utilizados para fazer movimentos de câmera mais estáveis e fluidos – e
outras geringonças audiovisuais (você pode se divertir criando ou adap- Plano e contra plano é muito usado em cenas de diálogo feito em estúdios,
tando engenhocas, na internet está cheio de ideias e soluções baratas). o que facilita tudo no som. Como geralmente são usados planos fechados
Mas dá para adaptar coisas do dia-a-dia, por exemplo, usar a cadeira do economiza em cenário.
professor para fazer um carrinho. Basta soltar a imaginação e improvisar.
Lembrando de que o mais importante é esse movimento estar em função
da sua história e a emoção que se pretende passar em cada cena.

câmera na mão – faça


do - principalmente com
Enquanto o rec estiver liga o, para manter fora do
das da tela o tempo tod
uma “varredura” nas bor deve aparecer.
recer, e incluir o que
quadro o que não deve apa

3 - Continuidade Espacial

A Continuidade Espacial reúne algumas das maiores ferramentas para fa-


zer uma “Montagem invisível”, lembra? Falamos sobre isso lá no capítulo 2.

a) Plano e Contra-Plano ou Campo e Contra-Campo:

O plano e contra plano é um recurso usado em qualquer novela, seriado


ou filme, é a forma mais usada para se filmar uma conversa entre duas ou
mais pessoas.

64
b) Raccord

O Raccord (conexão, em francês) é um conjunto de técnicas usadas na


hora de filmar e de montar que tem esse mesmo objetivo de fazer o es-
pectador não perceber o corte. Elas podem ser feitas de diferentes formas, Diagrama
vamos passar algumas delas:

O Raccord de direção: se um personagem anda da esquerda para a di-


reita e sai do quadro, no próximo plano ele deve entrar pela esquerda e
continuar a direção do movimento.

O Raccord por analogia: colocar na imagem alguma coisa que remeta o Linha imaginária
espectador à cena anterior. Pode ser uma cor, elemento, ou qualquer outra 180º
coisa. Por exemplo, quando o macaco joga o osso para cima e corta para
uma nave espacial parecida com o osso no imperdível filme do Stanley
Kubrick: “2001 - Uma Odisséia no Espaço”.

O Raccord do olhar: se duas pessoas conversam, uma olha para a es-


querda e a outra para a direita, isso faz parecer que as duas estão de
frente uma pra outra. Se o olhar das duas estiver para a direita vai parecer
que elas estão lado a lado olhando para frente. Observe que isto é usado
até quando se trata de uma conversa por telefone! É por isso que o Eixo de
câmera é um ponto importante a ser pensado quando vamos filmar. Quan-
do a câmera “pula o eixo”, o ator vai ficar virado pro outro lado, vai parecer
que eles estão lado a lado e não frente a frente. Não acredita? Faça um
teste e veja você mesmo!

“Pular o eixo” no jargão do cinema significa pular essa linha imaginária entre os dois narizes que
estão conversando.

65
[5.2.3] A AÇÃO Por exemplo, para filmar a cena de um bêbado andando na rua, podemos:

O Primeiro trabalho de um fotógrafo a) filmar detalhes dos seus pés cambaleantes; depois um plano detalhe
de cinema é ler o roteiro e conhe- dele segurando a garrafa; um plano aberto do bêbado cambaleando
cer as locações onde o filme será contra o sol; um primeiro plano dele vindo em nossa direção e falando
gravado. Mas por que estamos algo incompreensível; e outro plano geral dele indo embora.
falando disso agora? Para mostrar
a importância que a locação tem Ou,
para a fotografia. Mesmo num do-
cumentário onde você às vezes não b) abrir com um primeiro plano dos transeuntes, revelando seu olhar de
teve como ir ver a locação, é impor- espanto/estranhamento em relação ao bêbado; logo um plano médio
tante ficar ligado durante a filmagem. do bêbado de costas, tontamente caminhando na rua movimentada
Olhar em volta, analisar onde está o com uma garrafa na mão; depois um plano detalhe dele bebendo (a
melhor cenário e o melhor aproveita- boca entornando a garrafa); um primeiríssimo plano de seu rosto, olhos
mento da luz, linhas e cores que exis- entre-abertos, a mão enxugando a boca; para fechar com o plano geral
tem no ambiente. Por isso, podendo dele indo embora em nossa direção.
ir com calma antes e tirar fotos de to-
das as possibilidades de enquadramen- A Decupagem é um instrumento que serve para que todo mundo que
to ajuda a ter ideias para construir um outro está produzindo o filme visualize cada imagem da história. Sim, porque
guia legal para a equipe: a decupagem! ao ler o roteiro, em geral, não temos claramente descrito como vai ser
filmada a cena, então cada pessoa tende a ver a coisa de um jeito. Esse
processo de desenhar os planos antes de partir para a filmagem permite
A decupagem à equipe trabalhar em cima de um planejamento comum. É claro que
cada cineasta tem o método que lhe convém para pensar os planos e al-
Em francês o termo découpage significa algo guns nem gostam de fazer a decupagem, preferem deixar mais livre para
como “cortar dando forma”. Decupar o roteiro o que estão sentindo na hora. Tem gente que mistura as duas coisas:
é escolher como filmar cada pedacinho do decupa o filme todo para estudá-lo a fundo e, na hora da filmagem, deixa
texto que colocamos ali, o momento de a improvisação dominar. Outros, ainda, gostam de decupar com ajuda
pensar e planejar a construção narrativa da equipe - juntar um monte de gente para visualizar o filme em conjunto
com a câmera. é legal porque possibilita uma rica troca de ideias e referências.

66
TOQUE : Na hora de pe
nsar na forma de film
portante ter em mente ar a cena é im-
os recursos disponíveis
colocar uma imagem . Não adianta
aérea na decupagem
não tem como filmá-la, do filme se você
por exemplo.

Mas o fato é que decupar dá um trabalhão. Se considerar que um longa metragem tem uma média de 700 planos, imagine todo o processo de pensar,
discutir, planejar e rabiscar cada um...

Veja uma das várias maneiras de arrumar essas ideias numa tabela:

Cena Plano Descrição Set Locação Luz Elenco Figuração Objetos Figurinos Obs. Produção

1 1.1 PA - Câmera na mão. Apresentação Casa de Cipó Noite Grande 15 figurantes Posteres de rock (no local Preto, Levar CD de música
do local e de Grande. Lugar lotado, Show tem quadros da Janis camisas de metal. Convocar as
Grande suado em meio às pessoas. Joplin) Rock. pessoas avisando
que é pra ir de
“ROCK”.

1.2 Zenital da escada - pessoas Casa de Cipó Noite x 15 figurantes


dançando Show

2 2.1 PG - Tripé - Carro passa. Ruas do Rua do Noite Grande x Carro


Subúrbio Paulinho

3 3.1 Detalhe lata balançando no fundo do Carro Interior carro Noite x x lata de cerveja
carro.

3.2 Detalhe rádio ligado. Carro Noite x x Rádio

3.3 PM - Grande. A luz do poste ilumina Carro Noite Grande x


Grande quando passa.
As três primeiras cenas da Decupagem do curta-metragem “Queimado”, de Igor Barradas

67
Agora, a não ser que você queira fazer um filme repleto de cenas dramati-
zadas, como o Ilha das Flores, no documentário não dá pra fazer uma de- ótima fonte de ins-
Dica : As histórias em quadrinhos são uma
cupagem assim tão planejadinha. Portanto, será preciso analisar o melhor o para se enten der como uma história é contada
piração e estud
ângulo, incidência de luz, aproveitamento do som, movimentos de câmera, visualmente.
posição dos personagens, etc., na hora mesmo da filmagem. O lance é fi-
car com todos os canais de percepção ligados e seguir a intuição. Mas há
documentários nos quais existe uma preocupação de escolher o melhor
ângulo antes de começar uma entrevista (por exemplo), arrumar o cenário
e até montar um pequeno set de luz. Tudo depende da situação e do seu
objetivo. Jogue com isso e embeleze seu filme!

do filme prepara
bem aze itad a o Diretor de Fotografia
Em um a equ ipe a em cada cena o que
tografia, onde ele mostr
uma Decupagem de Fo do filme: qual câmera vai
regar para a produção
ele vai precisar para ent direito. Assim a pro-
eto res , cab os, tra qui tanas, tudo o que tem
usar, refl
sas.
duça pode agilizar as coi

Não posso realmente exp


licar como decido onde col
um dado plano. Acho que ocar a câmera para
são decisões que é precis
mais instintiva do que ana o tomar de maneira
lítica. A força do cinema
misterioso. (...) Mas antes reside em algo de
de tomar uma decisão, me
faço muitas perguntas. E smo instintiva, me
as respostas devem dec
lógica, mesmo que essa orr er de uma cer ta
lógica só per tença a mim
.
Wong Kar Wai

68
Se você tiver mais curiosidade para Site: www.fazendovideo.com.br
saber sobre técnicas de fotografia Revista: Filmmaker
e equipamentos de filmagem, pes- Livro: “50 anos de Luz, Câmera e Ação”, de Edgar Moura
quise mais em: Filme: ”Iluminados”, documentário brasileiro dirigido por Cristina Leal

[5.3] A arte, ou criando o visual das cenas


A composição artística do ambiente e dos personagens – objetos,
figurino, maquiagem, cores, luz, etc. – diz muito sobre o que está apa-
recendo na tela. Então, trabalhar o visual de cada cena do seu filme,
vai ajudar a embarcar o espectador no mundo que você quer construir.
Cenas que são gravadas em estúdio podem mais facilmente ter a arte
toda criada de acordo com a sua imaginação. Já em gravações na
rua (externas, como se diz) é preciso trabalhar com o que existe ali.
De toda forma, a escolha da locação onde cada cena será filmada é
também guiada pelo visual que queremos. No documentário podemos
ter um estúdio para gravação de entrevistas e fazer o filme todo ali,
mas, em geral, é imprescindível ir a campo para pegar imagens das
realidades que se pretende discutir. Outra opção é levar os persona-
gens para lugares que não os seus, fazendo uma cena não-fictícia,
mas provocada pelo filme. No documentário sobre a dançarina Pina
Bausch, por exemplo, os personagens dançam em diferentes paisa-
gens, cenários que têm a ver com o que estão dizendo na entrevista.
Nesse filme – dirigido por Wim Wenders e lançado em 2012 - também
optou-se por gravar a maior parte das entrevistas em estúdio, fazendo
um plano médio de cada personagem atrás do mesmo fundo.

Imagem de divulgação do filme Pina (2012), de Wim Wenders.

69
No caso do documentário, muitas vezes a arte tem que ser improvisada no momento da filmagem, já que é difícil saber o que cada entrevistado dirá
exatamente, ou o que será mais interessante na sua fala. As informações colhidas durante a pesquisa podem ajudar a conhecer o universo dos perso-
nagens do filme e visitas prévias às locações também auxiliam na hora de pensar o visual de cada cena. Uma boa ideia é tirar fotos durante a pesquisa,
pois elas serão muito úteis durante todo o processo. Mas o documentarista deve estar atento a tudo que acontece ao seu redor e durante a filmagem
podem aparecer pérolas que não estavam na pesquisa. Você precisa estar aberto a essas surpresas e saber aproveitar bem a sua locação.

Veja alguns exemplos concretos para exercitar seu olhar:

Nesta imagem da gravação em ambiente externo de uma entrevista existem Nesta outra imagem todo o contexto de trabalho de outro escritor está à
muitas câmeras, mas você pode perceber que o fundo pode ser muito bonito mostra. O escritório onde trabalha, a estante de livros logo atrás do entre-
em qualquer ângulo. O entrevistado está sentado em uma cadeira com as vistado e… o fundo da janela estourado! O importante aqui era compor a
casas de Paraty e a vegetação ao fundo. E ainda é possível ver as pedras do cena com o ambiente do escritório.
chão das ruas, bem características do centro histórico dessa cidade. Assim,
a locação está diretamente relacionada com o tema da entrevista realizada na
Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP): um escritor, com a cidade ao fun-
do, vestindo uma roupa (figurino) que também tem tudo a ver com a ocasião.

70
Para te ajudar a montar o visual do seu filme, seguem algumas orientações câmera, com um monte de gente em volta...) ele tem a tendência a
básicas: suar mais, e isso deixa seu rosto brilhoso, principalmente a testa, o
nariz e o queixo.
Escolha locações que tenham relação com o tema do seu filme e/ou
com a entrevista que você fará. E lembre-se, colocar o entrevistado
dentro de um apartamento, em frente a uma janela, com um fundo [5.4] O Som
lindo que compõe bem com tudo que você quer pode não funcio-
nar, porque a luz do fundo pode estourar e ninguém verá o rosto da
pessoa. Ai está um exemplo da importância da comunicação entre a
arte e a fotografia.

Componha o quadro com objetos de cena. Você pode usar os ob-


jetos da casa da pessoa ou da escola, se quiser. Coloque a pessoa
para dar entrevista com um mural da sala de aula ao fundo, ou na
biblioteca. No pátio seria interessante, com os alunos ao fundo, em- O som é tão importante em um filme quanto a imagem, afinal, desde os
bora possa ser muito barulhento, então o pessoal do som provavel- idos anos 1930, estamos falando de uma obra AUDIOvisual!!! É legal você
mente não gostaria de gravar neste local. olhar para o som do seu filme desde o início, quando estiver pesquisando
e escrevendo o roteiro. Depois, repensá-lo na edição. Lembrando sempre
Se estiver aparecendo alguma marca de loja ou produto ao fundo, que a construção sonora precisa dialogar com a sua proposta de filme e que
em primeiro plano ou na roupa do entrevistado, tente escondê-la. ele é um dos principais responsáveis por construir o clima de cada cena....
Mude o fundo, tire o objeto com a marca do primeiro plano ou, se for
a roupa do entrevistado, peça para colocar um casaco ou algo que Bom, assim como na fotografia, existem técnicas e equipamentos para
possa esconder este símbolo. auxiliar a equipe a produzir o melhor som possível em um filme. Mas o som
não é apenas o que está sendo gravado durante a filmagem não! Outros
Quando marcar a entrevista dê algumas sugestões de figurino para elementos fazem parte dessa área, como a música, os efeitos e ruídos, a
o entrevistado. Não usar listras nem estampas muito pequenas, narração e a dublagem. Todos esses são trabalhados na edição junto com
evitar o branco e o preto assim como roupas que tenham a marca as imagens e sons captados.
muito aparente.
Uma das maiores dificuldades na realização de documentários é a capta-
Você não precisa ter um maquiador na sua equipe, mas tenha sem- ção de um áudio de qualidade. O som mal captado pode tornar o assunto
pre a mão um papel absorvente para oferecer ao seu entrevistado. do seu filme incompreensível. Dedique atenção especial na escolha dos
Quando o cara está tenso ou nervoso (afinal, ele vai falar para uma ambientes e condições de captação do som do seu filme.

71
do
a a metade da eficácia
mp re co ns ide rei qu e o som representav , e se vo cê so ub er
Se outro
um lado e o som do e
filme. Há a imagem de te, o conjunto será bem mais for te do qu ser fixado na camisa da pessoa, ficando imperceptível, e ao mesmo
ali á-l os co rre tam en po , ten to faz er a
co mo um tem
É por isso que, há alg
a soma dos dois. (...) an tes da s filmagens. (...) Ouço
[trechos tempo capta bem a voz.
pa rte de sse tra ba lho ce na s, se ja com
ma ior o as
noros ] enquanto film
de música e efeitos so s, pa ra qu e tod a a equipe se Shotgun ou boom: também é chamado de direcional, por ter pou-
ja com alto-falante
fones de ouvidos, se a buscada.
impregne da atmosfer ca sensibilidade aos sons que vêm de trás e das laterais. É muito
David Lynch importante que ele esteja apontado certinho para a fonte de onde
você quer captar o áudio – seja ela uma pessoa, o mar, um cachorro
ou uma goteira. É bom lembrar que ele é direcional, então se tiver
Exercite! Faça um pequeno vídeo de um a dois minut alguém falando ou algum ruído na mesma direção do som que você
os de
duração, contando uma história sem imagem, apena quer captar, este ruído vai atrapalhar a sua captação. Ele também é
s com
elementos sonoros (sons de passos, portas abrindo, bastante utilizado para a gravação de som ambiente.
de carí-
cias, de animais, do trabalho de alguém, etc.). Ah, e
atenção,
ele pode ter, no máximo, apenas uma frase falada.
quanto a câmera fotográfica
TOQUE : Atenção ! Tanto o celular
imagem, mas não são legais
digital são bons para gravar a
Existem vários tipos de microfone, alguns mais utilizados em cinema ou- para gravar o áudio!
tros menos. Vamos dar uma olhada nos principais:

Microfone de mão: explorado muito em reportagens e pouquíssi-


mo usado em Cinema. Ele capta muito bem a voz, isolando bastante
os barulhos do ambiente. Recebeu ao longo dos anos o carinhoso
apelido de sorvetão.

