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PROJETO PAISAGÍSTICO DO CAMPUS PARICARANA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

OLIVEIRA, SUED T. (1); COSTA, GRACIETE G. (2)

1. Universidade Federal de Roraima. Departamento de Arquitetura e Urbanismo


2. Av. Ene Garcez, 2413, Bloco V, Centro de Ciência e Tecnologia. Aeroporto-Boa Vista/RR
sued.trajano@ufrr.br

2. Universidade Federal de Roraima. Profa. PhD do Curso de Arquitetura e Urbanismo


Av. Ene Garcez, 2413, Bloco V, Centro de Ciência e Tecnologia. Aeroporto-Boa Vista/RR
graciete.costa@ufrr.br

RESUMO

O Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana foi iniciado em abril de 2017 quando as autoras se
encontraram para montar uma equipe multidisciplinar e desenvolver o estudo. Desde a sua implantação
no ano de 1989, a Universidade Federal de Roraima tem realizado inúmeras ações e programas para
a melhoria e a qualidade do ensino. Possui três Campi, sendo que dois deles localizam-se na zona
rural. O principal da UFRR é o Campus Paricarana, que abriga a maioria dos centros didáticos, a
reitoria, pró-reitorias e demais espaços essenciais para o funcionamento das atividades acadêmicas e
administrativas. O Estado de Roraima está situado na porção mais Setentrional da Amazônia Legal,
sua vegetação é classificada ao sul com florestas tropicais úmidas e ao norte-nordeste com savanas,
popularmente conhecidas como lavrado. O objetivo deste trabalho é estudar a composição da
arquitetura da paisagem moderna atual do Campus Paricarana a fim de elaborar um projeto paisagístico
que valorize a diversidade regional e o conjunto arquitetônico produzido ao longo dos anos. A formação
de uma equipe multidisciplinar com arquitetos, paisagistas, engenheiros agrônomos e bióloga, e de
outras instituições do estado para a produção de um projeto paisagístico mais funcional e
botanicamente sustentável é o enfoque deste artigo.

Palavras-chave: Amazônia, Roraima, Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana.

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PROJETO PAISAGÍSTICO DO CAMPUS PARICARANA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

1. INTRODUÇÃO

O rio e a floresta, para o primitivo habitante da região, como também para o conquistador que
queria dominá-la, foram as entidades modelares da cultura amazônica, imprimindo-lhe
identidade própria ao longo do seu processo sócio histórico de ocupação (COSTA, 2014, p.
18). Os primeiros povoados aconteceram progressivamente a partir de militares, padres
jesuítas e carmelitas em conjunto com os índios nativos da região. Muitos desses,
hostilizados, foram submetidos à escravização para provimento de mão de obra nas
atividades de pecuária e agricultura. Esse período traça um perfil cronológico da cidade que
estava em construção no século XVIII. De fortaleza, para fazenda, de fazenda para vila, de
vila para município do estado do Amazonas, de município à Território Federal e finalmente de
Território à Estado.

Boa Vista é uma cidade de muita história. Desde o seu nascimento como fazenda às margens
do rio Branco, tem se estabelecido firmemente após os primeiros conflitos de posse do
território quando a coroa portuguesa lutava por seu domínio contra holandeses e espanhóis.
Foram séculos de muitas transições a iniciar pela chegada dos primeiros exploradores. As
observações e anotações realizadas por eles permitiram a coleta de dados da civilização
indígena e a análise da biodiversidade amazônica.

O sítio urbano foi composto através de uma dinâmica socioespacial espontânea. Não houve
nenhum planejamento para a implantação das habitações. Para Veras (2009) a escolha da
localização das primeiras edificações à margem direita do rio Branco foi em decorrência da
acessibilidade às embarcações e dos caminhos mantidos por meio das trilhas abertas pelos
índios, isso propiciava o fluxo comercial e a retirada de mercadorias. Em razão disso, a
configuração da vila limitou-se a uma forma geométrica trapezoidal e as casas acabaram por
ficar vulneráveis nos períodos de cheia.

Com a implantação do Plano Urbanístico em 1944 pelo engenheiro civil Darcy Aleixo
Derenusson (DERENUSSON, 1991), o núcleo embrionário da cidade foi mantido, entretanto
a morfologia urbana mudou, a partir da Praça Central, pela proposta das radiais concêntricas
concebidas para alocar os prédios públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário. A
paisagem então mudou. Construíram-se largas avenidas, praças centrais arborizadas,

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monumentos e uma catedral católica modernista que durou anos para ser concluída devido à
falta de materiais de acabamento e esquadrias importados da Europa.

