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RESENHA CRÍTICA

Identidades Negras em Movimento: Entre Passagens e Encruzilhadas

A obra resenhada desfecha a partir da temática sobre a passagem entre


devoções e vadiagens. As reflexões se desfecha entorno da construção de processos
identitários em manifestações das culturas populares afro-brasileiras, especialmente as
que são comum cantar e dançar para rezar e, ainda, aborda a temática da devoção,
presente no congado, por exemplo, com a noção de vadiação, própria do samba de roda
e da capoeira, apresentada por um dos autores em um colóquio internacional de arte
negra com a temática sobre o corpo, performance e ancestralidade, realizado outubro de
2014, em Salvador - BA.
Sobre os autores: Renata de Lima Silva, é graduada em dança, pós-graduação,
mestrado e doutorado em Artes pela Unicamp, e pós-doutorado, pelo Instituto de Artes
da Unesp. Atua como professora adjunta do curso de licenciatura em dança da
Universidade Federal de Goiás. É líder do grupo de pesquisa núcleo de investigação e
pesquisa cênica coletivo e treinel de capoeira do centro de capoeira angola angoleiro
sim sinhô. José Luiz Cirqueira Falcão é graduado em Educação Física, pela
Universidade Católica de Brasília, mestre em Educação Física, pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Educação, pela Universidade Federal da
Bahia. No momento exerce a função de professor associado II da Universidade Federal
de Goiás e mestre de capoeira do grupo Beribazu.
Os autores iniciam a obra indagando sobre a definição de identidade e define-a
como aquilo que qualifica, define ou caracteriza um sujeito, pode ser compreendido de
diferentes perspectivas: do indivíduo, da cultura, do social e da nacionalidade. Em
outras palavras, por se tratar de uma reflexão a respeito das performances culturais,
deve-se analisar a identidade a partir do corpo, considerando a corporeidade humana
como agenciadora social e cultural. Pois, é pela corporeidade, que o homem faz do
mundo a extensão de sua experiência.
De acordo com os autores, a identidade plenamente unificada, completa, segura
e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação
cultural se multiplicam, somos confrontados por uma diversidade desconcertante e
mudanças de identidades, com cada uma das quais poderíamos nos identificar, nem que
seja temporariamente.
Nessa perspectiva é possível dizer que existem duas abordagens que tratam da
identidade: as concepções objetivistas e as subjetivistas. A concepção objetivista
defende que a identidade de um indivíduo é a herança cultural recebida do seu grupo
original, como uma espécie de segunda natureza da qual ele não pode fugir. Ou seja, em
sua origem, e as suas raízes.
Essa concepção objetivista pode se desdobrar numa abordagem culturalista, em
que a ênfase não é colocada na herança biológica, mas na herança cultural.
Dessa forma, o indivíduo é levado a interiorizar os modelos culturais que lhes
são impostos até o ponto de se identificar com o seu grupo de origem.
Já nas concepções subjetivistas, o indivíduo é levado ao extremo, tendo como
consequência a redução da identidade a uma questão de escolha individual arbitrária em
que cada um seria livre para escolher suas identificações.
A partir dessa perspectiva, distingue três tipos de identidade: a identidade
legitimadora, cujas bases estão vinculadas às instituições dominantes; a identidade de
resistência, cujas bases são geradas por sujeitos em situações desvalorizadas ou
discriminadas, e a identidade de projeto, cujas bases são produzidas por sujeitos que
utilizam de capital cultural para construir posições, conceitos e ações, na sociedade.
O conjunto de características que definem a identidade de um grupo social é
inseparável daquelas características que o fazem diferente dos outros grupos.
Os autores no tópico a relação corpo e Identidade na dança afro, afirmam que
toda prática que se instiga, seja na diversidade das danças encontradas no continente
africano, seja nas expressões derivadas dos povos dispersos pelo mundo. Ela não é
monopólio dos africanos da África e sim, produto de todos os artistas que criam a partir
de suas experiências e vivências como afrodescendentes, construindo com o corpo
imagens, movimentos e fragmentos de dinâmica a ela associados.
Os autores evidenciam ainda que embora exista certa tendência de se classificar
como dança afro tudo aquilo que esteja vinculado a um tambor tocando e a um remexer
de quadris, seja por pré-conceito ou pós-conceito para afirmar a negritude, a dança afro
é caracterizada como uma performance cultural que se projetou no território brasileiro,
sobretudo a partir do Rio de Janeiro, Salvador e depois São Paulo e em seguida Belo
Horizonte.
Segundo Renata e José Luiz, as manifestações de danças populares estruturam-
se na intersecção entre o jogo, performance e ritual, e têm a função de forjar e fortalecer