Microfone acoplado na câmera (com ou sem Zoom): é o que Quando tivermos um equipamento só para
chamamos de “microfone aberto”, ou seja, ele capta todo e qualquer gravar o som é importante ter alguém que
som que esteja a sua volta. Esses com zoom melhoram um pouqui- fique responsável por operá-lo, fazendo a
nho mais o registro do áudio de entrevistas, mas não confie muito função de ouvido da equipe. Esse cara vai
não! Vale testar sempre e ficar o mais próximo possível da pessoa cuidar para evitar problemas como ter gravado as
que fala ou da fonte de som pode ajudar! falas do personagem num volume muito baixo ou
não ter notado aquele ruído de geladeira que atrapalhou o som
Lapela: aquele pequeno, colocado na roupa próxima ao peito de da entrevista. Aparelhos que fazem muito barulho como ar-condicionado
quem está falando. É perfeito para gravar entrevistas pois ele pode podem interferir muito na qualidade do som captado. Se for possível, peça

72
ao personagem que desligue o equipamento por alguns minutos só para Você ainda pode ter uma música rolando na cena e querer que ela entre
gravar o som. No caso do equipamento que você está usando não possuir no filme ao invés de colocá-la na pós-produção sobre o áudio original - tipo
entrada de fone de ouvido, procure outras ferramentas que indiquem o um cara que você está entrevistando e que se emociona ao escutar uma
volume do som (como audio meters ou audio levels) e faça um teste antes música no rádio. É bacana registrar esse momento com o áudio original
das filmagens para checar se o som está ok. do que está acontecendo ali, na hora! Se for possível, até gravar a música
inteira para ter opção de usar na edição!

cisa neces-
itas vezes, o som não pre
TOQUE : Perceba que, mu fica r, inclusive,
Quando preparo uma cen to com a cena. Pode
a, escolho um trecho mu sariamente começar jun ndo um pou co antes
corresponda à sensação sical que rapolá-la, começa
que estou tentando criar.
(...) Depois, muito interessante ext ter minar um pou co depois
quando a cena é revista a por vir, ou
na mesa de montagem, ret para dar ideia do que est cen a seg uinte.
música, ajusto uma à out omo a mesma começa a embarcar na
ra, e cor to em função dis quando o espectador ada s com o som,
so. É, por tanto, o eriências mais ous
trecho musical que me dá
o ritmo da cena. Você pode até fazer exp re a ima gem de out ra.
a pessoa sob
John Woo como usar a voz de um

O áudio também pode ser captado separadamente da imagem ou não,


muitas vezes nas produções pequenas se opta por gravar junto para sim-
plificar o processo. Quando ele é gravado separado tem que ser sincroni-
zado depois, durante a edição, colocando a imagem que aparece na tela
com som daquele momento.
É muito importante estar atento a todos os
teste an-
TOQUE : se você for gravar o audio separado faça um ruídos do ambiente e do exterior: os equipa-
com os equipa mento s que vai utilizar, pois às
tes da filmagem mentos de captação de som não respondem
devido a diferenças na velocidade de gravaç ão o sincro- como nossos ouvidos. Temos a capacidade
vezes,
filme.
nismo se torna impossível, o que pode prejudicar o seu de, por exemplo, distinguir uma fala num
ambiente barulhento; nenhum microfone é
capaz de fazer isso.
No momento da gravação é possível pegar sons ambientes, isto é, de onde
está sendo filmada a cena, como os barulhinhos do lugar. Por exemplo,
se você está gravando em uma floresta com a cachoeira ao fundo, o ideal
é que tenha sons de animais, plantas ao vento e o barulho da cachoeira.
Se estiver em um jogo de futebol, seria legal ter a torcida e o apito do juiz.

73
Durante a gravação existe uma série de cuidados que devem ser tomados para que o som seja bem captado:

Conhecer e explorar bem todos os lugares onde vai gravar é essencial para prever possíveis interferências,
como os ruídos ambientes. Imagine gravar ao lado do aeroporto? Ou durante o intervalo na escola? Toda
hora você terá que parar a gravação para poder esperar o avião pousar e decolar!

Cuide para que antes de começar a gravação tenha silêncio no set. Desliguem todos os celulares. Sempre
coloque alguém do lado de fora da porta, para não entrar uma pessoa de surpresa, ou se você estiver
filmando na rua essa pessoa pode parar o trânsito rapidamente para a filmagem de uma cena;

Tenha tempo para preparar o som, colocar e testar todos os microfones é importante para não ter surpresas
na pós-produção;

Caso tenha algum problema no som, não tenha medo em pedir para que os atores ou entrevistados repitam
a fala, depois você agradecerá por ter feito isso e não ter causado problemas na pós-produção ou perder
aquele trecho da entrevista por problemas no som.

Quando for gravar um off, tente fazê-lo em algum lugar tranquilo. Uma sala da sua escola fora do horário
de aula pode ser uma boa opção. Peça autorização e grave lá. Se não der, tente gravar na sua casa. Evite
locais com azulejo ou cerâmica pois eles produzem eco.

icado durante a gra-


to e o som for prejud
Dica : Se não tiver jei endas na fala do
da tem a opção de coloc leg
ar
vação, vo cê ain urso inicial, o ideal
o tenha isso como rec
personagem. Mas nã muito com isso.
ção pois o filme perde
é que seja a última op

74
Os ruídos e efeitos sonoros são
colocados na hora da edição. Eles
têm a função de complementar o
áudio captado na filmagem para
chegar no efeito que se quer para
a cena. Junto com a música, aju-
da a criar a carga dramática. Há si-
tuações em que esses elementos
sonoros são mesmo essenciais
para criar um clima. Em filmes de
suspense ou terror costumam ter
muita importância. Experimente ti-
rar a trilha na cena do banheiro do
filme “Psicose”, de Alfred Hitchcock,
ou na cena do menino no corredor,
do filme “O iluminado”, de Stanley
Kubrick - com certeza você não
sentirá o mesmo frio na barriga e
tensão! De toda forma, a história
e a linguagem visual precisam ser
bem construídas para que não seja
depositado na música todo o efei-
to que se gostaria de dar à cena.
Afinal, a trilha – e a sonoridade de
forma geral - não deve ser pensada
como uma solução para resolver
problemas que rolaram no roteiro
e na filmagem. Pra ficar bacana, é
legal tentar imaginar o filme já com
as imagens e os sons juntos, como
uma dança...

Cenas de Psicose (1960 ), de Alfred Hitchcock. 75


tire o som abaixando
Exercite ! Escolha um filme qualquer,
poderiam substituir
o volume e escolha as trilhas sonoras que
emo ciona l do filme. Se ele
a original, tentando mudar o tom
com o som uma atmo sfera de comé-
for de ação, tente criar
sonora de um filme
dia, se for de terror, faça uma atmosfera
, tente gerar tensão no
infantil ou romântico, se for romântico
filme e assim sucessivamen te.

[5.5] Direção
Como falamos, na hora de filmar alguém precisa assumir a função do
Cena do filme O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick. maestro da orquestra para as coisas não se perderem, e essa função
pode ser exercida por mais de uma pessoa, mas nesse caso os diretores
E não se esqueça de que o silêncio também compõe a sonoridade do precisam estar em total sintonia para que não haja problemas. Tudo preci-
filme. Você pode surpreender o espectador quando, ao invés de colocar sa ser bem esclarecido e conversado para que na hora de filmar e editar
uma música, deixa o silêncio por alguns segundos. Para isso é essencial todos estejam com o mesmo filme na cabeça. Se foi feita uma decupagem
ter gravado os sons dos ambientes em que vocês filmaram. já temos o desenho dos planos, mas é na hora da filmagem que grande
parte do filme acontece de fato e muitas das decisões que devem ser
tomadas são definitivas.
TOQUE : se você quer usar uma música
que já existe é preci-
so ter autorização para isso. Da mesm
a forma que pedimos
autorização de imagem e voz para grav
ar a imagem de al-
guém, precisamos pedir autorização para
usar a música de
um artista. E aí é um pouco mais com Eu achava que o trabalho
plicado. Temos que de um diretor era sobret
pedir autorização para o detentor de direi boas ideias. Percebi, na udo o de ter
tos autorais. Lem- verdade, que esse trabal
bra que comentamos sobre os direitos principalmente em gerir ho consistia
de uso de obras lá em uma porção de coisas par
cima, na parte de pesquisa? Aqui a lógic alelas para criar o
a é a mesma! E uma ambiente propício à realiza
ótima solução é, se você tiver amigos ção dessas ideias.
que tenham uma ban-
da, pedir a eles para produzirem uma Takeshi Kitano
trilha sonora original
para o filme. Você pode também pesq
uisar ainda em sites
que têm músicas gratuitas disponíveis
para download, como:
freeplaymusic.com audionautix.com Então, ao(s) responsável(is) pela direção, aqui vão alguns toques para fa-
soundsnap.com
wavsource.com jamendo.com /br
cilitar no momento de filmar:

76
1. Ao planejar a filmagem de uma cena procure imaginar o encadeamento dos ra pode ir variando o que uma filmou para a outra, enquanto o entrevistado
planos antes. Numa situação de documentário você terá pouco tempo para segue sua fala. Mas é sempre bom ter imagens e sons que rementam ao
decidir e não contando com a Decupagem, é importante treinar a filmagem de universo do persogem para criar um clima. Guarde um tempinho no seu
situações antes de começar a gravar. cronograma para fazer essas imagens e sons de apoio, eles vão ser muito
úteis na montagem.

3. Um recurso comum na filmagem de entrevistas é ter uma câmera fixa


Geralmente tento sonhar (num tripé, num móvel, ou mesmo na mão, bem paradinha) pegando o
durante o sono com
os planos que vou filmar personagem o tempo todo, garantindo uma imagem de base; e outra que
no dia seguinte.
Bernardo Bertolucc fica passeando, acompanhando expressões e movimentos que chamam
i
atenção no personagem e no ambiente. Filmar com duas ou mais câme-
ras facilita bastante e traz mais opções de planos principais e de apoio
para a edição. Quando você tem duas câmeras, ou mais, com lentes
diferentes, pode produzir inclusive texturas diferentes na mesma cena,
2. Além das cenas que constam no roteiro, é legal você filmar outras, já que cada câmera produz uma imagem com um aspecto diferente da
complementares, principalmente ao fazer um documentário. As cenas já outra, em termos de cor, definição, ótica, etc. Essa brincadeira de repente
previstas são aquelas essenciais para contar a história da maneira que é legal para trabalhar o sentido que você quer. Ainda mais hoje em dia
você pensou. Já as chamadas imagens e sons de cobertura são feitos que até celular é câmera, alguém com o equipamento para fazer umas
opcionalmente, depois da cena principal ter sido gravada. É um processo imagens adicionais não vai faltar.
de aproveitar o que foi dito para fazer outras imagens que possam entrar,
ilustrar ou complementar o discurso. Exemplo: o personagem fala de bar-
cos, então podemos fazer vários planos diferentes de barcos, da água,
da areia, das cordas do porto, dos carregadores colocando coisas nos
barcos, dos pescadores costurando suas redes etc. Tente não fazer ima-
gens isoladas, pense que está construindo cenas. O mesmo com o som,
o técnico pega sons diferentes dos barcos chegando, do vento batendo
na areia, das ondas do mar, das cargas sendo levadas aos barcos, das
redes sendo costuradas etc. No documentário as imagens de cobertura
são muito importantes para construir o ritmo do filme na hora de editar. episódios da série No
Exercite ! Dá uma olhada em um dos
Imagine se você quer usar mais de um minuto seguido daquela entrevista visua is, que deixamos aí na
estranho planeta dos seres audio
io. Esco lha uma cena e procure per-
que ficou ótima? Colocar só a imagem do cara aparecendo direto pode biblioteca do teu colég
as. Tent e perceber
deixar o filme bem chato! Se você filmar pelo menos com mais uma câme- ceber quantas câmeras estão sendo usad
ente s textu ras e como
o encadeamento dos planos, as difer
influ encia ndo na sua form a de ver.
essa opção estética está
77
4. Entrevista. Falando ainda de documentário, um ponto que deve ser da filmagem, conseguir trabalhar a câmera para essa expressão vir à tona,
muito bem cuidado são os entrevistados. Há personagens e persona- em sintonia com a ideia do filme. Se tiver apenas uma câmera procure
gens: uns mais soltos, outros menos, alguns nostálgicos, outros ativos, variar seus ângulos ao longo da entrevista, mas apenas enquanto uma
uns que adoram falar dos grandes feitos, outros de contar histórias, pergunta estiver sendo feita, na hora da resposta é melhor sustentar o
aquele que diz muita mentira, uns que se expressam mais corporalmen- plano escolhido.
te, ou apenas com os olhos, etc. Cabe a nós, documentaristas, ouvir,
sentir e trabalhar as características mais próprias de cada um para contar 5. Quando for encenar algo, você pode trabalhar com atores ou mesmo
bem a história deste ou daquele personagem. Estabelecer uma relação não-atores (pessoas que não estão acostumadas a atuar), depende do
de confiança e fazê-los se sentir à vontade é essencial para serem mais efeito que você quer dar. Se você for trabalhar com atores, note se estão
espontâneos e revelarem sentimentos e informações legais para o filme. atuando como no teatro, empostando a voz e movimentando muito o rosto
e o corpo. No audiovisual, esse tipo de encenação sempre parece um
pouco exagerada, porque a câmera fica mais perto do ator do que a pla-
Exercit e! Procure ver filmes de grandes mestres da entre-
teia de um teatro e, por isso, não pede gestos tão grandes.
vista como, por exemplo, Eduardo Coutinho (Edificio Master,
Babilônia 2000, Jogo de Cena, Canções ), e tentar imaginar
as perguntas que eles fizeram para conseguir as respostas 6. É necessário quando você está gravando começar a pensar na edição
que vemos de cada entrevistado. do seu filme. Trabalhe o ritmo do filme, plano a plano, forma a forma da
imagem e do som. Pois cada corte é como um piscar de olhos, que rela-
xa e ao mesmo tempo prende a percepção do espectador, preparando-
A pauta é muito importante. Ela vai te ajudar a não se perder na entrevista, o para um novo plano e chamando a atenção para o que vai acontecer
apontando as questões mais importantes e a melhor ordem para fazer em seguida. Tenha isso em mente na hora de fazer as imagens. Mas isso
as perguntas. Mas preste atenção e demonstre interesse pela opinião do não significa que tenha que filmar os planos exatamente na duração que
entrevistado sobre tal assunto. Lembre-se, ao optar por uma entrevista, vai querer no final. É sempre bom ter uma margem para poder usar na
a ideia não é confirmar uma tese e sim conhecer as visões e jeito de ser hora da edição.
de uma pessoa que tem a ver com o assunto que você quer abordar.
Você pode também bater um papo com o entrevistado sobre o assunto
da entrevista antes de começar. Explicar para ele o que queremos saber,
no que queremos focar exatamente. O ideal é que seja capaz de usar as
perguntas como instigação, orientando-o. Às vezes uma conversa informal Meu conselho final a tod
o futuro diretor seria
pode funcionar melhor que uma entrevista. este: é preciso permanec
er senhor de seu
filme, do início ao fim.
Antes de começar a gravar uma entrevista, um ótimo exercício é buscar David Lynch
perceber como determinado personagem se expressa para, no momento

78
g e m o u E d iç ã o
[6] M o n t a

Se você perguntar a alguém o papel da edição no filme é bem provável que obtenha a seguinte resposta: cortar as
partes que não ficaram boas. Alguns editores ficariam furiosos em ouvir isso, pois a edição ou montagem é uma
etapa bastante complexa e importante. Mas, no fim, podemos dizer que é quase isso mesmo, se pensarmos o que
são as tais “partes boas”. O difícil é exatamente definir quais imagens e sons são “bons” para o nosso filme, de que
modo eles vão se combinar ou se chocar (como diria Eisenstein), enfim, como eles vão construir a narrativa.