O transporte era unicamente fluvial, não havia estradas, tampouco aeroportos em 1944. A
partir disto, o contexto sociopolítico e cultural passou por uma metamorfose. As atrações
festivas que antes aconteciam na Avenida Jaime Brasil, (integrante do entorno do centro
histórico da cidade) transferiram-se para a “nova cidade planejada”.

Diante desse cenário surgiu uma urbe diferente, provocada por uma necessidade social e
econômica. Havia doenças que precisavam ser erradicadas, escolas que precisavam ser
erguidas e todo um aparato para que a cidade administrativa realmente funcionasse. Por
conta disso, os equipamentos públicos instalaram-se gradualmente em conformidade com as
possibilidades econômicas da região.

O objetivo deste trabalho é analisar a composição paisagística atual do Campus Paricarana a


fim de elaborar um projeto paisagístico adequado à diversidade regional e ao conjunto
arquitetônico produzido ao longo dos anos.

Quando comparado aos outros estados brasileiros, RORAIMA tem muito a oferecer, tanto do
ponto de vista natural, ambiental, paisagístico quanto do cultural. É possível, igualmente,
afirmar que no campo de Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana, Boa Vista e as
cidades do interior do estado ainda não mereceram estudos abrangentes de circulação
nacional, e nem mesmo foram incluídas ou consideradas, de um modo compatível com suas
importâncias regionais, nos principais panoramas realizados.

Até a chegada de uma instituição de ensino superior, Boa Vista oferecia apenas o ensino
básico e o ensino técnico na década de 1980. Portanto, o estudo acerca das relações entre
cidade e paisagem correlacionadas à criação da Universidade Federal de Roraima e ao seu
projeto de Paisagismo é fundamental para a compreensão da importância de um trabalho em
equipe que visa contribuir com o meio ambiente, com o lugar e com a identidade acadêmica.

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2. CONTEXTO HISTÓRICO DO CAMPUS E SUA RELAÇÃO COM BOA VISTA

A educação superior em Roraima tardou em estabelecer seus marcos em razão do contexto


político e socioeconômico na qual vivia a região na época. Ainda como Território Federal, a
população na sua maioria composta por índios e migrantes nordestinos já enfrentava
inúmeras dificuldades em formar corpo docente qualificado na educação básica. Além disso,
a falta de escolarização da população durante a década de 1980 refletia o alto índice de
evasão e reprovação. Silva (2017) afirma que na zona rural e indígena a situação era muito
pior, pois 90% dos professores eram leigos e não possuíam sequer o ensino fundamental
completo.

O Campus Paricarana da UFRR se localiza no Estado de Roraima, em sua capital Boa Vista
na porção setentrional da Amazônia Legal. Sua vegetação é classificada ao sul com florestas
tropicais úmidas e ao norte-nordeste com savanas, popularmente conhecidas como lavrados
(GALDINO, L.K.A., 2016), além disso, suas estações restringem-se a inverno com picos nos
meses de junho e julho e verão com picos nos meses de dezembro e janeiro.

O Campus Paricarana é o espaço ideal para desenvolver a educação ambiental com a


comunidade acadêmica, onde todos os ensinantes e aprendentes teriam a oportunidade de
melhorar as condições arbóreas e paisagísticas voltadas à criação de uma identidade da flora
roraimense.

O Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana ainda não foi contemplado em trabalhos


científicos elaborados por professores e alunos da UFRR, apresentados em Seminários e
Congressos de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo. Faltam dados de espécies locais que
selecione o tipo de arborização e demais espécies floríferas para a produção de uma
composição paisagística adequada regional.

Os pouquíssimos professores graduados eram oriundos de outros estados. Alguns desses


por sua vez em busca de oportunidade profissional, oferecida pela política desenvolvimentista
(durou entre os anos de 1981 a 1984 visando a ocupação da região amazônica pela migração,
incluindo melhorias no planejamento urbano) promovida pelo governo federal durante o
regime militar, fixaram residência definitiva e mantiveram-se na capital, constituindo família,
atraindo familiares e amigos para um ajuntamento migratório que influenciaria definitivamente
a história da cidade de Boa Vista.

