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Superior Tribunal de Justiça

AgInt nos EDcl no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.473.826 - SP


(2019/0082505-3)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) -
SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO -
SP389737
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO.
FRAUDE. FALSO EMPRÉSTIMO. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO. DECISÃO
MANTIDA.
1. Caso em que tanto a empresa atingida pela desconsideração inversa,
constituída para blindar o patrimônio do coexecutado, como o imóvel
utilizado para integralizar o capital social de tal empresa, segundo se extrai
do acórdão proferido no julgamento do agravo de instrumento, pertencem
ao referido codevedor, executado, o que caracteriza efetiva confusão
patrimonial e desvio de finalidade.
2. Em tal contexto, desconsiderada a personalidade jurídica e determinada
a inclusão da empresa no polo passivo em decorrência da constatação de
fraude relativa ao desvio de patrimônio do devedor, aplica-se a
jurisprudência desta Corte Superior, segundo a qual os bens da pessoa
física ou jurídica atingida pela desconsideração respondem pela própria
dívida, sem limitação.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
ACÓRDÃO
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Marco Buzzi, Luis Felipe
Salomão (Presidente), Raul Araújo e Maria Isabel Gallotti votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Brasília-DF, 21 de setembro de 2021 (Data do Julgamento)

Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA


Relator

Documento: 136063608 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 27/09/2021 Página 1 de 1


TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt nos EDcl no AREsp 1.473.826 / SP
Número Registro: 2019/0082505-3 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
20926853620168260000 1051294920098260011 01051294920098260011

Sessão Virtual de 26/05/2020 a 01/06/2020


SEGREDO DE JUSTIÇA

Relator do AgInt nos EDcl


Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL


AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVANTE : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) - SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO - SP389737
AGRAVADO : OS MESMOS

ASSUNTO : DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL


AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) - SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO - SP389737

TERMO

O presente feito foi retirado de pauta.


Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Marco Buzzi.

Brasília, 01 de junho de 2020


Superior Tribunal de Justiça
AgInt nos EDcl no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.473.826 - SP
(2019/0082505-3)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) -
SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO -
SP389737

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA: Trata-se de


agravo interno (e-STJ fls. 3.617/3.635) interposto por Companhia Brasileira de Açúcar e
Álcool – em recuperação judicial, Agriholding S.A., Jotapar Participações Ltda. e J. P. de
Q. B. contra a decisão de fls. 3.526/3.529 (e-STJ), desta relatoria, que deu provimento ao
agravo nos próprios autos do BANCO BTG PACTUAL S.A., para afastar a limitação da
responsabilidade da empresa Champs Elysées Participações S.A., incluída no polo
passivo da execução em decorrência da desconsideração da personalidade jurídica.
Houve embargos de declaração (e-STJ fls. 3.532/3.543), rejeitados (e-STJ
fls. 3.608/3.614).
No recurso, os agravantes alegam que a desconsideração da personalidade
jurídica, disciplinada no art. 50 do CC/2002, deve observar os efeitos do instituto que
motivou a declaração, no caso, a ineficácia do objeto da fraude à execução. Assim, deve
atingir apenas o bem objeto do ato fraudulento, não o "patrimônio irrestrito do terceiro (ou
o declarado responsável) que participou do ato que ensejou o pedido de fraude" (e-STJ fl.
3.625), no caso, a empresa Champs Elysées Participações S.A. Entendem inaplicáveis os
precedentes citados na decisão monocrática e invocam os arts. 790, V, e 792, § 1º, do
CPC/2015, com o seguinte teor:
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
[...]
V – alienados ou agravados com ônus real em fraude à execução;

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:


[...]
Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 11
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§ 1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.

Quanto ao art. 50 do CC/2002, asseveram que "a desconsideração da


personalidade jurídica fundamentada pela transferência de um único determinado bem (no
caso a soma em dinheiro) não poderia implicar, por si, em atingir todo o patrimônio do
terceiro, dessa maneira, considerando às provas carreadas nos autos, o Tribunal a quo
definiu que a responsabilidade da Champs Elysées era somente pela fraude à execução
provada" (e-STJ fl. 3.629).
Esclarecem que "o referido imóvel foi levado a leilão, na segunda praça, por
R$ 9.9994.498,02, o Agravado ficará com o valor que corresponde ao montante da fraude
à execução (R$ 2.680.829,00 com atualização), e o restante do valor será liberado à
Champs Elysées" (e-STJ fl. 3.632). Isso porque responsabilidade patrimonial da referida
empresa "equivale ao valor do empréstimo concedido pelo Executado/Agravante" (e-STJ
fl. 3.633).
Ao final, pedem o provimento do agravo interno para restabelecer o
acórdão do Tribunal de origem, diante da ausência da violação de lei federal e da
incidência da Súmula n. 7 do STJ.
Houve contrarrazões (e-STJ fls. 3.564/3.667).
É o relatório.

Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 2 de 11


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AGRAVANTE : J P DE Q B
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MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) -
SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO -
SP389737
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO.
FRAUDE. FALSO EMPRÉSTIMO. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO. DECISÃO
MANTIDA.
1. Caso em que tanto a empresa atingida pela desconsideração inversa,
constituída para blindar o patrimônio do coexecutado, como o imóvel
utilizado para integralizar o capital social de tal empresa, segundo se extrai
do acórdão proferido no julgamento do agravo de instrumento, pertencem
ao referido codevedor, executado, o que caracteriza efetiva confusão
patrimonial e desvio de finalidade.
2. Em tal contexto, desconsiderada a personalidade jurídica e determinada
a inclusão da empresa no polo passivo em decorrência da constatação de
fraude relativa ao desvio de patrimônio do devedor, aplica-se a
jurisprudência desta Corte Superior, segundo a qual os bens da pessoa
física ou jurídica atingida pela desconsideração respondem pela própria
dívida, sem limitação.
3. Agravo interno a que se nega provimento.

Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 11


Superior Tribunal de Justiça
AgInt nos EDcl no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.473.826 - SP
(2019/0082505-3)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) -
SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO -
SP389737

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA (Relator): A


insurgência não merece ser acolhida.
A parte agravante não trouxe nenhum argumento capaz de afastar os
termos da decisão agravada, motivo pelo qual deve ser mantida por seus próprios
fundamentos (e-STJ fls. 3.526/3.529):
Trata-se de agravo nos próprios autos (CPC/2015, art. 1.042) interposto por
BANCO BTG PACTUAL S.A. contra decisão que inadmitiu o recurso especial por
incidência da Súmula n. 7 do STJ e ausência de comprovação do dissídio (e-STJ
fls. 3.348/3.350).
O acórdão recorrido está assim ementado (e-STJ fl. 3.099):
AGRAVO DE INSTRUMENTO - Execução de título extrajudicial - Fraude
de execução reconhecida, com isso tendo sido alcançados bens de
pessoa jurídica - Acerto da decisão.
Uma vez que é comprovado nos autos que o bem da pessoa jurídica foi
adquirido por filhas de devedor solidário menores e estudantes,
considera-se como hipótese de fraude à execução, uma vez que isso
ocorreu quando já havia sido ajuizada a ação de execução.
Impossibilidade ademais de ser ignorada pelo devedor solidário a
existência de dívida por solver, de modo que, uma vez tendo se tornado
insolvente com a aquisição de bens em nome de terceiro, há ineficácia
desta.
Irrelevância de que as pessoas envolvidas na trama não hajam sido
citadas, já que a discussão envolve apenas sociedade, que tem
personalidade jurídica e, portanto, é independente das pessoas que a
constituíram, às quais também é assegurado o direito de defesa por ação
autônoma.
RECURSO IMPROVIDO.

Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 11


Superior Tribunal de Justiça
Nas razões do recurso especial (e-STJ fls. 3.125/3.147), fundamentado no art. 105,
III, "a" e "c", da CF, a parte recorrente alegou violação dos arts. 50 do CC/2002 e
789 do CPC/1973, pois, apesar da desconsideração inversa da personalidade
jurídica, houve limitação da responsabilidade do fraudador, o que não permite que
ele responda pelo pagamento da dívida com todos os seus bens. Entendeu que a
parte incluída na execução por força da desconsideração não pode ser limitada
aos bens envolvidos na fraude de identidade, uma vez que o ganho da parte
envolvida foi bem maior. Indicou precedentes.
No agravo (e-STJ fls. 3.357/3.376), afirma a presença de todos os requisitos de
admissibilidade do especial.
Houve contraminuta (e-STJ fls. 3.442/3.452).
É o relatório.
Decido.
Acerca do tema debatido, os julgadores assim consideraram em sede de
embargos de declaração (e-STJ fls. 3.227/3.228):
De modo acertado ou não, a Turma Julgadora reformulou decisão anterior
para considerar como objeto da fraude à execução, e, portanto, sujeito à
ineficácia, apenas o valor apontado nos autos como sendo a quantia em
dinheiro que o fraudador afirmara falsamente ter emprestado às filhas para
a aquisição do imóvel que depois veio a ser transmitido a outros membros
da mesma família e, ao cabo, passando a integralizar o capital social de
pessoa jurídica, no caso, a embargada.
Acerca dessa asserção nenhuma dúvida pode existir de que essa foi a
intenção real da Turma Julgadora, ao expender semelhante conclusão,
sem, pois, ter relevância o fato de que o imóvel em questão possa ter
valor de mercado muito maior ou mesmo que a orientação jurisprudencial
acerca de casos semelhantes é no sentido de que o patrimônio do
fraudador é por inteiro é pela constrição.
A hipótese tal como posta, à evidência, se procedesse, na verdade se
caracterizaria como erro de julgamento, seja quanto à incorreta aplicação
do direito, seja quanto à não desejável valoração dos fatos, o que não é
passível de correção pela via eleita.

Acerca do tema, porém, o entendimento desta Corte é em sentido diverso.


Anotem-se:
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
RESPONSABILIDADE DE EX-SÓCIOS.
1. A jurisprudência desta Corte orienta que a responsabilidade dos sócios
alcançados pela desconsideração da personalidade jurídica da sociedade
não se limita ao capital integralizado, sob pena de frustrar a satisfação do
credor lesado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
2. "Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal,
trazer para a desconsideração da personalidade jurídica os prazos
prescricionais previstos para os casos de retirada de sócio da sociedade
(arts. 1003, 1.032 e 1.057 do Código Civil), uma vez que institutos
diversos" (REsp 1.312.591/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, DJe 1.7.2013).
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp n. 866.305/MA, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 27/2/2018, DJe 8/3/2018.)

Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 5 de 11


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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
EMBARGOS À EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA - SUCESSÃO EMPRESARIAL.
OPOSIÇÃO DE ACLARATÓRIOS. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA PELOS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. "Não configura contradição afirmar a falta de prequestionamento e
afastar indicação de afronta ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma
vez que é perfeitamente possível ao julgado se encontrar devidamente
fundamentado sem, no entanto, ter decidido a causa à luz dos preceitos
jurídicos desejados pela postulante. Precedentes do STJ" (AgRg no
AREsp 338.874/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 08/05/2014, DJe 22/05/2014).
2. Os argumentos utilizados para fundamentar a pretensa violação legal
do artigo 50 do Código Civil somente poderiam ter sua procedência
verificada mediante o reexame de fatos e provas dos autos, o que não
cabe a esta Corte, ante o óbice contido na Súmula 7/STJ.
3. "A partir da desconsideração da personalidade jurídica, a execução
segue em direção aos bens dos sócios, tal qual previsto expressamente
pela parte final do próprio art. 50, do Código Civil e não há, no referido
dispositivo, qualquer restrição acerca da execução, contra os sócios, ser
limitada às suas respectivas quotas sociais e onde a lei não distingue,
não é dado ao intérprete fazê-lo" (REsp 1169175/DF, Rel. Ministro
MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe
04/04/2011).
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp n. 462.831/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 19/8/2014, DJe 25/8/2014.)

RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL - ARTIGOS 472, 593, II e 659, §