Muitos teóricos defendem que a montagem começa quando você está pensando o filme e colocando no
papel, seguindo a bola lá do Eisenstein, como vimos na Linguagem. Nesse início do processo, podem
ser tomadas várias decisões que vão influenciar a montagem. A própria forma como uma cena é
filmada vai determinar uma série de escolhas na edição. Mas não determina tudo, pois é na
hora de juntar os pedacinhos que, de fato, você consolida a forma do filme. Claro que
partindo do que foi captado, pesquisado e selecionado como material bruto do filme.
O material bruto é não só o que foi filmado, ele inclui os materiais de arquivo, fotos,
vídeos e sons que você pensou em usar e separou numa pastinha. Essa parte
do material nem sempre é “menor” do que o que captamos. Existem inclusive
filmes inteiramente feitos apenas com materiais de arquivo - o cineasta russo
Artavazd Pelechian ficou conhecido exatamente por esse tipo de filme. Há
inclusive um festival só de filme de arquivo e, como você pode imaginar,
nesses filmes a edição é tudo!

remete à noção de cortar algo. Já o termo montagem


TOQUE : O termo edição, que vem do inglês “edition”,
iado à ideia de colar algo. Ou seja, é uma diferença de sig-
vem do francês “montage” e está mais assoc
processo. Em inglês se parte do excesso para cortar
nificado na palavra que cada língua utiliza para esse
ial dado e como organizá-lo para chegar ao filme final.
e diminuir o filme; no francês se parte de um mater
são utilizados para caracterizar a mesma atividade.
No Brasil existem os dois termos e hoje em dia ambos

79
Quando tudo era filmado em película, que é aquele filme de 35mm, igual
ao das fotográficas antigas, e era montado em mesas de ferro com rolos
de filme, recortando e colando os pedacinhos, o processo era bem mais
complicado. O computador (lembra de todo aquele papo de zeros e uns?)
facilitou bastante, mas trouxe tantas facilidades que hoje você pode ficar
eternamente montando um mesmo filme. Mas você não quer fazer isso!
Daí a importância de pensar bem o que se quer fazer antes de começar
a editar. Rever o material filmado é essencial, pois mesmo estando na
filmagem, a percepção do material que você tem na hora da edição é
completamente diferente.

As ilhas de edição são os lugares onde se edita. Antigamente eram com-


postas por milhares de equipamentos e cabos conectando tudo (em al-
gumas estações de TVs ainda é assim), mas, hoje em dia, e cada vez
mais, os softwares de edição têm se tornado mais acessíveis e com muito Alunos da Oficina VideoInteratividade editando com o software videoSpin
pouco você pode fazer uma ilha de edição. Mas já parou para pensar por
que ela se chama ilha? Para editar, você deve ficar literalmente ilhado, No caso da ficção filmada da forma clássica, com decupagem de planos e
imerso no universo do filme. É principalmente um trabalho de organização, tal, a edição se concentra mais em criar os climas e dinâmicas do filme. Já
seleção e ordenamento, que precisa de muita concentração. no documentário, a edição é, em geral, um momento crucial, onde a estru-
tura narrativa é realmente construída ou, pelo menos, revista. Principalmente
quando se está lidando com situações onde não se tem controle na filma-
gem. Às vezes são exatamente esses imprevistos que não estavam no rotei-
mãos,
Dica: Essa etapa pode ser mais difícil de fazer a várias ro que são maravilhosos e que dão charme ao filme. Na edição você deve
tiver um prazo aperta do. O ideal é que não
ainda mais se você estar atento a eles, mas sempre tendo em mente a ideia central do filme.
mais de três pessoa s toman do as decisõ es na edição,
sejam
con-
pois cada um pode dar uma opinião diferente e isso pode
. É o mome nto de se conce ntrar e Num curta-metragem a estrutura é bem mais simples e direta e portan-
fundir mais do que ajudar
tomar as decisõ es finais sobre a forma do filme. to o poder de síntese é muito importante. Algumas cenas interessantes
acabam tendo que ficar de fora para dar mais destaque a outras. Já num
longa-metragem o desafio é outro. Como manter a atenção do especta-
dor ao longo de todos os 90-120 minutos? A resposta está na constru-
ção de curvas dramáticas! É através desse desenho emocional que são
construídos os climas e a condução do filme.

80
Parece simples mas é um pouco trabalhoso, principalmente quando filmamos uma quantidade grande e queremos fazer um filme curtinho. Já pensou
quantas horas você vai gravar pra fazer seu primeiro vídeo? E qual deve ser sua duração final?

Na edição devemos assistir a todo o material filmado, organizar para entender o que temos, dar ordem e ritmo aos planos, compondo a narrativa do filme
a partir do que foi pensado e filmado. Nesse processo temos alguns passos que, assim como no caso das ferramentas de roteiro, não são obrigatórios,
mas servem para te ajudar a se orientar nessa etapa. Vamos a eles:

Passo 1: Antes de começar realmente a olhar o material gravado para conhe-

Quando um violino for sufi cê-lo, o editor tem que copiar todas as imagens e sons para o computador.
ciente, não utilizar dois
Robert Bresson Passo 2: Organizar tudo o que foi feito, nomeando os planos e sons en-
(em Notas sobre o Cinem
atógrafo) quanto formos assistindo para facilitar o entendimento do material que te-
mos e a busca do que queremos usar depois. Esse processo, no Brasil,
também se chama decupagem, mas nesse caso diz respeito ao mapea-
mento do que foi gravado para pensarmos a edição. Se você pensar bem,
ele é complementar ao processo de decupagem do roteiro, pois agora
vamos ver os planos que de fato foram filmados para cada cena.

Passo 3: Com o material todo nomeado e organizado, temos que pen-


sar na estrutura do filme. Com quais planos nosso vídeo começa? Como
apresentamos nossos personagens e o mundo onde eles estão? E depois
da abertura, como ligamos uma cena na outra? Que assuntos colocamos
quando? Que sons? E como terminamos o filme? Como vão entrar os
créditos e a cena final?

Dica: É possível que você tenha dificuldade de compatibilidade


de formatos de arquivos de vídeo e áudio. Existem muitos pro-
gramas que você pode utilizar para coloca-los no mesmo forma-
to, como: FormatFactory 2.95, Any Video Converter 3.3.7, Free
Studio Manager 5.4.8, Free 3GP Converter 2.4, entre outros.

81
Delinear a estrutura do filme no papel, antes da edição, é importante para
não nos perdermos depois. É o que chamamos de roteiro ou escaleta de
edição. Quando é mais detalhado, é um roteiro; quando tem só a ordem
das cenas, é uma escaleta. Você vai ver que é tão fácil trocar tudo de lugar
no programa de computador, que se você não tiver claro a estrutura do
seu filme, a edição pode levar muito mais tempo do que o previsto. Por
quê? Se liga no toque abaixo!

r histórias diferentes dependendo


TOQUE : Os mesmos elementos podem forma
de como são comb inado s. Pode mos conta r que:
um ônibus e foi pra gandaia.
João acordou, se vestiu, saiu de casa, pegou
Ou podemos contar que:
e se preparou para sair, agora ele
No ônibus, João lembra-se de como acordou
imagina como será a gandaia.
Ou ainda :
s que o levou até ali. No dia se-
Na gandaia, feliz da vida, João lembra do ônibu
guinte, ele acord a, se veste e sai de casa.
Ou:
se veste, sai de casa e pega um
João se arruma pensando na gandaia, ele
ônibus.
s diferentes produz sentidos e im-
Ou seja, editar/organizar as cenas de forma o!
pressões diferentes, essa é a magia da ediçã

Aqui ao lado temos um exemplo de pré-roteiro e roteiro de montagem do


curta Ventre Livre, dirigido por Ana Luiza Azevedo. Vendo os dois juntos dá
para ver o que mudou da ideia inicial para o filme em si.

82
VENTRE LIVRE VENTRE LIVRE
ROTEIRO DE MONTAGEM PRÉ-ROTEIRO
VERSÃO 12 - 02/06/1994 VERSÃO 7 - 02/11/1993
de Ana Luiza Azevedo, Giba Assis Brasil e Rosângela Cortinhas de Ana Luiza Azevedo, Giba Assis Brasil e Rosângela Cortinhas
produção: Casa de Cinema de Porto Alegre produção: Casa de Cinema de Porto Alegre
para John D. and Catherine T. para John D. and Catherine T.
Macarthur Foundation Macarthur Foundation

******************************************************************* *******************************************************************
(…) (…)

CENA 4 - IMAGENS DO BRASIL CENA 4 - IMAGENS DO BRASIL

O Brasil visto de cima: vista aérea da floresta Amazônica, vista aérea dos prédios no centro de O Brasil visto de cima: baía da Guanabara, o Corcovado, prédios no centro de São Paulo, favela
São Paulo. no Rio, favela no Recife, o pantanal, uma aldeia indígena. Sobre estas imagens, créditos iniciais
Música grandiosa e repetitiva. Meio Wagner, meio Philip Glass, meio Leo Henkin. do filme.
Música.
O Brasil visto de passagem: no centro de uma grande cidade, na saída de Porto Alegre, numa
favela em Recife, passando por um acampamento de colonos sem-terra. O Brasil visto de passagem: no eixo monumental de Brasília, numa rua em Porto Alegre, na BR-
TEXTO 4 - LOCUÇÃO MASCULINA 101, numa estradinha do interior, passando por um acampamento de colonos sem-terra.
Cento e cinquenta milhões de habitantes. Cento e quarenta bilhões de dólares de dívida LOCUÇÃO MASCULINA
externa. Cento e cinquenta mil crianças morrem por ano em consequência da fome. Cento e cinquenta milhões de habitantes. Cento e cinquenta bilhões de dólares de dívida
externa. Cento e cinquenta mil crianças morrem por ano em consequência da fome.
1° BLOCO DE NÚMEROS: Sobre a imagem, e em sincronia com o texto, aparecem letreiros
com os números citados. Quando um número surge, o anterior permanece. Ao final do texto O Brasil visto de perto: homens e mulheres numa fábrica, homens numa obra, mulheres na
temos, sobre a imagem, os seguintes letreiros: colheita, homens e mulheres sem teto, homens e mulheres numa frente de emergência, mulher
150 000 000 lavando roupa. O rio.
140 000 000 000 LOCUÇÃO FEMININA
150 000 Mas é neste país de desiguais que nós vivemos, onde buscamos nossa identidade, onde
tentamos encontrar as nossas respostas.
O Brasil visto de perto: homens trabalhando - só homens. Numa fábrica, numa obra, na colheita,
num engenho. Uma dupla de violeiros canta algo sobre a “beleza da mulher”. Homens e mulheres
sem teto, brigando. Uma menina com olhar muito triste ergue o rosto, percebendo a câmera.
TEXTO 5 - LOCUÇÃO FEMININA
Neste país de desiguais onde eu vivo, qual é o meu lugar? Qual é a minha identidade?
Quais as minhas respostas? As minhas desigualdades? (pausa) O que é meu nesse país?

83
CENA 5 - O QUE É MEU? CENA 5 - O QUE É MEU?

Imagens de mulheres em suas casas, locais de trabalho, etc., dizendo trechos de frases. Quase Imagens de mulheres em suas casas, locais de trabalho, etc., dizendo trechos de frases. Quase
todas são mulheres simples, pobres, mas as imagens devem conter alguma forma de beleza, todas são mulheres simples, pobres, mas as imagens devem conter alguma forma de beleza,
de esperança. Os trechos são pinçados de frases mais longas, mas cercados de pequenas
de esperança. Os trechos são pinçados de frases mais longas, mas cercados de pequenas
hesitações, pausas para reflexão, compondo um ritmo sem pressa.
hesitações, pausas para reflexão, compondo um ritmo sem pressa. E os trechos são mais ou menos os seguintes:
SÔNIA - A minha vida... “A minha vida...” “Minha família.” “...meus filhos...” “Minha casa...” “Minha vida.”
CLÁUDIA - A minha profissão... “Meu marido, meu pai, meu patrão.” “...meu trabalho?” “A minha carreira!” “Meu país, né?”
“A minha vida, a minha saúde!” “O meu tesouro!” “(...) Meu corpo.”
ZEZÉ - Pros meus filhos eu quero (diferente)
MARILDA - A minha família é/
HILDA - A minha casa, adoro a minha casa.
MARIA DO CARMO - Meu mesmo não tenho nada.
KARINA - O meu marido...
LUCI - Ah, o meu país/
HILDA - Porque dentro do meu próprio casamento,
MARLUCE - A minha vida é muito (problemática)
LUCIANA - (só que) era um desejo meu, muito
CARMEN - Ah, o meu maior sonho assim Exercite ! Peça para cada um de seus
colegas ou alunos olharem para um pont
ADRIANA - O meu sonho é ter um filho, de cuidar do meu filho... qualquer fora desta apostila, fixarem o o
olhar, e depois voltarem a olhar para o
guia.
MARLOVE - Sonho, sonho? Então olhem de novo para o mesmo pont
o fora e depois olhem novamente para
HILDA - Minha saúde. Rapidamente ! o guia.
MARGARETE - O meu corpo... Logo eles entenderão aonde queremos
chegar.
MARIA DO CARMO - Corpo? É, o corpo é meu. Agora peça para repetirem a mesma ação
MARISA - O corpo é o meu, eu é que sei o que eu sinto. mais duas vezes, direto, sem parar.
Com esse movimento do olhar eles fizera
m cortes! Depois de ver uma primeira vez,
sabe que não precisa fazer um movimen você
to contínuo entre o guia e o ponto fora dele
que já sabe o que tem no meio. Então o noss por-
o Cérebro corta a cena e, primeiro, você
para fora, depois, olha direto para o guia. olha

84
Exercite ! Pegue cenas de filmes e TOQUE : É comum que este primeiro corte
reedite-as, tentando fique com muito
manter o mesmo clima emocional, depo mais tempo do que você imagina ser a duraç
is reedite-as mudan- ão ideal, mas
do o clima da cena apenas com sua ediçã não é a hora de se desesperar. Também ainda
o. não é impor-
tante nos preocuparmos com minúcias como
transições ou
efeitos legais porque tudo ainda é muito provi
sório. O funda-
mental é termos uma base do que será o discu
rso dos perso-
Passo 4: Depois de decuparmos e importarmos tudo para dentro do pro- nagens e da ordem em que as coisas apare
cem ao longo do
grama, separamos as cenas em sequências diferentes e começamos a vídeo, para podermos partir para a edição final.
limpar o material, de acordo com algumas premissas do filme. Como as-
sim? Bem, o que é ruim e o que é bom para você? A princípio, tudo pode
ser bom, mas se você quer fazer um filme tecnicamente correto vai jogar Passo 6: Sabemos que a história precisa ter uma estrutura que a colo-
fora os erros de foco, as câmeras tremidas, os ruídos altos, etc. Se você que em pé, sabemos que ao longo desta estrutura, deve haver fluidez de
quiser usar uma linguagem mais alternativa, vai procurar exatamente esse sentido, de informação, então, agora é a hora de ir estabelecendo melhor
tipo de “erro” para compor parte dos seus planos, e o que pode ser des- os climas num desenho emocional para o filme, em conjunto com o de-
cartado de cara são as tomadas certinhas demais. Como dissemos, tudo senho das informações e do som. Quando falamos de som, no capítulo
depende do projeto, o importante é fazermos essa primeira limpeza antes 8, mencionamos como os ruídos, efeitos e músicas são importantes para
de construirmos as cenas, tendo em mente sempre a proposta do filme. a edição. Lembra-se? Então, neste momento da edição em que estamos
fechando o filme damos uma atenção especial para o som e todo esse
material vai ser muito útil. Como já falamos antes, mas não custa repetir, o
dos,
TOQUE : Se a imagem e o som forem gravados separa som é quem cria grande parte do clima do filme.
nto é a hora de sincro nizá-lo s. Lembr a de que
nesse mome
tância de gravar
falamos no capítulo de som sobre a impor Bom, e siga construindo o filme, acertando os planos corte atrás de corte,
ado!
junto para ajudar na edição? Pois é! Tudo está interlig vendo os tempos, as direções da imagem, arredondando o discurso até você
sentir-se satisfeito com o material. Sabemos mais ou menos com quanto tem-
Passo 5: Em seguida, partimos para o que vamos chamar de “corte de po o filme precisa ficar e vamos chegando mais perto a cada novo corte.
ordenamento” ou construção do corte bruto. Nele, o foco se torna ordenar
os acontecimentos para buscar uma estrutura geral nas cenas e sequên-
cias do filme, usando como guia o roteiro ou escaleta de edição que você
a
bruta tinha um
fez no passo 3. A ideia é criar um esboço do que queremos contar cena
el o di zi a qu e uma pedra as so br as
Michelang cultor cort ar
a cena, de onde queremos ir e do percurso que vamos usar para chegar ntro, é só o es a!
lá. Esse corte já deve ter início, meio e fim, mas não precisa se preocupar escultura de ch eg ar na forma exat
corretas para
muito com o acabamento ainda.