Por outro lado, o garimpo originava-se e crescia - um forte motivo que contribuiu para o
aumento da população. Esse é um dado importante, pois acabou por mudar a morfologia da
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paisagem do centro da cidade. Inúmeras lojas de compra e venda de ouro se instalaram em
cada esquina e ruas inteiras tomadas com essa atividade. O comércio desse ramo fortalecia
a economia ao mesmo tempo em que os serviços de hospedagem cresciam em vários pontos
da capital. GALDINO (2017) cita esse “fenômeno urbano” do crescimento demográfico acima
da média de 175% compreendido entre os anos de 1980 a 1991.

Figura 1: Mapa de Localização da cidade de Boa Vista - RR

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

Bairros foram surgindo sem nenhum estudo de malha viária e infraestrutura, ocasionando a
ruptura do desenho urbano criado por Darcy Aleixo Derenusson. Projetos como o “Calha
Norte” desenvolvido na gestão do presidente José Sarney vieram para reforçar essa migração
nos Estados de fronteira. Roraima em especial, fez com que o governo tivesse mais atenção
em organizar a produção do espaço, principalmente relacionada aos migrantes oriundos da
região Sul e Nordeste.

No início da década de 1980 foi criada a primeira instituição para a ascensão do ensino
superior no território roraimense de acordo com o projeto de lei nº 046/84 de 17 de setembro
de 1984, chamada de Fundação de Educação Ciência e Cultura de Roraima – FECEC (SILVA,
2017). A partir dela surgiram os primeiros cursos de graduação: Licenciaturas Plenas em
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História e Matemática. De forma tímida, a instituição cresceu diante da necessidade e formou
professores especialistas para o efetivo funcionamento legal dos cursos.

A ação motivou a criação de uma universidade local, tendo em vista que boa parte da
população que concluía o ensino médio, tinha que deixar sua terra natal para cursar o ensino
superior em outros estados do país ou fora dele. Nesse período o governo do Território
mantinha as “casas do estudante” nas cidades de Belém e Manaus, incluindo benefícios como
as bolsas de estudo para prover uma parte dessa carência educacional.

A divisão político-administrativa de Roraima antes de 1988 consistia em oito municípios: Boa


Vista, Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí, Bonfim, Normandia, São Luiz e São João da Baliza.
Após a década de 1990 aumentou para mais sete, a saber: Iracema, Caroebe, Amajari,
Uiramutã, Pacaraima, Rorainópolis e Cantá, totalizando em 2018, 15 municípios.

Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a lei que transformou o Território Federal de


Roraima em uma das 27 unidades federativas do Brasil, passando a ser denominado Estado
de Roraima. A transição entre território e estado permitiu a criação da Universidade Federal
de Roraima pelo decreto de nº 90.12/89 sob a gestão do Reitor fundador José Hamilton
Gondim Silva.

Apesar do aumento demográfico e das transformações sociais ocorridas durante o processo


de transformação do Território Federal para Estado, Roraima continuou a ser o menor Estado
da federação. As demarcações das terras indígenas e de preservação ambiental tomam a
maior parte de sua área territorial.

As maiores adversidades para a criação da UFRR foram a falta de orçamento e de espaço


físico. O sítio físico era um local alagado, repleto de Paricaranas, árvores da família das
Fabáceas nativas dos lavrados roraimenses, das quais originou-se o nome do campus. Em
1990 foi criado o primeiro Campus chamado de Paricarana onde se instalou o prédio cedido
pelo governo do Estado assim como o segundo e o terceiro prédio que na época estavam em
construção. Os móveis foram provenientes de doações, assim como caminhonetes e micro-
ônibus. A estrutura inicial tinha sido construída para abrigar a sede de algumas secretarias,
mas o apelo dos professores e da comunidade acadêmica fizeram o governo retroceder. Com
isso foram criados os primeiros laboratórios de Química e Biologia.

Os primeiros cursos de graduação foram criados controversos à lei nº 7.364/85 que


determinava os cursos de Agronomia, Geologia, Economia, Administração, Pedagogia e
Serviço Social. Devido à escassez de profissionais na região e contrário a essa determinação,
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a universidade criou os cursos de Licenciatura Plena em Letras; Licenciatura Plena em
História; Licenciatura Plena em Matemática; Bacharelado em Administração, Bacharelado em
Economia e Bacharelado em Contabilidade.

