Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Análise Do Discurso - Trabalho Final Jonatas
Análise Do Discurso - Trabalho Final Jonatas
AURICCHIO, Rosana1
RESUMO
O trabalho desenvolvido neste artigo é parte integrante da disciplina de Análise do
Discurso de inspiração francesa, sobretudo, nos pressupostos teórico-metodológicos de
Dominique Maingueneau (1997;2015) sobre o discurso literário e a paratopia. Neste
artigo, objetiva-se investigar a paratopia por meio do estudo do comportamento do
personagem principal, dono do cortiço em relação aos moradores do lugar e ao desejo
de pertencer a aristocracia representada pelos moradores do vizinho casarão. Conceituar
discurso literário, paratopia e seus diversos tipos se faz necessário para compreender a
relação que se quer com os personagens que o escritor Aluísio Azevedo traz em sua
obra. Identificar a paratopia de identidade retratada em alguns personagens do cortiço. É
relevante para esse estudo relatar os aspectos político histórico e sociais de produção da
época, que retratam situações do cotidiano de um lugar chamado Cortiço. Mais ainda,
esses personagens e descrições se coadunam também à composição de estereótipos que,
em última instância, sustentam imagens discursivas que atribuem a si e a outros,
construindo, dialeticamente, então, um ethos discursivo.
Considerações Iniciais
1
Doutoranda do Programa de Língua Portuguesa (PUC-SP), Mestre em Educação (UNICID),
Psicopedagoga (UNINTER), Pedagoga (PUC-SP).
a base teórico-metodológica da AD e a análise de aspectos de O Cortiço, a partir de seu
personagem João Romão.
Pombinha ainda não se tornara realmente mulher (não menstruava), a mãe não
permite seu noivado. A situação é tão relevante que todos no cortiço sabem desta
condição. É protegida de Léonie, uma prostituta rica, interessada sexualmente na
menina, porém Dona Isabel não percebe.
Quando finalmente a menarca ocorre (primeira menstruação), o cortiço entra em
festa. O casamento e a mudança são marcados e depois de um tempo, Pombinha
abandona o marido. Torna-se cortezã como Léonie com quem passa a viver e a mãe
morre abandonada.
A homossexualidade também é tratada como vício, quando a prostituta
Léonie corrompe Pombinha, uma jovem pura, que também não escapa à influência
do meio:
Para Maingueneau (2006) o discurso literário não busca seu próprio fundamento,
pois não tem intenção de refletir sobre suas bases fundadoras, entretanto, a narrativa do
discurso literário é considerada um elemento pelo qual se estabelece a legitimação da
cena de enunciação, ou seja, a literatura estabelece seu significado na forma de seu
conteúdo como forma de constituição.
A correspondência entre paratopia e discurso literário foi contemplada por
meio do pertencimento ao campo literário que não é a ausência de todo lugar, mas a
negociação entre o lugar e o não lugar. A paratopia de identidade está dividida em:
familiar, sexual e social e foi referenciada na relação com os personagens que o escritor
Aluísio Azevedo trouxe em sua obra.
A paratopia de identidade foi demonstrada na obra, à medida que João Romão,
dono do cortiço, deseja ser como Miranda, seu vizinho, que mora em um sobrado, se
veste bem e consegue título de nobreza mesmo não pertencendo a aristocracia.
João Romão aprende a vestir-se bem, a calçar-se e passa a frequentar o casarão,
morada de Miranda, lugar com o qual não se identifica, porém apresenta um
comportamento forçado tentando se encaixar naquele não lugar.
Por outro lado, despreza sua vida anterior, a companheira Bertoleza, que vê
como inferior, do mesmo modo que os moradores do cortiço, que só deseja explorar,
visando lucro, riqueza e posição social. Frequenta lugares que a alta sociedade da corte
ocupa e que, no início da obra, não faziam parte de seu universo.
REFERÊNCIAS