85
Quando chegamos nesse ponto é melhor pensar no todo do que em
partes isoladas. Como assim? Sabe aquele plano lindo que não está
se encaixando em lugar nenhum, ou aquela parte da entrevista que
é genial mas não tem muito a ver com o nosso tema? É sempre legal
deixá-los de lado em prol da história que queremos contar e não se
apegar tanto ao material que temos. Ter uma visão geral do filme ajuda
bastante o processo.

TOQUE : Nesse momento


é bom assistir ao filme
fim algumas vezes, an do início ao
otando suas impressõ
Aquela cena que está lon es num papel.
ga, aquela outra que est
nética ou um assunto a muito fre-
que não pertence ao film
facilmente identificados e podem ser
com esse método.

Você pode, ainda, usar alguns efeitos para te ajudar a contar essa his-
tória na edição. O que chamamos de corte seco, ir de uma cena para
outra sem efeitos é o mais comum, mas você pode usar o fade (quando
a tela fica preta e depois entra outro plano), ou pode transpor imagens,
enquanto uma imagem sai e outra entra. Ou ainda fazer uma fusão das
imagens (não apenas nas transições entre planos mas como um recur-
so estético) e usar efeitos de transição, como aqueles onde a imagem
entra lateralmente e substitui a outra, ou vários outros, as opções são
muitas. Mas é sempre bom lembrar que, assim como a escolha dos
planos e dos movimentos de câmera, esses efeitos e transições devem
trabalhar dentro do conceito que foi criado. Novamente, o diretor, ou as
pessoas que estão pensando o filme como um todo, devem participar Dica: Ao longo de todo o processo da edição, antes de fazer
dessas decisões. mudanças grandes em qualquer cena ou sequência é sempre
importante copiar o material para uma nova sequência, deixan-
do a antiga intacta e, aí sim, fazer os cortes e mudanças que
queremos. Com isso, sempre poderemos voltar atrás e ver algu-
ma solução interessante que foi modificada ao longo dos cortes.

86
Com essas etapas claras, precisamos conferir se demos a impressão de Existem vários programas para Sugestões de programas de edição:
fluidez e continuidade entre os planos, mesmo quando unimos momentos edição de vídeo, mas a estrutura Free vídeo dub
filmados em locais diferentes. Às vezes a proposta pode ser um corte básicas deles é mais ou menos a Video spin
brusco para criar um estranhamento no espectador, mas, ainda assim, a mesma. Windows Movie Maker
construção sonora que acompanha esse corte é fundamental. O impor- Windows Live Movie Maker
tante é saber qual o tom da cena e do filme de um modo geral. E a mon- Sempre tem um lugar onde você Virtual Dub
tagem é essencial nessa construção. organiza o material bruto em pastas Video Pad
Adobe Premiere
(ou bins) com nomes que sejam fá-
Final Cut
ceis de identificar o conteúdo: mú- Sony Vegas
amigos, de preferência pes-
Dica : Muitas vezes é legal chamar alguns sicas, efeitos sonoros, entrevistas,
assistir quando já tiver um
soas que não saibam nada do filme, para imagens de apoio, créditos. Quanto
as pode m ver coisas que você não
corte mais próximo do final. As pesso mais específico você for, mais fácil E ainda alguns programas que te permi-
estão com o olhar tão “viciado” quanto o seu.
tinha pensado porque não tem editar online, sem precisar armazenar no
será para achar o material que você
seu computador:
quer depois. Por exemplo: entrevis-
ta Dona Emilia – parte 1, Imagens http://www.mixandmash.tv/web/
Passo 7: Agora é hora de terminar esse filme e partir pro próximo. Mas da praça com crianças, imagem do http://jaycut.com/
antes precisamos inserir os créditos, ou seja, o título e aquele monte de alto do edifício, etc. Motionbox
nomes que aparecem no final de todo filme e que quase ninguém assiste Culturadigital.org
no cinema. Os créditos finais incluem todos que trabalharam para o filme Sempre tem também uma timeli-
acontecer, os personagens e atores (se houver), as imagens de arquivo ne. Na timeline, você tem trilhas ou
No link http://www.softonic.com.br/s/
utilizadas, as trilhas, os agradecimentos e tudo que você achar que cabe tracks de vídeo, onde aparece tudo edição-produção-videos você pode achar
no fim do seu filme! que se vê – imagens, créditos, efei- muitas outras sugestões de programas
tos e trilhas ou tracks de áudio (não inclusive com sua descrição.
Programa de edição confunda com trilha sonora). Na
trilha coloca-se as músicas, efeitos
Então, já sabemos mais ou menos o que teremos que fazer com os pla- sonoros e o som captado direta-
nos para chegar no filme. Agora é você estudar o programa que vai usar mente na gravação. As trilhas são
para aplicar os comandos de modo a atingir os resultados que deseja. tripinhas azuis e verdes que apare-
Isso requer um pouco de prática, mas é como andar de bicicleta, quando cem na parte inferior da tela. Elas
aprende, não esquece mais! podem ter várias camadas.

87
[7] D ifu sã o

Com o filme pronto, é hora de colocar o bloco na rua! temente ter


pa rte su a deve eviden e
Afinal, depois desse trabalhão para transformar teus mes, um a mas creio qu
Para fazer fil m un ic ar com os outros, fil m e nã o
co cipal, ou o
sentimentos e ideias em uma obra audiovisual, não vontade de se a m otivação prin er ve r,
se r su vo cê qu
faz sentido guardar o filme na gaveta, não é? Mui- isso não deve r o filme que
cê deve faze ico quer ver.
tos mestres do cinema - como Jean-Pierre Jeu- funcionará. Vo qu e o pú bl
e você acha
net, Woody Allen, Fellini, Lars Von Trier - falam que não aquele qu Lars Von Trie
r
fazem filmes, antes de tudo, para si próprios e são
eles mesmos seus primeiros e principais espectado-
res. Mas, de toda forma, com o filme feito, é sempre
legal tentar mostrá-lo em algumas janelas que tenham Então vamos nessa! Os espaços to alternativo de distribuição. Alter-
a ver com sua proposta. Quando se trata de um curta- mais importantes do curta são, his- nativo porque é uma outra opção
metragem – nosso caso aqui! - dificilmente produz-se toricamente, os festivais e mostras ao que o mercado oferece (salas
para ganhar dinheiro e pensando em agradar um grupo de cinema. Esses eventos reúnem de cinema, locadoras, tv, etc) –
de espectadores específico. Em geral, o curta parte muita gente que trabalha na área, sacou? Então, o tal circuito alter-
mesmo da vontade de experimentar a arte do cinema, então são pontes para ganharmos nativo inclui hoje outras frentes im-
e é o primeiro degrau da escada de quem quer se lan- reconhecimento e partir pra frente. portantes, alem dos festivais. Você
çar na área. É por aí que começamos a descobrir a lin- Os festivais geralmente têm várias já ouviu falar em Cineclube? E nos
guagem e mostrar nosso jeito, nossa forma de falar através das categorias e focos diferentes entre canais da web 2.0, como o youtu-
imagens em movimento. Mas, se você está ligado nos assuntos todos que eles, então precisamos entender be e o vimeo? Claro que sim, né?
trouxemos aqui no VideoInteratividade, já deve ter pensado um pouco, como cada um funciona para ver Aqui abaixo vamos falar um pou-
pelo menos, sobre o que quer provocar com o filme que fez. Afinal, depois quais são os melhores lugares co sobre eles, dar algumas dicas,
de revermos alguns dos movimentos do cinema ao longo da história, e para inscrever nosso filme. Po- e tentar pensar em outros meios
tantas técnicas para desenvolver narrativas, filmar e editar, as escolhas que demos dizer que os festivais e as alternativos para fazer nosso curta
você fez no teu vídeo não partiram do nada – certo? mostras fazem parte de um circui- circular por aí.

88
E quem é o responsável na equipe pela difusão do filme? Todos! Dificil-
mente teremos alguém exclusivo para tocar essa parte...mas uma cabe-
ça de diretor e outra de produtor são sem dúvida importantes para puxar
em espaços para
a também que exist
o bloco. TOQUE : Não esqueç passar na TV ?
film e na tel ev isão! Meu filme vai
mostrar se u TVs comunitárias (ou
é im possível!! Procure
Para começar, é importante organizar as informações básicas sobre o fil- Sim , iss o nã o s ou de TV por as-
ião, e canais público
me: escrever uma sinopse, resumindo a proposta de um jeito atraente populares ) da sua reg a e o Curta !. Lembre
Brasil, o Canal Futur
sinatura, como a TV muito nos últimos
(lembra que falamos disso lá no roteiro??); listar o nome da equipe que po r co nte údo vem cresc doen
que a pro cu ra nta da chegada da
participou e respectivas funções; colocar a duração total; dizer o gênero r nos próximos por co
anos e deve aumenta
(é um documentário? Um docudrama?); adicionar uma foto bacana, repre- TV Digital....
sentativa do filme; escrever o ano e o local onde foi produzido; o tipo de
câmera que vocês usaram para filmar; etc.

Dá uma olhada no exemplo abaixo só pra ter uma base, ele foi tirado do
site PortaCurtas (portacurtas.org.br):

A História da Eternidade
Visualizações (6.330) | Votos
Gênero: Experimental, Conteúdo Adulto
Sub-Gênero: Drama
Diretor: Camilo Cavalcante
Elenco: Adriana Maciel, Charles Franklin, Cosme " Prezado" Soares, Geraldo Pinho, Iracema
Almeida, João Ferreira, Júlio Verçosa, Marco Camaroti, Nerisvaldo Alves, Nina Militão, Roberta
Alves, Seba Alves, Valdir Nunes, Vanessa Suedy
Duração: 10 min Ano: 2003 Bitola: 35mm
País: Brasil Local de Produção: PE
Cor: Colorido
Sinopse: A História da Eternidade é um falso plano-sequência que pretende conduzir o
espectador a uma viagem dentro dos instintos humanos, através de uma linguagem poética e
metafórica. Acontecimentos que representam um amplo panorama da civilização ocidental e
tudo que o ser humano é capaz, desde trucidar seu semelhante brutalmente até inventar a arte
para libertar os sonhos estão presentes neste exercício visceral que expõe, sem concessões, a
eterna tragédia humana.

89
TOQUE : A chance de você ser selecionado para um
[7.1] Festivais e Mostras mostra é maior quando o seu filme se encaixa com
festival ou
a proposta
do evento. Veja que alguns festivais são temáticos –
por exem-
Existem muitos festivais e mostras espalhados pelo Brasil (e pelo mundo!) plo, direcionados a filmes sobre meio ambiente, ou
sobre ho-
para filme de todo tipo: produção, gênero, duração, tema etc. Para tentar mossexualidade, ou para jovens, ou para filmes produ
zidos em
entrar na programação, você deve se inscrever informando os dados do determinada região /país, etc.; outros têm temas difere
ntes a
cada edição ; outros têm categorias fixas voltadas para
teu filme (como mencionamos acima) e enviando cópias em dvd (ou outro diferen-
tes tipos de filme – por exemplo, longas-metragem
suporte, às vezes mesmo um link de onde foi postado na web é suficiente). realizados
por diretores estreantes, ou videos feitos em escola
s... Então,
o impor tante é você pesquisar bem cada evento. Procu
re não
Aí vai um gostinho dos festivais e produzidos no contexto do VideoIn- apenas conferir as categorias que o festival oferece
(e sua pro-
mostras dos quais estamos falan- teratividade. Atenção para as datas posta temática, caso haja), mas também assistir aos
filmes que
do. Selecionamos alguns que po- de inscrição, se organize e não per- já foram selecionados e premiados.
dem ser legais para enviar filmes ca tempo!

Festival do Rio Festival Visões Periféricas


Grandes destaques dos principais festivais do mundo são apresentados ao público neste Foco nas produções audiovisuais das periferias brasileiras e latino-americanas. Abre espaço
festival, além de ser importante plataforma para a estréia de longas e curtas-metragens para filmes feitos com celulares, máquinas fotográficas e webcams, além de oficinas sobre
brasileiros. Nesse Festival, existe uma sessão específica voltada para vídeos produzidos por as novas tecnologias de comunicação.
jovens e crianças do Brasil e exterior, chamada Mostra Geração (ou Video Forum). Inclusive, www.visoesperifericas.org.br
alguns filmes realizados nas Oficinas VideoInteratividade já foram exibidos lá nos últimos
anos! Festival do Júri Popular
www.festivaldorio.com.br Esse Festival é focado em curta-metragem e acontece em 22 cidades do Brasil. Costuma
selecionar produções realizadas nas cinco regiões do Brasil.
Festival Internacional de Curtas http://www.festivaldojuripopular.com.br
Dentro do maior evento de curtas-metragens no Brasil, acontece há muitos anos a mostra
Kinooikos, dedicada a vídeos e filmes realizados exclusivamente em oficinas e projetos Festival Internacional Pequeno Cineasta
sociais de formação audiovisual. Esse é mais um Festival direcionado à filmes feitos por crianças e adolescentes. Ele pega
http://www.kinoforum.org.br/curtas/2007/noticias.php?n=74&idioma=1 videos feitos no Brasil e acontece apenas no Rio de Janeiro. Também já passaram filmes do
VideoInteratividade nas últimas edições.
Festival do Minuto http://www.pequenocineastafest.com.br/blog/index.php
Direcionado a vídeos de até um minuto. As produções estão online e a equipe ainda organiza
a exibição dos vídeos em várias cidades, em espaços como museus, mostras, escolas,
pode acessar a relação
universidade, entre outros. TOQUE : No site do Kinofórum você
vais bras ileiros e internacio-
www.festivaldominuto.com.br das principais mostras e festi
forum.or g.br /gui a/20 12/index.php
nais : http ://w ww.kino
90
[7.2] Canais de vídeo online Tags: As tags, ou palavras-chave, funcionam como rastreador para quem
www.youtube.com • www.vimeo.com busca informações sobre determinado assunto. Por isso, incluir palavras
que representem os conteúdos relacionados ao seu vídeo faz com que ele
Nos canais da web onde qualquer ressante como hoje já existe até um entre em vários grupos e apareça quando alguém buscá-las. Mas fique
pessoa pode se cadastrar e pos- nome para vídeos muito recomen- ligado, pois a ferramenta só funciona bem se você souber utilizá-la. En-
tar seu vídeo – como o youtube e o dados, esses que vão passando tão, nada de inserir muitas palavras, hein? O negócio é saber exatamente
vimeo - tem tanta coisa que o seu de pessoa pra pessoa rapidamente quais serão úteis para que seu material seja facilmente encontrado em
filme pode facilmente se perder. É e logo se tornam grandes sucesso uma busca, e, para isso, existem meios de pesquisar se a tag utilizada
muito comum serem usados para de público, com pouquíssimo – ou é eficaz. Um exemplo é a Ferramanta de Palavras-chave do Google, que
podermos dividir o que criamos nenhum – investimento em distri- indica a quantidade de buscas por aquela palavra nos últimos meses e de
com pessoas que conhecemos, buição: são os virais! material concorrente resultante da procura, além de dar ideias de outras
mandando o link por email, postan- expressões em comum.
do nas redes sociais, etc. A partir Fazer do teu filme um viral não é
dessa primeira divulgação, outras lá tarefa fácil, como você pode Atualização do canal: Alguém duvida que os canais mais ativos são
pessoas, que não conhecemos, imaginar, e muito menos deve ser mais visualizados? Então, se conseguir criar um compromisso de posta-
podem acabar encontrando nosso tomada como objetivo. A não ser gem semanal ou quinzenal, maior será a chance de seus filmes serem
trabalho, sendo recomendadas pe- que essa tenha sido a sua intenção vistos! Mas se não rolar com essa regularidade toda, vale manter os co-
los nossos amigos. E, logo, pelos desde o inicio... Mas há outras for- mentários ativos, postando frequentemente provocações e informações
amigos dos amigos, dos amigos, mas de dar mais visibilidade para o interessantes - sempre relacionadas aos seus vídeos, claro!
dos amigos... e a rede vai crescen- teu filme dentro do mar de audiovi-
do assim espontaneamente! É inte- suais destas redes: Rede com outros canais: Lembre-se que a comunicação em rede é
muito mais eficiente, afinal “uma andorinha só não faz verão”! Relacionando
seu canal aos perfis em redes sociais (facebook, twitter, blog, etc.) você
consegue ampliar a possibilidade de visualização de seus vídeos. Outras
dicas bacanas: buscar e adicionar canais, fóruns e sites que estejam rela-
cionados aos seus e utilizar o link do seu canal como assinatura do e-mail
e de comentários nas publicações de outros usuários.