Após a definição dos cursos a serem ofertados planejou-se a realização de concursos


públicos para professores e pessoal Técnico-Administrativo. Silva (2017) narra que foi firmado
parcerias entre grandes universidades nacionais com professores doutores para participarem
da banca. Entre eles estavam professores visitantes dos Estados Unidos da Universidade de
Chicago. A intenção era de obter maior nível de imparcialidade e lisura no processo.

Embora tenham sido dispensados esforços para o sucesso do concurso, nenhum candidato
local conseguiu classificar-se. Isso demandou a realização do concurso em outros estados
para provimento das vagas para professor.

Felizmente a ação resultou na formação do primeiro corpo docente efetivo, com 51


professores, 96 funcionários e 340 alunos (SILVA, 2017). O Campus Paricarana seguia
adiante nessa fase preliminar de construção de suas bases. Somente no mês de março de
1990 as atividades acadêmicas finalmente se iniciaram.

Não havia pavimentação entre os três blocos. Durante o verão a poeira era excessiva e no
inverno alagamentos que impossibilitavam o tráfego de veículos. Em meio ao pioneirismo da
academia surgiram projetos de humanização do Campus entre eles as gincanas para doação
de plantas coordenados pela professora PhD Núbia Abrantes Gomes.

Figura 2: Local onde foram plantadas as 200 mudas de jambo na década de 1990.

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

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Foram doadas 200 mudas de jambeiro e plantadas na alameda principal de entrada da
universidade. Outras mudas de Oiti e Ipê foram cultivadas na frente do Bloco I e no entorno
dos Blocos II e III. O plantio era realizado pelos próprios professores e alunos voluntários.
Dentre os funcionários havia dois jardineiros que contribuíram para a realização da atividade.
Pouco tempo depois foram remanejados para outras funções por falta de pessoal técnico para
ocupar cargos de motorista.

As espécies floríferas foram valorizadas para comporem o jardim central do Campus. Tons
amarelos, laranjas e vermelhos harmonizavam com as folhas verdes multi tons das árvores e
arbustos. Algumas plantas leguminosas também foram cultivadas durante essa fase de cultivo
voluntário, entretanto com a saída de alguns professores para o doutorado, incluindo a
coordenadora da gincana, o projeto embrionário de plantio foi interrompido e várias espécies
que antes eram plantadas, incluindo os jambeiros, foram perdidas por furtos ou por falta de
manutenção.

Figura 3: Ipês doados durante a gincana realizada na década de 1990.

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

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Considerado como Estado setentrional por estar acima da linha do Equador, a capital de
Roraima localiza-se totalmente no hemisfério Norte, correspondendo a 2,4% do território
brasileiro e 6% da Região Norte (GALDINO, 2016). Segundo dados da Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento do Estado de Roraima, a classificação vegetativa é
representada por Floresta ombrófila (63,98%), Campinarama (16,57%), Savana úmida
(11,90%), savana estépica (4,81%) e o Entorno de Boa Vista (2,74%).

Cabe ressaltar que a floresta tropical é citada como a que predomina dentro desta dinâmica
da vegetação distintas em áreas com plantas arbustivas e herbáceas, campinas, savanas,
palmeiras, entre elas o buritizeiro (símbolo da paisagem natural local).

Tendo em vista que o Campus Paricarana apresenta as características citadas anteriormente


principalmente por savanas, (conhecidas na região popularmente como lavrados) e
semelhantemente comparadas à Caatinga nordestina, as espécies nativas e tropicais são
facilmente reproduzidas e de fácil manutenção. Todavia após anos de implantação do
Campus, nenhum projeto paisagístico posterior surgiu para o prosseguimento do
embelezamento das áreas livres e das ações de melhoria de conforto ambiental.

Figura 4: Oiti plantado pelos professores na década de 1990.

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

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Nos anos 2000 o Bloco I recebeu um ajardinamento especial na praceta de sua fachada
principal. As mudas de árvores plantadas na década de 1990 permaneceram fortes e
cresceram viçosamente com grandes copas. O espaço foi dedicado em homenagem à
professora Arilda Maria Cordeiro Gondim falecida em 2003 a qual foi uma das participantes
da equipe voluntária das ações de plantio do Campus. Atualmente a praceta não mais
apresenta a configuração do jardim proposto inicialmente, apenas permanecem as árvores.