4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF -
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA
SOCIEDADE EMPRESÁRIA - MEDIDA EXCEPCIONAL - OBSERVÂNCIA
DAS HIPÓTESES LEGAIS - ABUSO DE PERSONALIDADE - DESVIO
DE FINALIDADE - CONFUSÃO PATRIMONIAL - DISSOLUÇÃO
IRREGULAR DA SOCIEDADE - ATO EFEITO PROVISÓRIO QUE
ADMITE IMPUGNAÇÃO - BENS DOS SÓCIOS - LIMITAÇÃO ÀS
QUOTAS SOCIAIS - IMPOSSIBILIDADE - RESPONSABILIDADE DOS
SÓCIOS COM TODOS OS BENS PRESENTES E FUTUROS NOS
TERMOS DO ART. 591 DO CPC - RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO.
I - A ausência de explicitação precisa, por parte do recorrente, sobre a
forma como teriam sido violados os dispositivos suscitados atrai a
incidência do enunciado n. 284 da Súmula do STF.
II - A desconsideração da personalidade jurídica é um mecanismo de que
se vale o ordenamento para, em situações absolutamente excepcionais,
desencobrir o manto protetivo da personalidade jurídica autônoma das
empresas, podendo o credor buscar a satisfação de seu crédito junto às
pessoas físicas que compõem a sociedade, mais especificamente, seus
sócios e/ou administradores.
III - Portanto, só é admissível em situações especiais quando verificado o
Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 6 de 11
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abuso da personificação jurídica, consubstanciado em excesso de
mandato, desvio de finalidade da empresa, confusão patrimonial entre a
sociedade ou os sócios, ou, ainda, conforme amplamente reconhecido
pela jurisprudência desta Corte Superior, nas hipóteses de dissolução
irregular da empresa, sem a devida baixa na junta comercial.
Precedentes.
IV - A desconsideração não importa em dissolução da pessoa jurídica,
mas se constitui apenas em um ato de efeito provisório, decretado para
determinado caso concreto e objetivo, dispondo, ainda, os sócios
incluídos no pólo passivo da demanda, de meios processuais para
impugná-la.
V - A partir da desconsideração da personalidade jurídica, a execução
segue em direção aos bens dos sócios, tal qual previsto expressamente
pela parte final do próprio art. 50, do Código Civil e não há, no referido
dispositivo, qualquer restrição acerca da execução, contra os sócios, ser
limitada às suas respectivas quotas sociais e onde a lei não distingue,
não é dado ao intérprete fazê-lo.
VI - O art. 591 do Código de Processo Civil é claro ao estabelecer que os
devedores respondem com todos os bens presentes e futuros no
cumprimento de suas obrigações, de modo que, admitir que a execução
esteja limitada às quotas sociais levaria em temerária e indevida
desestabilização do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica que vem há tempos conquistando espaço e sendo moldado às
características de nosso ordenamento jurídico.
VII - Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão,
improvido.
(REsp n. 1.169.175/DF, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/2/2011, DJe 4/4/2011.)

Assim, inexiste limite imposto à pessoa jurídica, cuja personalidade foi


inversamente desconsiderada, que deve responder com seus bens pela fraude.
Diante do exposto, conheço do agravo para DAR PROVIMENTO ao recurso
especial, afastando a limitação da responsabilidade da pessoa jurídica,
reconhecida pelo Tribunal de origem, devendo a parte fraudadora responder com
seus bens pela satisfação da dívida.
Publique-se e intimem-se.