91
[7.3] Cineclubes O primeiro cineclube de que
se tem notícia no Brasil foi o
Outro meio potente para botar o seu curta na roda é o circuito de cineclu- Chaplin Club, fundado em
bes. Este, além de ser uma forma relativamente acessível para mostrar seu 1928, no Rio de Janeiro, pelo
trabalho em meio a quem pensa e curte a sétima arte, é uma chance para Grupo Paredão. Além de ses-
movimentar a cena cultural da sua região. Vamos então nos debruçar mais sões regulares de filmes e de-
no contexto histórico do cineclubismo no Brasil pra você poder ir mais bates, o Chaplin Club produzia
fundo nessa onda... a revista “O Fan”, no qual expu-
nham suas ideias. Embora só
tenha chegado a nove edições,
sentação da Apostila,
TOQUE : Como já falamos lá na apre a produção dessa revista foi im-
escolas da rede esta-
estão sendo criados cineclubes nas portante para divulgar a iniciativa
reveram e as aprova-
dual. As escolas interessadas se insc e também para propagar a onda
a. Vale dar um confere pra ver
das estão no site do Program
cont emp lado e, caso tenha sido, checar cineclubista Brasil afora.
se teu município foi
e da regi ão.
qual escola formará o novo cineclub

Dic a: Uma das principais revi


e stas de cinema do mundo, a fran
s lucrativos qu Cahiers du Cinemà, também surg cesa
é um a as so ciação sem fin e refletir sobre e amadores do cinema ligados
iu a par tir da iniciativa de cine
astas
Cineclube a ver, discut ir aos cineclubes franceses, na
us membros i/ Cineclube). de 1950 (em meio ao movime década
estimula os se :/ /p t.w ik ip edia.org /wik nto de Cinema de Autor – lem
bra?).
tt p Você encontra muita informa
o cinema. (h ção (em français, é claro) nas
edições publicadas ao longo dos tantas
seus 25 anos de história :
ww w.cahiersducinema.com

Cineclube é uma en
tidade onde se co
amadores de cinem ngregam
a para estudar-lhe ouro”, a
e a história. (Novo a técnica iderados os “anos de
Dicionário Aurélio
da Língua Nos anos 1950, cons muitos ci-
Portuguesa) ulou a fundação de
Igreja Católica estim o de difundir o
país com o intuit
neclubes em todo o déca da foi criada a
fim desta
“Método Católico”. No Janeiro.
Cineclubes no Rio de
primeira Federação de
92
Como vimos lá na nossa Linha do Tem-
po, nos remotos anos 1920-30, fazer um
filme e conseguir janelas pra mostrá-lo
não era pra qualquer um. Caras e com-
plexas de produzir e distribuir, as obras
audiovisuais pediam uma estrutura indus-
trial pra sair do forno. E, sem canais de
televisão, locadoras de vídeo, youtubes,
celulares e ipads da vida, o sujeito não
tinha outra opção além de assistir o que
estava em cartaz nos cinemas de sua ci-
dade. E, como as redes de cinema eram
controladas por poucos grupos, a maioria
norte-americanos, que também produziam
e distribuíam filmes, o cardápio não era mui-
to diversificado. Montar e sustentar um ci-
nema era também uma atividade que exigia
investimento alto (e é assim até hoje, mas na-
quela época, nem se fala...). Então, para se
aventurar nesse ramo, precisava-se de muito
capital pra começar e, depois, garantir uma
programação constante, capaz de atrair um
público grande, para o negócio valer a pena.
Com essa complexidade toda, dá pra imagi-
nar que o setor do cinema era concentrado na
mão de poucos grandes grupos, que domina-
vam toda cadeia de produção. Os cineclubes
aparecem, assim, como um respiro para filmes o
anifestoantropofag
/estudosdobrasil/m
m/ensino /cambury
produzidos fora desse esquema chegarem até htt p://incinerrante.co
as pessoas.
era o 4º maior importador de
Nas décadas de 1920-30, Brasil
filmes norte-americanos.

93
Nessa mesma época, no Brasil, surgiu um grupo forte de intelectuais, ati-
vistas e artistas de várias áreas, preocupados em refletir sobre a consti-
tuição da identidade brasileira. O grupo acabou sendo conhecido como
modernista, após a Semana de Arte Moderna (1922) e o lançamento do
Manifesto Antropófago (1928). Na busca por nossas raízes e pela valori-
zação do produto nacional, muitos artistas se aventuraram pelos interiores
do Brasil e começaram a produzir com os meios que podiam. E no meio
de todo esse movimento, a atividade cineclubista contribuía para debater
nossa brasilidade e outras questões políticas e culturais, colocando em
cena filmes que revelavam mundos diferentes daqueles pintados pelos
europeus e por Hollywood.

TOQUE : O cineasta mineiro


Humber to Mauro foi um dos
ícones nessa busca pelos valo reprime manifestantes no comício da
Central do Brasil,
res nacionais, firmando uma Arquivo O Globo –Comício da Central do Brasil - Polícia “ Refor mas de Base”. Negativo 32479.
influência que irá marcar u seu plano das
várias gerações de cineasta quando o Presidente João Goulart lanço
Também o documentarista Silv s.
ino Santos se destaca nesse
momento, principalmente no
exterior, com seus filmes sob A EMBR AFILME foi um órgão do governo brasileiro criado
a Amazônia. re em 1969, voltado para
a distribuição de filmes nacionais. O órgão foi extinto em
1990, pelo Programa
Nacional de Desestatização (PND) do governo Fernando
Collor de Mello.

Ao se tornarem importantes pólos cineclubes estavam em funciona- com o apoio da Embrafilme, os e novos cineclubes foram criados
para troca de ideias e para acesso mento no país; um ano depois, cineclubes passaram a contar com em igrejas, escolas, universidades,
a filmes vindos dos quatro cantos, eles se restringiam a no máximo um acervo enorme - de “filmes sindicatos etc. Nesse contexto do
os cineclubes começaram a ser uma dúzia. clandestinos” (que não haviam Brasil, muita gente que combatia/
vistos como uma ameaça durante passado pela Censura) a filmes de criticava a ditadura se encontrou
as décadas de 1960 e 70 - anos Mas, em 1976, a coisa ganha força diferentes realizadores da América na atividade cineclubista, fazendo
marcados por uma política forte de de novo... Com a criação da Dis- Latina, e longas-metragem brasi- da resistência política e cultural a
repressão dos governos militares tribuidora Nacional de Filmes para leiros (em 16mm). Reorganizado razão de ser de muitos cineclubes.
- e começam a ser fechados aos Cineclubes (Dina Filmes) - pelo politicamente e com maior facili- O debate após a sessão era, cada
montes. Para se ter uma idéia, em Conselho Nacional do Cineclube dade de acesso a obras indepen- vez mais, um ponto fundamental
1968, estima-se que mais de 600 (CNC) - e, logo no ano seguinte, dentes, o movimento se fortaleceu do movimento.

94
não podiam ser tão fáceis
TOQUE : É claro que as coisas
a Dina Filmes sofreu uma Já no final dos anos 1980, o movimento cineclubista se desarticula. De um
assim e, como era de se prever,
elas , vale destacar a invasão à lado, o desenvolvimento tecnológico trazia filmes e programas aos montes
série de represálias. Dentre
Federal, em 1979, levando
sede da distribuidora pela Polícia pela TV e através do video (nessa época ainda era o VHS e o Betamax),
ias de filmes.
a destruição de mais de 200 cóp ampliando o acesso das pessoas ao audiovisual; de outro, um novo mo-
mento politico no país que já não justificava tanto a existência de espaços
para combater a ditadura. Nos anos 1990, vemos que não apenas os ci-
A parceria entre a Dina Film neclubes, mas também as salas de cinema começam a reduzir de número
es e a Embrafilmes e a imp drasticamente, acompanhando os feitos tecnológicos e a tendência de se
clubes foi crescendo tanto ortância dos cine-
que alguns longas brasileiros,
O Homem que Virou Suco (1981), como o clássico consumir audiovisual (e cultura em geral) em casa. Isso não rolou só no
de João Batista de Andrade, começar
no circuito comercial e nas redes am a ser lançados Brasil: vários países passaram pelo mesmo processo.
de cineclubes ao mesmo tempo.

Mas o consumo caseiro e a facilidade de acesso foram se disseminando


a tal ponto que acabaram se convertendo também em arma da atividade
cineclubista. Com a possibilidade de encontrar milhares de filmes e infor-
mações sobre cinema com apenas alguns cliques, os amantes da sétima
arte começam a ver nos cineclubes uma forma de compartilhar entre eles
as produções que vêm encontrando por esse mundão. Pra tornar a his-
tória ainda mais interessante, a ANCINE cria a Lei do Cineclube. Nesse
momento, começaram a surgir várias associações de cineclubes, num
processo que estimulou os novos cineclubistas de diferentes regiões do
Brasil a se conhecerem, a trocarem figurinhas e a criarem parcerias.

Agencia Nacional do Cinema, criada


em 2002 – www.ancine.gov.br

Fazer cineclube é resgat


ar o pra zer de ver filmes
coletivamente, preser van
do o debate apaixonado
simplesmente o bate-papo ou
descontraído. Uma ação
indivíduos que preser vam de
a paixão do encontro e do
compar tilhar. É essa paixão
que motiva as pessoas a
criarem cineclubes.
o estado que
O Rio de Janeiro é Her aldo Bezerr a e Igo
mero de cineclubes r Barradas,
possui maior nú Cineclube Mate Com
Angú
no País. 95
Algumas dicas pra você explorar a rede de cineclubes hoje no Brasil: Identidade

Associação de Cineclubes do Estado do Rio de Janeiro (Ascine RJ) Uma das grandes possibilidades para que o cineclube vá em frente e con-
A associação reúne cerca de 50 cineclubes espalhados pelo Estado do tagie outras pessoas é a criação de uma identidade. O que, em outras
Rio e possui importantes convênios com acervos, produtoras e festivais, palavras, nada mais é do que definir sua proposta: os tipos de filme que
como a RioFilme, o CurtaCinema e a Mostra do Filme Livre. serão exibidos, as outras atividades que vão rolar além das sessões (de-
www.ascinerj.blogspot.com bates, festas, shows etc.), e o tipo de galera que se espera atrair. Nessa
construção, o nome do cineclube é uma questão importante!
Conselho Nacional de Cineclubes (CNC)
O CNC representa os cineclubes brasileiros e é responsável por organizar
e regulamentar a atividade. Uma de suas principais iniciativas é a produ- Curadoria
ção das Jornadas Cineclubistas, evento que acontece a cada dois anos e
reúne cineclubistas de toda parte do Brasil. A curadoria é a escolha dos filmes e a definição da linha temática/estética
www.cineclubes.org.br que compõem as sessões. É a alma do Cineclube! Há cineclubes que
só exibem curtas-metragens nacionais, outros só documentários, e por aí
Federação Internacional de Cineclubes (FICC) vai: filmes de terror, clássicos de Hollywood, filmes de animação, longas
A FICC é a organização internacional dos cineclubes, fundada em 1947, nacionais, cinema europeu...
durante o Festival de Cannes, na França. Membro do Comitê Consultivo
da UNESCO, hoje agrupa mais de 30 países, com cerca de 50 Federa- Um bom trabalho de curadoria exige que se pesquise e assista muitos
ções Nacionais. filmes: frequentar festivais e mostras (na medida do possível, é claro),
acessar portais de cinema (youtube.com, vimeo.com, programadorabrasil.
org.br, portacurtas.com.br, curtaocurta.com.br, etc.), contatar realizadores
Montando um cineclube para pedir cópias de seus filmes, xeretar revistas e livros de cinema etc.
Depois de escolhidos os filmes da sessão, não esqueça de pedir autoriza-
Pra quem curtiu a ideia de montar um cineclube, pode se ligar nos toques ção para exibi-los aos diretores/produtores.
abaixo que aparecem no Guia Cineclubista do Programa Cinema Para
Todos disponível no site do Programa (www.cinemaparatodos.rj.gov.br):
Atividades extras
Antes de qualquer coisa, não se esqueça que construir e cultivar um cine-
clube é algo que se faz em grupo! Tão fundamental quanto pensar a sessão e elaborar o programa é cons-
truir alguma atividade extra-exibição. Historicamente, esse é um dos pon-
tos que diferencia o cineclubismo da exibição puramente comercial. Além

96
dos debates, muitos cineclubes aproveitam o espaço para fazer festas Divulgação
temáticas, showzinhos, recitais de poesia, etc. e tal, dando uma força tam-
bém na divulgação de artistas locais. Se escolherem debate com a platéia, A divulgação é um trabalho muito importante e desafiador de se fazer. Quanto
vale a pena dar um toque em alguma pessoa ligada aos filmes exibidos mais gente souber do cineclube, mais fácil de o público vir chegando - só não
para vir e participar. esqueçam que tem um público especifico no qual vocês pensaram lá quando
construíam a identidade e é importante pensar ações direcionadas a ele.

Acervo Alguns meios bem básicos pra começarem a divulgar o trabalho:

Pegou o filme com o autor? Baixou na Internet? Comprou em alguma pro- Peças gráficas: produzir, imprimir e distribuir cartazes e filipetas com a
moção? Não importa. Busque tratar com carinho cada filme adquirido. programação nos locais onde se reúne a galera que vocês querem atrair
Um bom acervo é metade do caminho para resolver 90% das aventuras para o cineclube;
que um cineclube pode se comprometer em sua jornada. Evite o pecado
de deixar os filmes perdidos por aí – o ideal é definir quem do grupo será Internet: postar coisas interessantes sobre a sessão, dando um gosti-
responsável por guardar as cópias. nho do que vai rolar; criar uma fanpage e/ou um blog do cineclube, alimen-
tando de informações a cada vez.