a identidade de uma comunidade, seja na forma de se relacionar com o sagrado, seja
simplesmente, na fôrma de diversão e entretenimento.
Desse modo, é possível perceber que a identidade negra do corpo que dança a
dança afro é construída em sintonia com o discurso ideológico da negritude, já que o
Candomblé foi e é uma de suas principais referências
A respeito da relação corpo e identidade na congada, os autores evidenciam que
a congada é parte mais conhecida das festas do rosário e dos reinados negros, que
homenageiam Nossa Senhora do Rosário, entre outros santos, e giram em torno da
coroação de reis e rainhas negros.
Os autores definem que as festas do Rosário, reinados e congadas são uma
expressão cultural, religiosa e política, negra e popular, que conta com praticantes de
outros pertencimentos raciais e de classe e que se realiza em bairros habitados por
significativo contingente de pessoas negras e das classes trabalhadoras.
Nesse contexto, os congados estabelecem-se em meio à encruzilhada afro-
brasileira, na confluência entre o catolicismo e a cultura africana de matriz banto,
fazendo referência a santos como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa
Efigênia e Nossa Senhora das Mercês.
De certo modo, no contexto da Congada a identidade negra não passa
necessariamente pela negação da fé católica, muito embora seja possível observar que
símbolos das religiões afro-brasileiras sejam frequentemente citados ou utilizados em
meio aos festejos.
A respeito da relação corpo e identidade no hip hop, segundo os autores, desde
de 1970, as ações políticas e culturais dos movimentos negros norte-americanos
influenciam a juventude negra brasileira. Um ponto alto desse fenômeno é devido a
adesão ao movimento Hip Hop, sobretudo a partir dos anos de 1990, quando a voz do
rap teve seu ponto forte nas periferias.
O Hip Hop é definido como uma combinação de movimentos negro, social,
juvenil e cultural, que teve início, nos bairros pobres de Nova Iorque, chegando ao
Brasil, no início dos anos de 1980, diretamente para as periferias dos grandes centros
urbanos, especialmente São Paulo, onde incorpora inúmeras características nacionais,
sem abandonar o caráter de denúncia, crítica e questionamento das causas e
consequências das injustiças sociais.
No Brasil, o apego ao rap pela juventude negra é a projeção de uma identidade
marcada pela marginalização social, embora, rapidamente tenha conquistado um
público maior, de diversos segmentos sociais.
Em síntese, pode se dizer que a afirmação da negritude se constrói por diferentes
vias. Ou seja, ela se afirmar no corpo, olhando-se para o passado histórico e mítico do
continente africano.
A realização desse trabalho apresentou questões que acredito, devem ser
priorizadas como importantes fontes de discussão da realidade racial, pois é de extrema
importância que em se tratando da cultura negra, toda comunidade esteja num processo
continuo de aprendizagem. Dessa forma, espera-se que esse conteúdo possa contribuir
com grupos de outras áreas do conhecimentos e modalidades que tenham interesse em
pensar uma forma de conscientização que respeite e valorize todas as contribuições das
etnias na formação cultural, social, política do Brasil.
O estudo sobre as representações do corpo negro poderá ser uma contribuição
não só para o desvelamento do preconceito e da discriminação racial como, também,
poderá nos ajudar a construir estratégias e alternativas que nos possibilitem
compreender a importância do corpo na construção da identidade étnico-racial de
pessoas negras, mestiços e brancos e como esses fatores interferem nas relações
estabelecidas entre esses diferentes sujeitos. Pois, na construção da identidade negra no
Brasil, existem muitas controvérsias, onde uma visão amplificada das raças, sendo a
branca superior ao negro, ainda causam reflexos negativos ate mesmo nas pessoas
negras, com sentimentos de não- pertencimento, e se vendo de forma negativa, não
entendendo o seu espaço no contexto social. Uma maneira de enfrentar esse problema é
apoderando-se das suas origens, o que vem acontecendo por meio de alguns
movimentos de conscientização da identidade negra no país, lutando por seus direitos,
tentando eliminar o racismo e agregando valores para uma atitude mais cidadã e politica
diante da nossa sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS

SILVA, LIMA RENATA; FALCÃO, CIQUEIRA, LUIZ JOSE. Identidades Negras


em Movimento: entre Passagens e Encruzilhadas. Repertório, Salvador, nº24, p.98-
113,
2015.Disponívelem:file:///C:/Users/sandr/AppData/Local/Packages/microsoft.windowsc
ommunicationsapps_8wekyb3d8bbwe/LocalState/Files/S0/9032/Attachments/Renata
%20Silva,%20José%20Falcão,%20Identidades%20negras%20em%20movimento,
%202015[13228].pdf. Acesso em:25/07/2021.

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