Verifica-se que não houve simples decretação de nulidade do suposto


empréstimo provocada por anterior fraude à execução. Trata-se de desconsideração da
personalidade jurídica, vinculada ao art. 50 do CC/2002, deferida em primeiro grau e
mantida pelo Tribunal de origem, determinando-se a inclusão da empresa no polo passivo
em decorrência da constatação de fraude relativa ao desvio de patrimônio do devedor.
A propósito, a decisão de primeiro grau que desconsiderou a personalidade
jurídica, proferida em 17/3/2016, bastante rica em detalhes a respeito da fraude e dos
documentos acostados aos autos, questionou a veracidade de várias informações
constantes nas declarações de imposto de renda mediante confronto com outros
documentos, sendo oportuno reiterá-la nesta assentada, in verbis:
Vistos.
Documento: 128207152 - EMENTA, RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 7 de 11
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1 – Fls. 2762/2789: Trata-se de reiteração de pedido para reconhecimento de
fraude em execução fundamentada em desvio de bens dos executados e,
consequente, desconsideração inversa da personalidade jurídica, anteriormente
realizado a fls. 1886/1954, para inclusão da empresa Champs Elysees
Participações S/A, no pólo passivo da execução.
Os executados foram devidamente intimados a se manifestarem (fls. 1955),
apresentando impugnação a fls. 2038/2043, na qual rebatem as alegações do
exequente, sustentando a legalidade das operações.
Essa magistrada entendeu por bem aguardar a avaliação dos bens penhorados
para fins da análise do requerimento. Apresentado laudo, efetivamente, o valor
estimado de R$ 221.000,00 é pequeno para a quitação do débito (fls. 2377/2403).
Segundo r. Decisão Monocrática, que manteve a decisão de primeiro grau,
proferida no recurso de Agravo de Instrumento n. 2176530-97.2015, da lavra do i.
Desembargador Sebastião Flávio (fls. 2332/2336) "A desconsideração da
personalidade jurídica inversa de regra tem sua justificativa quando houver fraude à
execução, já que seu intuito único é o de alcançar bens de terceiros que vieram a
ser escamoteados, e que no caso seriam os da pessoa jurídica adquirente do
imóvel cuja constrição é buscada."
Com efeito, houve fraude para desvio de patrimônio configurada nos autos,
conforme documentação juntada pelo exequente, para a compra do apartamento
da Rua Padre João Manoel, 493, 19º Andar, matrícula n. 577.735, do 19º Cartório
de Registro de Imóveis de São Paulo.
Não houve juntada de qualquer documento pelos executados que afastasse as
alegações o exequente e a documentação constante do processo.
O imóvel foi adquirido, em 10/11/2020, por L. P. P. de Q. e E. P. P. de Q., filhas do
executado J. P. de Q. B. (fls. 1351/1358).
Pelo que se observa das declarações de imposto de renda já anteriormente
consultadas (as quais permanecerão por trinta dias em cartório para consulta das
partes) das filhas do executado, não consta daquela referente aos anos de
20210/2011 a compra do apartamento, nesta última (2011) consta o empréstimo
realizado pelo genitor, no exato valor do capital social de cada uma das filhas. Tais
valores possuem correspondência na declaração de imposto de renda do genitor
do mesmo ano.
Ressalto ainda, que não há como se acolher a alegação dos executados de que L.
e E. teriam vendido patrimônio para constituir a sociedade, pois não há qualquer
valor neste sentido nas suas declarações de imposto de renda.
Ainda, sequer em 2009 houve patrimônio amealhado para suportar o investimento
da compra do apartamento. Existe a declaração de quotas de fundo de
investimento pelas filhas do executado J. P., contudo, o usufruto sempre foi do
genitor.
Com efeito, como já constatado, segundo as declações de imposto de renda do
executado J. P., ano 2011, houve empréstimos às filhas no valor de R$
893.610,00, para constituição de empresa do declarante e tais empréstimos foram
restituídos no ano seguinte, com a informação de que não houve a criação da
empresa.
Os empréstimos foram realizados após a citação na presente ação.
O cheque para pagamento do restante do valor é de titularidade da executada
Jotapar (fls. 1844).
Houve constituição da empresa Champs Elysees Participações S/A, em
14/02/2012 e conferiram o imóvel à empresa (fls. 1375/1384, 1941). Porém, já na
declaração de imposto de renda do exercício de 2012 (ano 2011), já consta como
bens de L. e E. o capital social da empresa, mesmo ano em que é declarado o
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empréstimo do genitor.
Posteriormente, em fevereiro de 2013 (fls. 1385/1392) cederam as ações para P. T.
P. de Q. e para a filha M. T. P. de Q. (fls. 1.388).
Conclui-se pela cessão gratuita do capital social pela análise das declarações de
imposto de renda das partes, nas quais não há registro de transação onerosa.
Assim, afasto a alegação dos executados de que a transferência do capital social
se deu de forma onerosa. Simplesmente declarou-se que no início do ano
possuíam tal capital, mas ao final não mais (declaração referente ao ano 2012).
Importe consignar que em sua declaração de imposto de renda não há registro de
entrada do capital social no patrimônio de P. e, ainda, consta da mesma
declaração referente ao ano de 2012, que em 31/12/2011 sua filha M. já possuía tal
patrimônio (capital social), o que não é verdade.
Da análise da declaração ao fisco do executado J. P. do ano 2011, verifica-se que
há a mesma declaração em relação a sua filha, apontando que teria adquirido o
capital social em 2011, contrariamente à documentação de anexada aos autos que
data de fevereiro de 2013.
Os atos foram praticados após a constituição da dívida e, inclusive, depois da
propositura da ação de execução (05.05.2009).
Assim, conclui-se que a constituição da empresa Champs Elysees se deu após o
endividamento dos executados originais, desviando-se para ela o bem apartamento
supra descrito com patrimônio do executado J. P. e da executada Jotapar (fls.
1904/1907 – JUCESP), a fim de frustrar e fraudar o resultado útil do processo de
execução (fls. 1844, 1847 e declarações de imposto de renda e certidões
referentes à empresa).
As filhas do executado J. P., que não possuem patrimônio para a aquisição de
bens no ano da compra do apartamento, o fizeram segundo a documentação
acostada através de empréstimo de seu genitor e cheque administrativo da
executada Jotapar. Após, conferiram o apartamento à empresa e cederam,
gratuitamente suas ações à madrastra e meia-irmã.
Desta forma, a hipótese trata de criação de empresa com vistas à blindagem
patrimonial, instrumentalizada pelo desvio de ativos dos executados.
Sendo, portanto, o caso de aplicação da doutrina da desconsideração inversa da
personalidade jurídica, para que sobre os bens da empresa recaia a penhora.
O artigo 50 do Novo Código Civil, em caso de abuso de personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, autoriza a
desconsideração da personalidade jurídica, estendendo os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações aos bens particulares dos sócios e
administradores da pessoa jurídica.
Ante o exposto, acolho a fundamentação de fraude para desvio de bens para
prejudicar o resultado do processo de execução e determino a inclusão no pólo
passivo da ação da EMPRESA CHAMPS ELYSEES PARTICIPAÇÕES S/A.
Defiro a penhora no apartamento da Rua Padre João Manoel, 493, 19º Andar,
matrícula n. 57.735, do 19º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo.
Expeça-se o necessário. (e-STJ fls. 54/57 – grifei.)