Equipamentos Agora, uma coisa é imprescindível pro sucesso de vocês: fazer sessões com
regularidade, pelo menos uma vez por mês, estabelecendo um dia certo pra
A base dos equipamentos necessários para o funcionamento de um cineclu- isso (na última 2ª feira do mês, na primeira 6ª feira; etc.). Assim, as pessoas
be são: projetor, telão, aparelho de DVD, aparelho de som e cabos, cadeiras. que curtiram a ideia do cineclube de vocês já vão estar ligadas nas próximas
Destes, o telão pode ser substituído por uma parede branca ou por um pano sessões, independente de terem sido atingidas por sua divulgação específica.
grosso e bem clarinho, como uma lona; o aparelho de DVD pode ser substituí-
do (dependendo do caso) por um pen-drive ou um computador; as cadeiras carac-
TOQUE : Segundo o pesquisador Felipe Macedo, três
podem abrir espaço para pufes, tapetes, almofadas, ou qualquer outra coisa ter fins
terísticas definem as bases de um cineclube: Não
gostosa de sentar que permita enxergar confortavelmente o telão. ntal; ter
lucrativos; organizar-se de forma democrática, horizo
compromisso cultura l ou ético.
Fique atento aos fios conectores, os cabos, e ao controle remoto do apa-
relho de DVD – são coisas fáceis de perder ou de esquecer. O ideal é ter TOQUE : Muitas pessoas desistem de levar
em frente um
cineclube alegando que o público não tem
uma pessoa com a responsabilidade de ligar, operar e guardar. interesse nisso
ou que não há espaço para atividades cultu
rais em sua re-
gião. Na dúvida, recomendamos não desis
tir! O tempo se
encarrega de mostrar que as pessoas vão
se chegando e
comprando a ideia.
97
[7.4] Ações de guerrilha!
Bom, além dos caminhos já bastante explorados que citamos acima, você
mesmo pode inventar circuitos para fazer o seu filme rodar por aí!

Uma coisa bacana é gravar um DVD, fazer uma embalagem bonitinha e


imprimir várias cópias. Com isso, pode articular parcerias e/ou fazer uma
distribuição corpo-a-corpo. Algumas dicas:

procure as locadoras de vídeo da sua cidade e ofereça os DVDs


para serem emprestados pelos clientes;

procure as bancas de jornal, peça para deixar os DVDs lá a um preço


baixo e negocie uma porcentagem para você;

deixe cópias nas bibliotecas públicas e de escolas;

ande sempre com uma cópia no bolso e entregue para pessoas


que você admira, ou que têm ligação com cinema, ou ligação com o
tema do vídeo. Use como uma apresentação do teu trabalho e das
tuas ideias;

fique ligado nos eventos que vão rolar na tua região e, quando per-
e eficaz
ceber algum que tenha a ver com o filme, entre em contato com os um projeto muito criativo
TOQUE : Em 2003, surgiu na Pra teleira!
-metragens, o Curta
responsáveis e sugira incluí-lo na programação (pode ser um evento para a difusão de cur tas a pro pos ta rola até
ioca Cavídeo,
em universidades, escolas, centros culturais, cineclubes, etc. etc.). Iniciativa da locadora car com alg uns cur tas sel ecio-
er DVDs
hoje e consiste em oferec locadora.
por ele s gra tuit am ente aos associdados da
Enfim, o lance é estar afinado com os pontos e movimentos culturais que nados reú ne vár ios cur-
então e agora
O projeto cresceu desde ias loc ado ras do Brasil.
rolam perto de você e ser criativo. Antes de tudo, o lance é você mesmo DV Ds e vár
tas, vários volumes de loc adora
curtir e aprender a dar valor para o trabalho que fez! re o projeto e a super
Para conhecer mais sob
video.com.br
Cavídeo http://w ww.ca

98
n t in u a r li g a d o
[8] Pra co

Você produziu o filme e já tem idéia de algumas formas para mostrar seu
trabalho pra galera. Mas a coisa está só começando... Para conhecer mais
o mundo do cinema tem que ver muito filme e conhecer o trabalho de
quem faz e pensa o audiovisual. Você pode ainda participar de outros
cursos e oficinas, afinal, além desta que você fez, existem várias outras
espalhadas por aí! Então vamos às dicas:

Cursos e Oficinas

Oficina Cinemaneiro 5 Visões – Formação Técnica em


www.cinemaneiro.com.br Audiovisual
(21) 2532-4308 / 2215-4541
Geração Futura (Lapa – Fundição Progresso)
http://projetogeracaofutura.blogspot.
com.br Oi Kabum
http://w ww.oifut uro.org.b r/educac ao/ Creio que h
oi-kabum á duas man
Cinema Nosso aprender ci eiras de
nema. A pri
http://ww w.cinemanosso.org.br evidentemen meira,
te, é fa zend
RECINE – A segunda o filmes.
é escrevend
Festiva l de Cinema de Arquivo Pois escrev o criticas.
Escola Livre dE Cinema er obriga a
http://ww w.recine.com.br explicar de definir e
www.escolalivredecinema.blogspot.com maneira co
ncreta (par
os outros, m a
as principam
você)o funci ente para
Tela Brasil SENAI onamento o
não-funcion uo
http://ww w.telabr.com.br www.cursosenairio.com.br amento do
filme.
Wim Wend
ers
99
Documentários brasileiros
zendo.
vendo film es do que fa
aprendi mais
Cer tamente MAIORIA ABSOLUTA – LEON HIRZMAN (1964)
Godard tica
O filme apresenta estatísticas, entrevistas e informações históricas sobre a problemá
campone ses e imagens do Palácio do Planalto e
do latifúndio. Mistura depoimentos de
Brasília. É fruto desse momento histórico em que jovens cineastas de
do Congresso em
esquerda se voltaram para temáticas sociais.

[8.1] Filmes A Opinião Pública – Arnaldo Jabor (1967)


de um
Documentário representativo dos movimentos de cinema de 1960, utiliza a voz
narrador como fio condutor de reflexões sobre a classe media brasileira . Adota, também,
Separamos uma listinha de filmes que são importantes para você conferir uso de
um pouco dos movimentos de cinema que já rolaram ao longo da história. técnicas básicas do cinema-verdade: entrevistas com som direto, luz natural e
atores sociais.
Você pode encontrar muitos deles em locadoras e na internet!
O PAÍS DE SÃO SARUÊ – VLADIMIR CARVALHO (1971)
nor-
O nosso foco aqui foi em documentários, por isso olhamos com mais cari- Em seu primeiro longa metragem, o diretor contrasta as potencialidades do sertão
e a miséria desde os tempos
nho para eles aqui, dando uma palhinha sobre cada um pra você entender destino com a luta dos homens contra a seca, o latifúndio
folheto
o que pode ser legal assistir dependendo do filme que você quer fazer. coloniais. Para abordar o tema, o documentário foi montado como se fosse um
de cordel (tipo de literatura que vem do Nordeste ).

Como já falamos, o Cinema de Autor influênciou muito toda a nossa forma IRACEMA, UMA TRANSA AMAZÔNICA –
de pensar o cinema e, por isso, os diretores são apresentados depois do JORGE BODANZKY, ORLANDO SENNA (1974)
tário.
nome dos filmes. Isso não quer dizer que ele seja o dono do filme ou que Esse filme ficou super famoso por brincar com as fronteiras entre ficção e documen
é narrada de forma documen tal, com
o tenha pensado todo sozinho :) A história de um caminhoneiro e uma prostituta
mais a ficção. Fora o fato de mostrar a Transama zônica, um
momentos que tendem
projeto de estrada que cortaria a Amazônia brasileira. Orlando Senna e Jorge Bodansky
da
Dica: Viu um filme e gostou da fotografia? Experimente
pro- utilizam essa estrutura ambígua para fazer uma crítica ao modelo desenvolvimentista
a equipe no IMDB (Intern et Movie ditadura militar.
curar as informações sobre
e outros
Database, www.imdb.com) ou em outros sites. Procur NELSON CAVAQUINHHO, LEON HIRZMAN (1970)
as inform ações estão
filmes com esse mesmo fotógrafo. Enfim, O Documentário, curta-metragem em preto e branco e 35mm sobre o sambista
Nelson
aí, basta saber buscá-las. Cavaquinho, desconcerta geral :) Captado em 1969 pela lente de Leon Hirszman , um
anos de idade é flagrado divagand o suas impressõ es sobre a
Nelson Cavaquinho de 59
música e a vida em sua casa no dia-a-dia tranquilo de Bangu, caminhan do pela vizinhan-
ça simples e, principalmente, cantando com sua embargada voz.

100
YNDIO BRASIL – SILVIO BACK (1995 )
Este filme é legal porque é construído com a colagem ERTO BERLINER (2002)
de imagens de índios de dezenas A PESSOA É PARA O QUE NASCE – ROB . É bem
de filmes nacionais e estrangeiros - ficção, cinejornais curta-metragem e acabou virando longa
como o cinema vê e ouve o índio brasileiro desde quand
e documentários - revelando Esse filme foi desenvolvido primeiro em as perso nage ns e para pensar
se envolve com
em 1912. São imagens surpreendentes, emolduradas
o foi filmado pela primeira vez interessante pela forma como o diretor pess oas. A pess oa fala de três
ter na vida das
uma reflexão sobre como imaginamos e representamos
por músicas e poemas e permitem sobre o efeito que o documentário pode a tamb ém a revi-
do ganzá na rua e acompanh
os índios no audiovisual. irmãs cegas, que ganham dinheiro tocan na
teve na vida delas, transformando-as em celebridades
NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR – ravolta que o curta-metragem
JOÃO MOREIRA SALLES, KÁTIA LUND (1999 ) região onde moram.
Documentário que mostra flagrantes do cotidiano das O (2002)
favelas dominadas pelo tráfico EDIFÍCIO MASTER – EDUARDO COUTINH io
de drogas no Rio de Janeiro e entrevistas com envolv com maestria alguns moradores de um edifíc
idos no conflito entre traficantes Nesse filme Eduardo Coutinho entrevista impo rta numa entre vista não
e policiais, inclusive moradores que estão no meio do mostra que o que
fogo cruzado e especialistas em de conjugados em Copacabana. Ele nos lo de
segurança pública. Esse filme ficou muito conhecido quand de do perso nage m, mas estabelecer uma conexão com ele, amá-
o foi lançado o Tropa de Elite é extrair a verda
1, pois muitos camelôs vendiam esse filme como se fosse
o dvd pirata do Tropa de Elite. certa forma.
NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS – PAULO SACRAMENTO (2003)
O PRISONEIRO DA GRADE DE FERRO – São
MARCELO MASAGÃO (2000 ) da Casa de Detenção de Carandiru, em
Esse filme fala sobre a vida dos presos parti cipar am de oficin as com
rios preso s, que
A partir de recortes biográficos reais e ficcionais, de
pequenos e grandes personagens Paulo. Ele teve partes filmadas pelos próp
visão bem de dentro. Vale assistir ao filme
do mundo, esse filme conta os principias acontecimen
tos do século XX só com imagens a equipe do filme, e consegue passar uma
em seguida...
extraídas de arquivos e música. Curiosidade: o título foi
extraído do pórtico de um cemi- Carandiru, de Hector Babenco, e ver esse
tério de uma cidade do interior de São Paulo.
ÔNIBUS 174 – JOSÉ PADILHA (2003) que
Janela da alma – João Jardim e Walter Carv r sobre aquele sequestro de um ônibus
alho (2001) Este documentário mostra a visão do direto para ver as dife-
ado, lembra? Então, é legal
Documentário que aprofunda o tema da relação das pessoa
s com a visão e com a ceguei- rolou no Rio, em 2000 - foi super television
ra. As entrevistas com personalidades (artistas, músico rtage m e fazer docu mentário...
s, cineastas) são ilustradas por renças entre fazer repo
belas imagens que provocam novas percepções sobre
nosso ver. Para tanto, a direção de
fotografia subverte suas técnicas e usa muitos desfocados ESTAMIRA – MARCOS PRADO (2005) -
e outras brincadeiras visuais. nagem incrível, ele mostra como um docu
Com imagens impressionantes e uma perso
ENTREATOS – JOÃO MOREIRA SALLES (2002 ) e muito !
mentário pode emocionar o espectador,
Esse filme é fruto de uma proposta interessante. Enqua
nto João Moreira Salles fez um Mocarzel (2006)
filme sobre os bastidores da campanha de Lula, Eduard À margem do concre to – Eva ldo ,o
o Coutinho fez outro sobre as sobre os grupos ‘à margem’ da sociedade
pessoas que participaram do mesmo movimento grevist Parte de uma trilogia destinada a refletir dia urba na
a onde Lula ganhou visibilidade da população que luta pela mora
e virou um grande líder sindical, momento crucial em
sua carreira política. O filme do documentario À Margem do Concreto trata o filme é espe cialm ente
debates diversos,
Coutinho chama-se “Peões”, vale ver os dois na sequê no Brasil. Além de trazer um tema rico para
e diferenças de linguagem e proposta.
ncia e reparar suas semelhanças
form a como o cinea sta-d ocum entarista se coloca (nas entrevistas e
interessante pela
baris mos que a câmera adota para lidar com
na narrativa, propriamente) e pelos mala
situações complicadas de filmagem.

101
JUSTIÇA – MARIA AUGUSTA RAMOS (2006 ) Documentários estrangeiros
O filme enfoca um tribunal de justiça no Rio de Janeir
o, olhando para o cotidiano de
alguns personagens. A cineasta vai acompanhar um pouco
mais de perto uma defensora
pública, um juiz/professor de direito e um réu. Primei
ro, a câmera os flagra no “teatro” NANOOK , O ESQUIMÓ – ROBERT FLAHERTY (1922)
da justiça ; depois, fora dele, na carceragem da Polinte docu-
r e na intimidade de suas famílias. Este filme clássico é um marco no documentário, lembra que falamos dele? Flaherty
No filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmer Nanook, um caçador esquimó e a sua família, à medida que lutam
a registra o que se passa diante menta um ano na vida de
dela. Justiça é par do documentário Juizo, da mesma r nas condiçõe s agrestes de Hudson Bay, no Canadá. Apenas com imagens e
diretora. para sobrevive
,a
SANTIAGO – JOÃO MOREIRA SALLES (2007 ) utilizando o recurso da encenação, sem diálogos, este documentário mostra o comércio
de um grupo praticame nte intocado pela tecnologi a industrial.
Nesse documentário o personagem foi mordomo do diretor caça, a pesca e as migrações
do filme :) As imagens foram
filmadas muitos anos antes, mas na época o diretor
não conseguiu montar o filme e O HOMEM COM UMA CÂMERA – DZIGA VERTOV (1929)
guardou tudo. Com a ajuda de um grande montador, do século
Eduardo Escorel, em 2007 João Vários cinegrafistas viajam documentando cenas da União Soviética no começo
Moreira Salles consegue finalmente dar forma ao filme ” mostrand o cenas urbanas, do co-
e, de quebra, nos dá uma aula XX. Com a montagem desses “fragmentos de realidade
de documentário. seus cidadãos, Vertov busca utilizar o cinema para o autoconh e-
tidiano e da intimidade de
cimento do próprio povo.
LIXO EXTRAORDINÁRIO – LUCY WALK ER E JOÃO JARDI
M (2011)
É legal assistir junto com o Estamira para comparar as
formas como cada um apresenta EU, UM NEGRO – JEAN ROUCH (1956)
o tema do lixão. Esse filme é interessante para pensarmos ens que
sobre o poder transformador Este é um dos filmes daquele diretor que comentamos que pedia aos personag
da arte – nesse caso o cinema e as artes plásticas – de sua própria vida. Como não possui aparelho de gravação de som
na vida das pessoas personagens encenassem situações
da obra. filme o som é construíd o com comentár ios dos próprios personag ens grava-
portátil, nesse
TERRA DEU, TERRA COME – RODRIGO SIQUEIRA (2010 dos em estúdio enquanto assistiam às imagens captadas.
)
O legal desse filme é que ele brinca bastante com as
fronteiras entre documentário e TITICUT FOLLIES – FREDERICK WISEMAN (1967)
ficção, pregando uma peça no espectador. contro-
Um documentário que foi mantido longe dos olhos do público devido ao seu aspecto
que os
verso, mostrando o interior de uma instituição psiquiátrica e os possíveis maus tratos
pacientes sofriam dos guardas e médicos.