Figura 5: Praceta do Bloco I

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

3. O PROJETO PAISAGÍSTICO DO CAMPUS PARICARANA

O Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana da Universidade Federal de Roraima, em


andamento, faz parte da Disciplina de Paisagismo e iniciado em abril de 2017.O Projeto foi
idealizado pela Profa. Arq./Urb. Graciete Guerra da Costa, que ao chegar a Boa Vista se
deparou com a falta de identidade do Campus, oriunda dos anos em que não foram utilizadas
espécies da flora roraimense (CHACEL, 2001), nem tampouco houve preocupação com o
manejo e a estética de plantio. Dezenas de “palmeiras azuis” e “patas de elefante” encontram-
se dispostas aleatoriamente além de plantas do Sul e do Nordeste do Brasil, favorecendo a
deformação da arquitetura da paisagem regional (MCHARG, 2000). O projeto além de ter sido
devidamente registrado no CAU/RR possui Portaria Nº 280/GR, específica para sua
realização.

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Para proceder ao desenvolvimento de um projeto dessa magnitude, a Profa. Graciete saiu a
procura de espaço físico e colaboradores que tivessem um conhecimento multidisciplinar
sobre o assunto. O espaço físico encontrado estabeleceu-se nas instalações da Pró-Reitoria
de Infraestrutura – PROINFRA, que possui as condições para esse tipo de trabalho. A equipe
escolhida foi composta de professores, técnicos e alunos, qualificados nas áreas de biologia,
arquitetura e urbanismo, engenheiros agrônomos e florestais, são eles: Profa. PhD Arq./Urb.
Graciete Guerra da Costa (Coordenadora do Projeto); Profa. PhD Núbia Abrantes Gomes
(Bióloga); Profa. Esp. Arq./Urb. Sued Trajano de Oliveira; Eng.ª Agrônoma Irisvalda Negreiros
(Prefeitura de Boa Vista - Horto Municipal); Eng.ª Agrônomo Emerson Ricardo dos Santos
Vieira (Secretaria de Agricultura); Arq./Urb. Pepita Fernandes (PROINFRA) e os acadêmicos
Emily Barros Lima; Enolla Diniz Pereira; Marília Vitória de Oliveira Nascimento; Rafaela
Cristina Sander; Suelen Cristina da Silva Almeida; Matheus de Souza Cortez; Rafaela Soares
Lins Pantaleão; Francisco Luciano Lima Barros e outros.

O início do trabalho procurou examinar o contexto histórico e a massa paisagística. O conjunto


da massa paisagística apresenta-se descontínua e rala formando poucas áreas de
sombreamento, pois o espaço físico do Campus Paricarana apresenta uma vegetação
rarefeita que não sombreia suficientemente as áreas livres e edificadas tornando o ambiente
inóspito e muito quente.

A vegetação inadequada e oriunda de outras partes do Brasil é a causa desse ambiente, que
favorece a falta de identidade do Campus da UFRR. Constata-se a presença de várias
espécies vegetais exóticas em diversas áreas da instituição que não favorecem a preservação
da biodiversidade amazônica, porque a maioria não pertence à flora roraimense.

A vegetação que se encontra nas vias principais da infraestrutura não sombreiam e está
incompatível com o clima da região. Por isso, há a necessidade do planejamento de
quantidades, ordenamento e especificação de espécies locais, que equilibrem e resguardem
o ecossistema local mediante um projeto que privilegie a flora roraimense e remeta suas
particularidades à cidade de Boa Vista com espécies típicas da região (LEENHARDT, 2006).

A Planta Geral do Campus da UFRR existente não refletia a realidade com relação às
espécies vegetais plantadas, sendo necessário que se fizesse uma Planta Baixa “As Built”,
que identificasse exatamente a totalidade da massa paisagística existente. As condições
criadas pelo meio físico, pelo clima e pela paisagem também entram em julgamento.

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Para elaborar o rascunho do partido arquitetônico-paisagístico do Projeto de Paisagismo do
Campus Paricarana foi necessário identificar as espécies da flora da Região de Roraima, por
meio de um Catálogo de Espécies locais com a participação dos alunos de paisagismo.
Inicialmente foram catalogados 200 exemplares nativos do lavrado chegando a mais de 600
plantas da Região Amazônica. O catálogo encontra-se em fase de finalização.