A mesma trama descrita em primeiro grau foi assim confirmada na parte


inicial da fundamentação do acórdão do TJSP, não reproduzida na decisão ora agravada:
As agravantes a rigor estão a defender interesse de terceira, que no caso é a
sociedade que foi alcançada pela decisão judicial combatida, decisão essa que
reconheceu a existência de fraude de execução e, em consequência, decretou a
desconsideração inversa da personalidade jurídica da tal.
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É inegável o acerto dessa conclusão hostilizada, pois se trata de manobra sem
muito engenho no sentido de blindar patrimônio de devedor solidário, que, no caso
é o sócio da devedora principal, J. P. de Q. B.
O imóvel objeto da discussão é composto do apartamento localizado em prédio da
Alameda Franca esquina com a Rua Padre João Manuel, em São Paulo, onde
aquele cidadão mora com a família.
Esse imóvel consta que foi adquirido pelas filhas do primeiro casamento do referido
cidadão, menores e estudantes na época da apontada aquisição, cujos recursos,
na casa dos quase dois milhões de reais, teriam sido fornecidos pelo pai.
Posteriormente, em 2.012, esse imóvel foi transferido à pessoa jurídica cujas
sócias são a atual mulher do referido cidadão e uma filha menor desse casal, para
integralizar as cotas da dita propriedade de tal bem às mencionadas sócias, pelas
apontadas adquirentes.
Vê-se com clareza solar que tudo não passa de um encadeamento de operações
sem engenho no sentido de tornar indene o imóvel onde aquele cidadão reside,
quando o mais viável nas circunstâncias até seria ter o próprio figurado como
proprietário de dito bem, porque seria protegido pelo instituto da impenhorabilidade
do imóvel destinado à moradia do devedor e de sua família, instituto esse que não
pode agora ser aplicado, por constar a coisa pertencer a pessoa jurídica, ao
menos enquanto não houver o contraditório e houver decisão judicial em tal
sentido. (e-STJ fls. 3.104/3.105.)

Dessa forma, aplica-se a jurisprudência desta Corte Superior, segundo a


qual os bens da pessoa física ou jurídica atingida pela desconsideração respondem pela
própria dívida, sem limitação.
Mas não é só. O Tribunal de origem deixou claro que o codevedor J. P. de
Q. B. é o dono da empresa Champs Elysées Participações S.A. ao afirmar que ele teria
simplesmente utilizado dos nomes de sua mulher e de sua filha para constituir a referida
sociedade, especificamente destinada para realizar a fraude, assim:
É caso inequívoco de fraude à execução, já que o coexecutado teria se utilizado
do nome da mulher e filha para a constituição de sociedade cuja personalidade
jurídica se quer ver desconsiderada, com a finalidade de aquisição de luxuoso
apartamento, sem que nada há de provável que indique se tratar de recursos das
filhas do primeiro casamento, mera estudantes e, portanto, sem renda para
aquisição de coisa com tal alto preço. (e-STJ fl. 3.110 – grifei.)

