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Contexto Historico Cultural
Contexto Historico Cultural
para o Renascimento:
contexto e características
Há um período de transformações sociais, políticas, económicas
e culturais que determina a transição algo lenta do fim da Idade
Média para o Renascimento. É nele que assistimos ao início
das descobertas marítimas.
A expansão marítima
Aceita-se que a expansão portuguesa começou, efetivamente, com a conquista da cidade
de Ceuta, no Norte de África, em 1415, mas foi por mar que ela se concretizou
de forma grandiosa. Os navegadores lusos foram descendo a costa africana, ao longo
do século xv, alargando o mundo conhecido até à data.
Em 1419, aportam na Madeira e, em 1427, Diogo de Silves chega aos Açores. O cabo
Bojador é dobrado por Gil Eanes, em 1434, e, em 1487, Bartolomeu Dias vence o cabo
das Tormentas, rebatizando-o de cabo da Boa Esperança e abrindo o caminho para
Nau São Gabriel, da frota
o oceano Índico. Recorde-se que as descobertas do caminho marítimo para a Índia
de Vasco da Gama. e do Brasil ainda se dão no século xv, respetivamente em 1498 e 1500.
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Cultura
No plano da cultura e do conhecimento, este período revela-se promissor e prepara
o caminho para o florescimento intelectual do Renascimento. A ciência, a tecnologia
e o pensamento evoluem a bom ritmo. Por volta de 1450, o alemão Gutenberg inventa
um processo de impressão que permite a reprodução em grande escala de livros,
substituindo, de forma eficaz, o trabalho lento e limitado dos copistas medievais. Esta
invenção abre portas à grande difusão das obras literárias e das ideias veiculadas por estas.
Nas artes, destaca-se, na arquitetura, a edificação do Mosteiro da Batalha, obra do estilo
«gótico final». Nasce, também nesta época, uma escola portuguesa de pintura que, na
segunda metade do século xv, produz os famosos Painéis de São Vicente de Fora.
Painéis
de São Vicente
de Fora.
Literatura
A literatura pré-renascentista é eminentemente palaciana. A produção incide, sobretudo,
em dois domínios. Na poesia, a lírica trovadoresca dá lugar a uma nova forma de
expressão poética, de influência castelhana, com novos géneros: o vilancete, a cantiga,
a esparsa e a trova. Esta produção lírica, culta, que tem como destinatária a corte, será
recolhida no Cancioneiro geral de Garcia de Resende. No domínio da prosa, consolida-se
a tradição da historiografia portuguesa, com o seguimento de métodos próximos dos
que hoje se praticam na escrita de factos históricos. Fernão Lopes é a figura central desta
mudança e serve de mestre a uma escola de cronistas que se lhe segue. Um outro tipo
de produção, em prosa, versa temas da vida na corte e da governação do reino. Algumas
das obras mais importantes do século xv são da autoria de D. João I e dos seus filhos
D. Duarte e D. Pedro. Além disso, assiste-se à diminuição da produção de literatura
religiosa de natureza didática, bastante difundida na Idade Média.
Neste período começam ainda a multiplicar-se manifestações teatrais de carácter cortês
e popular que, no início do século xvi, se consolidarão numa tradição do teatro português,
para o qual muito contribuirá Gil Vicente.
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O método e a conceção
histórica em Fernão Lopes
Se a obra de Fernão Lopes se afigura ainda hoje admirável,
tal deve-se, em parte, ao carácter inovador da sua
metodologia de investigação histórica. Antes dele, tomava-se
como obra historiográfica todo o texto que se reportasse
a acontecimentos do passado: lendas, contos tradicionais,
romances de cavalaria e narrativas de crónicas e de livros
de linhagens. Estes eram aceites como relatos históricos,
sem que a sua veracidade fosse averiguada.
Batalha de Aljubarrota.
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A corte de Avis
Desde os primeiros reinados da dinastia de Avis, a segunda da monarquia portuguesa
(1385-1580), viveu-se na corte um ambiente de florescimento cultural estimulado pelos
reis e pelos infantes. D. João I e D. Duarte promovem a tradução de textos, a produção
de obras e a circulação de livros.
Não se deve ignorar a produção literária dos mosteiros, mas as obras de maior relevância
deste período são escritas ou compiladas na corte pelos membros da Casa de Avis:
D. João I, D. Duarte e o infante D. Pedro. São textos de cariz didático e social, enquadrados
na doutrina cristã, que veiculam os valores da nobreza e legitimam a sua posição
dominante na sociedade. No plano linguístico, a geração de Avis contribui para
consolidar, na escrita, a sintaxe e o vocabulário da língua portuguesa e para lhe dar
D. João I. qualidade literária e maturidade.
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Rui de Pina
Permanecem ainda hoje dúvidas em relação à autoria de algumas crónicas que a tradição
atribui a Rui de Pina (1440-1522), o terceiro cronista-mor do Reino. Seguramente,
escreveu a Crónica de Afonso V e a Crónica de D. João II. Existem suspeitas quanto ao facto
de as Crónicas de D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis e D. Afonso IV
serem da sua autoria. Os mais críticos acusaram-no de plágio, ou seja, de ter compilado
as notas deixadas por Fernão Lopes e de ter apresentado o texto como seu. Dúvidas
análogas impendem sobre a elaboração da Crónica de D. Duarte.
As duas obras que certamente saíram da sua pena oferecem ao leitor uma visão histórica
fiel à versão oficial dos acontecimentos, isto é, a «verdade» que a Coroa sanciona.
O historiador segue, assim, os valores do seu tempo e adere às orientações políticas do
Trono. Tal justifica que a obra de Pina resulte no panegírico do rei e na defesa da sua
política. Na Crónica de D. João II, retrata-se com imenso esplendor e veneração a
personalidade do Príncipe Perfeito. Pina concebe a história como engrandecimento do
monarca e da nação. A sua prosa é sóbria, elegante e atinge vivacidade e dramatismo Iluminura da Crónica de D. João II,
na descrição dos acontecimentos. de Rui de Pina.
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