A espacialidade da universidade é estruturada em blocos individuais, alguns interligados a


outros através de passarelas. A arborização presente ainda é insuficiente por inúmeras
razões: não houve ações de plantio; pragas ocorridas em grande parte das espécies arbóreas
no decorrer dos anos; problemas de aclimatação das espécies; falta de recursos para
manutenção das espécies; entre outros.

O Campus apresenta vasta área territorial privilegiada, todavia observa-se a falta de áreas de
convivências planejadas e confortáveis para o uso dos estudantes e da comunidade em geral.
A partir desta percepção, torna-se fundamental a criação de áreas ajardinadas e áreas livres
para o passeio e estudo, conectadas com elementos contemplativos que possibilitem o prazer
da fruição do espaço e um melhor desenvolvimento da cognição.

Figura 6: Equipe do projeto com o Reitor Jefferson Fernandes do Nascimento no plantio voluntário do
trote ecológico: À esq. Prof.ª. Sued, Prof.ª Graciete, Engº. Agrônomo Emerson

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.


Paralelo a este projeto de pesquisa foram desenvolvidas atividades de estímulo à
conscientização ecológica-ambiental com os alunos de Arquitetura e Urbanismo através do
“trote ecológico”. Cada calouro realizou o plantio de uma árvore com a responsabilidade de

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ser o tutor da planta, observando seu crescimento, auxiliando na sua manutenção até
completar seu estágio como acadêmico da universidade.

Figura 7: Dia de plantio no trote ecológico sob a coordenação da Prof.ª Graciete Costa

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

Figura 8: Reitor Jefferson Fernandes do Nascimento apoiando a ação.

Fonte: Sued Trajano de Oliveira, 2017.

O projeto em fase de construção pretende recriar ambientes naturais através do paisagismo.


Para tanto, estudos estão em andamento a fim de propiciar soluções sustentáveis que
possibilitem uma dinâmica entre a ecologia e a tecnologia. Da mesma forma, o projeto visa

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valorizar a arquitetura regional implantando áreas de convivência por meio de vários
elementos ou símbolos que expressem um significado da cultura local como o “malocão”, por
exemplo. O malocão é uma estrutura de madeira coberta com palha, utilizada como espaço
comunitário indígena.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paisagem se compõe do conjunto de tudo que a vista alcança. Nesse sentido, a paisagem
de Roraima tendo Boa Vista incluída nesse contexto é considerada deslumbrante: a sua
localização setentrional privilegiada à margem do Rio Branco; o Monte Roraima; a Serra
Grande; Serra do Tepequém; as palmeiras das matas ciliares; e a flora completam a paisagem
do lavrado roraimense. Essa paisagem fascinante constatada pelo turista não aparece na
realidade do Campus Paricarana para seus usuários devido à falta de sombreamento.

A proximidade da Linha do Equador e o clima quente e úmido da região favorecem o


aquecimento da cidade, e muito mais o Campus Paricarana. Nota-se que espaços mais
arborizados se tornam mais fresquinhos. Propiciar uma massa paisagística mais densa e
verde, com maior número de espécies plantadas parece ser a única solução para melhorar a
sensação e o conforto da universidade.

LIMA NETO, E.M. (2016), cita que na cidade de Boa Vista há maior número de espécies
nativas do Brasil, entretanto a distribuição quantitativa das espécies exóticas por indivíduo é
ainda superior. Isso quer dizer que não há uma distribuição equilibrada das plantas, além do
mais não são observados os parâmetros de afastamento entre copas de árvores em muitas
vias dos principais bairros, incluindo as da própria universidade.

A qualidade dessas espécies também é importante. Plantar por plantar, sem critério, espécies
de toda a parte do Brasil, não parece contribuir com a identidade do lugar, onde suas origens
são fortemente encontradas em qualquer vista aérea da cidade.
A inovação exige um trabalho de conscientização da comunidade, começando pelos alunos
do Curso de Arquitetura, para que eles sejam fomentadores do paisagismo sustentável,
estudantes de áreas degradas, e que seus futuros projetos norteiem ações relevantes de
valorização da paisagem roraimense.

Há uma grande carência de profissionais atuantes em paisagismo na cidade, por isso o


Projeto de Paisagismo do Campus Paricarana é tão importante e será o pioneiro, servindo de
aporte para novas pesquisas científicas ou outros estudos sobre o tema.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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