Destaco, ainda que, contra a mesma decisão proferida em primeiro grau,


foram interpostos dois agravos de instrumento, ambos julgados em conjunto pelo Tribunal
de origem, sendo que um deles é objeto do AREsp n. 1.528.074/SP, que também será
objeto de julgamento nesta sessão. Nos autos do referido agravo em recurso especial, foi
julgado o agravo de instrumento interposto exatamente pela empresa Champs Elysées
Participações S.A., cujo acórdão demonstrou que tanto a referida empresa como o imóvel
integralizado pertenceriam ao próprio codevedor J. P. de Q. B. Eis o que diz o referido
acórdão, assentado nas provas dos autos:
É caso inequívoco de fraude à execução, já que o coexecutado teria se utilizado

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do nome da mulher e filha para a constituição de sociedade cuja personalidade
jurídica se quer ver desconsiderada, com a finalidade de aquisição de luxuoso
apartamento, sem que nada há de provável que indique se tratar de recursos das
filhas do primeiro casamento, mera estudantes e, portanto, sem renda para
aquisição de coisa com tal alto preço. (e-STJ fl. 754 do AREsp n. 1.528.074/SP –
grifei.)

Além do mais, não se vê em que se sustentaria a necessidade da ação pauliana


para anulação do negócio que culminou com a aquisição do apartamento pela
agravante, se tudo se evidencia cristalinamente, ou seja, o bem não foi de fato
transmitido a terceiros, mas continua na posse do devedor solidário, que é seu
verdadeiro dono.
Enfim, se trata de aquisição apenas aparente e que é decorrente da integralização
de capital social pelas sócias, que são mulher e filha do que originalmente
proporcionou recursos para a aquisição de tal bem, o que foi feito quando já estava
ajuizada a ação de execução em tela e ciente de que sabidamente se tornaria
insolvente, fornecimento de dinheiro esse sob a forma de empréstimo a duas filhas,
cujo destinatário era o próprio, porque ocupa a coisa para sua moradia. (e-STJ fls.
764/765 do AREsp n. 1.528.074/SP – grifei.)

Ora, se a empresa Champs Elysées S.A., constituída para viabilizar a


fraude, e o imóvel objeto destes autos, que serviu para integralizar o respectivo capital
social, são do próprio codevedor, não há por que limitar a responsabilidade da referida
sociedade, atingida pela desconsideração. Há uma evidente confusão patrimonial,
devendo a referida sociedade responder integralmente pela dívida, com todos os seus
bens, por força do art. 50 do CC, que possuía a seguinte redação na época da decisão de
primeiro grau que desconsiderou a personalidade jurídica:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Ainda para refutar alegação apresentada pelos agravantes, não há falar em


aplicação da Súmula n. 7 do STJ, tendo em vista que todos os fatos considerados estão
inseridos no acórdão do Tribunal de origem.
Assim, não prosperam as alegações apresentadas, incapazes de alterar os
fundamentos da decisão impugnada.
Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo interno.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt nos EDcl no


Número Registro: 2019/0082505-3 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 1.473.826 /
SP

Números Origem: 01051294920098260011 1051294920098260011 20926853620168260000

PAUTA: 21/09/2021 JULGADO: 21/09/2021


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELIANE DE ALBUQUERQUE OLIVEIRA RECENA
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL
AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVANTE : BANCO BTG PACTUAL S.A
ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) - SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO - SP389737
AGRAVADO : OS MESMOS

ASSUNTO: DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE AÇÚCAR E ÁLCOOL - EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL
AGRAVANTE : AGRIHOLDING S/A
AGRAVANTE : JOTAPAR PARTICIPAÇÕES LTDA
AGRAVANTE : J P DE Q B
ADVOGADOS : PAULO GUILHERME DE MENDONÇA LOPES - SP098709
MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA E OUTRO(S) - SP100076
QUEREN FORMIGA SANTANA - SP330053
AGRAVADO : BANCO BTG PACTUAL S.A

Documento: 135982131 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 2


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ADVOGADOS : MARCELO ALEXANDRE LOPES - SP160896A
EDUARDO MENDES DE OLIVEIRA PECORARO E OUTRO(S) - SP196651
RODRIGO BARRETO COGO - SP164620B
PEDRO OTAVIO DE CASTRO BOAVENTURA PACIFICO - SP389737

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
PROIBIU CONTINUAR
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão (Presidente), Raul Araújo e Maria
Isabel Gallotti votaram com o Sr. Ministro Relator.

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