SALESMAN – ALBERT MAYSLES (1969)


de quatro
Divertidíssimo e também melancólico, Caixeiro-Viajante acompanha o cotidiano
em pe-
americanos cuja profissão é vender luxuosas edições da Bíblia de porta em porta,
quenas cidades da Flórida e de Massachusetts.

A DOR E A PIEDADE – MARCEL OPHULS (1970)


te com os
De 1940 a 1944, o governo da cidade de Vichy, na França, colaborou ativamen
1969, entrevista s exclusivas
nazistas. O diretor reuniu imagens de arquivo e realizou, em
membros da resistênc ia francesa. Eles comentam
tanto com oficiais alemães quanto com
tismo até
os detalhes e razões para a colaboração mútua, que englobava desde o anti-semi
a xenofobia, incluindo também o medo da dominação bolchevique.

102
OS PALHAÇOS – FEDERICO FELLINI
(197 1)
Um garoto que vai ao circo pela prim
eira vez. Enquanto os palhaços faze
Fellini aproveita para criticar os m suas brincadeiras,
próprios críticos de cinema, atra
jornalista que fica perguntando “o
que isso significa?”.
vés do personagem de um
TIROS EM COLUMBINE – MICHAEL MOORE (2002 )
com que o diretor se coloca na
Esse filme vale ver principalmente para perceber a forma
CORAÇÕES E MENTES – PETER de investigação sobre a questão das
DAVIS (197 4) história e cria a narrativa do filme. Ele faz uma especie
O filme mostra friamente o con
fronto dos Estados Unidos na Ásia
, envolvendo o Vietnã. armas nos EUA e causou muita polêmica.
Usando uma gama de fontes com
o: entrevistas para jornais nos Esta )
jornalísticas no teatro da guerra
e conflitos gerados em outros país
dos Unidos, filmagens SOB A NÉVOA DA GUERRA – ERROL MORRIS (2003
ex-Secretário de Defesa, Rober t S.
detalhes um poderoso retrato dos
efeitos desastrosos de uma guerra.
es, Davis constrói com É a história dos Estados Unidos do ponto de vista do
o, recriações, registros da Casa Bran-
McNamara. Combina extraordinário material de arquiv
KOYAANISQATSI – GODFRE Y REGGIO ra origina l assinada pelo compositor indi-
(19 82) ca recentemente levados a público, e uma partitu
É uma obra de arte minimalista,
sem atores, sem enredo e sem diálo cado para o Oscar® Phillip Glass.
que vemos durante 87 minutos gos. As únicas coisas
são paisagens naturais, imagens KI (2003 )
É diferente de qualquer outra cois
a no cinema, é original e provoca
de cidades e de pessoas.
NA CAPTURA DOS FRIEDMANS – ANDREW JAREC
nte. Ele fala, mesmo sem quando Arnold Friedman, um res-
palavras, sobre os efeitos da mod
ernização da humanidade. A trilh Em 1987, a comunidade de Long Island ficou estarrecida
a sonora de Phillip Glass foram presos acusados de estupro e so-
canta “Koyaanisqatsi”, que é um
termo indígena (Hopi) que significa peitado professor, e seu filho de 18 anos, Jesse,
“Vida em Desequilíbrio”. aulas de compu tação no porão da casa da família.
domia por alguns meninos que tinham
SANS SOLEIL – CHRIS MARKER especial sobre o palhaço Silly Billy,
(1983) O documentário foi idealizado quando o diretor fazia um
Esse documentário, assim como ra sorride nte o palhaço pareceu muito
outros do mesmo diretor, é marcad um dos mais famosos de Nova York. Atrás da másca
com fotos e não com imagens em o por trabalhar apenas briu se tratar de David Friedm an, o filho mais velho de
movimento. É um filme bastante triste para o diretor, que depois desco
sensações e cores. experimental, cheio de que retratavam a deterioração de sua
Arnold. David possuía um arsenal de vídeos caseiros
a investigação do diretor.
O APOCALIPSE DE UM CINEAS família desde a acusação e que serviram de base para
TA – FAX BAHR (1991)
Documentário sobre a vida e a carr CARDOSO (2003 )
eira do diretor Francis Ford Coppola KUXA KANEMA, O NASCIMENTO DO CINEMA – MARGARIDA
cadas e intensas gravações do film , e sobre as compli- série de imagens de arquivo, depoi-
e clássico “Apocalypse Now” de
1978, com comentários O filme, feito por uma diretora portuguesa, reúne uma
de várias estrelas do cinema. a moçambicano.
mentos e narrador em off para contar a história do cinem
CRUMB – TERRY ZWIGOFF (19 )
94) MEMÓRIA DO SAQUEIO – FERNANDO SOLANAS (2004
Documentário que retrata a gen pouco demagógico os fatores que
ialidade e o espírito transgressor Documentário argentino mostra de modo didático e um
Crumb, papa do movimento und do cartunista Robert do país. Desde os tempo s da ditadura militar, até a euforia
erground dos anos 70, nos Esta
dos Unidos. Engraçado e levaram à derrocada econômica
ao mesmo tempo perturbador, o em 2001.
filme percorre seis anos da vida
de Crumb e da sua família. neoliberal de Menem e De la Rúa e a rebelião popular
PINA – WIM WENDERS (2011)
NASCIDOS EM BORDÉIS – ZANA BRISK I (2004 )
O diretor Wim Wenders consegu Vermelha, em Calcutá, na Índia. Os
e fazer um retrato emocional de Este filme mostra a vida de crianças do bairro da Luz
tempo sensibilizar o espectador Pina Baush e ao mesmo as crianç as e pedem para elas fazerem retratos de tudo
para o trabalho de corpo e mov
imento belíssimo que ela documentaristas procuram algum
realizou. Experimenta com a form onantes...
a, colocando a imagem dos pers
onagens em silêncio com que lhes chamam a atenção. Os resultados são emoci
seu depoimento em off.

103
VERDADES E MENTIRAS – ORSON
O diretor se propõe a fazer um
WELLES (1973)
documentário sobre um falsifica
Longas de Ficção
coloca o espectador em aler ta dize dor, e desde o início
ndo que é ele mesmo um mentiros
o filme fica a dúvida do que é ou o. Durante todo Reunimos aqui alguns filmes produzidos em diferentes países, em diferen-
não verdade. O falsário em questão
só se sabe disso. Esse é um dos realmente existiu, tes épocas, para você perceber um pouco da diversidade do cinema e ter
filmes que extrapola as fronteira
documentário. s entre a ficção e o
uma base para começar a programar suas seções. Demos mais atenção
AS PRAIAS DE AGNÉS – AGNÉS aos filmes brasileiros.
VARDA (2008)
Com fotografias, fragmentos de
filmes, entrevistas e pequenas
compõe uma autobiografia, num encenações, Varda
passeio do tempo de criança na Alemanha
descoberta do cinema até a part Bélgica até Paris, da
icipação na Nouvelle Vague, do casa
até a vida depois da mor te de Jacq mento e dos filhos Os Educadores – Hans Weingartner (2003)
ues Demy. Corra, Lola, Corra – Tom Tykwer (1998)
ENTRE OS MUROS DA ESCOLA Paris, Texas – Wim Wenders (1984)
– LAUREN T CANTET (2008) Fitzcarraldo – Werner Herzog (1982)
Esse filme foi considerado por
muitos como uma “ficção docume Berlin Alexanderplatz (1980) – Rainer Werner Fassbinder (1980)
retrato extremamente realista da ntal”. Ele traça um
sala de aula francesa. Sua lingu Metrópolis (1927) e M, O Vampiro de Dusseldorf (1931) – Fritz Lang
impressionantes. agem e força são
O Último Homem (1924) e Fausto (1926) – F.W. Murnau
Nosferatu – F.W. Murnau. (1922)
O Gabinete do Dr. Caligari – Robert Wiene (1920)

Argentina
O Segredo dos Seus Olhos (2009) – Juan José Campanella

Brasil
Meu Nome Não é Johnny – Mauro Lima (2008)
Estômago – Marcos Jorge (2007)
O Cheiro do Ralo – Heitor Dhalia (2007)
Saneamento Básico, o filme – Jorge Furtado (2007)
Cinema Aspirinas e Urubus – Marcelo Gomes (2005)
Amarelo Manga – Cláudio Assis (2003)
Madame Satã – Karim Ainouz (2002)
Cidade de Deus – Fernando Meirelles (2002)
Lavoura Arcaica – Luiz Fernando Guimarães (2001)
Bicho de Sete Cabeças – Lais Bondansk y (2000)
Terra Estrangeira – Walter Salles e Daniela Thomas (1996)
Carlota Joaquina – Carla Camurati (1995)
A Marvada Carne – André Klotzel (1985)

104
O homem que virou suco – João Batista de Andrade (1979)
Dona Flor e Seus Dois Maridos – Bruno Barreto (1976)
Toda Nudez será Castigada – Arnaldo Jabor (1973)
Estados Unidos da América
Ethan Cohen e Joel Cohen
O homem que não estava lá (2001) e Fargo (1987 ) –
Macunaíma – Joaquim Pedro de Andrade (1969) de Alugue l (1992 ) – Quentin Tarantino
Tempo de Violência (1994 ) e Cães
O Bandido da Luz Vermelha – Rogério Sganzerla (1968) de Palma (1987 )
Os intocáveis – Brian
Esta Noite Encarnarei Teu Cadáver – José Mojica Marins (1967) Lynch
Veludo Azul (1986 ) e O Homem Elefante (1980 ) – David
Terra em Transe (1967), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Barravento (1962)
– Zelig – Woody Allen (1983 )
Glauber Rocha. – Francis Ford Coppola
Apocalypse Now (1979 ) e O Poderoso Chefão (1972 )
A Hora e a Vez de Augusto Matraga – Roberto Santos (1965) Scorcese
Touro Indomável (1980 ) e Taxi Driver (1976 ) – Martin
A Falecida – Leon Hirzsman (1965) – Stanle y Kubrick
O Iluminado (1980 ) e Laranja Mecânica (1971)
São Paulo, Sociedade Anônima – Luís Sérgio Person (1965) )
Faces – John Cassavetes (1968
Os Fuzis – Ruy Guerra (1964)
O Bom, O Mau e O Feio – Sergio Leone (1966 )
O Pagador de Promessas – Anselmo Duarte (1962)
Quanto Mais Quente Melhor – Billy Wilder (1959 )
Os Dois Ladrões – Carlos Manga (1960) ock
Psicose (1960 ) e Janela Indiscreta (1954 ) – Alfred Hitchc
Rio 40 Graus (1955) e Vidas Secas (1963) – Nelson Pereira dos Santos Zinnem ann (1952 )
Matar ou Morrer – Fred
Limite – Mário Peixoto (1931)
Punhos de Campeão – Rober t Wise (1949 )
Brasa Dormida – Humberto Mauro (1928)
Key Largo – John Huston (1948 )
It’s a Wonderful Life – Frank Capra (1946 )
China O Estranho (1946 ) e A Dama de Shanghai (1948 ) – Orson
Welles
Amor à Flor da Pele – Wong Kar Wai (2000)
Pacto de Sangue – Billy Wilder (1944 )
Cidadão Kane – Orson Welles (1941)
Cuba Dr. Jekyll e Mr. Hyde – Victor Fleming (1941)
Memórias do Subdesenvolvimento – Tomás Gutiérrez Alea (1968) Fúria – Fritz Lang (1936 )
e Ditador (1940 ) – Charles Chaplin
Soy Cuba – Mihail Kalatoov (1964) O Garoto (1921), Tempos Modernos (1936 ) e O Grand

França
Dinamarca A Culpa é de Fidel – Julie Gravas (2006 )
tessen (1991) – Jean Pierre Jeunet
Dogville – Lars Von Trier (2003) O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2001) e Delica
) – Jean-Luc Godard
Festa de Família – Thomas Vinterberg (1998) Alphaville (1965 ) Viver a Vida (1962 ) e Acossado (1960
Cleo das 5 às 7 – Agnes Varda (1962 )
Espanha O Signo do Leão – Eric Rohmer (1962 )
Tudo Sobre Minha Mãe (2002) e Carne Trêmula (1997) – Pedro Almodóvar Os Incompreendidos – François Truffaut (1959 )
O Anjo Exterminador (1962) e Um Cão Andaluz (1929) – Luis Buñuel Os Primos – Claude Chabrol (1959 )
) – Rober t Bresson.
Pickpocket (1959 ) e O Condenado a Morte Escapou (1956
Meu tio – Jacques Tati (1958 )
Ascensor para o Cadafalso – Louis Malle (1958 )
A Regra do Jogo – Jean Renoir (1939 )
O Atalante – Jean Vigo (1934 )
105
Grécia
A eternidade e um dia – Theo Angelopulos (1998) México
Amores Perros – Alejandro Gonzalez Iñárritu (2000 )
India
Fanaa – Kunal Kohli (2012) Moçambique
3 idiots – Rajkumar Hirani (2009) Ngwenha – Isabel Noronha (2006 )
The Brave Hearted Will Take Away the Bride – Aditya Chopra (1995) A Guerra da Água – Licinio Rodrigues (1996 )
Mr. India – Shekhar Kapur (1987)
Scholay – Ramesh Sippy (1975)
Mother India – Mehboob Khan (1957)
Nigéria
Maami – Tunde kelani (2011)
A Canção da Estrada – Satyajit Ray (1955)
Araromire – Kunle Afolayan (2009 )
Ousuofia in London – Kingsley Ogoro (2003 )
Inglaterra Living in Bondage – Chris Obi Rapu (1992 )
8 mulheres e meia – Peter Greenaway (1999)
Terra e Liberdade – Ken Loach (1995) ood? As ‘primas’ de
ouv iu fala r em Bollywood? E em Nollyw no
TOQUE : Voc ê já mais produzem filmes
llyw ood são hoj e as indústrias de cinema que ind ian a, que an-
Irã Ho (cidade
ood, nasceu em Mumbai
Dez (2002) e O Gosto de Cereja (1997) – Abbas Kiarostami mundo. A primeira, Bollyw na pal avr a), em 191 3. A par tir daí nasceu
, daí o “B”
Filhos do Paraíso (1997) – Majid Majidi tes chama va Bo mb aim bina diferentes gêneros
me lod ram a falado em hindi, que com ento
O Ciclista (1987) – Mohsen Makhmalbaf um for ma to de cultura hindi. Com o adv
traz à tona tradições da
(ação, épico, romance) e sou a ser realizado sem pre em for ma de
na, ess e for ma to pas cin em a
do som na telo m o ingresso de
Itália
al, com mu itos núm ero s de canto e dança. Co de 14 milhõe s
music aem cerca
O Quarto do Filho – Nanni Moretti (2001) , as salas de exibição atr
muito barato (apx 1 dollar) s são os nac ion ais ! Em bor a
O Último Imperador – Bernardo Bertolucci (1987) os filmes mais procurado
de indianos por ano. E es dá par a ach ar na inte rnet
Estrada da Vida (1983) e Amarcord (1973) – Frederico Fellini r fora da Índia, muitos del
sejam difíceis de assisti uma distribuidora focada
Morte em Veneza – Luchino Visconti (1971)
utu be me sm o :) e, em 2012, foi aberta no Brasil
O Incrível Exército de Brancaleone – Mário Monicelli (1966) (yo
.
Ladrões de Bicicleta – Vittorio de Sica (1948) em filmes de Bollywood
je ela bate o recorde de
Alemanha Ano Zero (1948) e Roma, Cidade Aberta (1945) – Roberto Rossellini ind úst ria de cinema da Nigéria. Ho
Já No llyw ood , é a a cada semana entrando
– são cerca de 30 títulos
filmes lançados por ano O interessante de Nollyw
ood
ga milhares de pessoas.
Japão no mercado! – e empre hei ro, usa ndo equ ipa mentos
os com muito pouco din
Sonhos(1990) e Os Sete Samurais (1954) – Akira Kurosawa é que os filmes são feit to em DVD (ou VCD) nos
ma ioria deles é vendida dire mpletou 20 anos
Ervas Flutuantes (1959) – Yasujirô Ozu digitais simples, e a uma indústria recente (co
. No llyw ood é
Trilogia do Samurai: Miyamoto Musashi – Hiroshi Inagaki (1954) mercados pop ula res . Mas, pra quem tiver
2) e o ace sso aos film es ainda é bem complicado
em 201 algumas dicas:
para achar muita coisa,
interesse, na internet dá / htt p:/ /iro kot v.com
esonline.com
http://watchnigerianmovi
106
[8.2] Livros
Portug al
O Acto da Primavera – Manoel de Oliveira (1963) Agora alguns livros bacanas, muitos dos quais usamos para fazer a Apostila:

Rússia
O Retorno – Andrei Zvyagintsev (2003)
ros Passos. E. Brasiliense, 1990.
Andrei Rublev (1966) e Solaris (1972) – Andrei Tarkovski BERNA RDET, Jean-Claude. O que é Cinema? Col. Primei
Um Homem com uma Câmera – Dziga Vertov (1929) Cineastas e Imagens do Povo
Terra (1930) e Arsenal (1928) – Aleksandr Dovzhenko BERNA RDET, Jean Claude. Cineastas e Imagens do Povo.
a. Ed. Nova
Mãe – V. Pudovkin (1926) CARRIÉRE, Jean Claude. A linguagem secreta do cinem
O Encouraçado Potemkin (1925) e A greve (1925) – Sergei Eisenstein Fron- teira, Rio de Janeiro, 1994.
Editorial,
COMPARATO, Doc. Da criação ao Roteiro. Summus
Senega l
São Paulo, 2008.
La Noire (1984) e Hyenes (1966) – Ousmane Sembene
o, 2006.
DA-RIN, Silvio. Espelho Partido. Azougue. Rio de Janeir
de Janeiro, 1990.
Eisenstein, Sergei. A Forma do Filme. Jorge Zahar, Rio
de Janeiro, 1990.
Eisenstein, Sergei. O Sentido do Filme. Jorge Zahar, Rio
FELLINI, Federico. A arte da visão. Martins Editora, 2012.
FERREIRA, J. Cinema de Invenção. Ed Limiar, 2000.
Curitiba: Arte & Letra, 2009.
FIELD, Syd – Roteiro – os Fundamentos do Roteirismo.
Brasiliense, 1990.
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo,
Jorge Zahn, 2004.
MURCH, Walter e LINS, Juliana. Num piscar de olhos.
, São Paulo, 2001.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Papirus editora
Paulo, 2009.
PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário. Papirus, São
vier, São Paulo, 2007.
assim RABIGER, Michael. Direção de cinema. Ed Campus/Else
filmes, é algo
l co mo ver seus en to o entário?. Ed SENAC. São Paulo,
Ler Eisen te in , ta
ra vo ar com o pe ns am RAMOS, Fernão. Mas afinal... o que é mesmo docum
rir qu e pa
como descob ntou o cinem
a 2008.
homem inve
s Avellar
José Carlo

107
RODRIGU ES, CHRIS. O cine E alguns sites onde encontrar tex-
ma e a produção. Rio de Jan tos, resenhas e críticas de vários
eiro : Lamparina editora, 200
RODRIGU EZ, Angelo. A dim 7.
ensão sonora na linguagem autores brasileiros:
2006. audiovisual. Ed. Senac, São
Paulo,
BOGDANOVICH, Peter. Afin
al, quem faz os filmes?. Ed.
A. A arte do vídeo. São Pau Cia das Letras, 1997. MACH
lo: Brasiliense, 1988. ADO, www.contracampo.com.br
MA RQUEZ, G. G. Como con
tar um conto. Casa Jorge Edi
torial, 2001.
www.criticos.com.br

108
O DE IMAG EM E VOZ
AUTORIZ AÇÃO DE US
An exos
er outros locais per-
Cin em a pa ra Todos, e em quaisqu
ão direta no site, blog
do pro jeto mpreendendo o
Autorizo minha exposiç ão do s cu rta s, no âmbito do projeto, co
a reproduç s como
m como a fixação e suportes materiais, tai
tinentes ao projeto, be pa rci al, po r qu alq ue r meio ou processo, em , DV D, ute ns ílios e
rodução, total ou s, contracapas e enca
rtes de CD
direito de edição e rep ors , ba nn ers , ca pa cu me ntá rio s.
zes, displays, outdo filmes e do
álbuns, folders, carta l e au dio vis ua l de qu alquer natureza, como
à reprodução visua
outras utilizações aptas
em computador ou em
ag em e vo z para armazenamento
de utilização de uso de
mi nh a im ão em rede, no Brasil
Autorizo ainda o direito em ou tro s sistemas de comunicaç
a fim de disponibilizar
na inte rne t ou visuais, que pode-
discos de leitura digital o direito de ex posição em obras audio
t e tam bé m como salas de
mo web sites de interne visitação coletiva, tais
ou no exterior, tais co erto ou fec ha do e em loc ais de
Todos.
r televisão, de canal ab Programa Cinema para
rão ser transmitidas po tivais e mo stras , en tre outros, para uso no
feiras de arte, fes
exposições, museus, de
ltura do Estado do Rio
liza çã o da s Se cre tar ias de Educação e Cu en to – ICE M
Para Todos é uma rea ltura em Movim
O Programa Cinema e Ev en tos LT DA e com o Instituto de Cu
m a Praga Produções
Janeiro em parceria co
rciais.
e não possui fins come
de 2013.
, de

Nome do entrevistado

Assinatura do entrevistado

RG ou CPF

109
Data: __ _ / __ _ /
NOME DO FILME __ __ __
Diretor

ORDEM DO DIA
Nascer do sol:
HORÁRIO
Pôr do sol: Previsão do temp
HORÁRIO o:
Possibilidade de
Produtoras : precipitação (ch
EMPRESAS PRODUT uva ):
Base de Produç ão OR AS ENVOLVIDAS
: ENDEREÇO Telefones importantes
E TELE
FONES DA BASE :
TELEFONES QUE PO
DEM SER NECESSÁR
PERÍODO DE FILMAGE IOS DURANTE O
Início / término da M (CONTATOS DOS PE
fil magem : HORÁRIO RSONAGENS)
Desproduç ão : HO
RÁRIO
Al imentação Equipe
: HORÁRIO LOCAL

SE T 1: LOCAL /
AMBIENTE DE FIL
LOC 1: ENDEREÇO MAGEM
SE T 2:

Equipe LOC 1:
Nome Saída
FUNÇÃO NOME
Set
El enco
HORÁRIO HORÁRIO Saída
PERSONAGEM Café Ensaio
HORÁRIO HORÁ
RIO HORÁRIO

AMBIENTES E PE PREV ISÃO PA RA O


RSONAGENS QU DIA SEGUINT E
E SERÃO FILMAD
OS, COM BREVE
RESUMO DE CADA
OB SERVAÇÕES
UM DELES
OUTRAS INFORM
AÇÕES IMPORTAN
TES PARA O TRAB
AL HO DE FILMAGEM

110
Planilha de Contatos

Nome do filme Endereço


Telefone Email
Nome Função

Roteirista

Diretor

Fotógrafo

Câmera

Microfonista

Editor

Produtor

Entrevistado 1

Entrevistado 2

Entrevistado 3

Entrevistado 4

Entrevistado 5
Cronograma
Nome do filme
Duração:
Mês 1 Mês 2
Etapa Atividade Semana 3 Semana 4 Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4
Semana 1 Semana 2

Pré-produção Pesquisa do tema


Divisão / contratação de equipe
Produção Definição e contato - locações
Definição e contato - entrevistados
Aquisição de equipamentos
Aquisição de autorizações para uso de imagem e voz
Captação de imagens e som
Montagem Decupagem do material
Montagem / edição
Pós-produção / Correção de cor
Finalizaç ão
Efeitos visuais e sonoros
Inserir cartelas de créditos, legendas etc.
Distribuição Autoração DVD
Início distribuição: publicação na internet /
envio para festivais e locadoras etc.

Resumo do Cronogr ama


Pré-produção ____ Semanas
Produção ____ Semanas
Montagem ____ Semanas
Pós-produção / Finalização ____ Semanas
Distribuição ____ Semanas

112
e objetos de cena
- Equipamentos
Inventário Filmagem
:
Nome do filme
Quantidade Sit uação
o
Ob jeto / Equipament
1 Pegar no escritório
Handycam Sony HDMI
1 Pegar no escritório
Camêra cyber-shot
1 Pegar no escritório
Microfone
1 Pegar no escritório
Notebook - Dell 1
1 Pegar no escritório
Fones de ouvido
1 Produtora levará
1
Bla zer do personagem

Produtora levará
Estojo de Maquilagem 1
base etc.)
(lápis de olho, sombra,
1 Comprar
Caixa de Algodão
1 Produtora levará
em 2
Jaleco médico personag
iro
1 Pegar no hospital parce
- kit
Equipamentos médicos
1 Comprar
Cola quente
5 Comprar
Medalhas
Ico n og ra fia (p. 13) Foto: Daron Cooke
http://www.sxc.hu/profile/ozdv8
(p. 16) Foto: Gustavo Bueso
Padgett - http://www.sxc.hu/
profile/tavobueso
(p. 26) Foto: © selimaksan
<http://www.istockphoto.com>

(p. 27) Foto: Jelson25


(p. 16) Foto: Kimberly Vohsen http://commons.wikimedia.org/
(p. 13) Foto: © Olena Timashova http://www.sxc.hu/profile/ wiki/File:Aerial_Hollywood_
<http://www.istockphoto.com> k_vohsen Sign.jpg

(p. 13) Computador IBM.


(p. 12, 14 e 22) Cinematógrafo- Foto: Boffy b - <http:// (p. 17) Foto: Carsten Mueller (p. 28) Foto: PinkyellJM’s
Lumière (1895) pt.wikipedia.org/wiki/ http://www.imaginative.de http://www.sxc.hu/profile/
Foto: <http://www.wikipedia.org> Ficheiro:IBM_PC_5150.jpg> <www.sxc.hu> PinkyellJM

(p. 13) Foto: Svilen Milev (p. 30) Foto: Christophe Libert
(p. 12) Foto: Colin Brough http://efffective.com (p. 17) Ilustração: http://mordoc.deviantart.com
http://www.sxc.hu/profile/ <www.sxc.hu> © Paul Bartlett http://www.sxc.hu/profile/
ColinBroug <http://www.istockphoto.com> mordoc

(p. 14) Foto: Matteo Canessa


(p. 12 e 15) Cena do filme http://www.sxc.hu/profile/ (p. 18) Ilustração: (p. 33) Rolos de filmes.
A viagem à lua (1902), de sciucaness © Paul Bartlett Foto: József Hubay
Georges Méliès. <http://www.istockphoto.com> http://www.sxc.hu/profile/Quentin

(p. 12 e 15) Cartaz do filme


Nanook, o Esquimó (1922),
de Robert Flaherty. (p. 15) Foto: © Yuriy Kirsanov (p. 22) Foto: Kostya Kisleyko (p. 34) Foto: © Ragip Candan
<http://www.wikipedia.org> <http://www.istockphoto.com> http://kisleyko.ru <www.sxc.hu> <http://www.istockphoto.com>

(p. 15) Foto: Jaylopez’s


(p. 12) Foto: Manu Mohan http://shutterstock.com/g/
http://manumohan.com shutter4543 <www.sxc.hu> (p. 25) Chaplin e Jackie (p. 36) Foto: Zsuzsanna Kilian
<www.sxc.hu> Coogan, em O Garoto (1921). http://www.sxc.hu/profile/nkzs

(p 38) Foto: FOTOCROMO


(p. 12) Cartaz de Quando Fala http://www.sxc.hu/profile/
o Coração (1945), de Alfred (p. 16) Foto: Kriss Szkurlatowski (p. 25) Foto: Anthony P. Kuzub fotocromo
Hitchcock. www.12frames.eu <www.sxc.hu> <http://www.wikipedia.org> http://www.fotocromo.com
(p. 86) Foto: Peter Mazurek
(p. 61) Foto: Luis Gustavo http://www.sxc.hu/profile/
(p. 39) Foto: © Nuno Silva Lucena - http://www.sxc.hu/ (p. 73) Foto: Jannes Glas mazwebs - www.bigstockphoto.
<http://www.istockphoto.com> profile/luislucena www.jannesglas.nl com/profile/PeterMaz

(p. 61) Foto: Horton Group


(p. 46) Foto: Chris Greene http://www.hortongroup.com/ (p. 88) Foto: Vjeran Lisjak
http://www.sxc.hu/profile/ web-design / http://www.sxc.hu/ (p. 74) Foto: Robert http://www.sxc.hu/profile/
christgr profile/hortongrou Parzychowski - http://arquan.pl vjeran2001

(p. 61) Foto: Alexander Sperl


(p. 56) Foto: beermug’s http://www.alexandersperl.de (p. 91) Filme Avenida Um de
http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/ (p. 77) Foto: Zsuzsanna Kilian Toinho Castro, disponível no
beermug laynecom http://www.sxc.hu/profile/nkzs Vimeo.

(p. 57) Foto: kslyesmith’s (p. 79) Foto: Luciano S


http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/
kslyesmith (p. 61) Charlie Chaplin. Luciano-ET (p. 94) Foto: © Arquivo O Globo

(p. 81) Foto: Belovodchenko


(p. 58) Foto: Benjamin Earwicker (p. 62) Foto: © Garry Knight Anton - http://shutterstock.
http://www.garrisonphoto.org <http://www.flickr.com/photos/ com/g/belovodchenko (p. 98) Foto: © nicolas hansen
<www.sxc.hu> garryknight> <www.sxc.hu> <http://www.istockphoto.com>

(p. 66) Foto: Alek von Felkerzam


http://www.newcreatives.
(p. 59) Foto: Adorama’s com/?userID=1177517325 (p. 81) Foto: Mihai Tamasila
http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/ http://mihaitamasila.blogspot. (p. 99) Foto: © JazzIRT
Adorama pushbeyond com <www.sxc.hu> <http://www.istockphoto.com>

(p. 59) Foto: PsychoPxL (p. 69) Imagem de divulgação (p. 81) Foto: Bev Lloyd-Roberts (p. 102) Foto: Małgorzata
http://www.sxc.hu/profile/ do filme Pina (2012), de Wim http://www.sxc.hu/profile/ Głuchowska
PsychoPxL Wenders. BeverlyLR / http://www.rps.org http://www.sxc.hu/profile/liljaa

(p. 60) Foto: Dennis Dude (p. 86) Foto: Thiago Martins
http://www.dennisvanoevelen. (p. 71) Foto: Cristina Mosol http://www.pubblicite.com.br (p. 104) Foto: Hamidreza Ahmadi
be / http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/ http://www.sxc.hu/profile/
dennis crismosol thiquinho hamid24
(p. 107) Foto: Emiliano Hernandez
http://www.sxc.hu/profile/
josterix

(p. 108) Foto: Leonardo Barbosa


http://www.sxc.hu/profile/
leonardobc
An o t a ç õ e s
An o t a ç õ e s
An o t a ç õ e s
An o t a ç õ e s
Cinema para Todos
www.cinemaparatodos.rj.gov.br

O Cinema Para Todos é um Programa do plano estratégico do Governo do Estado


do Rio de Janeiro e uma realização da Secretaria de Estado de Cultura e da Secretaria
de Estado de Educação, em parceria com o ICEM - Instituto Cultura e Movimento, com
o Sindicato das Empresas Distribuidoras e o Sindicato das Empresas Exibidoras do
Rio de Janeiro.
Coleção Cinema para Todos:

Volume I Volume II Volume III


Caderno do Professor Apostila Videointeratividade Guia para prática Cineclubista

www.cinemaparatodos.rj.gov.br

Parceria Realização

sindicato das empresas exibidoras


Cinematográficas do estado do rio de janeiro
sindicato das empresas exibidoras
Cinematográficas do MUNICÍPIO do rio de janeiro
sindicato das empresas DISTRIBUIDORAS
Cinematográficas do MUNICÍPIO do rio de janeiro

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